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campo de conhecimento
e novas temáticas
Maria da Glória Gohn*
Resumo
O artigo aborda fundamentos teóricos da sociologia da edu-
cação, apresentando autores e temáticas contempladas. Tem
o objetivo básico- fornecer ao leitor uma visão da sociologia
da educação como campo de conhecimento. Objetiva tam-
bém contribuir para a formação dos docentes que atuam na
disciplina na escola básica brasileira. Para sua organização
consideraram-se, na abordagem de vários autores da sociologia
da educação, clássicos e contemporâneos, o foco metodoló-
gico, os sujeitos, objetos e as temáticas tratadas por eles. Ao
final, apresenta-se um breve cenário do desenvolvimento da
sociologia da educação no Brasil, como disciplina curricular, e
as influências dos autores mencionados no conjunto do texto,
nas atuais abordagens.
Palavras-chave: Sociologia da educação, novas temáticas na
sociologia da educação, ensino de sociologia.
Abstract
The article discusses the theoretical foundations of Sociology
of education, featuring authors and themes covered by it. Its
primary purpose is to provide the reader with an overview
of the sociology of education as a field of knowledge. It
aims at contributing to the training of teachers working with
this discipline in high schools. The organization required an
approach of several authors of Sociology of education, both
classic and contemporary, their methodological focus, subjects,
* Unicamp/Pesquisadora do CNPq.
Resumen
El artículo analiza los fundamentos teóricos de la sociología
de la educación, con autores y temas tratados. Tiene un bási-
co propósito: proporcionar al lector una visión general de la
sociología de la educación como un campo de conocimiento.
Aspira a contribuir a la formación de los docentes que trabajan
en la disciplina en la escuela básica. Para su organización se
consideró, en el enfoque de varios autores de la sociología de
la educación, clásicos y contemporáneos, el enfoque metodo-
lógico, sujetos, objetos y temas para ellos. Al final presenta un
escenario breve del desarrollo de la sociología de la educación
en Brasil, mientras la disciplina curricular y las influencias de
los autores mencionados en el texto, en los enfoques actuales.
Palabras clave: Sociología de la educación, nuevas cuestiones
en la sociología de la educación, enseñanza de la sociología.
Apresentação
Abordar a temática da sociologia da educação, na atuali-
dade, leva-nos a inúmeros desafios: o campo é vasto e diversifi-
cado. Neste artigo, optamos por focalizar três questões básicas,
a saber: primeiro, a contribuição de alguns autores clássicos
e contemporâneos na construção da sociologia da educação
como disciplina e campo de conhecimento; segundo, fazer um
mapeamento das novas temáticas que têm sido contempladas na
disciplina sociologia da educação. Observaremos que os temas
tratados variam segundo o tempo histórico e os territórios onde
se localizam os processos educacionais, alterando as agendas de
pesquisa e ensino da disciplina. Terceiro, apresentar uma breve
retrospectiva histórica do ensino da sociologia da educação no
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Brasil, pontuando autores e abordagens adotadas, considerando
a importância do retorno do ensino da Sociologia como compo-
nente curricular da escola básica, no nível de ensino médio no
Brasil, e a necessidade de formação de profissionais docentes
para atuarem na área.
O texto demonstra que ao longo do século XX muitos
teóricos debruçaram-se sobre a área da educação e adensaram o
campo de estudos e pesquisas da sociologia da educação. Obser-
varemos nas análises dos autores destacados que existem vários
enfoques e abordagens, dentre as quais, as correntes positivistas,
sistêmica/funcional, a histórica marxista, o estruturalismo cons-
trutivista, a teoria crítica, o pós-modernismo e a abordagem dos
pragmatistas. Não estamos preocupados com o enquadramento
dos autores e nem com sua sociologia. Apenas, selecionamos
alguns dentre os principais teóricos, muitos deles, sociólogos, a
maioria do exterior, que pensaram e contribuíram para o campo
da sociologia da educação.
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o processo de trabalho e seu caráter educativo. Esta abordagem
será ampliada no século XX por Gramsci, que cuidará de as-
pectos da formação dos indivíduos, e seu papel na sociedade
como intelectuais (cf. MANACORDA, 1990). Gramsci contribui
para a reflexão sobre o papel da educação ao destacar a cultura
e seu papel para as transformações sociais de uma sociedade.
A cultura popular e a relação dos intelectuais com o povo são
parte de uma análise política e cultural da sociedade. A educação
é vista como parte da disputa pela direção ideológica da socie-
dade. A escola defendida por Gramsci deve contribuir para uma
formação unitária, abrangendo a educação tradicional com forte
conteúdo teórico, literário, filosófico e científico, porém voltada
para o trabalho prático. Com isso ele propõe a superação da di-
visão entre a formação livresca, teórica, abstrata, para as elites e
a formação utilitarista e tecnicista para os trabalhadores e demais
componentes das camadas subalternas. Na abordagem marxista,
após 1950, Louis Althusser teve grande influência nos estudos
sobre os sistemas escolares, ao relacionar ideologia e educação
segundo uma visão estrutural. A escola é analisada como um dos
principais aparelhos ideológicos do Estado, difundindo ideologias
de aceitação de formas de dominação existentes, mera repro-
dutora de uma ordem social dada pelo lugar que os indivíduos
ocupam no sistema de produção (ALTHUSSER, 1985).
Nos anos de 1970, dois franceses deram sequência à con-
cepção de críticas ao sistema escolar na linha do materialismo
marxista: Roger Establet e Christian Baudelot. A escola é vista,
por eles, como reprodutora das desigualdades da sociedade de
classes. Distinguem as escolas em dois tipos: uma para os filhos
da classe empresarial e outra para filhos da classe trabalhadora.
A escola seria, também, reprodutora da ideologia, repetindo
valores, ideias e a cultura do mundo empresarial. A linguagem
é vista como o meio de difusão desta ideologia dominante, é
por meio dela que a escola marginaliza as crianças de origem
pobre. Em resumo, a abordagem de Establet-Baudelot constitui
a forma mais elaborada de visão “da escola como instituição a
serviço da classe dominante que acaba reproduzindo a sociedade
de classes” (MEKSENAS, 1988, p. 77).
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de massa veio acompanhada de progressos tecnológicos que se
tornaram meios de desagregação social. Os indivíduos devem
se adaptar às demandas do mercado e, ao fazerem isto, negam
suas possibilidades de emancipação. A vida social passa a ser
marcada pelo individualismo, a busca do novo é constante e,
para tal, a destruição do existente torna-se alavanca do próprio
sistema de produção. O culto à produtividade e à criatividade,
o consumo e acúmulo de mercadorias e a aquisição de proprie-
dades são metas ideais de realização humana. A racionalidade
dos indivíduos passa a ser utilizada para administrar este novo
mundo. Neste processo, o sistema escolar age como elemento
reiterativo dos novos valores. Segundo Bruno Pucci, Adorno
propõe que a escola
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dos indivíduos na vida em sociedade. Por isso, os processos
reflexivos são fundamentais, e Habermas preconiza que o cur-
rículo escolar deve atentar a este ponto, deixando de priorizar o
conhecimento legitimado pelo costume e tradição, estimulando
o conhecimento gerado por meio de processos reflexivos, onde
haja diálogo baseado na argumentação livre. A reflexividade e
o diálogo devem se estabelecer entre educadores, educandos
e suas famílias (cf. HABERMAS, 1983). Portanto, deve haver
relações intersubjetivas entre os agentes do processo educativo,
pautada na reflexão e na argumentação. A busca do consenso e
entendimento das situações de conflitos só é possível via pro-
cessos dialógicos. As identidades tratadas por Habermas geram
competências intersubjetivas adquiridas, também, em processos
de aprendizado-linguísticos, cognitivos, interativos (habilidades
para conviver com o outro, com o diferente, ou com as dife-
renças) etc. Habermas desenvolve uma série de estudos sobre
os processos interativos, o uso da linguagem e os processos
de aprendizagem e integração das identidades individuais à
identidade coletiva. Destes processos, destaca-se o “agir comu-
nicativo” – que poderá superar condicionamentos e viabilizar a
emancipação humana.
Axel Honneth (2003) tem sido, neste novo século, na escola
alemã, uma referência no campo da educação, especialmente em
algumas questões das novas temáticas da sociologia da educação,
a exemplo do reconhecimento das diferenças e diversidades
culturais. Tendo como base uma abordagem psicossocial, ele
desenvolveu uma teoria da luta por reconhecimento. Com base
no interacionismo simbólico de George Mead e nas formas de
reconhecimento de Hegel (amor, direito e solidariedade), Hon-
neth elabora o que denomina forma de reconhecimento recusado
(nos âmbitos físico, moral e social dos indivíduos) e constrói
uma teoria sobre os efeitos do não reconhecimento, que leva
a ações coletivas de protesto ou resistência. Os conflitos têm,
para Honneth, um papel educativo na sociedade: eles indicam as
áreas em que não há respeito ao outro, não há reconhecimento
do outro como um igual, e os problemas daí decorrentes. O
reconhecimento seria uma luta por ampliação de direitos. Ao
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agentes, o conceito de habitus. O “campo” estrutura o habitus
via representações simbólicas interiorizadas pelos indivíduos
em virtude de suas condições objetivas de existência, criando
uma memória individual e coletiva. Mas este processo também
torna os indivíduos detentores de disposições resultantes de
experiências biográficas (leiam-se disposições como atitudes,
competências, formas de perceber etc.). Portanto, os indivíduos
não são meros autômatos, nem seres racionais frios. Há o habitus
(BOURDIEU, 1998).
Um breve voo sobre a sociologia da educação no século
XX não pode deixar de mencionar Michel Foucault. Já, nos
anos 1960, ele destacou o campo da educação ao escrever sobre
saberes e epistemes, colocando questões norteadoras instigantes
como: “O que eu posso saber?” Ou, “O que eu posso ver e
enunciar em tais condições?” (CARVALHO; SILVA, 2006, p.
139). Mas será nas obras Vigiar e punir (1975) e A história da
sexualidade (1988), ao tratar de forma inovadora a questão do
poder como rede de relações de força, que se difunde em todos
os espaços da sociedade, que ele lançará interpretações socio-
lógicas importantes na investigação dos processos disciplinares
dos sistemas escolares.
Na contemporaneidade, dentre os autores referenciais im-
portantes na sociologia da educação, devem ser citados ainda
François Dubet, Alain Touraine e Edgar Morin. Dubet tem
dedicado quase toda a sua obra à pesquisa no campo da socio-
logia da educação. Estudou os liceus franceses, os estudantes,
os jovens e suas galeras, e a instituição escolar propriamente
dita. É um referencial obrigatório no estudo dos jovens e da
juventude. Nos últimos anos tem se dedicado ao estudo sobre
o que seria uma escola justa, que trabalhe questões da igualdade
e da justiça escolar.
Em 2002, Alain Touraine, em artigo sobre a globalização,
publicado em número especial do “Caderno Mais” da Folha de
São Paulo, observou que “o crescimento depende cada vez mais
de fatores como a educação, a organização do Estado, o modo
de governança e também o modo de distribuição do produto na-
cional” (2002, p. 9). Ele elaborou, na ocasião, algumas propostas
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Novos temas na sociologia da educação:
perspectivas atuais no ensino e na pesquisa
Sabe-se que as primeiras abordagens da sociologia da
educação focalizaram, prioritariamente, os próprios sujeitos
participantes das escolas, especialmente os professores e os
alunos. Era uma abordagem essencialista, baseada no estudo
da ordem e da autoridade. Esta visão tradicional da educação
tratava o professor como agente transmissor de informações. As
ordens religiosas dos jesuítas foram exemplares nessa didática.
O surgimento da sociologia da educação trará novos aportes,
existencialistas, baseados na experiência vivida.
Na atualidade, a disciplina sociologia da educação, consoli-
dou-se e ampliou seu escopo, bastante diferenciado do currículo
francês do século XIX. Novos temas ganharam centralidade, tais
como políticas públicas educacionais, participação da comuni-
dade educacional, cultura escolar, gestão democrática, inclusão
(escolar, social, digital), violência nas escolas etc. Mas a grande
inovação é dada pela perspectiva de como as novas temáticas
são tratadas sob enfoques de gênero, diversidade cultural, classe,
etnicidade, religião, nacionalidade, justiça social, subjetividade, se-
gregação social, inclusão e exclusão social e, fundamentalmente,
o tema da cidadania. O multi e o interculturalíssimo surgem no
rastro destas discussões, assim como na discussão sobre esfera
pública, responsabilidade/compromisso social etc. Neste senti-
do, as abordagens sistematizadas na primeira parte deste artigo,
especialmente as de Habermas, Honneth, François Dubet, Alain
Touraine, Edgar Morin, C. Taylor, P. MacLaren e Stuart Hall são
os pilares de sustentação teórica dos novos temas.
Os novos approaches metodológicos, que pautam as novas
perspectivas da sociologia da educação, fogem do antigo modelo
francês, construído sob a ótica do positivismo, em sua versão
funcionalista, em que se destacam funções tradicionais ligadas
à busca de se estabelecer regularidades, propiciar o treinamento
cognitivo, e cuidar do planejamento educacional, visto como
uma ferramenta técnica. Parte dos novos approaches resgatam a
perspectiva empirista, muito preocupada com as avaliações, me-
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eles possibilitaram revisões históricas das abordagens, levando
a temática do neocolonialismo e a busca de superação do olhar
colonizador na prática educativa. Inspirados pelos estudos de
R. Willians, E. P. Thompson, E. Said, Stuart Hall, P. McLaren,
W. A. Quijano, W. Mignolo, H. Giroux, C. Taylor, Boaventura S.
Santos, M. Castells, e muitos outros, eles abriram novas frentes
temáticas de estudo e pesquisa à sociologia da educação.
Entre alguns dos sujeitos sociais que têm tido centralidade
na nova abordagem na sociologia da educação destacam-se os
jovens, especialmente, os excluídos socioeconomicamente. A
categoria jovem refere-se a indivíduos que vivenciam processos
específicos de socialização dentro de uma dada faixa etária.
Muitas vezes ela é citada via uma de suas representações, a
juventude, categoria relacional que posiciona os indivíduos
como pertencentes a uma dada faixa etária, embora ele possa
ter até mais idade do que esta faixa compreende. Mas ele teria
atributos daquela faixa. Os jovens são vistos como dotados de
certas características que geram ações e produzem impactos; são,
portanto, atores coletivos que desempenham papéis específicos
na sociedade (cf. WEISHEIMER, 2009). Sposito constrói outras
dimensões para a categoria jovem, tais como condição juvenil
e situação juvenil. Estas categorias referem-se ao modo como a
sociedade constitui e atribui significados à juventude em determi-
nadas estruturas sociais, históricas e culturais, dentro de escalas
e hierarquias sociais (cf. SPOSITO, 2003). Antonio Carlos da
Costa (2002) sistematizou, num quadro panorâmico instigante,
as imagens que a sociedade tem criado como representação
sobre os jovens. Estes jovens, como participantes de coletivos
organizados em movimentos sociais, podem ser estudados sob
vários papéis sociais, tais como enquanto estudantes, ou pro-
dutores de arte, nas galeras, nos blogs e redes sociais etc. Estas
práticas e comportamentos levam a outra temática, relevante na
nova sociologia da educação, que são os movimentos sociais.
Movimentos, não apenas dos jovens, mas de todas as faixas
etárias, relativos a seus pertencimentos e identidades de sexo,
etnia, classe, grupo cultural ou religioso; em suma, movimentos
de direitos e demandas de bens e serviços.
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gia da educação: Educação e sociedade no Brasil (1966). Como
se sabe, Fernandes situa-se entre os principais representantes
do legado marxista na análise do sistema educacional brasileiro.
Desde a década de 1950 ele enfatizou a educação como um
fator decisivo para o desenvolvimento social e econômico de
uma nação, teceu críticas profundas ao sistema de ensino no
país, com qualidade diferenciada segundo as classes e camadas
sociais que atende. Ao final da década de 1980, Florestan retoma
a temática dos processos educacionais, analisando sua relação
com a ciência e a tecnologia, visando a um saber crítico para a
transformação da sociedade (cf. FERNANDES, 1989).
A contribuição de Florestan, nos anos 1960, foi seguida
por Marialice Foracchi e Luís Pereira, ambos da Universidade
de São Paulo. Nos anos 1970, Foracchi trabalha o mesmo tema
em obra com José de Souza Martins (1977). Otaísa Romanelli
(1988) também contribuiu, na mesma linha de pesquisa, nos
anos 1970, assim como Bárbara Freitag (1979) e Maria Apa-
recida J. Gouveia (1971). Em resumo, vários autores deram
grandes contribuições ao fazerem resgates históricos, tanto sob
a perspectiva da educação (PILETTI, 1991; GADOTTI, 1983;
RIBEIRO, 1978; SAVIANI, 1991) como sob o olhar das Ciências
Sociais no Brasil (MICELI, 1995). Mais recentemente, Heloísa
de Souza Martins (2008) tem participado de grupos de trabalho
e organizado pesquisas a respeito da sociologia no ensino médio.
Observa-se que, progressivamente, a sociologia da edu-
cação foi ocupando um espaço importante, realizando análises
e diagnósticos da realidade brasileira, e se firmando como um
campo específico dentro da sociologia, não mais como subi-
tem da sociologia geral, mas como um espaço de produção de
conhecimento sobre a realidade educacional a partir de dados
empíricos do País. A máxima positivista de integrar as massas
urbanas advindas do meio rural ao desenvolvimento do País, por
meio da educação, imperava, na visão dualista que contrapunha
o arcaico (visto como sinônimo da vida rural) e o moderno
predominante (o novo urbano/industrial). Isso tudo acabou re-
forçando a necessidade e a importância da disciplina sociologia
da educação como auxiliar dos diagnósticos e planos governa-
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e outros, são temas que compõem as novas temáticas e aborda-
gens da sociologia da educação. Eles trazem, implícitas, outras
questões no plano das identidades culturais, da justiça social,
da democracia, cultura política etc.
A recente obrigatoriedade do ensino da Sociologia no
ensino médio colocou inúmeros desafios sobre a formação
de professores nos cursos de graduação e licenciaturas. Há
necessidade de debates sobre os conteúdos programáticos, me-
todologias, tipos de formação, materiais didáticos e de apoio,
pesquisas sobre o ensino, temas sociológicos a serem abordados
em sala de aula etc.
Temas cruciais da sociedade e na vida dos jovens adolescen-
tes da escola básica, tais como a socialização dos jovens, forma-
ção de valores, debates sobre direitos, combate a preconceitos,
intolerâncias, drogas, sexo, o bullying nas escolas etc. podem, e
devem, ser debatidos nos espaços da educação formal abertos
com o ensino da Sociologia, canalizando e ampliando o escopo
da sociologia da educação. Formar novos e bons profissionais
para esta área é uma urgência. Há também que se redesenhar a
distribuição das cargas horárias na grade curricular para que o
ensino da Sociologia não seja mascarado, ou venha a ser subs-
tituído por outros conteúdos afins.
Observações finais
Este artigo objetivou fazer um mapeamento de grandes
recortes no campo da sociologia da educação, resgatando a
contribuição de autores clássicos e alguns contemporâneos, lis-
tando novos temas abordados na disciplina nos últimos anos e
pontuando alguns momentos do desenvolvimento da sociologia
da educação no Brasil. Esperamos que ele possa contribuir para
que pesquisadores e profissionais, especialmente os que atuam
na escola básica no Brasil, venham a ter uma visão panorâmica
da temática e construam agendas para futuras pesquisas. Certa-
mente muitos autores, temas e estudos não foram contemplados
por falta de espaço. Deve-se olhar, não apenas para o campo
dos sociólogos, mas pesquisar também o trabalho de muitos
educadores/pedagogos.
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Submetido em: 15.8.2012
Aceito em: 19.9.2012