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Sylson Henrique Maciel1 , Douglas Borges Lima2 ,Tiago Drumond3, Matheus José Silva4, Caio
Alves do Espírito Santo5
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UFMG, Departamento de Filosofia , FAFICH, sylsonestudos@gmail.com
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UFMG, Departamento de Fisioterapia, EEFFTO, limadouglas2011@live.com
3
UFMG, Departamento de Filosofia , FAFICH, otiagodrumond@hotmail.com
4
UFMG, Departamento de Filosofia , FAFICH, matheusjose0815@gmail.com
5
UFMG, Departamento de Engenharia Eletrônica, Escola de Engenharia, caioaesanto@hotmail.com
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar os aspectos históricos que deram
fundamentação a prática do racismo, associando a temática à questão do colonialismo.
Utilizando-se de autores como Clóvis Moura, Florestan Fernandes, Domenico Losurdo, Frantz
Fanon e Karl Marx, o projeto tem por finalidade tentar compreender o que foi o passado, com
vistas de buscar soluções no presente e, assim, traçar paradigmas para o futuro.
Palavras-Chave: Racismo, Colonialismo, Brasil
1. Introdução:
Atualmente o tema do racismo se tornou algo central para uma compreensão mais ampla
das sociedades modernas, em especial para um entendimento mais preciso do que seria
o Brasil. Porém, por vezes, aborda-se a questão do preconceito de forma não histórica e
pouco contestatória da estrutura social e econômica fundante de tal pensamento. Nesse
sentido, vale destacar o papel do colonialismo, do capitalismo e do imperialismo como
modeladores do pensamento tanto dos sujeitos subjugados quanto dos sujeitos
subjugadores.
Cabe pontuar que o trabalho tem como objetivo uma análise que visa mostrar como o
pensamento dos dominadores opera na cultura dos povos colonizados. Nesse sentido, o
papel da ideologia é central, uma vez que mascara a realidade e opera sobre o
subconsciente dos indivíduos.
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O artigo procura se concentrar em duas partes. Na primeira delas, será abordada a
questão nacional do racismo, vista pelas lentes de Clóvis de Moura e Florestan
Fernandes. Já em uma segunda parte o foco será a abordagem psicanalítica de Frantz
Fanon, associando o pensamento de Fanon a uma observação feita por Domenico
Losurdo.
A partir de leitura atenta de autores tais quais Clóvis Moura (1981) e Fernandes F. (2008)
e valendo-se do conceito marxiano de ideologia (Marx, 2007), a qual seria uma falsa
consciência, observa-se que a construção histórica dos saberes brasileiros foi limitada por
concepções equivocadas.
De acordo com Florestan Fernandes (2008) a ideia de uma democracia racial brasileira,
construída ao longo de anos e abordada por Gilberto Freyre (2003), constituia-se como
mito.
Durante quase meio século, permaneceu soberana e intocável uma ideologia racial que
colidia com as bases ecológicas, econômicas, psicológicas, sociais, culturais, jurídicas e
políticas de uma sociedade multirracial, de estrutura secularizada, aberta e em diferenciação
tumultuosa. (FERNANDES, F. 2008, p. 306).
Clóvis Moura, ressalta que as pessoas escravizadas lutavam com todas as forças,
organizando-se, muitas vezes, em quilombos, para se livrarem de uma situação de
inferiorização e aprisionamento por parte dos “brancos”.
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Em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Maranhão, onde
quer que o trabalho escravo se estratificava, ali estava o quilombo, o mocambo de negros
fugidos, oferecendo resistência. Lutando. Desgastando as forças produtivas, quer pela ação
militar,quer pelo rapto de escravos, fato que constituía, do ponto de vista econômico, uma
subtração ao conjunto das forças produtivas dos senhores de engenho. (MOURA, C. 1981,
p. 87).
Os quilombolas criarão vários focos de ação nas margens do Rio Paraíba, de onde
incursionarão para atacar as fazendas mais próximas. Ali juntar-se-ão aos índios que
também lutavam contra a escravidão, constituindo força capaz de atacar inesperadamente
os senhores de engenho que, alarmados e temerosos de suas atividades, várias vezes
solicitarão providências à Câmara contra tais atos. (MOURA, C. 1981, p. 90).
Fica evidente o dinamismo que se deu no corpo social nacional das lutas “raciais”, o que
diverge das narrativas, por vezes menosprezantes, dos oprimidos. Quando se
conscientizavam da necessidade de luta, os escravizados atuavam efetivamente para
acabar com a exploração. No entanto, vale salientar o papel exercido pela ideologia, no
plano das narrativas nacionais, uma vez que somente aos “vitoriosos” é dado o direito de
expor a versão dos fatos.
O colonialismo não é apenas nocivo no plano material, mas dita regras internas aos que
são dominados e gera uma falsa imagem do que seria o ser humano. Como dissertado
por Rocha (2015) o autor martinicano Frantz Fanon aborda com clareza esse processo
que se dá na psique dos oprimidos. Para ele a colonização não se dá apenas no plano
material, uma vez estabelecida a base física da dominação, ela se estende para o campo
da subjetividade humana.
Todo povo colonizado — isto é, todo povo no seio do qual nasceu um complexo de
inferioridade devido ao sepultamento de sua originalidade cultural — toma posição diante da
linguagem da nação civilizadora, isto é, da cultura metropolitana. Quanto mais assimilar os
valores culturais da metrópole, mais o colonizado escapará da sua selva.
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Quanto mais ele rejeitar sua negridão, seu mato, mais branco será. (FANON, F. 2008, p.
34).
Solicitado, o branco consente em lhe dar a mão da irmã, mas protegido por um pressuposto:
você não tem nada a ver com os verdadeiros pretos. Você não é negro, é “excessivamente
moreno”. Este processo é bem conhecido pelos estudantes de cor na França. Recusam-se
a considerá-los como verdadeiros pretos. O preto é o selvagem, enquanto que o estudante
é um “evoluído”. Você é “nós”, lhe diz Coulanges, e se o consideram preto é por equívoco,
pois de preto você só tem a aparência (FANON, F. 2008, p. 73).
Desejando sair de tal armadilha, Fanon traça uma teoria do que seria o humanismo
radical. Dessa maneira, não cabe , a longo prazo, aos oprimidos, em especial aos povos
“negros”, afirmarem-se no plano de igualdade perante os opressores. Cabe ir além: é
necessário romper com o conceito todo de raça.
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Para nós, aquele que adora o preto é tão “doente” quanto aquele que o execra.
Inversamente, o negro que quer embranquecer a raça é tão infeliz quanto aquele que prega
o ódio ao branco. Em termos absolutos, o negro não é mais amável do que o tcheco, na
verdade trata-se de deixar o homem livre. (FANON, F. 2008, p. 16).
Portanto, o intuito do autor é muito mais radical do que como modernamente se entende a
questão racial. O objetivo dele é fugir de um essencialismo. Ele pretende extirpar a
premissa da existência da raça, formada sócio historicamente, sendo o foco a
desracialização do ser humano.
4. Conclusão:
Infere-se, assim, que o estudo realizado expos a questão colonial, como base fundante do
sistema racial, destacando o papel da ideologia na formação social dos povos dominados.
Nesse sentido, trazendo para a realidade brasileira, é importante desfazer mitos nacionais
estabelecidos, como o de democracia racial, assim como compreender que a escravidão
se deu de forma violenta. Ademais, o trabalho aborda o aspecto psicanalítico do
mecanismo de colonização, o qual é introjetado nos povos de cor, gerando nestes uma
visão distorcida de si mesmos. O objetivo da pesquisa de expor as origens do racismo
histórico foi alcançado parcialmente, uma vez que o tema proposto é extenso e complexo.
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Referências
FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Tradução Renato da Silveira, EDUFBA,
Salvador, 2008.
FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala. Rio de Janeiro, Global editora 48° edição,
2003.
LOSURDO, Domenico. A não violência uma história fora do mito. Editora Revan,
Tradução Carlos Alberto Dastoli, 2012.
MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala. Terceira edição. A questão social no brasil {6}.
Lech Livraria Editora Ciências Humanas LTDA, 1981.