TCC 2 - Nicole C Torres
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TCC 2 - Nicole C Torres
RESUMO
O presente artigo científico busca analisar o perfilamento racial no Brasil, e como este
elemento corrobora veementemente para a consolidação do racismo e da injúria racial no país.
Isto é, sendo o Brasil constituído pela maioria da população preta e parda, ainda assim, os
espaços de poder são ocupados pelos brancos, assim como era no Brasil escravocrata. O
perfilamento racial é uma das inúmeras formas contemporâneas de racismo e discriminação
racial, que contraria os princípios dispostos na Constituição Federal, sendo que, a Magna
Carta garante a todos os indivíduos, igualdade perante a lei. Dessarte, o racismo no ambiente
jurídico é expresso por diversos meios, desde a desigualdade no acesso à justiça entre negros
e brancos, como a falta de representatividade da população negra nos cargos de poder. Assim
sendo, o racismo institucional, exercido pela seletividade penal, em que pese, as pessoas
negras serem presas e condenadas em maior proporção do que pessoas brancas por crimes
similares, deve ser altamente combatida, a fim de que, através de políticas públicas, não haja
apenas o combate ao racismo, mas sim, a implementação de uma luta antirracista. Para o
desenvolvimento da pesquisa será utilizado o método dedutivo-bibliográfico, realizando-se
uma revisão da bibliografia com sistematização e discriminação dos livros e demais materiais
utilizados. Dentre eles, será definida a bibliografia de livros nacionais, artigos de sites
jurídicos da Internet e estudo das decisões dos Tribunais brasileiros. Os processos
metodológicos empregados na elaboração da pesquisa serão: dogmático jurídico, histórico e
analítico sintético.
ABSTRACT
This scientific article seeks to analyze racial profiling in Brazil, and how this element strongly
corroborates the consolidation of racism and racial insults in the country. That is, since Brazil
is made up of the majority of the black and brown population, spaces of power are still
occupied by white people, just as it was in slave-owning Brazil. Racial profiling is one of the
countless contemporary forms of racism and racial discrimination, which contradicts the
principles set out in the Federal Constitution, and the Magna Carta guarantees equality before
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Acadêmica do 8º semestre do Curso de Direito da Universidade de Franca.
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the law to all individuals. Therefore, racism in the legal environment is expressed through
various means, from inequality in access to justice between blacks and whites, to the lack of
representation of the black population in positions of power. Therefore, institutional racism,
exercised by criminal selectivity, despite black people being arrested and sentenced in greater
proportion than white people for similar crimes, must be highly combatted, so that, through
public policies, no there is only the fight against racism, but rather the implementation of an
anti-racist fight. To develop the research, the deductive-bibliographic method will be used,
carrying out a review of the bibliography with systematization and discrimination of the
books and other materials used. Among them, the bibliography of national books, articles
from legal websites on the Internet and studies of decisions by Brazilian Courts will be
defined. The methodological processes used in the preparation of the research will be: legal
dogmatic, historical and synthetic analytical.
INTRODUÇÃO
2
PRUDENTE, Eunice. Dados do IBGE mostram que 54% da população brasileira é negra. Jornal da USP,
2020. Disponível em:
https://jornal.usp.br/radio-usp/dados-doibge-mostram-que-54-da-populacao-brasileira-e-negra/. Acesso em: 20
set. 2023.
2
psicológicas com delitos específicos e seu uso como base para tomar decisões de aplicação da
lei.”
A cara do ‘freio da Blazer’, expressão trazida através de movimentos culturais
e musicais, sobretudo, pelo Rapper brasileiro ‘L7NNON’, retrata o estereótipo de quem é
abordado pelas autoridades policiais. Sendo que, ‘Blazer’ diz respeito ao carro que era
utilizado pela polícia antigamente. Isto posto, a cara do ‘freio da Blazer’ denota uma
expressão característica para intitular aqueles que possuem o perfil para sofrerem violência
policial.
Essa expressão retratada pelo cantor, traz uma crítica às abordagens policiais à
pessoas pretas, pardas, pobres e oriundas de regiões marginalizadas, como favelas e
comunidades.
Logo, de forma a combater o racismo, o rap é um estilo musical que nasceu
nas periferias negras dos Estados Unidos na década de 1970 e se disseminou pelo mundo,
inclusive no Brasil. É um gênero que tem como uma de suas principais características a
denúncia das desigualdades sociais e do racismo, e, tornou-se uma ferramenta de resistência e
luta por direitos para a população negra. Sendo que, suas letras e canções abordam temas
como a violência policial, a falta de acesso à educação e à saúde, a discriminação no mercado
de trabalho e outras formas de opressão enfrentadas por essa comunidade.
No Relatório das Nações Unidas, o Relator Especial abordou sobre as formas
contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e a intolerância relacionada, e
indicou que o perfilamento racial e étnico é frequentemente entendido como “o uso pela
polícia, profissionais de segurança e controle das fronteiras no uso da raça, cor, descendência,
etnicidade ou nacionalidade de uma pessoa como parâmetro para a submeter o indivíduo à
buscas pessoais minuciosas, verficações e reverificações de identidade e investigações”, ou na
determinação sobre o envolvimento de um indivíduo em atividades criminosas
(A/HRC/29/46, parágrafo 2)3.
Silvio Almeida4, em seu livro Racismo Estrutural, entende que:
Consciente de que o racismo é parte da estrutura social e, por isso, não necessita de
intenção para se manifestar, por mais que calar-se diante do racismo não faça do
indivíduo moral e/ou juridicamente culpado ou responsável, certamente o silêncio o
torna ética e politicamente responsável pela manutenção do racismo. A mudança da
sociedade não se faz apenas com denúncias ou com o repúdio moral do racismo:
depende, antes de tudo, da tomada de posturas e da adoção de práticas antirracistas.
3
UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL. Report of the Special Rapporteur on contemporary
forms of racism, racial discrimination, xenophobia and related intolerance, Mutuma Ruteere (A/
HRC/29/46), 2015. Disponível em: https://undocs.org/A/HRC/29/46
4
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019, p. 52.
3
medidas de colonização, foram trazidos milhares de negros africanos por meio do tráfico
negreiro, para serem escravizados e viverem situações de desumanidade.
Não obstante, ainda que, a escravidão no Brasil tenha durado 388 anos, sendo
somente em 13 de maio de 1888, que a Lei nº 3.353, mas conhecida como Lei Áurea, foi
sancionada, ainda nos dias contemporâneos, pode-se compreender que o rascismo, ainda é
vigorosamente presente no Brasil e que, a escravidão é estritamente ligado a ele.
Por causa do racismo estrutural, a população negra tem menos condições de acesso a
uma educação de qualidade. Geralmente, quem passa em vestibulares concorridos
para os principais cursos nas melhores universidades públicas são pessoas que
estudaram em escolas particulares de elite, falam outros idiomas e fizeram
intercâmbio. E é justamente o racismo estrutural que facilita o acesso desse grupo.
5
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
6
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE nº ADC
41. DF, de 08 de junho de 2017. [S. l.], 2017.
5
7
CRI. Articulação para o Combate ao Racismo Institucional. Identificação e abordagem do racismo
institucional. Brasília: CRI, 2006
8
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/populacao-negra-encarcerada-atinge-maior-patamar-da-se
rie-historica
9
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
7
um tema objeto de debates e que visam a promoção dos direitos humanos a todos os
indivíduos. Isso é, o perfilamento racial refere-se à prática de usar características raciais ou
étnicas como critério para selecionar indivíduos para investigação, abordagem ou detenção
por parte das autoridades policiais.
Destarte, a proibição do perfilamento racial é uma medida fundamental para a
garantia de um policiamento não discriminatório e sendo assim, possibilitar a promoção da
igualdade e os direitos humanos de todos os cidadãos, independentemente de sua raça ou
etnia. De acordo com o artigo 244 do Código Processual Penal Brasileiro:
10
COSTA, Rafael Ferreira de Albuquerque. Discurso da neutralidade racial e da gravidade das drogas no
sistema de Justiça. 2023. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-jul-18/rafael-ferreira-hc-208240.
Acesso em 03 out. 2023.
8
11
NAÇÕES UNIDAS. Prevenindo e Combatendo o Perfilamento Racial de Pessoas Afrodescendentes: Boas
Práticas e Desafios. Disponível em:
https://brasil.un.org/pt-br/105298-perfilamento-racial-debates-realizados-pela-onu-discutem-recorr%C3%AAnci
a-de-casos-e-desafios. Acesso em 04 out 2023.
9
12
JÚNIOR, Aury Lopes; OLIVEIRA, Jhonatan. A influência do racismo estrutural no uso do
reconhecimento fotográfico como meio de prova. 2022. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-jan-14/limite-penal-racismo-estrutural-reconhecimento-fotografico-meio-prova.
Acesso em 04 out. 2023.
10
Isto posto, o caso em tela não é um caso isolado, isso porque, segundo outro
relatório da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) elaborado em 2020, foi apontado
que houve erro em pelo menos 58 casos de reconhecimento fotográfico, que resultaram em
“acusações injustas e mesmo na prisão de pessoas que nada tinham a ver com o crime que
lhes era imputado”. Do total de casos, 70% dos acusados injustamente eram negros, como
Ângelo Gustavo Pereira Nobre.
Dessa forma, por se tratar de uma forte violação dos direitos humanos, o
reconhecimento fotográfico contribui para o fortalecimento do perfilamento racial no Brasil.
Pois, o uso de características raciais tidas como critérios para selecionar suspeitos baseia-se
em preconceitos e estereótipos raciais criados pelo sistema policial e judiciário, tendo por
consequência, investigações tendenciosas e imprecisas.
13
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
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ambientes de trabalho
14
OLIVEIRA, Joana. Lourenço Cardoso: “Temos potencial para abolir o racismo e todas as outras formas
de opressão”. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019-11-30/lourenco-cardosotemos-potencial-para-abolir-o-racismo-e-todas-as-ou
tras-formas-de-opressao.html. Acesso em 04 out. 2023.
12
O branco precisa estar com 80% a mais de maconha do que o preto e pardo para ser
considerado traficante. Para um analfabeto, por volta de 18 anos, preto ou pardo, a
chance de ele, com uma quantidade ínfima, ser considerado traficante é muito
grande. Já o branco, mais de 30 anos, com curso superior, precisa ter muita droga no
momento para ser considerado traficante.
sistema judicial, agindo de forma discreta e velada, isto é, transparecendo através de suspeitas
tendenciosas e sem a devida fundamentação concreta. Enraizado dentro do Poder Judiciário,
como também, por meio de ações policiais, considera-se, exclusivamente, para levantar um
suspeito, a cor da pele do agente.
O autor Sampaio, em Racismo institucional: desenvolvimento social e
políticas públicas de caráter afirmativo no Brasil, define o conceito de racismo institucional:
que pessoas brancas por crimes similares, bem como na ausência de medidas efetivas para
combater o racismo e promover a inclusão e diversidade nos tribunais e órgãos jurídicos.
Destarte, uma sociedade que trouxe resquicios da escravidão, está sujeita a
implementar, ainda que imperceptivelmente, práticas pártidarias e desiguais, em ambientes
que deveriam, sobretudo, promover a igualdade. No mais, a falta de sensibilidade e
conhecimento sobre questões raciais por parte de advogados, juízes e promotores também
pode colaborar na perpetuação do racismo no ambiente jurídico, comprometendo a
imparcialidade e justiça das decisões tomadas.
Posto isto, para a efetividade do combate ao racismo institucional, é
fundamental a formação e inclusão de profissionais pretos no sistema judiciário.
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. São
Paulo, Saraiva, 2011.
OLIVEIRA, Joana. Lourenço Cardoso: “Temos potencial para abolir o racismo e todas as
outras formas de opressão”. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019-11-30/lourenco-cardosotemos-potencial-para-abolir-o-rac
ismo-e-todas-as-outras-formas-de-opressao.html. Acesso em 04 out. 2023.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.