Psicologia Da Educação
Psicologia Da Educação
Psicologia Da Educação
PALAVRA INTRODUTÓRIA
H
oje em dia encontramos psicólogos trabalhando
nas mais diversas áreas: universidades, escolas,
PSICOLOGIA – NOÇÕES GERAIS
hospitais, indústrias, organismos do governo,
A
organizações religiosas, etc.
Por meio da definição de Psicologia, poderemos palavra psicologia é formada de duas palavras
Saber o que faz o psicólogo nas diversas áreas em que gregas: psiquê, que significa alma, e logos, que
atua. Atualmente, a Psicologia é entendida como a significa estudo, ciência. Portanto, etimologica-
ciência do Comportamento, considerando-se comporta- mente, Psicologia significa O ESTUDO DA ALMA.
mento toda e qualquer manifestação de um organismo: Com o passar do tempo, a palavra psicologia tem
andar, falar, correr, gritar, estudar, aprender, esquecer, sido usada para indicar o estudo da alma, da mente
gostar, odiar, amar, trabalhar, brincar, passear, etc. e/ou do comportamento. Atualmente, para a maioria
Estamos sempre nos comportando de uma maneira ou dos psicólogos, indica o estudo do comportamento dos
de outra. Em primeiro lugar, o psicólogo vai procurar organismos.
compreender o comportamento, isto é, verificar os Desde o tempo de Platão e Aristóteles, têm apare-
fatores que levam alguém a comportar-se de um jeito e cido estudos e teorias sobre a mente humana, mas a
não de outro. Psicologia só foi considerada ciência no fim do século
Na medida em que consegue compreender e XIX, quando os estudiosos empregaram métodos de
explicar o comportamento das pessoas, o psicólogo observação cuidadosos e sistemáticos.
pode ajudar essas pessoas a se conhecerem melhor, a
se comportarem de maneira a se sentirem mais I - MÉTODOS
realizadas, mas satisfeitas. Dessa forma, a par da
pesquisa para conhecer o comportamento, a Psicologia Os autores costumam dividir os métodos usados
oferece às pessoas, por meio do conhecimento das pelos psicólogos em dois grandes grupos:
causas e consequências de seus atos, condições de 1. Introspecção ou Método de Observação Interna;
escolher os comportamentos mais adequados à própria 2. Extrospecção ou Método de Observação Externa.
realização.
FELIZ ESTUDO! MÉTODO DA INTROSPECÇÃO
Introspecção (ou método subjetivo) quer dizer agir, seus gestos, suas expressões fisionômicas, suas
observação interior. A pessoa observa suas próprias realizações, etc.
experiências e as relata (a pessoa relata suas emoções, Sempre que possível, os psicólogos dão preferên-
percepções, interesses, recordações, etc.). Exemplos: cia à Extrospecção, e procuram torná-la mais exata
a) Aumentamos nosso conhecimento da mente humana usando aparelhos para melhor documentar suas obser-
LENDO diários íntimos, autobiografias ou memórias. vações: máquinas fotográficas e de filmar, cronômetros,
Imaginamos que as pessoas foram sinceras ao descrever
seus sentimentos, emoções, recordações, etc., mas não o
gravadores de som, etc.
podemos provar; As observações do comportamento podem ser de
b) Para estudar certos traços de personalidade, os psicólogos dois tipos:
têm pedido às pessoas que respondam a um Observações ocasionais (ou casuais);
QUESTIONÁRIO. Para esse fim, os indivíduos terão que
Observações intencionais.
observar seu íntimo e dar suas respostas – as quais irão
revelar aos psicólogos seus interesses, emoções,
preferências, etc.; 1.Observações Ocasionais (ou casuais) -
c) Para estudar o raciocínio, o psicólogo Claparède imaginou Pelo contato diário com pessoas e animais, todos nós
um método que chamou de reflexão falada: deu um
problema a um jovem e pediu a este que o resolvesse e
ficamos conhecendo alguma coisa sobre o
fosse, ao mesmo tempo, DESCREVENDO em voz alta o seu comportamento dos mesmos. Na rua, nos ônibus, no
pensamento. lar, etc. estamos sempre realizando observações do
modo de agir dos outros, mesmo sem termos a intenção
Embora seja impossível verificar se as pessoas de realizar um estudo de Psicologia.
foram corretas ao relatarem seus fenômenos íntimos, a 2.Observações intencionais - O psicólogo,
Introspecção tem sido usada para colher informações muitas vezes, observa as reações dos outros com o pro-
que não possam ser obtidas de nenhuma outra maneira. pósito de conhecer algum aspecto do seu comporta-
Ela (introspecção) não pode ser empregada no mento, com a intenção de realizar um estudo de Psico-
estudo de animais, de crianças muito novas, de débeis logia.
mentais, etc. Quando o psicólogo quer colher informações
sobre o comportamento de pessoas, muitas vezes pro-
MÉTODO DA EXTROSPECÇÃO cura observá-las em situação natural.
Tanto crianças, como adultos alteram seu modo
A Extrospecção (ou método objetivo) quer dizer de agir se sabem que estão sendo observadas. Um
observação externa. O psicólogo procura conhecer as cuidado, pois, de grande importância nas observações é
reações externas dos organismos. Ao observar, por não prejudicar a espontaneidade, a naturalidade do
exemplo, uma pessoa, procura conhecer seu modo de comportamento das pessoas que estão sendo observa-
das.
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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Para observar o grupo de pessoas agindo nascimento. Ele relata o comportamento dessas crianças
livremente, sem que estas percebam, existem salas em várias idades e comenta o desenvolvimento que foi
observando;
especiais, nas quais há uma janela de visão unilateral, 4. OBSERVAÇÃO DE ANIMAIS: Diversos animais têm sido
isto é, que funciona como espelho para quem está observados em seu habitat, isto é, em suas condições
dentro do aposento e como vidro transparente para naturais de vida, para se conhecer seus costumes, seu
quem olha de fora. desenvolvimento, etc. Essas observações nos levam a
entender melhor o comportamento humano. Um ótimo
exemplo desses estudos são os realizados pelos etolo-
EXEMPLOS DE OBSERVAÇÕES DE gistas. A Etologia (etos = costumes) foi fundada pelo
COMPORTAMENTO cientista austríaco Konrad Lorenz. Este, junto a dois outros
cientistas, recebeu o Prêmio Nobel, em 1973, por seu
estudo comparativo do comportamento animal e humano.
Atente bem para esses Exemplos:
1. Registro CRONOLÓGICO de fatos da vida infantil, ou diários
do bebê, feitos pelos pais ou por pessoas que convivem
assiduamente com a criança. Nesses diários, ficam
registradas as datas dos progressos no desenvolvimento
A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA
físico e mental das crianças. O primeiro diário da vida
infantil foi feito em 1770, por Pestalozzi. Muitos outros
PSICOLÓGICA
apareceram depois. O mais completo e minucioso foi o de
G. T. Preyer (Alemanha, 1841-1897), intitulado Alma da
criança; Toda e qualquer produção humana – uma
2. Além dos registros gerais das atividades da criança, cadeira, uma religião, um computador, uma obra de
existem registros PARCIAIS, em que não se anotou todo o arte, uma teoria científica – tem por trás de si a
comportamento de uma criança, mas apenas um aspecto
de seu desenvolvimento, como seu progresso na linguagem,
contribuição de inúmeros homens, que, num tempo
no desenho, etc. Por exemplo, Luquet fez uma coleção de anterior ao presente, fizeram indagações, realizaram
todos os desenhos de sua filha Simone até a idade de 10 descobertas, inventaram técnicas e desenvolveram
anos, registrando, do modo mais completo possível, as ideias, isto é, por trás de qualquer produção material
palavras e as expressões fisionômicas que ela apresentava ou espiritual, existe a HISTÓRIA.
ao desenhar. Essas observações foram publicadas sob o
título: O desenho de uma criança;
3. Jean Piaget, no qual mencionaremos mais tarde, psicólogo
suíço, realizou por mais de 40 anos observações de I - PSICOLOGIA E HISTÓRIA
crianças. Baseado nessas observações, explicou o
DESENVOLVIMENTO MENTAL DO SER HUMANO. Publicou Compreender, em profundidade, algo que compõe
numerosos livros mundialmente conhecidos. Em um deles: o nosso mundo significa recuperar sua história. O
O nas- cimento da inteligência na criança, Piaget relata as passado e o futuro sempre estão no presente, enquanto
observações que fez de seus três filhos, desde o base constitutiva e enquanto projeto. Por exemplo,
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todos nós temos uma história pessoal e nos tornamos estados (poli). A manutenção dessas cidades implicava
pouco compreensíveis se não recorremos a ela e à a necessidade de mais riquezas, as quais alimentavam,
nossa perspectiva de futuro para entendermos quem também, o poderio dos cidadãos (membros da classe
somos e por que somos de uma determinada forma. dominante na Grécia Antiga).
Uma história Relativamente Longa Assim, iniciaram a conquista de novos territórios
Esta história pode ser mais ou menos longa para (Mediterrâneo, Ásia Menor, chegando quase até a
os diferentes aspectos da produção humana. No caso China), que geraram riquezas na forma de escravos
da Psicologia, a história tem por volta de dois milênios. para trabalhar nas cidades e na forma de tributos
Esse tempo refere-se à Psicologia no Ocidente, que pagos pelos territórios conquistados.
começa entre os gregos, no período anterior à era de É entre os filósofos gregos que surge a primeira
CRISTO. tentativa de sistematizar uma Psicologia. A começar
Entendendo a Diversidade pelo próprio termo: “Psicologia”, oriunda do grego, como
Para compreender a diversidade com que a Psico- consta na introdução.
logia se apresenta hoje, é indispensável recuperar sua Os Filósofos pré-socráticos
história. A história de sua construção está ligada, em Os filósofos pré-socráticos (assim chamados por
cada momento histórico, às exigências de conhecimento antecederem Sócrates, filósofo grego) preocupavam-se
da humanidade, às demais áreas do conhecimento em definir a relação do homem com o mundo através da
humano e aos novos desafios colocados pela realidade percepção. Discutiam se o mundo existe porque o
econômica e social e pela insaciável necessidade do homem o vê ou se o homem vê um mundo que já existe.
homem de compreender a si mesmo. Havia uma oposição entre os idealistas (a ideia
forma o mundo) e os materialistas (a matéria que forma
o mundo já é dada para a percepção).
II – A PSICOLOGIA ENTRE OS GREGOS:
Sócrates
OS PRIMÓRDIOS Mas é com Sócrates (469-399 a.C.) que a Psicologia na
Antiguidade ganha consistência. Sua principal preocupação era
A história do pensamento humano tem um mo- com o limite que separa o homem dos animais. Dessa forma,
mento áureo na Antiguidade, entre os gregos, particu- postulava que a principal característica humana era a razão. A
razão permitia ao homem sobrepor-se aos instintos, que seriam a
larmente no período de VII a.C., até a dominação base da irracionalidade.
romana. Às vésperas da era cristã. Ao definir a razão como peculiaridade do homem
O povo mais evoluído ou como essência humana. Sócrates abre um caminho
Os gregos foram o povo mais evoluído nessa que seria muito explorado pela Psicologia. As teorias da
época. Uma produção minimamente planejada e bem- consciência são, de certa forma, frutos dessa primeira
sucedida permitiu a construção das primeiras cidades- sistematização na Filosofia.
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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Igreja (católica) passa a se preocupar também com sua rota do Pacífico), e isto propicia a acumulação de
compreensão. riquezas pelas nações em formação, como França,
Tomás de Aquino Itália, Espanha, Inglaterra. Na transição para o capita-
São Tomás de Aquino viveu num período que lismo, começa a emergir uma nova forma de organiza-
prenunciava a ruptura da Igreja Católica, o apareci- ção econômica e social. Dá-se, também, um processo
mento do protestantismo – uma época que preparava a de valorização do homem.
transição para o capitalismo, com a revolução francesa Foram Várias as Transformações
e a revolução industrial na Inglaterra. As transformações ocorrem em todos os setores
Essa crise econômica e social leva ao questiona- da produção humana:
mento da Igreja e dos conhecimentos produzidos por Por volta de 1300, Dante escreve A Divina Comédia, entre
ela. Dessa forma, foi preciso encontrar novas justifica- 1475 e 1478;
Leonardo da Vinci pinta o quadro Anunciação;
tivas para a relação entre Deus e o homem.
Em 1484, Boticelli pinta o Nascimento de Vênus;
São Tomás de Aquino foi buscar em Aristóteles a Em 1501, Michelângelo esculpe o Davi; e,
distinção entre essência e existência. Como o filósofo Em 1513, Maquiavel escreve O Príncipe, obra clássica da
grego, considera que o homem, na sua essência, busca política;
a perfeição através de sua existência. Porém, introdu- As ciências também conhecem um grande avanço. Em
zindo o ponto de vista religioso, ao contrário de Aristó- 1543, Copérnio causa uma revolução no conhecimento
humano mostrando que o nosso planeta não é o centro do
teles, afirma que somente Deus seria capaz de reunir a
universo;
essência e a existência, em termos de igualdade. Em 1610, Galileu estuda a queda dos corpos, realizando as
Portanto, a busca de perfeição pelo homem seria a primeiras experiências da Física moderna. Esse avanço na
busca de Deus. produção de conheci- mentos propicia o início da
Ele (São Tomás) encontra argumentos racionais sistematização do conhecimento científico – começam a se
para justificar os dogmas da Igreja e continua garantin- estabelecer métodos e regras básicas para a construção do
conhecimento científico;
do para ela o monopólio do estudo do PSIQUISMO. Neste período, René Descartes (1596-1659), um dos
filósofos que mais contribuiu para o avanço da ciência,
postula a separação entre mente (alma, espírito) e corpo,
IV – A PSICOLOGIA NO RENASCIMENTO afirmando que o homem possui uma substância material e
uma substância pensante, e que o corpo, desprovido do
Pouco mais de 200 anos após a morte de São espírito, é apenas uma máquina. Esse dualismo mente-
Tomás de Aquino, tem início uma época de transforma- corpo torna possível o estudo do corpo humano morto, o
que era impensável nos séculos anteriores (o corpo era
ções radicais no mundo europeu. É o RENASCIMENTO considerado sagrado pela Igreja, por ser a sede da alma), e
ou RENASCENÇA. O mercantilismo leva à descoberta dessa forma possibilita o avanço da Anatomia e da
de novas terras (a América, o caminho para as Índias, a
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Filosofia, que iria contribuir em muito para o progresso da trismo com sua tese evolucionista. A ciência avança
própria PSICOLOGIA. tanto, que se torna um referencial para a visão de
mundo.
A partir dessa época, a noção de verdade passa,
V – A ORIGEM DA PSICOLOGIA necessariamente a contar com o aval da ciência. A
CIENTÍFICA própria Filosofia adapta-se aos novos tempos, com o
surgimento do Positivismo de Augusto Comte, que
No século XIX, destaca-se o papel da ciência, e postulava a necessidade de maior rigor científico na
seu avanço torna-se necessário. O crescimento da nova construção dos conhecimentos nas ciências humanas.
ordem econômica – o capitalismo – traz consigo o Desta forma, propunha o método da ciência natural, a
processo de industrialização, para o qual a ciência Física, como modelo de construção de conhecimento.
deveria dar respostas e soluções práticas no campo da Foi no Século XIX...
técnica. Há, então, um impulso muito grande para o É em meados do século XIX que os problemas e
desenvolvimento da ciência, enquanto um sustentáculo temas da Psicologia, até então estudados exclusivamen-
da nova ordem econômica e social, e dos problemas te pelos filósofos, passam a ser, também, investigados
colocados por ela. pela Fisiologia e pela Neurofisiologia em particular.
O universo também foi posto em movimento. O Os avanços que atingiram também essa área levaram à
Sol tornou-se o centro do universo, que passou a ser formulação de teorias sobre o sistema nervoso central,
visto sem hierarquizações. O homem, por sua vez, demonstrando que o pensamento, as percepções e os
deixou de ser o centro do universo (antropocentrismo), sentimentos humanos eram produtos desse sistema.
passando a ser concebido como um ser livre, capaz de
construir seu futuro. O servo, liberto de seu vínculo VI – A PSICOLOGIA CIENTÍFICA
com a terra, pôde escolher seu trabalho e seu lugar
social. Com isso, o capitalismo tornou todos os homens O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha do
consumidores, em potencial, das mercadorias produzi- final do século XIX. Wundt, Weber e Fechner trabalha-
das. O conhecimento tornou-se independente da fé. ram juntos na Universidade de Leipzig. Seguiram para
Os dogmas da Igreja foram questionados. O mundo se aquele país muitos estudiosos dessa nova ciência, como
moveu. A racionalidade do homem apareceu, então, o inglês Edward B. Titchner e o americano William
como a grande possibilidade de construção do James.
CONHECIMENTO. Seu status de ciência é obtido à medida que se
Nesse período, surgem homens como Hegel, que “liberta” da Filosofia, que marcou sua história até aqui,
demonstra a importância da História para a compreen- e atrai novos estudiosos e pesquisadores, que, sob os
são do homem, e Darwin, que enterra o antropocen-
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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C
omo ciência do comportamento, a Psicologia tem
por finalidade compreender o comportamento ESQUEMA DO COMPORTAMENTO
para poder prevê-lo e até modificá-lo, quando Para simbolizar a dependência entre reação e
necessário. Os estudiosos do comportamento têm sido estimulação, muitas vezes tem sido empregado um
chamados comportamentistas ou behavioristas, pois, pequeno esquema: E – R, no qual E significa estímulo
em inglês, a palavra correspondente a comportamento é ou conjunto de estímulos (situação) e R significa reação
behavior. O primeiro psicólogo a ser chamado de ou resposta.
behaviorista foi o cientista americano John B. Watson, Esse esquema E – R deve ser lido assim:
em 1912. “Um estímulo elicia uma reação (ou resposta)”; e
“Uma reação (ou resposta) é eliciada por um
O COMPORTAMENTO DAS PESSOAS estímulo”.
A vida mental das pessoas (seus sentimentos, Os estudiosos do comportamento pessoal prefe-
aspirações, interesses, decisões, etc.) se manifesta por rem empregar o verbo eliciar no lugar de provocar ou
seus atos, gestos, palavras, expressões fisionômicas, causar. Dizem, por exemplo: “O sumo da cebola elicia a
realizações, atitudes, etc. Essas manifestações exterio- secreção de lágrimas, pelas glândulas lacrimais”.
res da vida mental é que devem ser observadas pelo Estímulo é qualquer modificação do ambiente
psicólogo. Esse método de estudo é chamado que provoque a atividade do organismo. Assim, a luz é
extrospecção (no qual já falamos antes). um estímulo aos olhos, o som aos ouvidos.
Para Watson, portanto, este método deveria ser o Reação ou resposta é qualquer alteração do
único método empregado pelos verdadeiros cientistas, organismo, (movimentos musculares ou secreções glan-
os quais deveriam abandonar a introspecção. dulares), eliciada por um estímulo.
Há reações que todos os seres da mesma espécie reações que, em sua maioria, são inatas. À medida que
apresentam todas as vezes que recebem determinada amadurecemos, vai aumentando o número de nossas
estimulação. Exemplos: reações adquiridas ou aprendidas.
a) Nossas pupilas se contraem sempre que aumenta a Watson e outros psicólogos deram grande atenção
intensidade da luz no ambiente em que estamos, e se ao estudo do comportamento animal. A Psicologia
dilatam quando a luminosidade diminui (reflexo pupilar);
b) Nossas pálpebras se cerram fortemente sempre que um
comparativa realiza o estudo do comportamento
objeto se aproxima bruscamente de nossos olhos, e sempre animal, comparando-o com o comportamento humano.
que ouvimos um som muito alto (reflexo palpebral). Ela tem demonstrado que, nos animais (que são
Essas reações não precisam ser aprendidas. inferiores), predominam as reações inatas, invariáveis,
Todos os seres humanos, em estado normal, as ao passo que, no ser humano, predomina o comporta-
apresentam. São chamados: reações inatas e, também, mento variável ou aprendido.
reações não-variáveis. 3.Comportamento Respondente e Operante
2.Comportamento Adquirido ou aprendido Recentemente, foi apresentada a distinção entre
Há reações que alguns seres apresentam e comportamento respondente e comportamento operan-
outros, embora da mesma espécie, não apresentam ao te.
receberem determinada estimulação. São reações que O comportamento respondente consiste nas
necessitam de aprendizagem para se processarem reações eliciadas por estímulos conhecidos. Por
quando o organismo recebe a estimulação. Exemplos: exemplo, a contração pupilar diante da luz, o
a) O gato de uma determinada casa entra na movimento de perna a uma pancada no tendão;
cozinha todas as manhãs ao ouvir o ruído da O comportamento operante consiste nas respos-
porta da geladeira. Outros gatos, ao ouvirem tas emitidas pelo organismo sem que se possa
esse mesmo som, não reagem desse modo; relacioná-las com algum estímulo conhecido.
b) O cão, de uma certa família, aproxima-se pron- Dizemos apenas que elas ocorrem. Estas reações
tamente, ao ouvir alguém dizer “Totó”. Outros são chamadas operantes, porque operam sobre o
cães, ao ouvirem esse mesmo som, não reagem ambiente.
desse modo.
Grande parte do comportamento humano é do
Essas reações foram aprendidas. Constituem o tipo operante. No comportamento de tomar uma
comportamento variável ou adquirido, aprendido. refeição, conduzir um carro, escrever uma carta, vemos
O estudo do desenvolvimento do comportamento, muito pouco do aspecto respondente. Esse também é a
durante o decorrer de nossa vida, tem sido realizado teoria de SKINNER.
pela Psicologia genética ou evolutiva. Observou-se que,
no início de nossa vida, apresentamos, aos estímulos,
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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II – PSICOLOGIA DA GESTALT
Esta “escola psicológica” surgiu na Alemanha,
aproximadamente em 1910, com os trabalhos
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Quando percebemos um objeto qualquer, algum Voltando para Viena, Freud associou-se ao Dr.
aspecto dele se destaca, nos aparece mais claramente. Breuer. Ambos usavam o método de Charcot, isto é,
A esse aspecto que mais atrai nossa atenção chamamos hipnotizavam seus doentes de modo que contassem
figura, a qual emerge contra um fundo mais vago, fatos de sua infância. Esse relato tinha 2 efeitos:
mais difuso. Em uma sinfonia, a melodia é a “figura” e fornecia os dados que auxiliavam o médico no
o acompanhamento é o “fundo”. diagnóstico da doença e aliviavam o paciente,
A percepção que temos de um objeto libertando-o de alguns sintomas, tais como angústia,
depende desse relacionamento. Conforme agitação, ansiedade, etc.
concentremos nossa atenção num ou noutro
aspecto de um objeto, a percepção que dele
Breuer e Freud trabalharam juntos em alguns
temos muda completamente. casos, sem empregar a hipnose. Após terem captado
Observando as figuras chamadas am- totalmente a confiança do paciente, levavam-no a
bíguas, vemos quanto a percepção depende relatar seu passado em estado normal.
do relacionamento figura-e-fundo. Notaram que ocorria, muitas vezes, o fenômeno
chamado transfert ou transferência afetiva. Quase
sempre acontecia do paciente, transferir ao médico
III – A PSICANÁLISE suas emoções, ora afeiçoando-se a ele, ora aborrecen-
O fundador da Psicanálise foi um médico austrí- do-se com ele.
aco, Sigmund Freud (lê-se Fróid), nascido em 1856, nas Durante algum tempo, os dois colegas trabalha-
proximidades de Viena, cidade onde estudou Medicina. ram juntos, mas logo suas ideias começaram a divergir
Terminado esse curso, Freud dirigiu-se a Paris, muito e precisaram se separar.
desejando especializar-se em Neurologia (parte da
Medicina que estuda as doenças do sistema nervoso). MÉTODO PSICANALÍTICO
Tornou-se, então, aluno do Dr. Charcot, que exerceu Freud começou, então, a trabalhar sozinho,
sobre ele influência decisiva, principalmente em 2 criando um método próprio, ao qual chamou Psico-
pontos: análise (ou análise da mente), hoje PSICANÁLISE.
1. Charcot acreditava que as doenças mentais eram originadas Esse método é composto por 3 técnicas:
de certos fatos passados na infância dos indivíduos 1. Associação Livre;
doentes; 2. Análise dos Sonhos; e
2. Para fazer com que seus pacientes narrassem fatos do seu
tempo de criança, Charcot usava a hipnose (estado
3. Análise dos Atos Falhos.
semelhante a um sono profundo, no qual o paciente age 1.Técnica da Associação Livre
por sugestão externa). O conhecimento de certos episódios Nos primeiros contatos com o paciente, Freud
emocionais da infância dos indivíduos ajudaria o médico a procurava ganhar-lhe a confiança. Depois de algum
descobrir as causas de suas doenças.
tempo, este era submetido à associação livre, que
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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consistia em fazer com que o paciente ficasse em uma 2.Técnica da Análise dos Sonhos
posição de completo repouso. Geralmente, o doente Freud achou de grande importância, para
deitava-se em um divã, em uma sala silenciosa, na conhecer a mente de uma pessoa, a análise de seus
penumbra, tendo o médico atrás da cabeceira; sonhos. Por isso pedia a seus pacientes que sempre lhe
portanto, sem encará-lo. Freud pedia ao paciente que relatassem o que sonhavam. Certos aspectos da mente
fosse falando em voz alta todos os fatos de sua vida dos das pessoas ficavam mais bem conhecidos pela inter-
quais se lembrasse, sem precisar seguir uma ordem pretação que Freud fazia de seus sonhos.
lógica ou cronológica. Em 1990, foi publicado o mais famoso dos livros
Essa técnica chama-se associação porque Freud de Freud: A interpretação dos sonhos.
pedia ao paciente que mencionasse os fatos conforme lhe 3.Técnica da Análise dos Atos Falhos
ocorressem, conforme fossem se associando uns aos Freud e outros psicólogos chamam de atos falhos
outros em sua mente. Chama-se associação livre os esquecimentos, os lapsos de linguagem, enfim,
porque o psicanalista não sugere o assunto, deixa o certos atos que praticamos e que, aparentemente, não
paciente falar à vontade, livremente. tínhamos a intenção de praticar. Analisando esses atos,
Freud notou, ao submeter os pacientes a esta o psicanalista compreendia melhor certos sintomas
técnica, que estes faziam pausas no decorrer de seus apresentados pelos doentes.
relatos. A essas paradas, em que o doente parecia ter
dificuldade em se lembrar dos fatos, Freud chamou
A “ESCOLA” PSICANALÍTICA
resistência, e explicou resultarem do desejo do
Durante 12 anos, Freud foi o único médico que
paciente de ocultar alguma coisa do psicanalista ou de si
usou, para tratamento de distúrbios nervosos, este
mesmo. O estudo das resistências é importante para a
método especial de que é autor, método que exige muito
descoberta da causa dos sintomas que afligiam o
tato, penetração de julgamento, calma e paciência.
paciente, ou seja, para fazer o diagnóstico de sua
Trabalhando com dedicação e persistência, cui-
doença mental.
dando de seus doentes e observando pessoas sãs,
Após submeter-se a essa técnica, o doente se
Freud se tornou um grande conhecedor da mente hu-
sentia aliviado em algumas ocasiões; em outras, ao
mana, sobre a qual reuniu uma vasta documentação.
contrário, passava por crises emocionais profundas por
Julgou-se, pois, capacitado para publicar uma
reviver certos fatos de sua vida.
doutrina psicológica completamente nova, explicando o
O emprego da associação livre, portanto, oferece
funcionamento da mente humana e o desenvolvimento
dois resultados:
da personalidade. Essa doutrina jamais vislumbrada
Faz o catarse de alguns sintomas; e
recebeu também o nome de Psico-análise.
Auxilia o psicanalista a descobrir as causas da A palavra Psicanálise tem, portanto, sentido
perturbação mental (diagnóstico). triplo:
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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a) Significa o método criado por Freud, composto de três Freud divide a personalidade humana em 3
técnicas, destinado ao diagnóstico e ao trata- mento das elementos, aos quais dá o nome de Id, Ego e Superego.
doenças mentais; 1. Id – Na nossa personalidade, há uma parte irracional ou
b) Significa a doutrina criada por Freud, explicando o animal. Essa parte biológica, hereditária, irracional, que
funcionamento de nossa mente; existe em todas as pessoas, procura sempre satisfazer a
c) É, também, o nome dado ao conjunto dos adeptos do nossa libido, os nossos impulsos sexuais. Freud chamou-a
pensamento freudiano, isto é, à “Escola” psicológica de Id. Esses impulsos do Id, na sua maioria, são
fundada por Freud. inconscientes, passam despercebi- dos, nós os ignoramos;
Atualmente, a palavra Psicanálise é mais empre- 2. Superego – Desde que nascemos, vivemos em um grupo
gada no segundo sentido – como a DOUTRINA FREUDI- social do qual vamos recebendo influências constantes.
ANA. Desse grupo vamos absorvendo, aos poucos, ideias morais,
Sua doutrina difundiu-se por todo o mundo, religiosas, regras de conduta, etc., que vão constituir uma
força em nossa personalidade. A essa força, que é adquirida
mesmo antes do seu falecimento em 1939 em Londres lentamente por influência de nossa vida em sociedade,
(onde se refugiara quando perseguido pelos nazistas Freud dá o nome de Superego;
por ser judeu). 3. Ego – Quem procura manter o equilíbrio entre essas forças
opostas é a nossa razão, a nossa inteligência, à qual Freud
chama de Ego. O Ego tenta resolver o constante conflito
A DOUTRINA FREUDIANA entre Id e Superego. Numa pessoa normal, o conflito é
resolvido com êxito.
A LIBIDO
Observando doentes mentais, Freud constatou O Id e o Superego são forças opostas, em
que a causa da doença mental apresentada pela constante conflito. O Superego, quase sempre, é contrá-
maioria de seus pacientes era sempre um problema rio à satisfação de nossa natureza animal, enquanto o
sexual. Observou, também, as personalidades normais, Id procura satisfazê-la. Essa luta entre Id e Superego,
e chegou à seguinte conclusão, que é a base de sua na maioria das vezes, porém, não é percebida por nós, é
teoria: “o comportamento humano é orientado pelo inconsciente. Quando o nosso Ego consegue o equilíbrio
impulso sexual”. entre as duas forças em choque, nossa saúde mental é
Freud dá o nome de libido ao impulso sexual normal. Mas, no memento em que o Ego não consegue
(libido é uma palavra feminina que significa prazer). A mais manter essa harmonia, aparecem os distúrbios
libido constitui uma força de grande alcance na nossa mentais. A teoria de Freud é que “nossa personalidade
personalidade; é um impulso fundamental ou fonte de é dinâmica, e resulta de duas forças antagônicas: o Id e
energia. o Superego”.
Após alguns anos, Freud ampliou o sentido da
ELEMENTOS DA PERSONALIDADE palavra LIBIDO, abrangendo, também, o impulso de
agressão.
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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Esta fase é chamada auto-erótica: nela, a criança Vale lembrar que é exatamente nesse período em
busca prazer em seu próprio corpo: chupa o dedo, suga que cada qual adota o papel sexual para toda a vida.
os próprios lábios, etc. Este período é chamado de edipiano por causa da
Este período recebeu o nome de narcisista devi- lenda grega em que Édipo, jovem príncipe, assassina
vido à lenda grega de um jovem muito formoso seu pai e casa-se com a mãe.
“Narciso”, que se apaixonou pela sua própria imagem Período de Latência Sexual
refletida nas águas. Depois das dificuldades da fase edipiana, a
Período Edipiano criança passa para um período mais calmo. Esse
Nesta fase, a criança dirige a sua libido para o período corresponde aos anos da escola primária, em
progenitor do sexo oposto, manifestando hostilidade que a criança se ocupará em adquirir habilidades,
para com o progenitor do mesmo sexo. valores e papéis culturalmente aceitos.
A menina, portanto, ama seu pai e hostiliza sua Ele é denominado período de latência porque os
mãe. Da mesma forma, o menino ama sua mãe e impulsos são impedidos de se manifestar.
manifesta hostilidade para com seu pai. Nesta fase aparecem, na criança, barreiras
Os psicanalistas explicam os fatos do período mentais impedindo as manifestações da libido, barrei-
edipiano da seguinte maneira: a criança ama o ras essas que Freud mencionou como sendo a repug-
progenitor do sexo oposto e, percebendo que este tem nância, a vergonha e a moralidade.
uma afeição especial pelo progenitor do mesmo sexo Nesse período, a energia dos impulsos é desviada
que ela, vai procurar tornar-se igual a esse progenitor, de seu uso sexual e dirigida para outras finalidades,
vai identificar-se com o progenitor do mesmo sexo para processo esse chamado sublimação.
merecer também o amor do progenitor do sexo oposto. A sublimação tem importante papel no desenvol-
Uma menina, portanto, gosta muito de seu pai e vimento do homem civilizado e nas realizações culturais.
percebe que este tem especial afeição para com sua Período da Puberdade
mãe. Então, para merecer o amor do pai, ela procura se Há autores que intercalam, entre o período de
identificar, imitar a mãe (deseja usar sapatos de salto, latência e a adolescência, a fase da puberdade.
batom, ocupar-se das tarefas maternas, etc.). Esta Essa fase, de duração aproximada de 2 anos, se
menina, que vive num lar em que há harmonia entre os inicia mais cedo para as meninas que para os meninos.
cônjuges, se tornará bem feminina. É a época de grandes modificações físicas e, principal-
De modo análogo acontecerá com o menino. Num mente, de grande desenvolvimento dos órgãos sexuais.
lar normal, harmonioso, o menino procurará imitar o Nessa fase, o jovem inicia sua libertação emocio-
pai para merecer a afeição da mãe, a quem tanto ama. nal dos progenitores.
Tornar-se-á bem masculino. A principal característica da fase pubertária,
também chamada homossexual, é a ligação afetiva que
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se estabelece entre jovens do mesmo sexo e de idade parece continuar se processando normalmente,
aproximada. É a idade em que as meninas têm sua mas seu comportamento emocional continua
“amiga predileta” e os meninos têm seu “companheiro igual ao de uma criança de menos de 3 anos. Sua
inseparável”, com os quais trocam confidências. libido continua ligada ao seu próprio corpo, em
Período da Adolescência vez de dirigir-se a seu pai, que dela se distancia
Nessa fase, a libido do jovem se dirige a um cada vez mais. Permanece egocêntrica, preocupa-
adolescente do sexo oposto. da com seu bem ou mal-estar físico e com seus
Essa ligação emocional heterosexual, fora da objetos pessoais visivelmente indiferentes ao
família, vai exigir a emancipação do adolescente de bem-estar das pessoas com quem vive e de quem
seus pais. A separação emocional ocasiona, pelo menos espera receber cuidados. É narcisista, egoísta e
algum tempo, rejeição, ressentimento e hostilidade isolada. Tem dificuldades em manter amizades e
contra os pais e outras autoridades. em conservar um namorado;
Esta é uma fase difícil, não só para o adolescente 2. Regressão – Outra anormalidade que se pode
mas, também, para os pais que querem retardar essa verificar no desenvolvimento da personalidade é,
libertação. depois de se ter atingido uma certa fase, voltar à
Há casos em que o desenvolvimento ecomional fase anterior. Vejamos o caso de uma criança
não se processa normalmente, não apresenta essa cujo desenvolvimento se vai processando normal-
sequência de fases, devido a fatores biológicos ou a mente até a idade escolar, em que estará no
condições ambientais. período de latência. Nessa ocasião, o ambiente
Vejamos 2 casos de anormalidade na evolução afetivo de seu lar é grandemente modificado com
emocional: a fixação e a regressão. o nascimento de um irmãozinho. A criança de
1. Fixação – Freud chama de fixação a parada que quem falamos, e que, até os 8 anos, se mostrava
uma pessoa pode apresentar em uma fase bem ajustada, começa a se sentir insegura
determinada. Estaciona-se o desenvolvimento emocionalmente (Será que seus pais continuam a
emocional, embora continuem a se processar o querer-lhe bem depois do nascimento do nenê?).
desenvolvimento físico e o intelectual. Vejamos o A grande modificação em seu ambiente emocional
caso de uma menina de 3 anos, cuja mãe morre e leva-a a desajustar-se. Não se sentindo satisfeita
o pai a entrega à avó. O ambiente emocional em emocionalmente, deseja obter satisfação como
que esta criança vivia se transforma por com- conseguia fazer ao período em que tinha a
pleto: perdeu a afeição materna e, de certo modo, atenção dos pais só para sua pessoa, e passa a se
a paterna, que a iria auxiliar a passar do período comportar como o fazia nesse período, visando
nascisista (em que se encontra) ao período merecer novamente os mesmos cuidados e aten-
edipiano. Seu desenvolvimento físico e intelectual ções: volta a molhar o leito, chora alto, chupa o
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dedo, pede para tomar leite na mamadeira, fica Os impulsos reprimidos conseguirão se manifes-
novamente apegadíssima aos adultos, exige que a tar, algumas vezes, enquanto estamos adormecidos,
carreguem no colo, não quer mais ir à escola... através dos SONHOS; outras vezes, quando estamos
Regrediu ao período narcisista. acordados, através dos ATOS FALHOS; e, também, em
estado de INTOXICAÇÃO.
MECANISMOS DE DEFESA (ou “dinamismos” freudianos) ATOS FALHOS OU FALHADOS. São aqueles que
Freud afirma que nossa personalidade é o resul- praticamos aparentemente sem querer e de modo
tado do conflito entre 2 forças opostas: o Id = força inexplicável. É comum cometermos enganos, tro-
biológica, natural, procurando satisfazer nossos impul- carmos palavras, esquecermos objetos, etc. Os
sos sexuais, e o Superego = força social, adquirida, atos falhos são causados pelos impulsos reprimi-
procurando impedir a satisfação da libido. dos que procuram se descarregar de qualquer
Nossa razão, ou nosso Ego, poderá harmonizar modo, mesmo interferindo em nossas ações não
esse conflito de várias maneiras. Freud chama de me- submetidas à repressão;
canismos de defesa do Ego os modos de equilibrar SONHOS. As tendências recalcadas procuram se
essas 2 forças opostas, alguns dos quais são: manifestar enquanto estamos dormindo, através
repressão, racionalização, projeção, conversão, sublima- dos sonhos; entretanto, são tão condenáveis que,
ção, etc. para conseguirem se manifestar, precisam vir
Mecanismo de defesa – Repressão “camufladas”. Um rapaz, por exemplo, que tem
É o “dinamismo” que mais comumente usamos conseguido recalcar sua agressividade para com
para acomodar a oposição entre nossas tendências seu pai, poderá sonhar que agrediu uma pessoa
naturais e nossa consciência moral, que as julga más e adulta ou que um colega agrediu seu pai. Atrás
socialmente indesejáveis. do conteúdo manifesto de um sonho está seu
Esse “dinamismo” consiste em não admitir a conteúdo latente que se obtém pela interpretação
existência das tendências do Id, não pensar nelas, psicanalítica;
ignorá-las, torná-las inconscientes ou recalcá-las. Por INTOXICAÇÕES. Em estado de intoxicação
exemplo, uma pessoa que tenha agressividade para alcoólica, a pessoa pode demonstrar tendências
com seu pai poderá reprimir esse antagonismo, racalcá- libidinais ou agressivas que ela própria
lo; ela não admitirá a existência do mesmo, conseguirá desconhece quando sóbria. Isto é válido com
torná-lo inconsciente. relação a outros tóxicos.
Essa tendência não desaparecerá totalmente, Mecanismo de defesa – Racionalização
mas continuará a existir e procurará passar para o É o “dinamismo” pelo qual a nossa inteligência
nível consciente. apresenta razões socialmente aceitáveis para nossas
ações que, na realidade, foram motivadas pelos impul- encontra defeitos em todas as pessoas, que julga más
sos do Id. todas as ações alheias, está sendo influenciada por
Racionalizar é inventar pretextos, razões para seus impulsos reprimidos, cuja existência não pode
desculpar, diante da sociedade e de nós mesmos, os admitir em si.
nossos atos cujos motivos reais não percebemos. Vejamos, agora, um exemplo citado pelo Dr.
Por exemplo: Um rapaz compra um carro, reali- Emílio Mira Y.Lopez: “Em uma visita ao jardim zoológico
zando uma despesa exagerada em relação a sua com seu avô, um menino aproximou-se das jaulas dos
situação financeira e as suas necessidade profissionais, leões e, ouvindo o rugir de um destes, puxou o velho pela
porém, tranquiliza sua consciência e justifica-se diante manga, dizendo-lhe: Vamos, vovô, que o senhor está com
dos outros afirmando que o carro vai ser muito útil para medo”.
seu trabalho e vai facilitar as atividades de suas irmãs e Mecanismo de defesa – Conversão
de seus pais já idosos. Freud explicou que, muitas vezes, não consegui-
Na realidade, entretanto, o que ele desejava eram mos harmonizar os impulsos do Id com o nosso Supe-
as vantagens que o automóvel apresentava para seus go por meio de outros mecanismos. Então, a luta, o
passeios e suas “conquistas”. conflito entre essas 2 forças vai se converter em um
Ninguém se vê livre da racionalização, porém, sintoma físico: paralisia, dores de cabeça, perturbações
quanto mais inteligente e mais dominadora for a pes- digestivas, etc.
soa, mais se valerá desse processo. No século XX, a Medicina mudou seu modo de
Esse mecanismo de defesa é empregado pelos di- encarar certos problemas: os médicos, atualmente, não
tadores que, para atingir seus fins “elevados e nobres”, consideram o corpo isolado da mente. Aceitam que o
lançam mão de meios muitas vezes ilícitos. Conseguem estado da mente influi no corpo e vice-versa. Existe
iludir a si mesmos e a seu povo. uma inter-relação entre corpo e mente. Antigamente, os
A finalidade da racionalização é manter o auto- estudiosos consideravam separadamente esses dois
respeito e reduzir as tensões resultantes da frustração e componentes da pessoa. A Medicina atual é, então,
dos sentimentos de culpa. psicossomática: corpo e mente, estão muito ligados;
Mecanismo de defesa – Projeção não podemos aceitar que nosso corpo esteja bem
É atribuir aos outros nossos próprios desejos e quando temos problemas emocionais. Por outro lado, a
impulsos. As tendências indesejáveis, cuja manifesta- doença física faz a pessoa pessimista, deprimida, etc.
ção em nossas ações não podemos permitir, e cuja Corpo e mente são 2 elementos que se interinfluenciam.
existência em nós não podemos em absoluto admitir, Conversão é, portanto, a transformação de con-
vão influir consideravelmente no modo de interpretar- flitos emocionais em sintomas físicos. Diz o Dr. Arthur
mos o comportamento de outras pessoas. Vão ser Ramos, no livro: A criança-problema, que muitos dos
projetadas nos outros. Por exemplo: Uma senhora que
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problemas emocionais das crianças podem se converter é substituída por outra que se dirige ao mesmo
em “tiques”. objeto. Exemplos:
-TIQUES: São contrações que a pessoa faz automatica-
1) Um empregado satisfaz seu desejo de dar um soco
mente, sem nenhuma finalidade e sem perceber. São em seu patrão agredindo-o por meio de palavras;
comuns, nas escolas, crianças apresentando tiques, os 2) Um cavalheiro satisfaz seu desejo de acariciar uma
quais são causados por conversão de conflitos emocio- jovem dama oferecendo-lhe um ramo de flores, etc.
nais.
Mecanismo de defesa – Sublimação MUDANÇA DE OBJETO E DE REAÇÃO. Os psi-
canalistas afirmam que uma pessoa pode satifa-
É a satisfação modificada dos impulsos naturais,
zer seus desejos naturais entregando-se à arte, à
em atos socialmente mais aceitáveis.
religião, a obras sociais, etc. A sublimação tem
O Dr. Mira Y. Lopes, em: Os fundamentos da
importante papel no desenvolvimento do homem
Psicanálise, apresenta 3 tipos de sublimação:
civilizado e nas realizações culturais. É o meca-
MUDANÇA DE OBJETO. Neste caso, a ação dese-
nismo de defesa mais recomendado em Educa-
jada realiza-se totalmente, dirigindo-se a um ob-
ção.
jeto diferente. Exemplos:
1) Um empregado satisfaz seu impulso de agredir o
patrão dando um soco na mesa ou um pontapé A PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
num caixote; Freud relacionava o comportamento apresentado
2) O povo muito oprimido por um ditador reúne-se em pelo indivíduo adulto com episódios de sua vida infan-
praça pública, faz discursos e, depois, queima ou
apedreja o retrato de seu governante.
til. A importância atribuída pela Psicanálise à infância
das pessoas, sua explicação das características
Nestes 2 exemplos, o desejo de agressão foi satis- emocionais das diferentes fases da vida humana e
feito, sem grandes consequências anti-sociais, outras afirmações de Freud tiveram muita influência na
por ter havido a mudança no objeto da satisfação Educação. Pais e professores, apoiados na Psicanálise,
do mesmo. Vejamos mais um exemplo em que os ganharam maior compreensão da infância e, portanto,
impulsos naturais são satisfeitos sem desrespeito maior capacidade de previsão e controle do comporta-
às conveniências sociais: Um cavalheiro aproxi- mento de seus filhos e alunos.
ma-se de uma jovem senhora e sente o desejo
natural de acariciá-la; satisfaz esse impulso aca- ESTADO ATUAL DA DOUTRINA FREUDIANA
riciando uma criança que a acompanha; A doutrina freudiana, além de sua imensa reper-
MUDANÇA DE REAÇÃO (ou mudança da forma cussão em todos os campos do saber humano, conti-
motora da resposta). Neste caso, a ação desejada nua em progresso em seu setor de estudos. O livro de
Karen Horney, “Novos rumos da Psicanálise”, analisa cientista será a referência, neste item, para compreen-
bem esse progresso. dermos o desenvolvimento humano, para respondermos
Após ter trabalhado muitos anos como praticante às perguntas como e por que o indivíduo se comporta
de Psicanálise, essa autora faz um comentário da teoria de determinada situação, neste momento de sua vida.
e da prática psicanalíticas, apresentando-as através de
nova perspectiva, “como um instrumento construtivo e I - O DESENVOLVIMENTO HUMANO
de grande valor para nos compreendermos a nós
(Segundo Piaget)
mesmos e aos outros”.
O desenvolvimento humano refere-se ao desen-
volvimento mental e ao crescimento orgânico. O
A PSICOLOGIA DESENVOLVIMENTO MENTAL é uma construção
contínua, que se caracteriza pelo aparecimento
DO DESENVOLVIMENTO gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de
organização da atividade mental que se vão aperfei-
E
çoando e solidificando até o momento em que todas
sta área de conhecimento da Psicologia estuda o elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão
desenvolvimento do ser humano em todos os um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos
seus aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo- da inteligência, vida afetiva e relações sociais.
emocional e social – desde o nascimento até a idade
adulta, isto é, a idade em que todos estes aspectos
A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO
atingem o seu mais completo grau de maturidade e
estabilidade. HUMANO
Existem várias teorias do desenvolvimento huma- A criança não é um adulto em miniatura. Ao
no em Psicologia. Elas foram construídas a partir de contrário, apresenta características próprias de sua
observações, pesquisas com grupos de indivíduos em idade. Compreender isso é compreender a importância
diferentes faixas etárias ou em diferentes culturas, do estudo do desenvolvimento humano.
estudos de casos clínicos, acompanhamento de indiví- Estudos e pesquisas de Piaget demonstraram que
duo desde o nascimento até a idade adulta. Dentre existem formas de perceber, compreender e se
essas teorias, destaca-se a do psicólogo e biólogo suíço comportar diante do mundo, próprias de cada faixa
JEAN PIAGET (1896-1980), pela sua produção contínua etária, isto é, existe uma assimilação progressiva do
de pesquisas, pelo rigor científico de sua produção meio ambiente, que implica uma acomodação das
teórica e pelas implicações práticas de sua teoria, estruturas mentais a este novo dado do mundo
principalmente no campo da Educação. A teoria deste exterior.
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puxar um brinquedo que está embaixo de um lidade. JEAN PIAGET enfatiza o desenvolvimento inte-
móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir lectual.
de sua mesada ou salário;
3. ASPECTO AFETIVO-EMOCIONAL – É o modo
particular e sentimental do indivíduo, de fazer II – A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
parte desse aspecto. Exemplos: a vergonha que HUMANO DE JEAN PIAGET
sentimos em algumas situações, o medo em
outras, a alegria de rever um amigo querido; Este autor divide os períodos do desenvolvimento
4. ASPECTO SOCIAL – É a maneira como o indiví- humano de acordo com o aparecimento de novas quali-
duo reage diante das situações que envolvem dades do pensamento, o que, por sua vez, interfere no
outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de desenvolvimento global.
crianças, no parque, é possível observar algumas 1º período: Sensório-motor – (0 a 2 anos);
que espontaneamente buscam outras para brin- 2º período: Pré-operatório – (2 a 7 anos);
car, e algumas que permanecem sozinhas. 3º período: Operações concretas – (7 a 11 ou 12
Se analisarmos melhor cada um desses exem- anos);
plos, vamos descobrir que todos os outros aspectos 4º período: Operações formais – (11 ou 12 anos
estão presentes em cada um dos casos. E é sempre em diante).
assim. Não é possível encontrar um exemplo “puro”, Segundo PIAGET, cada período é caracterizado
porque todos estes aspectos relacionam-se permanen- por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer
temente. Por exemplo, uma criança tem dificuldades de nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por
aprendizagem, repete o ano, vai-se tornando cada vez todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém,
mais “tímida” ou “agressiva”, com poucos amigos e, um o início e o término de cada uma delas dependem das
dia, descobre-se que as dificuldades tinham origem em características biológicas do indivíduo e de fatores
uma deficiência auditiva. Quando isso é corrigido, todo educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas
o quadro reverte-se. A história pode, também, não ter etárias é uma referência, e não uma norma rígida.
um final feliz, se os danos forem graves.
Todas as teorias do desenvolvimento humano PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR
partem do pressuposto de que esses 4 aspectos são (o recém-nascido e o lactente – 0 a 2 anos)
indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos dife- Neste período, a criança conquista, através da
rentes, isto é, estudar o desenvolvimento global a partir percepção e dos movimentos, todo o universo que a
da ênfase em um dos aspectos. A Psicanálise, por cerca. No recém-nascido, a vida mental reduz-se ao
exemplo, estuda o desenvolvimento a partir do aspecto exercício dos aparelhos reflexos, de fundo hereditário,
afetivo-emocional, isto é, do desenvolvimento da sexua- como a sucção. Esses reflexos melhoram com o treino.
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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Por exemplo, o bebê mama melhor no 10º dia de vida manifesta preferências por brinquedos, objetos, pessoas
do que no 2º dia. Por volta dos 5 meses, a criança etc.
consegue coordenar os movimentos das mãos e olhos e No curto espaço de tempo deste período, por volta
pegar objetos, aumentando sua capacidade de adquirir de 2 anos, a criança evolui de uma atitude passiva em
hábitos novos. relação ao ambiente e pessoas de seu mundo para uma
No final do período, a criança é capaz de usar atitude ativa e participativa. Sua integração no ambien-
um instrumento como meio para atingir um objeto. Por te dá-se, também, pela imitação das regras. E, embora
exemplo, descobre que se puxar a toalha, a lata de compreenda algumas palavras, mesmo no final do
bolacha ficará mais perto dela. Neste caso, ela utiliza a período só é capaz de fala imitativa.
inteligência prática ou sensório-motora, que envolve as
percepções e os movimentos. PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO
Neste período, fica evidente que o desenvolvi- (a 1ª infância – 2 a 7 anos)
mento físico acelerado é o suporte para o aparecimento Neste período, o que de mais importante aconte-
de novas habilidades. Isto é, o desenvolvimento ósseo, ce é o aparecimento da linguagem, que irá acarretar
muscular e neurológico permite a emergência de novos modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da
comportamentos, como sentar-se andar, o que criança.
propiciará um domínio maior do ambiente. A interação e a comunicação entre os indivíduos
Ao longo deste período, irá ocorrer na criança são, sem dúvida, as consequências mais evidentes da
uma diferenciação progressiva entre o seu eu e o linguagem. Com a palavra, há possibilidade de exteriori-
mundo exterior. Se no início o mundo era uma continu- zação da vida interior e, portanto, a possibilidade de
ação do próprio corpo, os progressos da inteligência corrigir ações futuras. A criança já antecipa o que vai
levam-na a situar-se como um elemento entre outros fazer. Como decorrência do aparecimento da linguagem,
no mundo. Isso permite que a criança, por volta de 1 o desenvolvimento do pensamento se acelera. No início
ano, admita que um objeto continue a existir mesmo do período, ele exclui toda a objetividade, a criança
quando ela não o percebe, isto é, o objeto não está transforma o real em função dos seus desejos e
presente no seu campo visual, mas ela continua a fantasias (jogo simbólico); posteriormente, utiliza-o como
procurar ou a pedir o brinquedo que perdeu, porque sabe referencial para explicar o mundo real, a sua própria
que ele continua a existir. atividade, seu EU e suas leis morais; e, no final do
Essa diferenciação também ocorre no aspecto período, passa a procurar a razão causal e finalista de
afetivo, pois o bebê passa das emoções primárias (os tudo (é a fase dos famosos “PORQUÊS”). É um pensa-
primeiros medos, quando, por exemplo, ele se enrijece mento mais adaptado ao outro e ao real.
ao ouvir um barulho muito forte) para uma escolha No aspecto afetivo, surgem os sentimentos
afetiva de objetos (no final do período), quando já interindividuais, sendo que um dos mais relevantes é o
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga a pessoas diferentes ou à própria criança, que “vê” um
superiores a ela. Por exemplo, em relação aos pais, aos objeto ou situação com aspectos diferentes e, mesmo
professores. É um misto de amor e temor. Seus conflitantes. Ela consegue coordenar estes pontos de
sentimentos morais refletem esta relação com os vista e integrá-los de modo lógico e coerente. No plano
adultos significativos – a moral da obediência -, em que afetivo, isto significa que ela será capaz de cooperar com
o critério de bem e mal é a vontade dos adultos. Com os outros, de trabalhar em grupo e, ao mesmo tempo, de
relação às regras, mesmo nas brincadeiras, concebe-as ter autonomia pessoal.
como imutáveis e determinadas externamente. Mais O que possibilitará isto, no plano intelectual, é o
tarde, adquire uma noção mais elaborada da regra, surgimento de uma nova capacidade mental da criança:
concebendo-a como necessária para organizar o as operações, isto é, ela consegue realizar uma ação
brinquedo, porém, não a discute. física ou mental dirigida para um fim (objetivo) e
Com o domínio ampliado do mundo, seu interesse revertê-la para o seu início. Num jogo de quebra-cabeça,
pelas diferentes atividades e objetos se multiplica, próprio para a idade, ela consegue, na metade do jogo,
diferencia e regulariza, isto é, torna-se estável, sendo descobrir um erro, desmanchar uma parte e recomeçar
que, a partir desse interesse, surge uma escala de de onde corrigiu, terminando-o. As operações sempre se
valores própria da criança. A criança passa a avaliar referem a objetos concretos presentes ou já experienci-
suas próprias ações a partir dessa ESCALA. ados. Outra característica deste período é que a criança
É importante, ainda, considerar que, neste perí- consegue exercer suas habilidades e capacidades a par-
odo, a maturação neurofisiológica completa-se, permi- tir de objetos reais, concretos. Portanto, mesmo a
tindo o desenvolvimento de novas habilidades, como a capacidade de reflexão que se inicia, isto é, pensar
coordenação motora fina – pegar pequenos objetos com antes de agir, considerar os vários pontos de vista
as pontas dos dedos, segurar o lápis corretamente e simultaneamente, recuperar o passado e antecipar o
conseguir fazer os delicados movimentos exigidos pela futuro, se exerce a partir de situações presentes ou
escrita. passadas, vivenciadas pela criança.
Em nível de pensamento, a criança consegue:
PERÍODO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS Estabelecer corretamente as relações de causa e
(a infância propriamente dita – 7 a 11 ou 12 anos) efeito e de meio e fim;
O desenvolvimento mental, caracterizado no Sequenciar ideias ou eventos;
período anterior pelo egocentrismo intelectual e social, Trabalhar com ideias sob 2 pontos de vista,
é superado neste período pelo início da construção simultaneamente;
lógica, isto é, a capacidade da criança de estabelecer Formar o conceito de número (no início do
relações que permitam a coordenação de pontos de período, sua noção de número está vinculada a
vista diferentes. Estes pontos de vista podem referir-se uma correspondência com o objeto concreto).
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currículo e, posteriormente, pode propor soluções mais período em que o indivíduo vai se tornar socialmente
viáveis e adequadas, que considerem as exigências produtivo e, portanto, entrará na idade adulta.
sociais. Na IDADE ADULTA, não surge nenhuma nova
No aspecto afetivo, o adolescente vive conflitos. estrutura mental, e o indivíduo caminha então para um
Deseja libertar-se do adulto, mas ainda depende dele. aumento gradual do desenvolvimento cognitivo, em
Deseja ser aceito pelos amigos e pelos adultos. O grupo profundidade, e uma maior compreensão dos proble-
de amigos é um importante referencial para o jovem, mas e das realidades significativas que o atingem. Isto
determinando o vocabulário, as vestimentas e outros influencia os conteúdos afetivo-emocionais e sua forma
aspectos de seu comportamento. Começa a estabelecer de estar no mundo.
sua moral individual, que é referenciada à moral do
grupo. Os interesses do adolescente são diversos e mu- III – A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
táveis, sendo que a estabilidade chega com a proximi-
dade da idade adulta. HUMANO – Segundo VIGOTSKI
Ao falarmos de desenvolvimento humano, hoje,
não podemos deixar de citar o autor soviético
JUVENTUDE – UM PROJETO DE VIDA (Piaget)
VIGOTSKI. Lev Semenovich Vigotski, nasceu em 1896,
Conforme Piaget, a personalidade começa a se
na Bielo-Rus, e faleceu prematuramente aos 37 anos de
formar no final da infância, entre 8 a 12 anos, com a
idade. Vigotski foi um dos teóricos que buscou uma
organização autônoma das regras, dos valores, a
alternativa dentro do materialismo dialético para o
afirmação da vontade. Esses aspectos subordinam-se
conflito entre as concepções idealista e mecanicista na
num sistema único e pessoal e vão-se exteriorizar na
Psicologia. Ao lado de Luria e Leontiev, construiu
construção de um projeto de vida. Esse projeto é que
propostas teóricas inovadoras sobre temas como
vai nortear o indivíduo em sua adaptação ativa à
relação pensamento e linguagem, natureza do processo
realidade, que ocorre através de sua inserção no mundo
de desenvolvimento da criança e o papel da instrução
do trabalho ou na preparação para ele, quando ocorre
no desenvolvimento.
um equilíbrio entre o real e os ideais do indivíduo, isto
VIGOTSKI foi ignorado no Ocidente, e mesmo na
é, de revolucionário no plano das ideias, ele se torna
ex-União Soviética a publicação de suas obras foi
transformador, no plano da ação.
suspensa entre 1936 e 1956. Atualmente, no entanto,
É importante lembrar que na nossa cultura, em
seu trabalho vem sendo estudado e valorizado no
determinadas classes sociais que “protegem” a infância
mundo todo.
e a juventude, a prorrogação do período da adolescên-
cia é cada vez maior, caracterizando-se por uma
dependência em relação aos pais e uma postergação do Um Pressuposto Básico
Um pressuposto básico da obra de Vigotski é que a criança pequena dispõe para dominar aquelas
as origens das formas superiores de comportamento tarefas. Um dos instrumentos básicos criados
consciente – pensamento, memória, atenção voluntária pela humanidade é a linguagem. Por isso,
etc. -, formas essas que diferenciam o homem dos VIGOTSKI deu ênfase, em toda sua obra, à
outros animais, devem ser achadas nas relações sociais linguagem e sua relação com o pensamento;
que o homem mantém. Mas Vigotski não via o homem 3. O ASPECTO HISTÓRICO, como afirma LURIA,
como um ser passivo, consequência dessas relações. funde-se com o cultural, pois os instrumentos
Entendia o homem como ser ativo, que age sobre o que o homem usa, para dominar seu ambiente e
mundo, sempre em relações sociais, e transforma essas seu próprio comportamento, foram criados e
ações para que constituam o funcionamento de um modificados ao longo da história social da civili-
planto inteiro. zação. Os instrumentos culturais expandiram os
poderes do homem e estruturaram seu pensa-
A VISÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL mento, de maneira que, se não tivéssemos de-
O desenvolvimento infantil é visto a partir de 3 senvolvimento a linguagem escrita e a aritméti-
aspectos: instrumental, cultural e histórico. E, é LURIA ca, por exemplo, não possuiríamos hoje a organi-
que nos ajuda a compreendê-los. zação dos processos superiores que possuímos.
1. O ASPECTO INSTRUMENTAL refere-se à natu- Assim, para VIGOTSKI, a história da sociedade e o
reza basicamente mediadora das funções psico- desenvolvimento do homem caminham juntos e, mais
lógicas complexas. Não apenas respondemos aos do que isso, estão de tal forma, intrincados, que um
estímulos apresentados no ambiente, mas os não seria o que é, sem o outro. Com essa perspectiva, é
alteramos e usamos suas modificações como um que VIGOTSKI estudou o desenvolvimento infantil.
instrumento de nosso comportamento. Exemplo As crianças, desde o nascimento, estão em cons-
disso é costume popular de amarrar um tante interação com os adultos, que ativamente procu-
barbante no dedo para lembrar algo. O estímulo ram incorporá-las a suas relações e a sua cultura. No
– o laço no dedo – objetivamente significa apenas início, as respostas das crianças são dominadas por
que o dedo está amarrado. Ele adquire sentido, processos naturais, especialmente aqueles proporciona-
por sua função mediadora, fazendo-nos lembrar dos pela herança biológica. É através da mediação dos
algo importante; adultos que os processos psicológicos mais complexos
2. O ASPECTO CULTURAL da teoria envolve os tomam forma. Inicialmente, esses processos são
meios socialmente estruturados pelos quais a INTERPSÍQUICOS (partilhados entre pessoas), isto é, só
sociedade organiza os tipos de tarefa que a podem funcionar durante a interação das crianças com
criança em crescimento enfrenta, e os tipos de os adultos. À medida que a criança cresce, os processos
instrumento, tanto mentais como físicos, de que
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acabam por ser executados dentro das próprias da criança tem, portanto, um papel fundamental no
crianças – INTRAPSÍQUICOS. desenvolvimento de suas funções psicológicas.
VIGOTSKI – Seus Estudos
No estudo feito por Vigotski, sobre o
desenvolvimento da fala, sua visão fica bastante IV – VIGOTSKI E PIAGET
clara: inicialmente, os aspectos motores e verbais do
Se compararmos os dois maiores teóricos do
comportamento estão misturados. A fala envolve os
desenvolvimento humano, podemos dizer, correndo
elementos referenciais, a conversação orientada pelo
algum risco de sermos simplistas, que PIAGET
objeto, as expressões emocionais e outros tipos de fala
apresenta uma tendência hiperconstrutivista em sua
social. Como a criança está cercada por adultos na
teoria, com ênfase no papel estruturante do sujeito.
família, a fala começa a adquirir traços demonstrativos,
Maturação, experiências física, transmissões sociais e
e ela começa a indicar o que está fazendo e de que está
culturais e equilibração são fatores desenvolvidos na
precisando. Após algum tempo, a criança, fazendo
teoria de Piaget. VIGOTSKI, por outro lado, enfatiza o
distinções para os outros, com o auxílio da fala, começa
aspecto interacionista, pois considera que é no plano
a fazer distinções para si mesma. E a fala, vai deixando
intersubjetivo, isto é, na troca entre as pessoas, que
de ser um meio para dirigir o comportamento dos
têm origem as funções mentais superiores.
outros e vai adquirindo a função de autodireção.
A teoria de PIAGET apresenta também a di-
O Alicerce da Fala e da Ação mensão interacionista, mas, sua ênfase é
Fala e ação, que se desenvolvem independentes colocada na interação do sujeito com o objeto
uma da outra em determinado momento do desenvolvi- físico; e, além disso, não está clara em sua
mento convergem, e esse é o momento de maior signifi- teoria a função da interação social no proces-
cado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá so de conhecimento;
origem às formas puramente humanas de inteligência.
A teoria de VIGOTSKI, por outro lado, também
Forma-se, então, um amálgama entre fala e ação; inici-
apresenta um aspecto construtivista, na me-
almente a fala acompanha as ações e, posteriormente,
dida em que busca explicar o aparecimento de
dirige, determina e domina o curso da ação, com sua
inovações e mudanças no desenvolvimento a
função planejadora.
partir do mecanismo de internalização. No
Todos os movimentos e expressões verbais da
entanto, temos na teoria sócio-interacionista
criança, no início de sua vida, são importantes, pois
apenas um quadro esboçado, que apresenta
afetam o adulto, que os interpreta e os devolve à
sugestões e caminhos, mas necessita de estu-
criança com ação e/ou com fala. A fala egocêntrica, por
dos e pesquisas que expliquem os mecanis-
exemplo, foi vista por Vigotski como uma forma de
transição entre a fala exterior e a interior. A fala inicial
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Q ualquer um de nós é capaz de responder sem No primeiro grupo, estão as teorias que definem a
pestanejar a perguntas do tipo: O que você aprendizagem pelas suas consequências comportamen-
aprendeu hoje na escola? E sabemos também tais e enfatizam as condições ambientais como forças
justificar nossas habilidades, por exemplo, de escrever propulsoras da aprendizagem.
e ler, consertar alguma coisa ou dançar, dizendo que Aprendizagem é a conexão entre o estímulo e a
aprendemos. Usamos o termo aprender sem dificulda- resposta. Completada a aprendizagem, estímulo e res-
des, pois sabemos que, se somos capazes de fazer algo posta estão de tal modo unidos, que o aparecimento do
que antes não fazíamos, é porque aprendemos. estímulo evoca a resposta.
No entanto, para a PSICOLOGIA, o conceito de No segundo grupo, estão as teorias que definem a
aprendizagem não é tão simples assim. Há diversas aprendizagem como um processo de relação do sujeito
possibilidades de aprendizagem, ou seja, há diversos com o mundo externo e que tem consequências no
fatores que nos levam a apresentar um comportamento plano da organização interna do conhecimento (organi-
que anteriormente não apresentávamos, como o cresci- zação cognitiva). A concepção de Ausubel, apresentada
mento físico, descobertas, tentativas e erros, ensino etc. no livro Aprendizagem significativa – a teoria de David
Imagine uma amiga, ou amigo, que sabe uma poesia Ausubel, de Moreira e Masini, que se enquadra neste
inteira em francês, porque copiou 10 vezes como grupo, diz que a aprendizagem é um elemento que
castigo, há 20 anos, e tem apenas uma vaga ideia do provém de uma comunicação com o mundo e se
que está dizendo quando a declama. Podemos dizer que acumula sob a forma de uma riqueza de conteúdos
essa pessoa aprendeu a poesia? Essas diferentes cognitivos. É o processo de organização de informações
situações e processos não podem ser englobados num e integração do material pela estrutura cognitiva.
só conceito. O indivíduo adquire, assim, um número crescen-
te de novas ações como forma de inserção em seu meio.
à criança a noção de sociedade, podemos levá-la a dar aprendizagem. Por exemplo, nós estamos aqui
uma volta no quarteirão e observar com ela tudo o que apresentando a você um povo conceito – o de
lá existe. A criança atribuirá significados aos elementos aprendizagem significativa. Para que este concei-
dessa experiência e poderá, posteriormente, compreen- to seja assimilado por sua estrutura cognitiva, é
der a sociedade. necessário que a noção de aprendizagem apre-
O cognitivismo está, pois, preocupado com o pro- sentada pelos cognitivistas já esteja lá, como
cesso de compreensão, transformação, armazenamento ponto de ancoragem. E esta nova noção de
e utilização das informações, no plano da cognição. aprendizagem significativa, sendo assimilada,
servirá de ponto de ancoragem para o conteúdo
APRENDIZAGEM que se seguirá.
O processo de organização das informações e de
integração do material à estrutura cognitiva é o que os III – TEORIAS ATUAIS
cognitivistas denominam aprendizagem.
A abordagem cognitivista diferencia a aprendiza- As teorias de VIGOTSKI e PIAGET (que embasa-
gem mecânica da aprendizagem significativa. ram a produção de Emília Ferreiro) são, hoje, referência
a) Aprendizagem Mecânica – Refere-se à aprendi- na questão da aprendizagem e, o mais interessante, é
zagem de novas informações com pouca ou que essas duas teorias são muito antigas na
nenhuma associação com conceitos já existentes PSICOLOGIA.
na estrutura cognitiva. Você se lembra daquela
amiga que decorou a poesia em francês? É um A TEORIA DE VIGOTSKI
exemplo deste tipo de aprendizagem, pois o Este autor produziu toda a sua obra no início do
conteúdo não se relacionava com nada que ela já nosso século, pois morreu cedo, deixando aos colegas
possuísse em sua estrutura cognitiva (por isso ela de trabalho a tarefa de completar sua teoria. Hoje,
não entendia o que dizia, apenas sabia a poesia décadas depois de sua morte, o autor volta à tona com
de cor). O conhecimento assim adquirido fica o merecido reconhecimento pela sua contribuição à
arbitrariamente distribuído na estrutura cogniti- Educação e a Psicologia.
va, sem se ligar a conceitos específicos; Na década de 20 e início dos anos 30 (século
b) Aprendizagem Significativa – Processa-se passado), VIGOTSKI dedicou-se à construção da crítica
quando um novo conteúdo (ideias ou informa- à noção de que se poderia construir conhecimento
ções) relaciona-se com conceitos relevantes, sobre as funções psicológicas, superiores humanas a
claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo partir de experiências com animais. Ele criticou,
assim assimilado por ela. Estes conceitos dis- também, as concepções que afirmavam serem as
poníveis são os pontos de ancoragem para a propriedades intelectuais dos homens resultado da
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partir da década de 70 (século passado), quando passa No decorrer de sua evolução, a inteligência apre-
a trabalhar, exclusivamente, com investigações sobre os senta formas diversas (estágios) e essas formas vão
mecanismos de transição que explicam a evolução do caracterizando as possibilidades de relação com seu
desenvolvimento cognitivo. Para Piaget, a formação das meio ambiente. Assim, o homem aprende o mundo de
operações cognitivas no homem está subordinada a um maneira diversa a cada momento de seu desenvol-
processo geral de equilibração para o qual tende o vimento.
desenvolvimento cognitivo, como um todo. PIAGET não desenvolveu uma teoria do processo
Piaget utilizou, para a construção de suas idéias, de ensino-aprendizagem, mas formulou referências
o modelo biológico: o homem é guiado pela busca do claras que, na década de 80, seriam utilizadas por
equilíbrio entre as necessidades biológicas fundamen- Emília Ferreiro na elaboração da sua teoria sobre a
tais de sobrevivência e as agressões ou restrições aprendizagem da escrita. Piaget, na verdade, foi e é
colocadas pelo meio para a satisfação destas necessi- referência para muitos teóricos na Psicologia, mas dada
dades. Nesta relação, a organização – enquanto a importância atual do trabalho de Ferreiro, vamos
capacidade do indivíduo de condutas seletivas – é o destacá-la AQUI.
mecanismo que permite ao homem ter condutas efici- EMÍLA FERREIRO
entes para atender às suas necessidades, isto é, à sua Esta autora tem suas ideias publicadas a partir dos
anos 80. Argentina de nascimento, psicopedagoga de
demanda de adaptação. formação, doutourou-se em Genebra, orientada por Jean
A ADAPTAÇÃO – que envolve a assimilação e a Piaget. Na década de 80, estabeleceu-se na cidade do
acomodação numa relação indissociável – é o mecanis- México, onde vem trabalhando até hoje. Seus trabalhos de
mo que permite ao homem não só transformar os pesquisa demonstram uma preocupação em integrar os
elementos assimilados, tornando-os parte da estrutura objetivos científicos a um compromisso com a realidade
social e cultural da América Latina. Suas análises sobre o
do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomoda- fracasso escolar das populações marginalizadas – atribuído
ção deste organismo aos elementos incorporados. a um problema social – demonstram este compromisso.
Neste sentido, a inteligência é uma adaptação – é
assimilação, pois incorpora dados da experiência do Ferreiro contribuiu significativamente para a
indivíduo e, ao mesmo tempo, acomodação, uma vez compreensão do processo de aprendizagem, demons-
que o sujeito modifica suas estruturas mentais para trando a existência de mecanismos no sujeito que
incorporar os novos elementos da experiência. aprende, mecanismos estes que surgem da interação
O desenvolvimento intelectual resulta da constru- com a linguagem escrita, e que emergem de uma forma
ção de um equilíbrio progressivo entre assimilação e muito particular em cada um dos sujeitos.
acomodação, o que propicia o aparecimento de novas Assim, as crianças interpretam o ensino que
estruturas mentais. Isso é um processo em evolução. recebem, transformando a ESCRITA convencional e
produzindo escritas estranhas ao adulto. São, na
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verdade, do ponto de vista de Ferreiro, aplicações de inteligência ao executá-la. Há muitas atividades que
esquemas de assimilação ao objeto de aprendizagem; realizamos sem apelar para a inteligência:
são formas de interpretar e compreender o mundo das a) As habituais;
coisas. b) As reflexas; e as
c) Instintivas.
A
Inteligência é um assunto de grande interesse, recorrer à INTELIGÊNCIA.
porém, não tem quase sido estudado porque os
autores têm tido dificuldade em encontrar um COMPARAÇÃO COM O COMPORTAMENTO
método adequado para a sua observação. ANIMAL
Édouard Claparède publicou um estudo muito
interessante sobre a inteligência, realizado no Laborató- Os autores, ao nos apresentarem seus estudos
rio de Psicologia de Genebra (Suíça), usando um méto- sobre a inteligência, fazem comparações entre o
do por ele imaginado: a reflexão falada. Seu experi- comportamento humano e o comportamento dos
mento consistiu no seguinte: deu a vários estudantes animais quando colocados em uma SITUAÇÃO NOVA.
problemas para que resolvessem, pedindo-lhes que O comportamento do animal tem alguma seme-
descrevessem em voz alta seu pensamento enquanto lhança com o comportamento humano, porque nós,
racionavam. quando nos vemos em uma situação nova, também
Ouvindo um a um os estudantes enquanto refle- fazemos ensaios para resolvê-la, com uma diferença,
tiam em voz alta sobre um problema dado, observou porém: os nossos “ensaios” são feitos por meio do
como se processava o pensamento inteligente. pensamento e os do animal são constituídos de
movimentos, de ação.
I – CONCEITO DA INTELIGÊNCIA
II - O ATO INTELIGENTE
Para Claparède, “a inteligência é a capacidade de Para facilitar o estudo do ato inteligente,
adaptação a situações novas, por meio do pensamento”. Claparède o divide em fases.
Diz ele que, quando uma pessoa realiza alguma ação, Após ter observado muitas pessoais, ele concluiu
diariamente, sua atividade se transforma em hábito, e que o pensamento inteligente passa por 3 fases:
ela, portanto, não sente necessidade de apelar para a questão, pesquisa e verificação.
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formando, então, classes homogêneas. Como, porém, Brasil temos duas traduções e adaptações mais
seria isso possível? conhecidas: a do Dr. Isaías Alves, para o norte do
Reuniu-se, então, ao Dr. Theodore Simon, médico Brasil, e a do Dr. Lourenço Filho, para o Estado de São
da Colônia de Crianças de Perray-Vause, para juntos Paulo.
encontrarem um padrão para medir a inteligência das Outros psicólogos, depois de Binet e Simon,
crianças. Ambos julgaram necessário encontrar um organizaram, também, testes de inteligência de vários
meio para medir o raciocínio, a capacidade de adap- tipos.
tação, de julgamento e a capacidade de crítica.
TIPOS DE TESTES PARA MEDIR A
TRABALHOS REALIZADOS POR BINET E INTELIGÊNCIA
SIMON Existem hoje inúmeros testes para a medida da
Os doutores Alfred Binet e Theodore Simon, inteligência. Vamos dividi-los em grupos, conforme o
durante mais de 10 anos, procuraram investigar quais tipo.
são as noções que todas as crianças têm ampla a) Testes Individuais . Os individuais são aqueles
oportunidade de adquirir (não apenas na vida escolar) e que aplicamos em uma pessoa de cada vez. Por
transformaram esses conhecimentos em problemas que exemplo, os testes formulados pelos Drs. Binet e
as crianças tivessem possibilidade de resolver. Simon;
Colocaram esses problemas em ordem crescente de b) Testes Coletivos. Os coletivos são aqueles que
dificuldade, formulando, assim, em 1908, a primeira são aplicados a grupos de pessoas, economizan-
escala métrica da inteligência. Essas perguntas, após do tempo;
sua aplicação a grande número de crianças francesas, c) Testes Verbais. Chamamos de testes verbais
foram divididas em grupos de 4 ou 5, correspondentes aqueles que dependem do emprego da lingua-
a uma determinada idade mental. gem;
Após a publicação dessa primeira ESCALA d) Testes de Desempenho. São aqueles que dis-
MÉTRICA, bastava ao professor submeter cada criança pensam o uso da linguagem. São também cha-
àquela série de perguntas para determinar sua idade mados testes de performance. Exemplos:
mental (IM).
É muito conhecido o tabuleiro de madeira com
O trabalho de Binet-Simon permitiu a classifica- orifícios de diversos formatos, estrela, quadrado,
ção das crianças em normais, subnormais (retardadas) cruz, triângulo, círculo, etc., nos quais a criança
e supernormais. deve encaixar blocos de madeira do formato
A ESCALA Binet-Simon foi muito bem recebida correspondente (prancha de configuração);
pelos médicos e educadores e foi traduzida e adaptada São também empregados quadros representando
uma cena, dos quais se cortam vários pedaços. A
para que pudesse ser usada em outros países. No
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criança deverá colocar os pedaços em seus devidos reduzidos a meses. Por exemplo, 10 anos e 3
lugares e posições. meses equivalem a 123 meses.
Nestes testes, as instruções verbais são desneces- Como exemplo, vamos calcular o QI de uma
sárias e os pontos são atribuídos pelo tempo criança que tem 8 anos e meio de idade cronológica e
gasto e pelos movimentos ou erros realizados. 10 anos de idade mental:
IC = 8 anos e 6 meses = 8 x 12 + 6 = 102 meses
I V - QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA (QI) IM = 10 anos = 10 x 12 = 120 meses
QI = IM x 100 = 120 x 100 = 117
Aplicando a escola Binet-Simon, determinamos a IC 102
Idade Mental (IM) da criança, que poderá coincidir com Para compreendermos o verdadeiro significado do
sua idade cronológica (no caso de inteligência normal), QI, consultaremos a tabela organizada por TERMAN:
poderá ser inferior à idade cronológica (nas crianças Tabela de TERMAN (QI)
subnormais ou retardadas) ou ainda poderá ser QI acima de 150 – gênio ou quase gênio;
superior à idade cronológica (nas crianças supernor- de 120 a 150 – inteligência muito superior;
mais). BINET introduziu na Psicologia a noção de idade de 110 a 120 – inteligência superior;
mental. Um psicólogo alemão, STERN, em 1912, de 90 a 110 – inteligência média ou normal;
sugeriu que a relativa superioridade ou inferioridade de de 80 a 90 – inteligência inferior;
uma criança pode ser calculada dividindo-se a idade de 70 a 80 – Inteligência rude ou limítrofe;
mental pela idade cronológica.
de 50 a 70 – cretino;
STERN chamou essa relação de Quociente de Debilidade
de 25 a 50 – imbecil;
Inteligência (QI). MENTAL
abaixo de 25 - idiota.
TERMAN, psicólogo americano, adotou a ideia, e a
abreviação QI passou a ser usada para indicar a
Os estudiosos convencionaram considerar como
habilidade mental de uma criança.
débil mental a pessoa cujo QI é inferior a 70.. O grupo
de débeis mentais foi subdividido em 3 subgrupos:
CÁLCULO DO GRAU DE INTELIGÊNCIA 1. Pessoas com QI inferior a 25, e que não conseguirão
Calcula-se o QI da seguinte maneira: aprender a ler nem a falar, são chamadas idiotas;
divide-se a idade mental (IM) pela idade crono- 2. Pessoas com QI variando de 25 a 50, que aprenderão a
lógica e multiplica-se o resultado por 100, para falar, mas, não conseguirão aprender a ler, são chamadas
imbecis; e finalmente...
eliminar os números fracionários; 3. Pessoas cujo QI varia entre 50 e 70, que poderão aprender
Como a idade cronológica, e também a idade a falar e também a ler, porém, por um processo muito
mental, nos aparecem expressas em anos e demorado, são chamadas: cretinos.
meses, costumamos usar sempre esses valores
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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As crianças cujo QI é inferior a 70, e que, como a descoberta de métodos e práticas que
portanto, são débeis mentais, requerem um tipo es- possibilitem a consecução desse objetivo;
pecial de ensino. Essas crianças são chamadas III. O psicólogo, em seu trabalho, procurará sem-
excepcionais. O movimento em favor da criança pre desenvolver o sentido de sua responsabili-
retardada, nervosa e deficiente escolar teve início no dade profissional através de um constante
Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte, e está se desenvolvimento pessoal, científico, técnico e
desenvolvendo em vários Estados do País. ético;
Atualmente, os pais de crianças excepcionais se IV. A atuação profissional do psicólogo compreen-
reúnem em uma associação, conhecida pela sigla APAE derá uma análise crítica da realidade política e
(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). social;
V. O psicólogo estará a par dos estudos e pes-
quisas mais atuais de sua área, contribuirá
PSICÓLOGO pessoalmente para o progresso da ciência
UM PROFISSIONAL DA SAÚDE psicológica e será um estudioso das ciências
afins;
VI. O psicólogo colaborará na criação de condições
O
Psicólogo, como profissional de saúde, promotor que visem a eliminar a opressão e a margi-
de saúde, é um profissional que deve empregar nalização do ser humano;
seus conhecimentos de Psicologia para que sua VII. O psicólogo, no exercício de sua profissão,
sociedade tenha as condições necessárias e adequadas completará a definição de suas responsabili-
para existir, par produzir e se reproduzir, para que dades, direitos e deveres, de acordo com os
impere neste conjunto social o bem-estar físico, mental princípios estabelecidos na Declaração Univer-
e social. Enfim, atua para que haja saúde em sua sal dos Direitos Humanos, aprovada em
sociedade. 10/12/1948 pela Assembleia Geral das Nações
Unidas.
I - CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL Conselho Federal de Psicologia. Psicologia e Legislação.
Brasília, 1995. Nº 7. P. 100.
DO PSICÓLOGO
Princípios fundamentais:
II – O PAPEL DO PSICÓLOGO
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito O trabalho profissional do psicólogo deve ser
à dignidade e integridade do ser humano; definido em função das circunstâncias concretas da
II. O psicólogo trabalhará visando promover o população a que deve atender. A situação atual dos
bem-estar do indivíduo e da comunidade, bem povos centro-americanos pode ser caracterizada por:
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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FAETESP Psicologia da Educação FAETESP Psicologia da Educação
a) A injustiça estrutural;
b) As guerras ou quase-guerras revolucionárias; e
c) A perda da soberania nacional. UMA PALAVRA DO REITOR
Ainda que o psicólogo não seja chamado para
O
resolver tais problemas, ele deve contribuir, a partir de homem não age diretamente sobre as coisas. Sempre
sua especialidade, para buscar uma resposta. Propõe- há um intermediário, um instrumento entre ele e
se como horizonte do seu que fazer a conscientização, seus atos. Isto também acontece quando faz ciência,
Isto é, ele deve ajudar as pessoas a superarem sua quando investiga cientificamente. Ora, não é possível
fazer um trabalho científico, sem conhecer os instrumentos.
identidade alienada, pessoal e social, ao transformar as
E estes se constituem de uma série de termos e conceitos
condições opressivas do seu contexto. Aceitar a
que devem ser claramente distinguidos, de conhecimentos a
conscientização como horizonte não exige tanto mudar respeito das atividades cognoscivas que nem sempre entram
o campo de trabalho, mas a perspectiva teórica e prá- na constituição da ciência, de processos metodológicos que
tica a partir da qual se trabalha. Pressupõe que o devem ser seguidos, a fim de chegar a resultados de cunho
psicólogo centro-americano recoloque seu conhecimen- científico e, finalmente, é preciso imbuir-se de espírito
to e sua práxis, assuma a perspectiva das maiorias científico.
populares e opte por acompanhá-las no seu caminho Nossas possibilidades de conhecimento são
histórico em direção à LIBERTAÇÃO. muito e até, tragicamente, pequenas. O
Vivemos em sociedade, junto com outras pessoas. que Sabemos é pouquíssimo e, aquilo que
Somos socialmente maduros na medida em que sabemos, sabemo-lo muitas vezes
superficialmente, sem grande certeza. A
nos relacionamos de forma eficiente com as
maior parte de nosso conhecimento
outras pessoas e com os grupos a que somente é provável. Existem certezas
pertencemos; na medida em que integramos absolutas, incondicionais, mas estas são
nossas necessidades e intenções com as da raras.
sociedade, no que se refere ao BEM COMUM; na
medida em que contribuímos para o bem-estar Pr. Marcos Emmanuel
social; na medida em que participamos da BACHAREL EM LETRAS - pela Universidade Guarulhos/SP
tomada de decisões referentes aos destinos da Bacharel em Teologia
sociedade. Mestre em Ciências da Religião e Antigo Testamento
Professor de Língua Portuguesa
PR. MARCOS EMMANUEL – Educador em Teologia.
Professor de Hebraico e Grego – Reitor da FAETESP
Educador de Ensino Teológico.
NISSO CREMOS...
Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA Elaboração: Faetesp - FACULDADE TEOLÓGICA
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ÍNDICE
PARE!!!
Reprodução é Crime!
CONSELHO:
Faça um concerto com
Deus.
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