A (In) Definição Do Design

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Blucher Design Proceedings

Novembro de 2014, Número 4, Volume 1


www.proceedings.blucher.com.br/evento/11ped

Gramado – RS

De 29 de setembro a 2 de outubro de 2014

A (IN)DEFINIÇÃO DO DESIGN
Os Limites do Design e a Relação com a Arte e a Indústria.
The (un)definition of design: The limits of design and the relationship
between art and manufacturing
Claudio Roberto Boni
Mestrando; NUPECAM, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP
claudio@dessau.com.br

Kelenson Silva
Mestrando; Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP
nosnelek@hotmail.com

José Carlos Plácido da Silva


Doutor; Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP
placido@faac.unesp.br

Resumo: O presente estudo apresenta um levantamento teórico acerca da


definição de design. Os conceitos apresentados pelos diversos autores
estudados tornam‐se elementares para que se entenda o design como um
processo em transformação, que tem se adaptado às necessidades sociais
e tecnológicas. Contudo, uma das características principais da área é a
multidisciplinaridade, o que tornou seu campo de atuação abrangente e
ilimitado. Os pesquisadores da área divergem em opiniões sobre quais os
limites do design, tendo em vista que o seu grande foco é gerar benefício
ao meio social, através de suas técnicas. Este estudo apresenta uma
diversidade de opiniões e procura dar uma definição prévia do termo
design, de forma a contribuir para a pesquisa na área.

Palavras‐chave: Design, Definição, Multidisciplinaridade, Projeto.

Abstract: This study presents a theoretical survey about the definition of


design. The concepts presented by several authors studied become
fundamental to understand the design process as a transformation that has
adapted to social and technological needs. However, one of the most
important features of this segment is multidisciplinary, which became its
field of activities wider and unlimited. Researchers have different opinions
about the boundaries of design, considering that its major focus is to bring
benefits to society through their techniques.
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Key‐words: Design, Definition, Multidisciplinary, Project.

1. INTRODUÇÃO
As definições para o design são empregadas de diversas formas em função dos
diferentes contextos em que a área se encontra. Um dos principais fatores que
contribuem para que o design não tenha uma única definição é a multidisciplinaridade,
que, mesmo concorrendo para o enriquecimento e solidez da área, favorece o
surgimento de diversos pontos de vista. O que se pode afirmar é que o design é uma
área complexa e que tem como principal papel beneficiar a sociedade. Contudo, a
discussão gira em torno da maneira de se realizar esta ação e quais os limites desta
atuação.
O design é uma área que se fundamentou no surgimento da indústria, mas que
se originou na arte. Esta relação talvez seja o ponto crucial sobre as divergentes
definições acerca da área. Para alguns autores, o design faz uso da arte desde o seu
surgimento, e as prestações subjetivas, como o aprimoramento estético, foram
herdadas dos princípios desta área. No entanto, a indústria, que é historicamente
oposta à arte, foi a principal beneficiada pelo trabalho dos designers, que dedicaram
esforços a tornar o produto o mais industrializado possível.
Atualmente devemos entender o design como um ato mais racional que
artístico devido sua dimensão e sua função em prol do benefício humano. O design,
que interage com diversas outras áreas durante um projeto, tem se dedicado a
fornecer produtos que interajam com o usuário, tornando‐os extensões das marcas e,
consequentemente, gerando benefícios financeiros para as empresas. O design tem,
também, se desvinculado da imagem única de desenvolvedor de produtos e
mensagens visuais, e adentrando expressivamente na geração de serviços,
desmaterializando, ainda mais, sua atuação.

2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. As diversas definições para o termo design
O entendimento da área do design torna‐se complexo tendo em vista as
diversas definições apresentadas na literatura. Para vários autores, o design é uma
ferramenta para geração de soluções em prol do benefício social. Contudo, esta
definição pode ser aplicada a diferentes áreas, que podem, muitas vezes, estar
distantes dos princípios empregados pelo design. Para Brown (2010), o design tem
como função dar realidade a uma prestação conceitual. O que difere o design de
outras atividades cotidianas é o fato de ele não ser contínuo e limitado, pois tem
restrições, como começo, meio e fim, mantendo‐o com solidez em sua atuação. A
complexidade de definição do conceito de design é grande, pois ele corresponde ao
processo, ao resultado do processo, às características formais, como estilo e
dimensões, e ao significado dos produtos (LANDIM, 2010).
O termo design não tem tradução definida para o português, mas está
diretamente ligado à noção de projeto em sentido macro. Tem como característica
processual o desenvolvimento ou redesenho de objetos e/ou mensagens, que
atendam a fatores sociais, econômicos e estéticos de acordo com o projeto (MARTINS;
MERINO, 2011). O design pode ser entendido, também, como verbo e substantivo, que
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atuam concomitantemente e ubiquamente. Como verbo, se refere ao processo, que


corresponde ao planejamento das ações do projeto, atuando de forma dinâmica. E,
design como substantivo, corresponde “a uma perspectiva semântica orientada para o
produto: perspectiva da configuração de interface” (TSCHIMMEL, 2010, p. 247).
Para Schneider (2010), não é possível, atualmente, definir com precisão o
conceito de design, em função de diversos fatores, dentre eles historicidade, aplicação
e abrangência da área. Desde o Renascimento o ramo de atuação dos designers vem
sendo alterado. No início sua atuação era restrita à concepção de formas aos objetos,
contudo, nos dias de hoje, sua ampliação abrange áreas da informática, processos,
serviços e outros. A palavra design pode remeter a um procedimento, por exemplo, o
ato de projetar, e pode referir‐se ao resultado do processo, no caso o produto, o
desenho ou o protótipo, ou pode referir‐se à soma de ambos os conceitos anteriores,
o design de um produto, que é fruto de processos e dos resultados intermediários.
Para o International Council of Societies of Industrial Design (ICSID) (2013), o
design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades
multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas em ciclos de vida
completos. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora de
tecnologias e o fator crucial de intercâmbio cultural e econômico. O mapeamento da
cultura, dos contextos, das experiências pessoais e dos processos da vida dos
indivíduos são campos de pesquisa para o design, que deve identificar as barreiras e,
através da geração de alternativas, superá‐las (VIANNA et al, 2012).
Conforme apresentado pela Industrial Designers Society of America (ISDA)
(2013), o design é o serviço profissional de criação e desenvolvimento de conceitos e
especificações que aperfeiçoem o valor, função e aparência de produtos e sistemas
para o benefício do usuário e do fabricante mutuamente. “O design traduz em signos
as funções de caráter pragmático, semântico e afetivo de um objeto de uso, de forma
que eles sejam entendidos pelos usuários numa interpretação congenital. Seu objetivo
é tornar um objeto visível e legível, e assim possibilitar a comunicação” (SCHNEIDER,
2010, p. 197). O bom resultado de um sistema (produto, ambiente ou mensagem)
depende diretamente da sensação de bem estar do usuário ao interagir com ele. Com
isso, o design tem como atribuição personificar uma ideia, de forma a se adequar às
reais necessidades do homem, garantindo boa interação entre ambos (BRUNNER,
2010). Em alguns casos o design pode fazer uso de prestações criativas individuais,
contudo deve ser voltado à realidade que circunscreve o contexto do projeto, sendo
exigidas necessidades econômicas, sociais, culturais e, muitas vezes, geográficas (CPD,
1997).
A maioria das definições tem em comum o conceito de que o design opera em
duas atmosferas, uma abstrata – conceber/projetar/atribuir – e outra concreta –
registrar/configurar/formar ‐, atribuindo forma material a conceitos intelectuais. Trata‐
se, portanto, de uma atividade que gera projetos, no sentido objetivo de planos,
esboços ou modelos (CARDOSO, 2008). Através da coleta, análise e síntese de dados,
os designers elaboram conceitos e configurações que se orientam pelas exigências do
mercado. Além disso, utilizam seu conhecimento para fornecer informações claras e
concisas através do projeto, que contempla desenhos, modelos e descrições verbais
(ISDA, 2013).
Os designers atuam como profissionais voltados, também, à forma, que a
concebem através da experiência multidisciplinar (MOZOTA, 2003). Para Heskett
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(2008), o design tem grande importância na vida do homem, relacionando‐se com


diversas atividades de seu cotidiano. Praticamente todo o ambiente que cerca o
homem pode ser aperfeiçoado pelo design, através de intervenções ergonômicas,
estéticas e relacionais. Diferentes atores sociais interagem através de mensagens, que
podem ser representadas e compreendidas com o auxílio do design. O objeto pode,
então, comunicar‐se com o usuário através de interação promovida por suas funções
de uso, que se adequam à necessidade do usuário e surtem efeitos, criando um ciclo
relacional de troca de mensagens através do design (SCHNEIDER, 2010, p. 197).
Potter (1980 apud MOZOTA, 2003) considera que o design pode ser definido de
várias formas, no entanto, de modo geral, deve‐se entendê‐lo como uma prática que
dá forma e harmonia para a vida. Para Ono (2006, apud LANDIM, 2010, p. 21),
“considerando‐se que o design envolve planejamento, seleção de modos de
pensamento e valores, entende‐se que o designer é corresponsável pelas relações que
se estabelecem entre os artefatos e as pessoas, bem como suas implicações na
sociedade”. Para Löbach (2001), o design define‐se como um processo de resolução de
problemas, que beneficie a interação do homem com seu ambiente técnico. Com isso,
a adaptação do ambiente artificial ao homem, de forma a garantir bem estar físico e
psíquico, é uma das diretrizes para as atuações do design.
“O design engloba uma extraordinária variedade de funções, técnicas, atitudes,
ideias e valores” (LANDIM, 2010, p. 24). Para Vianna et al (2012), o designer tem como
principal função identificar e solucionar problemas que impeçam a experiência e bem
estar das pessoas. A emoção, cognição e estética devem beneficiar a sociedade em
diversos aspectos de seu cotidiano, como trabalho, lazer e outros. Talvez a atribuição
mais óbvia do design seja transformar ideias em soluções tangíveis. Através do
pensamento abstrato e das inspirações, o designer deve concretizar produtos e
serviços que sejam voltados ao ser humano, isto é, ter as reais necessidades do
homem como base para o projeto (HUNTER, 2013). Em termos gerais, podemos
assumir o posicionamento de Miller (2004), quando diz que o design é o processo de
pensamento que compreende a criação de uma entidade. Com essas palavras,
consideramos o design uma área para geração do novo, indiferentemente do resultado
ser material ou um serviço.
Nas últimas décadas o cenário industrial tem mudado drasticamente em função
da evolução tecnológica e industrial de alguns países. Nações que tinham a base de sua
economia extraída da agricultura começaram a desempenhar um importante papel nas
atividades industriais. Neste cenário, empresas situadas em países de cultura
industrial, como a Inglaterra, começaram a migrar para essas nações em função de
uma série de benefícios. Dessa forma, o êxodo industrial favoreceu a expansão do
setor de serviços em função do elevado conhecimento adquirido com as atividades
industriais. Os serviços forçam, então, o desenvolvimento de um importante número
de profissionais especializados, como os designers. Com isso, a geração de recursos foi
dividida com outros segmentos que não fossem a indústria (DIEESE, 2011). As
sociedades de alguns países se sofisticaram, fazendo com que os serviços se tornassem
um setor mais dinâmico naturalmente. Nesse momento, o design inicia um processo
de expansão, em que países culturalmente industriais fornecem serviços tecnológicos
como o design para outras nações em desenvolvimento. É possível afirmar que a
desindustrialização não foi um problema nessas nações, pois o país não se tornou
economicamente e culturalmente mais pobre.
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A expansão comercial também é uma das atribuições do design, quando


utilizado como ferramenta pelas empresas. A prática capitalista de atribuir apelo
estético aos produtos, que, muitas vezes, sobrepõem‐se à usabilidade e agrega valor
de troca, também é uma atitude que pode ser auxiliada pelo design (LÖBACH, 2001).
Kootstra (2009) relembra que o design tem sido uma poderosa ferramenta, que pode
ser utilizada pelas empresas como forma de diferenciação entre a concorrência.
Conforme apresentam Mattar e Santos (2008), o desenvolvimento de um produto [ou
sistema] corresponde à soma de ações organizadas que transformam um conceito em
produto ou serviço tangível e passível de comercialização. Além de tempo, o processo
de design corresponde a riscos e investimento, o que exige dedicação dos envolvidos
na administração deste processo como forma de aumentar as chances de sucesso. “O
design é uma ferramenta que permite adicionar valor aos produtos industrializados,
levando à conquista de novos mercados” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS
INDÚSTRIAS [CNI], 1998).
Conforme o Projeto de Lei n° 1.391‐B/2011, o designer é todo aquele que
desempenha atividade especializada de caráter técnico‐científico, criativo e artístico
para a elaboração de projetos de design passíveis de seriação ou industrialização que
atendam, tanto no aspecto de uso quanto no aspecto de percepção, necessidades
materiais e de informação visual. Para a CNI (1998), o design tem características bem
delimitadas, relacionadas à melhoria dos aspectos funcionais, ergonômicos e visuais
dos produtos [e sistemas], como forma de beneficiar o usuário, através da garantia de
conforto e segurança. Através do emprego de características estéticas no produto, o
design busca atrair a atenção do consumidor e, concomitantemente, aprimora o valor
de uso desses produtos (LÖBACH, 2001). Desde o início, as ações de melhoria dos
produtos industriais foram abarcadas pela manifestação formal estética de forma a
torná‐los mais agradáveis (NIEMEYER, 2003).

2.2. Divergências midiáticas do termo design


O trabalho da mídia na expansão do termo “design” foi preponderante
no processo de adjetivação da palavra, o que causou divergências em relação ao seu
sentido fundamental. Design começou a ser utilizado como ideal cosmético e
superficial, referindo‐se, na maioria das vezes, ao visual, como as formas, os móveis, a
moda e outros, discriminando sua relação com o processo criativo que antecede o
resultado formal (MOZOTA, 2003). Para Heskett (2008), a mídia tem denegrido o
termo design, atribuindo‐lhe apenas representatividade estética, superficial e
comercial. O design tem sido atingido por movimentos efêmeros em função do ciclo da
lucratividade empresarial, que propaga o modismo e o excesso cosmético em seus
produtos, deturpando o real significado do design, que corresponde, principalmente,
às necessidades da humanidade.
Para Bonsiepe (2011), o termo design se popularizou ao longo da
história, criando diversos significados, distanciando‐se cada vez mais da ideia de
solução inteligente para problemas. Hoje o termo design refere‐se ao efêmero, à
moda, isto é, ao rápido obsoletismo, caracterizado por objetos caros, pouco funcionais
e de decoração chamativa. O design se tornou, então, um evento midiático, voltando‐
se ao Styling, ao invés da solução inteligente. Landim (2010) lembra, ainda, que o
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design tem a responsabilidade de provocar a interação da indústria com a cultura em


função do mundo moderno. O consumidor tem relação com a indústria através do
produto, que é concebido pelo designer. No entanto, a mídia não tem empregado bem
este conceito, desmerecendo a atuação do designer como um simples mediador de
estilo e status social.
Para Heskett (2008), o design tem grande importância na vida do homem,
relacionando‐se com diversas atividades de seu cotidiano. Praticamente todo o
ambiente que cerca o homem pode ser aperfeiçoado pelo design, através de
intervenções ergonômicas, estéticas e relacionais. No entanto, o design deve ser
entendido não apenas como atribuição estética e forma dos sistemas (CPD, 1997). É
possível que o desconhecimento da área do design seja responsável pelo uso indevido
do termo pela mídia. A exposição tem causado distorções do seu real significado,
empregando‐o, muitas vezes, como marca, por exemplo: Hair Design em vez de
cabeleireiro, ou Flower Design em vez de Floricultura (LANDIM, 2010). Por ter uma
indefinição de atuação e falta de clareza em seus reais objetivos, o design, como
prática, gera, exacerbadamente, material de pouco qualidade e efêmero (HESKETT,
2008).

2.3. A multidisciplinaridade do design


Para o Centro Português de Design (CPD) (1997), o design não é uma área
exclusiva aos designers, pois a amplitude do projeto de um sistema tende a ser
multidisciplinar, abrindo espaço para áreas como Engenharia e Gestão Empresarial. O
design é uma atividade que requer pesquisa, criterioso planejamento, controle
rigoroso e, acima de tudo, o uso de métodos sistemáticos específicos. Os métodos
sistemáticos de projeto são promovidos através da interdisciplinaridade, absorvendo
métodos de marketing, engenharia de processos e aplicação de conhecimentos sobre
estética e estilo (BAXTER, 2000). Para Bryson, Daniels e Rusten (2004), o designer é
tanto um artista quanto um tecnólogo, pois faz uso das exigências estéticas e técnicas
para suprir as necessidades comerciais. Considerado uma área híbrida, o design faz uso
de conceitos objetivos e subjetivos, que podem ser representados da seguinte forma:
Elementos objetivos: “Relacionados com a satisfação das necessidades de
negócios dos clientes, por exemplo, os custos de produção, materiais, a complexidade
ou simplicidade do processo de produção, o custo de um produto em relação aos
concorrentes, e tempo”.
Elementos subjetivos: “Envolve a compreensão e comportamento, ergonomia,
moda/gosto, a estética, as aparências e os significados culturais, relacionadas com
formas visuais e outras formas de expressão simbólica”.
Mesmo havendo inter‐relações entre o design, a arquitetura e a engenharia, há
características que são específicas da área do design, como a projetação de
determinados tipos de artefatos móveis. No entanto, diversas áreas projetam artefatos
móveis, como o artesanato e artes plásticas, o que tem gerado discordância entre
linhagens de designers com diferentes formas de pensamento. Para alguns pensadores
do design, o fazer artesanal ou artístico não corresponde às práticas do design, que
estão mais ligadas ao processo industrial, fomentando prescrições rígidas e, de certa
forma, preconceituosas (CARDOSO, 2008). É importante que o design tenha uma
posição definida diante dessas áreas. Não devemos abarcar a arte e o artesanato como
bases para os projetos de design, em função de características específicas para cada
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uma dessas áreas. A arte volta‐se, principalmente, para a criação individualizada,


enquanto o artesanato pode ser considerado arte de forma reproduzível, mas não
seriada.
Durante a história do design, a presença do conceito “arte” tem se apresentado
de forma antinômica, conforme apresenta Coelho (2008). Durante a expansão do
Modernismo Europeu, seus idealizadores pregavam que design era tudo o que não era
arte, sendo a arte a personificação de uma prestação individual, enquanto o design se
mostra voltado ao coletivo, provindo da sociedade industrial. Entretanto, é possível
afirmar que o design teve grande influência da arte e do artesanato no seu
nascimento, mantendo relação próxima com estas áreas mesmo com a interferência
mecânica. Na atualidade, percebe‐se maior aproximação do design com as artes
manuais como forma de resgate cultural, o que pode expressar certo grau de
maturidade da área (CARDOSO, 2008). Contudo, isso não isenta, em momento algum,
o real papel do design na geração de soluções racionais e holísticas.
Para os funcionalistas do Modernismo, o design estava acima das questões
estéticas dos objetos. No entanto, igualmente à arte e ao artesanato, o design tem
como uma de suas características gerar objetos que interajam com seus usuários
através, também, da estética. Esta intervenção estética tem sua idealização no poder
do criador, que a concebe com o intuito de fornecer significado ao objeto, que pode
ser absorvida de diferentes formas em função da cultura na qual está inserida
(COELHO, 2008). De acordo com Mozota (2003), é controverso definir design como
sendo arte ou ciência, pois ambas as áreas são base para esta atividade. A lógica,
provinda dos estudos científicos, e a intuição criativa, fomentada pela arte, são
consumidas nas técnicas de design para a elaboração de um projeto.
No entanto, devemos assumir a arte, na formação do design, apenas como
contribuição na geração criativa de soluções, pois o processo de design tem se
mostrado majoritariamente racional em função da relação com outros processos,
como a geração de benefícios econômicos para as empresas, preocupação com
questões ergonômicas e saúde dos usuários, alta produtividade industrial e benefícios
ambientais. Sendo assim, o designer deve fazer uso dos conhecimentos das outras
disciplinas, para formar interpretações variadas, de forma a tornar o entendimento do
problema mais efetivo e, através da colaboração multidisciplinar, gerar uma solução
holística (VIANNA et al, 2012). Cabe, então, ao designer interagir com outras áreas
correlatas ao design, de forma a beneficiar sua prática profissional e investigação
científica (NIEMEYER, 2003).

2.4. Problemas em função da indefinição da área


Para o professor Conley, do Instituto de Tecnologia de Illinois (2013), o fato de
haver estudiosos que preconizam a não caracterização do design e sua objetiva
definição em certos termos, tende a desfavorecer o avanço e reconhecimento da área.
Esta conduta, segundo Conley (2013), é arriscada e negativa, pois coloca os
profissionais do design em significativa desvantagem em relação às demais disciplinas,
que já entendem seus limites e campos de atuação. Por ter uma indefinição de
atuação e falta de clareza em seus reais objetivos, o design, como prática, gera,
exacerbadamente, material de pouca qualidade e efêmero (HESKETT, 2008).
Definir claramente as competências profissionais dos designers, assim como
compreender os parâmetros da área são benefícios que conduzirão o design para sua
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evolução e para o cumprimento de metas que o campo tem exigido há anos, contudo
sem sucesso. Apesar de serem constatados índices de crescimento do design na última
década, a disciplina continua inexpressiva em relação a muitas outras, como marketing
e informática, que têm história, talvez, mais curta que o design, porém mais sólida e
representativa para a economia (CONLEY, 2013).
O fato de o design não corresponder a uma carreira única estimula a
arbitrariedade de sua concepção. Áreas como medicina e arquitetura, nas quais se
exige diploma para a prática da profissão, são fundamentadas em função da
delimitação dos parâmetros e da proteção de instituições autorreguladoras (HESKETT,
2008). Para Tschimmel (2010), a pluralidade de definições para o design ocorre em
função da soma de conhecimento adquirido ao longo da vida, o que pode mudar
conforme o tempo e o contexto sociocultural. Com novas definições e pesquisas da
área, a visão individual pode mudar, resultando em novos conceitos.
Contudo, Bürdek (2006) nos lembra de que, na virada do século 20 para o 21,
ele sugeriu que, ao invés de definir precisamente o design, se definissem os principais
problemas que deverão ser sempre atendidos pelo design:
 Visualizar progressos tecnológicos;
 Priorizar a utilização e o fácil manejo de produtos (não importa se "hardware"
ou "software");
 Tornar transparente o contexto da produção, do consumo e da reutilização;
 Promover serviços e a comunicação, mas também, quando necessário, exercer
com energia a tarefa de evitar produtos sem sentido.
Com isso, Bürdek afirma o papel holístico do design com relação aos novos
rumos sociais, às pesquisas voltadas as descobertas de soluções baseadas na
tecnologia e ao cuidado com o meio ambiente tanto na extração quanto na devolução
de materiais. Há um universo imensurável que atinge e é atingido diretamente pelo
trabalho dos designers, dificultando, em função da amplitude, a caracterização do seu
papel e consequentemente impedindo sua real valorização. É importante que haja um
posicionamento dos líderes mundiais das pesquisas em design em categorizá‐lo e
limitá‐lo para que possamos qualificar os profissionais da área de forma menos
conceitual e mais visível.

3. CONCLUSÃO
O design talvez seja uma das áreas que mais expandiu no século XX, mesmo
sendo, ainda, uma grande interrogação para profissionais e pesquisadores da área.
Contudo, áreas que surgiram depois do design conseguiram se consolidar e definir
parâmetros de atuação, fazendo, então, com que houvesse reconhecimento da
sociedade em função de seus resultados. O design, para muitos autores, ainda não
atingiu seu ápice de desenvolvimento, sendo fundamentado paulatinamente em
conjunto com os avanços tecnológicos e de acordo com as mudanças
comportamentais do homem.
A definição e formatação precisa do design pode ser alvo de grandes
discussões, pois seus limites não se enquadram mais no âmbito de atuação dos
designers. As técnicas do design têm contribuído para a gestão de empresas e para a
geração de soluções em serviços, o que era, até então, restrito a outras áreas. É
possível que a multidisciplinaridade intrínseca ao design tenha contribuído muito para
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a sua evolução, contudo é importante refletir sobre o quanto esta interferência influiu
na sua ampliação de forma exacerbada, resultando na perda de seus limites de
atuação.
A discussão entre a arte e a indústria na atuação do designer não pode mais ser
fonte causadora de sua indefinição. É possível afirmar, que, mesmo sofrendo grande
influência artística em suas prestações, os designers atuam, na maioria dos casos,
utilizando mais a razão do que a subjetividade em função de seu compromisso com
processos dependentes de seu trabalho, como a produtividade, a comercialização, a
ergonomia, a funcionalidade, a usabilidade e outros. Neste caso, é necessário que haja
maior posicionamento dos pesquisadores da área do design, de forma a destacá‐lo
como ferramenta estratégica para a expansão econômica de empresas, de regiões e
até mesmo de nações, o que o distancia do conceito meramente artístico ou provindo
de atos individualizados.
O design encontra‐se, hoje, em plena metamorfose, o que compreende, como
vimos no estudo, definições transitórias, que mudam em função dos interesses e
ideologias. O design pode ser considerado um meio de tornar os elementos artificiais
do cotidiano mais adequados às necessidades do homem, entendendo suas relações
físicas, psíquicas e emocionais de forma a garantir holisticamente a evolução social. O
design é o transformador das necessidades sociais em soluções que gerem benefícios
em diversas atmosferas, entre elas a econômica. A relação do design com a indústria
deve ser beneficiada pelos conceitos da arte, garantindo o desenvolvimento de
sistemas que se comuniquem com o usuário de forma individual.

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