4 Prazeres
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RESUMO:
Os organizadores deste pequeno dossiê e tradutores do fragmento da longa
conversa entre Michel Foucault e Thierry Voeltzel, datada de 1976 e publicada
em 1978 no livro Vingt ans et après, apresentam brevemente a tradução de
tal fragmento, que ganhou por título O anti-cu. Situam-no no cruzamento de
duas séries que atravessam a produção foucaultiana e têm singular importância
resistencial no contemporâneo: a série da política do anonimato e a série da
crítica da sexualidade-identidade.
Palavras-chave: Foucault, Voeltzel, anonimato, sexualidade, prazeres.
RÉSUMÉ:
Les organisateurs de ce petit dossier et les traducteurs d’un fragment de la longue
conversation entre Michel Foucault et Thierry Voeltzel, daté de 1976 et publié en
1978 dans le livre Vingt ans et après, présentent brièvement la traduction de ce
fragment-là, qui a remporté le titre L’anti-cul. Ils lui situent à l’intersection de deux
séries qui traversent la production foucaldienne et ont une singulière importance
résistancielle dans la contemporanéité : la série de la politique de l’anonymat et la
série de la critique de l’identité sexuelle.
Mots-clés: Foucault, Voeltzel, l’anonymat, la sexualité, les plaisirs.
1
Antes disso, em entrevista concedida a Philippe Artières sob o título “Recordações
de viagem” (ARTIÈRES et al., 2011), Thierry Voeltzel tinha se pronunciado sobre
o modo como conhecera o filósofo, bem como acerca das reportagens realizadas no
Irã, momento em que o acompanhou.
Um riso anônimo
Na mesa redonda de 1979, publicada na revista Esprit (cujo editor,
Paul Thibaud, havia acusado o filósofo de não propor reforma do sistema
prisional francês no âmbito da sua atuação no Grupo de Informação
sobre as Prisões – G.I.P.), Foucault adota jocosamente o pseudônimo
Louis Appert – com isso evocando Benjamin Appert4, filantropo que, no
século XIX, publicara memórias de prisioneiros. Seu duplo disfarçado
recorda uma ocasião em que Jean Genet seria conduzido ao Palácio
da Justiça ou à Santé: “quiseram prendê-lo junto com um comunista
que se recusou dizendo: ‘Com um ladrão, não!’” (Foucault, 2012:
2
Sobre a problematização e o uso político do anonimato por Foucault, ver Bordeleau,
2018.
3
Os trabalhos de Foucault em que a análise crítica da função autoria é explicitamente
formulada são, em especial, O que é um autor? (conferência de 1969), A arqueologia
do saber (livro de 1969) e A ordem do discurso (aula inaugural no Collège de
France, de 1970). Na série que estabelecemos no corpo do texto, contudo,
privilegiamos os trabalhos que exibem o uso político-estratégico do anonimato.
4
Ver, de Benjamin Appert, Bagnes, prisons et criminels. Paris: Guilbert, 1836.
5
Em português, esses três textos podem ser encontrados, respectivamente, em
FOUCAULT, 2012; 2005; 2004a.
6
O livro de Foucault em que tal crítica ocupa o foco da problematização é, decerto,
História da sexualidade I – a vontade de saber, lançado em 1976 (mesmo ano do diálogo
com Thierry Voeltzel). A série que estabelecemos, porém, privilegia análises específicas,
contemporâneas, do disciplinamento-controle exercido pelo dispositivo da sexualidade,
o que leva Foucault a explorar temas como as drogas (e as boas drogas a inventar),
as comunidades e modos de vida gay, a amizade, a subcultura sado-masoquista, as
reinvenções do corpo e dos prazeres, as identidades-jogo, os movimentos sociais etc.
7
Entrevista concedida à revista Cinématographe (Foucault, 2001).
8
Entrevista a Bernard Henri-Lévy para Le Nouvel Observateur (Foucault, 1979).
9
Entrevista a quatro militantes da Liga Comunista Revolucionária (LCR), membros
da seção cultural do jornal trotskista Rouge (Foucault, 1977)
10
Entrevista a Jean Le Bitoux (Foucault, 2015).
11
Diálogo com J. Danet, P. Hahn e G. Hocquenghem, publicado em Recherches n.
37, “Fous d’enfance”, abr. 1979 (Foucault, 2014a).
12
Publicado na revista Arcadie n. 323, nov./1980 (Foucault, 2004b), e também
como apresentação à edição norte-americana de Herculine Barbin, o diário de um
hermafrodita (Foucault, 1982).
13
Conversa com R. de Ceccaty, J. Danet e J. Le Bitoux, publicada em Le Gai Pied
n. 25, abr.1981 (Foucault, 2010).
14
Entrevista sobre o livro de K. J. Dover (Greek homosexuality, 1978), traduzido ao
francês (Homosexualité grecque) em 1982 (Foucault, 2014b).
15
Entrevista nos Estados Unidos, publicada em Cristopher Street vol. 6, n. 4,
mai.1982 (Foucault, 2004c).
16
Entrevista nos Estados Unidos, publicada em Salmagundi, n. 58-59, outono/inverno
1982 (Foucault, 2014c).
17
Entrevista com Stephen Riggins, realizada em Toronto, publicada em Ethos, vol.
1, outono 1983 (Foucault, 2004d).
18
Entrevista em Toronto, realizada em 1982 e publicada em The Advocate, ago.
1984. (Foucault, 2004e).
19
O debate sobre os motivos de Foucault pode ser visto em Halperin, 2011.
20
A partir do final dos anos 1980, uma gravação esteve disponível nos arquivos
Foucault do IMEC, em Caen. Alguns extratos foram também divulgados via France
Culture.