Apostila 36
Apostila 36
Apostila 36
INFANTIL
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Sumário
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NOSSA HISTÓRIA
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Ludicidade, Psicomotricidade e Imaginário Infantil
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em vários níveis. Para Radespiel 4(2003), “brincar é uma das atividades
fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia”.
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mesmo autor cita ainda Edward Wiebé, o qual afirma que a educação
infantil apresenta um princípio fundamental que diz que toda educação deve
começar pelo desenvolvimento do desejo de atividade inato nas crianças. Uma das
formas de detecção de problemas de comportamento e desenvolvimento é
a observação de como a criança se porta
e age dentro de uma situação lúdica
estimulada.
A educação traz muitos desafios aos que trabalham e aos que se dedicam a
sua causa. Muito se tem pesquisado, escrito e discutido sobre educação, mas o tema
é sempre atual, pois o foco principal é o ser humano. Então pensar em educação é
pensar no ser humano em sua totalidade, em seu corpo, em seu jeito de se relacionar
com outras pessoas e com o meio ambiente, observando suas preferências, seus
gostos, prazeres, enfim, suas relações vivenciadas.
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Seguem-se alguns exemplos:
jogo de futebol; jogos Olímpicos; jogo de
damas; jogos de azar; jogo de palavras;
jogo de empurra; Brinquedo – objeto
destinado a divertir uma criança, suporte
da brincadeira; Brincadeira – ação de
brincar, divertimento. Gracejo, zombaria.
Festinha entre amigos ou parente.
Qualquer coisa que se faz por
imprudência ou leviandade e que custa mais do que se esperava: aquela brincadeira
custou-me caro.
Vejamos o enfoque teórico dado ao brincar por Santos (2011), dentre os vários
pontos de vista:
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do ponto de vista filosófico, o brincar é abordado como um mecanismo
para contrapor à racionalidade. A emoção deverá estar junta na ação humana tanto
quanto a razão. A expressão lúdica tem a capacidade de unir razão e emoção,
conhecimento e sonho, formando um ser humano mais completo e pleno;
do ponto de vista sociológico, o brincar tem sido visto como a forma mais
pura de inserção da criança na sociedade. Brincando, a criança vai assimilando
crenças, costumes, regras, leis e hábitos do meio em que vive. A apropriação da
cultura infantil é resultado das interações lúdicas, que se dá entre a criança, o
brinquedo e as outras pessoas;
do ponto de vista psicológico, o brincar está presente em todo o
desenvolvimento da criança nas diferentes formas e modificações de seu
comportamento; pois na formação da personalidade, nas motivações, necessidades,
emoções, valores, as interações criança/família e criança/sociedade, estão
associadas aos efeitos do brincar;
do ponto de vista psicoterapêutico, o brincar tem a função de entender
a criança nos seus processos de crescimento e de remoção dos bloqueios do
desenvolvimento, que se tornam evidentes;
do ponto de vista da criatividade, tanto o ato de brincar, como o ato
criativo estão centrados na busca do ‘eu”. É no brincar que se pode ser criativo, e é
no criar que se brinca com as imagens e signos, fazendo uso do próprio potencial;
do ponto de vista pedagógico, o brincar tem-se revelado como estratégia
poderosa para o aprendizado, constituindo-se numa peça importantíssima na
formação da personalidade, nos domínios da inteligência, na evolução do
pensamento e de todas as funções mentais superiores, transformando-se num meio
viável para a construção do conhecimento (SANTOS, 2011, p.112-115).
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A presença das brincadeiras na Educação Infantil, ainda segundo o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil Nacional (1998), tem por objetivo servir
de suporte para vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e
comportamento. Objetiva também atuar na memorização de conteúdos relativos a
números, letras do alfabeto, cores, dentre outros, traduzidos em canção. Estas
canções costumam ser acompanhadas de gestos corporais, imitados pelas crianças
de forma mecânica e estereotipada.
As crianças, por meio dos jogos e das brincadeiras, sejam elas de regras ou
não, ficam mais motivadas e impulsionadas a usar a inteligência, a buscar estratégias,
pois querem jogar bem. E mais, querem superar-se. Sendo assim, esforçam-se para
superar obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais e até mesmo físicos. Estando
motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mental e fisicamente.
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Com a aquisição do
conhecimento físico, a criança terá
elementos para estabelecer relações e
desenvolver seu raciocínio lógico-
matemático, o que é importante para o
desenvolvimento da capacidade de
calcular, de ler e de escrever. As
possibilidades de exploração e de
manipulação que o jogo oferece, colocando a criança em contato com objetos e com
o meio ambiente, propiciando o estabelecimento de relações e contribuindo para a
construção da personalidade, do desenvolvimento físico e desenvolvimento cognitivo,
torna a atividade lúdica imprescindível para a educação.
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E Vygotsky traz ainda a reflexão sobre aquilo que a criança ao realizar como
tarefa, é capaz de aprender por si só e quando necessita da orientação e interferência
de um adulto ou o faz com a colaboração de um companheiro. A distância entre essas
duas possibilidades de resolver um determinado problema é denominada por
Vygotsky de Zona de Desenvolvimento Real (ZDR) e Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP).
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“prazer funcional” ou pelo prazer de ser a causa do ruído, pode-se afirmar que se trata
de um jogo. Em seguida vem o jogo simbólico, que se instala quando a criança repete
uma cena que se passou, ou relembra, por meio de
gestos e ações, situações do seu cotidiano.
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é o social, destacando a afetividade que, associada diretamente à motricidade,
deflagra o desenvolvimento psicológico.
Para o autor, o movimento e suas aquisições são a forma pela qual a criança
estabelece a primeira comunicação, conhecido como diálogo tônico com o meio,
tendo, assim uma grande ferramenta para o desenvolvimento da linguagem. Quando
falamos em movimento, pensamos imediatamente em criança, pois criança é
sinônimo de movimento. Ela o faz com prazer e espontaneidade, é de sua essência.
Contudo, o movimento não é exclusivamente dos pequeninos e sim, do ser humano.
Em se tratando de criança, como nos revela Wallon, o movimentar-se tem um
significado elementar. Por meio da capacidade de se movimentar, a criança se
comunica, interage e pode descobrir suas potencialidades.
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torno dos três anos, quando é a hora de saber que “eu” sou. Atividades de imitação e
manipulação são características comuns nesta fase.
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Estágio da impulsividade
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Estágio Tônico-Emocional
Estágio sensório-motor
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anteriores, encontramos aqui as sensibilidades que são exteroceptivas, significando
que os sentidos orientam as ações da criança.
Esse estágio ocorre a partir da fase anterior e se prolonga até o terceiro ano.
Tem como correlato a maturação dos centros piramidais responsáveis pela
motricidade e pela linguagem. Este estágio termina com o advento da consciência
objetiva e da representação autônoma. É o momento da passagem da ação ao
pensamento. Esta passagem não é feita de modo linear, mas sim de maneira
descontínua, contraditória e conflituosa.
Fonseca e Mendes (1987) afirmam que ação não é uma estrutura de execução,
mas o estímulo da atividade mental. A passagem do ato ao pensamento é, pois, o
prelúdio da consciência. Nesta fase a criança completa a sua compreensão do
Esquema Corporal.
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Estágio Personalístico
A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as
ideias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo
de formação da personalidade. As distâncias (o espaço) deixam de ser
desconhecidas, as direções passam a ser relativas e o meio começa a poder
modificar-se em função dos primeiros esboços de desejos.
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O Corpo ao Brincar e a Aprendizagem
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No movimento corporal é possível se descobrir, pois é pela ação do corpo
sobre os objetos que se consegue aprender as qualidades deste objeto e descobrir o
outro limitador, do meu espaço e companheiro de descoberta. Assim, o movimento
interfere na inteligência mesmo antes dela se manifestar, ele organiza o real a partir
de estruturas mentais, espaço-temporal e causais (FERNÀNDEZ, 1991, p. 60).
O ser humano começa a organizar o mundo a sua volta através do seu corpo.
Ele é ponto de referência para todas as aprendizagens. É sentindo e percebendo as
coisas que o cerca que ele vai interagindo com o meio que estabelece relações
afetivas e emocionais com os objetos circundantes, observando-os, provando-os
manipulando-os (FERNÀNDEZ, 1991).
Uma das primeiras coisas que o ser humano aprende a fazer, fora do útero, é
respirar. O uso do organismo aqui fica muito claro. Quando o bebê começa a perceber
o jeito como lhe pegam, o cheiro de quem o alimenta, ele pode começar a usar o seu
corpo para aprender: o toque, o som, o gosto, o cheiro e todo ambiente que o cerca
servem para mapear seu corpo ainda tão indefinido.
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As primeiras aprendizagens corporais começam quando o ser humano começa
a provar o universo ao seu redor, e o faz de maneira espetacular com a boca, ele
neste momento começa a interiorizá-lo, colocá-lo dentro de si. É interessante ressaltar
a importância dos primeiros vínculos que o ser humano faz com a boca, como
exemplo claro, as suas primeiras mamadas e as relações que ele estabelece com
quem as administra. Suas primeiras aprendizagens têm origem exatamente neste
momento, no início de seu processo de adaptação à vida fora do útero.
Oliveira, citando Le Boulch diz que o esquema corporal passa por três fases
distintas, a saber, (2005, p. 58-60):
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Corpo Vivido corresponde à fase conhecida como sensório-motora de
Piaget, começa nos primeiros meses de vida, quando o bebê ainda não tem noção
ou consciência do "eu". Nesta fase ele se confunde como meio, se encontra em total
simbiose e não é capaz de perceber.
No início desta fase os movimentos são atividades motoras, não são pensadas
para serem executadas, pensa-se fazendo. A criança quando nasce não tem noção
do seu corpo. Seu conhecimento de corpo vai sendo construído ao ser tocada,
acariciada ou mesmo quando se machuca. Vai percebendo, sentindo, lendo o mundo
com seu corpo, vai aos poucos o organizando.
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aparecem é e possível agora entender a duração dos intervalos de tempo, de ordem
e sucessão de eventos.
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Basta um acontecimento doloroso, como por exemplo, a morte de um animal
de estimação, uma mudança, uma separação, e eis a criança perturbada, sofrendo,
esta começa a agir com temor e mostra-se angustiada. Observaremos que se torna
desajeitada em seus trabalhos manuais, apresenta lentidão nas atividades motoras e
não consegue como antes, montar um quebra-cabeça. Inversamente, veremos uma
criança habitualmente fechada, temerosa, tímida, agir com confiança em si mesma e
com destreza, simplesmente pelo fato de receber um elogio, ter sido motivada,
ensinada a perceber melhor seu corpo e o
espaço que a cerca, e ser aceita pelo grupo.
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Wallon admite que a afetividade não seja apenas uma das dimensões da
pessoa, ela é também uma fase do desenvolvimento cognitivo e motor, que prepara
a criança para estabelecer vínculos sociais, afetivos e racionais, que dizem respeito
às ações mentais e motoras, regras e jogos da vida. Os jogos coletivos preparam a
criança para viver em sociedade. Elas descobrem bem depressa que existem “fracas”
e “fortes”. É a característica admitida no grupo, de que cada criança é uma em
particular e passível de ser forte em algum aspecto (DE MEUR e STAES, 1984, p.20).
A importância da Espontaneidade
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interesse e a motivação parecem ser pré-requisitos indispensáveis para uma
participação significativa da criança na brincadeira.
O ato social é retomado por Ferreira (2000), quando ele propõe revisar
o conceito de “brincar” a partir de sua etimologia: vinculum, palavra latina
originalmente significando “laço”. Brincar então pode ser entendido como o ato de
criar vínculos, o que vem a lembrar seu caráter socializador. De acordo com
Frabonni (apud KUHLMANN, 2001), “contém esta força de integração dialética entre
a instância cognitiva (decifração da divina unidade do criado) e a instância criativa
(o mundo é uma obra de arte onde contínuas gerações participam)”.
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mentais superiores, as quais são constituídas a partir da atenção voluntária, a
fala, a memória semântica, a ação voluntária e consciente, a percepção
significante e o pensamento verbal-lógico.
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Isso significa dizer que a criança, ao interagir com seus semelhantes
cooperativamente, tem condições de internalizar estes processos e torná-los parte
de suas aquisições independentes.
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O Imaginário Infantil
Santos (apud MACHADO, 2004) afirma que o brincar vem sendo cada
vez mais utilizado na educação, constituindo-se numa peça importantíssima na
formação da personalidade, nos domínios da inteligência, na evolução do
pensamento e de todas as funções mentais superiores, transformando-se num
meio viável para construção do conhecimento.
Vygotsky (apud FERREIRA, 2000) aponta a faixa etária entre dois e seis
anos como a fase em que prevalecem situações imaginárias e o jogo de regras.
Ferreira (2000) descreve o desenvolvimento da percepção nas crianças através
da relação entre o campo do significado e o campo da ação: “Num primeiro estágio
a criança se vê submetida à lei sensorial, às condições físicas ditadas pelos objetos”.
O citado autor se baseia no que diz Vygotsky para explicar o processo em que a
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ação da criança determina outro tipo de percepção, na qual a cognição é o meio
por que o indivíduo age sobre o objeto, indo além da imagem visual e agindo
com independência em relação ao objeto, a despeito do que apenas via
anteriormente.
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As funções mentais superiores se estruturam primordialmente na
atenção. Este elemento, em relação ao brinquedo e a operações práticas,
determina o nível de capacidade ou incapacidade de focalizar a atenção, o que
constitui um dado essencial para avaliar o desenvolvimento. Sobre a construção da
atenção a partir de experiências lúdicas e da função social do jogo, Vygotsky
(apud FERREIRA, 2000) assim expõe seu pensamento: No final do
desenvolvimento surgem as regras, e, quanto mais rígidas elas são, maior a
exigência de atenção da criança, maior a regulação da atividade da criança, mais
tenso e agudo torna-se o brinquedo. Correr simplesmente, sem propósito ou regras,
é entediante e não tem atrativo para a criança.
O pensamento verbal-lógico (o
segundo sistema de sinalização), concentra
a inteligência simbólica e a orientação externa, a qual pode prescindir da
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presença de estímulo. O controle do comportamento condiciona a organização
deste sistema, que se organiza com o auxílio da fala. De acordo como Ferreira
(2000), “a relação entre pensamento e linguagem é muito estreito e, praticamente,
devido basicamente à função linguística e do uso dos signos é que podemos
caracterizar as Funções Mentais, enquanto Superiores”.
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A fala auxilia a organização dos movimentos da criança e de seus
comportamentos. O ato de imaginar algo integra todas as funções mentais
superiores. O terceiro momento apresenta a fala antecipando a ação, isto é, a
criança já tem condições de organizar seu pensamento sobre o que vai fazer,
quando vai fazer e como vai proceder para realizar determinada tarefa. Neste
caso, a organização do pensamento foi integrada pela internalização e já é
possível fazer considerações sobre o passado.
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Tal procedimento implica um amplo e complexo sistema de atribuição de
valores, significação e internalização de símbolos e desenvolvimento de meios de
aproximar o mundo imaginário do real de maneira gradual e segura. Utiliza-se as
palavras de Negrine (1995), para encerrar esta breve revisão do tema “ludicidade,
psicomotricidade e imaginário infantil”: Em toda atividade lúdica da criança existe
exercício e jogo e ambos são importantes na medida que servem de alavanca ao
processo de aprendizagem e desenvolvimento.
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REFERÊNCIAS
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e
educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999
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BOTELHO, S. Jogos e Brincadeiras na educação Infantil publicado 26/11/2008
por Silvia Botelho e, http:/ www.webartigos.com/.
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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DORNELLES,L.V. Na escola infantil todo mundo brinca se você brinca. In:
CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E. P. S. (Org.). Educação Infantil: pra que te quero?
Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 101-108.
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