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TCC 2 - Nicole C Torres

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A CARA DO ‘FREIO DA BLAZER’: COMO O PERFILAMENTO NEGRO

CONTRIBUI COM A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL

THE FACE OF THE ‘BLAZER BRAKE’: HOW BLACK PROFILING


CONTRIBUTES TO RACIAL DISCRIMINATION IN BRAZIL

Nicole Cardoso Torres 1

RESUMO

O presente artigo científico busca analisar o perfilamento racial no Brasil, e como este
elemento corrobora veementemente para a consolidação do racismo e da injúria racial no país.
Isto é, sendo o Brasil constituído pela maioria da população preta e parda, ainda assim, os
espaços de poder são ocupados pelos brancos, assim como era no Brasil escravocrata. O
perfilamento racial é uma das inúmeras formas contemporâneas de racismo e discriminação
racial, que contraria os princípios dispostos na Constituição Federal, sendo que, a Magna
Carta garante a todos os indivíduos, igualdade perante a lei. Dessarte, o racismo no ambiente
jurídico é expresso por diversos meios, desde a desigualdade no acesso à justiça entre negros
e brancos, como a falta de representatividade da população negra nos cargos de poder. Assim
sendo, o racismo institucional, exercido pela seletividade penal, em que pese, as pessoas
negras serem presas e condenadas em maior proporção do que pessoas brancas por crimes
similares, deve ser altamente combatida, a fim de que, através de políticas públicas, não haja
apenas o combate ao racismo, mas sim, a implementação de uma luta antirracista. Para o
desenvolvimento da pesquisa será utilizado o método dedutivo-bibliográfico, realizando-se
uma revisão da bibliografia com sistematização e discriminação dos livros e demais materiais
utilizados. Dentre eles, será definida a bibliografia de livros nacionais, artigos de sites
jurídicos da Internet e estudo das decisões dos Tribunais brasileiros. Os processos
metodológicos empregados na elaboração da pesquisa serão: dogmático jurídico, histórico e
analítico sintético.

Palavras–chave: racismo, perfilamento negro; escravidão; dicriminação racial;

ABSTRACT

This scientific article seeks to analyze racial profiling in Brazil, and how this element strongly
corroborates the consolidation of racism and racial insults in the country. That is, since Brazil
is made up of the majority of the black and brown population, spaces of power are still
occupied by white people, just as it was in slave-owning Brazil. Racial profiling is one of the
countless contemporary forms of racism and racial discrimination, which contradicts the
principles set out in the Federal Constitution, and the Magna Carta guarantees equality before

1
Acadêmica do 8º semestre do Curso de Direito da Universidade de Franca.
1

the law to all individuals. Therefore, racism in the legal environment is expressed through
various means, from inequality in access to justice between blacks and whites, to the lack of
representation of the black population in positions of power. Therefore, institutional racism,
exercised by criminal selectivity, despite black people being arrested and sentenced in greater
proportion than white people for similar crimes, must be highly combatted, so that, through
public policies, no there is only the fight against racism, but rather the implementation of an
anti-racist fight. To develop the research, the deductive-bibliographic method will be used,
carrying out a review of the bibliography with systematization and discrimination of the
books and other materials used. Among them, the bibliography of national books, articles
from legal websites on the Internet and studies of decisions by Brazilian Courts will be
defined. The methodological processes used in the preparation of the research will be: legal
dogmatic, historical and synthetic analytical.

Keywords: racism; black profiling; slavery; racial discrimination;

INTRODUÇÃO

O perfilamento racial, também conhecido como racismo estrutural, é uma


realidade no Brasil. Apesar do país ser reconhecido pela sua diversidade étnica e cultural, a
discriminação racial persiste em diversas esferas da sociedade.
Isso se reflete em indicadores sociais, como a taxa de mortalidade infantil e a
taxa de encarceramento, que afetam de forma desproporcional a população negra. Além disso,
a falta de representatividade em espaços de poder, ainda que, no Brasil, de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2, em 2020, 54% da população brasileira
é negra, isto é, ainda que a população negra seja majoritária no Brasil, ainda existem poucos
cargos de poder ocupados por pessoas negras, reforçam a ausência de políticas públicas
efetivas para combater o racismo.
É necessário, portanto, que a sociedade brasileira reconheça a existência do
perfilamento racial e se engaje em ações concretas para combater essa forma de
discriminação.
Existem várias interpretações e formas de compreender o conceito de
“perfilamento.” No contexto da aplicação da lei, o perfilamento tem sido definido como “a
associação sistemática de um conjunto de características físicas, comportamentais ou

2
PRUDENTE, Eunice. Dados do IBGE mostram que 54% da população brasileira é negra. Jornal da USP,
2020. Disponível em:
https://jornal.usp.br/radio-usp/dados-doibge-mostram-que-54-da-populacao-brasileira-e-negra/. Acesso em: 20
set. 2023.
2

psicológicas com delitos específicos e seu uso como base para tomar decisões de aplicação da
lei.”
A cara do ‘freio da Blazer’, expressão trazida através de movimentos culturais
e musicais, sobretudo, pelo Rapper brasileiro ‘L7NNON’, retrata o estereótipo de quem é
abordado pelas autoridades policiais. Sendo que, ‘Blazer’ diz respeito ao carro que era
utilizado pela polícia antigamente. Isto posto, a cara do ‘freio da Blazer’ denota uma
expressão característica para intitular aqueles que possuem o perfil para sofrerem violência
policial.
Essa expressão retratada pelo cantor, traz uma crítica às abordagens policiais à
pessoas pretas, pardas, pobres e oriundas de regiões marginalizadas, como favelas e
comunidades.
Logo, de forma a combater o racismo, o rap é um estilo musical que nasceu
nas periferias negras dos Estados Unidos na década de 1970 e se disseminou pelo mundo,
inclusive no Brasil. É um gênero que tem como uma de suas principais características a
denúncia das desigualdades sociais e do racismo, e, tornou-se uma ferramenta de resistência e
luta por direitos para a população negra. Sendo que, suas letras e canções abordam temas
como a violência policial, a falta de acesso à educação e à saúde, a discriminação no mercado
de trabalho e outras formas de opressão enfrentadas por essa comunidade.
No Relatório das Nações Unidas, o Relator Especial abordou sobre as formas
contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e a intolerância relacionada, e
indicou que o perfilamento racial e étnico é frequentemente entendido como “o uso pela
polícia, profissionais de segurança e controle das fronteiras no uso da raça, cor, descendência,
etnicidade ou nacionalidade de uma pessoa como parâmetro para a submeter o indivíduo à
buscas pessoais minuciosas, verficações e reverificações de identidade e investigações”, ou na
determinação sobre o envolvimento de um indivíduo em atividades criminosas
(A/HRC/29/46, parágrafo 2)3.
Silvio Almeida4, em seu livro Racismo Estrutural, entende que:

Consciente de que o racismo é parte da estrutura social e, por isso, não necessita de
intenção para se manifestar, por mais que calar-se diante do racismo não faça do
indivíduo moral e/ou juridicamente culpado ou responsável, certamente o silêncio o
torna ética e politicamente responsável pela manutenção do racismo. A mudança da
sociedade não se faz apenas com denúncias ou com o repúdio moral do racismo:
depende, antes de tudo, da tomada de posturas e da adoção de práticas antirracistas.

3
UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL. Report of the Special Rapporteur on contemporary
forms of racism, racial discrimination, xenophobia and related intolerance, Mutuma Ruteere (A/
HRC/29/46), 2015. Disponível em: https://undocs.org/A/HRC/29/46
4
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019, p. 52.
3

Destarte, tendo em vista a estrutura escravocrata na qual a sociedade brasileira


foi estruturada, é possível verificar que os crimes de injúria racial e de racismo sofreram
alterações nas formas que são acometidas, é o que o Relator trata de “formas contemporâneas
de racismo”. Isto é, ainda que a Lei nº 3.353 de 13 de maio de 1888, mais conhecida como Lei
Áurea tenha abolido a escravidão no Brasil, ainda é possível verificar nos dias atuais,
vestígios de uma sociedade escravista que perdurou por mais de 388 anos de dor, tortura e
injustiça.
Contemporaneamente, o racismo é exteriorizado através de suspeições prévias,
abordagens policiais violentas, entre uma série de outras condutas que visam um “extermínio
da população negra”.
É imprescindivel analisar o perfilamento negro no Brasil e como o estereótipo
racial ainda é utilizado como parâmetro para pré-julgamento de um indivíduo. Sendo
indispensável a evidenciação do racismo estrutural nos três poderes, Executivo, Legislativo e
Judiciário.
No mais, através de uma avaliação crítica, é fundamental compreender como o
racismo afeta a vida dos indivíduos, da sociedade e a justiça social, como ele funciona e como
ele é perpetuado em nossas sociedades. Sendo que, através desta compreensão, é possível
desenvolver estratégias e ações efetivas para combatê-lo, com o desenvolvimento de políticas
públicas que promovam a igualdade racial, ações afirmativas que garantam a inclusão de
pessoas negras em diferentes esferas da sociedade, bem como, a conscientização e
sensibilização da população em geral sobre a importância de se combater o racismo.
No mais, o objetivo dessa pesquisa é compreender e identificar como essa
forma de discriminação afeta a vida das pessoas negras, em particular no que se refere à
criminalização e encarceramento em massa. Ao analisar o racismo jurídico, podemos
compreender como esse processo de criminalização se dá e como ele afeta a vida das pessoas
negras e suas comunidades.

1. O RACISMO ESTRUTURAL NO BRASIL

O racismo é uma questão estrutural no Brasil, tendo em vista, ao analisar a


história e as raízes do país, sobretudo, por volta da década de 1530, é possível verificar os
primeiros traços do racismo. Isto é, nesse momento, pelo qual os portugueses efetivaram suas
4

medidas de colonização, foram trazidos milhares de negros africanos por meio do tráfico
negreiro, para serem escravizados e viverem situações de desumanidade.
Não obstante, ainda que, a escravidão no Brasil tenha durado 388 anos, sendo
somente em 13 de maio de 1888, que a Lei nº 3.353, mas conhecida como Lei Áurea, foi
sancionada, ainda nos dias contemporâneos, pode-se compreender que o rascismo, ainda é
vigorosamente presente no Brasil e que, a escravidão é estritamente ligado a ele.

1.1 OS RESQUÍCIOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL

Tendo em mente que a escravidão é eminentemente ligada ao rascismo, os


requíscios de mais de 300 anos de um país escravocrata, como o Brasil, são implacavéis. Não
somente o racismo, como as desigualdades sociais, realçam os fragmentos que o país carrega
de outros séculos passados.
À exemplo disso, o acesso à educação de qualidade é um dos elementos que
revelam como a população negra possui inúmeras desvantagens e falta de oportunidades em
relação aos brancos, sendo a desigualdade racial responsável por este fenômeno.
Isso é, o sistema educacional brasileiro busca, através de políticas públicas,
como as cotas raciais para as Instituições de Ensino Superior (IES) e para o exercício do
Serviço Público Federal, equilibrar as desigualdades presentes no acesso à educação. A
respeito da importância das cotas raciais, Djamila Ribeiro5, ressalta:

Por causa do racismo estrutural, a população negra tem menos condições de acesso a
uma educação de qualidade. Geralmente, quem passa em vestibulares concorridos
para os principais cursos nas melhores universidades públicas são pessoas que
estudaram em escolas particulares de elite, falam outros idiomas e fizeram
intercâmbio. E é justamente o racismo estrutural que facilita o acesso desse grupo.

Destarte, o Supremo Tribunal Federal, em 2017, determinou:

A desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em questão está em


consonância com o princípio da isonomia. Ela se funda na necessidade de superar o
racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira, e garantir a
igualdade material entre os cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de
bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente.6

Ademais, não somente no que tange à educação, mas os resquícios da

5
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
6
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE nº ADC
41. DF, de 08 de junho de 2017. [S. l.], 2017.
5

escravidão no Brasil se manifestam com a falta de representatividade em cargos de poder e


influência, incluindo cargos no governo, em empresas privadas e instituições financeiras,
sendo muito mais regular os negros estarem em uma posição de subordinação aos brancos,
evidenciando pois, os fragmentos de uma sociedade em que a supremacia é branca.
Outro considerável traço da estruturalidade do racismo e dos traços da
escravidão, é criação de um esteriótipo negro, sendo os negros, sistematicamente, são
retratados de maneira preconceituosa, levando a outro fenômeno expressivo, que é a violência
policial.
Assim sendo, em 1997, uma emblemática canção do grupo de rap paulistano,
Racionais MC’s, já denunciava a opressão policial contra negros, em Capítulo 4, versículo 3:

60% dos jovens de periferia


Sem antecedentes criminais, já sofreram violência policial
A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras
Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros
A cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo

Assim, tanto a formação de um estereótipo para uma população, quanto a


violência acometida pelas autoridades policiais, ambas expressões preconceituosas estão
estritamente ligadas. Isso porque, é a concepção de um “padrão”, que motiva e justifica as
abordagens violentas e desumanas, em que pese, são frequentemente injustificadas ou sem
fundamentações.
Desse modo, é imprescindível identificar que o racismo estrutural se limita, não
somente a ações individuais de expressão do ódio racial, como também a incorporação nas
estruturas sociais, políticas e econômicas do país.

1.2 A MANIFESTAÇÃO DO RACISMO INSTITUCIONAL

A manifestação do racismo institucional é a discriminação sistemática de


pessoas com base na cor de sua pele, e a qual está presente dentro das instituições e
organizações, sendo estas governamentais ou não. Essa expressão, usada amplamente nos dias
atuais, pela militância negra no Brasil, enuncia o seguinte:

O racismo institucional é o fracasso das instituições e organizações em prover um


serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem
racial ou étnica. Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos
discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do
preconceito racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de atenção e
6

ignorância. Em qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas de


grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a
benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações.7

Isto posto, ao contrário do racismo individual, que engloba atitudes e ações


racistas de indivíduos, o racismo institucional não requer intenções racistas explícitas, ele está
enraizado nas estruturas e nas operações das instituições. No contexto do Brasil, o racismo
institucional manifesta-se regularmente através do próprio poder judiciário.
À exemplo disso, uma relevante expressão do racismo institucional é a
quantidade de negros encarcerados. Sendo que, segundo o anuário do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP), em 2023, a população negra encarcerada no sistema penitenciário
brasileiro atingiu o maior patamar da série histórica. O texto do anuário do FBSP8, destaca:

“O sistema prisional brasileiro escancara o racismo estrutural. Se de 2005 a 2022


houve crescimento de 215% da população branca encarcerada, houve crescimento de
381,3% da população negra. Em 2005, 58,4% do total da população prisional era
negra, em 2022, esse percentual foi de 68,2%, o maior da série histórica disponível.
Em outras palavras, o sistema penitenciário deixa evidente o racismo brasileiro de
forma cada vez mais preponderante. A seletividade penal tem cor”,

Isto posto, o racismo institucional é presente na criação de um perfil racial para


a realização de uma abordagem policial, ou até mesmo para uma condenação criminal, sendo
o Poder Judiciário, regularmente, falho e racista. Conforme destaca Djamila Ribeiro9:

Historicamente, o sistema penal foi utilizado para promover um controle social,


marginalizando grupos considerados “indesejados” por quem podia definir o que é
crime e quem é o criminoso. No Brasil, foram várias as legislações que visavam
criminalizar a população negra, como a Lei de Vadiagem, de 1941, que perseguia
quem estivesse na rua sem uma ocupação clara justamente numa época de alta taxa
de desemprego entre homens negros.

2. O PERFILAMENTO RACIAL CONTEMPORÂNEO


2.1 PROIBIÇÃO DO PERFILAMENTO RACIAL PARA UM POLICIAMENTO NÃO
DISCRIMINATÓRIO

A proibição do perfilamento racial para um policiamento não discriminatório é

7
CRI. Articulação para o Combate ao Racismo Institucional. Identificação e abordagem do racismo
institucional. Brasília: CRI, 2006
8

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/populacao-negra-encarcerada-atinge-maior-patamar-da-se
rie-historica
9
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
7

um tema objeto de debates e que visam a promoção dos direitos humanos a todos os
indivíduos. Isso é, o perfilamento racial refere-se à prática de usar características raciais ou
étnicas como critério para selecionar indivíduos para investigação, abordagem ou detenção
por parte das autoridades policiais.
Destarte, a proibição do perfilamento racial é uma medida fundamental para a
garantia de um policiamento não discriminatório e sendo assim, possibilitar a promoção da
igualdade e os direitos humanos de todos os cidadãos, independentemente de sua raça ou
etnia. De acordo com o artigo 244 do Código Processual Penal Brasileiro:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando


houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for
determinada no curso de busca domiciliar.

Isto posto, o Supremo Tribunal Federal, está julgando o Habeas Corpus nº


208.240 impetrado pela Defensoria Pública de São Paulo, cujo objeto de debate é a prática do
perfilamento racial e o racismo estrutural na polícia brasileira.
Em suma, o caso fático versa sob um indivíduo negro que estava em pé, perto
de um veículo automotor. Segundo a impetração, os próprios policiais admitiram em sede
policial que a "fundada suspeita" para a realização da busca pessoal foi primordialmente a cor
da pele. Na abordagem, foi encontrado 1,53 gramas de droga. Esse indivíduo foi condenado a
mais de sete anos de prisão em regime fechado, com a confirmação da condenação pelo
tribunal.10
Atualmente, o julgamento do HC nº 208.240, no STF, está a 3 votos favoráveis
a 1 voto contra, a fim de reconhecer racismo em abordagens policiais. Segundo o relator
Edson Fachin, não se pode admitir abordagens policiais fundamentadas só em critérios de
raça, cor ou aparência física, conforme:

A busca pessoal, independentemente de mandado judicial, deve estar fundada em


elementos concretos e objetivos de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou
de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, não sendo lícita a realização de
medida com base na raça, cor da pele ou aparência física;
A busca pessoal sem mandado judicial reclama urgência para a qual não se pode
aguardar uma ordem judicial;
Os requisitos para a busca pessoal devem estar presentes anteriormente à realização
do ato e devem ser devidamente justificados pelo executor da medida para ulterior
controle do Poder Judiciário.

10
COSTA, Rafael Ferreira de Albuquerque. Discurso da neutralidade racial e da gravidade das drogas no
sistema de Justiça. 2023. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2023-jul-18/rafael-ferreira-hc-208240.
Acesso em 03 out. 2023.
8

Desse modo, para combater a violência policial e a proibição do perfilamento


racial, é fundamental oferecer mecanismos que possibilitem o respeito dos direitos humanos,
como a instalação de câmeras nas fardas dos policiais, sendo que o videomonitoramento
possibilita a transparência dos agentes de segurança e consequentemente, a redução da
violência policial.
Isto posto, para uma sociedade não discriminatória e respeitosa das
diversidades raciais e étnicas presentes, a proibição do perfilamento racial é uma etapa crucial
para garantir um policiamento justo.

2.2 A VIOLÊNCIA POLICIAL DA POPULAÇÃO NEGRA E MARGINALIZADA

A violência policial direcionada à população negra e marginalizada é uma


questão séria e preocupante que tem sido objeto de grande debate na sociedade e no sistema
judiciário.
A respeito da violência da população negra, a publicação Prevenindo e
Combatendo o Perfilamento Racial de Pessoas Afrodescendentes: Boas Práticas e Desafios11,
da ONU Direitos Humanos, trouxe em seu texto:

É importante que os Estados implementem proibições formais do perfilamento


racial. Tais proibições podem assumir a forma de leis estaduais, códigos de conduta
e ética ou procedimentos operacionais padronizados a serem implementados pelas
instituições policiais. No nível mais geral estão os marcos jurídicos que proíbem a
discriminação racial e que podem ser aplicadas à prática de discriminação racial.
[...]
Para além dessas estruturas gerais, alguns Estados emitiram diretrizes formais e
explícitas proibindo especificamente o perfilamento étnico ou racial com o objetivo
de ajudar a polícia a tomar decisões baseadas em suspeitas reais. Essas diretrizes
podem assumir a forma de leis escritas, códigos de conduta ou políticas da agência.

Isto é, no Brasil, a problemática da violência contra as minorias é


especialmente significativa e tem raízes profundas na história do país e nas desigualdades
sociais persistentes.

11
NAÇÕES UNIDAS. Prevenindo e Combatendo o Perfilamento Racial de Pessoas Afrodescendentes: Boas
Práticas e Desafios. Disponível em:
https://brasil.un.org/pt-br/105298-perfilamento-racial-debates-realizados-pela-onu-discutem-recorr%C3%AAnci
a-de-casos-e-desafios. Acesso em 04 out 2023.
9

2.3 O PERFILAMENTO RACIAL NO RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO CRIMINAL

O perfilamento racial no reconhecimento fotográfico criminal é uma


manifestação expressiva do racismo, tendo como critério racial para determinar que pretos ou
pardos possuem chances maiores de serem autoras de um crime, a cor da pele. Logo, tendo
como base fotografias, imagens de segurança ou outras evidências visuais, conclui-se que
determinado indivíduo é suspeito de um crime.
Um relatório realizado pela Comissão Criminal do Colégio Nacional de
Defensores Públicos Gerais — CONDEGE e pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro,
revela que no âmbito processual penal brasileiro, no reconhecimento fotográfico de pessoas,
3% dos indivíduos apontados como suspeitos eram pessoas negras. O relatório ainda
apresenta que, de 2012 a 2020 foram decretadas ao menos 90 prisões injustas por meio de
reconhecimento fotográfico. Dessas prisões, 79 continham informações sobre a raça dos
acusados, onde 81% eram pessoas negras.12
Isto posto, os dados e levantamentos revelam que, o reconhecimento
fotográfico de pessoas negras, leva-se em consideração, na maioria dos casos, fatores
estereótipos preconceituosos, não sendo constatado elementos concretos e objetivos que
justifiquem a suspeição do indivíduo.
A título de exemplo, um importante caso de falha na justiça brasileira, foi o
caso do produtor cultural Ângelo Gustavo Pereira Nobre, 29 anos, que foi absolvido após um
ano preso, sendo uma foto, a única prova utilizada contra ele. Com isso, Ângelo foi
condenado a 6 anos, 2 meses e 7 dias de prisão e a condenação transitou em julgado.
No entanto, por meio da Revisão Criminal nº 006955252.2020.8.19.0000,
Ângelo Gustavo Pereira Nobre foi absolvido, e a relatora do caso, enfatizou:

O reconhecimento fotográfico à base da exibição da testemunha da foto do suspeito


é meio extremamente precário de informação, ao qual a jurisprudência só confere
valor ancilar de um conjunto de provas juridicamente idôneas no mesmo sentido:
não basta para servir de base substancial exclusiva de decisão condenatória.

Outrossim, a relatora também destacou:

A ninguém interessa a condenação de um inocente, afinal, quando deixamos que um


cidadão cumpra pena por um crime que não cometeu, somos forçados a reconhecer

12
JÚNIOR, Aury Lopes; OLIVEIRA, Jhonatan. A influência do racismo estrutural no uso do
reconhecimento fotográfico como meio de prova. 2022. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-jan-14/limite-penal-racismo-estrutural-reconhecimento-fotografico-meio-prova.
Acesso em 04 out. 2023.
10

que o sistema de justiça falhou. [...]


É de suma importância, antes de analisar friamente apenas as diretrizes do processo
penal, de se pensar em conciliá-lo com os dogmas constitucionais. A Constituição da
República tem como pedra basilar a dignidade da pessoa humana, que é o norte de
todos os ramos do direito assim como o é também para toda a vida de relação.

Isto posto, o caso em tela não é um caso isolado, isso porque, segundo outro
relatório da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) elaborado em 2020, foi apontado
que houve erro em pelo menos 58 casos de reconhecimento fotográfico, que resultaram em
“acusações injustas e mesmo na prisão de pessoas que nada tinham a ver com o crime que
lhes era imputado”. Do total de casos, 70% dos acusados injustamente eram negros, como
Ângelo Gustavo Pereira Nobre.
Dessa forma, por se tratar de uma forte violação dos direitos humanos, o
reconhecimento fotográfico contribui para o fortalecimento do perfilamento racial no Brasil.
Pois, o uso de características raciais tidas como critérios para selecionar suspeitos baseia-se
em preconceitos e estereótipos raciais criados pelo sistema policial e judiciário, tendo por
consequência, investigações tendenciosas e imprecisas.

3. A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE ‘ANTIRRACISTA’

O crime de racismo, disposto na Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, prevê


que o racismo é todo ato de: “injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em
razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional”, a qual foi alterada pela Lei do Crime
Racial (7.716/1989), e, o Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), tipificou como racismo,
a injúria racial. Ademais, o crime de racismo, na atual legislação brasileira, é hediondo,
imprescritível e inafiançável.
A construção de uma sociedade "antirracista" é um processo extremamente
complexo, sobretudo no Brasil. Haja vista as desigualdades sociais, culturais e raciais
presentes na sociedade brasileira. Isto é, a criação de uma sociedade “antirracista” é
imprescindível para a construção de um ambiente igualitário e humano. A autora Djamila
Ribeiro, em seu livro Pequeno Manual Antirracista13, afirma:

A herança escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente


racista— o que também o torna um dos espaços em que a luta antirracista pode ser
mais transformadora. A primeira etapa para isso é sempre questionar o statu quo:
essa é a melhor maneira de não reproduzir as variadas formas de racismo nos

13
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
11

ambientes de trabalho

Desse modo, a construção de uma sociedade “antirracista” não baseia-se no


fato de não ser racista, mas de ser antirracista. Ou seja, não basta simplesmente ser crítico ao
racismo, como também, é necessário que as práticas cotidianas reflitam as críticas feitas a
discriminação racial, que impera no Brasil.
Posto isto, é de suma importância a criação e o aprimoramento dos dispositivos
legais, para que estes estabeleçam penas mais rígidas, a fim de, de fato combater
eficientemente uma prática desumana e cruel, como o racismo.
Outro importante aspecto que contribui na formação de uma sociedade
antirracista é a inserção dos pretos e pardos em políticas públicas. Isto é, quando se pretende
“enegrecer” os espaços públicos e privados, é criado maiores representatividades
afro-descendentes, e, quanto mais estas, adentram posições de poder, maiores são as
oportunidades de promoção da igualdade racial.

3.1 A NECESSIDADE DO RECONHECIMENTO DOS PRIVILÉGIOS DA


BRANQUITUDE

Os privilégios concedidos aos brancos estão presentes na sociedade brasileira


desde o Brasil Escravocrata até os dias atuais, isto é, durante os 388 anos de escravidão,
aqueles que estavam em posição de poder, em sua grande maioria, eram homens brancos e
europeus, e que, desfrutavam dos seus privilégios para submeter negros a situações perservas
e impiedosas.
Para compreender o conceito de branquitude, Lourenço Cardoso14, historiador e
sociólogo, explica a branquitude como:

“Significa a pertença étnico-racial atribuída ao branco. Podemos entendê-la como o


lugar mais elevado da hierarquia racial, um poder de classificar os outros como não
brancos, colocando-os, assim, como inferiores aos brancos. Ser branco se expressa
na corporeidade, isto é, a brancura, e vai além do fenótipo. Ser branco consiste em
ser proprietário de vantagens/privilégios raciais simbólicos e materiais. Por exemplo,
os pesquisadores negros e negras são aqueles que possuem, a partir dos anos 1990,
uma produção quantitativa e qualitativa melhor para tratar da questão racial. No
entanto, os meios de comunicação acabam por optar em convidar o branco tanto

14
OLIVEIRA, Joana. Lourenço Cardoso: “Temos potencial para abolir o racismo e todas as outras formas
de opressão”. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019-11-30/lourenco-cardosotemos-potencial-para-abolir-o-racismo-e-todas-as-ou
tras-formas-de-opressao.html. Acesso em 04 out. 2023.
12

para falar de negritude quanto de branquitude. Isso colabora para a invisibilização da


produção científica negra. O irônico é que muitos pesquisadores brancos aprenderam
sobre os temas de raça, negritude e África, em geral, a partir das pesquisas dos seus
orientandos negros e negras. E eles também colaboram de forma não proposital ou
proposital para o silenciamento da produção científica negra. Quando isso acontece
de forma planejada, trata-se da efetivação do pacto narcísico, um pacto entre brancos
para manutenção das suas vantagens raciais”. (Declaração publicada na reportagem
Lourenço Cardoso: “Temos potencial para abolir o racismo e todas as outras formas
de opressão”, do El País, de 30 de novembro de 2019.

Logo, conforme a definição do autor, os privilégios que os brancos possuem se


perpetuam em todos os âmbitos, sejam eles, sociais, políticos ou econômicos. E, ainda hoje, a
presença de regalias aos brancos são manifestadas de diferentes formas. À vista disso, um
levantamento da Universidade de São Paulo, realizada em 2021, apontou que os negros,
apesar de serem 54% da população adulta, representam 70% do décimo mais pobre do país.
Isto posto, é notável que desde a colonização do Brasil, até os dias atuais, os
negros estiveram em posições de submissão, enquanto os brancos, em posições de dominação.
Isso revela que, ainda hoje, há na sociedade, uma forte desigualdade racial, que tem por
consequência, uma desigualdade social e econômica.
Durante o julgamento sobre descriminalização da maconha no Recurso
Extraordinário (RE) 635659, com repercussão geral (Tema 506), uma notável exemplificação
dos privilégios que os brancos possuem, foi elucidada pelo ministro Alexandre de Moraes,
sendo que, durante sua fala, ressaltou:

O branco precisa estar com 80% a mais de maconha do que o preto e pardo para ser
considerado traficante. Para um analfabeto, por volta de 18 anos, preto ou pardo, a
chance de ele, com uma quantidade ínfima, ser considerado traficante é muito
grande. Já o branco, mais de 30 anos, com curso superior, precisa ter muita droga no
momento para ser considerado traficante.

Levando em consideração a manifestação do Ministro do Supremo Tribunal


Federal, é eminente que a distinção racial interna não somente a sociedade, como também os
ambientes e órgãos do próprio Estado. Sendo que, estes dispõem das atribuições de assegurar
os direitos individuais e zelar pelos interesses coletivos, mas, regularmente, utilizam de seus
poderios para segregar e discriminar a população negra.

3.2 COMBATER O RACISMO DENTRO DO SISTEMA JUDICIAL

Embora não seja expressamente declarado, o racismo é enraizado dentro do


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sistema judicial, agindo de forma discreta e velada, isto é, transparecendo através de suspeitas
tendenciosas e sem a devida fundamentação concreta. Enraizado dentro do Poder Judiciário,
como também, por meio de ações policiais, considera-se, exclusivamente, para levantar um
suspeito, a cor da pele do agente.
O autor Sampaio, em Racismo institucional: desenvolvimento social e
políticas públicas de caráter afirmativo no Brasil, define o conceito de racismo institucional:

O fracasso coletivo de uma organização para prover um serviço apropriado e


profissional para as pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica. Ele
pode ser visto ou detectado em processos, atitudes e comportamentos que
totalizam em discriminação por preconceito involuntário, ignorância, negligência
e estereotipagem racista, que causa desvantagem a pessoas de minoria étnica.

A Constituição Federal de 1988, em conjunto com a Declaração Universal dos


Direitos Humanos, estabeleceu a igualdade entre todas as pessoas, não sendo admissível atos
discriminatórios e distintivos. O art 5º da Magna Carta dispõe que: “Todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”.
Não obstante a disposição de igualdade prevista na Constituição Federal, a
desigualdade entre pessoas, devido à cor da pele, não se limita somente a espaços privados,
como também, públicos, bem como o Poder Judiciário.
Isto posto, o autor traz em debate a manifestação do racismo nos ambientes
institucionais, isso é, quando os locais, que careceriam promover o acesso à justiça e a
igualdade, ultilizam-se de uma “filtragem racial” como pretexto para a suspeição e
condenação de indivíduos negros.
Dessa forma, segundo Wieviorka, a instituição do racismo dentro de ambientes
institucionais se deu em virtude da evolução histórica do Brasil, bem como a forma que foi
estruturado:
O modo como a discriminação racial se organizou no Brasil a partir das relações
sociais desenvolvidas na escravidão, sobretudo no pósabolição quando a libertação
da população negra não passou de mero embuste, corroborou com a efetivação e a
naturalização do racismo, seja no âmbito pessoal ou no âmbito institucional, além de
sua efetivação em outras áreas da sociedade. Os indicadores sociais pesquisados e
divulgados pelo próprio Estado brasileiro através de instituições oficiais que tratam
dos direitos humanos e das desigualdades sociais e raciais, confirmam a existência e
as consequências do racismo para a população negra brasileira.

À vista disso, o racismo institucional é percebido em práticas como a


seletividade penal, em que pessoas negras são presas e condenadas em maior proporção do
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que pessoas brancas por crimes similares, bem como na ausência de medidas efetivas para
combater o racismo e promover a inclusão e diversidade nos tribunais e órgãos jurídicos.
Destarte, uma sociedade que trouxe resquicios da escravidão, está sujeita a
implementar, ainda que imperceptivelmente, práticas pártidarias e desiguais, em ambientes
que deveriam, sobretudo, promover a igualdade. No mais, a falta de sensibilidade e
conhecimento sobre questões raciais por parte de advogados, juízes e promotores também
pode colaborar na perpetuação do racismo no ambiente jurídico, comprometendo a
imparcialidade e justiça das decisões tomadas.
Posto isto, para a efetividade do combate ao racismo institucional, é
fundamental a formação e inclusão de profissionais pretos no sistema judiciário.
15

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto, que o presente artigo científico teve como grande


objetivo demonstrar e evidenciar que, dentro de um sistema racista, a cor da pele de um
indivíduo, é um fator determinante para a construção de um estereótipo que visa justificar
abordagens violentas e infundadas em elementos concretos.
Isto é, graças ao longo período de escravidão que perpetou no Brasil, os
fragmentos de diferenciação, discriminação e desigualdades sofrida pelos negros, ainda são
objetos de grandes debates, tendo em vista que, ao analisar os dados e levantamentos, é
evidente que os espaços de poder e influência, são regularmente ocupados por homens e
mulheres brancas.
Isto posto, o estereótipo criado pelas autoridades judiciais e policiais em
abordagens e processos contribuem veemente com o aumento dos casos de injúria racial e
racismo. Muito embora, o perfilamento racial não seja uma condição estritamente limitada ao
Brasil, mas em todo mundo.
À vista disso, ficou claro que, embora, sejam criadas políticas públicas que
visam a reparação histórica da população negra, não obstante, a discriminação e o
perfilamento racial se eternizam nos dias atuais.
Dessa forma, por se tratar de uma forte violação dos direitos humanos, o
racismo, manifestado por meio do perfilamento racial no Brasil, deve ser totalmente
combatido, não sendo admissível preconceitos e estereótipos raciais criados pelo sistema
policial e judiciário, tendo por consequência, investigações tendenciosas e imprecisas, que
levam inúmeros negros a condenações injustas e infundadas.
16

REFERÊNCIAS

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BRASIL, 1888. Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF: Presidente da República, [2016].

COSTA, Rafael Ferreira de Albuquerque. Discurso da neutralidade racial e da gravidade


das drogas no sistema de Justiça. 2023. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2023-jul-18/rafael-ferreira-hc-208240. Acesso em 03 out. 2023.

CRI. Articulação para o Combate ao Racismo Institucional. Identificação e abordagem


do racismo institucional. Brasília: CRI, 2006

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial. São
Paulo, Saraiva, 2011.

JÚNIOR, Aury Lopes; OLIVEIRA, Jhonatan. A influência do racismo estrutural no uso do


reconhecimento fotográfico como meio de prova. 2022. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2022-jan-14/limite-penal-racismo-estrutural-reconhecimento-fotog
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NAÇÕES UNIDAS. Prevenindo e Combatendo o Perfilamento Racial de Pessoas


Afrodescendentes: Boas Práticas e Desafios. Disponível em:
https://brasil.un.org/pt-br/105298-perfilamento-racial-debates-realizados-pela-onu-discutem-r
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OLIVEIRA, Joana. Lourenço Cardoso: “Temos potencial para abolir o racismo e todas as
outras formas de opressão”. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019-11-30/lourenco-cardosotemos-potencial-para-abolir-o-rac
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos,


1948. Disponível em: https://www.unicef.org. Acesso em: 8 set 2023.

PRUDENTE, Eunice. Dados do IBGE mostram que 54% da população brasileira é


negra. Jornal da USP, 2020. Disponível em:
https://jornal.usp.br/radio-usp/dados-doibge-mostram-que-54-da-populacao-brasileira-e-negra
/. Acesso em: 20 set. 2023.

RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.

SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE


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Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/tj-rj-absolve-produtor-cultural.pdf. Acesso em:
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17

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HABEAS CORPUS Nº 660930 - SP


(2021/0116975-6). [S. l.], 2021. Disponível em:
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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


CONSTITUCIONALIDADE nº ADC 41. DF, de 08 de junho de 2017. [S. l.], 2017.

UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL. Report of the Special Rapporteur on


contemporary forms of racism, racial discrimination, xenophobia and related
intolerance, Mutuma Ruteere (A/ HRC/29/46), 2015. Disponível em:
https://undocs.org/A/HRC/29/46

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