2013 Eve D Mjsilva
2013 Eve D Mjsilva
2013 Eve D Mjsilva
Transfeminismo
1
DA SUBMISSÃO À FEMINIZAÇÃO MASCULINA: SUBVERSÕES
DE GÊNERO NO BDSM
Resumo
Abstract
2
their experiences in blogs and identify as submissive and / or practitioners of
male feminization.
Introdução
BDSM, a prática de feminização masculina e a escrita nos blogs aparecem
aqui como elementos para pensar performances de gênero, que subvertem
determinados códigos sociais, produzem moralidades e remodelam corpos e
que transgridem a heteronormatividade. Aqui, apenas um fragmento do que
pretendo desenvolver em minha dissertação, problematizamos uma prática
exclusiva do BDSM, a feminização masculina, na qual o sujeito é se veste,
adorna e comportar-se como outro gênero que não o seu. O feminizado, no
referido contexto, seria um submisso, alguém que sente prazer na
humilhação erótica.
Essa prática possibilita encenação e inversão de papéis, a criação de
personagens na qual a identificação do sujeito como submisso seria uma
primeira identidade; a feminização do submisso seria, então, outro tipo de
performance que depende não apenas de uma encenação de papéis, mas se
realiza no ato de montar-se, um homem que vislumbra seu rosto maquiado,
seu corpo vestido com lingeries ou vestidos cheios de babados, perucas,
máscaras de vinil e couro, algemas e coleiras.
O BDSM é uma sigla que se refere a um conjunto de práticas eróticas
que envolvem dominação e submissão. O “B” refere-se à bondage, prática de
amarração e/ou imobilização da pessoa com algum tipo de corda, barbante ou
similares, o “D” refere-se à dominação erótica e disciplina; o “S” ao sadismo
erótico e o “M” ao masoquismo erótico. A prática específica em questão é uma
prática erótica exclusiva do contexto BDSM, que implica numa dominação
consentida psicológica e física. A feminização masculina envolve dominação,
no sentido de que há a peculiaridade de alguém forçá-lo e humilhá-lo de
diversas maneiras, e submissão no sentido de que o feminizado é, antes de
tudo, uma pessoa que consente e sente prazer em submeter-se. O tema
BDSM vem sendo trabalhado por mim desde 2010, quando iniciei minha
3
pesquisa (Silva, 2012) sobre linguagens (re)produzidas em blogs de mulheres
que identificam-se como praticantes de sadomasoquismo erótico 4, analisando
pontos para pensar convenções de gênero e sexualidade. A dissertação, por
sua vez, está sendo pensada como um desdobramento do trabalho anterior e
uma experiência de imersão maior nesse universo, mais focado na prática
referida, aliando a escrita nos blogs como fonte sobre o tema, e relatos de
experiências, coletados através de contatos online e offline com os
interlocutores.
A ideia do projeto inicial, que aqui trazemos, é de pensar essa prática como
uma performance de gênero, tomando o sentido performativo da categoria
gênero (Butler, 2010) como sendo criada/vivenciada através de performances
sociais contínuas, e nesse sentido, as noções de sexo, masculinidade e
feminilidade são tidas como processuais (Butler, 2010, p. 201), seguindo as
convenções das práticas BDSM.
Trazemos aqui alguns apontamentos preliminares que tenho feito em
meu diário de campo e que, portanto, ainda não haviam sido desenvolvidos,
são sobre três dos primeiros blogs que observei, escolhidos alheatoriamente.
Até a escrita desse artigo para o Seminário Desfazendo Gênero, ensaiei
algumas entradas em campo e online e offline. Algumas das anotações que
citarei são do diário de campo no período de 31 de maio a 16 de junho de
2013. Os três blogs a serem apresentados 5 são: Inversão de Papéis6,
Feminização Forçada: uma experiência de vida proporcionada pela minha
Dona7 e Submisso Real8.
5 Essa pesquisa está em andamento e é bem inicial. Ainda estou fazendo um breve
levantamento de blog pelo tema da pesquisa, e não entrei em contato com os
respectivos responsáveis pelos blogs. Em decorrência disso, e já que os blogs estão
acessíveis na rede, apenas citarei trechos de algumas postagens e os links pela
necessidade de inserir nossa discussão dentro das normas da ABNT, da necessidade
de referências exatas e datadas dos dados aqui apresentados.
4
O BDSM é um exemplo de cultura de grupos, é “muito mais uma somatória de
grupos e principalmente de pessoas que se identificam pelas preferências
sexuais e atitudes perante o mundo” (Leite Jr., 2000, p. 14), e que teve maior
difusão a partir da Internet9. Foi a partir da popularização da Internet que foi
possível a criação de novos espaços para o debate sobre as práticas BDSM,
como a criação de fóruns, sites e blogs, servindo como forma de socialização
sem fronteiras das experiências, de redes de contatos e discussão sobre
regras e convenções do/no sadomasoquismo erótico.
A necessidade da criação de regras de conduta no meio BDSM é muito
importante, no sentido de que são acionados elementos que têm limites muito
tênues, o envolvimento de jogos de poder com dor e prazer, que perpassa
discursos sobre gestão do risco, de legitimação, despatologização e
descriminalização.
Para citar algumas regras fundamentais na elaboração do discurso
sobre o caráter erótico e consensual das práticas BDSM, na década de 1980,
foi criado o lema SSC (são, seguro e consensual) para desvincular qualquer
imaginário negativo relacionado ao termo “sadomasoquismo”, bem como para
impulsionar uma conscientização coletiva de que as práticas devem ser
realizadas de forma sadia, principalmente em relações individuais 10. Essa
questão está diretamente relacionada à patologização dos termos sadismo e
masoquismo pelas ciências psi. Há, nesse sentido, a intenção de formação de
um “campo de ética” (Leite Jr., 2000, p. 23) no meio BDSM, para propagar a
7 Disponível no link: http://feminizacaonobdsm.blogspot.com.br. Acesso em 13 de
junho de 2013.
9 Podemos constatar isso diante das centenas de páginas na Internet sobre o tema.
Em contrapartida, a bibliografia sobre o tema é menor, havendo mais referências
estrangeiras do que nacionais. Dois dos autores mais conhecidos que escrevem
literatura erótica com temáticas sadomasoquistas são Glauco Mattoso e Wilma
Azevedo, literatura estudada pela pesquisadora Sarah Rossetti, orientanda da Pra.
Dra. Regina Facchini.
5
necessidade do “machucar sem maldade (ou danos)”. Há também a
safeword, cuja criação data de meados dos anos 1980.
O lema SSC significa praticar o sadomasoquismo em plena sanidade mental,
o que geralmente inclui a não ingestão de bebidas alcoólicas e qualquer outro
tipo de droga, um estímulo à segurança de ambas as partes, desde que seja
assegurada a consensualidade dos participantes, e a safeword ou palavra de
segurança, é um dispositivo que pode ser acionado por ambos os praticantes,
no momento mesmo da prática, para avisar quando esta deve ser
interrompida, no momento em que um dos praticantes chega a seu limite
físico ou psíquico. O principal meio de difusão dessas regras, como fora dito,
tem sido a Internet.
Os blogs, apenas uma parte do material suporte online de informações
sobre o tema, são palco para subidentidades no BDSM, personagens que se
insurgem/voltam contra “a definição estritamente psiquiátrica/patológica da
sua sexualidade através de uma política de afirmação identitária, expressa
por um discurso de legitimação de objetivos bem definidos” (Zilli, 2009, p.
483-490). As linguagens produzidas nos discursos que aparecem em
diferentes formatos (relatos, artigos de opinião, contos, imagens, vídeos), em
blogs, sites, redes sociais, “encontram-se num contexto de suporte à própria
ideia de grupo identitário, pois reproduzem a noção de pertencimento através
da informação de técnicas, conceitos e definições” (Zilli, 2009, p. 483-484).
Importante pensar a Blogosfera e com o BDSM como dois universos
(Silva, 2012, p. 52) cheios de peculiaridades. Corroborando com Becker
(2010), que lança mão do conceito de mundo como sendo uma “rede de
indivíduos cuja actividade cooperativa, coordenada graças a um
conhecimento partilhado dos meios convencionais” (p. 22), percebemos a
complexidade desses dois mundos. O que eles pressupõem?
Tento apreender um pouco desses mundos a partir do material
disponível online, em sites, blogs e no Facebook, lançando olhar sobre uma
das características da Internet, de ser uma ferramenta possibilitada por
cooperações que produzem os conteúdos que a constituem como tal.
Tomando como foco as redes sociais, o que é produzido tem o caráter de
efemeridade pela dinâmica da atualização das redes “mas na maioria dos
casos transformam-se em rotinas e dão origem a padrões de actividade
6
colectiva” (Becker, 201, p. 27). É nesse sentido que enxergo o que é
produzido sobre o meu objeto de pesquisa.
Nos blogs pesquisados, as pessoas identificam-se como praticantes de
BDSM, ou como praticantes de feminização masculina, relatam experiências
vivenciadas segundo as convenções desses grupos, mas são convenções
que são ressignificadas. Uma das problemáticas que surge na observação
dos blogs, não apenas nessa situação, mas nas relações estabelecidas no
mundo online, é estar atenta para aquilo que é inventado e o que é
verdadeiro. Como identificar a veracidade de um relato? Esse é apenas um
dos impasses que surgem nessa pesquisa, mas não no sentido de
desqualificar os relatos ficcionais, porque estes não deixam de fazer parte do
campo de produção de conhecimento.
Existe uma cadeia de cooperação (Becker, 2010, p. 46) no mundo do
BDSM, apresentado-se necessária a produção de conhecimento daqueles
que o detém, para que sejam discutidas e compartilhadas as experiências,
seja online ou offline, portanto, para que seja possível a existência de material
de pesquisa sobre o assunto, já que, para qualquer experiência, seja ela
erótica ou não, as pessoas não partem do zero, sempre têm em mente
alguma referência, baseando suas ações de acordo com normas e
convenções que já existem e que são partilhadas (Becker, 2010, p. 49).
A noção de convenção que aparece em campo não está desvinculada
das noções comuns na teoria sociológica sobre “norma, regra, representação
coletiva, costume e hábito. Todas estas noções remetem para as idéias de
formas de pensamento comuns que estão na base das actividades de
cooperação no seio de um grupo de pessoas” (Becker, 2010, p. 50), seja esse
grupo qual for, inclusive grupos de pessoas que têm em comum o gosto por
relações eróticas tidas pela sociedade conservadora como não-
convencionais.
As convenções, “Mesmo quando parecem fornecer indicações muito
precisas, deixam lugar a uma parcela de indeterminação que será dissipada
pelo recurso aos modos de interpretação habituais, ou através da negociação”
(Becker, 2010, p. 51). É o que pretendemos problematizar, com os relatos
ficcionais e/ou reais (re)produzimos nos blogs, sinalizando para os
agenciamentos das percepções e representações dessas experiências.
7
Domesticação do masculino
8
comportamento. Com isso sempre estou encontrando ou criando
algum material interessante e que postarei aqui no blog. Espero que
os assuntos escolhidos por mim ajudem os homens a ocuparem seus
lugares devidos e as mulheres sua posição de direito. Afinal de contas
todos os homens devem se curvar ao domínio de uma mulher12.
O trecho nos apresenta algumas chaves para reflexão. Primeiro que ele se
auto identifica como um submisso, um homem que acredita que os homens
devem ser subservientes às mulheres, no entanto, reitera o contexto do
BDSM quando se refere ao gosto por fetiches e aponta para a figura central
nessa relação de dominação/submissão13: a Senhora, que é uma mulher
adepta do FemDom, ou seja, de Dominação Feminina, e que portanto, ocupa
o lugar hierárquico de disciplinadora, dominadora e castigadora. Essa figura
pode se utilizar de diversos artifícios para submeter seu escravo(a) ou
submisso(a). De acordo com a definição de Dominação Feminina, no contexto
BDSM, que ele próprio enfatiza, é de que a dominadora é alguém que cuida,
pacientemente dos sentimentos, do corpo, do psicológico de seu “macho
submisso”, pois ele é “Sua Propriedade”. Como propriedade, o submisso deve
devotar sua existência às vontades e desejos da Dominadora, os quais
sempre serão superiores do que do submisso.
12 Disponível no link:
http://submissoreal.blogspot.com.br/2009/10/apresentacao_28.html. Acesso em 14 de
junho de 2013.
13 Ou ainda chamada de D/s, atentando para a grafia na qual a letra “D” se sobressai
a letra “s”, sendo então desde a grafia observada a questão da hierarquia nas relações
no contexto aqui abordado.
9
Essa submissão, que acima de tudo é uma submissão consentida e, portanto,
desejada, aparece nas postagens do blog sendo imposta e mantida com a
utilização de acessórios e apetrechos, como o “cinto de castidade”. A
utilização de um acessório que se assemelha a um cinto de castidade é uma
peça dos jogos sadomasoquistas, não apenas para homens, mas também
para mulheres, importando o caráter do castigo, o de impedir a ereção no
homem, como uma forma de punição erótica.
10
ponto de o submisso afirmar que “Com a abstinência a cada dia quero mais e
mais transar e gozar” 16.
11
colocou uma musica super sensual, começou a dançar...e me pegou
para dançar com ela...vem minha namoradinha vem..vem minha
gostosinha....dançamos...ela começou a me alisar...Beijar-me...minha
mulherzinha...minha putinha...vc quer ser minha pirainha sacana ou
não....vamos aproveitar vc ta um arraso....vou te comer...mas, tão
bem comido e vc vai aprender como se trata uma mulher de
verdade...mais alguns minutos nós estávamos rolando na cama como
um casal..só que invertido...
Paulo está na minha frente usando uma saia de látex bem apertada.
Ele parece apetitoso, como sempre, mas hoje está com um balanço
especial por causa das botas de salto... Esta noite ele será o centro
das atenções como uma empregadinha bem obediente para três de
minhas melhores amigas. Elas logo vão chegar e Paulo está
preparando a casa para a ocasião, com a devoção de sempre...Já faz
meses desde a última vez em que o deixei usar cuecas. Todos os
dias eu o mando trabalhar usando minhas calcinhas ou a lingerie de
seda que o mandei comprar naquela loja do shopping... Esta é
apenas uma das pequenas coisas que faço com ele para que se torne
uma perfeita escrava lésbica para mim...
12
seguir também ilustra um pouco do que inclusive um interlocutor 18 me disse
sobre o fato de que o prazer de tudo isso é estar feminizado para uma mulher,
o prazer provavelmente não existiria se fosse diante de outro homem.
13
postagens, me fez pensar que havia elementos muito interessantes pra
pensar o recorte empírico da pesquisa. O que veio a ser comprovado quando
da leitura do conteúdo das postagens. Há fotos pessoais na página, no perfil e
em algumas postagens21. Um ponto que acreditamos importante para pensar
a feminização como uma humilhação mais psicológica do que física está no
trecho que se segue:
[...] acho que a feminização tem tudo a ver com masoquismo, pelo
menos no meu caso. Porém quando falo que tem tudo a ver, não se
enganem em pensar que é por causa do salto alto não rs, Mas sim o
fator psicológico. Quem acompanha o blog sabe que meu espírito já
feminino, e dentro da relação de dominação/submissão o lado
feminino trás alguns aspectos que não existem no mundo masculino.
Explico. A humilhação é muito mais forte para nós meninas, por
exemplo, chamando um homem de "Cachorro, vagabundo" isso
aumenta o ego masculino, "sim, sou comedor". Agora nós meninas
não levamos por este lado não, imaginem quando alguém a chama
de "vagabunda, vadia", é algo extremamente ofensivo e vulgar e nós
não gostamos disso. Imaginem agora ampliar o campo psicológico
feminino, ser tratada como uma vagabunda, uma piranha, como um
simples objeto sexual...22
14
verdadeiro adestramento de seus movimentos, de seu corpo, de seus
agenciamentos, inclusive aprender a “ter relações anais”.
Vou ser bem sincera, ainda não gosto de dar a bundinha. Mas juro
que quero gostar rs. Apenas a pouco tempo, durante uma tarefa que
minha Dona me passou, eu comecei a entender o funcionamento
para ter prazer. Do começo rs. Nunca me senti confortável com nada
na região anal, sempre senti uma sensação estranha, incomoda. As
poucas vezes que tive prazer, foi perto do orgasmo e depois de muito
tempo "sofrendo" até me acostumar. A sensação de "cocô eterno"
sempre me incomodou muito. Hoje em dia, com muita calma, muita
calma mesmo consigo ter prazer, porém tenho que começar bem
devagarinho, algo em torno de 20 minutos (acho) para o consolo
começar a entrar sem machucar. Muita gente não gosta por que tem
nojo ou alguma desculpa esfarrapada. Eu quero, e quero muito
15
Dona para ser a cadela que ela deseja, uma cadela sexy, ousada
(eróticamente falando), gostosa e feminina. A feminilidade envolvida
em nossa relação é o que desperta vários dos muitos sentimentos
que há dentro da relação BDSM. O jeito sensual de andar, de mostrar
as pernas cruzadas enquanto está sentada, quando é encoxada por
trás e querendo retribuir a recompensa, quando sinto o cabelo sendo
agarrado e sentir todos os sentimentos e podereres da minha Dona
Considerações finais
Acredito que fica muito complicado falar sobre o meu objeto de pesquisa
nesse espaço porque, além de eu ter modificado meu projeto de seleção para
o mestrado, no qual propus analisar os discursos de legitimação do BDSM
nos blogs, identificando a forma como os sujeitos elaboram as postagens, os
cenários dos blogs e como configuram-se nesse espaço (a identidade virtual).
Modifiquei o foco do projeto em abril passado, e como não tive tempo de ir a
campo e fazer uma pesquisa mais profunda, a impressão que passo com
essa breve explanação sobre o objeto é em decorrência do pouco material
lido sobre o tema. Embora eu tenha muitas leituras sobre BDSM, das redes
sociais, blogs, sites e dos poucos trabalhos acadêmicos que o analisam sob
diversos aspectos, não é o suficiente para explicar aqui.
É importante mencionar que tomamos as experiências elaboradas
discursivamente pelos homens que praticam feminização como uma forma de
pensar as categorias e problematizá-las como “pistas de reflexão” (WELZER-
LANG, 2004, p. 110), operando numa desconstrução de noções de masculino
16
e feminino, a partir de análise de experiências que descontróem o masculino
para reconstruí-lo tomando de empréstimo elementos do feminino, borrando
as noções, não apenas de gênero, mas de identidade, no sentido de algo que
é delimitado e delimitável. Portanto, nesse sentido, a proposta não foi de
estudar os homens que se feminizam ou as mulheres que os feminizam, mas
pensar os corpos que podem ser reconstruídos em experiências e
performances de práticas eróticas não-hegemônicas.
O que tentamos mostrar aqui é o fato de que a prática da feminização é
um processo desejado pelo submisso, é prazeroso para ele essa posição na
relação SM. A feminização seria uma prática da submissão mais do que o
masoquismo, mas apresenta elementos dele, sendo bem mais psicológica do
que física. Ambas as práticas estão intimamente imbricadas. É, acima de
tudo, um processo de entendimento do próprio corpo, da sexualidade, mais
uma construção mental do que física, e isso que vai diferenciá-la de outras
experiências crossdresser e a trans, que são tanto físicas como psicológicas.
É um processo que é de dentro para fora, e não de fora para dentro.
17
que não tem contornos precisos. Gostaria de agradecer ao meu orientador por
ter me conduzido a pensar a possibilidade desse novo viés da pesquisa, aos
colegas que contribuíram muitíssimo para as reflexões, que participaram do GT
sobre “Culturas corporais, sexualidades e reconhecimento: novas moralidades
em debate”, o Fórum “Construção de saberes e produção de conhecimento em
sexualidade: convenções, mudanças e perspectivas na produção antropológica
brasileira”, o GT “Direitos humanos, sexualidade e cultura”, da IV
REA/ABANNE, evento que participei e que aconteceu em Fortaleza de 4 a 7 de
agosto de 2013, no momento em que estava terminando esse artigo, à
Universidade Federal do Ceará e ao CNPQ pelo financiamento da pesquisa, e
por último, mas não menos importante, agradecer aos coordenadores do GT
“Corpo(s), gênero(s) e multiplicidade(s): modos de subjetivação, processos
políticos e outras/novas moralidades”, pela oportunidade de estar aqui
dialogando com outras pesquisas. Muito obrigada!
Referências Bibliográficas
18
Schpun. – São Paulo: Boitempo Editorial; Santa Cruz do Sul, Edunisc, 2004,
p. 107-128.
19