Apostila - Introdução A TCC Com Criança e Adolescente

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Introdução a TCC com criança e adolescente
Veruska Santos

O cenário da saúde mental anterior ao surgimento da TCC nos Estados


Unidos, na década de 50, já sinalizava um direcionamento e importância dada
aos processos cognitivos nas situações adversas e psiquiatras e psicólogos
defendiam uma abordagem mais cognitiva aos transtornos emocionais.

Em 1962, Albert Ellis, propôs a Rational Emotive Therapy, a primeira


psicoterapia contemporânea com clara ênfase cognitiva. Behavioristas como
Bandura (Princípios de Modificação do Comportamento, 1969; Teoria da
Aprendizagem Social, 1971), Mahoney (Cognition and Behavior Modification,
1974) e Meichenbaum (Cognitive Behavior Modification, 1977) publicaram
importantes obras, onde ressaltavam os processos cognitivos como cruciais na
aquisição e regulação do comportamento, bem como estratégias cognitivas e
comportamentais para intervenção sobre variáveis cognitivas. Na mesma época,
Martin Seligman, apresentava sua Teoria do Desamparo Aprendido,
essencialmente cognitiva, e suas revisões, que resultaram na Teoria dos Estilos
atributivos, como relevantes para processos psicológicos na depressão.

Contemporâneo a esse movimento e influenciado tanto pela Terapia


Comportamental com base nos princípios de aprendizagem quanto nas Teorias
Cognitivas, Arron T. Beck, psiquiatra americano, pesquisou nos anos 60, seus
pacientes deprimidos e percebeu um padrão de pensamentos distorcidos e o
quanto estes eram prejudiciais ao tratamento. Nesse contexto desenvolveu o
conceito de Tríade Cognitiva que é definido como a visão de si mesmo, do
mundo ao redor e do futuro. Beck sinalizou que os pacientes deprimidos tinham
essa tríade cognitiva negativa e distorcida e que isso alterava o humor e era fator
mantenedor da depressão. Beck destacou a importância e o papel da tríade
cognitiva tanto no tratamento quanto na manutenção do transtorno e
acrescentou que a mesma se forma na infância.

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A Terapia Cognitivo Comportamental é uma abordagem que leva em
consideração o papel da cognição além do comportamento e do sentimento e
possui alguns pressupostos básicos: a) A cognição tem papel mediacional entre
emoções e comportamentos – sempre há um processamento cognitivo de
avaliação para os eventos internos ou externos; b) A atividade cognitiva pode ser
monitorada e alterada e c) A mudança de comportamento pode ser mediada pela
avaliações cognitivas.

A imagem ao lado extraída do livro Aprendendo Terapia Cognitivo


Comportamental de Wright, Basco e Thase, editora Artmed ilustra a interação
entre pensamento, sentimento e com portamento e exemplifica como um
terapeuta cognitivo comportamental orienta sua intervenção de tratamento.

Beck descreveu 3 níveis básicos de crenças:

1) Pensamentos Automáticos que ocorrem de forma rápida a medida que


avaliamos uma situação e geralmente não temos consciência. Vários autores
nos sinalizam que esses pensamentos podem e devem ser observados se
voltarmos a atenção para eles. Pacientes com transtornos geralmente
apresentam pensamentos automáticos distorcidos e disfuncionais. De acordo

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com Wright, um dos indícios de que os pensamentos automáticos estão
ocorrendo é a presença de emoções fortes. Uma forma de observarmos e
trazermos os pensamentos automáticos para consciência é pedir ao paciente
que faça um registro sempre que perceber que sua emoção mudou. No registro
o paciente anotará Situação / Pensamento Automático / Emoção e fará as
relações pertinentes trazendo para a consciência seus Pensamentos
Automáticos para mais tarde reestruturá-lo de forma funcional e realista.

2) Crenças Intermediárias são pensamentos que expressam regras condicionais


como afirmações do tipo se – então que interferem em toda regulação emocional
do paciente. “Se não trabalhar duro, não terei sucesso” “Tenho que fazer tudo
que me pedem para ser aceito” “Se eu for obediente terei minha recompensa
prometida”. Essas crenças reforçam pensamentos automáticos e geralmente
indicam crenças centrais.

3) Crenças Centrais correspondem ao nível mais profundo das crenças e são


rígidas, verdades absolutas, rígidas e globais que temos sobre nós mesmos. De
acordo com Judith Beck, as crenças centrais desadaptativas abordam três
temas: a) desamor: crenças sobre ser indesejável, incapaz de ser gostado,
incapaz de ser amado, sem atrativos, rejeitado, abandonado, sozinho. b)
desamparo: crenças sobre ser impotente, vulnerável, frágil, carente, necessitado
e desamparado. c) desvalor: crenças sobre ser incapaz, incompetente, defectivo,
sem valor, fracassado, falho, ineficiente, “uma fraude”.

Todo trabalho cognitivo acontece no sentido de identificar essas crenças


e reestruturá-las de forma realista e funcional para o paciente. Beck preconiza
que os pensamentos automáticos de indivíduos com transtornos emocionais são
repletos de equívocos que ele chamou de erros ou distorções cognitivas e uma
forma de reestruturar esses pensamentos é através da identificação com o
paciente dessas distorções presentes em seus pensamentos. As distorções
variam de nome de autor para autor mas basicamente se dividem dessa forma:

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1) Abstração seletiva: Chegar a uma conclusão depois de examinar apenas uma
pequena porção das informações disponíveis. Os dados importantes são
descartados, a fim de confirmar a visão distorcida que a pessoa tem da situação.

2) Inferência arbitrária: Chegar a uma conclusão a partir de evidências


contraditórias ou na ausência de evidências.

3) Supergeneralização: Chegar a uma conclusão sobre um acontecimento


isolado e, dessa forma, a conclusão é estendida de
maneira ilógica a outras áreas do funcionamento.

4) Maximização e minimização: A relevância de um fato, evento ou sensação é


exagerada ou minimizada.

5) Personalização: Eventos externos são relacionados a si próprio quando há


pouco ou nenhum fundamento para isso. Assume-se responsabilidade excessiva
ou culpa por eventos negativos.

6) Pensamento dicotômico ou tudo-ou-nada: Os julgamentos sobre si mesmo, as


experiências pessoais ou com os outros são separados em duas categorias,
totalmente mau ou totalmente bom, fracasso total ou sucesso, cheio de defeitos
ou completamente perfeito.

7) Catastrofização: Acreditar que o pior está para acontecer, ignorando variações


como a possibilidade de resultados positivos.

8) Ditadura dos deveria: Possuir regras e visões inflexíveis de si mesmo e dos


outros e exagerar a importância de suas próprias expectativas. (tenho
que...devo...)

9) Leitura mental: Achar que sabe o que se passa na mente das outras pessoas
sem consultá-las.

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10) Questionalização (E se?): Focar o evento naquilo que poderia ter sido e não
foi. Culpar-se pelas escolhas do passado e questionar-se.

Outra forma de acessarmos crenças é utilizando o questionamento


socrático. Esse questionamento baseia-se em uma relação empírica
colaborativa objetiva auxiliar os pacientes a reconhecerem e modificarem o
pensamento desadaptativo. Consiste em fazer perguntas ao paciente que
estimulem a curiosidade e o desejo de perguntar. Dessa forma o terapeuta
envolve o paciente no processo de aprendizagem. A descoberta guiada é uma
forma de questionamento socrático, nela o terapeuta faz perguntas que induzem
o paciente a informar padrões disfuncionais de pensamento ou comportamentos.
Existem inúmeras técnicas cognitivas para acessarmos e reestruturamos
crenças como identificar os erros cognitivos, examinar as evidências que se
baseia em análise pró e contra uma crença, reatribuição (modificar o estilo
atributivo), listar alternativas racionais e ensaio cognitivo (geração de imagens
ou role play).

A partir das reestruturações e modificação da cognição para um padrão


mais adaptativo e realista, mudanças positivas no comportamento também são
esperadas. A TCC também usa estratégias comportamentais para promover
mudanças como um todo tanto no pensamento quanto em sintomas específicos
de ansiedade e depressão. As estratégias comportamentais ajudam os
pacientes a modificarem funcionamentos de evitação e desesperança;
enfrentarem situações temidas; desenvolverem habilidades de enfrentamento e
sociais; e reduzirem desregulação emocional. Como exemplos de técnicas
comportamentais podemos citar: ativação comportamental, dessensibilização
sistemática, agenda de atividades e eventos prazerosos, treinamento em
respiração e relaxamento.

A TCC concentra-se no aqui-e-agora mas é importante ter uma


perspectiva longitudinal – incluindo a consideração do desenvolvimento na
primeira infância, histórico familiar, traumas, experiências evolutivas positivas e
negativas, educação, história de trabalho e influências sociais – para entender

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planejar o tratamento. Embora a TCC seja estruturada e apresente um conjunto
de técnicas e intervenções é importante que o terapeuta desenvolva uma
conceitualização individualizada que conecte diretamente a história do paciente
e de seus problemas, seus fatores desencadeadores e mantenedores, assim
como os recursos do paciente. A conceitualização de caso é um guia
fundamental para o trabalho dos terapeutas cognitivo-comportamentais. (Wright
et al., 2003)

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