Case de Sociologia

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SINOPSE DO CASE: Estupro de vulnerável¹

Elida Kymberlle Carvahlo Castro²


João Carlos da Cunha Moura³

1 QUESTÕES PARA ANALISE

I. Qual o papel do Poder Judiciário nesse caso?

II. Sob qual perspectiva deve ser analisado o caso em questão?

III. É importante o consentimento de julieta para a resolução dessa questão?

IV. Há relação de poder envolvida no caso?

V. Há outra forma de resolver o caso sem que haja necessidade de movimentar o Poder
Judiciário?

2 ANALISE DO CASO

Ao descobrirem que a filha de 13 anos de idade está saindo e mantendo relações


sexuais com um homem de 30 anos, e este ainda lhe dá dinheiro a cada vez que eles se
encontram, os pais de Julieta resolvem acionar o Ministério Público alegando que a filha está
sendo explorada. O Ministério Público, por sua vez, aciona o Poder Judiciário para resolver o
caso.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 prevê em seu artigo 2, a
divisão dos poderes da União em Legislativo, Executivo e o Judiciário, independentes e
harmônicos entre si. Concerne ao Poder Judiciário a responsabilidade de garantir a efetividade
dos direitos individuais, coletivos e sociais, é sua função também resolver conflitos entre as
pessoas, entidades e Estados. Por esse motivo o Judiciário foi acionado com a denúncia feita
pelos pais de Julieta contra Benvólio, alegando que a filha está sendo explorada pelo mesmo.
De acordo com o Código Penal (CP) em seu artigo 217-A, Benvólio cometeu
estupro de vulnerável por ter mantido conjunção carnal com menor de 14 anos, crime esse com

1 Case apresentado à disciplina Sociologia Jurídica, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco - UNDB.
2 Graduando do 2° Período, do Curso de Direito, da UNDB. Turma DT02BV.
3 Professor.
pena prevista de 8 (oito) a 15 (quinze) anos de reclusão. Observando que a vítima tem 13 anos
e que o réu não só ofereceu como pagou a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais) para ter relações
sexuais com ela. Configurando prostituição da criança e do adolescente nos termos do artigo
244-A da Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990, com pena de 1(um) a 4 (quatro) anos de reclusão.
Não sendo aceito o argumento de que o réu não tinha conhecimento da idade da
vítima, segundo os fatos narrados Benvólio demostrou não acreditar quando Julieta afirmou ter
dezoito anos, principalmente porque o grupo de amigos com quem a vítima estava lanchando
não parecia ter essa idade e entre eles o aparentemente mais velho tinha 17 anos e era conhecido
de Benvólio. Não encontrando assim enquadramento na definição legal do art. 20 do CP, erro
sobre elemento do tipo, não sendo afastado o dolo.
Contudo vemos que não ficou claro em nenhum momento a verdadeira idade de
Julieta, e como foi dito no caso descrito, poucas pessoas acreditam em Julieta quando ela diz a
sua idade, pois o seu amadurecimento físico é bem mais desenvolvido em comparação com
suas colegas da escola, sendo está observação feita por amigos e parentes de seus pais. Ao ser
questionada sobre sua idade por Benvólio, ela mente e diz ter 18 anos ao invés de dizer 13 anos,
ao manter relações sexuais com Julieta, cometeu, sem saber, o crime de estupro de vulnerável.
Ele não tinha a ciência que estava fazendo sexo com uma menor de quatorze anos, já que seu
desenvolvimento físico não correspondia com sua idade, mas, por erro sobre elemento
constitutivo do tipo, praticou uma ação tipificada no Código Penal. O erro de tipo está descrito
no CP, no artigo 20, inciso 1º, o indivíduo não quer praticar a conduta descrita como crime,
mas, por uma falsa percepção da realidade, acaba praticando conduta típica.
O Superior Tribunal de Justiça aprovou no dia 25 de outubro de 2017, uma
sumula que fixou o entendimento que o crime de estupro de vulnerável se configura com
a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, não afastando a
ocorrência do crime, o consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior
ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima. Mesmo
comprovado nos autos o consentimento de Julieta, esse não será levado em conta, nem
a mencionada experiência sexual anterior, ainda será considerado crime e Benvólio vai
responder penalmente por isso.
Para Foucault o poder não está em uma instituição, nem em ninguém como
um governante, mas nas relações sociais estabelecidas. Foucault nos fala:
Suponho que em toda a sociedade a produção do discurso é simultaneamente
controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo número de
procedimentos que têm por papel exorcizar-lhe os poderes e os perigos,
refrear-lhe o acontecimento aleatório, disfarçar a sua pesada, temível
materialidade. (FOUCAULT, 1971, p.2)

Ele afirma que o discurso é um veículo de poder e ao deter o discurso detém-se o


poder. O discurso está presente na ordem das leis, e estas por sua vez disciplinam o
comportamento da sociedade, por meio da disciplina que as relações de poder se tornam mais
facilmente observáveis. Sendo o Poder Judiciário um procedimento de interdição que é
provocado a partir do momento que alguém desobedece o que se estabelece nas leis. Vemos
isso quando Benvólio comete um crime que está previsto na lei e os pais de Julieta entram com
uma ação contra ele no Ministério Público, e esse por sua vez aciona o Judiciário.
Já que houve uma infração penal se faz necessário movimentar o Judiciário, por ser
responsabilidade constitucional desse poder garantir a efetividade das leis e resolver os
conflitos. Não havendo outra forma de resolver o caso.
REFERÊNCIAS

FORENSE, Correio. O agente que mantém relação sexual com menor de 14 anos, por engano, incorre
em erro do tipo. CORREIOFORENSE, 01 ago. 2017. Disponível em:
<http://www.correioforense.com.br/direito-penal/o-agente-que-mantem-relacao-sexual-com-menor-
de-14-anos-por-engano-incorre-em-erro-do-tipo/#.WuHM2C7wbIV>. Acesso em 25 abr. 2018.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural do Collège de France, pronunciada em 2


de dezembro de 1970. São Paulo: Loyola, 2014.

JUSTIÇA, Superior Tribunal de. Tribunal edita três novas súmulas. STJ, Brasília, 06 nov. 2017.
Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%AD
cias/Tribunal-edita-tr%C3%AAs-novas-s%C3%BAmulas>. Acesso em 24 abr. 2018.

PARAJARA, Fabiana. STJ diz que não é crime pagar por sexo com menores de idade e revolta juízes
e promotores. EXTRA, 23 ago.2009. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/brasil/stj-diz-
que-nao-crime-pagar-por-sexo-com-menores-de-idade-revolta-juizes-promotores-304900.html>.
Acesso em 25 abr. 2018.

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