Gimenes Filipe Biaggioni Quessada

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

FILIPE BIAGGIONI QUESSADA GIMENES

Utilização de Ferramentas de Análise Espacial em Estudos Ambientais de


Recursos Hídricos: Aplicação em João Pessoa (PB)

SÃO CARLOS, SP

2010
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
ENGENHARIA AMBIENTAL

UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DE ANÁLISE ESPACIAL EM


ESTUDOS AMBIENTAIS DE RECURSOS HÍDRICOS: APLICAÇÃO EM
JOÃO PESSOA (PB)

Aluno: Filipe Biaggioni Quessada Gimenes


Orientador: Prof. Dr. Oswaldo Augusto Filho

Monografia apresentada ao curso de graduação em


Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de
São Carlos da Universidade de São Paulo.

SÃO CARLOS, SP

2010
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, Rita Biaggioni, Leticia Biaggioni e Paulo

Gimenes, pela dedicação e apoio nesta fase da minha vida.


AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Dr. Oswaldo Augusto Filho pela oportunidade e ensinamentos

transmitidos ao longo da pesquisa.

Agradeço minha família sempre presente e me apoiando em todos os momentos da

minha vida.

Agradeço à turma de Engenharia Ambiental de 2006 pelas ajudas durante a pesquisa e,

principalmente, pela amizade construída ao longo dos 5 anos de graduação.

Agradeço também a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho.


SUMÁRIO

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 5
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 7
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 8
RESUMO ................................................................................................................................... 9
ABSTRACT ............................................................................................................................. 10
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11
1.1. JUSTIFICATIVA .................................................................................................................................... 12
2. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 13
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA – FUNDAMENTOS TEÓRICOS .................................. 13
3.1. RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS ............................................................................................................. 13
3.1.1. Hidrologia de Superfície ................................................................................................................. 13
3.1.2. Bacias hidrográficas....................................................................................................................... 16
3.2. RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS .......................................................................................................... 18
3.2.1. Água Subterrânea .......................................................................................................................... 18
3.2.2. Aqüíferos ........................................................................................................................................ 19
3.2.3. Distribuição da Água no Subsolo ................................................................................................... 20
3.3. MOVIMENTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ................................................................................................... 22
3.3.1. Fluxo em meio poroso.................................................................................................................... 22
3.3.2. Condutividade Hidráulica e Permeabilidade.................................................................................. 23
3.3.3. Porosidade ..................................................................................................................................... 24
3.3.4. Transmissividade ........................................................................................................................... 26
3.4. TRANSPORTE DE POLUENTES EM ÁGUA SUBTERRÂNEA.................................................................................... 27
3.4.1. Advecção-Dispersão em meio poroso ............................................................................................ 29
3.5. SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA – SIG.............................................................................................. 30
3.5.1. SIG como Ferramenta de Modelagem Ambiental ......................................................................... 32
3.5.2. Modelagem Numérica e Meio Ambiente ....................................................................................... 34
3.5.3. Delimitação automática de redes de drenagem............................................................................ 36
3.6. SIG E FERRAMENTAS DE MODELAGEM UTILIZADOS NA PESQUISA ..................................................................... 37
3.6.1. Ferramentas Hidrológicas de Superfície ........................................................................................ 40
3.6.2. Ferramentas Hidrológicas de Subsuperfície................................................................................... 43
4. ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................ 44
5. MÉTODO ......................................................................................................................... 47
5.1. APLICAÇÃO DAS FERRAMENTAS HIDROLÓGICAS DE SUPERFÍCIE ......................................................................... 48
5.2. APLICAÇÃO DAS FERRAMENTAS HIDROLÓGICAS DE SUBSUPERFÍCIE .................................................................... 52
6. RESULTADOS ................................................................................................................ 54
6.1. MODELAGEM DOS RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS .................................................................................... 54
6.1.1. Flow Direction ................................................................................................................................ 54
6.1.2. Flow Accumulation ........................................................................................................................ 55
6.1.3. Stream Network ............................................................................................................................. 56
6.1.4. Watershed ..................................................................................................................................... 61
6.1.5. Basin .............................................................................................................................................. 62
6.2. MODELAGEM DOS RECURSOS HÍDRICOS DE SUBSUPERFÍCIE ............................................................................. 64
6.2.1. Darcy Flow ..................................................................................................................................... 64

5
6.2.2. Darcy Velocity ................................................................................................................................ 69
6.2.3. Particle Track ................................................................................................................................. 70
6.2.4. Porous Puff ..................................................................................................................................... 71
6.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................................................ 72
7. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 78
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 80
9. ANEXOS ......................................................................................................................... 84

6
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: LINHAS DE FLUXO EQUIPOTENCIAIS DE ESCOAMENTO


SUBTERRÂNEO. .................................................................................................................... 22
FIGURA 2. ESTRUTURA GERAL DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA. 31
FIGURA 3. ARQUITETURA BÁSICA DO ARCGIS. ........................................................... 38
FIGURA 4: FLOW ACCUMULATION. ................................................................................ 41
FIGURA 5: FLOW DIRECTION. ........................................................................................... 42
FIGURA 6: FLUXOGRAMA DE FERRAMENTAS HIDROLÓGICAS DE SUPERFÍCIE
UTILIZADAS. ......................................................................................................................... 49
FIGURA 7: FLUXOGRAMA DAS FERRAMENTAS DE SUBSUPERFÍCIE UTILIZADAS.
.................................................................................................................................................. 52
FIGURA 8: RASTER DE DIREÇÃO DE FLUXO COM DEPRESSÕES PREENCHIDAS. 54
FIGURA 9: COMPARAÇÃO ENTRE AS DIFERENTES REDES DE DRENAGEM
CRIADAS. ................................................................................................................................ 57
FIGURA 10: COMPARAÇÃO ENTRE AS ORDENS DAS REDES DE DRENAGEM. ..... 60
FIGURA 11: BACIAS HIDROGRÁFICAS GERADAS A PARTIR DE EXUTÓRIOS
DEFINIDOS. ............................................................................................................................ 61
FIGURA 12: MAPA GERADO PELA FERRAMENTA “BASIN” COM 6 CLASSES. ....... 63
FIGURA 13: MAPA GERADO PELA FERRAMENTA “BASIN” COM 20 CLASSES. ..... 64
FIGURA 14: DIFERENÇA ENTRE O MDT E A SUPERFÍCIE FREÁTICA. ...................... 65
FIGURA 15: RESIDUAL. ....................................................................................................... 67
FIGURA 16: COMPARAÇÃO ENTRE AS ÁREAS DE CADA FAIXA DE ERRO
PERCENTUAL. ....................................................................................................................... 68
FIGURA 17: RESULTADO DOS GRIDS MAGNITUDE E DIREÇÃO COMBINADOS. .. 69
FIGURA 18: TRAJETÓRIA DE DUAS PARTÍCULAS. ....................................................... 70
FIGURA 19: LOCAIS ONDE O RESIDUAL EM RELAÇÃO À VAZÃO DE SAÍDA DE
CADA PIXEL FOI ELEVADO. .............................................................................................. 76

7
LISTA DE TABELAS

TABELA 1: COLUNA LITO-ESTRATIGRÁFICA. .............................................................. 45


TABELA 2: COMPARAÇÃO ENTRE OS COMPRIMENTOS DAS DIFERENTES REDES
DE DRENAGEM. .................................................................................................................... 58
TABELA 3: VALORES MÁXIMOS, MÉDIOS E MÍNIMOS DOS PARÂMETROS DE
ENTRADA............................................................................................................................... 66

8
RESUMO

Compreender melhor os processos físicos é de vital importância para realização de

estudos, especialmente na área ambiental. Nesse sentido, as ferramentas computacionais

apresentam-se como grande auxílio para um estudo adequado destes processos. A presente

pesquisa estuda e aplica algumas ferramentas computacionais de hidrologia disponíveis em

um programa de Sistema de Informação Geográfica – SIG. Elas possibilitam a cartografia

automatizada de redes de drenagem, de bacias hidrográficas, de áreas de contribuição à

montante de exutórios definidos pelo usuário, de superfície freática e de plumas de

contaminação. Os estudos foram desenvolvidos na região metropolitana de João Pessoa (PB),

utilizando mapas topográficos digitais na escala de 1:10.000, com curvas de nível em

intervalos de 5 metros e pontos cotados em metros. A área selecionada para as análises de

hidrologia de subsuperfície continha 26 sondagens. Os resultados obtidos permitiram avaliar

preliminarmente o desempenho destas ferramentas, que podem ser úteis em estudos e ações

de gestão ambiental dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

Palavras – Chave: Sistema de Informações Geográficas – SIG, Simulações de Fluxo Hídrico,

Análises de Caráter Ambiental e Ferramentas de Hidrologia.

9
ABSTRACT

The proper understanding of physical processes is of great importance to conduct

studies, especially in environmental area. In this context, computational tools represent great

support for a correct study of these processes. This research studies and applies some

computer hydrology tools available in a Geographical Information System - GIS software.

They make possible the automated cartography of drainage networks, of drainage basins, of

watershed areas upper outlets defined by the users, of groundwater and of contamination

plumes. The studies were developed in the metropolitan region of João Pessoa (PB), using

digital topographic maps at the scale of 1:10,000, with topographic contours in intervals of 5

meters and spot elevations rated in meters. The selected area for groundwater analysis had

26 borings. The obtained results provided to evaluate preliminarily the performance of these

tools, which can be useful in studies and actions of environmental management of the hydric

superficial resources and groundwater.

Keywords: Geographical Information System – GIS, Hydric Flow Simulation, Environmental


Analysis and Hydrology Tools.

10
1. INTRODUÇÃO

Os estudos de processos físicos naturais são de grande importância para as diversas

áreas de pesquisa, principalmente para a ambiental. A utilização de ferramentas

computacionais nesse estudo auxilia e otimiza a obtenção de resultados, pois possibilita a

modelagem numérica dos processos.

Embora o mapeamento de campo seja um modo preciso para caracterizar sistemas de

drenagem, ele é freqüentemente não prático, especialmente para grandes bacias hidrográficas.

As ferramentas computacionais de análise hidrológica fornecem uma alternativa útil para

estudos preliminares de caracterização dos recursos hídricos superficiais de uma região

(TARBOTON e AMES, 2001). Modelos digitais de elevação (MDEs) são as fontes primárias

de dados digitais para determinação automática de caminhos d’água, sub-bacias e sistemas de

drenagem para modelagem hidrológica. A representação digital de redes de drenagem é

essencial para obtenção de modelos hidrológicos bem distribuídos, pois ela grava os

elementos de ligação destes modelos, através dos quais, os fluxos de água superficial são

encaminhados para o exutório.

Os bancos de dados digitais além de disponibilizar de forma organizada os diversos

dados coletados também podem servir como uma ferramenta de sistema de apoio à decisão –

SAD, pois permitem a previsão de comportamento geológico-geotécnico, tornando possível

sua utilização no auxílio ao planejamento de gestão em áreas urbanas.

Este trabalho foi voltado às simulações de fluxo hídrico superficial e subterrâneo, a

fim de se realizar análises de caráter ambiental relacionadas ao comportamento natural

hidrológico, que influi em eventos geológicos (erosões, escorregamentos, carstes,

contaminação de águas superficiais e subterrâneas etc.), e às interações antrópicas com o

meio.

11
O banco de dados foi desenvolvido em ambiente SIG – Sistema de Informações

Geográficas. Os modelos numéricos foram utilizados em unidades básicas de terreno, que

foram definidas por um Modelo Digital de Elevação – MDT e por modelos hidrológicos

derivados (superficial e subterrâneo).

A área de estudo abrangeu a região metropolitana de João Pessoa (PB), perfazendo

uma área total de 208,61 km2 e 13 mapas topográficos na escala 1:10.000, com curvas de

nível em intervalos de 5 metros, pontos cotados em metros e a rede de drenagem cartografada

nestes mapas (ANEXO 1). Esta área de estudo foi selecionada, pois o presente trabalho

inseriu-se dentro de uma pesquisa de Doutorado, desenvolvida no Departamento de Geotecnia

da Escola de Engenharia de São Carlos – USP, que já estava em andamento e continha

disponíveis dados de interesse para aplicação das ferramentas em questão.

É importante ressaltar que o tema desenvolvido na pesquisa relaciona-se diretamente

com disciplinas da graduação de Engenharia Ambiental, pois a medida que as ferramentas de

superfície e subsuperfície foram aplicadas foi necessário retomar conceitos de disciplinas

como Geologia e Solos, Caracterização Ambiental: Bacia Hidrográfica, Técnicas em

Representação em Engenharia Ambiental, Sistema de Informação Geográficas Aplicado à

Engenharia Ambiental e Hidrologia, além de outros conceitos multidisciplinares.

1.1. JUSTIFICATIVA

A cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, já evidencia diversas

manifestações ambientais negativas decorrentes da má utilização ou ausência de recursos

direcionados às atividades de planejamento, mostrando a importância da construção de uma

ferramenta que auxilie nesse planejamento.

O desenvolvimento da presente pesquisa pode contribuir com a geração de resultados


que poderão ser utilizados, em uma possível continuidade desta pesquisa, para subsidiar o
desenvolvimento de análises que permitirão auxiliar o planejamento urbano.
12
2. OBJETIVOS

O objetivo geral do trabalho é utilizar e avaliar ferramentas de modelagem dos fluxos

de água superficial e água subterrânea com base em um banco de dados digital, estruturado

em SIG, elaborado a partir de sondagens SPT e mapas topográficos na área metropolitana de

João Pessoa – PB. A partir do objetivo geral, foram traçados objetivos específicos:

• Testar e avaliar as ferramentas de modelagem hidrológica de superfície

em toda a área de estudo delimitada.

• Aplicar as ferramentas de modelagem de subsuperfície em uma bacia

hidrográfica selecionada (em função das sondagens existentes e da localização em área

urbanizada).

• Avaliar a aplicabilidade das ferramentas testadas para diferentes áreas

da Engenharia Ambiental (gestão de bacias, hidrologia, recuperação de áreas

degradadas, remediação de água subterrânea, etc.).

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA – FUNDAMENTOS TEÓRICOS

3.1. Recursos Hídricos Superficiais

3.1.1. Hidrologia de Superfície

O escoamento superficial é a fase do ciclo hidrológico que trata do conjunto das águas

que, por efeito da gravidade, se desloca na superfície da Terra. O estudo do escoamento

superficial engloba, portanto, desde a simples gota de chuva que, tombando sobre o solo

saturado ou impermeável, escorre superficialmente, até o grande curso de água que

desemboca no mar. As águas que escoam superficialmente representam uma das maiores

riquezas naturais do globo. Sua importância não precisa ser realçada, bastando lembrar os

13
imensos problemas que afligem as regiões em que este recurso natural é escasso (GARCEZ,

1967).

Parte do volume de água precipitado é interceptada pela vegetação e outras barreiras e

retorna à atmosfera por evaporação. Do restante que atinge a superfície do solo; parte retorna

por evaporação no solo e superfícies líquidas, parte pela transpiração de vegetais; e outra parte

é absorvida por infiltração, o restante escoa livremente pela superfície do terreno, seguindo

linhas de maior declive (RIGHETTO, 1998).

Na fase inicial da precipitação o escorrimento superficial forma uma película laminar

que recobre as pequenas depressões do terreno. Com a continuação do processo, a lâmina

superficial vai se tornando mais espessa, passando a escoar um volume que representa a

diferença entre a precipitação total e os volumes retidos, infiltrados, evaporados e acumulados

nas depressões. Estas águas, que não têm ainda um caminho preferencial de escoamento, mas

tão somente um sentido de escorrimento dado pela linha de maior declividade do terreno, são

conhecidas como “águas livres”. Seu estudo é importante para o conhecimento do processo de

erosão (TUCCI, 1998).

As águas livres vão, pouco a pouco, confluindo para os pontos mais baixos do terreno,

passando a escoar em conjunto pelos pequenos canais que formam a “micro-rede de

drenagem”. A própria capacidade erosiva das águas tende a aprofundar esta “canaletas”,

fixando, cada vez mais, caminhos preferenciais para o escoamento. A reunião de diversos

destes “micro-canais” dá origem às torrentes caracterizadas por um regime de escoamento que

acompanha integralmente o regime da precipitação (TUCCI, 1998).

As torrentes e as contribuições do escoamento subterrâneo formam, nas calhas

coletoras mais profundas, os cursos d’água (rios) que apresentam um regime mais ou menos

perene, devido, justamente, à contribuição contínua do aqüífero. Constitui-se desta forma a

14
rede de drenagem propriamente dita, compreendendo os formadores, subafluentes e afluentes

do curso d’água principal, que encaminha as águas para seu destino final (RIGHETTO, 1998).

Os principais fatores, ligados às características da bacia de contribuição, que presidem

o afluxo da água em uma determinada drenagem podem ser genericamente resumidos em:

a) Área e forma da bacia;

b) Conformação topográfica da bacia, principalmente, declividades e

pontos acumuladores;

c) Condições superficiais do solo e geológicas do subsolo: vegetação,

capacidade de infiltração, natureza e disposição das camadas geológicas, coeficientes

de permeabilidade, situação de aqüíferos, etc; e

d) Obras de utilização e controle d’água a montante: drenagens artificiais,

canalização e retificação de cursos d’água, etc.

Segundo Garcez (1967), para aplicação da engenharia, faz-se importante conhecer

principalmente o escoamento superficial que passa por um ponto de um curso d’água. Entre as

varias grandezas que caracterizam o escoamento superficial, podem ser indicadas como mais

importantes:

a) Coeficiente de deflúvio (“run-off” ou escoamento superficial). É a

relação entre a quantidade total escoada pela seção e a quantidade total de água

precipitada na bacia contribuinte; pode ser referente a uma precipitação especifica ou a

precipitações ocorridas em um determinado tempo.

b) Nível da água. Altura atingida pela água na seção, em relação a certa

referencia. Refere-se a valores instantâneos à media de períodos (dia, mês, etc.).

c) Velocidade é a relação entre o espaço percorrido pela partícula liquida e

o tempo de percurso. Distingue-se velocidade média, superficial e pontual.

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d) Vazão (descarga). É a relação entre o volume escoado e o intervalo de

tempo em que escoa; é igual ao produto da velocidade média pela área da seção.

Refere-se, também, a valores instantâneos ou a valores médios de certos períodos.

e) Vazão especifica (ou contribuição unitária) é a relação entre a vazão e a

área da bacia contribuinte.

f) Altura média equivalente é a relação entre o volume total escoado em

um intervalo de tempo e a área da bacia.

g) Declividade da linha d’água. Relação entre a diferença de nível entre

dois pontos da superfície liquida e a distancia entre os mesmos.

3.1.2. Bacias hidrográficas

Uma Bacia Hidrográfica pode ser definida como uma área topograficamente delineada

drenada por um sistema de canais – ou seja, o total de área do terreno sobre um determinado

ponto em um canal ou rio que drena passando por este ponto. A bacia é uma unidade

hidrológica freqüentemente utilizada como unidade físico-biológica e socioeconômico-

política para planejamento e manejo dos recursos naturais (BROOKS et al., 1997).

A utilização da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gerenciamento

ambiental não é recente. Há tempos os hidrólogos têm reconhecido as ligações entre

características físicas de uma bacia hidrográfica e a quantidade de água que chega aos corpos

hídricos. Por outro lado, os limnólogos têm considerado que as características do corpo

d’água refletem as características de sua bacia de drenagem. Nesse sentido, as abordagens de

planejamento e gerenciamento ambiental utilizando a bacia hidrográfica como unidade de

estudo têm evoluído bastante, desde que estas apresentam características biogeofísicas que

denominam sistemas ecológicos e hidrológicos relativamente coesos (PIRES et al., 2002 apud

TONELLO et al., 2009).

16
Por ser uma unidade estratégica para manejo dos recursos naturais, é importante

definir uma bacia hidrográfica de interesse para ser possível aplicar diferentes ferramentas de

modo a permitir prever o comportamento dinâmico da bacia, como por exemplo, verificar

como uma chuva altera o escoamento das drenagens, determinar vazões de pico na saída de

uma bacia (exutório), ou ainda avaliar qual a extensão da influencia de ações em um dado

ponto da bacia. Dentro deste contexto, tornam-se necessárias algumas definições.

Define-se como tempo de concentração o tempo necessário para que toda a bacia

hidrográfica esteja contribuindo com a água sobre ela precipitada, desde o início da chuva,

para uma determinada seção do curso de água ou da superfície da bacia objeto de análise.

Dessa forma, o conhecimento do tempo de concentração é fundamental para a determinação

da máxima vazão que estará contribuindo para um determinado local da bacia após o início da

chuva (SILVA et al., 2007).

A máxima vazão causada pelo evento de precipitação é atingida, depois de certo

tempo, e um estado de equilíbrio é alcançado, implicando em que o escoamento superficial

concentrou-se à saída da bacia e a taxa de água deixando o sistema bacia hidrográfica, por

escoamento superficial (vazão à saída), iguala-se à taxa de água entrando no sistema na forma

de precipitação efetiva (intensidade de precipitação efetiva).

O método racional é dos mais conhecidos e antigos modelos para o cálculo da vazão

de pico à saída de uma bacia hidrográfica. Aplica-se a pequenas bacias hidrográficas, ou seja,

as que atendem aos seguintes critérios: pode-se assumir a distribuição uniforme da

precipitação, no tempo e no espaço; a duração da precipitação usualmente excede o tempo de

concentração da bacia; há predomínio de escoamento superficial, como é o caso em áreas

urbanizadas; e os efeitos de armazenamento superficial, durante o escoamento, são

desprezíveis.

17
O método tempo-área é uma extensão do método racional, já que este se aplica apenas

a bacias hidrográficas com pequenas áreas de drenagem (até 1 Km2) podendo, entretanto,

considerar variações de intensidade da precipitação ao longo do tempo e maior diversidade de

uso do solo na bacia hidrográfica. Esse método baseia-se no estabelecimento de uma função

relacionando áreas de contribuição na bacia ao tempo necessário para que essas áreas

contribuam à formação de vazões à saída da bacia (PONCE, 1989).

Dessa forma, tendo sido definida a bacia hidrográfica e sendo conhecida sua dinâmica

e os fatores atuantes na mesma, torna-se possível realizar análises mais detalhadas sobre a

área, o que pode servir de subsídio para ações de gerenciamento dos recursos naturais, e

principalmente dos recursos hídricos. Nesta primeira etapa da pesquisa, visou-se definir uma

bacia hidrográfica de interesse através da aplicação de diversas ferramentas de hidrologia de

superfície, que descritas em outro item.

3.2. Recursos Hídricos Subterrâneos

3.2.1. Água Subterrânea

Segundo Teixeira et al. (2003), de maneira simplificada, toda água que ocupa vazios

em formações rochosas ou no regolito é classificada como água subterrânea. A infiltração é o

processo de maior importância para a recarga de água no subsolo e o volume e velocidade em

que ela ocorre depende de vários fatores.

A infiltração é favorecida pela presença de materiais porosos e permeáveis, como solo

e sedimentos arenosos. Por outro lado, materiais argilosos e rochas cristalinas pouco

fraturadas são desfavoráveis à infiltração. A quantidade de água transmitida pelo solo depende

de uma característica importante, chamada de capacidade de campo, que corresponde ao

volume de água absorvido pelo solo, antes de atingir a saturação, e que não sofre movimento

para níveis inferiores (TEIXEIRA et al. op. cit.).

18
Em áreas vegetadas a infiltração é favorecida pelas raízes que abrem caminho para a

água descendente no solo. A cobertura florestal também exerce importante função no

retardamento de parte da água que atinge o solo, através da interceptação, sendo o excesso

lentamente liberado para a superfície do solo por gotejamento. Por outro lado, nos ambientes

densamente florestados, cerca de da precipitação interceptada sofre evaporação antes de

atingir o solo (TEIXEIRA et al. op. cit.).

De modo geral declives acentuados favorecem o escoamento superficial direto,

diminuindo a infiltração. Superfícies suavemente onduladas permitem o escoamento

superficial menos veloz, aumentando a possibilidade de infiltração (TODD, 1959).

O modo como o total da precipitação é distribuída ao longo do ano é um fator

decisivo no volume de recarga de água subterrânea, em qualquer tipo de terreno. Chuvas

regularmente distribuídas ao longo do tempo promovem uma infiltração maior, pois, desta

maneira, a velocidade de infiltração acompanha o volume de precipitação (TODD, 1959).

O avanço da urbanização e a devastação da vegetação influenciam significativamente

a quantidade de água infiltrada em adensamentos populacionais e zonas de intenso uso

agropecuário. Nas áreas urbanas, as construções e a pavimentação impedem a infiltração,

causando efeitos catastróficos devido ao aumento do escoamento superficial e redução da

recarga subterrânea. Nas áreas rurais, a infiltração sofre redução pelo desmatamento em geral,

pela exposição de vertentes através de plantações sem terraceamento, e pela compactação dos

solos causada pelo pisoteamento de animais, como extensivas áreas de criação de gado

(TODD, 1959).

3.2.2. Aqüíferos

Unidades rochosas ou de sedimentos, porosas e permeáveis, que armazenam e

transmitem volumes significativos de água subterrânea passível de ser explorada pela


19
sociedade são chamadas de aqüíferos. O estudo dos aqüíferos visando a exploração e proteção

da água subterrânea constitui um dos objetivos mais importantes da Hidrogeologia

(TEIXEIRA et al. op.cit.).

São considerados bons aqüíferos materiais com média a alta condutividade

hidráulica, como sedimentos inconsolidados, rochas sedimentares, além de rochas vulcânicas,

plutônicas e metamórficas com alto grau de fraturamento. Os reservatórios que não

apresentam as mesmas características que os aqüíferos são denominados:

a) Aqüiclude – unidades geológicas, saturadas e com grandes quantidades

de água absorvidas lentamente, mas incapazes de transmitir um volume significativo

com velocidade suficiente para abastecer nascentes ou poços;

b) Aqüifugos – unidades geológicas que não apresentam poros

interconectados e não absorvem e nem transmitem água;

c) Aqüitarde – denominação utilizada para se compararem dois

reservatórios, na qual a unidade mais produtiva de água é o aqüífero e a menos o

aqüitarde.

Além disso, os aqüíferos podem ser classificados em livres, suspensos e confinados.

Os livres são aqueles que o topo é delimitado pelo nível freático (NA). Os suspensos são

acumulações de água sobre aqüitardes na zona insaturada. E os confinados ocorrem quando

um estrato permeável encontra-se confinado entre dois estratos pouco permeáveis ou

impermeáveis.

3.2.3. Distribuição da Água no Subsolo

Além da força gravitacional e das características dos solos, sedimentos e rochas, o

movimento da água no subsolo é controlado também pela força de atração molecular e tensão

20
superficial. A atração molecular age quando moléculas de água são presas na superfície de

argilominerais por atração de cargas opostas, pois a molécula de água é polar. Este fenômeno

ocorre principalmente nos primeiros metros de profundidade, no solo ou no regolito, rico em

argilominerais. A tensão superficial tem efeito nos interstícios muito pequenos, onde a água

fica presa nas paredes dos poros, podendo ter movimento ascendente, contra a gravidade, por

capilaridade.

Assim, conforme o tamanho do poro, a água pode ser higroscópica (adsorvida) e

praticamente imóvel, capilar quando sofre a ação da tensão superficial movendo-se

lentamente ou gravitacional (livre) em poros maiores, que permitem movimento mais rápido

(DAVIS, 1966).

O limite inferior da percolação de água é dado quando as rochas não admitem mais

espaços abertos (poros) devido à pressão da pilha de rochas sobrejacentes. Esta profundidade

atinge um máximo de 10.000 m, dependendo da situação topográfica e do tipo de rocha.

Pode-se imaginar então que toda água de infiltração tende a atingir este limite inferior, onde

sofre um represamento, preenchendo todos os espaços abertos em direção à superfície.

Estabelece-se assim uma zona onde todos os poros estão cheios de água, denominada zona

saturada ou freática. Acima desse nível, os espaços vazios estão parcialmente preenchidos por

água, contendo também ar, definindo a zona não saturada, também chamada de vadosa ou

zona de aeração. O limite entre estas duas zonas é uma importante superfície denominada

superfície freática (SF) ou nível da água subterrânea (NA). O nível freático acompanha

aproximadamente as irregularidades da superfície do terreno (DAVIS, 1966).

21
3.3. Movimentação de Água Subterrânea

3.3.1. Fluxo em meio poroso

Além da força gravitacional, o movimento da água subterrânea também é guiado pela

diferença de pressão entre dois pontos, exercida pela coluna de água sobrejacente aos pontos e

pelas rochas adjacentes. Esta diferença de pressão é chamada de potencial da água (potencial

hidráulico) e promove o movimento da água subterrânea de pontos com alto potencial, como

nas cristas do nível freático, para zonas de baixo potencial, como fundos de vales. Esta

pressão exercida pela coluna de água pode causar fluxos ascendentes da água subterrânea,

contrariando a gravidade, como no caso de porções profundas abaixo de cristas, onde a água

tende a subir para zonas de baixo potencial, junto a leitos de rios e lagos (TEIXEIRA et al.,

2003).

A união de pontos com mesmo potencial hidráulico em subsuperfície define as linhas

equipotenciais do nível freático, semelhantes a curvas de nível topográficas. O fluxo de água,

partindo de um potencial maior para outro menor, define uma linha de fluxo, que segue o

caminho mais curto entre dois potenciais diferentes, num traçado perpendicular às linhas

equipotenciais (Figura 1).

Figura 1: Linhas de fluxo equipotenciais de escoamento subterrâneo.


Fonte: (TEIXEIRA et al. 2003).

22
O fluxo de água através de aqüíferos, a maioria dos quais é um meio poroso natural,

pode ser expresso pela conhecida Lei de Darcy (TODD, 1959), desenvolvida pelo engenheiro

francês Henry Darcy, em 1856. Seu experimento se baseou na medição da vazão de água Q

com um cilindro preenchido por material arenoso, para diferentes gradientes hidráulicos. O

fluxo de água pelo cilindro (definido como vazão específica - q) para cada gradiente foi

calculado pela relação entre a vazão Q e a área A de seção do cilindro.

Darcy constatou que a vazão do fluxo Q é diretamente proporcional à área A de seção

do cilindro, ao gradiente hidráulico aplicado (h1-h2) e inversamente proporcional ao

comprimento do cilindro L. Quando combinadas, essas conclusões nos dão a Lei de Darcy:

(8)

Assim, para cada meio poroso estudado ele obteve o gráfico de uma reta, de

coeficiente angular K, que foi definido como sendo a condutividade hidráulica do material,

expressando sua capacidade de transmissão de água. Dessa forma foi possível quantificar a

capacidade dos materiais de transmitirem água em função da inclinação do nível freático

(BEAR e VERRUIJT, 1987).

3.3.2. Condutividade Hidráulica e Permeabilidade

Segundo Teixeira et al. (2003), no fluxo de água em superfície, a velocidade é

diretamente proporcional à inclinação da superfície. Este grau de inclinação, denominado

gradiente hidráulico (∆h/∆L), é definido pela razão entre o desnível (∆h) e a distancia

horizontal entre dois pontos (∆L). O desnível indica a diferença de potencial entre os pontos.

Quanto maior a diferença de potencial, dada uma distancia lateral constante, maior será a

velocidade do fluxo. Já em relação à água subterrânea, é necessário considerar também a

23
permeabilidade do solo e a viscosidade da água. A relação desses parâmetros com o fluxo de

água subterrânea foi investigada e quantificada pelo engenheiro hidráulico francês Henry

Darcy, em 1856, o que resultou na formulação da lei de Darcy, base da hidrologia de meios

porosos.

O conceito da condutividade hidráulica aplicado à zona saturada define o conceito de

permeabilidade, que determina a capacidade dos materiais conduzirem água em condições de

saturação. Isto é influenciado pelo do tamanho dos poros e pela conexão entre eles.

3.3.3. Porosidade

A porosidade é uma propriedade física definida pela relação entre o volume de poros e

o volume total de certo material. Existem dois tipos fundamentais de porosidade nos materiais

terrestres: primária e secundária. A porosidade primária é gerada juntamente com o sedimento

ou rocha, sendo caracterizada nas rochas sedimentares pelos espaços entre os clastos ou grãos

ou planos de estratificação. Nos materiais sedimentares o tamanho e forma das partículas, o

seu grau de seleção e a presença de cimentação influenciam a porosidade. A porosidade

secundária, por sua vez, se desenvolve após a formação das rochas ígneas, metamórficas ou

sedimentares, por fraturamento ou falhamento durante sua deformação (porosidade de

fraturas). Um tipo especial de porosidade secundária se desenvolve em rochas solúveis, como

calcários e mármores, através da criação de vazios por dissolução, caracterizando a

porosidade cárstica (DAVIS, 1966).

Dentro dessa definição dois conceitos devem ser distinguidos, são eles o da

porosidade total e o da porosidade efetiva. A porosidade total ou simplesmente a porosidade

de um solo ou rocha pode ser definida como a relação entre o volume de vazios e o volume

total, assim:

(2)

24
Onde,

η = porosidade total;

Vv = volume de vazios;

V = volume total;

A porosidade depende do tamanho dos grãos. Se os grãos são de tamanho variado, a

porosidade tende a ser menor do que no caso de grãos uniformes, porque os grãos pequenos

ocupam os espaços vazios entre os maiores. Ao extrair-se água de um aqüífero, parte do

líquido é retido pelas forças moleculares e pela tensão superficial e apenas parte do total

armazenado é liberado. Desta forma, na hidrogeologia é necessário definir-se o conceito de

porosidade efetiva ou eficaz. Este parâmetro pode ser definido como a quantidade de água

fornecida por unidade de volume do material, ou seja, a razão entre o volume de água

efetivamente liberado de uma amostra de rocha porosa saturada e o volume total (COSTA,

2009).

(3)

Onde,

ηe = porosidade efetiva;

Vd = volume de água drenada por gravidade;

V = volume total;

Um aqüífero para ser considerado como bom, deve apresentar valores elevados tanto

de porosidade total quanto de porosidade efetiva. Assim, a argila apresenta uma elevada

porosidade total (média variando em torno de 35 a 40%), mas possui uma reduzida porosidade

efetiva (valores médios em torno de 3%) e não tem, utilização como aqüífero. Já uma mistura

de areia e pedregulho apresenta uma porosidade total um pouco menor (valores médios
25
variando entre 20 a 35%), porém apresenta um valor elevado de porosidade efetiva (média em

torno de 29%) e forma um bom aqüífero (FEITOSA; MANOEL FILHO, 1997).

O principal fator que determina a disponibilidade de água subterrânea não é a

quantidade de água que os materiais armazenam, mas a sua capacidade em permitir o fluxo de

água através dos poros (TODD, 1959; TEIXEIRA et al., 2003).

3.3.4. Transmissividade

Segundo Oliveira e Brito (1998), a transmissividade é um parâmetro presente em

diversas formulações para cálculo de vazão de poços, sendo uma das incógnitas a ser

determinada em ensaios in situ. Este parâmetro foi introduzido por Theis, em 1935, com o

objetivo de avaliar a capacidade de transmissão de água pelo meio, através de toda sua

espessura saturada.

O coeficiente de transmissividade (T) é definido como sendo a vazão transmitida

através de uma parcela vertical do terreno, de largura unitária (LU), cuja altura é igual à da

zona saturada, sob um gradiente hidráulico (i) unitário:

(4)

O conceito de transmissividade pode também ser conceituado, de forma similar, como

a taxa de escoamento de água através de uma faixa vertical do aqüífero com largura unitária

submetida a um gradiente hidráulico unitário. O conceito de transmissividade é utilizado em

estudos bidimensionais. (FEITOSA e MANOEL FILHO, 1997). Para aqüíferos confinados a

transmissividade é dada pela expressão:

(5)

Onde,

T = transmissividade;

K = condutividade hidráulica;
26
b = espessura do aqüífero.

3.4. Transporte de Poluentes em Água Subterrânea

A interação solo-contaminante é muito complexa, uma vez que, muitos fenômenos

físicos, químicos e biológicos podem ocorrer simultaneamente. São inúmeros os fenômenos

que controlam o transporte de contaminantes em meios porosos, onde o contaminante

considerado é a massa de alguma substância tóxica dissolvida (poluente), movendo-se com

algum fluido (água) nos vazios do meio poroso (solo) seja ele saturado ou não (NOBRE, 1987

apud VELOZO, 2006).

O fluxo da água na zona não saturada (poros preenchidos por água e ar) depende da

força da gravidade e da forma dos poros, sendo vertical para baixo. Na zona saturada (poros

preenchidos por água) o fluxo depende do potencial hidráulico, como visto anteriormente, e

os contaminantes podem espalhar-se por grandes áreas, cobrindo longas distâncias, após

períodos de tempo variável. Caracterizam-se assim as plumas de contaminação com

concentrações variáveis, no espaço e no tempo, dependendo das condições hidrogeológicas

locais.

Segundo Fetter (1993), o movimento de poluentes não depende apenas do fluxo do

fluido no qual essas substâncias estão dissolvidas, mas sim de mecanismos aos quais estas

substâncias são submetidas, os principais mecanismos de transporte e retenção de

contaminantes em meios porosos saturados são:

• Advecção:

É o mecanismo de transporte de massa causado pelo movimento da água. Durante a

evolução da maioria das plumas de poluição, a advecção é o mecanismo de transporte mais

importante. Na advecção, os contaminantes (solutos) presentes na água se movem na direção

27
das linhas de fluxo com uma velocidade que, em princípio, é igual à velocidade média linear

da água e sem alterar sua concentração na solução.

• Dispersão Hidrodinâmica:

A dispersão hidrodinâmica é o fenômeno que permite o espalhamento tridimensional

do contaminante, proporcionando diluição do contaminante pelo caminho do escoamento. O

processo de difusão molecular não pode ser separado da dispersão mecânica no fluxo de água

pelo solo, portanto esses dois processos são combinados para definir a dispersão

hidrodinâmica.

a) Difusão molecular: esse transporte ocorre devido ao gradiente de concentração

existente em um fluido, ou seja, o soluto dissolvido em água desloca-se de uma área de maior

concentração para uma área de menor concentração, visando equalizar a concentração em

toda a massa de fluido. Este fenômeno ocorre independente da velocidade do fluido, mas é

acentuado pela turbulência resultante dos mecanismos de mistura mecânica.

b) Dispersão mecânica: a mistura mecânica é decorrente da dispersão em canais

individuais, do desenvolvimento de velocidades médias diferentes em canais diferentes,

devido à variação das dimensões dos poros ao longo das linhas de fluxo, e do desvio da

trajetória das partículas em decorrência da tortuosidade, reentrâncias e interligações entre os

canais (BEAR, 1972).

A dispersão que ocorre na direção do fluxo é chamada dispersão longitudinal e a que

ocorre na direção perpendicular ao fluxo é chamada dispersão transversal.

• Sorção:

A sorção engloba os processos que demonstram a capacidade do solo em reter

substâncias. A adsorção é a adesão de moléculas ou íons à superfície de partículas no solo

promovendo uma diminuição da concentração da fase aquosa e retardando o transporte de

contaminante, já a de - sorção é a liberação da fase sólida. A habilidade do solo em reter

28
substâncias é limitada, se a fonte de contaminação tiver alimentação contínua, a taxa de

retenção tende a diminuir com o tempo, podendo chegar a se anular (YONG et al., 1992).

• Decaimento:

O processo de decaimento é de importância relativamente menor e é de difícil

quantificação. Os principais processos são os de ácido-base, solução-precipitação, oxidação-

redução, complexação e processos microbiológicos, que tem como conseqüência o

retardamento na velocidade de avanço do contaminante (NOBRE, 1987 apud VELOZO,

2006).

As considerações que foram feitas a respeito de alguns destes parâmetros nas

modelagens realizadas serão mais detalhadas no item de aplicação das ferramentas de água

subterrânea.

3.4.1. Advecção-Dispersão em meio poroso

O modelo de dispersão em duas dimensões em um meio poroso, governado

pela advecção-dispersão, escrito em termos das direções longitudinais (direção do fluxo) e

verticais (perpendiculares à direção do fluxo) XL e XT, respectivamente, usado na ferramenta

Porous Puff pode ser descrito pela equação 6:

(6)

Onde,

C = concentração do soluto;

D´L e D´T = coeficientes de eficácia de dispersão nas direções longitudinais e

transversais;

XL e XT = deslocamento na direção longitudinal e transversal;


29
λ = coeficiente de decaimento, assumido como constante para decaimento de

exponencial de primeira ordem.

A solução aproximada para esta equação é baseada na suposição de dispersão de Gaus,

de uma fonte pontual instantânea em um domínio de duas dimensões, com a concentração

inicial igual a zero. Com essas suposições obtemos a equação 7:

(7)
Onde,

M = massa de soluto derramada instantaneamente na fonte, em unidades de massa;

n = porosidade do aqüífero;

R = fator de retardação;

b = espessura do aqüífero em unidades de comprimento;

σ2i = variância da distribuição de Gaus nas direções longitudinais e transversais.

3.5. Sistema de Informação Geográfica – SIG

Segundo Câmara e Davis, a coleta de informações sobre a distribuição geográfica de

recursos minerais, propriedades, animais e plantas sempre foi uma parte importante das

atividades das sociedades organizadas. Até recentemente, no entanto, isto era feito apenas em

documentos e mapas em papel; isto impedia uma análise que combinasse diversos mapas e

dados. Com o desenvolvimento simultâneo, na segunda metade deste século, da tecnologia de

30
Informática, tornou-se possível armazenar e representar tais informações em ambiente

computacional, abrindo espaço para o aparecimento do Geoprocessamento.

Nesse contexto, o termo Geoprocessamento denota a disciplina do conhecimento que

utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e

que vem influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos

Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional. As

ferramentas computacionais para Geoprocessamento, chamadas de Sistemas de Informação

Geográfica (SIG), permitem realizar análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes

e ao criar bancos de dados georreferenciados. Tornam ainda possível automatizar a produção

de documentos cartográficos (CÂMARA e DAVIS, 2001).

Numa visão abrangente, pode-se indicar que um SIG tem os seguintes componentes

(RUFINO, FALCAO e PASSOS, 2006): interface com usuário; entrada e integração de

dados; funções de consulta e análise espacial; visualização e plotagem; e armazenamento e

recuperação de dados (organizados sob a forma de um banco de dados geográficos), ilustrado

na figura a seguir:

Figura 2. Estrutura geral de Sistemas de Informação Geográfica.


Fonte: CÂMARA E DAVIS, 2001.

31
Um sistema de Informação Geográfica (SIG) difere dos demais sistemas, pela sua

capacidade de estabelecer relações espaciais entre elementos gráficos. É o sistema mais

adequado para análise espacial de dados geográficos. Essa capacidade é conhecida como

topologia, ou seja, o estudo genérico dos lugares geométricos, com suas propriedades e

relações. Esta estrutura, além de descrever a localização e a geometria das entidades de um

mapa, define relações de conectividade, contigüidade e pertinência.

Além dos dados geométricos e espaciais, os Sistemas de Informação Geográfica

possuem atributos alfanuméricos. Os atributos alfanuméricos são associados com os

elementos gráficos, fornecendo informações descritivas sobre eles. Os dados alfanuméricos e

os dados gráficos são armazenados, geralmente, em bases separadas. Os programas para SIG

são projetados de modo a permitir exames de rotina em ambas as bases gráficas e

alfanuméricas, simultaneamente. O usuário é capaz de procurar informações e associá-las às

entidades gráficas e vice-versa.

Os dados utilizados em SIG podem ser divididos em dois grandes grupos: dados

gráficos, espaciais ou geográficos, que descrevem as características geográficas da superfície

(forma e posição) e os dados não gráficos, alfanuméricos ou descritivos, que descrevem os

atributos destas características. Os dados espaciais podem ser representados basicamente de

duas formas distintas em um SIG: vetorial (vetor) e matricial (raster). Já os dados

alfanuméricos ainda podem ser subdivididos em dois tipos: atributos dos dados espaciais; e

atributos georreferenciados.

3.5.1. SIG como Ferramenta de Modelagem Ambiental

Cada vez mais, os computadores vêm sendo utilizados como ferramentas de apoio a

procedimentos de estudos, de análises e de simulações em vários campos do conhecimento

humano. Sistemas complexos para análises e para modelagens foram desenvolvidos para se

32
trabalhar dados relacionados com áreas específicas como finanças, transportes, geologia,

solos, etc.

Nessa mesma tendência, sistemas de armazenamento, manipulação e apresentação de

dados espaciais, conhecidos como SIG, foram criados e estão sendo utilizados no campo das

ciências ambientais. Modelos matemáticos, aritméticos e lógicos, buscando representar

propriedades e processos do meio físico natural, têm sido implementados, nos SIG, com o

objetivo de facilitar o seu estudo e compreensão para que se possa atuar sobre o meio

ambiente de forma responsável e cooperativa.

Para que isto ocorra, este trabalho defende a idéia de que é imperativo que se

considere o tratamento das incertezas das representações dos dados espaciais envolvidos em

um modelo matemático ambiental apoiado em SIG. As incertezas destas representações, uma

vez propagadas para os resultados finais das modelagens, qualificam os produtos gerados em

SIG para o apoio efetivo aos processos de tomadas de decisão baseados nesses produtos

(FELGUEIRAS, 1999).

A potencialidade principal de um SIG está na sua capacidade de realizar análises

complexas a partir da integração, em uma base de dados única, de representações de dados

espaciais. Os procedimentos de análise espacial, desenvolvidos no ambiente de um SIG,

possibilitam, no estágio tecnológico atual, a análise de processos, alguns simples e outros

mais complexos, do mundo real. Para isto é necessário a criação de modelos ambientais, que

representem adequadamente o fenômeno natural em estudo. Assim, a modelagem ambiental,

neste contexto, consiste na criação de modelos matemáticos, determinísticos ou estocásticos,

que relacionam atributos ambientais na tentativa de representar o comportamento de um

processo ocorrendo na natureza. Os modelos ambientais são, então, transformados em

modelos computacionais para serem executados no ambiente de um SIG (FELGUEIRAS

op.cit.).

33
Como ferramenta de modelagem o SIG pode ser utilizado como pré-processador de

informações, empregando-se uma interface para conversão e transferência dos dados

armazenados em SIG para os arquivos de entrada dos modelos desenvolvidos em outros

programas computacionais. Após a execução do modelo, a interface é utilizada novamente

para que os arquivos de saída do modelo sejam transferidos para o SIG novamente, onde os

resultados obtidos pela simulação são apresentados. Nessa forma de integração, o SIG assume

o papel de pós-processador (TSOU; WHITTEMORE, 2001 apud Almeida, 2006).

Na segunda parte deste trabalho de iniciação científica foram utilizados modelos de

água subterrânea e a segunda possibilidade de integração dos modelos com SIG foi utilizada,

onde as equações do modelo (fluxo de água subterrânea, por exemplo) foram incorporadas

aos elementos do SIG, como funções de map algebra (sob a forma de ferramentas de análise

dos sistemas).

3.5.2. Modelagem Numérica e Meio Ambiente

O ambiente natural que foi estudado nesta pesquisa, que abrange modelos de dinâmica

de água superficial e subterrânea, apresenta processos de grande complexidade e necessita que

muitos dados e variáveis sejam considerados para uma representação adequada.

Particularmente, processos que envolvem fluxo de águas subterrâneas impõem algumas

dificuldades adicionais, por ocorrerem em uma dimensão visual e de contato diferente da que

vive o ser humano.

Segundo Todd (1959), a água utilizada como recurso hídrico para abastecimento e de

vital interesse para a humanidade, e como se sabe a maior parte de água doce disponível na

Terra encontra-se no subsolo. Conseqüentemente, a medida que a demanda por água

aumentou, os mananciais superficiais foram tornando-se insuficientes para o abastecimento de

grandes populações, estimulando a exploração da água subterrânea. Por esse motivo, o

entendimento dos processos que envolvem essas fontes é de grande importância publica e

34
ambiental. Além disso, o movimento das águas subterrâneas e superficiais é o principal e mais

eficiente agente geomórfico da superfície terrestre, iniciando vários processos de modelação.

O estudo da hidrogeologia impõe algumas dificuldades adicionais à hidrologia de

superfície por motivos intrínsecos ao meio. Estes motivos estão todos relacionados às

condições naturais que estabelecem especificidades ao entendimento do comportamento do

fluxo subterrâneo e sua interação com o meio. As dificuldades adicionais, entretanto, longe de

estabelecerem uma impossibilidade ao seu estudo, têm representado um desafio estimulante

aos pesquisadores que se dedicam a desvendá-las ao longo de décadas. Tal interesse é

plenamente justificado pela importância dos recursos hídricos subterrâneos (manancial e

fluxo) para as atividades sócio-econômicas e ao estudo de conseqüências ambientais

(RABELO, 2006).

A grande variabilidade natural dos parâmetros hidráulicos, teoricamente contínuos,

vinculados às formações que permeiam o fluxo subterrâneo e às tensões hidrológicas, permite

aos pesquisadores, numerosas considerações para simplificar este ambiente real, tornando

efetivamente possível seu estudo como um todo. Essas simplificações compõem as bases do

modelo conceitual adotado e implementado posteriormente pelo modelo matemático para

simular o comportamento do aqüífero. A implementação desses modelos, entretanto, requer

dados os quais, juntamente com os modelos conceitual e matemático, possuem incertezas

associadas, quaisquer que sejam as configurações adotadas entre os mesmos. O sucesso

atribuído à execução desses modelos tem como um de seus parâmetros principais a avaliação

das incertezas envolvidas nos seus dados e previsões (RABELO, 2006).

Portanto, os resultados obtidos pela aplicação dos modelos não retratarão fielmente a

realidade. Dessa forma é importante ressaltar que todos os resultados e interpretações

subseqüentes desses modelos devem ser vistos apenas como um guia para análises

posteriores.

35
3.5.3. Delimitação automática de redes de drenagem

Modelos digitais de elevação de terreno (MDTs) são úteis fontes de dados para

determinação automática de caminhos d’água, sub-bacias e sistemas de drenagem para

modelagem hidrológica. A representação digital de sistemas de redes de drenagem é essencial

para modelos hidrológicos distribuídos, pois ela grava os elementos de ligação do modelo

através dos quais o fluxo de água é encaminhado para o exutório. A escala (densidade de

drenagem) da rede de drenagem usada controla a escala da declividade do terreno e dos

elementos de canal. Embora o mapeamento de campo seja conhecidamente o modo mais

preciso para determinar sistemas de drenagem e densidade de drenagem, ele é freqüentemente

não prático, especialmente para grandes bacias hidrográficas. MDTs derivados de redes de

fluxo fornecem, então, uma substituição útil para sistemas de canais ou vales (TARBOTON e

AMES, 2001).

Há uma variedade de métodos para delimitar sistemas de drenagem, que utilizam

diferentes algoritmos como singular (drenagem para uma célula vizinha única), múltiplo

(repartição do fluxo entre células vizinhas) e métodos que utilizam o fluxo de direção para

computar área de contribuição e identificação da curvatura local. A escala da rede de

drenagem delineada é às vezes controlada por uma área suporte limitante, a qual pode impor

uma constante densidade de drenagem arbitraria e espacial (TARBOTON e AMES, 2001).

Dentre estes métodos de delimitação podem ser citados: avaliação da área de

contribuição e comprimento de drenagem (padrão); combinação área-declividade limitante

(MONTGOMERY e DIETRICH, 1992); e limite por seleção de densidade de drenagem por

análise de “Stream drop” (TARBOTON et al., 1991).

O primeiro método consiste na seleção de uma área de drenagem coerente com a

escala com que se está trabalhando. Basta dividir esta mínima área de drenagem a ser

36
considerada pelo quadrado do tamanho da célula (pixel), o resultado deve ser utilizado como

limite. Por exemplo, deseja-se considerar uma área de 10.000 m2 e as células possuem 10 m, o

limite seria 10.000/102 = 100. Adicionalmente, pode-se calcular o comprimento de drenagem

gerado desta forma e compará-lo com o observado em campo.

Tarboton et al. (1991) sugerem para a extração de redes de drenagem a partir de MDTs

que os fluxos extraídos devem ter propriedades tradicionalmente atribuídas a sistemas de

canais e ter a maior resolução possível. O procedimento consiste em procurar pela menor

escala, medida em termos de área suporte, na qual ocorre uma mudança de comportamento

nas leis que regem os processos nas elevações do terreno. Também é argumentado, que este

ponto de mudança de comportamento representa uma transição física dos mecanismos de

erosão e transporte em canal de escala grande, para mecanismos de erosão e transporte em

uma escala pequena.

3.6. SIG e Ferramentas de Modelagem Utilizados na Pesquisa

Neste trabalho, para realização das atividades propostas, foi utilizado o SIG ArcView

9.1. O SIG foi empregado para aplicar modelos numéricos relacionados ao fluxo de água

superficial (na primeira etapa) e subsuperficial (na segunda etapa da pesquisa) da área de

estudo. O SIG atuou como um pré e pós processador, os modelos já estão incorporados ao

mesmo e disponíveis na forma de ferramentas de hidrologia superficial (hidrology) e de água

subterrânea (groundwater). Logo, a principal atividade realizada no SIG foi a exploração

destas ferramentas de modelagem matemática, de forma a ser possível selecionar uma bacia

hidrográfica de interesse para, posteriormente, realizar análises mais detalhadas na área

selecionada.

O programa ArcView 9.1 foi produzido pela empresa ESRI. Fundada em 1969, a ESRI

tem se afirmado como líder mundial no desenvolvimento de tecnologia SIG, mais

37
marcadamente ainda a partir de 1982, com o lançamento da plataforma ArcInfo. O ArcGIS é

um conjunto de produtos integrados para construir seu Sistema de Informação Geográfica de

acordo com necessidades especificas. A arquitetura básica do ArcGIS está ilustrada na figura

a seguir:

Figura 3. Arquitetura básica do ArcGIS.

Dentre os produtos que compões o ArcGIS, o utilizado nesta pesquisa foi o Desktop

GIS que é o nome coletivo dado a três produtos: ArcView, ArcEditor e ArcInfo que trabalha

da mesma maneira (arquitetura comum). Eles apenas diferem pela quantidade de funções

disponíveis. ArcInfo tem mais funções que o ArcEditor, que por sua vez tem mais funções

que o ArcView. Neste projeto foi usado o ArcView. Para aplicar os modelos hidrológicos de

superfície e subsuperfície foram utilizadas as ferramentas de análise espacial (Spatial Analyst

Tools) existentes no ArcView.

Os modelos as seguir são os que estão por trás das ferramentas hidrológicas utilizadas

na pesquisa, e por isso serão brevemente descritos. Os modelos podem ser de dois tipos:

analógicos ou digitais.

38
Embora raramente considerados no contexto do SIG, modelos analógicos são ainda

hoje, provavelmente, o tipo mais comum. Um modelo analógico é definido como um modelo

em escala, uma representação do mundo real na qual toda parte do sistema real aparece em

miniatura no modelo. Claramente o sucesso de modelos analógicos depende do grau que os

sistemas podem ser escalonados – se a operação do sistema em escala é idêntica à operação

do sistema real. Uma medida importante de um modelo analógico é sua escala ou fração

representativa, a relação entre a distância entre dois pontos no modelo e a respectiva distancia

entre os correspondentes pontos no mundo real. Neste modelo, todos os aspectos do sistema

devem ser escalonados na mesma relação para que o modelo seja válido (GOODCHILD et al.,

2005).

Em um modelo digital ou computacional, todas as operações são conduzidas

utilizando um computador. Os dados são reunidos em um modelo de dados e codificados

usando uma variedade de esquemas de codificação que transformam aspectos relevantes do

mundo real em padrões de zeros ou uns. O modelo é também limitado a ser codificado na

mesma linguagem que o programa de computador ou software utilizam. Modelos digitais não

têm uma fração representativa, já que não há uma distancia nesse modelo para ser comparada

com o mundo real (GOODCHILD e PROCTOR, 1997). O nível do detalhamento geográfico é

capturado na resolução espacial, ou o tamanho da menor feição representada no modelo. Para

dados do tipo raster (matricial), este é o tamanho da célula individual ou pixel. Quando um

dado em SIG é criado pela digitalização de um mapa, é útil utilizar uma simples regra em que

a resolução espacial é aproximadamente 0,5 mm da escala do mapa – em outras palavras, um

mapa na escala 1:24.000 possui uma resolução espacial de aproximadamente 12 m

(GOODCHILD et al., 2005).

Além da resolução espacial, a resolução temporal também é importante em modelos

dinâmicos, pois ela define a duração de cada passo do modelo. Qualquer modelo dinâmico

39
procede numa seqüência discreta de passos, cada um representando um intervalo de tempo

fixo, e o software tenta prever o estado do sistema no final do passo baseado nas entradas do

começo de cada passo. Ambas as resoluções espacial e temporal necessitam ser apropriadas a

real natureza do processo a ser modelado. Nesta pesquisa foram utilizados apenas modelos

digitais.

O dado digital da forma da superfície do terreno mais comum (e base para todas as

aplicações desta pesquisa) é modelo de elevação digital do terreno (MDT), o qual é baseado

em células que juntas formam uma representação matricial de uma superfície contínua. A

precisão dos dados é determinada principalmente pela resolução, e também por outros fatores

como o tipo de dado e a exatidão da amostragem da superfície quando está se criando o MDT

original. A partir do MDT como entrada é possível realizar diversas outras análises, como a

determinação do sistema de drenagem.

Nesta pesquisa foram aplicadas basicamente ferramentas de análise de modelos de

escoamento superficial e subterrâneo disponíveis no SIG ArcGIS 9.1. Estes modelos estão

agrupados no SIG em ferramentas hidrológicas de análise do meio. Estas ferramentas estão

divididas em dois grupos: ferramentas de hidrologia de superfície (hydrology) e ferramentas

de hidrologia subterrânea (groundwater).

3.6.1. Ferramentas Hidrológicas de Superfície

A seguir, as ferramentas de hidrologia de superfície com suas respectivas descrições:

• BASIN: Esta ferramenta delimita bacias de drenagem dentro da área de analise

através da identificação de linhas divisoras entre as bacias. Basin analisa a superfície de fluxo

de direção para encontrar todos os conjuntos de células conectadas que pertencem à mesma

área de drenagem. As bacias de drenagem são criadas pela localização de pontos de exutório

nos limites da área de analise (onde a água sairia da superfície), bem como as depressões,

40
então identificando a área de contribuição de cada ponto de exutório. O resultado é um raster

contendo as bacias de drenagem.

• FILL: Depressões (e picos) são freqüentes erros devidos à resolução dos

dados. Depressões devem ser preenchidas para assegurar a delimitação apropriada de bacias e

canais. Se as depressões não forem preenchidas, o sistema de drenagem resultante pode ser

descontínuo. Esta função realiza iterações até que todas as depressões, dentro de um

determinado Z limite especificado, sejam preenchidas. À medida que são preenchidas, outras

depressões podem ser criadas nas fronteiras das áreas preenchidas, as quais serão removidas

na próxima iteração.

• FLOW ACCUMULATION: Cria a rede de drenagem de uma bacia pela

determinação de locais de acumulação de fluxo d’água. Pode ser entendida como o número de

células que fluem para dentro de cada célula (Figura 4).

Figura 4: Flow Accumulation.

Com isso, pode-se aplicar um valor limite para os resultados da função flow

accumulation e usando o Map Algebra, uma rede de drenagem pode ser delineada. Para isso é

necessário inserir uma das seguintes expressões na ferramenta Map Algebra:

Streamnet = con(floacc > 100,1) ou Streamnet = setnull(floacc < 100,1)

Em ambos os casos, todas as células com mais de 100 (limite) células fluindo para

dentro dela são marcadas com o número 1, e constituirão o sistema de drenagem, todas as

outras células são omitidas.

41
• FLOW DIRECTION: Esta função utiliza uma superfície (MDT) como

entrada e retorna um raster mostrando a direção de fluxo de cada célula (Figura 5).

Figura 5: Flow Direction.

• FLOW LENGTH: Um uso primário da ferramenta é calcular o mais longo

caminho de escoamento (drenagem) dentro de uma dada bacia. Pode ser utilizada para

calcular o tempo de concentração da bacia, isto pode ser feito utilizando-se a opção

“UPSTREAM”.

• SINK: Cria uma malha identificando todas as depressões ou áreas de

drenagem interna.

• STREAM ORDER: Determina uma ordem numérica para os segmentos de

um raster que representa canais de uma drenagem. Pode realizar esta determinação baseando-

se nos métodos de STRAHLER ou SHREVE.

• STREAM TO FEATURE: Permite converter uma rede de drenagem da forma

raster (matricial) para forma vetorial.

42
• WATERSHED: Delimita bacias de drenagem para uma determinada região

específica. Essa região é definida a partir de pontos de exutório que devem ser inseridos em

pontos de interesse.

3.6.2. Ferramentas Hidrológicas de Subsuperfície

Quanto às ferramentas de hidrologia subterrânea, que foram aplicadas na segunda

etapa desta pesquisa, apresentam-se suas descrições a seguir:

• DARCY FLOW: Calcula o balanço de volume residual de água subterrânea

(diferença entre o fluxo que entra e o que sai) para fluxo constante em um aqüífero, e o vetor

velocidade (expresso em direção e magnitude) para cada célula, utilizando a lei de Darcy e

campos de transmissividade, carga hidráulica, porosidade e espessura do aqüífero. Darcy

Flow aplica a lei de Darcy em células adjacentes a uma célula central, para calcular a

velocidade do fluido através das paredes da célula. Fazendo isso para todas as células, uma

malha de velocidades é criada, denominada campo de fluxo.

• DARCY VELOCITY: Calcula o vetor velocidade da água subterrânea para

cada célula utilizando a Lei de Darcy;

• PARTICLE TRACK: Calcula o caminho e o tempo de viagem de uma

partícula através de um campo de velocidade para um dado local de início, determinando a

sua localização futura. Esta ferramenta atravessa a linha entre dados matriciais e vetoriais,

pois gera uma série de segmentos de linhas (vetores) de uma malha de dados (matriz).

• POROUS PUFF: Calcula a dispersão bi-dimensional de um poluente em um

meio poroso uniforme, para uma fonte de poluição instantânea. Tem como base a equação de

advecção-dispersão (BEAR,1979; FREEZE e CHERRY, 1979; MARSILY, 1986). A

advecção do centro de massa da fonte introduzida segue o caminho de fluxo calculado pela

ferramenta anterior (Particle Track), e a dispersão é modelada como uma distribuição

gaussiana em volta deste centro de massa, como uma pluma por exemplo. Os resultados
43
produzidos por essa ferramenta são altamente idealizados e são adequados para uma

estimativa rudimentar da direção e características do transporte do poluente. Produz uma

malha (Grid) de concentração do poluente depois da advecção e dispersão.

4. ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo abrangeu a região metropolitana de João Pessoa (PB), perfazendo

uma área total de 208,61 km2 e 13 mapas topográficos na escala 1:10.000 (ANEXO 1). O

clima do município de João Pessoa está inserido dentro do domínio tropical quente-úmido,

fortemente influenciado pelos alísios marítimos e caracteriza-se por apresentar uma estação

seca observada nos meses de setembro a dezembro, sendo os meses mais secos outubro e

novembro, havendo neste período um pequeno aumento da temperatura, girando em torno de

27ºC, e uma estação chuvosa que vai de abril a agosto, retornando às condições de seca a

partir de setembro.

Os tipos de formações vegetais que predominam em João Pessoa, são caracterizados

por Formações Litorâneas, Campos de Várzeas, Manguezais e Matas de Tabuleiros. Os

remanescentes da vegetação natural da área vêm sendo rapidamente convertidos para diversos

usos em decorrência do impacto das atividades econômicas, especialmente aquelas

relacionadas à especulação imobiliária. Isto vem contribuindo para o desequilíbrio ambiental,

aumentado o risco de extinção local de grande parte de espécies endêmicas da fauna e da flora

(MORAIS, 2009).

O sistema hidrográfico do município de João Pessoa é caracterizado por duas bacias

hidrográficas, a do Rio Paraíba ao norte e a do Rio Gramame ao sul, entremeadas pelas bacias

dos rios Jaguaribe, Cabelo, Aratú, Jacarapé, Cuiá, Camurupim, de pequeno porte. Todos são

rios perenes e apresentam disposição paralela, ou seja, encontram-se orientados no sentido

oeste-leste (MORAIS, op. cit.).

44
Em relação à litologia do Estado da Paraíba, a tabela a seguir ilustra a seqüência lito-

estratigráfica que compõe a Bacia Sedimentar Costeira Paraíba-Pernambuco.

Tabela 1: Coluna lito-estratigráfica.

Fonte: COSTA (2006).


Observação: A formação Maria Farinha não ocorre no estado da Paraíba.

Dentre as formações descritas na Tabela 1, a formação Barreiras (Terciário) e

Coberturas (Quaternário) encontram-se na área delimitada para aplicação das ferramentas de

água subterrânea, e por isso, serão descritas mais detalhadamente a seguir, bem como os

aqüíferos encontrados inseridos nas formações em questão.

• Formação Barreiras

Essa formação é constituída por conglomerados de cor creme a avermelhada com

seixos e grânulos sub-angulosos de quartzo e blocos de argila retrabalhada, em corpos

tabulares a lenticulares de até 1m de espessura. Nesses conglomerados intercalam-se

seqüências de areias, siltes e argilas, repetida irregularmente na dimensão vertical, com

predominância ora da litologia arenosa, ora da siltosa, ora da argilosa, apresentando

granulometrias e cores variadas. O topo da seqüência encontra-se intemperizado, formando

solos areno-argilosos espessos, onde viceja a vegetação de grande porte da Mata Atlântica.

45
A espessura da Formação Barreiras, na área paraibana da Bacia Sedimentar Costeira

Paraíba- Pernambuco, a julgar pelos registros de perfuração de poços e pelos levantamentos

geofísicos, varia bastante, de um mínimo de 9 m (vale do Grotão) a um máximo de 110 m na

sede da cidade de Caaporã. A espessura média obtida em perfis de 68 poços com informações

dimensionais foi de 42 m (COSTA et al., 2007 apud COSTA, 2009).

Segundo Meneses et al. (2009), o Sistema Aqüífero Barreiras encontra-se inserido na

formação geológica de mesmo nome (descrita anteriormente) e que se estende ao longo de

quase toda a costa brasileira. Constitui um aqüífero predominantemente livre, que ocupa uma

área de 176.532 km2, com profundidade média em torno de 25 metros (COUTINHO, 1967

apud MENESES et al, 2009) e, no caso de João Pessoa, em estudo realizado por Costa et al

(2003) identificou-se um valor de condutividade hidráulica de 2,94 m.d-1 na Superfície dos

Tabuleiros, valor este relativamente baixo, especialmente quando comparado com regiões de

maior infiltração.

• Depósitos Quaternários

São compreendidos por depósitos de mangue, constituídos de sedimentos pelíticos,

terraços marinhos, constituídos, basicamente, por areias quartzosas de granulação média a

grossa; e aluviões, localizados nas bacias fluviais e constituídos de areias siltosas, as quais,

por suas características de boa porosidade e permeabilidade, apresentam grande possibilidade

de infiltração de água. Os aqüíferos nos aluviões e terraços marinhos são livres e dependem

da infiltração da águas das chuvas.

Os aqüíferos de sedimentos quaternários apresentam-se inseridos nos sedimentos

recentes, localizados nas áreas de cotas mais baixas, onde o processo predominante é o de

acumulação sedimentar, como no caso das margens fluviais e da Planície Marinha. O nível da

água nestes aqüíferos é bem próximo à superfície e, por vezes, aflorante. Esta característica

torna estes aqüíferos ainda mais vulneráveis uma vez que não há uma superfície de atenuação

46
para os casos de eventuais derramamentos de contaminantes. Outra característica deste

aqüífero é uma maior condutividade hidráulica (MENESES et al., 2009).

5. MÉTODO

O método utilizado na presente pesquisa consistiu basicamente nas seguintes etapas:

a) Planejamento: nesta etapa foi feita a definição dos objetivos da pesquisa, bem

como realizada uma pesquisa bibliográfica preliminar e foi estabelecido o método e as

principais atividades a serem executadas;

b) Revisão Bibliográfica: foi realizada a revisão bibliográfica sistemática sobre os

temas técnico-científicos principais abordados pelo estudo (conceitos gerais sobre a dinâmica

da água de superfície e subterrânea, ferramentas de análise desta dinâmica utilizando SIG) a

fim de possibilitar embasamento teórico para aplicação das ferramentas;

c) Levantamento de dados: foi feita a inserção dos dados planialtimétricos a fim

de constituir-se a base topográfica digital e os dados de sondagem a percussão (localização e

cotas do nível d’água);

d) Ensaios de Aplicação das Ferramentas de Análise do SIG: tendo os dados

previamente levantados foi possível aplicar as ferramentas de dinâmica das águas de

superfície, de águas subterrâneas e de dispersão de poluentes;

e) Análise dos Resultados: após aplicadas as ferramentas de modelagem do SIG

os resultados obtidos puderam ser avaliados em função do que era esperado;

f) Conclusões: com os resultados avaliados foi possível obterem-se as conclusões

evidenciando potenciais aplicações e possíveis limitações das principais ferramentas

utilizadas, com destaque para estudos de Engenharia Ambiental.

47
5.1. Aplicação das Ferramentas Hidrológicas de Superfície

Na primeira etapa da pesquisa, a partir da base topográfica digitalizada na pesquisa de

Doutorado vinculada foi possível obter o Modelo Digital de Terreno – MDT, e dessa forma,

identificar as unidades básicas de análise do terreno, que refletem o comportamento dos

fluxos hídricos. O MDT foi gerado a partir da ferramenta Topo To Raster e foram realizados

testes de validação deste resultado para garantir que o MDT fosse o mais próximo da

realidade possível, pois é a partir dele que todas as outras ferramentas são aplicadas.

Observou-se que as curvas interpoladas a partir do MDT grid apresentaram traçados

razoavelmente coincidentes com os das curvas de nível da base topográfica original. Além

disso, a maioria das curvas intermediárias geradas a partir do MDT (intervalo de 2,5 m)

também apresentaram um traçado compatível com a base topográfica de entrada. Pelo Topo to

Raster, os RMS obtidos foram de 0,67 (malha de 4 m) e 0,61 (malha de 5m) (SOARES,

2009).

Com o MDT gerado, as ferramentas de hidrologia de superfície existentes no SIG

ArcGIS 9.1 puderam ser aplicadas para toda a área digitalizada (17 folhas cartográficas na

escala 1:10.000). A aplicação das ferramentas acima citadas permitiu modelar o movimento

das águas superficiais e, conseqüentemente, delimitar as diferentes bacias hidrográficas

existentes na área de estudo.

As ferramentas hidrológicas de superfície foram então aplicadas para possibilitar a

geração de resultados iniciais, que permitissem a delimitação de uma bacia de interesse para

posteriores análises. A execução das ferramentas seguiu o seguinte fluxograma:

48
Figura 6: Fluxograma de ferramentas hidrológicas de superfície utilizadas.

A partir do MDT previamente gerado na pesquisa, utilizou-se a ferramenta FLOW

DIRECTION, obtendo-se um raster contendo a direção preferencial de fluxo para cada célula.

Esta superfície gerada podia conter depressões que podem implicar em resultado errôneo do

fluxo. Para localizar estas possíveis depressões utilizou-se a ferramenta SINK, que utiliza a

superfície de direção de fluxo e retorna um raster com as depressões existentes.

Em seguida, foi necessário preencher as depressões identificadas. Estas depressões

podem ser totalmente preenchidas ou pode-se estabelecer um limite de preenchimento. É

importante ressaltar que podem existir depressões legítimas do local, sendo importante

entender a morfologia para diferenciar erros de depressões reais.

Para preencher as depressões utilizou-se a ferramenta FILL, que usa de entrada a

superfície a ser preenchida (MDT) e opcionalmente um limite de preenchimento, e gera um

raster com as depressões preenchidas. Quando uma depressão é preenchida, as fronteiras da

área preenchida podem criar uma nova depressão, que precisará ser também preenchida,

49
tornando este processo iterativo. Para calcular tal limite citado utilizou-se a ferramenta

SINGLE OUTPUT MAP ALGEBRA de cálculo do ArcGIS 9.1. Neste caso, obtiveram-se

resultados semelhantes para os dois métodos utilizados (com e sem definição de limite).

Com relação ao limite de preenchimento citado, há duas maneiras de defini-lo: deixar

o preenchimento padrão, que consiste em preencher todas as depressões encontradas; ou

determinar um z-limite apropriado, calculando a profundidade de uma depressão ou de um

grupo de depressões, levando em consideração os erros que podem existir, determinando

quais depressões são legítimas. A seguir, os passos seguidos para obter este z-limite:

1. Foi criado um raster de depressões utilizando a ferramenta “SINK”, como já

descrito anteriormente;

2. Utilizou-se a função “WATERSHED” (que será descrita mais detalhadamente

em outro item) para criar um raster de área de contribuição para cada depressão;

3. Utilizando a ferramenta “MAP ALGEBRA” criou-se um raster contendo a

mínima elevação de cada depressão na bacia, inserindo-se a seguinte expressão:

sink_min = zonalmin (sink_areas, elevation) (9)

Onde, sink_areas representa o raster criado pela função “WATERSHED”;

4. Novamente, utilizando a ferramenta “MAP ALGEBRA” criou-se um raster

contendo a máxima elevação de cada depressão na bacia, inserindo-se a seguinte expressão:

sink_max = zonalfill (sink_areas, elevation); (10)

5. Finalmente, utilizando a ferramenta “Map ALGEBRA”, subtraiu-se o mínimo

valor do máximo, e encontrou-se a profundidade, utilizando-se a seguinte expressão:

sink_depth = sink_max–sink_min (11)

É este raster contendo a profundidade que foi utilizado como z-limite apropriado.

A partir do MDT preenchido, gerou-se novamente um raster contendo a direção do

fluxo de cada célula. Então, a partir deste novo fluxo de direção, utilizou-se a ferramenta

50
FLOW ACCUMULATION para gerar um raster contendo o fluxo acumulado de cada célula,

ou seja, o número de células que escoa para dentro de cada célula.

Possuindo o raster do fluxo acumulado tornaram-se possíveis análises para o sistema

de drenagem, porém, para realizar essa delimitação automática do sistema de drenagem, é

necessário, contudo, que seja aplicado um valor limite para os resultados do fluxo acumulado,

ou seja, é necessário que se defina um valor a partir de quantas células fluindo para um

mesmo ponto caracteriza-se um canal de drenagem. Esta definição deve ser realizada baseada

em algum critério para que o resultado obtido se aproxime do comportamento real de campo.

Tendo definido o critério a ser utilizado o seguinte procedimento deve ser realizado para gerar

o sistema de drenagem.

Aplica-se o valor limite definido utilizando-se a ferramenta “MAP ALGEBRA” na

seguinte expressão:

streamnet = setnull (flowacc < 100, 1) (12)

Neste exemplo, todas as células com valores de fluxo acumulado superiores a 100

receberão valor um, todas as células restantes serão definidas como “NoData”. Dessa forma,

será gerado o raster de um sistema de drenagem, contendo apenas as células com mais de 100

células fluindo para dentro.

Tendo definido o limite de contribuição, obteve-se o sistema de drenagem e

aplicaram-se as seguintes ferramentas: STREAM ORDER que permitiu encontrar a ordem da

drenagem; e STREAM TO FEATURE que converteu as drenagens para o formato vetorial.

Aplicou-se também a ferramenta FLOWLENGTH que utilizou o raster do sistema de

drenagem gerado para calcular o comprimento da respectiva drenagem. Finalmente, aplicou-

se a ferramenta WATERSHED para delimitar bacias a partir de pontos de interesse

(exutórios) inseridos, também se utilizou uma ferramenta adicional BASIN que também gera

bacias (apenas utilizando o raster de direção de fluxo) para comparar os resultados.

51
5.2. Aplicação das Ferramentas Hidrológicas de Subsuperfície

A primeira etapa da pesquisa (ferramentas hidrológicas de superfície) possibilitou a

seleção de uma área de interesse para aplicação das ferramentas hidrológicas de subsuperfície.

Selecionou-se um trecho da área urbana no extremo nordeste do município de João Pessoa,

incluindo segmentos das bacias hidrográficas do Rio Jaguaribe e Costeira. Foram escolhidas

26 sondagens à percussão realizadas durante o período chuvoso da área de estudo, para que os

valores de profundidade de nível d’água obtidos nestas sondagens refletissem a mesma

condição pluviométrica, de forma a gerar uma superfície condizente com a realidade. Vale

ressaltar que todas as modelagens aplicadas consideraram apenas o aqüífero livre, em função

das profundidades de nível d’água obtidas pelas sondagens a percussão.

O ANEXO 3 mostra essa área contendo os furos de sondagem, bem como as

formações geológicas do local. As ferramentas hidrológicas de subsuperfície previamente

descritas puderam, então, ser aplicadas gerando resultados que permitiram visualizar a

dinâmica do fluxo de água subterrâneo (na zona saturada). A execução das ferramentas seguiu

o seguinte fluxograma:

Figura 7: Fluxograma das ferramentas de subsuperfície utilizadas.

52
Primeiramente, foi necessário gerar um raster contendo a superfície freática, um

contendo valores da espessura saturada, um com valores de porosidade efetiva e outro com

valores da transmissividade do aqüífero (todos os rasters de entrada devem ter o mesmo

tamanho de célula). Estas são as entradas para utilização da primeira ferramenta DARCY

FLOW, que calcula o balanço do volume residual para cada célula. A ferramenta considera

um fluxo constante dentro do aqüífero a ser modelado.

Em seguida, aplicou-se a ferramenta DARCY VELOCITY, que utiliza as mesmas

entradas da ferramenta descrita anteriormente e retorna os grids contendo a direção e

magnitude do fluxo. Estes dois resultados foram combinados para gerar o campo de vetores

de fluxo.

O passo seguinte foi inserir pontos de interesse na área para simular a trajetória que

uma partícula saindo destes pontos descreveria. Para isso foi utilizada a ferramenta

PARTICLE TRACK que recebeu como entrada os rasters de magnitude e direção de fluxo

gerados anteriormente, além das coordenadas espaciais do ponto de interesse, neste caso,

foram inseridos dois pontos. O algoritmo da ferramenta utiliza-se um esquema previsor-

corretor para prever a posição futura de uma partícula baseado no campo local de velocidade

de fluxo, interpolado do centro da célula mais próxima. Opcionalmente, gerou-se um polígono

contendo a trajetória descrita pela partícula. Para utilizar essa ferramenta foi necessário

alocarem-se pontos de interesse, a partir dos quais foi determinado o caminho da partícula.

Finalmente, aplicou-se a ferramenta POROUS PUFF que recebe como entrada o

arquivo gerado pela ferramenta PARTICLE TRACK, bem como os rasters de porosidade

efetiva e de espessura saturada, além da massa de contaminante introduzida. Essa ferramenta

permite traçar a pluma do contaminante em diferentes intervalos de tempo.

A seguir, será mais bem detalhado todo o processo descrito acima além da

apresentação e discussão dos resultados obtidos.

53
6. RESULTADOS

6.1. Modelagem dos Recursos Hídricos Superficiais

6.1.1. Flow Direction

Após ter sido encontrado o limite de preenchimento, foi gerado o MDT sem

depressões e a ferramenta “FLOW DIRECTION” foi reaplicada, resultando em um raster de

direção de fluxo sem falhas, mostrada (em detalhe) na figura a seguir:

Figura 8: Raster de direção de fluxo com depressões preenchidas.

As duas formas de definição de limite de preenchimento foram utilizadas e notou-se

que, neste caso, não houve diferença entre um modo e outro. Tal fato revela que as depressões

encontradas pela ferramenta “SINK” eram realmente todas devidas a erros, não sendo

encontrada nenhuma depressão legítima da topografia. De fato, a região de estudo é bastante

54
plana. Contudo, foi imprescindível a aplicação da ferramenta “SINK”, pois foram encontrados

vários erros nos dados (depressões) o que resultou em uma sensível diferença entre os raster

de fluxo de direção criados com e sem o preenchimento das falhas.

6.1.2. Flow Accumulation

Esta função calcula o fluxo acumulado de cada célula, ou seja, quantas células

estão fluindo para dentro de cada célula. Havia uma opção adicional de atribuir um peso para

cada célula, que não foi utilizada, neste caso um valor de um foi atribuído a cada célula. Um

exemplo de como este peso poderia ser utilizado nesta função seria determinar quanta chuva

precipitou dentro da dada bacia. Neste caso, o raster de peso seria um raster contínuo

representando a média de precipitação ao longo de uma dada tempestade. O resultado desta

função representaria a quantidade de chuva que fluiria para cada célula, assumindo que toda a

chuva transforma-se em escoamento e que não ocorre interceptação, evapotranspiração, ou

perdas para o solo.

No raster de fluxo acumulado gerado células com valores altos são áreas de

concentração de fluxo e podem ser utilizadas para identificação de canais, células com valores

de zero são pontos topográficos elevados e podem ser utilizados para identificar divisores de

água. O mapa temático gerado para esta ferramenta não ficou muito didático, e por isso

nenhuma imagem referente a ele será apresentada.

Foi possível identificar que realmente as regiões que apresentam os valores mais altos

de fluxo acumulado, correspondem às regiões onde ocorrem as principais drenagens. Valores

intermediários podem indicar caminhos preferenciais de escoamento de água e drenagens

intermitentes e os locais onde o valor foi zero constituíam-se nos divisores de água de bacias

ou sub-bacias.

55
Esta ferramenta pode ser utilizada para estudos hidrológicos de uma área, pois permite

identificar a dinâmica do fluxo superficial, evidenciando pontos de acúmulo de água bem

como os divisores. Além disso, esta ferramenta permite levar em consideração fatores

externos que influenciam na dinâmica do escoamento como precipitações, se for necessário

que um estudo mais detalhado e preciso seja realizado.

Este resultado foi de suma importância para dar início às análises de fluxos de

drenagem da área de estudo, pois foi aplicado na definição da rede de drenagem mais

adequada à escala. O procedimento para esta delimitação será descrito detalhadamente no

tópico a seguir.

6.1.3. Stream Network

Existem vários critérios que vem sendo utilizados para definição do valor limitante

para definição do sistema de drenagem, alguns destes critérios foram apresentados na revisão

bibliográfica. Neste trabalho foi selecionado o método padrão de avaliar a área de

contribuição e comprimento de drenagem resultante. Foram selecionadas duas áreas de

contribuição coerentes com a escala para verificar os resultados e compará-los, são elas 1 ha e

10 ha. Aplicando este método, conhecendo o tamanho da célula, igual a 4 m, obtiveram-se

valores limites de 625 e 6250 para as áreas de 1 ha e 10 ha, respectivamente. Aplicando-se

estes valores na expressão (12), obtiveram-se duas redes de drenagem distintas que foram

comparadas entre si e com a drenagem digitalizada, ilustrado na figura a seguir:

56
Figura 9: Comparação entre as diferentes redes de drenagem criadas.

Na figura 9, (um recorte do mapa para facilitar a visualização) os canais azuis

representam a drenagem digitalizada, os amarelos representam a drenagem gerada para uma

área de contribuição de 10 ha e os verdes para uma área de 1 ha. Nota-se que para uma área de

contribuição menor exigida, a densidade de drenagem será maior. Além disso, as drenagens

geradas pela ferramenta apresentaram comportamento muito semelhante ao da drenagem

digitalizada, apenas possuindo maior densidade de drenagem. Um motivo para esta densidade

ser maior na rede de drenagem gerada é o fato de esta considerar drenagens que não são

perenes, mas são importantes de serem delimitadas, pois participam e influenciam nos

processos hidrológicos de superfície.

Esta ferramenta se mostra importante em estudos hidrológicos e de recursos hídricos,

pois permite identificar drenagens que poderiam não ser localizadas no trabalho de campo por

serem intermitentes. Contudo, em função da precisão desejada é necessário que seja

57
selecionado o método de determinação de células de contribuição mais adequado. Além disso,

o trabalho de campo é imprescindível para comparação dos resultados.

Além da comparação visual entre as drenagens também foi aplicada a ferramenta que

permite calcular a extensão da rede de drenagens, a fim de possibilitar um maior contraste na

comparação das diferentes redes de drenagem. Os resultados são apresentados a seguir:

Tabela 2: Comparação entre os comprimentos das diferentes redes de drenagem.


Comprimento
Drenagem total das
drenagens (m)
Digitalizada 214225
Área de
Contribuição 352809
de 10 ha
Área de
Contribuição 1184884
de 1 ha

Os resultados evidenciam mais claramente a extensão de drenagem que estava sendo

ignorada. Portanto, esta ferramenta se mostrou útil na delimitação de drenagens, permitindo

identificar trechos de canais importantes que poderiam estar sendo ignorados na drenagem

digitalizada.

Após estas análises de extensão e densidade de drenagem, foi realizada a determinação

da ordem da drenagem, que é um método de designar uma ordem numérica para os canais de

uma rede de drenagem. Esta ordenação é um método para identificar e classificar tipos de

canais baseado em seus tributários. A função que realiza esta operação é a “STREAM

ORDER”, e pode utilizar dois métodos para isso: o proposto por Strahler e o proposto por

Shreve. Por ser mais comumente utilizado, o método de Strahler foi utilizado nesta pesquisa.

O resultado obtido foi para a rede de drenagem gerada considerando uma área de

contribuição de 10 ha, uma ordem final 4 e para aquela que considerou uma área de

contribuição de 1 ha, uma ordem final 6. Este resultado encontra-se dentro do esperado, pois
58
uma vez que a drenagem que utilizou uma área de 1 ha considera um maior número de canais

é natural que apresente uma ordem final maior, pois apresenta um maior número de

tributários. A seguir, figura 9 ilustrando as diferenças de ordem para as duas redes de

drenagem:

59
A

B
Figura 10: Comparação entre as ordens das redes de drenagem.

60
6.1.4. Watershed

Esta ferramenta foi implementada utilizando-se o raster que continha a direção de

fluxo, previamente gerado, além disso, também foram adicionados três pontos de interesse

(exutório). Estes pontos foram definidos nas saídas das três principais bacias identificadas

visualmente na área. Durante o processo, foi necessário tomar alguns cuidados como o de

garantir que os pontos de exutório alocados estivessem localizados exatamente em cima da

rede de drenagem, para garantir que a área contribuinte esteja realmente relacionada às

drenagens. A seguir uma figura ilustrando o resultado obtido para dois pontos de exutório

selecionados.

Figura 11: Bacias Hidrográficas geradas a partir de exutórios definidos.

61
Estes resultados mostram que esta ferramenta pode ser utilizada para uma

melhor gestão de bacias, pois permite, a partir da alocação de um exutório de interesse, a

identificação de toda a área de contribuição deste exutório. Tendo sido esta área determinada

é possível aplicar conhecimentos de diversas áreas para obterem-se informações de interesse

desta sub-bacia. Um exemplo seria obter a vazão de escoamento superficial ou o tempo de

concentração da sub-bacia em questão, aplicando algum método da hidrologia, como o

método racional.

6.1.5. Basin

A ferramenta “BASIN” é uma forma alternativa de delimitar bacias hidrográficas, ela

exerce essa função pela identificação de linhas divisoras entre bacias. “Basin” analisa o raster

de fluxo de direção para encontrar todos os conjuntos de células conectadas que pertencem à

mesma bacia de drenagem. As bacias são criadas localizando os pontos de exutório nas

extremidades da janela de analise (onde a água escoaria para fora do raster), assim como as

depressões. Então identifica as áreas de contribuição sobre cada ponto de exutório, resultando

num raster com bacias (e sub-bacias) de drenagem.

Esta ferramenta apenas necessitou do raster de direção de fluxo como entrada e

gerou um raster bem condizente com a realidade. De fato, se comparado com as bacias

geradas pela outra ferramenta, percebe-se que para os canais de drenagem em questão as

bacias ficaram parecidas, a diferença é que a ferramenta “WATERSHED” gera bacias a partir

de pontos de interesse. Já a ferramenta “BASIN” gera bacias para toda a área e permite a

classificação do seu resultado de acordo com o interesse, por exemplo, se for desejável

verificar a existência de sub-bacias menores, basta aumentar o numero de classes do tema, se

for importante ter uma visão mais ampla de bacias maiores, basta diminuir o número de

classes.

62
Para fins de comparação foram gerados dois conjuntos de bacias. Um contendo

apenas seis bacias maiores, e outro incluindo vinte bacias e sub-bacias. A seguir, será

apresentado um recorte dos mapas gerados para comparação dos resultados (Figuras 12 e 13).

Além dessa figura, também se encontra em anexo o mapa contendo seis bacias maiores no

tamanho (ANEXO 2) a fim de ser comparado com o mapa gerado pela ferramenta

“WATERSHED”.

Nota-se que à medida que aumentaram o número de classes aumentou o nível de

detalhamento das bacias, e sub-bacias que não foram representadas no mapa com seis classes

surgem na representação com vinte classes. Esta ferramenta é importante, pois permite gerar

rapidamente bacias que se aproximam da realidade, necessitando para isso apenas do raster

com a direção de fluxo.

Figura 12: Mapa gerado pela ferramenta “Basin” com 6 classes.

63
Figura 13: Mapa gerado pela ferramenta “Basin” com 20 classes.

6.2. Modelagem dos Recursos Hídricos de Subsuperfície

6.2.1. Darcy Flow

Para gerar o raster da superfície freática foram utilizados os dados de nível de água

subterrânea de furos de sondagem. A partir dos valores de nível d’água de alguns furos de

sondagem existentes na área de interesse (delimitada na etapa anterior da pesquisa), foi

possível interpolar uma superfície freática utilizando a ferramenta existente chamada TOPO

TO RASTER. O processo é semelhante ao da geração de um MDT, a partir da interpolação de

cotas conhecidas. O resultado obtido é exibido no ANEXO 4.

Analisando a imagem, pode-se notar que o resultado está dentro do esperado, com as

cotas mais altas do nível freático coincidindo, aproximadamente, com as cotas mais altas do

terreno. Para verificar a consistência do resultado, além da análise visual também foi feita

uma subtração entre o MDT e a superfície gerada utilizando a ferramenta SINGLE MAP

64
ALGEBRA. Valores negativos representam pontos que o nível d’água encontra-se acima do

terreno, isso só deveria ocorrer nas drenagens. De fato, o resultado, exibido na figura 14,

evidenciou que resultados negativos até valores próximos a 1 (pintados de cinza e rosa,

respectivamente) ocorrem nas proximidades das drenagens, indicando um resultado

consistente com a realidade.

Figura 14: Diferença entre o MDT e a superfície freática.

Para gerar os rasters contendo valores de espessura saturada, porosidade efetiva e

transmissividade, foi necessário consultar a bibliografia para encontrar valores adequados

para a formação que se encontra na área. São elas: a Formação Barreiras e a Formação de

Depósitos Quaternários descritos anteriormente. Os parâmetros de interesse acima citados

foram encontrados na mesma bibliografia utilizada no item de descrição das unidades. Os

valores adotados desses parâmetros foram sintetizados, conforme mostra a tabela a seguir:

65
Tabela 3: Valores máximos, médios e mínimos dos parâmetros de entrada.
Espessura Saturada Porosidade Transmissividade
Formação (m) Efetiva % (m²/s)
Barreiras 84 5 0,0046
Barreiras 73 5 0,00396
Barreiras 62 5 0,0017
Depósitos
Quaternários 80 10 0,0316
Depósitos
Quaternários 50 10 0,007
Depósitos
Quaternários 20 10 0,000019
Fonte: Adaptado de MONTEIRO 2002.

Nota-se que foram utilizados valores médios, mínimos e máximos encontrados na

bibliografia a fim de permitir uma comparação entre os resultados obtidos para os diferentes

valores. Foi também necessário admitir que esses valores são constantes ao longo de cada

unidade geológica. Esses valores foram inseridos na tabela de atributos do tema já existente

“unidades geológicas”, e em seguida foi utilizada a ferramenta POLYGON TO RASTER

dentro de “Conversion Tools” para criar o raster contendo os valores do parâmetro de

interesse. Esse procedimento foi feito para todos os valores exibidos na tabela 3. Criaram-se

assim, os rasters necessários de entrada.

Finalmente, foi possível aplicar a ferramenta DARCY FLOW que calculou o

volume residual para cada célula. Como os cálculos são executados através de cada uma das

quatro paredes da célula independentemente, é possível que mais ou menos água flua para

dentro ou fora de uma célula, resultando num valor positivo ou negativo de volume residual.

Um raster de entrada consistente, sem poços de bombeamento, infiltrações ou vazamentos

devem produzir pequenos residuais, próximos a zero. Altos valores residuais indicam que o

raster da superfície freática não está adequado com o respectivo raster de transmissividade,

66
porosidade e espessura saturada. Se isso ocorrer, os dados de entrada são inconsistentes e

produzem resultados sem significado.

Neste caso, o residual obtido foi na maior parte da área próximo a zero

conforme ilustra a figura 15. Se comparado aos resultados obtidos por Oliveira e Augusto

Filho (2008), os obtidos na presente pesquisa podem ser considerados mais consistentes, pois

os valores foram mais uniformes em toda a área (e próximos de zero). Tal fato pode ser

justificado pela existência de mais furos de sondagem na área modelada nesta pesquisa, que

permitiram a obtenção de mais dados de nível d’água, resultando numa interpolação mais

condizente com a realidade.

Figura 15: Residual.

Para analisar qualitativamente os resultados de residual obtidos, foi feita uma

comparação entre os valores de residual com o valor da vazão que sai de cada pixel, que pode

ser obtida através do raster de magnitude de fluxo que foi gerado na ferramenta que será

descrita no próximo item. Para obter a vazão que sai de cada pixel basta multiplicar o raster

da magnitude pela área de cada pixel (no caso 16 m2) utilizando para isso a ferramenta

67
SINGLE MAP ALGEBRA. Utilizando essa mesma ferramenta calculou-se a porcentagem do

residual em relação à vazão que sai de cada pixel. O resultado encontra-se no ANEXO 5.

Para facilitar a visualização do resultado, foi utilizada a ferramenta CALCULATE

AREAS de modo a obter-se a porcentagem em área de cada faixa de erro. O resultado é

mostrado na figura 16. Pode-se observar que predominam valores de erro entre 1 e 5%, e em

segundo lugar valores de erro até 1%, sendo que essas duas faixas principais somadas

ocupam, aproximadamente 70% da área total. Esse resultado mostra que o erro foi baixo, e

portanto, o resultado pode ser considerado consistente, confirmando o que havia sido suposto

em função dos valores de residual serem próximos a zero.

Figura 16: Comparação entre as áreas de cada faixa de erro percentual.

Esta ferramenta permite indicar o balanço hídrico da água subterrânea e com isso

permite identificar se está ocorrendo acúmulo ou retirada de água em determinada região. Se

isso for verificado, pode ser um indício de que algum evento pode estar causando um

desequilíbrio no balanço hídrico do local e serve como base para que estudos mais detalhados

possam ser realizados.

68
6.2.2. Darcy Velocity

O fluxo de velocidades é representado por dois rasters, um de magnitude e outro de

direção. Estes dois rasters são os resultados desta ferramenta.

A fim de melhorar a visualização dos resultados os rasters de magnitude, que pode ser

entendido como vazão específica (em m/s), e de direção (de o a 360º) foram combinados,

gerando um campo de vetores onde o tamanho do vetor indica a magnitude e sua angulação

indica a direção de escoamento. Para isso, foi criado um tema de pontos ao longo de toda a

área, e para este tema foram extraídos os valores da direção e magnitude. Dessa forma, foi

possível reclassificar a legenda de forma a obter o resultado mostrado a seguir:

Figura 17: Resultado dos grids magnitude e direção combinados.

Os valores de entrada que produziram melhor resultado foram os valores

médios, apresentados na tabela 3. De fato, analisando-se o ANEXO 6 (representando os

resultados obtidos utilizando os valores médios), verifica-se que este resultado é adequado

para a área, com os fluxos se dirigindo dos divisores (áreas de recarga) para as drenagens

69
(áreas de descarga), apresentando maior magnitude em áreas de maior declividade, que

possuem maior gradiente hidráulico, conforme o esperado. Novamente, comparando-se estes

resultados com os de Oliveira e Augusto Filho (2008), nesta pesquisa foram obtidos valores

na faixa de 0,01 a 10 m/dia enquanto que na outra os valores encontraram-se na faixa de 0,001

a 0,1 m/dia. Isso ocorre, pois o material em que se encontra o aqüífero desta pesquisa é muito

mais arenoso do que o da outra pesquisa, e por isso, apresenta valores muito maiores de

transmissividade e porosidade, o que favorece o fluxo de água subterrânea.

Esta ferramenta pode ser aplicada em estudos hidrológicos preliminares, pois permite

que se obtenha uma noção da dinâmica da água subterrânea identificando o fluxo da água e

serve como base para aplicação das próximas ferramentas que detalham melhor essa

dinâmica.

6.2.3. Particle Track

A ferramenta retorna um arquivo texto com a posição da partícula em diferentes

intervalos de tempo. Foi também gerado o traçado mostrando o caminho de cada partícula de

forma a facilitar a visualização, este traçado é exibido na figura a seguir:

Figura 18: Trajetória de duas partículas.


70
Pode-se observar que o caminho descrito pelas partículas segue q tendência do

campo de fluxo (mostrado em anexo, citado anteriormente), sendo que uma das partículas

caminha até atingir a drenagem (ponto 1), enquanto a outra descreve um caminho maior

(ponto 2) até chegar num ponto onde os valores de magnitude de fluxo são muito pequenos.

Os tempos de percurso total de cada partícula são, aproximadamente, 17,7 e 2,8 anos para as

partículas 2 e 1, respectivamente.

Estes podem ser considerados valores baixos, que se justificam pelo fato do aqüífero

apresentar valores altos de magnitude de fluxo de água. Tal fato pode resultar, no caso de um

vazamento de um poluente, que o mesmo se desloque rapidamente, contaminando grandes

áreas em pouco tempo. Este fenômeno foi mais bem avaliado pela próxima ferramenta.

6.2.4. Porous Puff

Para realizar uma simulação de contaminação por vazamento foram

considerados os pontos 1 e 2 (utilizados na ferramenta PARTICLE TRACK) como pontos de

vazamento. A ferramenta POROUS PUFF permite calcular a dispersão em massa de um

soluto introduzido no aqüífero, assume que o aqüífero é misturado verticalmente, ou seja, a

concentração é a mesma pela seção vertical. O que permite a aplicação do modelo matemático

de dispersão (descrito anteriormente).

Os parâmetros de entrada dessa ferramenta são: porosidade do meio, espessura

saturada e caminho da partícula (obtidas anteriormente); quantidade do poluente derramado

instantaneamente (foi considerado um valor de contaminante dissolvido igual a 1000 kg); e

tempo de dispersão (dever ser menor ou igual ao máximo tempo da trajetória da partícula,

foram feitas três modelagens, uma com 1 mês, outra com 6 meses e outra com 2 anos, para o

ponto 1; e uma com 6 meses, outra com 2,5 anos e outra com 15 anos, para o ponto 2). Outros

parâmetros opcionais como dispersividade longitudinal, razão de dispersividade, fator de

71
retardamento e coeficiente de decaimento, foram considerados os valores padrões indicados

pela própria ferramenta.

O resultado desta modelagem pode ser visto no ANEXO 7, por terem sido

utilizados três tempos de dispersão, a visualização do deslocamento da pluma ficou facilitada.

Verificou-se que as plumas se deslocam rapidamente pelo aqüífero, principalmente na área de

Depósitos Quaternários pela característica do meio ter elevada porosidade. As plumas

apresentam forma elíptica com eixo centrado na trajetória da partícula, isso justifica o fato da

pluma mudar de sentido de dispersão nos locais onde havia mudança de sentido da trajetória.

A pluma que sai do ponto 1 percorre um caminho menor, pois o gradiente hidráulico é maior

na região em que se encontra, além de existir a drenagem relativamente próxima ao ponto. Já

a pluma que se desloca a partir do ponto 2, percorre um caminho maior e, conseqüentemente,

demora um maior tempo para atingir seu ponto final.

Este tipo de modelagem é importante, pois permite predizer o comportamento de uma

pluma de contaminantes na área, permitindo que no caso de um vazamento ações mitigadoras

sejam tomadas para evitar-se ao máximo a dispersão do contaminante.

As duas últimas ferramentas descritas podem servir de grande auxílio nas áreas de

recuperação de áreas degradadas e remediação de áreas contaminadas, pois os dados podem

ser trabalhados de forma que resultados de interesse sejam obtidos para decidir se é necessário

ou não intervir numa área de estudo e qual a emergência desta intervenção, no caso de

deslocamento rápido de contaminantes.

6.3. Análise dos Resultados

Na primeira fase da pesquisa foram realizados o treinamento e ensaios de aplicação de

todas as ferramentas de modelagem e de análise das águas de superfície. As ferramentas

FLOW DIRECTION, FLOW ACCUMULATION, STREAM NETWORK, WATERSHED e

72
BASIN se mostraram bastante úteis tanto no tratamento como na hierarquização automática

dos canais de drenagem, bem como, na delimitação e na análise de bacias hidrográficas.

A ferramenta FLOW ACCUMULATION permitiu a identificação de regiões com

maior ou menor fluxo acumulado dentro da área de estudo. Possibilitando a diferenciação

entre pontos de drenagem, divisores de água e caminhos preferenciais de escoamento. Tal

resultado se mostra bastante importante como suporte para previsão da dinâmica de

escoamento superficial da região.

A ferramenta STREAM NETWORK realizou a delimitação da rede de drenagens

baseada no critério de área de contribuição e comprimento de drenagem, evidenciando trechos

de drenagem que haviam sido ignorados na digitalização. Conseqüentemente, resultou-se em

uma rede com ordem de drenagem diferente daquela para a rede digitalizada. Esta

determinação é importante, pois algumas características dos canais podem ser inferidas por

simplesmente saber sua ordem. Por exemplo, canais de primeira ordem são dominados pelo

fluxo terrestre de água, eles não possuem nenhum fluxo concentrado a jusante. Por esse

motivo, eles são mais susceptíveis a problemas de fontes de poluição não pontuais e podem

ser mais beneficiadas por extensas áreas ripárias se comparadas com outras áreas da bacia.

A ferramenta WATERSHED permitiu, a partir da definição de pontos de interesse

(exutórios), a definição de bacias hidrográficas. Esta ferramenta apresenta especial interesse

para a compreensão da dinâmica de escoamento de bacias e sub-bacias. Em termos práticos,

pode ser utilizada quando se deseja saber a extensão da influencia (em termos hidrológicos)

de uma ação em um ponto de interesse, por exemplo, delimitar que bacias ou sub-bacias serão

afetadas pelo desvio de um canal. No caso, o ponto de interesse seria o local onde o canal

seria desviado, e a ferramenta conseguiria delimitar toda a área da bacia ou sub-bacia

associada a este ponto que seria afetada.

73
Já a ferramenta BASIN também permitiu a geração das bacias hidrográficas da

área de estudo pela análise de divisores de água. Essa ferramenta se mostrou interessante, pois

gerou resultados que se aproximam muito da realidade (fato comprovado pela comparação

com o resultado da outra ferramenta, além da própria delimitação visual de bacias). Além

disso, a ferramenta permite a divisão em bacias ou sub-bacias apenas mudando a número de

classes a ser divido o tema gerado, o que pode ser muito útil, pois permite que para um

mesmo resultado uma análise global (bacias principais) ou mais detalhada (micro-bacias) seja

realizada.

Em termos práticos, esta ferramenta permite verificar quantas e quais sub-bacias

encontram-se dentro de Bacias Hidrográficas principais, bem como fornecer base para prever

a dinâmica da bacia em função de alguma intervenção, em diferentes escalas de observação

(mais global, ou mais restrita).

A interpolação do nível freático se mostrou bastante válida, pois foi feita utilizando a

ferramenta TOPO TO RASTER, que é uma ferramenta ideal para gerar MDTs

hidrologicamente corretos, e, portanto também pode ser considerada válida para este tipo de

interpolação que é similar. Além disso, contava-se com a existência de dados de nível freático

de 26 furos de sondagem, o que contribui para que a interpolação fosse mais precisa. Além

disso, a região selecionada apresenta topografia, predominantemente, plana o que facilitou a

interpolação.

De fato, retomando os resultados obtidos verificou-se que a interpolação mostrou-se

válida, pois as cotas mais altas do nível freático coincidiram, aproximadamente, com as cotas

mais altas do terreno, o que é esperado tratando-se do aqüífero livre. Além disso, aquele

processo de verificação de consistência do resultado descrito anteriormente (subtração entre o

MDT e a superfície gerada) evidenciou valores negativos, ou seja, onde a superfície freática

74
encontra-se acima da superfície do terreno, praticamente apenas nas drenagens, como era de

se esperar.

O residual gerado também se mostrou bastante adequado para a área uma vez que

gerou valores, para a maior parte da área, próximos de zero, evidenciando que o balanço de

água está correto. Adicionalmente, foi realizada uma análise qualitativa desse residual,

desenvolvida por Oliveira e Augusto Filho (2008), que permitiu comparar o valor do residual

com a vazão que sai de cada pixel. O resultado foi que na maior parte da área

(aproximadamente 70% da área) o valor do residual de um determinado pixel é inferior a 5%

da vazão de saída desse pixel, os valores superiores a 5% podem ser considerados elevados.

Como o fluxo de água subterrâneo não é contínuo e constante, pois existem pontos de

vazamentos e infiltrações, torna-se impossível obterem-se residuais nulos em 100% da área,

tal fato justifica as regiões onde o residual foi superior a 5% da vazão de saída. Em pontos de

divisores, são formadas áreas de recarga do aqüífero, nesses pontos a infiltração é favorecida,

e quando não chove o balanço residual será negativo, com mais água saindo do que entrando.

Já em pontos de drenagens, são constituídas áreas de descarga do aqüífero, nas quais o

aqüífero supre as linhas de drenagem, e, conseqüentemente, o balanço será positivo, com mais

água entrando do que saindo. Nesses dois casos o valor de residual deverá ser elevado pela

própria característica hidrológica, e não por um caso de inconsistência de dados de entrada. A

figura 19 ilustra esses casos, com o vermelho representado locais onde o valor do residual de

um determinado pixel é superior a 5% da vazão de saída desse pixel.

75
Figura 19: Locais onde o residual em relação à vazão de saída de cada pixel foi elevado.

Já nas regiões onde ocorre um fluxo constante e contínuo de água, o percentual de

residual em relação à vazão de saída não ultrapassou o valor de 5%, como pode ser visto na

figura 19 representado pela cor verde. Se os valores dos residuais nessas regiões fossem

elevados indicariam que os resultados da modelagem não foram bons e que os dados de

entrada deste modelo apresentam problemas. Como isso não ocorreu, os valores de

transmissividade, porosidade efetiva e espessura saturada (obtidos em revisão bibliográfica)

podem ser considerados consistentes, bem como, o comportamento do fluxo superficial

subterrâneo do aqüífero livre modelado.

Os rasters que combinados descrevem o campo de fluxo da água subterrânea mostram-

se adequados também, pois o resultado evidencia vetores direcionados partindo de regiões

mais elevadas para regiões mais baixas, além de possuir maior magnitude em locais com

maior gradiente hidráulico, como estamos tratando do aqüífero livre a carga piezométrica

pode ser desprezada, e portanto a carga hidráulica total será devida apenas a cota altimétrica,

76
ou seja, a carga hidráulica total condiz com o relevo. Os valores de velocidade de fluxo se

situaram numa faixa entre 0,01 e 10 m/d, que podem ser considerados valores elevados. Isto é

justificado pelo fato da formação geológica da área de modelagem apresentar,

predominantemente, valores elevados de porosidade e transmissividade, o que favorece o

fluxo de água subterrânea.

A ferramenta que traça o caminho da partícula pôde ser aplicada gerando resultados

bastante confiáveis, pois utiliza como entrada apenas os resultados da ferramenta

VELOCIDADE DE DARCY, considerados consistentes. Já a ferramenta POROUS PUFF, se

utiliza também de outros parâmetros de entrada como dispersividade longitudinal, razão de

dispersividade, fator de retardamento e coeficiente de decaimento, que devem estar corretos

para obter-se uma boa aproximação da realidade. Neste caso, foram utilizados os valores

padrões indicados pela própria ferramenta do ArcGIS 9.1, que se mostram razoáveis, e

portanto geraram resultados aceitáveis.

As plumas de contaminação geradas para diferentes intervalos de tempo para os dois

pontos apresentaram uma velocidade de migração relativamente alta, com valores de 2,8 e

17,7 anos para os pontos 1 e 2, respectivamente. Verificou-se também, que no trecho que a

pluma percorre dentro da Formação Barreiras (mais argiloso) a dispersão longitudinal da

pluma foi menor, aumentando quando atinge a região dos Depósitos Quaternários (mais

arenoso), essa divisão das unidades geológicas do terreno pode ser vista no ANEXO 3.

O resultado da ferramenta POROUS PUFF mostrou-se bastante interessante para

assistir decisões de medidas de tratamento de contaminantes no caso de um acidente com

dispersão de algum poluente no meio, pois a delimitação das plumas em diferentes tempos

permite prever seu comportamento, bem como sua área de influência. Neste caso, após 3

anos, uma faixa de, aproximadamente, 430 m seria ocupada pela pluma que sai do ponto 1, a

uma distância de 350 m entre o ponto 1 e o centro da pluma. Com essas informações,

77
associadas a outras informações de interesse é possível optar dentre as diversas opções para

tratamento do poluente como barreiras reativas permeáveis ou bombeamento para tratamento

ex situ, por exemplo.

A aplicação das ferramentas de modelagem de água subterrânea, bem como das de

modelagem de água superficial (aplicadas na primeira etapa desta pesquisa), se mostrou

bastante satisfatória com a geração de resultados condizentes com a realidade. Esses

resultados podem servir como base para auxílio na gestão de uma bacia hidrográfica de

interesse, tanto no que diz respeito aos recursos hídricos superficiais quanto aos subterrâneos.

7. CONCLUSÕES

O desenvolvimento dos resultados neste trabalho permitiu validar a aplicação das

ferramentas de hidrologia de superfície superficial e subterrânea, bem como verificar os

cuidados a serem tomados durante as modelagens e as limitações das ferramentas. Além

disso, os resultados obtidos podem ser utilizados pelos gestores da região para possibilitar um

melhor planejamento dos recursos hídricos e dos processos hidrogeológicos envolvidos.

Com base no conhecimento adquirido sobre o funcionamento destas ferramentas será

possível desenvolver e aplicar modelos para subsidiar a análise de processos da dinâmica

superficial de grande importância ambiental, como as inundações/enchentes e os processos

erosivos pluviais e fluviais.

O trabalho desenvolvido permitiu trabalhar com as ferramentas de hidrologia

existentes no ArcGIS 9.1 de forma a compreender suas particularidades e limitações,

possibilitando, em uma possível continuidade da pesquisa, a aplicação de forma mais prática

dessas ferramentas, como em um estudo de caso, por exemplo.

78
Foi possível observar pelos resultados que as ferramentas podem ser aplicadas em

diferentes áreas de estudo da Engenharia Ambiental, conforme descrito ao longo da análise

dos resultados. Além disso, a pesquisa desenvolvida permitiu a revisão de conceitos

importantes transmitidos ao longo do curso de Engenharia Ambiental.

79
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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YONG, R.N.; MOHAMED, A.M.O. Principles of contaminant transport in soils. Netherlands:


Elsevier Science Publishers, 327p, 1992.

83
9. ANEXOS

1. Base Cartográfica da Área de Estudo

2. Bacias Hidrográficas a partir da ferramenta Basin

3. Área de estudo selecionada com furos de sondagem

4. Superfície Freática

5. Erro Percentual

6. Vetores do campo de fluxo

7. Plumas de contaminação

84
ANEXO 1 - Base Cartográfica da Área de Estudo

85
ANEXO 2 - Bacias Hidrográficas a partir da ferramenta Basin Bacias Hidrográficas a

partir da ferramenta Basin

86
ANEXO 3 - Área de estudo selecionada com furos de sondagem

87
ANEXO 4 - Superfície Freática

88
ANEXO 5 - Erro Percentual

89
ANEXO 6 - Vetores do campo de fluxo

90
ANEXO 7 - Plumas de contaminação

91

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