Notas Refrigeração - Mar22 - 2
Notas Refrigeração - Mar22 - 2
Notas Refrigeração - Mar22 - 2
Março 2022
Notas sobre REFRIGERAÇÃO
Índice
A INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................1
B O ciclo frigorífico ....................................................................................................................................1
B.1 Ciclo frigorífico de Carnot ..............................................................................................................1
C REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 33
Fevereiro de 2019 i
Notas sobre REFRIGERAÇÃO
A INTRODUÇÃO
O programa da Unidade Curricular de Refrigeração é composto por três grandes grupos de matéria:
- O segundo sobre os sistemas frigoríficos por absorção, iniciando-se com a Termodinâmica das misturas
de duas, ou mais substâncias, os principais componentes das instalações de frio funcionando com esses
sistemas e a interligação com fontes de calor tais como a energia solar, ou ainda a recuperação de calor em
processos industriais ou associados a sistemas de produção de energia, como é o caso das centrais de ciclo
térmico;
- O terceiro é dedicado ao projecto de instalações industriais de frio nos mais diversos sectores de actividade,
de que as pescas e a agricultura são os exemplos mais salientes.
Nas páginas seguintes são apresentados um conjunto de tópicos destinados a auxiliarem o estudo das
matérias dos dois primeiros grupos acima referidos, o que significa que ao estudante são sugeridas outras
fontes de consulta com vista ao aprofundamento das matérias.
Fevereiro de 2019 1
Notas sobre REFRIGERAÇÃO
B O CICLO FRIGORÍFICO
A extracção de calor de uma fonte a temperatura mais baixa para outra que se encontre a temperatura
superior é um processo que não ocorre naturalmente, sendo necessário despender trabalho para o
conseguir. É isto o que acontece com os frigoríficos em nossas casas, com os equipamentos de ar
condicionado sempre que se pretende arrefecer uma sala cuja temperatura se quer manter inferior à
temperatura da sua envolvente e, de um modo geral, também o que se verifica nas câmaras frigoríficas de
instalações para conservação de produtos alimentares.
O ciclo de Carnot consta de um conjunto de quatro processos, duas compressões, sendo uma adiabática e
reversível (isentrópica), 1→2, e a outra isotérmica, 2→3, seguido de outras duas, agora duas expansões
que, tal como as compressões, são também, a primeira adiabática e reversível, 3→4, e a segunda
isotérmica, 4→1, vd. Figura A.1.
T2
T1
T2
T1
Sendo este ciclo ideal, ele é independente da substância utilizada, a qual tanto pode ser um gás, como um
líquido, como se encontrar na região a duas fases. A área delimitada pelos quatro processos representa o
trabalho útil necessário para a realização do ciclo, o qual neste caso é o resultado do maior valor dos
trabalhos da compressão relativamente ao que é aproveitável das duas expansões.
O valor do trabalho útil que deverá ser fornecido para que se consiga colocar o ciclo em funcionamento é
também possível de retirar a partir do diagrama T-s. Através deste diagrama é fácil visualizar as quantidades
de calor envolvidas nos processos de compressão e de expansão isotérmica – recordando que do 2.º
Princípio da Termodinâmica se sabe que num processo reversível finito Δs=ΔQ/T, então:
Q 23 T2 s3 s 2 (1)
Q41 T1 s1 s4 (2)
Como os valores de T1 e T2 são sempre positivos, o valor relativo de Q23 será negativo e o de Q41 positivo,
o que está de acordo com a convenção de sinais geralmente admitida e introduzida logo no estudo do 1.º
Princípio da Termodinâmica. Ora isto significa que no processo 4→1 o sistema recebe calor do exterior,
neste caso a temperatura constante T1=T4, enquanto que no processo 2→3 cede calor ao exterior
também a temperatura constante T2=T3.
Como se trata de um ciclo, a variação de energia interna do sistema é nula, logo o 1.º Princípio aplicado a
um sistema fechado dá origem à seguinte equação:
Q14 Q 23 W 0 (Eq. 1)
W Q14 Q 23 (Eq. 2)
Sendo Q23 maior em valor absoluto o seu sinal prevalece relativamente ao de Q41 e, por consequência, o
valor do trabalho vem negativo, o que também está de acordo com a já referida convenção, uma vez que
se trata de trabalho fornecido ao sistema. Então no diagrama T-s a área sombreada também representa o
trabalho útil que, no caso do ciclo frigorífico de Carnot, terá que ser fornecido ao sistema.
Recorda-se que o diagrama P-V é já um diagrama dinâmico e por essa razão a área sombreada também
corresponde ao trabalho útil.
No caso de ciclos frigoríficos a sua performance é avaliada através de um parâmetro geralmente designado
por eficiência, cujo símbolo é εF, embora cada vez mais esteja consagrado o termo Coefficient of
Performance, cuja abreviatura para este caso é COPF. Quando se trata de caracterizar a performance de
equipamentos comerciais de frio o termo universalmente utilizado é hoje EER (Energy Efficiency Ratio), em
vez de COPF. Assim sendo doravante utiliza-se o ERR, o que para este ciclo de Carnot, dá:
Q14
EER Carnot (Eq. 3)
W
Substituindo os valores dados pelas equações anteriores para Q14 e W, tomando os valores absolutos, tem-
se:
T1 (s1 -s 4 ) T1
EER Carnot (Eq. 4)
(T2 -T1 )(s1 -s 4 ) (T2 -T1 )
Através deste resultado confirma-se o que se tinha referido logo no início deste capítulo: no ciclo frigorífico
de Carnot não importa qual a substância que sofre os processos; como se verifica a eficiência do ciclo,
expressa pelo EERCarnot, depende apenas das temperaturas absolutas, em Kelvin (K), dos reservatórios de
calor com as quais o sistema interage.
Da equação 6 também se deduz que quanto mais próximas forem aquelas duas temperaturas tanto maior é
o valor de EERCarnot, podendo atingir um valor infinito quando elas se igualarem, embora isso não traduza
qualquer resultado com interesse prático.
Tudo se passa tal como no ciclo frigorífico descrito no ponto anterior: os quatro processos são iguais e
desenvolvem-se na mesma sequência, a diferença reside apenas no objectivo, enquanto no ciclo frigorífico
ele era a extracção de calor no reservatório a mais baixa temperatura, T1, na bomba de calor é o
fornecimento de calor ao reservatório a mais elevada temperatura T2. Assim, a eficiência, agora designada
por COPBC,Carnot, tal como na prática é comum, será:
T2 (s3 -s 2 ) T2
COPBC,Carnot (Eq. 5)
(T2 -T1 )(s3 -s 2 ) (T2 -T1 )
A performance mínima da bomba de calor, mesmo a ideal como é a que se designou “de Carnot”, é, no
mínimo unitária, apresentando valores mais elevados quanto mais próximas forem os valores das
temperaturas dos dois reservatórios de calor. Importa referir, desde já, que este resultado é idêntico ao que
se obtém para máquinas reais, a única diferença está na forma como decorrem os processos.
A realização de um ciclo frigorífico como o de Carnot é difícil, senão mesmo impossível de realizar – basta
imaginar a compressão e a expansão isotérmicas, por um lado, e idênticos processos, mas adiabáticos e
todos eles reversíveis, para se ter a noção das dificuldades. Os processos reais decorrem em intervalos de
tempo finitos, de forma rápida, implicando com isso mudanças de estado termodinâmico no sistema que
evolui, o que é incompatível com “reversibilidade”.
Daqui que se procurem formas práticas de resolver o ciclo, utilizando substâncias que se encontrem
disponíveis para poderem cumprir as funções que estes sistemas se propõem resolver.
Tudo se passa tal como no ciclo frigorífico descrito no ponto anterior: os quatro processos desenvolvem-se
na mesma sequência e no mesmo sentido, a diferença reside apenas no objectivo.
Uma das formas procuradas é realizar, quer a extracção de calor na fonte fria (a T1), quer a cedência na
fonte quente (a T2), na região a duas fases e os outros dois processos restantes também ocorrerão nessa
região, tal como mostra o diagrama esquematizado na figura seguinte.
Neste caso as trocas de calor dão-se a temperatura constante e, tanto a compressão como a expansão
continuam a ser isentrópicas, ambas ocorrendo na região a duas fases, tal como se representa do diagrama
T-s da figura 2. Tendo-se resolvido de um modo muito simples os processos das trocas de calor com as
duas fontes, a T1 e a T2, os quais à parte as perdas de carga que acontecem nos permutadores de calor,
permitem aproximar esses processos com os das instalações reais, resta ainda resolver, também de forma
prática, os processos de compressão e de expansão.
Acontece que estes dois processos, mesmo que ainda admitidos ideais, não são facilmente realizáveis na
região a duas fases, por os equipamentos utilizados para a compressão, sejam as bombas, ou os
compressores, e as turbinas para a expansão, não funcionarem bem na região onde existe uma mistura de
líquido com vapor, impondo problemas que construtivamente seriam difíceis de ultrapassar.
Então, o que se faz é trazer a compressão para a região de vapor, onde os compressores funcionam bem,
enquanto a expansão se mantém na região a duas fases, mas passa a ser realizada numa válvula, ou orifício
calibrado, portanto sem qualquer produção de trabalho útil.
Figura 3 – Ciclo frigorífico prático no diagrama T-s, com a compressão na região de vapor.
É óbvio que ambas as decisões contribuem para a redução da eficiência do ciclo face à situação ideal, acima
desenvolvida. Mesmo ainda considerando que a compressão é isentrópica resulta um acréscimo de trabalho
por ser necessário comprimir o vapor até à pressão de saturação à qual se dá a cedência de calor no
reservatório à temperatura mais elevada – ela poderia continuar de 2C até 2V, agora isotermicamente, mas
essa parte do processo também não é facilmente realizável na prática.
Já no caso da expansão, demonstra-se facilmente que o não aproveitamento do trabalho não tem grande
expressão numérica face ao que é requerido para o processo de compressão, ganhando a instalação em
simplificação tecnológica e redução de custos de investimento.
Através do diagrama da figura anterior é possível constatar que essa redução, em J/kg, pode ser escrita
através da seguinte equação – costuma designar-se por efeito frigorífico o calor removido no evaporador
por unidade de massa de fluido e designa-se por qe:
Através do mesmo diagrama obtém-se, por meio da seguinte equação, o trabalho específico que se deixou
de realizar, em J/kg:
w T h 3 h 4' (Eq. 8)
Ainda com a ajuda do mesmo diagrama obtém-se a seguinte equação para o acréscimo do trabalho
específico de compressão, por esta se realizar na zona de vapor sobreaquecido, mesmo considerando ainda
que esse processo é isentrópico:
w s (h 2s h1 ) (h 2C h1 ) (h 2v h 2C ) (Eq. 9)
Ou
w s (h 2s h 2C ) T2 (s 2C s 2v ) (Eq. 10)
Acima viu-se quais as razões porque os processos no ciclo de Carnot se apresentam de difícil realização
prática e, em consequência, se delinearam as formas de os realizar, embora com as perdas assinaladas e,
inevitavelmente, a redução da performance do ciclo como mais adiante se terá oportunidade de verificar.
A realização do ciclo frigorífico não é dissociada do fluido que na instalação é o agente responsável pelo
transporte do calor, desde o reservatório a mais baixa temperatura até ao de mais elevada temperatura,
enquanto passa pelos processos já descritos. Tal deve-se a que, de substância para substância, as
propriedades termodinâmicas, de que provavelmente a pressão, P, é a mais facilmente reconhecida, mas
também o volume específico, às diversas temperaturas pretendidas, influenciarem as dimensões dos
equipamentos, tais como os compressores e os permutadores utilizados para trocar calor com os
reservatórios de calor.
Como já se anteviu as propriedades termodinâmicas mais relevantes, das substâncias, para a realização
dos cálculos das quantidades de energia, seja calor, seja trabalho, presentes no ciclo frigorífico, tal como se
viu para o ciclo ideal, são a entalpia específica, h, e a entropia específica, s. São também importantes a
temperatura, T, a pressão, P e o volume específico, v. É por tais razões que o diagrama P-h, que se
esquematiza na figura seguinte para uma substância simples, uma vez que é uma ferramenta de grande
importância na avaliação dos ciclos frigoríficos, já que na sua escala das abcissas (correspondente a h) se
lê de forma “quase directa” as quantidades específicas de calor e de trabalho nos processos termodinâmicos
que constituem o ciclo frigorífico.
Neste diagrama é visível, em primeiro lugar, o contorno das linhas de saturação, sendo à direita do ponto
crítico a de vapor saturado e à esquerda a de líquido saturado. Mostram-se também esquematicamente as
linhas de:
- Temperatura constante (isotérmicas), que na região de líquido são praticamente verticais, já que, como
se sabe, a entalpia dos líquidos não depende da pressão, pelo menos ao nível das pressões
moderadas, enquanto na região de vapor elas exibem uma ligeira pendente, o que significa que a
entalpia depende simultaneamente de P e de T. Na região de duas fases líquido-vapor, as isotérmicas
seguem um andamento coincidente com as isobáricas para o caso de substâncias simples;
- As de volume específico constante (isocóricas) que apresentam uma pendente crescente à direita da
curva de saturação; para menores valores da pressão ter-se-á maiores valores desta propriedade;
- As de entropia constante que se apresentam inclinadas para a direita, com o esperado aumento de
entalpia, à medida que a pressão aumenta.
Para a maioria das substâncias os ciclos frigoríficos com interesse prático desenvolvem-se na região sub-
crítica, tal como aquele que se apresenta na figura seguinte.
Figura 5 – Ciclo frigorífico prático no diagrama P-h, com a compressão na região de vapor.
Neste diagrama, à semelhança do que já se havia visto acima no diagrama T-s, também são visíveis as
áreas sublinhadas da perda de energia devida à passagem do processo de expansão 34, para o processo
de laminagem numa válvula, 44’, cujas perdas foram então determinadas.
No diagrama P-h o ciclo frigorífico, ainda idealizado, fica bem destacado entre duas isobáricas, uma mais
Quando se procura um fluido para uma instalação frigorífica várias possibilidades existem, contudo há um
conjunto de regras que se devem respeitar, as quais se podem facilmente enunciar:
- Para a temperatura de evaporação exigida interessa que a pressão de saturação que lhe corresponde
não seja inferior à atmosférica para que não se corra o risco de entradas de ar nos circuitos em caso
de falta de estanquidade, nem muito elevada para que o ciclo não origine pressões médias elevadas
com o consequente aumento do trabalho de compressão, como mais adiante se verá;
- A produção frigorífica volumétrica, em J/m3, deve ser o maior possível para que o caudal de fluido seja
reduzido e, com isso também, as dimensões do equipamento, em particular as dos compressores.
- Para além disso é importante que o fluido não seja tóxico, porque em caso de fuga acidental das
instalações não cause prejuízos para as pessoas, nem para os bens alimentares que se possam
deteriorar;
- Que seja miscível com os óleos lubrificantes porque em situação de passar para lá dos compressores,
onde ele é necessário, ainda assim possa regressar facilmente a eles;
- Além disso interessa também verificar da sua “bondade ambiental”, isto é se se trata de uma substância
que apresenta um fraco, ou nulo potencial de destruição da camada de ozono e também um valor
reduzido no que se refere ao seu contributo para o efeito de estufa;
Como é compreensível juntar todas as boas características num só fluido é difícil, senão mesmo impossível,
e, por isso, a escolha terá que se resumir a uma parte delas, principalmente as que forem mais importantes
para a resolução do problema em questão. A título de exemplo apresenta-se uma comparação de alguns
dos fluidos mais utilizados, sob a forma de uma tabela cujos valores foram determinados no programa EES
– Engineering Equation Solver (www.fchart.com), para um ciclo frigorífico de compressão, simples, sem
perdas de carga, compressão isentrópica e expansão numa válvula de laminagem, com o fluido sendo
aspirado pelo compressor nas condições de vapor saturado imediatamente após a saída do evaporador, à
Pe Pc h1- h4 V1kW
Fluido [kPa] [kPa] r [kJ/kg] [(dm3/kg)1kW] EER
Na tabela 1 as pressões de saturação, diferentes para os quatro fluidos, são a designada pressão de
evaporação, Pe, e pressão de condensação, Pc, respectivamente às temperaturas de evaporação de -10ºC
e de condensação de 40ºC. É comum na linguagem prática das instalações frigoríficas caracterizar os ciclos
simplesmente pelo par de temperaturas -10ºC/40ºC, o que seria equivalente a fazê-lo através do par de
pressões Pe/Pc. No entanto é mais facilmente assimilável a primeira forma do que a segunda, sendo talvez
essa a razão por assim nos referirmos aos ciclos.
Na coluna 4, r representa a taxa de compressão, ou seja o quociente Pc/Pe, h1-h4 é designado efeito
frigorífico e representa uma potência frigorífica específica por unidade de massa de fluido, enquanto que
V1kW é o caudal volumétrico que o compressor deve aspirar nas condições de saída do evaporador para
realizar a potência frigorífica de 1 kW. O último valor do quadro é o EER que representa a energia (calor)
retirada no evaporador por cada unidade de energia fornecida (trabalho) no compressor.
Dos valores obtidos para V1kW o maior, cerca do dobro dos restantes, é para o R134a, o que significa que
para se obter a mesma potência, no mesmo ciclo (iguais Te e Tc) se terá a necessidade de maiores
dimensões do compressor e das tubagens.
O compressor é o órgão responsável pela manutenção da diferença de pressões que é necessário manter
no ciclo frigorífico, dito por compressão mecânica de vapores. É pois um compressor mecânico que pode
apresentar-se sob vários tipos, conforme mais adiante se verá, o qual exige energia para funcionar, sendo
na maioria dos casos existentes nas aplicações domésticas, comerciais e industriais accionado por motores
eléctricos.
A classificação mais comum dos compressores costuma ser de acordo com a forma como se desenvolve a
compressão, em:
Enquanto os primeiros são mais versáteis, encontrando-se desde as instalações mais pequenas até
instalações com grandes dimensões, estas sobretudo no campo industrial, os segundos são muito comuns
quando se trata de grandes potências de arrefecimento, com temperaturas de evaporação não muito baixas,
implicando elevados valores de caudal de fluido frigorigéneo, como se encontra nas instalações de
climatização – por isso se costuma encontrar chillers (arrefecedores de água) equipados com compressores
centrífugos.
Por sua vez os volumétricos podem apresentar diversas formas, sendo as mais comuns as seguintes:
- Alternativos, quando a compressão é realizada pela redução do volume, dentro de um cilindro, por meio
do movimento alternado de um pistão;
- Rotativos “de parafuso”, quando a compressão ocorre no espaço encerrado entre dois “parafusos” que
rodam de forma sincronizada, sendo um motor. O modelo mais divulgado deste tipo de compressor é
com dois parafusos, um dito “macho” e o outro “fêmea”, ambos assimétricos, daí resultando a variação
de volume do fluido que origina a compressão;
- Rotativos, “de palhetas”, quando a compressão resulta da redução do espaço encerrado entre um rotor
e uma, ou mais palhetas que se deslocam solidárias com ele. Entre a porta de aspiração e a válvula de
descarga, o rotor que se move de forma excêntrica relativamente ao corpo do compressor, vai
encerrando um espaço cujo volume se vai reduzindo e, em consequência, o fluido vai aumentando a
pressão.
- Rotativo, scroll, quando a compressão é feita através da variação de volume encerrado entre dois
“caracóis”, um móvel e outro fixo, movendo-se o primeiro, de forma excêntrica dentro do segundo. Estes
compressores não têm válvulas, apresentando-se na figura seguinte um esquema bastante elucidativo
do funcionamento. A sua utilização é hoje muito comum em muitas aplicações, sobretudo em
equipamentos de ar condicionado, dos vulgarmente designados “splits” e “VRV”.
Trata-se de uma simplificação apenas com a intenção de permitir visualizar mais facilmente os processos
que ocorrem num compressor alternativo, ainda que idealizado – não seria possível colocar em
funcionamento um compressor assim concebido porque é necessário garantir um espaço na cabeça do
cilindro para que as válvulas fiquem alojadas e possam funcionar.
Neste compressor ideal os quatro processos são representados em esquema num diagrama P-V na figura
seguinte, os quais são:
- DA, aspiração de fluido, a pressão constante, até o cilindro ficar totalmente cheio de vapor.
VB PB
W PdV P V
VA
2 B P1VA VdP
PA
s (Eq. 12)
Neste compressor ideal não existem perdas de nenhuma espécie, nem volumétricas, nem devido ao atrito.
Uma primeira aproximação ao compressor real consiste apenas em admitir o que, na realidade, acontece:
o pistão não pode subir até ao topo do cilindro, sendo necessário, aí, garantir um espaço mínimo para que
as válvulas funcionem, principalmente as de aspiração. A simples existência deste espaço origina que no
final da compressão não se consiga a expulsão total dos vapores, residindo no cilindro um volume residual
que não deixa que ele esteja na sua totalidade disponível para o novo processo de aspiração – ver figura
seguinte.
Como é fácil de entender o processo de aspiração só se inicia quando a pressão no interior do cilindro atinge
um valor, pelo menos igual, ao que existe na tubagem de aspiração – é também esta uma das razões porque
este conjunto de processos caracteriza um compressor que é ideal, já que no caso real a pressão no interior
do cilindro terá que decair até um valor abaixo daquela que reina na tubagem para que se inicie a aspiração.
Os processos de compressão e de expansão continuam a ser adiabáticos e reversíveis, isto é isentrópicos.
Para este compressor define-se um rendimento volumétrico, o qual se pode determinar através de:
VA VD
η v,ε (Eq. 13)
VA VC
A VC costuma chamar-se volume do espaço morto e muitas vezes ele é apresentado sob a forma de uma
taxa de espaço morto, calculada através da equação:
VC V
ε C (Eq. 14)
VA VC VV
Aplicável ao processo de compressão isentrópica entre A e D, é possível chegar-se a outra equação para o
rendimento volumétrico:
V
η v,ε 1 ε ε D (Eq. 16)
VC s
Uma vez que a massa de vapor dentro do cilindro é a mesma entre C e D, então pode-se escrever a equação
anterior em função dos volumes específicos do fluido:
v
η v,ε 1 ε ε D (Eq. 17)
vC s
Para o processo isentrópico é possível trocar a relação entre volumes pela relação entre pressões, como se
mostra na equação seguinte, na qual se deixou cair o índice s, por, em seu lugar aparecer o expoente γ
característico dos processos adiabáticos e reversíveis. Recorda-se aqui que aquele expoente só é constante
ao longo dos processos adiabáticos e reversíveis de compressão, ou de expansão, com gás perfeito.
1
P γ
η v,ε 1 ε ε 2 (Eq. 18)
P1
O quociente entre as duas pressões costuma ser designado por taxa de compressão e usa-se a letra r para
o designar.
Na figura seguinte representa-se a equação anterior para dois fluidos, um em que γ=1,1 e outro γ=1,3,
ambos para o mesmo valor de ε=0,04. O primeiro valor do expoente dos processos isentrópicos é típico de
alguns hidrocarbonetos enquanto o outro é para o amoníaco (R717).
1,0
0,8
0,6
γ= 1,1 γ= 1,3
ηV,ε
0,4
0,2
0,0
1 2 4 8 16
r
Figura 10 – Rendimento volumétrico do compressor alternativo ideal com espaço morto vs taxa de compressão.
Da representação gráfica constata-se, mais facilmente do que pela simples análise da equação, que ηv,ε se
anula para um determinado valor de r. Esse rmax depende de ε e de γ, sendo dado pela equação:
1
rmax (Eq. 19)
Este valor teórico de rmax não tem nenhum interesse prático porque todos os compressores alternativos
funcionam com valores de r bem afastados dele. Por outro lado se isso acontecesse significaria que o
compressor não comprimiria nada e o fluido restaria no cilindro entre uma compressão e a seguinte.
O trabalho específico (em J/kg) numa compressão isentrópica, que como se viu acima, eq. 14, também pode
ser expresso por :
P2
Sendo m ε o caudal mássico de vapores que passa pelos processos de aspiração, compressão, descarga e
Embora o compressor alternativo não seja uma máquina de fluxo contínuo, isto é o conjunto de processos
decorre sequencialmente e enquanto não houver uma descarga dos vapores comprimidos não poderá haver
uma nova aspiração, mesmo assim pode admitir-se um funcionamento “quase permanente” e, em
consequência, definir-se um caudal mássico de vapores da seguinte forma:
V
η v,ε V
ε=
m
asp,ε
= V
(Eq. 23)
v1 v1
é uma taxa de volume varrido, ou seja um caudal volumétrico, em m3/s, a qual pode ser
Onde VV
=( π D2 cN) n
V (Eq. 24)
V
4 60
Na equação 26, os símbolos representam:
Então, com este caudal mássico, assim definido, e com a equação 22, é possível determinar a potência da
compressão, num compressor ideal com espaço morto:
=m
W ε (h 2 -h1 )s (Eq. 25)
s,ε
A pressão média efectiva, abreviadamente Pme, é uma grandeza que, apesar de ser fictícia, apresenta
interesse prático na análise do funcionamento dos compressores, em particular do alternativo. A Pme
representa uma pressão média que, multiplicada pelo volume varrido pelo compressor, permite determinar
o trabalho da compressão, ou se este último valor se apresentar sob a forma de uma taxa volumétrica, então,
dará a potência da compressão.
W s,ε
Pmes,ε = (Eq. 26)
V V
η v,ε (h 2 -h1 )s
Pmes,ε = (Eq. 27)
v1
As duas variáveis que influenciam todas as restantes, e que representam inquestionavelmente uma
compressão, são, sem dúvida, a pressão inicial e a final, que passaremos doravante a designar por P1 e P2,
respectivamente.
(h 2 -h1 )s
Dissociando a equação 29 em dois termos ηv,ε e , verifica-se que o primeiro diminui com o
v1
acréscimo da relação de pressões (r), enquanto o segundo aumenta, então, Pmes,ε apresentará ou um
(h 2 -h1 )s
A costuma chamar-se trabalho específico volumétrico da compressão, neste caso ainda ideal,
v1
sendo expresso em J/m3.
Tem interesse procurar aquele ponto de singularidade analisando o acréscimo de r, primeiro mantendo
constante P2, variando P1 e depois o inverso. É altura de aqui se dizer que, na prática das instalações
frigoríficas, se associa a pressão P1 á pressão de evaporação, designando-a por Pe devido à proximidade
que existe entre a pressão de evaporação, a que reina no evaporador, e a pressão de aspiração, aquela
que o fluido tem na entrada do evaporador. Identicamente se associa P2 à pressão de condensação Pc.
Na figura seguinte representa-se essa variação para dois fluidos, o R410A e o R717, tendo-se tomado o
coeficiente γ, expoente dos processos isentrópicos respectivamente igual a 1,1 e 1,3, na determinação do
rendimento volumétrico do compressor, para o qual se admitiu uma taxa de espaço morto ε=0,04 para
ambos os casos.
900
800
700
Tc=const.
600
Pmes,ε [kPa]
500
400
300
R410A R717
200
100
0
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Te[ºC]
Figura 11 – Pressão média efectiva do compressor alternativo ideal com espaço morto vs temperatura de
evaporação com a temperatura de condensação constante.
No gráfico é bem visível que a função Pmes,ε (Pe )Te passa por um máximo no domínio considerado, para
ambos os fluidos. Esse valor pode ser determinado analiticamente, no caso do compressor ideal com espaço
morto que tem vindo a ser analisado, anulando a primeira derivada:
d
Pmes,ε P = 0 (Eq. 28)
dPe c
γ-1
P P γ
A(γ-1) c + c -γ 0 (Eq. 29)
Pe Pe
ε
A (Eq. 30)
ε-1
Idêntico raciocínio poderá ser seguido para a derivada
d
Pmes,ε P = 0 (Eq. 31)
dPc e
1200
Te=const.
1000
800
Pmes,ε [kPa]
600
400
R410A R717
200
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
Tc[ºC]
Figura 12 – Pressão média efectiva do compressor alternativo ideal com espaço morto vs temperatura de
condensação com a temperatura de evaporação constante.
Apesar desta análise ser para um compressor ideal, ainda que com espaço morto, ela serve para mostrar o
que se passa numa situação real, dadas as semelhanças que se passam. Para isso, e com base na figura
10, observe-se o andamento das duas curvas que representam a variação da Pmes,ε com a temperatura de
evaporação (o mesmo será dizer-se com a pressão de evaporação), quando a temperatura (pressão) de
condensação se mantém constante, que é o que se verifica no arranque de instalações frigoríficas, quando
a temperatura das câmaras se encontra elevada. Nessa altura, a temperatura de evaporação é mais elevada
do que aquela que se alcança quando se atingir o regime pretendido, podendo verificar-se a passagem de
Pmes,ε por um valor mais elevado do que o correspondente a esse regime. Isto conduz, em consequência,
a um valor mais elevado da potência do motor do compressor do que o necessário nas condições nominais,
podendo originar problemas se sobreaquecimento em motores eléctricos, pondo em risco a sua integridade.
700
600 Tc=const.
500
Pmes,ε [kPa]
400
300
200
Te,final Te,inicial
100
0
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40
Te[ºC]
Figura 13 – Idem figura anterior, mas com o “transito” da pressão média efectiva no decurso de um arranque típico
das instalações frigoríficas.
A figura seguinte mostra um conjunto de sete curvas que representam a variação da potência absorvida ao veio, cada
uma para uma temperatura de condensação, de um compressor cujo modelo e marca se assinalam na legenda.
Figura 14 – Potência absorvida ao veio de um compressor frigorífico (Copeland, modelo 4CC75, com R22) em
função da temperatura de evaporação, parametrizada com a temperatura de condensação.
A potência absorvida na compressão é equivalente a representar a Pme, já que a relação entre ambas apenas
depende de uma constante característica do compressor: a taxa de volume varrido – ver equação 28.
As três escalas verticais, no gráfico da figura anterior, dizem respeito a três velocidades de rotação diferentes: a
primeira a 1450, a segunda a 1230 e a terceira 1045 rpm.
Entre as curvas que se exibem na figura 13 e as da figura 11 notam-se algumas semelhanças; o máximo que nestas
últimas é bem notório para a Pme do compressor alternativo ideal com espaço morto, Pmes,ε , apenas se nota nas
duas mais baixas no da primeira figura, embora ele também exista para as restantes.
Numa legenda que se encontra no canto superior esquerdo da figura 13, lê-se que a temperatura de
sobreaquecimento do vapor é, neste caso, 18ºC. Como se verá o estado termodinâmico do vapor na aspiração do
compressor influencia a potência de compressão, conforme se consegue inferir mesmo através da análise efectuada
para o compressor ideal – através das equações 25 e 27 é possível avaliar a influência que o volume especifico do
vapor e a diferença de entalpias tem no valor do trabalho específico volumétrico da compressão isentrópica, tal como
se pode verificar através da representação na figura seguinte para o ciclo - 10ºC/+40ºC, com R717.
285 600
280 598
596
275
594
270 592
[kJ/m3]
[kJ/kg]
265 590
260 588
586
255
R717;-10ºC/40ºC 584
250 582
245 580
0 5 10 15 20 25 30
ΔTsobreaq
Ws ,ε Ws ,ε/v1
Figura 15 – Trabalho específico, em kJ/kg e trabalho específico volumétrico, em kJ/m3, ambos em função do
sobreaquecimento do vapor para o ciclo identificado no gráfico, com R717.
Apesar do trabalho específico aumentar com o sobreaquecimento do vapor, o trabalho específico volumétrico mantém-
se quase constante – apenas com uma ligeira descida – devido ao efeito do aumento do volume específico nas na
aspiração do compressor. Isto significa que para um dado compressor, a potência de compressão se mantém
aproximadamente constante quando o sobreaquecimento aumenta, admitindo nesta análise que o rendimento
volumétrico se mantém constante, já que de acordo com a equação 20 ele depende apenas da taxa de compressão.
Nos compressores reais a tendência será a mesma apesar de o seu rendimento volumétrico depender de outras
variáveis para além da já referida taxa de compressão.
Considerando ainda a compressão isentrópica, pode verificar-se na figura abaixo o efeito que o sobreaquecimento do
vapor na aspiração se traduz em valores elevados da temperatura de descarga, sobretudo para o R717. É por esta
razão que a compressão do R717 se torna proibitiva num só andar, ou escalão, quando a diferença de pressões é
elevada. Para além do que acima se viu, há também um problema de natureza prática relacionado com a lubrificação
do compressor, resultante das temperaturas elevadas que se obtêm no final da compressão, uma vez que se exige
que os óleos garantam a lubrificação às temperaturas mais baixas que se encontram no carter dos compressores e
simultaneamente às temperaturas elevadas da descarga, o que é difícil de se encontrar no mesmo fluido. Para além
disso, as temperaturas elevadas podem conduzir à decomposição dos óleos.
180
160
140
120
[ºC]
100
80
60 -10ºC/40ºC
40
0 5 10 15 20 25 30
ΔTsobreaq
R717 R410A
Figura 16 – Temperatura de descarga do vapor, em ºC, em função do sobreaquecimento do vapor para o ciclo após
compressão isentrópica.
Quando isso acontece, sobretudo nos casos em que apenas há um andar de compressão, costuma fazer-se a injecção
de fluido a meio da compressão, procurando trazer o processo para uma região de temperaturas mais baixas. Este
processo é fácil de se fazer nos compressores de parafuso, tal como adiante se verá.
Outra nota importante, também de interesse prático, resultante desta análise é a seguinte: com o R717 é
absolutamente proibido o sobreaquecimento do vapor na aspiração dos compressores, devendo, pelo contrário, esta
ser feita o mais próximo possível do estado de vapor saturado.
O trabalho na compressão isentrópica do vapor no compressor alternativo pode ser determinado através da
equação 22, como acima se viu. Outra forma de analisar esses processos é através dessa relação e da seguinte,
válida para processos isentrópicos:
Assim,
γ P2 γ
P2 γ-1
cp
Esta equação é válida quando o expoente γ é constante ( γ= ), o que só se verifica com gás perfeito.
cv
De seguida vai-se ver que os vapores dos fluidos frigorigéneos se desviam desta simplificação, embora alguns, como
é o caso do R717, ou do R744, se aproximem mais do que os restantes. Os cálculos foram realizados utilizando o
programa EES, já referido, para o R410A e mais aqueles dois fluidos, comparando-se os valores do trabalho específico
da compressão obtido através das equações 22 e 36, para o mesmo ciclo -10ºC/40ºC, excepto para o R744, sendo o
estado inicial o de vapor saturado para todos os fluidos.
Tal como já tinha sido referido a aproximação é melhor, admitindo-se por isso o valor do erro, no caso dos dois fluidos
da série 700 – inorgânicos – do que para os hidrocarbonetos, apesar de aqui se te apenas apresentado um deles.
Compressão real
O cálculo do trabalho na compressão real, como se verifica nos compressores frigoríficos alternativos, é possível de
realizar a partir de uma metodologia semelhante àquela que se apresentou para o caso ideal, a adiabática e reversível.
Contudo, há um conjunto de variáveis que influenciam o resultado e que são difíceis de quantificar, pelo menos de
forma generalizada. Entre essas variáveis estão o atrito entre o pistão e o cilindro e nos restantes órgãos do
compressor – a biela e a manivela – os incrementos de pressão necessários para vencer as forças oponentes à
abertura da válvula de descarga e de aspiração e para que, simultaneamente, os vapores possam ser expelidos para
fora do cilindro, ou aspirados, vencendo as resistências que aquelas válvulas oferecem aos respectivos escoamentos.
Por fim, há também que considerar que o processo de compressão, assim como o de expansão do vapor que reside
no cilindro após o processo de descarga, não se dão adiabaticamente, mas sim com trocas de calor entre o fluido e
as paredes do cilindro e os demais componentes, o que implica trocas com a envolvente do compressor
independentemente do sentido em que elas ocorrerem.
O diagrama PV da figura acima esquematiza os quatro processos, sendo assinaladas as diferenças descritas, nos
processos de compressão e expansão e nos de aspiração e descarga do vapor. Tal como se dizia, a dificuldade está
nas formas de calcular os valores do excesso do trabalho relativamente aos que se determinaram para o caso ideal.
Se fosse possível dispor-se de um diagrama traçado ao longo do processo, idêntico ao da figura acima, o qual se
designa por diagrama indicado, ele permitiria, por integração da área, obter o trabalho. Mas isso não é possível e
também só seria útil se dele se dispusesse quando se projectam as instalações frigoríficas. Como tal não sucede a
pergunta óbvia é: como determinar a potência da compressão para que a partir dela se dimensione o motor de
accionamento do compressor?
Segundo W. B. Gosney [??] um modo aproximado de se calcular a potência na compressão real é partir do processo
ideal, somar-se um excesso de trabalho, sob a forma de pressão média efectiva suplementar, para comtemplar os
referidos efeitos do atrito e até do que é exigido por uma bomba de óleo, no caso dela existir, já que nesse caso uma
parte do trabalho fornecido ao compressor será por ela utilizado.
Sendo,
Em que Pmes,ε é calculado para a compressão ideal, através da equação 29 e os valores, dos acréscimos de Pme
nos processos de aspiração e de descarga, podem ser vistos através do diagrama da figura 16 e hipoteticamente
calculados da seguinte forma:
Área A Área D
Pme asp = Pme des = (Eq. 37)
Vv Vv
As áreas A e D são, respectivamente, as áreas sombreadas que se destacam para além dos processos ideiais, a
pressão constante, de aspiração e descarga.
Segundo aquele autor os valores daqueles excessos de Pme devem ser estimados dentre os que se apresentam nos
intervalos dados na tabela seguinte.
Os valores para os hidrocarbonetos halogenados (à época da escrita daquela referência eram sobretudo o R12, R22
e R502 os mais utilizados nas instalações de frio industrial), são significativamente superiores aos apresentados para
o R717, diferença devida à significativa diferença de densidades dos fluidos.
Rendimento isentrópico
Embora este parâmetro de análise da compressão seja conhecido desde o estudo dos processos, logo da primeira
vez que se estuda Termodinâmica, convém dar-lhe também aqui um pouco de atenção.
Ws h 2,s -h 1
ηs = = (Eq. 38)
Wreal h 2 -h 1
Pela sua definição o trabalho que se obtém na compressão real é sempre superior ao da ideal, o que significa que
h2≥h2,s. Contudo, por vezes, em situações reais, medem-se valores de h2 que não verificam esta igualdade, não
significando isso que o rendimento isentrópico seja superior à unidade. Casos em que tal acontece são os de
compressores frigoríficos arrefecidos, havendo uma parte do trabalho despendido na compressão do vapor que se
transforma em calor, o qual é transferido para o fluido de arrefecimento, seja o ar ou a água (há compressores com
camisas arrefecidas a água identicamente aos motores de combustão) como é mais comum.
O que significa então obter-se um valor de h2, para o qual lhe corresponde um valor de entalpia à pressão P2 que
conduz a s2<s1? Obviamente que não havendo processos reais em que a variação de entropia seja menor do que
zero só poderá ser o processo de troca de calor que se dá com acréscimo de entropia:
q
s=(s 2 -s1 )+ 0 (Eq. 40)
T
A utilização do rendimento isentrópico não é, por tais razões, um bom método para o dimensionamento dos motores
eléctricos, sendo preferível o recurso à metodologia apresentada no ponto anterior.
Em geral os catálogos técnicos de compressores frigoríficos apresentam dados para diversas condições de
funcionamento – diferentes ciclos, na forma Te/Tc, com diferentes fluidos frigorigéneos – o valor da potência frigorífica
e da potência absorvida na compressão, de que o excerto do resultado obtido com um programa de cálculo, o mostra
na figura abaixo. Neste caso trata-se de um compressor alternativo da marca Bitzer, modelo 4T 2Y-K com o fluido
R134a, cujas características construtivas deste compressor são as seguintes:
Outros dados relevantes para a interpretação correcta dos valores da tabela são os seguintes:
- Sobreaquecimento útil: 30 K;
Figura 18 – Compressor alternativo, modelo 4T 2Y-K da marca Bitzer–resultados obtidos a partir de Bitzer software.
- Qual será o rendimento volumétrico que se obtém para o conjunto de valores da tabela que se mostra na figura 17?
V
v
ηv = (Eq. 41)
Vv,t
O caudal volumétrico, designado de teórico, que aparece no denominador pode ser calculado através da equação 26,
sendo o do numerador determinado a partir da potência frigorífica e das condições de aspiração do compressor,
tomando o sobreaquecimento útil até aos 30 K, para cada pressão de evaporação:
Q
V
m= e
= (Eq. 42)
h1 -h 3 v1
A sequência de cálculos foi realizada no programa EES e o resumo dos resultados apresenta-se na tabela e no gráfico
seguintes, apenas para Tc=30ºC, deixando-se como exercício idêntico cálculo para Tc=40ºC.
Tabela 4 – Valores do rendimento volumétrico do compressor alternativo da marca Bitzer, modelo 4T 2Y-K e de um
compressor ideal, com o fluido R134a.
Te Qe r ηV ηV,ε
[ºC] [W] [-] [-] [-]
-25 7241 7,238 0,8134 0,7981
-20 9487 5,802 0,8471 0,8422
-15 12156 4,698 0,8711 0,8767
-10 15309 3,839 0,8883 0,9041
No gráfico da figura seguinte encontram-se também a representação da variação do rendimento volumétrico de um
compressor ideal com espaço morto para os mesmos valores da taxa de compressão, admitindo a taxa de espaço
morto de 0,04 e para o expoente γ, neste caso para o R134a,o valor de 1,1.
1.00
0.95
0.90
ηV/ηV,ε
0.85
0.80
ηV ηV,ε
0.75
0.70
3 3.5 4 4.5 5 5.5 6 6.5 7 7.5 8
r
Figura 19 – Rendimento volumétrico do compressor modelo 4T 2Y-K da marca Bitzer e de um compressor ideal, em
função da taxa de compressão com o fluido R134a.
Os valores do rendimento volumétrico do compressor obtidos a partir dos resultados da tabela anterior são inferiores
aos que se obtêm a partir da expressão para um compressor alternativo ideal, ainda que considerando o espaço
morto, numa intervalo de taxas de compressão mais baixas, invertendo-se esse comportamento quando as taxas de
compressão são mais elevadas. A influência da taxa de compressão, a única variável no caso do compressor ideal,
acentua-se de forma muito significativa como se observa na inclinação da linha que une os pontos representativos
que lhe deram origem.
O compressor de parafuso é também um compressor volumétrico, uma vez que o processo de compressão
é idêntico ao do alternativo acima visto. Apresenta-se quase sempre com a forma de dois parafusos, um
com lóbulos, designado de macho e o outro com fendas, sendo designado de rotor fêmea, em número
desigual, sendo frequente a relação 4:6.
Existem outras versões deste tipo de compressor, no entanto aquela que aqui se analisará será a mais
divulgada, a do duplo parafuso, tal como se mostra na figura abaixo.
Figura 20 – Rotors do compressor de parafuso; de “catálogo Howden rotary twin screw compressors”,
www.howden.com
Princípio de funcionamento
O compressor de parafuso não tem válvulas, nem na aspiração, nem na descarga, aspecto construtivo que
beneficia o seu rendimento volumétrico, nos termos em que ele foi definido para o compressor alternativo.
As várias fases do processo de compressão podem ser explicadas através da analogia com as que ocorrem
no compressor alternativo.
Assim, a fase de aspiração inicia-se num dos extremos dos parafusos quando se abre um espaço entre um
lóbulo e uma cava em frente à porta de aspiração. Esse espaço é então invadido pelo fluido que entra no
compressor – ver imagem A na figura 20.
Figura 21 – Fases da compressão num compressor de parafuso; de Dunham-Bush, Form N.º 6061-IA,
“IPCX - Industrial Refrigeration Rotary Screw Process Chillers”.
Enquanto os rotors continuam rodando o espaço interlobular aumenta, tal como se vê na imagem B,
continuando a entrar vapor até ao limite em que ele se fecha na porta de aspiração, o que se verifica na
imagem C.
No compressor de parafuso existe por razões de natureza construtiva uma relação entre o volume da
aspiração, Va, determinado pela abertura que se apresenta nos espaços interlobulares e o volume da
descarga, Vd, determinado pelo pela posição radial em que se apresenta a porta de descarga. A relação
entre aqueles dois valores é:
Va
Vi = (Eq. 43)
Vd
Este valor caracteriza o compressor, encontrando-se valores típicos para um determinado fabricante,
embora a relação Vi possa ser alterada, uma vez que a posição da porta de descarga pode sê-lo, desta
forma se alterando Vd.
Se Vi está estabelecido construtivamente, então, também o estará a relação de pressões que se virá a
desenvolver no compressor de parafuso. Assim, para um dado fluido cujo expoente dos processos
isentrópicos é conhecido, tem-se:
P2
ri = =Viγ (Eq. 44)
P1
Assim, para um dado compressor cujo Vi é conhecido, com um determinado fluido, γ conhecido e uma dada
pressão no lado da aspiração, P1, a pressão de descarga, P2, está determinada pela equação anterior.
Mas, nas instalações frigorificas operando com este tipo de compressor pode acontecer que a pressão que
existe na tubagem de descarga seja diferente daquela que resulta do cálculo acima, podendo ser superior,
ou inferior, função da temperatura de condensação.
C REFERÊNCIAS
[1] Zhilong He, Xianzhao Yang ∗, Dantong Li, Weifeng Wu; Dynamic characteristics of a swing compressor for an air
conditioning system at different discharge pressures; International Journal of Refrigeration, 112 (2020) 125–135.