A Pomada Vovô Pedro

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31/10/2017 A pomada vovô Pedro

A POMADA VOVÔ PEDRO


Publicado em 14 de September de 2011 por Marislei Brasileiro

CONCEPÇÕES DE CATÓLICOS, ESPÍRITAS E BUDISTAS A RESPEITO DA CURA


PROMOVIDA PELA FÉ: UMA ANÁLISE A PARTIR DA POMADA VOVÔ PEDRO
Dra Marislei Espíndula Brasileiro
I INTRODUÇÃO
O interesse em pesquisar a respeito das concepções de católicos, espíritas e budistas a respeito
da cura promovida pela fé surgiu ao se observar, no cotidiano, as complexas relações existentes
entre membros de uma mesma comunidade que vivenciam diferentes concepções religiosas
acerca de como lidar com a saúde, a doença e a cura, mas que utilizam uma pomada conhecida
por suas propriedades espirituais ? a Pomada Vovô Pedro®.
Apesar de diferentes, as três concepções religiosas, assim como as demais, provavelmente
buscam a manutenção da saúde como forma de salvação.
Schiavo e Silva (2000, p. 73-74), afirmam que, segundo o Novo Testamento, a atividade dos
espíritos no homem pode provocar aflições psíquicas e comportamentos insanos (Mt 8, 28; Mc
5,1-5) incapacidade de falar (Mt 9,32) e de ouvir (Mc 9,25), cegueira (Mt 12,22), epilepsia (Lc 9,
39), tendência à autodestruição (Mt 17, 15) e outros tipos de doenças (Mt 8,16).
Os agravos acima citados representam a falta de saúde não somente física, mas provavelmente
mental, social e espiritual. Saúde, conforme a Organização Mundial de Saúde (2000) "é o
completo bem-estar físico mental e social" e não apenas ausência de doença a qual é perda das
funções vitais seja de maneira parcial ou total. Na doença há o estado do indivíduo cujas funções
orgânicas, físicas e mentais se acham comprometidas e a cura seria, portanto a recuperação
deste estado.
No entanto, segundo o Ferreira (1996) saúde tem origem no latim salude e significa, salvação,
conservação da vida.
Para Terrin (1998), é bem sabido que se o homem não precisasse de "salvação" as religiões
seriam inúteis, mas elas têm igualmente se tornado bastante supérfluas em um outro caso:
quando não são mais capazes de sanar as doenças e os incômodos físicos e psicológicos
cotidianos do homem.
Para Capra (1994) todos os distúrbios são psicossomáticos, ou seja, envolvem uma interação
contínua de corpo e mente em sua origem, desenvolvimento e cura.
Por outro lado, ao se pesquisar alguns aspectos da Pomada Vovô Pedro na visão de católicos,
espíritas e budistas que a utilizam, percebe-se que a cura física associada a fé é bastante
presente, principalmente em uma população com diversidade religiosa.
O Brasil é um país religiosamente diverso, com tendência de tolerância e mobilidade entre as
religiões. A população brasileira é majoritariamente cristã (89%), segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (2002) sendo sua maior parte católica. Herança da colonização
portuguesa, o catolicismo foi a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891.
Na segunda metade do século XIX, começa a ser divulgado o espiritismo no Brasil, que hoje é o
país com maior número de espíritas no mundo. Nas últimas décadas, as religiões protestantes
têm crescido bastante em número de adeptos, alcançando parcela bastante significativa da
população. Do mesmo modo, aumenta o percentual daqueles que declaram não ter religião, grupo
superado em número apenas pelos católicos e protestantes.
Muitos praticantes das religiões afro-brasileiras, assim como alguns simpatizantes do espiritismo,
também se denominam "católicos", e seguem alguns ritos da Igreja Católica. Esse tipo de
tolerância com o sincretismo é um traço histórico peculiar da religiosidade no país.
Conforme já citado, o recenseamento demográfico do IBGE em 2000, demonstrou que em
porcentagem da população, em 1980 existiam no Brasil 89,2% de Católicos, mas caiu para 83,3%
em 1991 e mais ainda em 2000, com 73,8%.
Já o Protestantismo que tinha 6,6% da população brasileira, subiu para 9,0% em 1991 e mais
ainda em 2000, quando chegou a 15,4%. Quanto ao Espiritismo, em 1980 eles eram 0,7%,
subindo para 1,1% em 1991 e chegando a 1,3% em 2000.
Somando-se os sem religião, as Afro-brasileiras e outras religiões, tais como o Budismo temos em
1980 3,5%, subindo para 6,6% em 1991 e mais ainda em 2000 com 9,5%.
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Apesar das migrações entre as religiões e dos processos de secularização, a doença continua a
incomodar o indivíduo, independentemente da religião que professe.
A busca pela cura e pela longa vida reflete a necessidade do ser humano em manter-se vivo, seja
pela medicina convencional ou pelas fórmulas espirituais. Uma das substâncias de uso popular
em nosso meio é a pomada Vovô Pedro, conhecida tanto por católicos quanto por espíritas e
budistas.
Mas qual a visão de católicos, espíritas e budistas a respeito da cura promovida pela fé, em
especial pela pomada Vovô Pedro? Como eles consideram a sua ação?
Este estudo poderá contribuir com novas reflexões em torno das visões de diferentes religiões em
torno das práticas de saúde em sua comunidade. Poderá também contribuir com a aquisição de
novos conhecimentos que envolvam as concepções de doença e cura, as quais permeiam o
cotidiano das pessoas.
Assim, o objetivo deste estudo é identificar e analisar as concepções de católicos, espíritas e
budistas a respeito da cura promovida pela fé, em especial a pela pomada Vovô Pedro.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Entendendo que os caminhos para se atingir um horizonte são muitos, mas o destino é um só, as
religiões representam caminhos de fé que conduzem a Deus.
Para melhor compreender as concepções de católicos, espíritas e budistas a respeito da cura
promovida pela fé acreditamos que seja necessário resgatarmos questões relacionadas
inicialmente à doença, fé e a cura, bem como um breve relato das origens do Catolicismo, do
Espiritismo e do Budismo, para finalmente culminarmos em explicações relacionadas a Pomada
Vovô Pedro, uma vez que será necessário compreender esses aspectos antes de analisarmos as
visões dos entrevistados das três religiões citadas à respeito da pomada.
Pesquisar a respeito da relação entre doença x fé x cura não é uma prática recente.
Del Volgo (1998, p. 8) destaca que "a doença surgia para os egípcios como um mal e a saúde
como um bem. Assim, saúde e doença apresentavam características de manifestações Divinas
ou, ainda, aparições Supremas". A autora nos lembra que, "na medicina Greco-romana, a doença
era considerada como a conseqüência de um desequilíbrio natural, ético e estético e a saúde teria
como seu equivalente a felicidade".
No Brasil, antes da colonização as enfermidades eram remediadas com o auxílio do curandeiro da
tribo que associava a utilização de ervas à rituais religiosos. Após a colonização, para enfrentar as
adversidades causadas pelas doenças no transcurso do cotidiano, os habitantes da nova colônia,
vindos dos países europeus, recorriam a quem estivesse ao seu alcance: padres, cirurgiões,
barbeiros, boticários e parteiras. Os missionários cuidavam de toda sorte de doenças que
atormentavam a vida dos colonos até princípios do século XVIII. Para esses religiosos, a doença
era conseqüência do pecado ou das artimanhas do demônio e, a cura era decorrência da vontade
divina (SOARES, 2001, p. 9).
Pesquisadores tais como Koening (2003), Matthews (2003), Oxman (1995) e Hall (2006) afirmam
que, pessoas que professam alguma fé possuem maior expectativa de vida que aquelas que não
vivenciam práticas religiosas.
Se tomarmos o caso do cristianismo, encontraremos entendimentos diversos dessa relação na
antigüidade e na modernidade. O interessante é que subsistem em geral nas pessoas dimensões
antigas e modernas, de modo que idealmente às vezes nos comportamos como pré-modernos,
vendo por exemplo na saúde a bênção de Deus e na doença sua punição, e às vezes como
modernos, vendo na saúde o resultado de feliz disposição genética, de recursos econômicos e de
conhecimento para cuidar da higiene e da alimentação. (PAIVA, 2007)
Antigüidade e modernidade ainda hoje se encontram no campo das próprias religiões. As religiões
assentadas na comunhão com a natureza e com as forças cósmicas e semelhantes tendem a
uma visão pré-moderna, que não circunscreve limites às várias áreas da existência. Nessas
religiões, a análise psicológica do comportamento religioso ligado à saúde não se poderá basear
no pressuposto "moderno" que distingue o aspecto religioso do aspecto da saúde. No âmbito da
cultura cristã contemporânea, o caráter moderno revela-se nos estudos predominantemente
correlativos entre religião, doença e saúde. (PAIVA, 2007).
Apesar do avanço das investigações, a origem de muitas doenças ainda é um ponto obscuro para
muitos pesquisadores. (CUNHA, 2002).
Considerando essa obscuridade voltemos, portanto nosso olhar para as origens da Igreja Católica,
para, posteriormente apresentarmos as demais religiões.
2.1 O Catolicismo
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A igreja cristã primitiva foi organizada sob cinco patriarcas, os bispos de Jerusalém, Antióquia,
Alexandria, Constantinopla e Roma. O Bispo de Roma foi reconhecido pelos Patriarcas como "o
primeiro entre iguais", embora o seu estatuto e influência tenha crescido quando Roma era a
capital do império, com as disputas doutrinárias ou procedimentais a serem frequentemente
remetidas a Roma para obter uma opinião. Mas quando a capital se mudou para Constantinopla, a
sua influência diminuiu. Enquanto Roma reclamava uma autoridade que lhe provinha de São
Pedro (que morreu em Roma e é considerado o primeiro papa) e São Paulo, Constantinopla
tornara-se a residência do Imperador e do Senado. Uma série de dificuldades complexas
(disputas doutrinárias, Concílios disputados, a evolução de ritos separados e se a posição do
Papa de Roma era ou não de real autoridade ou apenas de respeito) levaram à divisão em 1054
que dividiu a Igreja entre a Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Leste
(Grécia, Rússia e muitas das terras eslavas, Anatólia, Síria, Egito, etc.). A esta divisão chama-se o
Grande Cisma. (LATOURELLE E FISICHELLA, 1994).
A grande divisão seguinte da Igreja Católica ocorreu no século XVI com a Reforma Protestante,
durante a qual se formaram muitas das facções Protestantes.
A prática da Igreja Católica consiste em sete sacramentos (Batismo, Confissão, Eucaristia,
Confirmação ou Crisma, Sagrado Matrimónio, Ordens Sagradas, e Unção dos Doentes)
Dentro da fé Católica, os sacramentos são gestos e palavras de Cristo que concedem graça
santificadora sobre quem os recebe.
Vamos nos ater a unção dos doentes que era conhecida como "extrema unção" ou "último
sacramento". Envolve a unção de um doente com um óleo sagrado abençoado especificamente
para esse fim e já não está limitada aos doentes graves e aos moribundos.
Assim, percebe-se que a utilização de óleos, considerados sagrados, são amplamente utilizados
para doentes, familiares e sacerdotes.
Os mandamentos do Catolicismo incluem: Assistir missa inteira nos domingos e dias de guarda.
Confessar-se ao menos uma vez por ano; Comungar ao menos pela Páscoa; Jejuar e abster-se
de carne quando manda a Igreja; Jejum: quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa; Abstinência de
carne: sextas-feiras da quaresma; Pagar Dízimos segundo o costume.
Quanto aos ritos, observa-se que a Igreja Católica é uma federação de 24 Ritos autónomos (sui
juris) em comunhão completa uns com os outros e em união com o Papa na sua qualidade de
Sumo Pontífice da Igreja Universal (apelidade "Pontífice de Roma" na lei canónica). O Papa, na
sua qualidade de Patriarca de Roma (ou Patriarca do Ocidente) é também o chefe da maior das
Igrejas sui juris, a Igreja Latina (popularmente conhecida como "Igreja Católica Romana"). As
restantes 23 Igrejas sui juris, conhecidas colectivamente como "Igrejas Católicas do Oriente", são
governadas por um hierarca que ou é um Patriarca, ou um Arcebispo Principal, ou um Metropolita.
A Cúria Romana administra quer as igrejas orientais, quer a igreja ocidental. (LATOURELLE E
FISICHELLA, 1994).
Os católicos acreditam na Trindade de Deus enquanto Pai, Filho e Espírito Santo, na divindade de
Jesus, e na salvação através da fé em Jesus Cristo e por amar a Deus acima de todas as coisas.
As relações entre a Igreja Católica e a ciência sempre foram conturbadas. Durante a Idade Média
muitos cientistas foram perseguidos pela Igreja e alguns queimados em fogueiras pela Inquisição.
Podemos lembrar o caso emblemático de Galileu Galilei que foi obrigado pela Inquisição a negar
que a Terra se movia em torno do Sol, fato que ele havia comprovado com o uso de um
telescópio.
Os cientistas dividem-se entre alguns ateus e contrários à Igreja e outros católicos praticantes. Um
dos exemplos mais conhecidos é o astrônomo Carl Sagan, que era ateu. Podemos citar, por
exemplo entre os grandes filósofos do século XX, Jean-Paul Sartre que era ateu e tinha uma
teoria que se opunha a da Igreja, Soren Kierkegaard, filósofo existencialista cristão, e finalmente
Gabriel Marcel que foi católico praticante.
As disputas ideológicas que a Igreja travou com os cientistas acabaram afastando muitos deles da
religião. No entanto, no século XX a Igreja passou a aceitar e incorporar em suas crenças as
descobertas científicas, separando questões de fé de questões científicas (O CATOLICISMO,
2007)
Podemos comprovar esta convergência ao observar que a Igreja apoia oficialmente a teoria do
Big-Bang da física, e concorda com a genética e a hereditariedade (descobertos por Gregor
Mendel, um monge católico), fundamento da teoria da evolução.
As discordâncias entre a posição oficial da Igreja e a ciência se dão apenas em questões
teológicas que envolvam ateísmo e a negação da infalibilidade das escrituras e da revelação.
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Na verdade, tanto a ciência como a filosofia cristã sempre tiveram como fundamento comum a
filosofia Aristotélica. Mas foi São Tomás de Aquino o teólogo que afirmou que fé e razão podem
ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.
Uma vez apresentadas algumas concepções relacionadas ao catolicismo, partamos agora para
breves explicações relacionadas a doutrina Espírita, codificada por Allan kardec.
2.2 O Espiritismo
Os primeiros registros da Doutrina Espírita surgiram em 1857, no entanto, os fenômenos espíritas,
se tornaram comuns na Europa, principalmente na França, as chamadas "mesas girantes" ou
"mesas falantes", atribuídas ao magnetismo das irmãs Fox ? nos Estados Unidos.
O professor Hippolyte Leon Denizart Rivail, pseudônimo de Allan Kardec, (1804 ? 1869) nasceu
na cidade de Lion, França. Filho de antiga família que se distinguiu na magistratura e na
advocacia foi educado na Escola de Pestalozzi, em Iverdum, Suíça. Bacharel em letras, estudou
medicina, especializou-se em cálculos, aritmética, biologia e astronomia, criou escolas práticas de
pedagogia e publicou várias obras didáticas. Dominava seis idiomas: francês, alemão, inglês,
italiano, grego e latim (KARDEC, 2000).
De família católica, mas estudante em um país protestante, os atos de intolerância que sofreu lhe
despertaram o interesse por uma reforma religiosa que levasse à unificação das crenças.
Kardec trabalhou, então, com o astrônomo Camille Flammarion e o escritor Leon Denis. O médico
Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, foi um dos que deram continuidade a suas pesquisas
e estudos. Editou ainda a Revista Espírita, reunida em 12 volumes, que lhe serviu de laboratório.
As obras básicas são:
O Livro dos Espíritos: É a síntese de toda a doutrina espírita, lançado em 18 de abril de 1857.
Contém os princípios da imortalidade da alma, da natureza dos espíritos e das suas relações com
os homens, as leis morais, a vida futura e o porvir da humanidade. É constituído de 1018
perguntas feitas por Allan Kardec e respondidas pelos espíritos. Decorridos mais de 150 anos, as
respostas continuam atualizadas. Faz divisão entre os espíritos. (KARDEC, 2000a)
O Livro dos Médiuns: reúne as explicações sobre todos os gêneros de manifestações mediúnicas,
os meios de comunicação e relação com os espíritos, a educação da mediunidade e as
dificuldades que eventualmente possam surgir na sua prática. (KARDEC, 2000b)
O Evangelho Segundo o espiritismo: estuda todos os ensinamentos morais dos quatro
Evangelhos de Jesus. Traz a explicação sobre cada um, sua concordância com a doutrina espírita
cristã e sua aplicação às diversas situações da vida. (KARDEC, 2000c).
O Céu e o Inferno, também conhecido como A Justiça Divina Segundo a doutrina espírita cristã,
oferece o exame comparado das diversas doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida
espiritual. Coloca ao alcance de todos os conhecimentos do mecanismo pelo qual se processa a
Justiça Divina. (KARDEC, 2000d)
A Gênese discorre sobre a existência de Deus, origem do bem e do mal, destruição dos seres
vivos uns pelos outros, explicações sobre as leis naturais, a criação e a vida no Universo, a
formação da Terra, a formação primária dos seres vivos, o homem corpóreo e a união do princípio
espiritual à matéria. Mais ainda: a explicação dos chamados milagres do Evangelho, sobre a
morte e ressurreição de Jesus e o final dos tempos. (KARDEC, 2000e)
As bases doutrinárias são:
- Deus é a inteligência suprema causa primeira de todas as coisas.
- A doutrina espírita cristã segue os ensinamentos de Jesus.
- A doutrina espírita cristã é, ao mesmo tempo, filosofia, ciência e religião.
- A Evolução do espírito ocorre por meio do desenvolvimento da inteligência, bondade e moral,
conseguidos com estudo constante, prática da caridade e trabalho.
- Crença na reencarnação e fé raciocinada.
- A terra é um planeta intermediário, de provas e expiações. Há, portanto, planetas menos e
outros mais evoluídos que a Terra, como há espíritos menos e mais evoluídos no universo.
- São os próprios indivíduos os causadores dos próprios sofrimentos, pela lei de "ação e reação",
ou lei "de causa e efeito".
- Os espíritos são seres humanos sem corpo físico;
- Através dos chamados médiuns, eles se comunicam, se puderem e se quiserem. A comunicação
se processa de acordo com o tipo de mediunidade, sendo as mais conhecidas: pela fala
(psicofonia), pela escrita (psicografia), pela visão (vidência) e pela intuição, a mais comum, que
praticamente todos nós possuímos.
- Fora da caridade não há salvação;
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- Céu e inferno são estados de alma;


- Deus é eterno, imutável, imaterial, onipotente, infinitamente justo e bom.
- A reencarnação. Criado simples e sem nenhum conhecimento, o espírito é dotado de livre-
arbítrio, ou seja, capacidade de escolher entre o bem e o mal. Tem a possibilidade de se
desenvolver, evoluir, aperfeiçoar-se, de tornar-se cada vez melhor, mais perfeito, como um aluno
na escola, passando de uma série para outra, através dos diversos cursos. Essa evolução requer
aprendizado. O espírito só pode alcançá-la encarnando no mundo e reencarnando, quantas vezes
necessárias, para adquirir mais conhecimentos e purificar-se através de múltiplas experiências. O
progresso adquirido pelo espírito não é somente intelectual mas, sobretudo, moral.
- Esquecimento do passado;
- Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.
- Fé inabalável só o é a que pode encarar frente à frente a razão, em todas as épocas da
humanidade.
- Existe o mundo espiritual, habitação dos espíritos desencarnados (fora do corpo) e o mundo
material que é a habitação dos espíritos encarnados (no corpo físico).
- Os espíritos são criados simples e ignorantes, mas evoluem intelectual e moralmente, através de
múltiplas existências no corpo material.
- Os espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada vida material.
- Os espíritos renascem (reencarnam) quantas vezes forem necessárias ao seu aprimoramento.
- Os espíritos evoluem sempre, jamais regridem. Não existem espíritos criados eternamente para
o mal.
- Os espíritos influenciam o mundo espiritual, e sua ação sempre existiu e é freqüente. Os bons
espíritos nos atraem para o bem, os espíritos imperfeitos nos influenciam para o mal.
- Jesus é o guia e modelo para toda a humanidade, e o cristianismo é a expressão mais pura da
Lei de Deus.
- O homem tem o livro-arbítrio para agir, mas responde pelas conseqüências de suas ações.
- A prece é um ato de adoração a Deus.
O Brasil é a maior nação espírita do mundo, com cerca de 10 milhões de seguidores declarados
(IBGE, 2002).
A doutrina espírita cristã, apesar de se reunir em Federações e de eleger um presidente, não tem
sacerdotes e não adota em suas reuniões e em suas práticas: paramentos, bebidas alcoólicas tais
como vinho, incenso, fumo, altares, imagens, andores, velas, procissões, talismãs, amuletos,
sacramentos, concessões de indulgência, dízimo, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais,
búzios, rituais ou quaisquer outras formas de culto exterior. Apesar de não constar na doutrina, os
espíritas fazem em seus cultos preces iniciais e finais, palestras e ministram passes magnéticos,
utilizam a água fluidificada.
O Espírito Santo, ou Espírito de Verdade, ou a equipe de espíritos perfeitos que trabalham
diretamente com o Pai Celestial, da qual Jesus é um dos membros divinos, acredita que veio
completar os ensinamentos do Cristo, trazendo à humanidade a doutrina espírita ? O Consolador.
A Doutrina Espírita, ensina que toda doença tem origem no espírito porque a ação moral
desequilibrada do indivíduo afeta o seu perispírito. Como o perispírito do encarnado está
intimamente ligado ao seu corpo físico, o desajuste vibratório de um afeta o outro, produzindo, em
conseqüência, as doenças.
Para a prevenção e cura, os espíritas utilizam o passe magnético, impondo-se as mãos próximas
ao indivíduo e proferindo preces.
Após apresentar o Espiritismo, partamos para compreender melhor o Budismo.
2.3 O Budismo
Budismo é uma religião e filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddhartha Gautama,
ou Sakyamuni (o sábio do clã dos Sakya), o Buda histórico, que viveu aproximadamente entre 563
e 483 a.C. no Nepal (NURAYAMA, 2000).
Os ensinamentos básicos do budismo são: evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente. O
objetivo é o fim do ciclo de sofrimento, samsara, despertando no praticante o entendimento da
realidade última - o Nirvana. (KEOWN, 2002)
A moral budista é baseada nos princípios de preservação da vida e moderação. O treinamento
mental foca na disciplina moral (sila), concentração meditativa (samadhi), e sabedoria (prajña).
Para os budistas a saúde significa equilíbrio espiritual, uma vez que os fluidos corpóreos são o
reflexo dos fluidos espirituais. O conceito de saúde é caracterizado por uma combinação de
diversos sentimentos: vitalidade, flexibilidade, alegria liberdade da dor e satisfação. Uma pessoa
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saudável é, acima de tudo, uma pessoa que está em estado de equilíbrio em sua vida, sentindo-
se jovem e sadio (IKEDA, 2002)
Vida humana, morte, sofrimento, ser humano e direitos humanos entre outros, com as matizações
específicas que lhe são dadas pelo patrimônio de valores e crenças de cada religião (Pessini,
1999).
A dor em qualquer grau de intensidade é um sinal de desconforto sendo um dos principais
obstáculos para se obter esse estado de equilíbrio. Nesse sistema de saúde o conceito de saúde
deveria ser considerado como busca do equilíbrio em todas as fases da vida.
Princípios do budismo segundo Bareau (1997).
1 Humanismo. O Buda não era um espírito, que andava para lá e para cá sem deixar rastros, nem
fruto de nossa imaginação. O Buda foi um ser humano vivente. Como todos nós, ele tinha pais,
uma família e viveu uma vida. Foi através de sua existência humana que ele mostrou a suprema
sabedoria da compaixão; responsabilidade ética e sabedoria intuitiva. Portanto, ele é um Buda
que foi também um ser humano.
2. Ênfase na Vida Diária. Em seus ensinamentos, o Buda deu grande importância ao cotidiano
enquanto prática espiritual. Ele nos ofereceu orientação para tudo, desde o modo de comer, vestir,
trabalhar e viver, até para caminhar, estar em pé, sentar e dormir. Ele deixou instruções claras
quanto a todos os aspectos da vida, desde o conduzir nos campos social e político.
3. Altruísmo. O Buda nasceu neste mundo para ensinar, dar exemplo, e trazer alegria a todos. Ele
ocupou-se de todos os seres, pois sempre teve, em seu coração e mente, o interesse dos demais.
Em resumo, cada pensamento seu, cada palavra ou ação, originou-se de um coração repleto de
interesse e consideração pelos outros.

4. Alegria. Os ensinamentos budistas dão alegria às pessoas. Através da infinita compaixão de


seu coração, o Buda almejava aliviar o sofrimento de todos os seres e dar-lhes alegria.
5. Oportunidade. O Buda nasceu por uma grande razão: para construir um relacionamento
especial com todos nós que vivemos neste mundo. Apesar de ter vivido há aproximadamente
2.500 anos, e ter alcançado o nirvana, ele deixou a semente da liberdade para as futuras
gerações. Ainda hoje, os ideais e ensinamentos do Buda servem como guias importantes e
oportunos para todos.
6. Universalidade. A vida do Buda como um todo pode ser caracterizada pelo seu espírito de
desejar salvar a todos os seres, sem exceção. O Buda amava os seres em geral, fossem animais
ou humanos, homens ou mulheres, jovens ou velhos, budistas ou não budistas, etc.
Diz um provérbio budista: "A saúde é mais valiosa que a riqueza". A doença - assim como a
velhice - são partes integrais do ser humano. É plausível afirmar que a saúde e a doença
coexistem em nossos corpos. Por exemplo, de acordo com a medicina ocidental, as células
cancerígenas nascem dentro de nossos corpos e são eliminadas através da ação do nosso
sistema imunológico, partindo do princípio de que este está em pleno funcionamento (KEOWN,
2002)
Para Josei (In: Keown, 2002): "Uma pessoa é saudável enquanto é capaz de comer e dormir o
suficiente". O que ele queria dizer é que enquanto podemos comer e dormir suficientemente, nós
deveríamos parar de pensar em nossa saúde e concentrar nossa energia em outras questões. A
declaração dele pode parecer simplista, mas é relevante numa época aonde as pessoas se
tornaram excessivamente preocupadas ? ou mesmo, mórbidas ? em relação a doença.
Do ponto de vista do budismo Mahayana, promover a boa saúde pode ser identificado como o
estado de Bodhisattva, uma condição de compaixão adquirida através de um comportamento
desprovido de egoísmo e ações altruísticas que beneficiem todas a humanidade.
Para os Budistas a doença é algo coletivo: "Porque todos os seres estão doentes, eu estou
doente. Caso a doença de todos os seres humanos forem eliminadas, a minha doença também
será erradicada.
O conceito budista de boa saúde, como ilustrado neste trecho, não se limita a questão da
ausência de doenças. Ela está relacionada com a presença de uma enorme compaixão por todos
os seres vivos, baseados na infinita energia vital que nos capacita a enfrentar e ultrapassar
qualquer tipo de dificuldade. O ato de atingir o estado de Bodhisattva significa a incorporação
desta tamanha força interior, que na visão budista, é o auge da boa saúde.
De acordo com o Budismo, a saúde não é um estado separado das influências negativas. Ao
contrário, é um estado especialmente ativo e positivo na qual defrontamos e buscamos resolver os
nossos inúmeros problemas e daqueles ao nosso redor. Ao invés de meramente escaparmos das
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influências negativas, como budistas devemos assumir a responsabilidade por eles.


A palavra ?doença? denota uma falta de conforto. É tentador interpretarmos o estado de conforto
como simplesmente sendo a ausência de dificuldades. Mas, se observarmos atentamente, o
conforto implica na força de enfrentarmos e superarmos qualquer problema que porventura possa
surgir.
Uma visão paralela com relação a natureza da saúde é compartilhada por alguns trabalhos
desenvolvidos no Ocidente.
René Dubos declara em sua obra Mirage of Health (1959): "Embora possa ser confortável
imaginar uma vida livre de pressões e esforços, num mundo livre de problemas, este somente irá
permanecer como um sonho idílico?O homem existe para lutar, não necessariamente para si
mesmo, mas em prol do crescimento do processo emocional, intelectual e ético humano e que
este possa durar eternamente. O crescimento em meio ao perigo é o destino da raça humana,
porque esta é a lei dos espíritos."(?)
Com respeito ao propósito da doença em nos dirigir para a perfeição, o filósofo suiço Karl Hilti
(1833-1909) disse: "Assim como a inundação de um rio, ara a terra e nutre os campos; a doença
serve para nutrir os nossos corações. Uma pessoa que compreende a sua doença corretamente e
persevera, irá possuir uma vida com maior profundidade, força e grandiosidade."
Assim, o budismo vê a doença como uma oportunidade para que possamos galgar um estado de
vida mais nobre e elevado. Nos ensina que, ao invés de agonizar sobre uma doença ou
desesperar em sobrepujá-la, nós devemos ser capazes de utilizar a doença para construir um
caráter mais forte e compassivo, que em retorno nos proporcionará a capacidade de desfrutarmos
nossas existências repletas de realizações. Este é o significado das palavras de Nitiren Daishonin:
"A doença desperta um grande espírito de procura".
Para curar um enfermo, a primeira coisa que um médico precisa fazer é um diagnóstico preciso
para então saber qual o tratamento a ser prescrito. O Buda ao transmitir os seus ensinamentos
agiu como um médico. O diagnóstico da condição humana é que o sofrimento é a experiência
comum a todos os seres vivos, em forma de descontentamento, insatisfação ou tristeza. Em vista
desse diagnóstico, o Buda prescreveu a maneira de dar um fim ao sofrimento; e o tratamento para
dar um fim ao sofrimento é o núcleo da prática Budista. O sofrimento é a experiência que nos leva
ao despertar, pois quando sofremos, tendemos a investigar, a ter curiosidade, a buscar uma
saída.
Uma vez explanadas as faces das religiões pertinentes a este estudo acreditamos ser importante
fornecer algumas informações relacionadas a Pomada Vovô Pedro. Destacamos que não foram
encontradas em publicações científicas relatos ou abordagens relacionadas a pomada, o que
reforça a importância deste estudo.
2. 3 A pomada Vovô Pedro
No que tange a Pomada Vovô Pedro, apesar de ignorada pelos cientistas, há indícios e relatos de
que a pomada alivia diversas afecções.
Ao se analisar seu rótulo, verifica-se o item "distribuição gratuita", bem como as indicações para
"Afecções da pele, úlceras varicosas e feridas em geral; mutilações de hanseníase; reumatismo;
dores na coluna; bronquite; queimaduras; inflamações uterinas; hemorróidas; rinites alérgicas;
herpes; tumores vaginais; dores em geral"
A Pomada está registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial desde 1977 com o
processo de número 818165112 sob a categoria de medicamento alopático, homeopático,
dermatológico, oftálmico e otológico. Porém, não tem registro no Ministério da Saúde, apesar de
ter Farmacêutica responsável.
Sua embalagem é um frasco de filme fotográfico, adquirido gratuitamente em casas de revelação
fotográfica e, no canto esquerdo está escrito "Fórmula Espiritual de propriedade da Farmácia
Manipulativa Kahena".
Há outras instruções tais como: aplicar suavemente três vezes ao dia em movimentos verticais (de
cima para baixo).
De acordo com Maia (1997) a fórmula recebida "mediunicamente" pelo Médium João Nunes Maia
por meio de um "espírito" de um médico que viveu no século XVIII, Franz Anton Mesmer baseia-
se nas plantas medicinais: própolis, erva-de-bico, ipê-roxo e condurango.
Conforme se observa de forma empírica, não há relatos de efeitos colaterais. Ouve-se
informações sobre seus efeitos emolientes, cicatrizantes e anti-inflamatórios. Além de aliviar e
curar enfermidades de pelo do tipo ulcerações e feridas, mesmo as de queimaduras.
A pomada não é encontrada em farmácias, mas somente em Casas Espíritas que cuidam da
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31/10/2017 A pomada vovô Pedro

distribuição.
Segundo dados da Sociedade Espírita Maria Nunes (SEMAN, 2007), são produzidos 1,5 milhão
de potes de pomada ao ano.
A primeira formulação foi feita em uma velha panela de pressão em 2,5kg.
Em hospitais existem diversas formulações, que são utilizadas como emolientes e cicatrizantes de
feridas da pele, mas a Pomada Vovô Pedro jamais foi vista em instituições hospitalares, mas
provavelmente se faz presente em diversas residências.
É importante observar que os ingredientes da pomada Vovô Pedro como a própolis tem princípio
ativo contra infecções e outros, isso mostra que as diversas infecções sejam elas por vírus,
bactérias ou choque mecânico podem ser controladas por este ingrediente, desencadeando assim
uma reação normal ao de qualquer outro medicamento com o mesmo princípio.
No entanto, desconhece-se cientificamente a formulação da Pomada Vovô Pedro.
A pomada é utilizada, principalmente, para afecções de pele e, apesar do avanço das
investigações, a origem de muitas doenças ainda é um ponto obscuro para muitos pesquisadores,
assim como a fórmula espiritual da pomada.
Daí a necessidade de se partir à campo a fim de se pesquisar as representações sociais de
pessoas que utilizam a pomada. No entanto, não é o bastante pesquisar apenas as perspectivas
de espíritas (seus maiores utilizadores), mas também pessoas de outras religiões.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, com a análise qualitativa com base nas Representações
Sociais.
O estudo descritivo, como o próprio termo o define, descrê as características de um fenômeno ou
população (ALVES, 2003). Para isso se utilizou de um estudo qualitativo uma vez que as falas dos
entrevistados retratam situações subjetivas, que não podem ser quantificáveis.
Optou-se pelas representações sociais como lente de análise pois, para Abric (2000, p. 35) as
representações sociais são "elementos que se estruturam em torno de um núcleo central e de
núcleos periféricos para a sistematização do conhecimento na busca do aprofundamento do
objeto".
Esta teoria é útil pois, considera que todo indivíduo se desenvolve em uma realidade social, com
necessidades e significados culturais que moldam os próprios valores e que se expressam no
quotidiano, por meio de representações sociais construídas, no senso comum, nas interações, nas
ideologias e nos modos de viver das pessoas.
Seja teoria, conceito, categoria analítica ou explicativa, o importante é que a expressão
"representação social" vem sendo de importância primordial para se compreender a relação
sujeito/objeto, principalmente quando se trata da subjetividade, da singularidade e do senso
comum do cotidiano das pessoas.
A pesquisa foi feita no período de maio a julho de 2008, na Livraria Castro Alves, onde a pomada
é distribuída gratuitamente e na feira de roupas usadas, uma vez que nestes locais se agregam
pessoas de diversas religiões. Foram convidados a participar, aqueles que já usaram a pomada
pelo menos uma vez que concordassem em responder à entrevista contendo três questões
relacionadas às percepções que eles têm da pomada Vovô Pedro em suas vidas. Todos os
entrevistados foram informados a respeito dos princípios éticos da Resolução 196/96, garantindo-
lhes o anonimato e o uso das informações exclusivamente para fins científicos e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Após a aplicação da entrevista, seguindo o critério de saturação, procedeu-se a leitura vertical e
horizontal das mesmas, buscando-se no conteúdo global das falas dos sujeitos, conforme Abric
(2000, p. 35), as representações sociais destes sobre a Pomada Vovô Pedro.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistadas 12 pessoas, sendo 04 católicos, 03 budistas e 5 espíritas que utilizaram a
pomada, sendo a maioria do sexo feminino, 3 são casados e 9 solteiros, com faixa etária
predominante entre 20 e 70 anos, sendo todos com ensino médio completo. A maioria usa a
pomada há mais que um ano, sendo que tiveram acesso à pomada por meio de doação de
familiares.
Após a análise das falas foi possível acessar as seguintes categorias:
- A pomada Vovô Pedro é uma pomada milagrosa;
- A Pomada Vovô Pedro é útil para aliviar dores, curar picadas de insetos, queimaduras e
infecções na pele;
- Os ingredientes da pomada associados à fé do indivíduo garante a cura;
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Tais categorias serão analisadas à luz das Representações Sociais.


4.1 A Pomada Vovô Pedro é uma pomada milagrosa.
Ao se solicitar aos entrevistados que falassem a respeito da Pomada Vovô Pedro a maioria
respondeu que tem poder de cura, que é muito eficaz, sendo útil para diversas afecções e que é,
acima de tudo, milagrosa, conforme é possível verificar em suas falas:
"Ela tem poder de cura, seguindo direitinho ela cura lesões musculares. Em mim teve resultado
positivo" (Católico, 30 anos).
"Quando eu comecei a usar ela agia muito rápido, primeiro ela esquentava, depois aliviava e junto
ia a dor" (Católica, 20 anos).
"Em minha opinião é uma pomada milagrosa capaz de reverter muitas inflamações que causam
feridas na pele, dentre outras coisas" (Católico, 21 anos).
"Eu gostei da pomada, ela foi muito eficaz, só o cheiro que não me agradou muito no começo"
(Católica, 30 anos);
"Conheci a pomada pela minha tia, daí comecei a usar e a recomendo" (Budista, 20 anos).
"Eu uso para várias doenças e fins terapêuticos" (Budista, 42 anos).
"Eu comecei a usar e gostei. Ela é ótima para tudo" (Budista, 59 anos).
"Em primeiro lugar eu tenho muita fé e acredito que os espíritos colocam na substância o que a
gente precisa. É antiinflamatória, alivia a tensão no músculo, uso até na minha cadelinha"
(Espírita, 54 anos).
"Eu acho que ele é milagrosa, porque uso para machucados, coceira, acho que serve para tudo"
(Espírita, 50 anos).
"Eu sei que é manipulada de forma especial, tem preparação moral, num ambiente puro, por
pessoas equilibradas com contato com o alto. É preparada fluidicamente. Ela é pura" (Espírita, 57
anos)
Milagre, na concepção de Hume (1748) "é uma transgressão de uma lei da Natureza pela vontade
de uma Divindade, ou a interposição de um agente invisivel." (Hume, p. 123).
Por outro lado, acreditar num milagre, como dizia Hume, não é um ato de razão mas de fé.
O resultado do milagre é a cura, na concepção de católicos e espíritas. O conceito de cura como
cuidado e como recuperação da doença, relacionando-o em particular com o enfrentamento
religioso, forma específica de cuidado consigo e com outrem, distinguem-se várias possíveis
relações entre cura e religião. (PAIVA, 2007)
Curar, em latim, significa literalmente "cuidar". Muitos termos do português conservaram esse
sentido literal: curador, curatela, curioso. Outros termos há, como procurar, descurar, segurar (de
securus, sem cuidado), que literalmente significam cuidar de alguma coisa ou estar dela
descuidado. (PAIVA, 2007)
Como o resultado do cuidado é muitas vezes o retrocesso da doença e a melhora do organismo,
curar, curar-se, passou, por metonímia, a significar sarar. "Eu me curei" atualmente não quer dizer
"eu me cuidei", mas "eu sarei". A cura, então, pode ser entendida como cuidado e como resultado
desse cuidado, a recuperação da saúde. (PAIVA, 2007)
Não há dúvida de que na história do cristianismo, ontem e hoje, o cuidado pelos enfermos é uma
das manifestações mais patentes de sua presença no mundo. (PAIVA, 2007)
Se, muito em função do desconhecimento geral no campo da saúde, esse cuidado foi, no
passado, mais remediativo do que preventivo, hoje, em razão dos novos conhecimentos e de
novas sensibilidades, a psicologia em geral e a psicologia da religião apontarão novos ou
renovados elementos motivacionais, como responsabilidade social, senso de justiça, direitos da
pessoa, respeito ecológico, elementos que adquirem uma dimensão religiosa caso incluam uma
intencionalidade religiosa. É, com efeito, a relação com o objeto religioso que torna religiosa uma
variável, e não sua categorização em alguma classe especial de comportamentos. (PAIVA, 2007)
Para Rosen (1994) a doença torna-se um acontecimento simbolicamente significativo que
organiza (ou desorganiza) a vida de todos os envolvidos, portanto, o discurso religioso trabalha
com a experiência concreta e subjetiva que o paciente/família têm de sua doença.
Por outro lado, enquanto no cristianismo os fiéis consideram a cura uma manifestação do Reino
de Deus e a religião délfica é essencialmente de cura, no Budismo, por exemplo, a cura é
desnecessária (PAIVA, 2007).
Reações psicossomáticas, buscas por curas milagrosas, libertações ou simplesmente efeitos
psicológicos, é fato que tais realidades são vivenciadas no cotidiano de pessoas adoecidas.
Há numerosos estudos a respeito da correlação entre religião e saúde, religião e doença, religião
e cura (Paiva, 1998a).
http://www.webartigos.com/artigos/a-pomada-vovo-pedro/76421 9/14
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Em evidente conexão com essas discussões, coloca-se a questão da cura pela religião. Note-se
que essa questão não é apenas psicológica e médica, mas também teológica. Há religiões
essencialmente de cura, como a religião délfica. (PAIVA, 2007)
Há outras, como o budismo, em que a cura é desnecessária. E outras, como o cristianismo,
consideram a cura às vezes fim em si mesma, embora parcial, e às vezes sinal de outra realidade
final. (PAIVA, 2007)
Numa cultura, por exemplo, em que saúde e doença são consideradas holisticamente extensões
da relação com a divindade, como na antigüidade organizada ao redor da religião (Vergote, 2001),
a cura só pode ser religiosa, pela definição dos termos. (PAIVA, 2007)
4.2 A Pomada Vovô Pedro é útil para aliviar dores, curar picadas de insetos, queimaduras e
infecções na pele.
Quando os entrevistados foram solicitados a falarem sobre os usos que já fizeram da Pomada
Vovô Pedro a maioria católicos e espíritas respondeu que utilizam-na para conter dores, picadas
de insetos, cicatrização de queimaduras e processos infecciosos na pele, conforme se observa
nas falas abaixo:
"Contusões musculares, torções no tornozelo" (Católico, 30 anos)
"Uso para dor de cabeça, perna, ombro e garganta" (Católica, 20 anos).
" Uma alergia que tive na pele, daí usei ela muito tempo e foi muito bom porque ela me curou"
(Católica, 30 anos).
"Com queimaduras e hematomas" (Budista, 20 anos).
" Já usei a pomada Vovô Pedro várias vezes, e foi para torções, na maioria das vezes e algumas
pancadas que levei" (Budista, 42 anos).
"Tira dores nas pernas, mancha na pele, a gente usa pra quase tudo, né?" (Budista, 59 anos).
Para os espíritas a Pomada Vovô Pedro também agem em picadas de inseto, dor e queimaduras.
"É cicatrizante, para dor, contra alergia, picada de inseto, rapidinho sara queimaduras, uso até nos
cães" (Espírita, 54 anos).
"Torcicolos, eu uso e dá certo, picada de inseto, queimadura. Um dia o caseiro estava mancando,
com a perna queimada e inflamada. Eu dei o potinho a ele e no outro dia ele disse: ?Nossa! Dona,
onde a gente compra essa pomada? Porque ficou bom. Que pomadinha boa!". Aí eu disse: Pode
ficar eu tenho mais" (Espírita, 50 anos).
"Para dores, erisipela. Meus vizinhos usam. Uma vez uma evangélica pegou para usar na sogra
dela que estava no HDT. Lá no hospital proibiram de usar, mas em casa ela usou e sarou a perna
da sogra dela." (Espírita 41 anos).
"Já utilizei em várias situações, queimadura, picada de inseto e para uso externo e até interno.
"Esta pomada é aplicada para muitos problemas de saúde: contusões, alergias hematomas, gripe,
garganta inflamada, hanseníase" (Espírita, 62 anos).
Ao se observar os depoimentos acima, percebemos que não se trata de cura psicossomática, mas
de situações concretas tais como alívio da dor imediata e ações antiinflamatórias em
queimaduras.
O fenômeno mágico da cura constitui-se num sistema simbólico que produz um conhecimento
sobre o mundo, lhe atribui significados e transforma a situação, os conflitos, o caos.
Entretanto, a cura mágica surge como algo que se soma, que se complementa ao tratamento
médico. A compreensão da doença e a expectativa pela cura, revaloriza as práticas mágico-
religiosas explicando aos envolvidos "o por que" da situação. Assim, a doença material requer
intervenção médica (a cirurgia) e a doença espiritual requer a busca da saúde do espírito através
da fé religiosa. Embora haja uma distinção formal, não há um confronto real. Essa polaridade leva
os pacientes e familiares a buscarem pela complementariedade das duas práticas (Rosen, 1994,
p.17).
Sullivan (1987) descreve em seu estudo, dados que evidenciam a crença em Deus como
indispensável para o enfrentamento de momentos de sofrimento e insegurança e compreenderam
que o paciente/família desvelam que a interpretação religiosa da doença é um acontecimento
mais abrangente do que uma disfunção orgânica.
Percebe-se uma evidente conexão entre religião e saúde/doença pois, "embora os achados
empíricos não sejam inequívocos, os estudos têm registrado consistentmente que vários aspectos
do envolvimento religioso estão ligados a resultados desejáveis da saúde (...) e que várias
investigações recentes, usando rigorosos métodos analíticos, também registram efeitos salutares
de diversos indicadores de envolvimento religioso numa ampla gama de resultados de saúde
física e mental" (ELLISON, 1998, p. 692)
http://www.webartigos.com/artigos/a-pomada-vovo-pedro/76421 10/14
31/10/2017 A pomada vovô Pedro

Consideradas pela ciência moderna como reações psicossomáticas, as curas, muitas vezes
solicitadas pelos enfermos ou por outras pessoas, apontavam mais um bem-estar religioso que
propriamente um bem-estar físico, concretizado pela sensação de libertação do pecado e a união
com Deus (PAIVA, 2007). Nesse sentido, segundo Aletti (2004), não se trata de perguntar se
"Deus ajuda", mas "se crer em Deus ajuda".
Já foi descrito que os ingredientes da pomada Vovô Pedro incluem própolis que tem princípio ativo
contra infecções, isso mostra que as diversas infecções sejam elas por vírus, bactérias ou choque
mecânico podem ser controladas por este ingrediente, o qual em excipiente emoliente
desencadeia uma reação de restabelecimento dos tecidos, semelhante ao de qualquer outro
medicamento com o mesmo princípio.
A associação da composição da pomada à fé dos usuários transformam-na em uma substância
singular.
4.3 Os ingredientes da pomada associados à fé do indivíduo garante a cura.
As maneiras como os entrevistados explicam a ação da Pomada Vovô Pedro, são bastante
variadas, no entanto, a maioria concorda que a associação dos ingredientes da pomada com a fé
do indivíduo resultam na cura, conforme as falas à seguir:
"A Pomada Vovô Pedro foi bem eficaz. Cheguei a ter cura. Se usar corretamente, massageando
do jeito certo a ação é mais rápida" (Católico, 30 anos).
"Ela no começo ardeu um pouco, depois foi aliviando. Não sei como ela fez isso, mas parou a dor"
(Católica, 20 anos).
"Acredito que seja uma pessoa muito sábia e correta que a inventou, porque ela cura e é eficaz
contra muitas coisas" (Católico, 21 anos).
"Ela tem ação, mas eu não sei explicar (pela razão), só sei que alivia a dor e não deixa cicatriz"
(Católica, 30 anos).
"Sei que é cicatrizante" (Budista, 20 anos).
"Ela pode ter em sua composição alguns medicamentos que funcionam, mas eu acho que a
maioria dos casos de cura é pela fé religiosa e crença" (Budista, 42 anos).
"Eu sei que ela é feita mediunicamente. É maravilhosa" (Budista, 59 anos).
Para os espíritas a fé também é um elemento importante e mais contundente.
"Eu acho que é fé. Com certeza meu mentor espiritual sabe o que é melhor para mim. Eu levo
muito a sério a benção divina, por isso eu uso a pomada para quase tudo, acho que é uma
intuição espiritual essa pomada" (Espírita, 54 anos).
"Ela é feita mediunicamente. Ela tem ingredientes eficazes para vários tipos de doenças, com
certeza tem muita influência espiritual, tanto na fabricação quanto no uso." (Espírita, 50 anos).
"Acho que ela age de acordo com a crença, com a busca da pessoa. Ela dá um resultado mais
positivo dependendo da pessoa. Um tratamento fluídico reflete uma ação fluídica. Em minha mãe
ela não faz efeito, porque ela não acredita! Ela só tem fé em remédio que médico passa" (Espírita,
57 anos).
"Eu acho que é através dos componentes e pela fé da pessoa, esperança em ficar bom de uma
doença" (Espírita, 41 anos).
"A sua ação é realmente milagrosa por ser uma fórmula espiritual, os ingredientes utilizados são
magnetizados pelo grande amor durante a fabricação. Tudo isso aliado à fé faz dessa pomada
uma maravilha" (Espírita 62 anos).
Estudos realizados por Aletti (2004) mostram que é a fé quem cura, pois há uma intrigante
coincidência entre reações positivas a tratamentos medicamentosos e o fato de o paciente ter
uma crença religiosa. Assim, a fé é um fator determinante não apenas na cura, mas também na
qualidade de vida das pessoas.
Em seu estudo, Aletti (2004) identificou que a longevidade é, em média, 10% maior entre aqueles
que professam alguma fé e que mulheres e homens que rezam com freqüência se curam com
maior facilidade em casos de doenças em que o stress é um fator determinante.
Concordando com o autor acima citado, afirma Matthews (2003) do Instituto Nacional de
Pesquisas de Saúde dos Estados Unidos: Pessoas que têm fé em geral são menos propensas a
fumar, beber, lidar com drogas e ter comportamento sexual de risco. São também menos ansiosas
e mais atentas a fatores de segurança cotidiana, como usar cinto no carro, além de seguir mais
fielmente as orientações médicas.
Em outro estudo, promovido por Oxman (1995) da Faculdade de Medicina de Dartmouth, mostrou
que pacientes com convicções religiosas tinham três vezes mais chances de sobreviver a cirurgias
cardíacas do que os não religiosos. "Acredito que exista um mecanismo psicológico que faz com
http://www.webartigos.com/artigos/a-pomada-vovo-pedro/76421 11/14
31/10/2017 A pomada vovô Pedro

que os religiosos lidem melhor com o stress que uma intervenção dessa natureza acarreta"
(OXMAN, 1995, p. 1).
Um estudo feito por Hall (2006) no centro médico da Universidade de Pittsburg, nos Estados
Unidos, revelou que participar de cerimônias religiosas regularmente pode aumentar a expectativa
de vida. De acordo com a pesquisa, idas semanais à igreja podem adicionar de dois a três anos
ao tempo de vida de uma pessoa.
Numa cultura moderna, em que se reconhece a autonomia dos diversos segmentos da vida
individual e social, a saúde e a doença não têm de passar pela definição religiosa ou, se o fazem,
é num sentido bastante peculiar. (PAIVA, 2007)
Provavelmente o fato de a Pomada Vovô Pedro ser gratuita e de fácil acesso, possibilite um
cuidado imediato à lesões, evitando-se que infeccionem ou agravem a dor com o passar do
tempo. A crença de que a pomada é milagrosa e que promoverá a cura é um fator importante a
ser considerado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi identificar e analisar as representações sociais de católicos, espíritas e
budistas a respeito do uso e ação da Pomada Vovô Pedro.
Após a análise das falas percebe-se que tanto para católicos, quanto para espíritas e budistas, a
Pomada Vovô Pedro é uma pomada milagrosa, que tem ação sobre dores, queimaduras, picadas
de insetos e que essa ação está relacionada a sua composição, bem como a fé do indivíduo que
dela faz uso.
Interessante notar que os entrevistados não se referem à pomada como elemento que expulsa os
maus espíritos ou males espirituais, provavelmente porque eles não mais consideram a doença, a
dor e a ferida como algo provocado por espíritos malignos, apesar de considerá-la como uma
substância que age pela fé.
Este estudo nos auxiliou na compreensão de três religiões e da singularidade com que cada uma,
por meio dos entrevistados, demonstra sua relação com o sagrado, a doença e a cura,
estimulando-nos a repensar o cuidado ao indivíduo, não somente como um ser biológico, mas
psicológico, social e acima de tudo, espiritual.
Importante lembrar que os enfermeiros conhecem bem sobre curativos e é importante consultar
um profissional especialista em feridas antes de usar qualquer produto.
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http://www.webartigos.com/artigos/a-pomada-vovo-pedro/76421 12/14
31/10/2017 A pomada vovô Pedro

subseqüentes, que são mais claras e indicadas por um ponto (?) à esquerda. As crenças e grupos
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