A (In) Definição Do Design
A (In) Definição Do Design
A (In) Definição Do Design
Gramado – RS
A (IN)DEFINIÇÃO DO DESIGN
Os Limites do Design e a Relação com a Arte e a Indústria.
The (un)definition of design: The limits of design and the relationship
between art and manufacturing
Claudio Roberto Boni
Mestrando; NUPECAM, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP
claudio@dessau.com.br
Kelenson Silva
Mestrando; Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP
nosnelek@hotmail.com
1. INTRODUÇÃO
As definições para o design são empregadas de diversas formas em função dos
diferentes contextos em que a área se encontra. Um dos principais fatores que
contribuem para que o design não tenha uma única definição é a multidisciplinaridade,
que, mesmo concorrendo para o enriquecimento e solidez da área, favorece o
surgimento de diversos pontos de vista. O que se pode afirmar é que o design é uma
área complexa e que tem como principal papel beneficiar a sociedade. Contudo, a
discussão gira em torno da maneira de se realizar esta ação e quais os limites desta
atuação.
O design é uma área que se fundamentou no surgimento da indústria, mas que
se originou na arte. Esta relação talvez seja o ponto crucial sobre as divergentes
definições acerca da área. Para alguns autores, o design faz uso da arte desde o seu
surgimento, e as prestações subjetivas, como o aprimoramento estético, foram
herdadas dos princípios desta área. No entanto, a indústria, que é historicamente
oposta à arte, foi a principal beneficiada pelo trabalho dos designers, que dedicaram
esforços a tornar o produto o mais industrializado possível.
Atualmente devemos entender o design como um ato mais racional que
artístico devido sua dimensão e sua função em prol do benefício humano. O design,
que interage com diversas outras áreas durante um projeto, tem se dedicado a
fornecer produtos que interajam com o usuário, tornando‐os extensões das marcas e,
consequentemente, gerando benefícios financeiros para as empresas. O design tem,
também, se desvinculado da imagem única de desenvolvedor de produtos e
mensagens visuais, e adentrando expressivamente na geração de serviços,
desmaterializando, ainda mais, sua atuação.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. As diversas definições para o termo design
O entendimento da área do design torna‐se complexo tendo em vista as
diversas definições apresentadas na literatura. Para vários autores, o design é uma
ferramenta para geração de soluções em prol do benefício social. Contudo, esta
definição pode ser aplicada a diferentes áreas, que podem, muitas vezes, estar
distantes dos princípios empregados pelo design. Para Brown (2010), o design tem
como função dar realidade a uma prestação conceitual. O que difere o design de
outras atividades cotidianas é o fato de ele não ser contínuo e limitado, pois tem
restrições, como começo, meio e fim, mantendo‐o com solidez em sua atuação. A
complexidade de definição do conceito de design é grande, pois ele corresponde ao
processo, ao resultado do processo, às características formais, como estilo e
dimensões, e ao significado dos produtos (LANDIM, 2010).
O termo design não tem tradução definida para o português, mas está
diretamente ligado à noção de projeto em sentido macro. Tem como característica
processual o desenvolvimento ou redesenho de objetos e/ou mensagens, que
atendam a fatores sociais, econômicos e estéticos de acordo com o projeto (MARTINS;
MERINO, 2011). O design pode ser entendido, também, como verbo e substantivo, que
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evolução e para o cumprimento de metas que o campo tem exigido há anos, contudo
sem sucesso. Apesar de serem constatados índices de crescimento do design na última
década, a disciplina continua inexpressiva em relação a muitas outras, como marketing
e informática, que têm história, talvez, mais curta que o design, porém mais sólida e
representativa para a economia (CONLEY, 2013).
O fato de o design não corresponder a uma carreira única estimula a
arbitrariedade de sua concepção. Áreas como medicina e arquitetura, nas quais se
exige diploma para a prática da profissão, são fundamentadas em função da
delimitação dos parâmetros e da proteção de instituições autorreguladoras (HESKETT,
2008). Para Tschimmel (2010), a pluralidade de definições para o design ocorre em
função da soma de conhecimento adquirido ao longo da vida, o que pode mudar
conforme o tempo e o contexto sociocultural. Com novas definições e pesquisas da
área, a visão individual pode mudar, resultando em novos conceitos.
Contudo, Bürdek (2006) nos lembra de que, na virada do século 20 para o 21,
ele sugeriu que, ao invés de definir precisamente o design, se definissem os principais
problemas que deverão ser sempre atendidos pelo design:
Visualizar progressos tecnológicos;
Priorizar a utilização e o fácil manejo de produtos (não importa se "hardware"
ou "software");
Tornar transparente o contexto da produção, do consumo e da reutilização;
Promover serviços e a comunicação, mas também, quando necessário, exercer
com energia a tarefa de evitar produtos sem sentido.
Com isso, Bürdek afirma o papel holístico do design com relação aos novos
rumos sociais, às pesquisas voltadas as descobertas de soluções baseadas na
tecnologia e ao cuidado com o meio ambiente tanto na extração quanto na devolução
de materiais. Há um universo imensurável que atinge e é atingido diretamente pelo
trabalho dos designers, dificultando, em função da amplitude, a caracterização do seu
papel e consequentemente impedindo sua real valorização. É importante que haja um
posicionamento dos líderes mundiais das pesquisas em design em categorizá‐lo e
limitá‐lo para que possamos qualificar os profissionais da área de forma menos
conceitual e mais visível.
3. CONCLUSÃO
O design talvez seja uma das áreas que mais expandiu no século XX, mesmo
sendo, ainda, uma grande interrogação para profissionais e pesquisadores da área.
Contudo, áreas que surgiram depois do design conseguiram se consolidar e definir
parâmetros de atuação, fazendo, então, com que houvesse reconhecimento da
sociedade em função de seus resultados. O design, para muitos autores, ainda não
atingiu seu ápice de desenvolvimento, sendo fundamentado paulatinamente em
conjunto com os avanços tecnológicos e de acordo com as mudanças
comportamentais do homem.
A definição e formatação precisa do design pode ser alvo de grandes
discussões, pois seus limites não se enquadram mais no âmbito de atuação dos
designers. As técnicas do design têm contribuído para a gestão de empresas e para a
geração de soluções em serviços, o que era, até então, restrito a outras áreas. É
possível que a multidisciplinaridade intrínseca ao design tenha contribuído muito para
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a sua evolução, contudo é importante refletir sobre o quanto esta interferência influiu
na sua ampliação de forma exacerbada, resultando na perda de seus limites de
atuação.
A discussão entre a arte e a indústria na atuação do designer não pode mais ser
fonte causadora de sua indefinição. É possível afirmar, que, mesmo sofrendo grande
influência artística em suas prestações, os designers atuam, na maioria dos casos,
utilizando mais a razão do que a subjetividade em função de seu compromisso com
processos dependentes de seu trabalho, como a produtividade, a comercialização, a
ergonomia, a funcionalidade, a usabilidade e outros. Neste caso, é necessário que haja
maior posicionamento dos pesquisadores da área do design, de forma a destacá‐lo
como ferramenta estratégica para a expansão econômica de empresas, de regiões e
até mesmo de nações, o que o distancia do conceito meramente artístico ou provindo
de atos individualizados.
O design encontra‐se, hoje, em plena metamorfose, o que compreende, como
vimos no estudo, definições transitórias, que mudam em função dos interesses e
ideologias. O design pode ser considerado um meio de tornar os elementos artificiais
do cotidiano mais adequados às necessidades do homem, entendendo suas relações
físicas, psíquicas e emocionais de forma a garantir holisticamente a evolução social. O
design é o transformador das necessidades sociais em soluções que gerem benefícios
em diversas atmosferas, entre elas a econômica. A relação do design com a indústria
deve ser beneficiada pelos conceitos da arte, garantindo o desenvolvimento de
sistemas que se comuniquem com o usuário de forma individual.
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