Somos o Que Fazemos de Nos (Waldenir Aparecido Cuin)

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SOMOS O QUE FAZEMOS DE NÓS

Waldenir Aparecido Cuin

2013

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Agradecemos

Aos jornais “Diário de Votuporanga” e “A Cidade”, pela publicação dos


artigos que compõem este livro, em colunas espíritas publicadas aos
domingos, sempre de forma gratuita.

À “Folha Espírita”, de São Paulo-SP, e à revista espírita “O Consolador”,


de Londrina-PR, por também publicarem boa parte dos textos aqui
inseridos.

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Dedicatória

Dedicamos esta obra:

Ao senhor José Bruno Mattiazzo, hoje na espiritualidade, a quem


devemos um enorme tributo de gratidão por nos ter guiado na direção do
Espiritismo.

E ao estimado casal Ilda e Romeu Grisi, valorosos pilares de


sustentação do Espiritismo em Votuporanga, nossa referência e modelo.

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Índice

Notas sobre o Autor


Introdução
1. Abortar o feto anencéfalo é matar quem muito precisa da nossa ajuda
2. Alcoolismo juvenil: Uma omissão familiar
3. Jesus: “Eu venci o mundo”
4. Refletindo sobre a criança
5. A determinação em recomeçar
6. O ideal sem a ação é proposta ineficaz
7. O reflexo das emoções no corpo físico
8. Ninguém está desamparado
9. Se queremos um mundo melhor...
10. Juventude não é sinônimo de libertinagem
11. Henrique e o Dia dos Pais
12. Ninguém é culpado pela nossa dor
13. Mesmo no suicídio não morremos
14. As diversas formas da caridade
15. Melhorar a sociedade é tarefa nossa
16. A força contagiosa de uma iniciativa no bem
17. Ser feliz e viver em paz
18. Causas anteriores e atuais das nossas aflições
19. Educar é uma missão
20. Renato e o “Catatau”
21. O que estamos fazendo com as lições de Jesus
22. Discípulos de Jesus
23. Use as suas mãos
24. Falso testemunho
25. Perdendo tempo
26. A distinção entre o bem e o mal
27. É preciso compreender e praticar Jesus
28. Observemos o sofrimento ao nosso redor e sirvamos
29. A opção de Mariana
30. Cristianismo é sinônimo de trabalho
31. Rogativa a Jesus
32. Quando vivemos o Evangelho
33. Ajudar aos que não querem ajuda
34. O bem está ao alcance de todos
35. A constante proteção divina
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36. Os valorosos benefícios da doação
37. Que mensagem estamos transmitindo?
38. A fonte divina
39. Alfredo e a força de vontade
40. Lembrança de nossos mortos
41. O significado da reencarnação
42. Carregar a nossa cruz
43. O despertar da consciência
44. Aprender com Jesus Cristo
45. Maria Antônia e o valor da prece
46. Dores ocultas
47. Nem tudo nos convém
48. Seria interessante ter o futuro revelado?
49. Jesus Cristo: o modelo a ser seguido
50. Amor e sabedoria
51. Não é saudável julgar o próximo
52. Evitemos guardar mágoas e ressentimentos
53. A guerra que cultivamos todos os dias
54. A presença constante da proteção divina
55. Morre o corpo, prossegue a vida
56. Como seremos recebidos no mundo espiritual?
57. Atributos de Deus
58. Ter fé é diferente de crer
59. O limite do necessário
60. Somos o que fazemos de nós

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Notas sobre o Autor

Waldenir Aparecido Cuin, natural de Cosmorama (SP), é casado com


Emilly Aparecida, com quem teve dois filhos, Marcelo e Tatiana
(desencarnada).
Formado em Administração de Empresas, é funcionário público
municipal aposentado.
Participa do Centro Espírita Humberto de Campos e do seu
departamento assistencial, a Associação Beneficente “Irmão Mariano
Dias”, em Votuporanga (SP), onde reside.
É autor dos livros Caminhos de Esperança, Otimismo e Alegria,
Perguntando e Aprendendo, Perfil da Felicidade, Em Busca da Paz,
Mensagens de esperança e paz, Usando nossos talentos, Multiplicando
nossos talentos e Respostas dos Espíritos.
Escreve regularmente sobre Espiritismo no jornal A Cidade e no Diário
de Votuporanga, na Folha Espírita, de São Paulo (SP), na revista Luz e
Verdade, de Lisboa, e na revista espírita “O Consolador”, de Londrina (PR),
e apresenta o programa radiofônico “Momento de Reflexão” na Rádio
Clube de Votuporanga.

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Introdução

Quando Jesus Cristo, o guia e modelo mais perfeito que Deus ofereceu
aos homens, informou a necessidade de conhecermos a verdade, pois que
ela nos permitirá a liberdade, apresentou-nos a chave capaz de abrir as
algemas da nossa ignorância, consequentemente ampliando o leque da
nossa visão e facultando nossa conscientização sobre os reais valores da
vida.
O Mestre apontou, naquele momento histórico, a quem quisesse ouvi-
Lo, os caminhos dos estudos, das reflexões, da responsabilidade e da
maturidade espiritual, posturas nobres, com solidez suficiente para nos
manter no mundo físico, de curta duração, com os olhares voltados para a
vida espiritual, eterna, infinita, imortal...
Posteriormente, o Divino Amigo enviou-nos Allan Kardec, assessorado
pela expressiva e fecunda equipe do Espírito da Verdade, e ambos, num
esforço hercúleo e profícuo, legaram à humanidade a codificação
kardequiana, que é que existe, no mundo, de mais completo e atual com
respeito à espiritualidade.
Tem, portanto, o presente livro a proposta de oferecer aos leitores
estudos, reflexões, análises e comentários sobre as valiosas e
imprescindíveis lições do Cristo, sob a égide da lucidez e do bom senso de
Allan Kardec.
Trata-se de singela contribuição que se soma a tantas outras, ficando
à disposição dos interessados.
Em momento de intensos desafios, no roteiro da jornada terrena,
imprescindível se torna que realmente saibamos de onde viemos, o que
aqui fazemos e para onde vamos. Mesmo mergulhados em grandes
sacrifícios e em infindáveis renúncias, sigamos determinados em busca dos
recursos que a Providência Divina espalhou ao nosso redor, manipulando-
os devidamente para extrairmos o néctar da evolução espiritual.
Em nenhum momento da humanidade tivemos tantas informações
como nos dias atuais, mas ainda identificamos no seio das coletividades
incontáveis gemidos de dor, de angústias, de insatisfações e de conflitos,
sinais evidentes de que ainda não logramos conhecer e usufruir a verdade
que liberta.
Estudemos Jesus e Kardec e, por certo, as portas da compreensão se
abrirão para a entrada de um futuro indiscutivelmente promissor.

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Abortar o feto anencéfalo é matar quem muito precisa


da nossa ajuda

“O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da


concepção? -- Há sempre crime, quando se transgride a lei de Deus. A mãe,
ou qualquer pessoa, cometerá sempre um crime ao tirar a vida à criança
antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas
provas de que o corpo devia ser o instrumento.” (Questão 358, de “O Livro
dos Espíritos” – Allan Kardec.)

Dentro da lógica e da evidência da realidade, não temos dúvidas em


concluir que somos Espíritos eternos, criados por Deus na simplicidade e
na ignorância, tendo como objetivo atingir a perfeição, onde lograremos
usufruir da paz e da felicidade que tanto almejamos. Mas, no contexto
dessa longa jornada, que nos conduzirá do estado inferior à angelitude,
fazemos uso do livre-arbítrio e do esforço próprio.
A Providência Divina, no âmbito da sua sabedoria, fraternidade e
justiça, nos aquinhoa com os recursos e mecanismos de que temos
necessidade, visando à concretização da nossa proposta de evolução, mas
a tarefa de crescer espiritualmente é totalmente nossa.
Somos absolutamente livres para decidir e escolher caminhos, devendo
apenas, dentro da lei de ação e reação ou de causa e efeito, colher os
reflexos de cada ação praticada. “Do que plantares, colherás.” (Paulo,
Gálatas, 6,8)
Com relação ao aborto, esse lamentável e covarde gesto de aniquilar o
corpo em formação, de quem não tem como se defender, podemos
imaginar a seguinte comparação:
Um familiar querido, numa ação equivocada, desobedecendo às leis de
trânsito, sofre um grave acidente, ficando com visíveis sequelas em seu
corpo. Necessita dos serviços hábeis de médicos competentes, remédios
adequados, hospital bem equipado e corpo de enfermagem bem
estruturado, para que recupere a normalidade do seu físico ferido.
Qualquer um de nós que amamos a criatura do exemplo citado
faremos o máximo esforço e nos dedicaremos ao extremo para vê-la
refeita e saudável. Movimentaremos toda a nossa potencialidade em favor
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da sua recuperação. Deixá-la à própria sorte seria comportamento
desumano e infeliz.
Diante do familiar recuperado nos exultaremos de alegria e
contentamento e ele se desdobrará em agradecimentos por todos que o
socorreram.
Vislumbremos, agora, na tela da imaginação, o sofrimento de um
Espírito, também querido familiar nosso, depois de ter falido na sua
existência física, deixando o mundo material pelas nefastas vias do
suicídio, mediante o disparo de uma arma de fogo contra a sua cabeça.
O ferimento provocado no corpo físico, por deliberação própria, em
momento de aflição e desespero, deixando fortes sequelas em seu corpo
espiritual, ao ponto de remetê-lo ao mundo dos desencarnados em grave
estado de perturbação e desequilíbrio, somente poderá ser sanado com a
volta do Espírito, numa nova reencarnação, para reparar na matéria os
danos perpetrados.
Precisa ele de um novo corpo, a se formar no ventre de uma mãe que
possa entender as suas dores e angústias. Acontece então a gravidez, e
esse Espírito ferido – desarrumado, perturbado e sofrido, cheio de
esperança na harmonização emocional, psíquica e física – comanda a
formação do novo corpo, que tem como modelo o seu perispírito.
No entanto, o seu perispírito, devido ao suicídio de ontem, encontra-se
estrambelhado, o que determinará a formação de um corpo também
estrambelhado, dando origem a um feto anencéfalo. Mas, nessas
condições, quanto mais tempo o Espírito ficar ligado à matéria, mais
condições tem de reparar os danos perispirituais.
Assim, mesmo que o feto do anencéfalo viva tão somente até o seu
nascimento, ou quem sabe um pouco mais, terá o Espírito reencarnante
feito um valioso trabalho de reequilíbrio mental e emocional.
Abortá-lo será negar-lhe a possibilidade de recuperação. Isso
acontecendo, o Espírito ferido vê suas esperanças se esvaírem.
Onde, então, os nossos princípios cristãos? Onde o nosso amor e
fraternidade por um familiar necessitado? Como determinar a morte de um
ser amado, cujas mãos suplicantes nos imploram socorro?
Abortar o feto anencéfalo... Em nome do amor, não façamos isso...

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Alcoolismo juvenil: uma omissão familiar

“Não se educa sendo deseducado. Não se disciplina sem estar


disciplinado.” (Amélia Rodrigues, no Livro “Sementeira da Fraternidade”,
psicografia de Divaldo P. Franco.)

Cresce no meio jovem o consumo de bebidas alcoólicas.


Bares, restaurantes, lanchonetes, clubes sociais e avenidas estão
repletos de jovens que, displicentemente, fazem uso, em larga escala e
abertamente, das bebidas deletérias e nocivas que não só desfiguram e
arrasam o corpo, como também agridem e violentam o caráter.
Contra outros tipos de tóxicos levanta a sociedade, mesmo que
palidamente, no combate, nem sempre eficaz, mas o álcool, esse “veneno
livre”, campeia à solta, e quase sempre apoiado por grandes e bem
produzidas campanhas de mídia e aceito com naturalidade por nós.
Tomar um “gole” ainda hoje, em pleno século XXI, quando o homem já
foi à lua, passeou com um robô de controle remoto em Marte e avança
esplendidamente em todos os setores da ciência, inclusive em
conhecimentos de medicina, é um ato de afirmação do jovem, como
sinônimo de que ele já começa a adentrar o sonhado mundo dos adultos.
Puro engano!
Pena que a sua visão de vida e os seus objetivos na existência, muito
acanhados, não lhe permitam identificar, também por falta de
conscientização que o adulto não lhe deu, o abismo em que está
mergulhando.
Uma organização infantojuvenil, em formação, sem dúvida, com
ingestão de álcool não poderá possuir a saúde que teria se evitasse o
consumo de tão corrosiva substância. Isso, evidentemente, sem citar os
estragos morais da personalidade.
Mas o problema é muito sério e de uma gravidade sem conta.
Temos, sim, necessidade de maior participação de nossas autoridades
constituídas, que muitas vezes laboram com grandes deficiências de
material humano e de equipamentos, ante a situação caótica em que vive
a sociedade.
Precisamos também que o comércio de bebidas alcoólicas não venda
essa “tragédia engarrafada ou enlatada” aos menores.
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No entanto, a solução só virá com a devida conscientização da família.
Não haverá outro meio e nem outros mecanismos que evitem a derrocada
da grande maioria dos nossos jovens.
Já foi dito que a criança ou o jovem imitam o adulto, isso significa
dizer que se o jovem está utilizando o álcool é porque viu o adulto fazê-lo.
E o que é mais grave: esses jovens, em grande escala, consomem
bebidas junto com seus pais ou responsáveis, em clima de festa, de
euforia mesmo. Lamentável!
Indiscutivelmente, pais que consomem álcool não têm moral para
impedir que os filhos o façam. Não terão autoridade para dizer que faz mal
à saúde física e ao caráter, pois que são escravos do vício.
É triste, muito triste mesmo, identificar que muitos alcoólatras que
afirmam não sê-lo se escondem atrás das bebidas sociais, sim, aquelas
que se consomem nas rodas da sociedade. O alcoólatra não é somente
aquele que se estende numa sarjeta, mas é todo consumidor de álcool.
Dolorosa realidade a do alcoolismo juvenil; mais doloroso ainda é
constatar, sem qualquer equívoco, a omissão da família. Esses pais,
indiferentes e descuidados, estimulam ou se omitem hoje, para,
provavelmente, chorarem amanhã, quando dificilmente haverá tempo para
reparos.
Os nossos jovens precisam muito mais do que roupas da moda, carros
do ano, motos envenenadas, escolas de alto nível, médicos especializados.
Eles precisam de educação, que só virá por intermédio dos exemplos dos
adultos, especialmente dos adultos com quem convivem.
O jovem que se dá ao consumo de bebidas alcoólicas é, muito
frequentemente, vítima da omissão familiar.
Portanto, pouco vai adiantar a instituição de leis, normas, fiscalizações,
se entre as paredes do lar a indiferença continuar.
Alcoolismo juvenil: a família precisa acordar.

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Jesus: “Eu venci o mundo”

“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis
aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jesus – João, 16:33.)

Vencer o mundo é bem diferente de vencer no mundo.


Sendo filhos de Deus, fomos criados na simplicidade e na ignorância,
tendo como objetivo e meta chegar à perfeição, isso, obviamente, fazendo
uso do livre-arbítrio e do esforço próprio, contando sempre com os
mecanismos de apoio e segurança oferecidos pelo Pai Celestial.
No âmbito do código divino não existem privilégios a ninguém, assim,
cada criatura humana colherá o fruto decorrente da semente plantada,
recebendo o reflexo de cada ação que praticar.
Diante disso não podemos ignorar a importância que precisamos dar
às prioridades que elegemos para a nossa vida, pois que, tendo a
perfeição como meta a ser alcançada, todo o roteiro da existência terrena
deverá manter em mira esse objetivo, uma vez que a paz que sonhamos e
a felicidade que buscamos nascerão do equilíbrio das nossas atitudes.
Portanto, nossas conquistas e vitórias neste mundo serão relevantes à
medida que nos assegurem prosperidade espiritual.
Quando Jesus afirmou que venceu o mundo, estava informando à
humanidade que a verdadeira batalha a ser ganha é aquela que travamos,
diariamente, contra as paixões inferiores e os arrastamentos de baixo nível
que ainda insistem em nos fazer infelizes.
Muitos vencem no mundo, obtendo poder, glória, fortuna, destaque,
fama, prestígio e tanto mais e perdem moralmente, pois que fazem uso
dos mais sórdidos métodos para alcançarem os postos que carregam em
mira. Não raras vezes triunfam sobre a dor e o sofrimento do próximo,
abrindo as portas para o retorno, contra si mesmos, das consequências
que decorrem dos atos nefastos que difundiram. No âmbito da
irresponsabilidade, alimentam o mal que, indubitavelmente, no futuro,
atingirá seus corações.
Ganham no mundo físico, mas fracassam espetacularmente nas
esferas espirituais. Ostentam troféus e estandartes terrenos para depois
aflitivamente gemerem nas paragens do Espírito.
Atualmente, ante tantas informações e esclarecimentos, não se pode
mais negar que somos Espíritos eternos, e que a presente existência
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terrena é apenas uma pequena etapa da nossa longa jornada evolutiva.
No entanto, infelizmente, ainda vemos criaturas fazendo uso de seus dias
como se fossem os últimos da sua vida total, se esforçando para extrair
deles todo tipo de prazer e toda satisfação possível, mesmo que para isso
tenham que ferir os mais comezinhos princípios da dignidade, nobreza e
honradez.
Obviamente, é um ledo e terrível engano acreditar que alguns fugidios
momentos de suposta felicidade aqui na Terra, conseguidos a qualquer
custo, poderão contribuir para que cheguemos à perfeição espiritual a que
estamos destinados pelas sábias e justas leis de Deus.
Não tenhamos qualquer dúvida: a nossa verdadeira e definitiva
felicidade nascerá da felicidade que plantarmos nos corações alheios. Foi
por isso que Jesus ensinou: “amai-vos uns aos outros” (João, 13:34)
Sem ilusões, não acreditemos que todas as vitórias obtidas no mundo
físico nos assegurem uma boa posição no mundo espiritual, mas sim
somente aquelas que tiveram como proposta a nossa melhoria interior.
Aquelas que nos ajudaram no combate ao orgulho e ao egoísmo, que
tantos males e prejuízos nos têm causado.
Os tempos são chegados, sim, são chegados para que tenhamos a
mais absoluta convicção de que os valores a serem conquistados são
aqueles que sustentam a nossa evolução como Espíritos eternos que
somos, mesmo que para isso, aparentemente, tenhamos que perder aqui
no mundo.
Assim, nos preocupemos, a exemplo de Jesus, em vencer o mundo, e,
não, a qualquer custo vencer no mundo.
Reflitamos.

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Refletindo sobre a criança

“Qual é, para o Espírito, a utilidade de passar pela infância?


– Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível,
durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu
adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da
sua educação.” (Questão 383, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Trazendo na bagagem um mundo de sonhos e de esperanças, em


grande quantidade partem os Espíritos do mundo espiritual para novos
programas reencarnatórios, tendo em mente a concretização de propostas
de redenção de um passado de equívocos e de ilusões e o exercício de
novas e oportunas experiências, visando ao progresso e à prosperidade,
rumo à perfeição a que todos estão destinados, conforme deliberações da
Providência Divina.
Aportando ao mundo físico, esses filhos de Deus se aconchegam aos
braços paternos, na condição de crianças tenras e indefesas, ficando à
mercê dos cuidados que lhes dispensarão os adultos.
Com frequência afirmamos que a criança é o futuro. Quanto a essa
constatação não paira nenhuma dúvida, apenas precisamos refletir
madura e responsavelmente como estamos agindo com ela no presente,
pois que necessita de referências dignas para que se torne homem de
bem.
Ouvimos dizer que nesses pequenos seres estão depositadas as
esperanças de um mundo de serenidade e paz. Precisamos, então, com
determinação e coragem, exemplificar a eles comportamentos de
harmonia e fraternidade na convivência social.
Acreditamos que as crianças que nascem diariamente carregam no
íntimo a promessa do bem e da solidariedade. Assim, não podemos
permitir que sejam contaminadas pelo mal, e, dentro das nossas
possibilidades, devemos empreender todos os esforços, visando combater
o orgulho e o egoísmo que, porventura, se apresentem em seus tenros
corações.
A ingenuidade e a meiguice das crianças expressam a luminosidade da
candura e da alegria e, para que possam clarear os caminhos da

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humanidade, necessitam que não as abandonemos às trevas da
ignorância, da indiferença e do descaso.
Obviamente, no presente, necessitam de alimentação condizente,
roupas, brinquedos, remédios e outros, mas, para que se realizem
devidamente no futuro, não prescindem de educação eficaz, com base
fundamentada na formação do caráter.
Evidentemente, esses pequenos viajores se postam diante dos adultos
de mãos estendidas suplicando por cuidados, respeito, amor, carinho,
atenção e, principalmente, demonstrações de atitudes e comportamentos
revestidos de moralidade, ética e decência. De posse de tais
exemplificações, contarão com os recursos e mecanismos capazes de lhes
assegurarem perspectivas de equilíbrio e honradez.
Mas se identificarem nos pais ou responsáveis as diretrizes da
desonestidade, da cupidez, da irresponsabilidade, das viciações e do
desrespeito, não tenhamos dúvidas de que conhecerão, com muita
rapidez, os caminhos que os conduzirão à falência moral.
Não nos iludamos. Se pretendemos a construção de um mundo
melhor, de uma sociedade mais digna, justa e humana, não privemos
nossas crianças dos reais e imprescindíveis valores da vida.
Não basta dizer e esperar que os nossos filhos sejam o futuro,
permanecendo de braços cruzados. Imprescindível se torna que os
habilitemos, devidamente, para que possam viver em paz nos dias do
porvir. Vamos educá-los hoje para que não choremos amanhã.
Pensemos nisso...

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A determinação de recomeçar

“Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...” (Lucas, 15:18)


Quando o filho pródigo, descrito na parábola por Jesus, deliberou
retornar aos braços paternos, após ter recebido sua herança e a
desperdiçado em futilidades e ilusões, criou para nossa reflexão um dos
mais significativos símbolos de arrependimento, coragem, determinação e
maturidade.
Reconhecendo seus equívocos, não vacilou em recomeçar, aceitando a
condição de empregado da propriedade do pai, pois tinha consciência de
que não merecia ser tratado mais como um filho, embora não esperasse a
reação fraterna do genitor que, ao avistá-lo, o acolheu num abraço
carinhoso e meigo.
De nossa parte, inúmeras vezes também deliberamos seguir caminhos
contrários àqueles que nos asseguram avanço moral, prosperidade
intelectual e crescimento espiritual, criando a urgente necessidade de
decidir por novos rumos e outras direções sustentadas pela esteira dos
valores da dignidade, da honra e da honestidade.
Se preciso, ergamo-nos da inércia, da apatia e do desânimo e,
fortalecidos pela fé, deixemos a rede macia do comodismo em esperar que
a vida nos dê tudo de forma gratuita e busquemos conquistar virtudes,
empreendendo esforços para a extinção dos defeitos que ainda nos
mantêm na condição de inferioridade e sofrimento.
Se a tristeza insistir em povoar os nossos pensamentos e derramar
insatisfações em nossa vida, levantemos a confiança em Deus e tenhamos
a certeza inconteste de que o Pai Celestial, amoroso e bom, justo e
perfeito, em circunstância alguma deixará de atender às nossas
necessidades.
Se a moléstia insidiosa continuar a nos manter no leito de dor, embora
todos os esforços de médicos, hospitais e remédios, levantemos a
esperança nos dias do porvir, nos recursos que a tecnologia vem
desenvolvendo, pois o amanhã poderá surgir com novas cores e
propostas.
Se familiares queridos deixaram o nosso convívio pelos mecanismos da
desencarnação, renascendo para a vida espiritual, abrindo enorme lacuna
em nossos corações, que se repletam de saudades, levantemos a certeza

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na imortalidade e prossigamos convictos de que um dia, no futuro, em
outras dimensões vibratórias, novamente estaremos com eles.
Se o abandono e a solidão estiverem nos acompanhando com
frequência, escurecendo os nossos momentos e amargurando a nossa
vida, levantemos a vontade de refletir e meditar, pois às vezes, diante do
nosso comportamento e atitudes, quem sabe estaremos impedindo a
aproximação das pessoas ao nosso redor.
Se os recursos financeiros e materiais se escassearam, criando
dificuldades e embaraços para que possamos honrar nossos
compromissos, levantemos a força e a perseverança e saiamos a trabalhar
ainda mais, na confiança de que o labor nos conduzirá a novas
perspectivas.
Se os filhos que chegaram ao nosso lar – para os quais nos
empenhamos ao máximo visando educá-los e mostrando-lhes os caminhos
da decência e da dignidade – resolveram não atender aos nossos
insistentes apelos de moralidade, levantemos a paciência e esperemos
pelas sábias lições da vida, que farão, certamente, aquilo que não
conseguimos fazer agora.
O filho pródigo, depois de perceber o equívoco cometido, diante do
sofrimento decorrente da escassez de recursos financeiros por ter gasto a
herança recebida de forma inútil, inconsequente e irresponsável, caindo no
arrependimento, teve forças para levantar, sacudir a poeira e voltar ao lar
paterno, nem que fosse na condição de um empregado do pai, para
recomeçar a vida.
Em oportunidades inúmeras, também nós, ao percebermos os erros e
os enganos deliberados, temos absoluta necessidade de levantar a nossa
vida e buscar o apoio de Deus para recomeçar, e, por certo, Ele também
abrirá seus braços para nos acolher num abraço...
Reflitamos...

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O ideal sem a ação é proposta ineficaz

“... o ideal mais nobre, sem trabalho que o materialize, a benefício de


todos, será sempre uma soberba paisagem improdutiva”. (Emmanuel, no livro
“Fonte Viva”, item 39, psicografia de Francisco C. Xavier.)

Nunca lograremos sucesso em qualquer empreitada se não soubermos


combinar nosso ideal com o indispensável esforço na concretização da
proposta, em realidade palpável.
Não basta apenas idealizar, indispensável a ação determinada e
perseverante na materialização dos nossos sonhos.
A semente é o projeto da árvore, mas, se não for colocada numa cova,
regada e adubada convenientemente, não produzirá os frutos sadios que
desejamos.
A criança que a providência divina coloca em nossos braços, se não
receber os recursos indispensáveis do carinho e da educação,
provavelmente terá imensas dificuldades em se transformar num homem
de bem.
O edifício confortável e seguro, imaginado detalhadamente pelo
engenheiro, nunca sairá do chão rumo ao céu sem a participação efetiva
de pedreiros, serventes, encanadores, eletricistas e pintores.
Assim, também, a nossa vida. Se realmente desejamos ascensão e
prosperidade espiritual, precisamos fazer a movimentação dos recursos
que Deus, nosso Pai de eterna bondade e sabedoria extrema, nos
disponibiliza, e que pululam em quantidade incomensurável ao nosso
redor.
Animados e conscientes, dentro desse contexto, a fé e a convicção
formarão a base sólida para as nossas ações, buscando a transformação
dos ideais que carregamos em realizações concretas e acabadas,
produzindo os resultados desejados.
Esperemos, sim, da providência divina, o amparo e o socorro de que
temos necessidade, sem olvidar a parte que nos compete realizar. Mentes
e braços precisam atuar juntos na pavimentação dos nossos sonhos e
ideais, sustentados pelas sábias e indispensáveis leis do Criador.
Permanecendo omissos e descuidados, pelos longos caminhos da vida,
com certeza poderemos aguardar, para os dias do futuro, a colheita de

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sofrimentos e infortúnios, obviamente sem direito a lamentar os revezes
nefastos que povoarão os nossos dias com aflições e amarguras.
Não se tem notícias de que alguém tenha colhido uma safra, com
honestidade e honradez, decorrente de uma lavoura que não foi plantada.
Dentro do universo, toda criatura está sob os cuidados de outras
criaturas, a não ser que não queira e, então, por si mesma, deliberará
seguir seu rumo na contramão da lógica e da razão, carregando consigo a
responsabilidade pelos atos e atitudes que produzirão os respectivos
reflexos em momento oportuno.
Sonhar é preciso, alimentar ideais é indispensável, fazer projetos é
prática louvável. Materializá-los, no tempo, com determinação,
perseverança e coragem, será decisão sábia e oportuna, se é que
realmente já vislumbramos e tomamos consciência dos caminhos que nos
conduzirão à paz e à felicidade.
Reflitamos...

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O reflexo das emoções no corpo físico

“Vives sitiado pela dor, pela aflição, pela sombra ou pela enfermidade?
Renova o teu modo de sentir, pelos padrões do Evangelho, e enxergarás o
Propósito Divino da Vida, atuando em todos os lugares, com justiça e
misericórdia, sabedoria e entendimento.” (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”,
item 67, psicografia de Francisco C. Xavier.)

Na condição de criaturas humanas, sendo racionais, pensamos,


agimos, reagimos e temos sentimentos que geram emoções, e estas
refletem diretamente em nosso corpo físico.
Emoções saudáveis decorrentes de alegria, otimismo, resignação e
compreensão das reais finalidades da vida nos promovem bem-estar. Já
aquelas que nascem de tristeza, pessimismo, lamentação e inconformismo
têm o potencial de nos causar danos e desequilíbrios, gerando desconforto
e sofrimento.
Muitas doenças que assolam a nossa constituição orgânica têm como
base forte os desajustes emocionais que cultivamos ao longo do tempo. E
tais patologias nem sempre conseguem ser contornadas somente com o
uso de medicação, embora os fármacos possam contribuir sobremaneira
para o alívio desses padecimentos.
A maneira de encarar os desafios da vida precisa ser meticulosamente
analisada, buscando a compreensão e o entendimento dos reais objetivos
da nossa existência aqui na Terra, partindo do entendimento claro de que
possuímos duas naturezas; a física e a espiritual.
Em realidade somos Espíritos criados por Deus para viver eternamente,
em sucessivos processos reencarnatórios, buscando a perfeição que nos
proporcionará a paz e a felicidade que tanto ansiamos e que ainda não
logramos encontrar. Possuímos, no momento, um corpo físico, mas
existíamos antes dele e seguiremos vivendo após o seu término, portanto,
não podemos pautar nossas ações, atitudes e comportamentos como se a
nossa vida apenas cumprisse um pequeno roteiro do berço ao túmulo.
Indispensável, portanto, se torna a valorização dos nossos sentimentos
e emoções, se realmente desejamos usufruir o conforto de dias mais
serenos e tranquilos. Erradicar, definitivamente, o orgulho e o egoísmo
que residem em nosso coração é tarefa inadiável e urgente, pois que
essas terríveis chagas ostentam o nascedouro de tantas outras mazelas.
20
Ódio, mágoa, ressentimento, melindre, ciúme, avareza e tantos outros
defeitos que ainda alimentamos com os nossos desequilíbrios emocionais
carregam, de forma invisível, um enorme potencial destruidor, com a
capacidade extraordinária de arruinar a nossa saúde, nos conduzindo a
experimentar o fel do sofrimento.
No entanto, o remédio para esses incômodos que tanto nos
atormentam está facilmente ao alcance das nossas mãos, disponível a
qualquer criatura há mais de dois mil anos: as sábias e imorredouras lições
de Jesus Cristo, contidas em seu Evangelho, tão populares, mas pouco
entendidas e praticadas.
Em momento algum podemos descartar o valor da medicina que veio
em nosso auxílio, mas ignorar os ensinamentos do Cristo, diante da
clareza e atualidade que carregam, será sem dúvida menosprezar,
descuidadamente, um manancial infinito de bênçãos que está à disposição
de quem dele quiser fazer uso.
A diminuta compreensão e o uso das advertências cristãs permitiram a
construção, atualmente, de uma sociedade angustiada, deprimida,
pessimista e detentora de poucas esperanças e perspectivas de melhoria.
No entanto, se nos aprofundarmos no exercício prático do roteiro cristão,
em breve transformaremos o mundo que nos acolhe.
O remédio pode curar uma doença já instalada, mas a vivência
evangélica será capaz de prevenir uma patologia, ao ensinar, de forma
coerente e equilibrada, como uma criatura deverá administrar as suas
emoções.
A humanidade já perdeu tempo demais, sofreu muito, vem andando na
contramão da lógica. Até quando? Será que ainda não temos “olhos de ver
e ouvidos de ouvir”?
Reflitamos...

21
8

Ninguém está desamparado

“O que é Deus? – Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas


as coisas.” (Questão nº. 1 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Deus, sendo a inteligência suprema e causa primária de todas as


coisas, é a força máxima – revestida de perfeição e sabedoria – que
instituiu as leis universais contidas no código divino, garantindo a todas as
criaturas as mesmas condições e oportunidades de progresso e
prosperidade espiritual, sem permitir qualquer privilégio ou favorecimento
a quem quer que seja.
No contexto dessas sábias leis reina a mais absoluta justiça, cabendo a
cada ser humano, observando o seu livre-arbítrio, escolher caminhos e
decidir por qual direção deseja seguir, obviamente, sem olvidar que cada
ação refletirá uma reação e que não há causa que não acarrete algum
efeito.
Paulo de Tarso, o grande propagador da Boa Nova, afirmou
peremptório: “cada um colherá aquilo que tiver semeado” (Gálatas 6,7).
Assim, não será difícil compreender que, ao longo do tempo, usufruindo
da liberdade de agir, fizemos a nossa semeadura mediante as ações,
atitudes e procedimentos que deliberamos realizar, fator este que
desencadeou os reflexos que vivemos no momento.
Dores e sofrimentos ou alegria e serenidade são efeitos de causas que
dormem em procedimentos anteriores. Em realidade, dentro da justiça
divina somos o que somos e temos o que temos devido às escolhas que
livremente fizemos. Isso, obviamente, não deixa qualquer dúvida de que
ninguém é culpado pelos nossos deslizes, como também temos a autoria e
o mérito das boas colheitas.
Em qualquer situação a Providência Divina sempre nos envolve,
advertindo quando rumamos para os equívocos, fantasias e ilusões, e
incentivando quando nos direcionamos para a aquisição de valores nobres
e edificantes, mas a decisão de aceitar ou não o socorro e a proteção de
Deus é totalmente nossa.
Compreendendo esse justo e coerente mecanismo divino, teremos
plenas condições de pautar a nossa vida, hoje, na execução de uma
semeadura consciente, responsável, com base na dignidade, ética,
honradez e honestidade. Na verdade, se não podemos modificar o
22
passado que nos rendeu os momentos amargos e decepcionantes de
agora, temos a mais absoluta liberdade de modificar o presente,
realizando uma conduta condizente com os princípios da decência e da
moralidade, projetando um futuro promissor, conforme desejamos e
sonhamos realizar.
Diante dessa lógica assertiva, evitemos procurar culpados para as
nossas mazelas, pois que assim agindo perdemos tempo em desculpas e
fugas, depositando em ombros alheios o peso que precisamos carregar,
em decorrência das nossas próprias deliberações. Tivemos oportunidade
de escolher, de decidir. Se o fizemos de forma equivocada e contrária às
valiosas lições do Cristo, que há mais de dois mil anos estão disponíveis,
nada mais justo e coerente que respondamos pelos desatinos perpetrados.
Na condição de Espíritos eternos, criados por Deus na simplicidade e
na ignorância, com destino à perfeição, estamos chegando do ontem,
vivendo o hoje e projetando o amanhã, com a mesma liberdade de
sempre. Tudo continua em nossas mãos.
Só não somos melhores porque não quisemos ser. Possibilidades,
mecanismos e recursos nunca nos faltaram. O que realmente faltou foi a
nossa boa vontade e a disposição em trilhar por veredas de maturidade e
equilíbrio. Mas, hoje, mais conscientes dos verdadeiros e definitivos
valores da vida, querendo, poderemos modificar essa realidade.
Façamos isso, destemidamente...

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9

Se quisermos um mundo melhor...

“Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de


todos.” (Jesus – Marcos, 9:35)

Dentro do contexto das nossas expectativas, desejamos sempre um


mundo melhor, onde nossos sonhos saiam do plano das ideias para a
realização plena. Seria a vida de plenitudes, alegrias, felicidade e paz.
Mas a conquista dessa aspiração tão almejada só se concretizará
mediante o empenho, a participação e o esforço coletivo.
Portanto, se realmente queremos um mundo melhor, amemos a nossa
família, com toda a nossa força e intensidade, renúncia e dedicação,
estruturando-a nos moldes da decência, dignidade, ética e
responsabilidade.
Se realmente quisermos um mundo melhor, trabalhemos arduamente,
no meio social em que nos situamos, defendendo os valores morais e
difundindo exemplos de honradez e fiel cumprimento dos nossos deveres.
Se quisermos um mundo melhor, desenvolvamos ações em favor da
velhice solitária e abandonada, oferecendo aos irmãos idosos um pouco de
carinho e atenção para que finalizem seus dias na Terra com mais respeito
e alívio.
Se quisermos um mundo melhor, no âmbito das nossas relações
sociais, façamos uso da compreensão e da tolerância, não olvidando que a
educação precisa ser a base das nossas ações.
Se quisermos um mundo melhor, não desperdicemos as várias
oportunidades de trabalho que surgem no nosso quotidiano e saiamos a
cooperar, de algum modo, em benefício da serenidade geral, dardejando
gestos de bondade e altruísmo.
Se quisermos um mundo melhor, observemos a quantidade de jovens,
adolescentes e crianças que seguem pelas vielas da vida em experiências
de aflição e sofrimento, conhecendo todo tipo de carência: a material, a
moral, a afetiva, e descruzemos os nossos braços em atividades de
socorro e esperança.
Se quisermos um mundo melhor, estudemos mais, para que melhor
preparados contribuamos para o avanço da tecnologia, buscando conhecer
novas formas e meios de facilitar a vida humana.

24
Se quisermos um mundo melhor, não meçamos esforços para adquirir
medicamentos, mesmo em campanhas, para aliviar as dores e os
padecimentos que torturam tantas criaturas sem recursos financeiros, que
passam seus dias em leitos de angústias e desconforto.
Se quisermos um mundo melhor, cuidemos com zelo e consciência do
nosso corpo físico, para que tenhamos mais horas com possibilidades de
trabalho e menos tempo para a inércia decorrente de enfermidades e
desajustes.
Se quisermos um mundo melhor, entendamos que os recursos
financeiros e econômicos circulantes no mundo não existem para atender
aos nossos caprichos pessoais e sim para movimentar o universo das
oportunidades para todos. Guardar fortuna em cofres ou em faustosas
contas bancárias é prender o progresso e amontoar aflições para nós
mesmos.
Se quisermos um mundo melhor, onde estivermos, com quem
estivermos e em que condições estivermos, elejamos o bem como
prioridade em nossas vidas e cheguemos ao sacrifício se necessário for,
para amar, indistintamente, aqueles que caminham conosco pelas estradas
da existência.
Se quisermos um mundo melhor, estudemos com afinco e persistência
o Evangelho de Jesus, vivenciando na prática cada lição do Cristo,
formando o lastro forte da solidariedade entre os homens.
Assim, não esperemos pelas ações e iniciativas dos outros, façamos a
nossa parte sem cobrar nada de ninguém. Devemos prestar contas à
nossa consciência e pouco nos importarmos com o que os outros pensem,
procurando, sim, ser agradáveis a Deus, que sempre tem opiniões
diferentes das dos homens.
Reflitamos...

25
10

Juventude não é sinônimo de libertinagem

“Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e
terás um tesouro no céu. Então vem e segue-me.” (Mateus, 19:21)

Jesus dialogava com um jovem rico, dono de inúmeras propriedades,


que O buscara dizendo guardar os mandamentos da lei e, por isso, tinha
direito ao reino de DEUS. Então, o Cristo lhe respondeu: “se queres ser
perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro
no céu. Então vem e segue-me” (Mateus, 19:21). Conforme as palavras do
Mestre, só lhe faltava isso para que o jovem atingisse a perfeição.
No entanto, cabisbaixo, o jovem deixou o local, pois para ele seria
muito difícil desprender-se de tudo o que tinha, ainda mais tendo a
juventude pela frente, para seguir a Jesus. Preferiu, então, continuar sua
vida sem alterações significativas.
Obviamente, nenhum jovem sacrificará seus anos primaveris numa
renúncia absoluta a tudo que o cerca. Nem Jesus desejaria isto. Precisará
ele viver os tempos da juventude, desfrutar desse momento alegre, pouco
compromissado, desabrochar seus sentimentos, cantar, brincar, festejar...
Mas, em momento algum, por ser jovem, poderá se dar ao descuido de
destruir sua vida em comportamentos levianos e irresponsáveis.
Desenvolve, em nosso meio social, a cultura de uma juventude
libertina, indiferente, e com poucas preocupações para com os reais e
necessários valores morais da vida.
Diante disso estamos assistindo a uma avalanche de tragédias de
todos os tipos e matizes, onde jovens despreparados, muitas vezes não
educados devido aos descasos familiares, estão se atirando em abismos
profundos, sem volta, ou com chances mínimas de redenção.
Espíritos endividados do passado solicitaram novas oportunidades
reencarnatórias e, chegando à Terra, palco das lutas e das experiências,
onde deveriam colher os louros da vitória, novamente atolam seus ideais e
sonhos no lamaçal das inconsequências, para chorar mais tarde, sem
dúvida, amargando novos remorsos e arrependimentos.
Para desfrutar, prazerosamente, esse belo e expressivo momento das
suas vidas é preciso cautela e discernimento, “pois que tudo me é licito,
mas nem tudo me convém”, já ensinava Paulo de Tarso, há muito tempo.

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O jovem pode fazer uso de bebidas alcoólicas? Aprofundar-se em
tóxicos ainda mais pesados e deletérios? Colocar asas em suas
motocicletas? Impulsionar o veículo como um bólido? Usar e abusar do
sexo? Cultivar a violência e a agressividade? Desrespeitar os mais velhos?
Perturbar o sossego público? Isso convém?
Na vida, existem situações que podem ser contornadas sem maiores
agravantes. Um pequeno ferimento pode ser curado; uma leve batida
com o carro, o funileiro resolve; um corte de cabelo equivocado pode ser
reparado; quando se perde um ano escolar, logo vem o outro. Mas
acontecimentos existem que não têm como resolver. A gravidez não tem
volta. Se recorrer ao aborto, comete crime de graves proporções, que
exigirá reparações dolorosas. As viciações tóxicas arrebentam o físico e o
caráter da criatura. O excesso de velocidade mata muitos jovens. E assim
por diante.
A exemplo do jovem que procurou Jesus para usufruir de uma vida
mais digna e promissora, e não aceitou os conselhos e as orientações do
Mestre, muitos moços e moças de hoje fazem o mesmo percurso, ante as
lições e os avisos sérios e esclarecedores. Preferem seguir pela vida
trilhando por vielas sombrias e desastrosas.
Vivem raros momentos de prazer e suposta felicidade na idade
primaveril, para depois amargar o resto da existência no âmbito da dor, do
sofrimento e das desilusões.
Juventude não é sinônimo de libertinagem, mas sim de muita
responsabilidade.
Pensemos nisso, enquanto há tempo...

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11

Henrique e o Dia dos Pais

“Pode-se considerar a paternidade uma missão? – É, sem contradita, uma


missão; é ao mesmo tempo um dever muito grande e que obriga, mais do
que o homem pensa, sua responsabilidade pelo futuro...” (O Livro dos
Espíritos – perg. 582 – Allan Kardec.)

A jovem voluntária, aos sábados à tarde, ministrava aulas de


evangelização a crianças menores de dez anos, em bairro da periferia da
cidade.
Falando de Jesus e do Evangelho aos meninos, a “professorinha”, com
boa vontade e idealismo, procurava incutir na mente deles um pouco de
religiosidade, para que no futuro pudessem reunir elementos nobres e
sublimes que viessem fazer frente aos chamamentos inferiores do mundo.
Pretendia ela destacar e perpetuar, naquelas vidas iniciantes, os
sentimentos bons, objetivando criar condições para a felicidade e a paz.
Havia perseverança no ideal, pois as aulas semanalmente eram
oferecidas àqueles rebentos que recebiam, com sofreguidão, o alimento
espiritual, tão necessário à alma como a nutrição material é indispensável
ao corpo.
Naquele sábado, as lições focalizariam a família. Cartazes eram
expostos, dizeres em letras gigantes falavam do assunto e a jovem
dedicada, com entusiasmo, discorria sobre a paternidade.
No dia seguinte (no domingo), seria comemorado o “Dia dos Pais” e a
menina instrutora solicitou aos garotos, depois de distribuir papel e lápis
de várias cores, que desenhassem qualquer coisa relativa ao papai, pois
que estavam na véspera do dia dedicado aos genitores.
E as crianças se debruçaram sobre o material oferecido, ávidas para
mostrar à “Tia” o que podiam desenhar, pois cada uma delas acreditava
ter condições de fazer traços mais bonitos sobre o seu pai.
Os “pequenos” foram rabiscando o papel, as cores foram aparecendo.
Os mais diferentes desenhos tomaram forma e todos eles, segundo os
“artistas”, tinham tudo a ver com o papai.
Henrique, um garotinho irrequieto, num canto da classe continuava
desenhando, cabisbaixo e silencioso. Parecia estar compondo uma obra de
28
arte. Mais alguns minutos e eis que ele se apresenta mostrando o seu
trabalho. No papel, um quadrado, dentro dele os traços de um homem,
cercado por uma enorme grade.
“- Henrique, que desenho é esse?
- Tia, você não pediu para desenhar meu pai, porque amanhã é o dia
dele?
- Sim, mas não estou entendendo o que você fez!
- Esse quadrado é a cela, e a grade é a janela da cadeia onde meu pai
está preso. Sabe, Tia, ele roubou. Na outra cela, que desenhei, está o meu
irmão, que roubou também...”

Os olhos da “professorinha” se encheram de lágrimas e ela não pôde


fazer outra coisa senão abraçar Henrique, apertando-o contra o peito, sem
dizer uma única palavra.
Henrique não pôde abraçar o seu pai no “Dia dos Pais”, pois ele estava
ausente, devido ao crime cometido. E nós... nós estamos presentes para
receber os abraços dos nossos filhos? Ou será que também nos
ausentamos na desonestidade, na velhacaria, na indignidade, nos tóxicos,
na infidelidade conjugal, na preguiça... Comprometer a paz social também
é crime.
O adulto é o espelho da criança. Os pais são o modelo dos filhos.
Que tipo de modelo estamos sendo para os nossos “pequenos”?

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Ninguém é culpado pela nossa dor

“Segundo o modo de ver terreno, a máxima „Buscai e achareis‟ é


semelhante a esta outra „Ajuda-te e o céu de ajudará‟.” (O Evangelho
segundo o Espiritismo, Capítulo XXV, item 02 – Allan Kardec.)

Na Terra, via de regra, o homem lamenta os ferimentos que o


atormentam, e se equivoca ao atribuir suas dores por conta da culpa
alheia.
Dentro da justiça divina, ninguém paga o que não deve. Se temos
motivos para sofrer, se temos razões íntimas que nos fazem verter
lágrimas, isso, obviamente, não tem origem na conduta daqueles que
seguem conosco pelas estradas da vida.
Sendo herdeiros de nós mesmos, logramos experimentar hoje o reflexo
do que fizemos e fomos ao longo do tempo, por intermédio das sucessivas
reencarnações. Dizer o contrário seria imputar ao próximo uma culpa
indevida, enquanto estaríamos afirmando que Deus é injusto, pois que
suas leis possibilitariam um padecimento que não nos é devido.
Não, as leis naturais são sumamente justas e de amor. Nós é que
ainda não aprendemos a conhecer os mecanismos do Código Divino, cheio
de lógica e razão.
Portanto, ao invés de prosseguirmos na lamentação, procuremos usar
a mesma força para observar o acerto da vida em nos proporcionar as
mais variadas oportunidades de aprimoramento interior, na superação dos
nossos limites.
Acomodar no pensamento a ideia de que sofremos muito e que a
nossa felicidade depende da ação daqueles que vivem conosco é,
incontestavelmente, um grande erro. Sofremos apenas o que merecemos
e seremos felizes na proporção do entendimento das Leis de Deus, que
afirmam a cada instante ser imprescindível fazer aos outros aquilo que
desejamos para nós mesmos.
Na expressão “ajuda-te e o céu te ajudará”, está o manual norteador
dos nossos passos, pois que informa a necessidade de movimentarmos as
próprias forças na solução dos problemas que nos afligem.
Na verdade, não precisamos dos outros para ganhar a felicidade,
mesmo que de forma relativa, mas, sim, da paz de consciência que nos
assegure estarmos vivendo dentro dos preceitos apontados pelo
30
Evangelho de Jesus, especialmente no “amai-vos uns aos outros como eu
vos amei”. (Jesus – João, 15:12)
Ante nossas dificuldades e nossas angústias evitemos procurar
culpados, no tentame de transferir ao próximo os desequilíbrios que
moram em nosso âmago.
Em realidade, nos apresentamos hoje, nesta encarnação, trazendo
conosco o aprendizado e a evolução espiritual adquirida ao longo dos
séculos. Se não somos melhores e não conseguimos viver bem é porque
ainda não foi possível ter uma conduta mais afinizada com as sábias lições
do Cristo.
Saiamos com firmeza e determinação, buscando a paz e a felicidade, e
as acharemos. Ajudemo-nos com coragem e o “céu”, representado pelos
Espíritos Benfeitores, nos ajudará, nessa empreitada.
Confiemos.

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Mesmo no suicídio não morremos

“O homem tem o direito de dispor da própria vida?


- Não, só Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão
dessa lei.
O suicídio não é sempre voluntário?
- O louco que se mata não sabe o que faz.” (Perguntas 944 e 944 “a” de
“O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec.)

Podemos afirmar categoricamente que a morte não existe. Morre o


corpo, a matéria, o envoltório físico, jamais o Espírito. Assim, mesmo
cometendo suicídio, aniquilando a nossa vida orgânica, continuamos a
viver.
Essa realidade é, sem sombra de dúvida, mais uma decepção para a
criatura que tenta fugir dos seus problemas. Pelas portas enganosas e
equivocadas do suicídio, acredita o ser humano estar dando fim aos seus
dramas, mas em verdade está criando outros, de graves e imprevisíveis
proporções.
Em qualquer circunstância, ante os maiores obstáculos da nossa vida,
matar o corpo é uma hipótese que jamais deve ser ventilada, mesmo por
brincadeira ou invigilância, pois existe uma infinidade de Espíritos, também
em quadros atormentados, atuando em sintonia conosco para que
prossigamos com a absurda ideia de morrer.
Quem acredita que acabando com o corpo por meio do suicídio tem
seus sofrimentos findados, não imagina, nem de longe, o verdadeiro
sofrimento que está criando para si mesmo.
Se de alguma forma nos sentirmos feridos, desiludidos, decepcionados,
infelizes ante os acontecimentos que nos cercam, antes de pensar em
morrer, utilizemos a mesma força, mas de maneira inversa, e saiamos a
eliminar o egoísmo fixado em nossos corações.
Procuremos matar a vaidade que agride a nossa personalidade a nos
conduzir pelos caminhos do melindre, que tantos males tem causado aos
homens.
Atuemos com determinação para matar a violência e a revolta que
carregamos no íntimo, a nos ofertar oportunidades para os desequilíbrios e
insatisfações.

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Trabalhemos para matar a preguiça que anestesia as nossas forças e
nos faz criaturas acomodadas e inertes, vivendo a teoria dos “braços
cruzados e mentes vazias”.
Esforcemo-nos para matar a fofoca e a maledicência que tantos
transtornos oferecem ao nosso convívio social.
Criemos coragem e matemos o desânimo que nos fere e maltrata,
fazendo-nos homens apáticos e indiferentes para com as belezas da vida.
Então, ao invés de trabalharmos os nossos pensamentos visando criar
formas de acabar com o nosso corpo, já que mesmo mortos para o mundo
continuamos vivos para a eternidade da vida, cuidemos de matar os
nossos defeitos e, em pouco tempo, o desejo de morrer será substituído
pela imensa vontade de viver, uma vez que a vida é uma dádiva de Deus,
e, sendo Ele o nosso Pai de eterna bondade, jamais iria nos brindar com
alguma coisa que não fosse útil e nobre.
Morrer nunca, viver sempre.

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14

As diversas formas da caridade

“Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos que
nos fosse feito.” (Jesus)

Comumente entendemos a caridade como sendo o gesto fraterno de


doar algum bem material ao necessitado. Tal procedimento de
solidariedade é, sim, também caridade, mas o conceito desta louvável
virtude é muito mais abrangente, alcançando horizontes inimagináveis.
Em verdade, trata-se de uma base sólida onde germinam os princípios
da paz e da felicidade, virtudes hospedeiras da harmonia, capazes de
edificar uma sociedade mais justa e um mundo mais sereno e humano.
Doar, nos moldes do equilíbrio, da ética e da generosidade, será
sempre uma atitude fomentadora do bem-estar e da alegria entre os
homens.
Fazemos caridade quando conseguimos conviver com familiares difíceis
e complicados, que nos causam problemas e aflições frequentemente, pois
que propiciam o desenvolvimento, em nosso íntimo, da resignação e da
tolerância.
Usamos da caridade quando insistimos, mesmo com dificuldades e
sacrifícios, na educação indispensável dos nossos filhos ou tutelados, uma
vez que damos condições para o aparecimento da perseverança e da
determinação.
Agimos com caridade quando trabalhamos arduamente e, mesmo
assim, não conseguimos uma vida confortável, experimentando carências
e escassez, pois que permitimos o nascimento da aceitação e da certeza
de que as leis de Deus não nos desamparam.
Promovemos a caridade quando criamos mecanismos e recursos para
auxiliar a infância, a adolescência e a juventude sem norte e com poucas
perspectivas sadias, uma vez que formamos os lastros para a mudança de
comportamentos e direcionamento ajustado das criaturas.
Utilizamos a caridade quando nossos atos, atitudes e ações colaboram
para a preservação do meio ambiente e a defesa do patrimônio original da
Terra, pois que, agindo assim, ajudamos a humanidade inteira, permitindo
que todos desfrutem da pureza e da abundância dos recursos naturais.
Atuamos com caridade quando exercemos cargos públicos sob o
prisma da responsabilidade, decência e honestidade, pois que formamos o
34
patamar da justiça social, impedindo o surgimento de apadrinhamentos,
privilégios e usurpação dos recursos financeiros da comunidade.
Desenvolvemos a caridade quando combatemos, acirradamente e com
coragem, os preconceitos de cor, raça, religião, preferência sexual,
postura social e outros, facilitando a convivência solidária e fraterna entre
os seres humanos, onde cada um viva de acordo com a sua liberdade de
escolha.
Cultivamos a caridade quando, com destemor e firmeza, enfrentamos
as injustiças sociais, a opressão dos poderosos, a escravidão imposta pelos
fortes sobre os indefesos, a influência nociva e perniciosa da imoralidade,
buscando sedimentar o terreno para a semeadura da paz.
Vivemos com caridade quando trabalhamos, ininterruptamente, para
fortalecer a ideia de que o mais importante da vida é a criatura humana,
esteja ela como e onde estiver, multiplicando os nossos talentos, visando
aplainar os caminhos condutores de esperanças e de alegrias, para o bem
geral.
Façamos, então, a caridade, a qualquer hora e em qualquer lugar, pois
que no contexto sábio da lei de causa e efeito, o bem que é feito em favor
da prosperidade humana retornará em nossa direção, sempre recheado e
mais forte pelas ações benéficas de outras criaturas, fazendo-nos também
beneficiários da mesma caridade praticada.
Sejamos, então, caridosos, e a luz vigorosa dessa imprescindível
virtude iluminará os dias do nosso futuro.
Reflitamos...

35
15

Melhorar a sociedade é tarefa nossa

"Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que
chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã
talvez não venha." (André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.)

Vivemos num mundo de expiações e de provas, onde o mal ainda


predomina. Expiações, pois que estamos colhendo, na atualidade, os
reflexos das ações infelizes impetradas ao longo dos quarenta mil anos
que fazemos uso da razão. Provas, porque vivemos, no presente, novas e
valiosas experiências, objetivando prosperidade espiritual.
Assim, não será difícil compreender a complexidade da vida na Terra.
Imperioso se torna a necessária e urgente conscientização dos nossos
reais objetivos por aqui, para que não continuemos nos perdendo pelos
labirintos enganosos das ilusões e das fantasias, como temos feito até
agora, onde, obviamente, reside o nascedouro das angústias e aflições
que torturam a nossa vida.
Nunca, em todos os tempos da humanidade, tivemos tantas
informações e esclarecimentos como nos dias presentes. Alegar ignorância
para justificar os nossos fracassos, por certo, não será uma alternativa
plausível, pois que as Leis de Deus estão inscritas em nossas consciências,
conforme nos esclarece a questão 621, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec.
Melhor será assumirmos a quota de responsabilidade que nos pertence
e nos lançarmos, com esforço, amadurecimento e determinação, na
concretização das metas e propostas que elaboramos, um dia, no mundo
espiritual, quando solicitamos o aval de amigos benfeitores, para
renascermos na Terra, exatamente junto daqueles a que estamos
atrelados pelas redes das afinidades e compromissos.
Voltando ao palco onde deverão acontecer as nossas realizações,
temos na família consanguínea, que nos acolheu, os primeiros e valiosos
compromissos de trabalho e vivência prática da compreensão e da
tolerância, bases para o desenvolvimento da fraternidade e do equilíbrio
emocional.
Posteriormente, no âmbito social a que nos vinculamos, precisamos
oferecer o nosso quinhão de ações, atitudes e comportamentos, visando à

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construção de um mundo melhor, onde a prioridade sobre tudo esteja
fixada no bem-estar das criaturas humanas.
Nada adiantará a riqueza material do mundo se os homens
continuarem pobres de amor, solidariedade e sensibilidade para as dores e
aflições daqueles que seguem por vielas sombrias e tristes.
O sofrimento do vizinho, seja ele quem for, de alguma forma
influenciará a paz da nossa casa. Ninguém conseguirá ser feliz no
egoísmo. Exemplos disso se destacam, aos montes, diante dos nossos
olhos. Quem ama serve, socorre e ajuda, carrega consigo a atmosfera da
serenidade. Aquele que pensa só em si transporta, no íntimo, o vulcão do
medo, da insegurança e da incerteza, criando no coração uma represa
pestilenta.
Na Terra, o mal ainda é maior que o bem. Isso é totalmente
identificável, mas, se quisermos, mudando a direção das nossas forças,
usando-as na mesma intensidade no roteiro do que é belo e nobre, em
breve, as flores e os frutos das nossas ações estarão embelezando a
superfície desse mundo de provas e expiações, impelindo-o para outras
escalas, rumo à perfeição a que todos estamos destinados.
Esse tempo de paz e de serenidade, que tanto desejamos, chegará
logo ou mais adiante, na proporção do nosso interesse em concretizá-lo,
mediante a conscientização do valor e da importância de se obedecer às
sábias Leis Divinas.
Reflitamos...

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A força contagiosa de uma iniciativa no bem

"Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?" – (Paulo, I


Coríntios, 5:6.)

Naquele sábado à tarde, as atividades assistenciais da instituição de


filantropia e promoção humana, erguida pela iniciativa de um grupo de
idealistas no bem, em um bairro carente da cidade, estavam chegando ao
seu final quando duas senhoras de semblantes sofridos se aproximaram
de um grupo de voluntários pedindo socorro, narrando a aflição que as
torturava naquela oportunidade.
Haviam chegado, recentemente, de um estado nordestino, com seus
maridos e mais dois irmãos, onde viviam em extrema pobreza e sem
quaisquer perspectivas de uma vida digna. Ambas deixaram lá seus filhos,
que desejam buscar tão logo consigam condições para isso.
Vieram procurar trabalho e melhores condições de vida. No entanto,
com os parcos recursos financeiros que tinham, pagaram a passagem de
ônibus, numa viagem que durou três dias e três noites. Na cidade, os seis
adultos se acomodaram em um único cômodo de dezesseis metros
quadrados, desprovido de qualquer mobiliário, pois que chegaram apenas
com a roupa do corpo e mais algumas peças pessoais. Comiam algum
alimento por caridade de outras famílias nordestinas que há mais tempo
estavam na cidade e já melhor acomodadas.
Dormiam no chão, sobre alguns lençóis usados e tudo de que
precisam, para aquele momento, eram colchões, roupas de cama, fogão e
uma cesta básica de alimentos.
No entanto, àquela altura, nada mais havia na instituição para ser
doado, uma vez que no atendimento de mais de duzentas pessoas,
naquele dia, tudo o que tinha já havia sido distribuído aos necessitados.
Apenas foi possível a destinação de um pouco de alimento e a promessa
de que, na semana vindoura, os voluntários fariam o possível para
amenizar as agruras daquele grupo recém-chegado.
Sem dúvida, o drama dos irmãos nordestinos comoveu a todos e,
encerradas as atividades, cada trabalhador daquela casa fraterna retornou
ao seu lar com a proposta de voltar no sábado seguinte.

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Mas um dos voluntários, refletindo sobre o sofrimento daquelas
criaturas dormindo no chão duro e frio, comendo o que ganhavam,
totalmente desconhecidas na cidade, e lembrando os semblantes das duas
mães que vertiam lágrimas abundantes quando se referiam aos filhos que
ficaram, não conseguia aquietar o seu pensamento e buscava,
insistentemente, um jeito de aliviar, pelo menos um pouco, as agruras e
as aflições daqueles necessitados, o mais rápido possível, pois entendia
que, para quem está sofrendo, o sábado seguinte demora muito para
chegar.
No dia seguinte, domingo, pela manhã, os companheiros solidários se
reuniriam para uma palestra doutrinária. Ali estava a chave para a solução
do problema, pensou. No final da preleção pediria a palavra e, perante a
plateia presente, relataria aquele drama, solicitando, posteriormente, a
colaboração imediata de quem se dispusesse a ajudar.
Assim fez, e para sua agradável surpresa, em menos de dez minutos já
tinha em mão uma relação contendo: um fogão, três colchões de solteiro,
dois de casal, uma cama de solteiro, uma cama de casal, uma geladeira e
uma infinidade de peças de roupa de cama.
Naquele mesmo instante, saiu eufórico e vibrante a coletar os objetos
e, daí a uma hora, mais ou menos, os irmãos nordestinos recebiam a
generosa doação, num clima de comoção e alegria.
Quando a entrega acabara de ser feita, entre os abraços fraternos que
a ação gerou, o telefone daquele voluntário sensível tocou e, do outro
lado, um jovem que tinha ouvido o apelo, e que naquele momento estava
reunido com um grupo de jovens que formavam a Mocidade daquela
instituição, informou que, comovidos com a situação exposta, eles também
se cotizaram e conseguiram um botijão de gás, uma cesta básica de
alimento e grande quantidade de roupas de cama. Queria o endereço para
fazer a entrega.

Por certo, o valor material das doações pouco importa, embora a


importância delas para os que precisam. Importa, sim, a sensibilidade, o
altruísmo, o verdadeiro amor, aquele de sentir no coração as dores e as
aflições que torturam os irmãos do caminho.
Se todos os voluntários daquela Instituição tivessem apenas registrado
o problema, obviamente o socorro só aconteceria na semana seguinte.
Isso se não caísse no esquecimento, ante as tribulações em que vivemos.

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Mas bastou que um deles agisse de forma diferente e o contágio se deu
no grupo todo.
Não podemos ignorar a força contagiosa de uma atitude solidária, o
poder de uma iniciativa no bem. Não temos condições de mensurar até
onde pode ir um gesto de amor.
Reflitamos...

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Ser feliz e viver em paz

“Quando plantares a alegria de viver nos corações que te cercam, em


breve as flores e os frutos de tua sementeira te enriquecerão o caminho.”
(Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Livro: Fonte Viva.)

Qualquer criatura, em sã consciência e plena lucidez de raciocínio,


desejará ser feliz e viver em paz, no entanto, até o momento, ainda não
logramos a realização dos nossos sonhos, pois que a direção e os rumos
tomados, no contexto da vida, não conseguiram nos garantir tais
realizações.
Assim, não fica difícil compreender que estamos andando na
contramão da lógica e da evidência da razão, onde nossas ações, atitudes
e comportamentos demonstraram ser insuficientes para nos
proporcionarem as conquistas almejadas. Em verdade, o que juntamos até
agora são lampejos de paz e de felicidade, enquanto dores, aflições e
sofrimentos podemos contar aos montes.
Afirma Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, peremptório, “cada um
colherá aquilo que tiver plantado” (Gálatas, 6:7). Diante dessa
insofismável assertiva, concluímos, sem muitos esforços, que será preciso
empreender alteração em nossa rota, após profundas reflexões e análises,
visando descobrir onde moram os nossos equívocos, e objetivando a
reprogramação da nossa existência, antes que seja tarde demais.
Não podemos olvidar que somos dotados de duas naturezas: a física e
a espiritual, e que ambas precisam estar em equilíbrio. Não basta sermos
saudáveis e fortes espiritualmente se contarmos com corpos debilitados.
Da mesma forma, pouco vai importar um corpo robusto animado por um
Espírito em desajuste. Um exímio violonista não conseguirá fazer boa
música utilizando um violão desafinado.
Cuidemos, sim, da vida física, conforme os padrões sociais em que
vivemos, jamais esquecendo os valores da ética, honestidade e honradez.
Zelemos também pelo Espírito, de acordo com as inesquecíveis lições de
Jesus Cristo. Somente agindo dessa forma, teremos a oportunidade de
desfrutar da paz que queremos e da felicidade que almejamos.
A vida sempre nos devolverá aquilo que a ela damos. Cada ação
praticada nos trará, como reflexo, uma reação da mesma natureza. As
emanações do bem que fazemos, seja ele a quem e aonde for, partirá de
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nós ganhando dimensões universais e, por afinidade, encontrará o bem
coletivo, se engrandecerá, retornando em nossa direção muito maior, e
nos proporcionando imensos benefícios. A mesma lei funciona para o mal,
que saindo da nossa intimidade procurará pelo mal maior e, fortalecido,
voltará para nos provocar enormes malefícios. A decisão do que fazer
sempre será nossa e a colheita das consequências será inevitável. Então,
promover o mal é uma atitude pouco inteligente, uma vez que nos impede
a vivência da paz e da felicidade.
Em realidade, para que a alegria e a festividade venham morar em
nossos corações será imprescindível que plantemos a alegria e a
festividade nos corações alheios. Ninguém conseguirá ser feliz sozinho.
Combatamos, com firmeza e determinação, o orgulho e o egoísmo,
essas terríveis chagas que assombram o seio das coletividades, e lancemo-
nos a cultivar a fraternidade e o altruísmo, esses sentimentos construtores
da harmonia entre os homens. Assim abriremos portas e criaremos
oportunidades para a chegada do alento e da esperança no mundo.
O sofrimento humano não é uma criação de Deus. Jesus afirmou:
“misericórdia quero, e não sacrifícios”. (Mateus, 9:13). A dor que o mundo
conhece com tanta intensidade decorre, obviamente, do comportamento
equivocado das criaturas que insistem em ignorar a clareza e a informação
contidas nas leis divinas.
Portanto, conhecer e praticar as oportunas lições de Jesus é o caminho
que nos conduzirá à paz e à felicidade que tanto queremos. Ignorá-las
será decisão imprópria que nos manterá na desconfortável posição
evolutiva em que estamos. A decisão será sempre nossa.
Reflitamos...

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Causas anteriores e atuais das nossas aflições

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-


aventurados os têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-
aventurados os que padecem perseguição, por amor da justiça, porque deles
é o Reino dos Céus.” (Jesus - Mateus, V:5, 6 e 10.)

Na condição de Espíritos eternos que somos, tendo sido criados por


Deus na simplicidade e na ignorância, com destino à perfeição, segundo
nos informa o Espírito André Luiz, no livro “Libertação”, no seu capítulo I,
estamos fazendo uso da razão há quarenta mil anos. Nesse período, com
liberdade, escolhemos os nossos caminhos, decidimos, deliberamos,
fizemos escolhas e tomamos decisões.
Sendo as Leis de Deus de amor e de justiça e jamais de castigos e de
punições, obviamente coadunam com os preceitos de causa e efeito e de
ação e reação, onde cada ação nossa produz uma reação e cada causa
gera um efeito. Atitudes enquadradas nos padrões do Evangelho de Jesus
geram reflexos ajustados e positivos. Procedimentos adversos das lições
do Cristo promovem efeitos desequilibrados e infelizes.
Assim, as causas das nossas aflições do momento podem ter suas
origens em vidas passadas ou mesmo na existência presente. Mas em
todas as situações sempre prevaleceu a nossa liberdade de escolha.
Ninguém decidiu por nós e nem nos obrigou a deliberar nesse ou naquele
sentido. A dor e o sofrimento que carregamos e as conquistas e
realizações benéficas que ostentamos decorrem da total liberdade que
tivemos para tomar nossas decisões.
Quando carregamos algum infortúnio, como, por exemplo, um
problema de saúde de nascença, determinadas limitações físicas, condição
de vida na pobreza mesmo diante dos nossos esforços no trabalho, sem
que nada de errado tenhamos feito na vida presente, certamente isso tem
suas origens em vidas anteriores, quando agimos com descaso e
invigilância, circulando na contramão das sábias lições de Jesus.
No entanto muitas dores e aflições nascem das atitudes de hoje. As
leis de trânsito, por exemplo, nos informam que a velocidade de um
veículo em determinados trechos de rodovia não pode ultrapassar a
oitenta, cem quilômetros por hora, para a nossa segurança, no entanto, se
trafegamos a cento e quarenta, cento e sessenta quilômetros por hora, a
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possibilidade de acidentes é muito maior e as consequências deles muito
mais trágicas. Portanto, o abuso da velocidade pode nos proporcionar
ferimentos que não ocorreriam estando a direção do veículo feita com
equilíbrio.
Ainda nos adverte a ciência médica que a utilização de alcoólicos e
fumo causa terríveis danos à saúde. Fazendo uso, inadvertidamente, de
tais tóxicos, por certo prejudicaremos o nosso corpo físico. Serão aflições
desnecessárias e originadas no presente.
Dessa forma, podemos concluir que as aflições decorrentes de erros
passados são inevitáveis no momento, como reflexos naturais dos atos
equivocados de ontem, mas as do presente nós podemos evitá-las agindo
com discernimento e convicção sobre os reais valores da vida.
Portanto, ninguém é culpado pelos dissabores que experimentamos,
pois que durante esses quarenta mil anos fomos totalmente livres para
seguir os rumos escolhidos.
Se não podemos retroceder para modificar o ontem, temos plenas
condições de alterar o hoje, vivendo-o com equilíbrio, dentro dos padrões
da dignidade, honra e altivez, para que façamos um novo amanhã.
Vivemos agora sob os reflexos do passado. Tendo consciência disso,
organizemos o presente, sob a égide dos sábios preceitos evangélicos,
para a construção de um futuro promissor em busca da paz e da felicidade
que tanto almejamos.
Reflitamos...

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Educar é uma missão

“Pode-se considerar a paternidade como uma missão? – É, sem


contradita, uma missão. E ao mesmo tempo um dever muito grande, que
implica, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade para o futuro...”
(Questão 582, de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec.)

Nenhuma criatura reencarna para sofrer ou fazer o mal. Todos


renascemos na Terra com a proposta de melhoria e prosperidade, pois
que fomos criados por Deus na simplicidade e na ignorância, com o
objetivo de alcançarmos a perfeição.
Os preceitos evangélicos sugerem, constantemente, o auxílio mútuo
entre as pessoas, onde a cooperação, o companheirismo e a consideração
sejam as bases fortes das relações humanas.
Dessa forma é imprescindível que cada ser humano, dentro da órbita
de suas ações, desenvolva atividades e se comporte de forma a oferecer
larga contribuição para a paz e a estabilidade social, abrindo perspectivas
visando à harmonia e à serenidade no seio das coletividades.
Buscando a concretização de tal meta não podemos menosprezar o
valor e a importância da educação como formadora de caráter ajustado,
ética, civilidade e perfeita compreensão dos reais valores da vida.
Educar é o processo de colocar a criatura humana no contexto sadio
das suas reais e inadiáveis finalidades dentro da vida, ou seja, a conquista
da paz que tanto almeja e da felicidade que busca frequentemente.
Daí, obviamente, a responsabilidade que pesa sobre os pais ou
responsáveis pela infância, adolescência e juventude. Os filhos ou
tutelados que estão sob a nossa guarda foram confiados por Deus, para
serem educados sob os moldes da decência, dignidade e honradez.
A convulsão social a que estamos assistindo, estarrecidos e indignados,
onde vislumbramos um momento complicado de desajustes dos
“pequenos”, decorre, evidentemente, da omissão e irresponsabilidade das
famílias que menosprezam o dever de educá-los.
A instrução, conhecimento e ciência são tarefas da escola, mas a
educação é atribuição exclusiva das famílias. Querer que a escola eduque
os nossos filhos é ter uma visão bem deficiente dos verdadeiros deveres
paternos. O resultado dessa infeliz resolução está bem evidenciado no
45
quadro social que nos cerca, onde se identifica com facilidade a
quantidade imensa de criaturinhas trilhando por caminhos sombrios e
preocupantes, sob os olhares indiferentes de quem tem o dever e a
responsabilidade de norteá-los pelas veredas corretas.
Obviamente, pela lei de ação e reação, causa e efeito, os frutos
amargos dessa deliberação estão surgindo em grande quantidade,
esparramando dores, aflições e angústias no contexto familiar e,
consequentemente, no social.
Pouco ou quase nada vai adiantar a edição de códigos, normas, leis na
tentativa de melhorar o panorama atual vislumbrado pela infância,
adolescência e juventude, se as famílias não tomarem para si o dever e a
responsabilidade na educação desse público de tenra idade.
Qualquer outra deliberação tomada será, incontestavelmente,
caminhar na contramão da lógica e se preparar para a colheita de revezes
e sofrimentos.
Se na Terra temos missões, sem sombra de dúvida, a missão da
paternidade é imprescindível e uma das mais importantes.
Reflitamos...

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Renato e o “Catatau”

“Não desprezes, pois, a criança, entregando-a aos impulsos da natureza


animalizada.” (Emmanuel, no Livro “Fonte Viva” – item 157, Psicografia de
Francisco C. Xavier.)

Todas as manhãs, o portão da creche se abria para receber mais de


cem crianças que, em regime de semi-internato, ali permaneciam
enquanto seus pais trabalhavam.
Na faixa etária de três e seis anos, os “pequenos” aos poucos
ocupavam aquelas dependências, fazendo intenso alarido que soava como
melodia sublime aos ouvidos dos adultos que se prestavam a atendê-los,
enquanto a refeição matinal era servida.
Renato, um garotinho ligeiro, há algum tempo havia frequentado
aquela entidade assistencial. Na oportunidade, com oito anos de idade,
cursava a primeira série numa escola pública. Carregava consigo certa
limitação mental que lhe impunha muitas dificuldades para acompanhar os
demais coleguinhas de classe.
Por se tratar de uma criança muito sofrida, compleição física aquém do
normal para a sua idade e raciocínio bastante confuso pelos problemas
registrados na área mental, acabou se afinizando muito com os
cooperadores que laboravam diariamente na creche e, sempre que lá
aportava, era carinhosamente recebido.
Naquela manhã, junto às demais crianças matriculadas, surgiu também
o Renato, cabelos ao vento, amassado, roupa evidenciando que deixara a
cama rumo à entidade, se dirigindo à coordenadora das atividades:
“- Tia, olha eu aqui!
- Estou vendo, mas o que aconteceu? Você não foi à escola?
- Não, eu quero leite.
- Que aconteceu? Você não lavou o rosto, não escovou os dentes...
Onde está sua mãe?
- Não sei, tia.
- E sua irmã?
- Ela foi dormir na casa do namorado.
- E a sua avó?
- Lá em casa não tem ninguém.
- Mas como? Você estava sozinho? Ficou dormindo sozinho?
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- Não, tia, eu estava com o Catatau.
- Catatau? Mas quem é o Catatau?
- É o meu cachorrinho. Ele é que está tomando conta de mim e da
minha casa”.

Todos conheciam o abandono em que o garoto vivia e a solidão que o


acompanhava. Assim não foi surpresa para ninguém o menino estar em
companhia do “Catatau”.
Renato foi recolhido, como sempre, sob os olhares piedosos e a
ternura daqueles que tinham aprendido a amá-lo, ficando nas
dependências da creche até bem tarde, sem que qualquer pessoa de sua
família fosse procurar por ele ou, pelo menos, saber onde e como estava.
Assim, quantas crianças, pelos caminhos da vida contam apenas com a
companhia de um “Catatau”, sem amor, sem atenção, sem carinho...
Crescem na marginalidade, na delinquência, com total falta de
oportunidades. Depois, quando adultos, desajustados, ameaçam a paz
social, momento em que a sociedade omissa grita pedindo punições
severas, sem lhes ter ofertado qualquer chance para a dignidade.
E em nossos lares? Estamos presentes na vida dos nossos filhos ou
também estamos confiando a prole aos “Catataus”, em forma de televisão,
videogame, tablets, internet, babás e outros?
Pensemos nisso.

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O que estamos fazendo com as lições de Jesus?

“Quem quer ser o primeiro, que seja o último de todos e o servidor de


todos.” (Jesus – Mateus, 9:35.)

Tem muita importância o destaque que fazemos das profundas lições


de Jesus e muito valor os estudos e as reflexões que realizamos sobre
elas, mas imprescindível se torna que as coloquemos em prática em nosso
quotidiano, se realmente temos interesse na construção de uma sociedade
mais justa, fraterna e humana.
Com frequência, louvamos a cura que o Cristo fez ao cego de Jericó,
devolvendo-lhe a visão, atendendo ao doloroso apelo daquele necessitado.
Obviamente, não conseguiremos fazer um cego voltar a enxergar, mas
não estamos impedidos de conseguir colírio para aliviar, pelos menos um
pouco, os problemas visuais dos irmãos que seguem doentes dos olhos.
Com entusiasmo, aplaudimos o feito do Cristo ao devolver os
movimentos físicos ao paralítico de Cafarnaum, mas nem sempre estamos
dispostos a socorrer os deficientes físicos carentes que necessitam de
amparo e recursos técnicos.
Com euforia, elogiamos a multiplicação de pães e peixes, quando o
Mestre saciou a fome de enorme multidão, mas nem sempre temos
vontade e disposição para oferecer uma cesta básica de alimento a uma
mãe desesperada, que sofre ao ver a panela vazia e os filhinhos a
implorar-lhe por comida.
Com emoção, nos sensibilizamos diante da beleza do Sermão da
Montanha, no entanto, temos imensas dificuldades em visitar um lar que a
tragédia abateu, conduzindo algumas palavras de consolo e
proporcionando momentos de fraternidade e alívio.
Com admiração, discursamos sobre a postura de Jesus em relação à
mulher adúltera, mas em inúmeras oportunidades nos faltam a coragem e
a humildade para perdoar aqueles que, porventura, nos ofenderam, ou
para pedir perdão a quem ofendemos.
Com reverência, estudamos o encontro do Cristo com Zaqueu, mas
apresentamos dificuldades em dispor dos nossos recursos financeiros, ou
diminuir um pouco o nosso conforto para aliviar o padecimento e as
aflições dos irmãos que seguem pela vida em situação de penúria.
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Com profundo respeito, meditamos sobre a recuperação de Lázaro,
sob os influxos das mãos de Jesus, no entanto, nem sempre estamos
dispostos a socorrer, com médicos e remédios, os doentes pobres e
solitários que sofrem sob os nossos olhares.
Com exaltação, discorremos sobre o momento em que o Mestre
aplacou a tempestade que ameaçava o barco em que viajava com os
discípulos, mas, em oportunidades várias, vacilamos em aplacar a ira ou o
ódio abrigado em muitos corações revoltados e em desequilíbrio.
Com indignação, refletimos sobre o diálogo de Jesus com Nicodemos,
quando esse doutor da lei, temendo pela sua reputação, preferiu
encontrar o Mestre na calada da noite. No entanto, com frequência, por
timidez ou má vontade, não nos dispomos a trabalhar por uma boa causa
que contrarie o interesse da maioria.
Com sensibilidade, vislumbramos a calma e a serenidade de Jesus
diante da sua crucificação, mas, de nossa parte, é comum o nosso
desespero e desequilíbrio diante de situações adversas e complicadas que
nos exigem um pouco mais de fé e maturidade espiritual.
Com fervor, falamos da entrada triunfal do Cristo em Jerusalém,
quando grande multidão o seguiu, mas, em infindáveis situações,
deixamos de triunfar diante dos nossos compromissos em favor dos menos
favorecidos, devido à chuva, ao frio e aos pequenos incômodos físicos
totalmente superáveis com boa vontade e determinação.
Incontestavelmente, precisamos estudar, comentar, admirar e aplaudir
as inquestionáveis lições de Jesus Cristo, mas, muito mais que isso, com
urgência, devemos colocá-las em prática se temos a intenção de progredir
espiritualmente e de contribuir para a edificação de um mundo melhor.
Reflitamos...

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Discípulos de Jesus

"Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns
pelos outros." (Jesus – João, 13:35)

Toda criatura humana, em sã consciência e plena lucidez de seu


raciocínio, desejará viver em paz e não medirá esforços para alcançar a
felicidade possível aqui na Terra.
E, no contexto dessa caminhada, somente teremos chances reais de
lograr o êxito esperado se trilharmos pelos caminhos seguros que as
imprescindíveis lições de Jesus apontam. Qualquer outra direção, por
certo, indicará o porto do fracasso, que trará consigo a enxurrada de
decepções, dores e sofrimentos. Obviamente, isso não se caracteriza
novidade alguma, pois que a humanidade dos dias atuais tem vivenciado
essa infeliz realidade.
Ensinou o Cristo, há mais de dois mil anos, que somente o amor entre
os homens poderá criar a sociedade dos nossos sonhos e ideais, quando
pronunciou: “amai-vos uns aos outros” (Jesus – João, 15:12). No entanto,
por descaso ou mesmo por absoluta imaturidade, ainda preferimos
deliberar nossas ações, atitudes e comportamentos tomando como base o
egoísmo e o orgulho, essas chagas terríveis que propiciam o aparecimento
de tantas outras inferioridades.
Disse ainda que, quando fazemos algum bem a qualquer “pequenino”,
é a Ele mesmo que estamos beneficiando, numa inequívoca ilustração de
que devemos amparar aqueles que seguem pela vida ombreando seus
dias conosco. O “pequenino”, a que se refere o Mestre, pode ser a criança
necessitada, o jovem desorientado, a mãe desesperada, o pai
desempregado, o idoso deslocado da família, o doente sem recursos ou
qualquer irmão que esteja experimentando dificuldades de qualquer
ordem.
Na atualidade, diante de tantas informações e esclarecimentos, não
temos mais dúvidas de que realmente os discípulos de Jesus só se
identificarão pelas marcas do amor que uns oferecem aos outros.
E essa marca vem representada pela solidariedade, compreensão e
tolerância no âmbito do relacionamento humano. A felicidade e a paz que
almejamos somente as encontraremos quando plantarmos tais posturas

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nos corações daqueles que nos cercam. Em realidade, ninguém consegue
ser feliz sozinho.
Assim, buscando garantir a serenidade das nossas consciências, na
certeza de que estamos no caminho indicado pelo Cristo, observemos ao
redor e não percamos uma única oportunidade de exercitar o bem, dentro
das nossas possibilidades e no limite das nossas forças.
Se cada ação por nós praticada trará o reflexo do seu teor, tudo que
realizarmos em favor do bem dos outros, sem dúvida alguma, de regresso,
carregará o bem a nós mesmos. Então, não será difícil concluir que o mal,
em hipótese alguma, redundará em qualquer proveito para as nossas
vidas. Inteligente e sensato será todo aquele que desenvolver esforços
para não fazer mal algum.
Sabendo disso, sejamos reais e conscientes discípulos de Jesus,
aplicando quotidianamente o preceito “amai-vos uns aos outros”, e, com
absoluta convicção, estaremos assegurando a nossa caminhada no
contexto de um roteiro de vida sustentado pela lógica, razão e equilíbrio.
Jesus Cristo é, incontestavelmente, o sol das nossas vidas. Viver
distante Dele é o mesmo que mergulhar, descuidadamente, nas sombras
tormentosas do sofrimento.
E só conseguiremos caminhar com Jesus, como seus verdadeiros
discípulos, se elegermos o bem do próximo como razão e objetivo das
nossas vidas.
Reflitamos...

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23

Use as suas mãos

“Todos somos suscetíveis de realizar muito, na esfera de trabalho em que


nos encontramos.” (Emmanuel, no Livro “Fonte Viva”, psicografia de Francisco
C. Xavier, item 4.)

Use as suas mãos e distribua carinho por onde passar, pois em muitas
oportunidades ficamos a rogar por um gesto de atenção dos outros.
Use as suas mãos e escreva mensagens de paz, alento e otimismo,
uma vez que, no momento, nossas vidas seguem as valiosas orientações e
experiências que outros grafaram.
Use as suas mãos para ofertar, com desprendimento, um prato de
comida ao irmão faminto, pois de nossa parte nunca sabemos em qual
momento teremos a necessidade de receber alimento alheio para a nossa
nutrição.
Use as suas mãos para, com amor, confeccionar agasalhos, visando
atender àqueles que caminham em dificuldades materiais, uma vez que
ninguém está totalmente seguro de que nunca se encontrará em
semelhante condição.
Use as suas mãos para indicar, com determinação, a direção do ânimo
e da alegria a tantas criaturas desanimadas e abatidas que vivem na
indiferença e no desespero, à beira do abismo da derrocada moral.
Use as suas mãos para acolher, no colo, as crianças sem afeto que em
grande número se abrigam em internatos, creches e berçários, muitas
vezes vitimadas pela orfandade, sorvendo a taça amarga do abandono e
da solidão.
Use as suas mãos para abençoar e suportar o familiar querido que, no
âmbito do desequilíbrio, lhe causa grandes preocupações e
aborrecimentos, objetivando ofertar-lhe o suporte da paz que possibilitará
sua reorganização.
Use as suas mãos para socorrer os idosos que desbravaram os nossos
caminhos e nos legaram tantas conquistas, pois no porvir também
estaremos vestindo a roupagem da velhice e teremos necessidade da
compreensão dos jovens.

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Use as suas mãos para conter a ira do companheiro agressivo e
desequilibrado que, descuidado do que faz, promove a intriga e a
discórdia, procurando despertá-lo para o que é nobre, belo e sublime.
Use as suas mãos para difundir os valiosos e indispensáveis
ensinamentos de Jesus, uma vez que a humanidade agoniza, no
momento, pela ausência de prática dos princípios evangélicos que fazem
luz em nossas estradas.
Use as suas mãos para construir, sem demora, a felicidade, a paz e a
alegria dos outros, e Deus, em sua infinita bondade, usará as Suas mãos
fraternas e generosas para abençoar a sua vida e também fazê-lo feliz.

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Falso testemunho

“Não prestareis falso testemunho contra vosso próximo.” (VII


mandamento ditado a Moisés, no Monte Sinai.)

Na face do planeta, o homem é o único animal racional, sendo também


a única espécie que mantém comunicação articulada, isto é, por
intermédio da fala.
No entanto, esse recurso que aproxima criaturas integra comunidades
e une nações. Quando utilizado de forma equivocada e inoportuna, gera
desentendimentos, distanciamentos e tragédias no seio da humanidade.
Conhecendo pormenorizadamente o valor da comunicação e os seus
deletérios perigos, a Providência Divina, por intermédio de Moisés, grafou,
como um dos dez mandamentos, a lição: “Não prestareis falso testemunho
contra vosso próximo”, como séria advertência às criaturas humanas.
Estagiando ainda em faixas inferiores, o homem, na Terra, pouca
atenção tem dado ao precioso ensinamento em pauta, haja vista que é
possível se identificar nos diálogos muito mais palavreado vazio e
conversas banais do que comunicação de essência nobre e sublime.
E ante a invigilância e desatenção verbal caminha a humanidade pelos
trilhos da intriga, da maledicência e da fofoca, evidenciando com muita
profundidade que ainda estamos muito apegados ao cultivo dos “falsos
testemunhos” condenáveis pela observação divina.
Perde tempo o ser humano com palavras agressivas, difundindo o seu
desequilíbrio e ferindo pessoas, quando poderia usar o mesmo recurso
para distribuir a paz e a concórdia.
Gasta oportunidades a criatura, comentando assuntos vagos e inúteis,
grassando a leviandade e perpetuando a inércia, quando poderia dirigir a
mesma força para difundir o trabalho, o amor e a fraternidade.
Despende preciosas chances o homem, divagando sobre o que os
outros deveriam fazer, apontando falhas e relacionando defeitos, mas não
utiliza a mesma disposição para se lançar ao labor de fazer melhor o que
entende estar malfeito, e nem de ser superior àqueles que condena.
Dispõe a pessoa de múltiplas possibilidades de expressar o carinho, a
ternura e a compreensão, mas prefere ainda dar guarida ao desejo de

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vergastar o próximo com o chicote do verbo maldoso, destilando fel pelas
palavras.
A comunicação apresentada nos moldes dos ensinamentos divinos
canta o amor, divulga a alegria, expressa a felicidade, difunde a
fraternidade, exalta o bem e grassa a união, criando recursos e
mecanismos para que a humanidade encontre a paz. Já aquela que se
insere no “falso testemunho” cuida de manter o ódio, a animosidade, o
rancor, a vingança, o crime, a desunião e o negativismo, segurando os
homens no clima da dor e do sofrimento. A linguagem articulada que as
sábias Leis de Deus nos doaram por misericórdia do Criador deve ser,
portanto, objeto de zelo e acuidade, para que realmente atinja seu
objetivo, qual seja o de promover o entendimento no âmago dos povos.
Observemos, então, o mandamento que nos adverte para os perigos
do “falso testemunho”.

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Perdendo tempo

“Todas as vossas coisas sejam feitas com caridade.” (Paulo – Coríntios,


16-14.)

Uma vez que o ser humano, em todos os quadrantes do universo,


insistentemente busca pela paz e pela felicidade, haveremos de concluir,
sem muitas delongas, que a meta prioritária de todo movimento social
deve, incontestavelmente, ser o bem-estar do próprio homem.
Dessa forma, já observamos quantas dores existem no mundo
precisando de socorro?
Quantos irmãos caídos à procura de mão amiga?
Quantas crianças sem lar à busca de um olhar de piedade?
Quantas mães sem ter o que oferecer aos filhos famintos?
Quantos irmãos angustiados esperando pela nossa boa vontade em
ouvi-los?
Quanto serviço a ser feito em favor de criaturas desequilibradas?
Quantas lágrimas a serem secadas?
Quanta ignorância a ser espantada com a flor da verdade e da cultura?
Quantas trevas precisando ser espantadas pela luz do amor?
Quantos amigos perambulando pelas trilhas da indiferença, carecendo
de estradas seguras?
Quantos familiares praticamente abandonados no lar, necessitando do
nosso tempo e atenção?
Quantos colegas de serviço vivendo dramas intrincados a pedirem pelo
nosso apoio e direção?
Quanta fome a ser mitigada?
Quantos agasalhos a serem distribuídos à camada populacional
carente?
Quanta exemplificação cristã a ser apresentada para que os irmãos do
caminho possam aprender os rumos do Cristo?
Quantas mensagens de paz precisando de divulgação no meio dos
desesperados?
Quantos gritos de dor morrendo abafados em corações silenciosos?
E, mesmo ante esse quadro tão triste que a humanidade apresenta,
onde cada um de nós, por caridade, deve utilizar os recursos disponíveis

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para pelo menos tentar melhorá-lo, ainda conseguimos perder tempo
vivendo na preguiça!
Fazendo comentários maldosos sobre a vida alheia!
Julgando causas e coisas que na verdade não conhecemos!
Cruzando os braços na indiferença!
Dormindo mais de seis horas por noite!
Passando fins de semana totalmente ociosos!
Criticando atitudes e procedimentos dos companheiros e amigos!
Agredindo verbal ou fisicamente nossos familiares!
Esparramando a discórdia, a intriga e a violência!
Cultivando viciações tabagistas, alcoólicas e se dando ao descuido do
uso de drogas ainda mais nocivas!
Relacionando acontecimentos e fatos menos dignos em nossa
conversa!
Promovendo sucessivas reuniões, onde muito se fala e pouco se faz!
Denegrindo a imagem de governantes sem apresentar soluções para
os intrincados problemas sociais!
Constatando essa nossa conduta, devemos parar, refletir e redirecionar
nossas vidas, pois que em realidade não estamos ajudando a resolver os
problemas que assombram o mundo, mas sim sendo verdadeiros
problemas para o mundo, onde se verifica que o Evangelho de Jesus
continua nos livros, mas muito... muito distante dos nossos corações e
longe... muito longe de nossa vivência prática... É uma pena!

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A distinção entre o bem e o mal

“Como se pode distinguir o bem do mal? – O bem é tudo o que está de


acordo com a lei de Deus e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o
bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei.” (Questão
630, de “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec.)

O mal na Terra ainda é uma realidade de fácil constatação e que gera,


nos corações humanos, montanhas de dores e terríveis sofrimentos.
O homem sabe, tendo plena consciência de que o mal é a fonte
abundante do seu desconforto, aflição e tortura, no entanto, ainda se
sente pouco motivado ou disposto a combatê-lo, preferindo seguir a trilha
da sua vida pelas vielas sombrias e indiferentes do descaso.
Sabe que sofre, que suas atitudes impensadas e infelizes lhe causarão
ainda mais problemas, mas não encontra forças para romper esse círculo
vicioso de errar e sofrer as nefastas consequências.
Ninguém em sã consciência e plena lucidez de raciocínio poderá
afirmar que desconhece o caminho de uma vida pautada no bem. As lições
imorredouras do Evangelho de Jesus, com abundância, há mais de dois mil
anos campeiam à solta por todos os quadrantes do mundo, informando
que somente o bem tem o poder de felicitar o homem. Uma simples
observação poderá identificá-las com clareza.
Obviamente, faltam à criatura humana o desejo e o interesse em
segui-las. Isso, definitivamente, exige esforço, coragem e muita renúncia,
o que tem desmotivado muita gente a repensar os caminhos que segue e
as atitudes que vem tomando, preferindo tocar a vida como vem fazendo,
mesmo diante da colheita inoportuna de tantos revezes.
Identifica-se, então, ante o quadro social que deparamos atualmente,
uma sensível imaturidade espiritual das criaturas, que sabem que não
estão bem, que a forma de vida do momento não tem proporcionado a
paz e a felicidade que todos querem, mas sem a vontade férrea para as
necessárias e imprescindíveis mudanças.
Ainda temos imensas dificuldades em perceber que o oásis de
serenidade que tanto sonhamos somente será possível quando todos
estiverem pacificados e tranquilos. Não basta que algumas pessoas
estejam felizes, será preciso que a humanidade inteira esteja feliz, pois

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que a insegurança e o desconforto de alguns, por certo, ameaçarão a
estabilidade de todos.
Assim, em nossas atitudes, comportamentos e decisões, precisamos
pensar também nos outros, no nosso próximo, pois que ele é membro
integrante da cadeia social a que pertencemos.
O nosso bem-estar nascerá, obviamente, do bem-estar de todos.
Portanto, somente o bem, vivido em toda a sua intensidade, terá a força
necessária visando contribuir para a formação de um mundo melhor, mais
fraterno, solidário e humano.
Passemos a ver o nosso próximo como alguém que, como nós,
também deseja e aspira pela paz e façamos todo o possível para que ele
alcance seus objetivos. Por consequência, os nossos objetivos serão
alcançados também.
Cultivando o mal esparramaremos sofrimentos, conflitos e angústias ao
nosso derredor, e, pela mesma lei, a de causa e efeito, tais sentimentos se
voltarão contra nós mesmos. Assim, até por uma questão de inteligência e
maturidade, vivamos no bem, pois que dessa forma estaremos
construindo o mundo que sonhamos.
Distinguir o bem do mal é tarefa simples e fácil. Façamos ao nosso
próximo tudo aquilo que gostaríamos que nos fosse feito. Se algo não é
bom para nós, por certo também não será para o nosso irmão.
A criatura sensata e lúcida não cogitará fazer o mal.
Reflitamos...

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É preciso compreender e praticar Jesus

“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos, e eu vos


aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.” (Jesus –
Mateus, 11:28.)

Segue Jesus conclamando, isso há mais de dois mil anos, “vinde a mim
vós que sofreis e eu vos aliviarei” (Mateus, cap. XI, v. 28, 29 e 30). No
entanto, ainda descuidada a humanidade prefere ouvir seus próprios
apelos e trilhar seus passos pelas sombrias vielas do egoísmo e do
orgulho, entendendo que tem a receita da felicidade, procurando pelos
prazeres e realizações no mundo, enquanto o Cristo, em outro momento
de rara beleza e oportunidade, nos informou que “Ele venceu o mundo”
(Jesus - João, 16:33), portanto, não no mundo.
E as dores, decepções, angústias e incertezas, ao longo do tempo, têm
sido as nossas companheiras e ao mesmo tempo nossos algozes,
refletindo em nós mesmos as ações que praticamos e que ainda estão
bem distantes da necessária prática do Evangelho do Cristo.
Esclarecimentos e avisos edificantes não nos têm faltado, pois que
vivemos um momento, na vida social, que identificamos com imensa
facilidade a quantidade enorme de valiosas e oportunas informações.
Alegar ignorância, nessa altura dos acontecimentos, seria até dar provas
de descaso e insensatez.
Queremos ser felizes, desejamos a paz. Mas o que temos feito de real
e concreto para a conquista de tais benesses?
Jesus sentenciou “amai-vos uns aos outros” (Jesus – João, 15:12), mas
nossas atitudes demonstram o contrário, uma vez que pouco esforço
fazemos para renunciar algo em favor do nosso irmão.
Pediu que “perdoássemos até sete vezes sete vezes”, (Jesus – Mateus,
18:21-22). No entanto, com grande facilidade ostentamos o ódio, a
maledicência e a raiva em nosso âmago, como a cultivar uma represa
estagnada e pestilenta irradiando contaminações e odores fétidos.
Ensinou que “os sãos não precisam de médico” (Jesus - Mateus, 9:9),
mas ainda não nos interessamos por desenvolver a sensibilidade de
observar no próximo um vasto campo de trabalho e ações de caridade.
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Mostrou aos seus discípulos que “quem quer ser o primeiro deve ser o
último e o servidor de todos” (Jesus - Marcos, 9:13). No entanto, é muito
comum em nosso meio o desejo imenso de sermos os primeiros, os
destacados, usando para tanto qualquer método ou comportamento
visando alcançar a posição de brilho no mundo, mesmo que para isso
tenhamos que ferir aqueles que, possivelmente, tentem empanar as
nossas pretensões.
Falou da necessidade de sermos humildes, quando proferiu que
“aquele que se exaltar será rebaixado” (Jesus - Mateus, 23:12),
condenando, obviamente, o orgulho e o egoísmo, essas deletérias e
terríveis chagas que tantos males e prejuízos oferecem à humanidade.
Mas temos imensas dificuldades de viver tal recomendação.
Sugeriu a receita da paz ao ensinar “amem os seus inimigos e orem
por aqueles que os perseguem” (Jesus - Mateus, 5:43), mas a
humanidade tem ignorado tal preceito, cultivando ainda a animosidade, a
violência e a intolerância, bases nocivas que têm esparramado a guerra, a
discórdia e o sofrimento no contexto social.
Esclareceu sobre a importância da fé quando disse “Bem-aventurados
os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Jesus - Mateus, 5:8).
Mas, desejando conquistas imediatas, o homem se sente tremendamente
infeliz e descrente quando seus anseios e desejos não se realizam
rapidamente.
Assim, distantes das imprescindíveis lições do Evangelho de Jesus,
tanto do conhecimento profundo sobre elas quanto da sua prática,
trilhamos nossa vida na desobediência e no descaso, colhendo a safra
dolorida das nossas plantações descuidadas.
Reflitamos...

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28

Observemos o sofrimento ao nosso redor e sirvamos

“Quando conseguires superar as tuas aflições para criares a alegria dos


outros, a felicidade alheia te buscará, onde estiveres, a fim de improvisar a
tua ventura.” (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, psicografia de Francisco
Cândido Xavier, item 73.)

Vivemos num mundo de expiações e provas, onde o bem ainda é


menor que o mal, por isso observamos, com frequência, ao nosso redor,
essa gama imensa de sofrimentos e dores a enegrecer e ferir o coração
humano.
Obviamente, no contexto sábio das leis de Deus, o progresso moral se
dará e as criaturas, aos poucos, mediante seus próprios esforços,
amparadas pela Providência Divina, deixarão esse vale de lágrimas visando
alcançar as zonas superiores da vida.
No entanto, enquanto tal momento não chega, imprescindível que
observemos as angústias e as aflições que pontilham no meio social em
que vivemos e, de alguma forma, diante das nossas possibilidades,
ofereçamos a nossa quota de auxílio e cooperação, no intento de amenizar
os padecimentos que torturam nossos irmãos de jornada terrena.
Paremos por alguns instantes para ouvir o lamento doloroso de
crianças implorando por um prato de alimento que possa calar os gritos do
estômago vazio, e cooperemos na solução do problema.
Identifiquemos jovens que seguem pelos caminhos tortuosos da vida,
sem as referências básicas da dignidade familiar, e contribuamos, como
pudermos, buscando apontar-lhes direções seguras e promissoras.
Vislumbremos famílias em conflitos, cujos lares permanecem no clima
inseguro das agressões e desrespeito, e ajudemos na implantação da paz
e da serenidade, formando a base sólida da prosperidade moral.
Doentes existem, acamados, sem recursos financeiros, portadores de
grandes padecimentos físicos, aguardando mãos amigas que possam
aliviar-lhes as torturas, mesmo que seja um pouco. Com sensibilidade e
compaixão, poderemos oferecer a nossa quota de amor visando minorar-
lhes o sofrimento.
Idosos desprovidos de família ou abandonados pela parentela desfilam
diante dos nossos olhos, criando um quadro social comovente e triste,

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desafiando nossas iniciativas em encontrar um jeito de acalmar seus
corações desesperançados. Façamos algo por eles.
Pais desempregados clamam por ocupações dignas que lhes
possibilitem ganhar o sustento da família com o suor de seus esforços.
Movimentemos nossa boa vontade e os ajudemos a encontrar postos de
trabalho.
Como podemos observar, sem muitos esforços, o contexto social que
nos cerca ainda é uma intrincada rede de problemas e aflições, gerador de
instabilidade emocional e de insegurança de toda ordem, onde, de um
jeito ou de outro, todos sofremos.
Assim, é indispensável compreender que não basta estarmos bem
fisicamente, equilibrados financeiramente, ajustados emocional-mente,
com exclusividade, pois, se nossos irmãos assim também não estiverem, a
paz que almejamos e a felicidade que tanto queremos ainda serão apenas
sonhos e desejos e não realidade.
Ninguém conseguirá ter serenidade sozinho, pois que somos seres
gregários, e, no isolamento absoluto, é impossível de se viver.
As leis de Deus sendo de compensação, obviamente, cada um
receberá de acordo com as suas obras, portanto, se já nos interessamos
por uma vida mais digna, para obtê-la, temos total necessidade de
também dignificar a vida alheia.
Dessa forma, conseguiremos neutralizar os nossos sofrimentos à
medida que amenizamos os sofrimentos dos nossos irmãos.
Pensemos nisso.

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29

A opção de Mariana

“Não julgueis para não serdes julgados.” (Jesus - Mateus, cap. VII, V.1)

Mariana, na época, contava com apenas onze anos de idade. Olhar


faceiro e rosto jovial. Na expressão fisionômica, a transparência de
carência afetiva.
Vez por outra abeirava a porta da creche erguida nas imediações de
sua casa, para solicitar algum tipo de socorro, ora para si mesma, ora para
a mãe, pois viviam em extrema penúria material, sob o despotismo do
padrasto desocupado e afeito a comportamentos menos dignos.
Com o passar do tempo foi ganhando a simpatia da direção da
instituição socorrista, que viu a possibilidade de ampliar o leque de ação
em favor daquela adolescente, apontando-lhe um norte, um caminho
seguro ou, pelo menos, abrindo-lhe novas perspectivas.
Foi, então, convidada a ajudar no cuidado com as crianças que, em
regime de semi-internato, viviam nas dependências daquela entidade
assistencial, enquanto os pais trabalhavam.
Como condição, foi exigido de Mariana que imediatamente fizesse
matrícula na escola próxima, pois que havia abandonado os estudos.
E, nas horas que estava livre das obrigações escolares, permaneceria
na instituição, ganhando para isso o material escolar, uniforme, uma cesta
básica de alimentos e algum recurso financeiro, além da assistência
educativa e reforço que pudesse ter necessidade quando no cumprimento
de seus deveres de escola.
Dois anos transcorreram sem novidades e a menina, se tornando
moça, cada vez mais era envolvida pelo carinho e atenção da direção da
creche. Querida por todos, era assistida com sentimento filial.
Num determinado dia a jovem não compareceu ao trabalho e a notícia
explodiu como uma bomba: Mariana saiu de casa e foi morar com um
homem!
Indagações e indignações.
Mas como isso aconteceu? Por quê? Depois de tudo que fizemos a ela,
assim ela retribui? Teria sido forçada a tal decisão? Que loucura! Por que
não conversou conosco colocando suas dúvidas? Tão criança e já rumando
por veredas incertas?
Ninguém queria acreditar no que acontecia.
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Mas era a pura realidade. Mariana, agora com treze anos, num gesto
inesperado, abandonou tudo e rumou com um jovem, por caminhos
indefinidos.
Pior ainda, uma semana depois, totalmente desequilibrada,
desentendeu-se com o companheiro e passou a morar com outro e as
coisas foram se complicando.
Na creche, onde ela trabalhava, continuava a indignação: Como isso
pôde acontecer depois de tantos conselhos, orientações, informações?
E os julgamentos partiam, muitos deles acusando a jovem de
leviandade, irresponsabilidade, ingratidão...
Mas o que levaria, realmente, uma jovem tão bem assistida a agir
assim?
Dias depois, Mariana, humilhada e cabisbaixa, retornava à porta da
instituição. Indagada pela direção sobre a sua inesperada decisão, limitou-
se apenas a dizer:
“- Eu tinha pela minha frente dois caminhos: ou eu me entregava ao
padrasto que vinha me assediando violentamente, tendo por inúmeras
vezes tentado me estuprar, sem no entanto conseguir; ou eu saía de casa.
Mas para onde ir se ele me ameaçava seguir aonde eu tentasse,
impedindo, com violência, que minha mãe fizesse qualquer tentativa de
me proteger?
E para abandonar o lar, somente seria possível na companhia de um
homem que pudesse enfrentá-lo caso ele me seguisse. Entre ser
estuprada por ele e a fuga do lar, preferi fugir de casa, pois talvez tivesse
melhor sorte”.

Bem que Jesus disse que não julgássemos ninguém, pois atrás dos
dramas das pessoas, quantas coisas podem estar acontecendo sem que
saibamos?

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Cristianismo é sinônimo de trabalho

“Se te afeiçoaste ao Evangelho, não te situes por fora do serviço cristão.”


– (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, psicografia de Francisco C. Xavier.)

Jesus, após ofertar ao mundo as suas maravilhosas lições que ao longo


dos séculos vêm norteando o caminho dos homens, se viu cerceado por
imensa multidão de seguidores que, ávidos, desejavam absorver os
ensinamentos.
Ainda hoje são muitos os que continuam à procura do Cristo sem
lograr encontrá-lo, já que se encontram rumando por direções
equivocadas.
Há, sim, quem O admire, mas, ficando somente na contemplação, não
se dispõe a descruzar os braços, no trabalho, objetivando fazer o
progresso da humanidade.
Existem outros que permanecem em constantes orações, suplicando
pelo amor de Jesus, mas, também anestesiados pela preguiça e
recostados na inércia, seguem os dias sem produção alguma que possa
favorecer a recompensa que buscam.
Também encontramos quem confia plenamente nas promessas do
“Mestre”, mas ainda não se decidiu em movimentar ações e recursos que
possam assegurar-lhe o recebimento dos dotes celestes, uma vez que as
Leis de Deus não atuam por privilégios, mas por merecimento.
Outros, ocupando tribunais, púlpitos e altares, defendem com
veemência e dedicação as inquestionáveis lições evangélicas, mas tudo
isso é pouco para quem aspira à total espiritualização, uma vez que, além
do falar, é sumamente interessante e necessário o fazer.
Entre a multidão faminta de paz e crescimento interior, encontramos
os que acreditam em Jesus, tendo certeza de que o “Divino Amigo”
realmente seja a expressão do amor e da felicidade, no entanto, gastam o
tempo numa espera improdutiva, vazia, ostentando mãos desocupadas.
Podemos ainda deparar com pessoas que não se cansam de louvar o
“Salvador”, mas também estas, vivendo de contemplação e
agradecimentos, caminham indiferentes para a verdadeira aquisição dos
valores de nobreza, pois passam pela vida sem labor.
Assim, amigos, cada um de nós, à nossa maneira, vamos seguindo,
vivendo e passando pelas oportunidades sem nos atermos às reais
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necessidades de ofertar a nossa cota de trabalho e participação para o
engrandecimento e progresso dos homens.
É muito lógico que devemos confiar, defender e louvar Jesus, mas em
nenhum instante podemos olvidar da premente necessidade de trabalhar
para a implantação do reino de Deus na Terra.
Mãos vazias, mentes desocupadas, tempo perdido, oportunidades
desperdiçadas formam o rol das chances que vão passando sem que
retiremos proveito.
A vida de Cristo foi um hino de trabalho, de obras e de realizações.
Façamos o mesmo, ao invés de simplesmente permanecer em adoração e
louvor a Ele, que, muito mais do que palavras e sentimentos, deseja a
nossa ação em favor do próximo naquilo que o nosso próximo precisar.
O verdadeiro cristão é aquele que imita Jesus no trabalho de implantar
a felicidade junto aos homens, mesmo que para isso tenha que se
submeter aos mais dolorosos sacrifícios.
Cristianismo é sinônimo de trabalho.

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Rogativa a Jesus

“Tem fé no futuro; por isso, coloca os bens espirituais acima dos bens
temporais.” (O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec, capítulo XVII,
item 3.)

Senhor Jesus, ante as incertezas que povoam, com frequência, o nosso


caminho, ajuda-nos a recordar sempre que o leme do mundo está em tuas
mãos, e continuemos a luta.
Diante dos pensamentos sombrios que violentam o nosso reduto
mental, que tenhamos coragem de erradicá-los, atentos aos deveres a
serem cumpridos e às metas de evolução espiritual a serem atingidas,
entendendo o teu recado: “Eu não vim para ser servido, mas para servir”.
Defrontando amargura e angústia, que consigamos nos manter fiéis às
tuas sábias e indispensáveis lições, principalmente quando nos conclamas:
“Tende bom ânimo”.
Vitimados por doenças de natureza agressiva que insistem em assolar
a nossa saúde, roubando a tranquilidade que desejaríamos ter, que
confiemos com determinação, pois os recursos vêm de Deus, na tua
afirmativa: “Vinde a mim vós que sofreis, e eu vos aliviarei”.
Envoltos em ingratidões e violência, que não percamos a direção do
nosso amadurecimento, refletindo na valiosa e oportuníssima lição que teu
amor nos trouxe: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”.
Colhendo sofrimentos e incompreensões domésticas, no seio da
família, que não caiamos no desespero e na lamentação azeda,
lembrando-nos da tua assertiva evangélica: “Honrai vosso pai e vossa
mãe”.
Reconhecendo no quadro social os padecimentos de tantas criaturas
que seguem pela vida amargando terríveis quadros de dor, evitemos o
pessimismo e movimentemos os recursos que temos à disposição, com
base na tua lição: “Fora da caridade não há salvação”.
Identificando as decepções que vivem ao nosso redor, que não nos
percamos pelo labirinto enganoso das fugas inoportunas e aprendamos de
vez a tua orientação: “Meu reino não é deste mundo”.
Registrando as perseguições vindas de inimigos gratuitos que
patenteiam o desejo de nos ferir seguidamente, que não alimentemos o

69
propósito de revide e lancemo-nos a refletir sobre o teu valoroso
ensinamento: “Amai os vossos inimigos”.
Carregando no coração os espinhos das aflições, que procuremos
evitar o inconformismo e a revolta, atentos à tua magistral informação:
“Bem-aventurados os aflitos”.
Assim, Senhor Jesus, ante tanta luz em forma de letras e lições, ajuda-
nos a compreender mais, servir mais, ajudar mais, estudar mais, entender
mais e a reclamar menos, para o nosso próprio bem, pensando na paz e
na felicidade que haveremos de conquistar no futuro.

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Quando vivemos o Evangelho

“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.” (Jesus - João, 15)

Quando compreendemos verdadeiramente o Evangelho de Jesus e o


colocamos na prática, distribuindo inquestionável exemplificação, nos
tornamos mais fraternos, solidários, humanos, compreensivos, tolerantes,
resignados, sendo nossos gestos e ações reconhecidas vitrines de virtudes
e boas maneiras.
Esse roteiro de luz, bússola de nossas vidas – o Evangelho –, passa a
comandar nossos sentimentos. Então, desejamos servir com mais
intensidade os irmãos do caminho.
Queremos trabalhar bem mais para que a felicidade encontre morada
em todos os corações, entendendo que não haverá paz na Terra enquanto
uma única criatura estiver desajustada.
Teremos mais motivos para agradecer nossos dias, e menos razões
para reclamar. Estaremos prontos para fazer bem-feito tudo o que nos for
confiado.
Não teremos tempo para ficar observando os serviços que os
companheiros estão realizando, pois que estaremos empenhados no
cumprimento dos deveres que nos competem.
O ciúme desaparecerá definitivamente do nosso comportamento, pois
que, quando observamos alguém se projetando mais do que nós mesmos,
o teremos como criatura que mais se esforçou.
Estudaremos mais, uma vez que entenderemos que somente a
verdade será capaz de afastar as trevas da nossa ignorância.
Veremos em cada ser humano um irmão de verdade, que luta e se
esforça para domar as suas más tendências.
Os defeitos alheios conseguiremos ignorar, para ressaltar nos amigos
as virtudes que carregam.
Nossas palavras não serão de críticas infundadas, nem de comentários
infelizes, mas de aplauso, incentivo e compreensão com todos os que
laboram conosco.
A revolta não fará morada em nosso âmago, pois que o entendimento
das Leis de Deus nos proporcionará recursos de vislumbrar a Justiça de
Deus.

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A preguiça e o comodismo cederão seus lugares ao dinamismo e à
perseverança, onde cada minuto disponível será uma mensagem de
trabalho em favor do nosso adiantamento moral.
O egoísmo e o orgulho, essas chagas que agridem a humanidade,
desaparecerão, possibilitando a chegada do amor verdadeiro que unirá
todos os homens, destruindo as barreiras religiosas, de raça, de cor e de
posição social.
Assim, quando o Evangelho de Jesus deixar de ser teoria, letra, e se
transformar em vivência prática, muito mais do que oferendas materiais,
estaremos ofertando ao mundo o nosso coração, bem como os nossos
sentimentos sublimados e nobres.
Então, com urgência, devemos observar atentamente o nosso íntimo,
procurando detectar o conteúdo daquilo que estamos divulgando, para
identificar nosso estado evolutivo.
Mas, se ainda, em nosso âmago existir lugar para a inveja, o ciúme, o
rancor, a mágoa, a fofoca, a violência, ou qualquer sentimento inferior, é
sinal de que apenas seguramos o Evangelho do Cristo nas mãos, mas
ainda não conseguimos aprender as suas inequívocas e notáveis lições.

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33

Ajudar aos que não querem ajuda

“Os sãos não têm necessidade de médico, mas os doentes.” (Jesus -


Mateus, Cap. IX, V. 10.)

Objetivando socorrer os necessitados, Dr. Alcides, médico atencioso,


estava sempre de coração aberto, procurando servir quem o procurava.
Naquela tarde, dele se aproximou um homem de semblante abatido,
corpo debilitado, expondo seu drama. Há tempo não encontrava um
trabalho. A família numerosa estava sempre a lhe rogar mais recursos:
alimentação, vestuário, aluguel, contas variadas... E nada de salário no
final de cada mês.
Precisava de um emprego, de uma ocupação que lhe assegurasse o
sustento devido.
Dr. Alcides, sem mais delongas, saiu à procura de uma ocupação
profissional para o Souza. Tarefa difícil, pois com frequência ia ouvindo:
não temos vagas, estamos dispensando gente, a situação não é boa, mal
mantemos nossos empregados. E, assim por diante.
Destemido e confiante seguiu um pouco mais, encontrando a
sensibilidade de um amigo seu, empresário, que mesmo com o quadro de
pessoal já completo, por caridade e em consideração a quem pedia,
resolveu acolher em sua empresa o homem desempregado.
Ficou combinado que no dia seguinte o Souza se apresentaria para
trabalhar. Eufórico, Dr. Alcides comunicou a novidade ao pretendente do
emprego – que afirmou categoricamente estar na empresa conforme o
entendido.
No outro dia, na parte da tarde, o empresário telefonou ao Dr. Alcides
informando que o Souza não havia aparecido para trabalhar. Surpreso,
dirigiu-se à casa daquele homem.
“- Souza, você não foi trabalhar?
- Sabe doutor, estava chovendo muito e a empresa fica longe de
casa. Olha, amanhã sem falta eu vou.”

Dr. Alcides retornou às suas atividades na certeza de que no dia


seguinte Souza iria ao trabalho.

73
Na tarde do outro dia, novamente o empresário generoso informou
que o Souza não comparecera ao trabalho. Dr. Alcides, indignado, foi ao
encontro do desempregado.
“- Dr. Alcides, hoje o sol está muito quente e, também, trabalhar
amassando concreto é um serviço muito duro...”
Cabisbaixo, o médico atencioso procurou o seu amigo empresário para
se desculpar ante o inesperado.
“- Agradeço muito por ter aberto as portas de sua empresa para o
Souza, mas, infelizmente, ele não correspondeu. Na verdade, não adianta
ajudar a quem não quer ser ajudado.
- Adianta, sim, Dr. Alcides, pois aqueles que desejam ser ajudados,
por si mesmos, já abrem muitas portas. Nós temos que insistir em ajudar
realmente a quem não quer ser ajudado, pois é preciso despertá-los para
o dinamismo da vida.”

Ficamos a refletir na grande sabedoria do empresário. Sem dúvida,


precisamos insistir em ajudar quem ainda não despertou para a realidade
da vida, pois os que já acordaram deram os primeiros passos na direção
de um futuro melhor.
Ante essa notável lição, compreendemos com mais convicção os
valiosos ensinamentos de Jesus: “Os sãos não têm necessidade de
médico, mas os doentes”.

74
34

O bem está ao alcance de todos

“E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que
importavam um real. E, convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade
vos digo que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros que
deitaram no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham na
sua abundância; porém esta deitou da sua mesma indulgência tudo o que
tinha, e tudo o que lhe restava para seu sustento.” (Marcos, XII: 41-44).

É um grande equívoco acreditar que temos necessidade de recursos


financeiros e materiais para a feitura do bem, como também é um grande
engano pensar que para desenvolvermos a solidariedade se tornam
indispensáveis as posturas de fama, prestígio, influência social e poder.
A fraternidade é um notável sentimento que reside na mente das
criaturas virtuosas, e que tem o seu tempero definido na intimidade dos
corações altruístas que conseguem amar, respeitar e se sensibilizar por
todos os irmãos de jornada, distribuindo bondade, indistintamente.
O bem não é medido pelo tamanho ou influência da ação que se
pratica, mas sim pelo resultado positivo que produz. Pequenos ou grandes
gestos de solidariedade contribuem da mesma forma para a implantação
da paz e da felicidade entre os homens.
Ricos e pobres, fortes e fracos, poderosos e humildes, famosos e
desconhecidos, todos somos convidados pela Providência Divina a fazer o
máximo de bem possível, pois que nenhuma criatura em sã consciência e
total lucidez de raciocínio desejará viver fora dos princípios da verdadeira
fraternidade.
Dessa forma, não será nada difícil compreender que todas as nossas
ações, atitudes e comportamentos deverão ter como meta a concretização
do bem geral.
Quotidianamente, ao nosso redor, surge uma quantidade imensa de
valiosas oportunidades de sermos úteis, de semear gentilezas,
compreensão, tolerância, respeito, paciência e ternura.
Crianças carentes estendem suas mãos, no silêncio, implorando
carinho e atenção que sirvam de estímulos para suas jornadas iniciantes.
Adolescentes e jovens, ante seus momentos de conflitos e indecisões,
próprios da idade, esperam pelos exemplos de dignidade que precisam
nascer das atitudes conscientes e maduras dos adultos.
75
Pais desesperados ante a carência material em que vivem, por não
conseguirem atender convenientemente às necessidades dos filhinhos,
acreditam na sensibilidade daqueles que podem ajudá-los a superar os
momentos tormentosos.
Idosos desprovidos de um lar que possa abrigá-los convenientemente,
no estágio avançado de suas vidas, anseiam por corações amigos que
venham em suas direções para diminuir suas incertezas e padecimentos.
Doentes sem recursos financeiros, acomodados em leitos de dor,
experimentam atrozes desventuras, na ânsia de receber o amparo
daqueles que conseguem entender os seus dramas íntimos.
Desventurados de toda ordem enxameiam o meio social em que
mourejamos, esperando que o sol da bondade venha aquecer-lhes os
corações machucados, apontando-lhes novos caminhos de esperança e
realizações.
Como vemos, a necessidade do bem surge em todos os quadrantes da
nossa vida social, e, obviamente, jamais podemos pensar em manter os
nossos braços cruzados. É indispensável agir com urgência.
Saiamos, portanto, do nosso casulo e nos empenhemos em ajudar a
construir uma sociedade mais justa, fraterna e humana, não importando
em que posição estamos, vivendo no âmbito da fraternidade e da
solidariedade – virtudes que conseguirão, no tempo, implantar o reino de
paz e a felicidade no coração dos homens.
Reflitamos...

76
35

A constante proteção divina

“Nunca te deixarei, nem te desampararei.” (Paulo, Hebreus, 13:5.)

Vivemos num mundo de expiações e provas, onde o mal ainda é maior


que o bem. Isso, obviamente, não é novidade para ninguém, no entanto,
não podemos nos esquecer de que cada criatura está no estágio evolutivo
que construiu, contando sempre com a constante proteção divina.
Quando Paulo de Tarso sentenciou: “Nunca te deixarei, nem te
desampararei”, estava informando que os recursos e mecanismos
necessários para a nossa prosperidade espiritual sempre estiveram e estão
à nossa inteira disposição. Utilizá-los com mais ou menos intensidade
sempre foi uma deliberação exclusivamente nossa, dentro do livre-arbítrio
de cada um.
Sendo criados por Deus, na simplicidade e na ignorância, mas com
destino à perfeição, sempre tivemos a estrada aberta à nossa frente
esperando pela nossa vontade e esforço em trilhá-la na direção da
felicidade que nos aguarda mais adiante.
Somos hoje o que fizemos de nós ao longo do tempo, mas temos
plenas condições de ser melhores se desejarmos. Então, por certo, dentro
da lógica divina, cada um receberá de acordo com as suas obras, no
contexto fiel da lei do mérito.
O teor dos sábios e oportunos ensinamentos evangélicos nos aponta
para uma vida atrelada aos preceitos morais, onde todas as metas e
propostas humanas devam se dirigir para a edificação do bem-estar dos
homens, pois Jesus Cristo, o modelo e guia da humanidade, ensinou que
devemos “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos”. (Marcos, 12:33). Qualquer outra direção que deliberarmos
seguir será, sem dúvida, a contramão do bom senso.
E, diante do quadro aflitivo e desolador em que está mergulhada a
humanidade, não é difícil compreender que ainda não entendemos a
verdadeira mensagem cristã, mesmo estando ela clara e evidente diante
dos nossos olhos e raciocínios.
O egoísmo e o orgulho continuam sendo nossos companheiros no
quotidiano, quando nos achamos no direito de ter mais que os outros e
ser melhores do que aqueles que caminham conosco. Estas terríveis e
nefastas chagas, que enraizaram nos corações humanos, têm impedido
77
que vejamos no próximo um irmão de jornada que também tem sonhos e
aspira pela paz.
E não conseguindo ainda, ou não querendo plantar a alegria e a
felicidade nos corações alheios, pela lei de causa e efeito, também não
temos tais benesses em nossos corações, daí, portanto, decorrer o nosso
sofrimento e as nossas decepções.
“Ama o teu próximo como a ti mesmo”, por que não amamos? “Faça
ao seu irmão o que deseja para você mesmo”, por que, então, não
fazemos? “Perdoe não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”, por que
não perdoamos? “Se baterem de um lado da sua face, ofereça também a
outra”, por que não oferecemos? “Se pedirem sua capa, dê também sua
túnica”, por que não damos? “Se alguém te pedir que caminhes mil passos
com ele, caminha dois mil”, por que não caminhamos? “Se alguém quer
ser o primeiro, seja o último de todos e o servidor de todos” por que não
somos?
A chave que tem plenas condições de abrir a porta para que
encontremos o equilíbrio, serenidade e estabilidade moral está nas mãos
de Jesus. Procurá-la em outras direções será retardar o nosso progresso
espiritual e adiar o momento do nosso triunfo sobre a inferioridade que
ainda nos domina.
Não existem culpados pelo que ainda somos. Ninguém tem o poder de
impedir a nossa ascensão espiritual. Tudo depende exclusivamente da
nossa perseverança e determinação em superar obstáculos e barreiras,
para seguir em busca dos nossos ideais de progresso e prosperidade.
A providência divina está à nossa inteira disposição, com todo o seu
cabedal de dispositivos. Usá-la com mais ou menos proveito é atribuição
própria de cada um.
Reflitamos...

78
36

Os valorosos benefícios da doação

“A vida não reclama o teu sacrifício integral, em favor dos outros, mas, a
benefício de ti mesmo, não desdenhes fazer alguma coisa na extensão da
felicidade comum.” (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, psicografia de Francisco
C. Xavier, item 28.)

Fazer uma doação é quando nos dispomos de alguma coisa, de um


bem material, e o entregamos de forma definitiva a alguém que tem
necessidade dele.
Já o doar-se é o gesto de nos doarmos, isto é, de oferecer o nosso
tempo, trabalho, ideal, alegria, esperança, em favor de uma causa nobre
ou de pessoas carentes que caminham conosco, pois, como afirma o
Espírito Emmanuel, devemos praticar a caridade do suor.
Em ambas as situações, os maiores beneficiados somos nós mesmos,
pois que dentro da lei de ação e reação ou de causa e efeito, colheremos
sempre os reflexos decorrentes das ações praticadas.
Dentro do sábio contexto desta lei da natureza, a criatura que
encontra disposição para servir será sempre servida. Quem ama é amado,
quem socorre é socorrido, quem protege é protegido, quem aplaude é
aplaudido, quem é educado recebe educação, quem respeita é respeitado,
quem abençoa é abençoado. Da mesma forma, e, pela mesma lei, quem
agride é agredido, quem calunia é caluniado, quem maltrata é maltratado,
quem ofende é ofendido, enfim, quem pratica o mal recebe a maldade.
Paulo de Tarso, o fiel e dedicado divulgador das imprescindíveis lições de
Jesus Cristo, afirmou: “cada um colherá aquilo que tiver semeado” (Paulo,
Gálatas, 6, 8).
Sabendo disso, age com prudência e bom senso aquele que vive e
pratica o bem e, por certo, atua com pouca inteligência a criatura que
ainda descuida e vivencia o mal.
Como as justas e sábias leis de Deus nos concedem o livre-arbítrio,
obviamente, cada um tem o direito e a liberdade de seguir os seus dias
pela vida da forma que melhor lhe aprouver. Somos livres para escolher,
mas, fatalmente, colheremos as consequências naturais das escolhas
feitas.
Sendo assim, melhor e mais acertado será refletir demoradamente na
qualidade das ações que estamos deliberando no quotidiano, pois que
79
somos os construtores de nossa paz e felicidade, ou os artífices de nossos
sofrimentos e decepções.
Fazendo doações ou nos doando, estaremos construindo a pilastra
forte que sustentará a base da prosperidade espiritual que nos permitirá
deixar o mundo íntimo das imperfeições e defeitos que ainda nos mantêm
em estado de inferioridade moral, para permitir o nosso acesso às regiões
evolutivas de maior graduação, onde lograremos usufruir mais serenidade
e conforto.
Evidentemente, os tempos estão chegados para que despertemos a
consciência e percebamos que, até o momento, diante de tantas dores e
sofrimentos, decepções e amarguras, caminhamos na contramão da lógica
e da razão. Importa, então, mudar o rumo da nossa vida, direcionando as
nossas metas e objetivos para uma existência mais espiritualizada e
menos material.
Ao nosso redor, bem perto de nós, existe uma infinidade de
oportunidades e mecanismos que, se bem observados, poderão de
imediato nos assegurar amplas possibilidades para a mudança da direção
que temos seguido até agora.
E como a proposta das leis divinas é promover a felicidade e o bem-
estar das criaturas, procuremos atuar, decididamente, de forma a
contribuir para que tal empreitada seja atingida.
Existem crianças pobres precisando de recursos de sobrevivência,
mães desesperadas pela escassez de alimento no lar, chefes de família
desempregados, jovens trilhando por vielas sombrias e perigosas, casais
vivendo em conflitos, lares desestruturados, criaturas chafurdadas nos
vícios, doentes implorando socorro, depressivos de mãos estendidas,
criminosos arrependidos esperando novas oportunidades, desesperados e
desiludidos vivendo na indiferença e muito mais.
Ante o quadro visível de angústias e aflições que se descortina à nossa
frente, é preciso ter “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, para que
saibamos como fazer as nossas doações e nos doarmos também.
Meditemos...

80
37

Que mensagem estamos transmitindo?

“Quando plantares a alegria de viver nos corações que te cercam, em


breve as flores e os frutos da tua sementeira te enriquecerão o caminho.”
(Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, item 73, psicografia de Francisco C.
Xavier.)

Se temos a capacidade de observar os outros, vislumbrando a forma


como vivem, os hábitos que sustentam e os exemplos que divulgam com
suas ações, é obvio que os outros também retêm amplas possibilidades de
registrar a nossa rota existencial. Daí ser natural nos preocuparmos com o
tipo de mensagem que estamos transmitindo aos nossos irmãos de
caminhada.
Frequentemente imploramos por um mundo melhor, mais fraterno e
humano, idealizando o dia em que possamos viver num oásis de paz e
numa ilha de felicidade plena.
Sonhamos usufruir a harmonia e a serenidade no reduto abençoado da
família, onde cada membro da nossa afetividade se destaque como um
doador de esperanças e alegrias.
Imaginamos a convivência social despida do egoísmo e do orgulho, da
ganância e da sovinice, onde o afortunado possa socorrer o carente de
recursos financeiros, o saudável venha prestar auxílio ao doente, o forte
amparar o fraco e o mais dotado intelectualmente declinar atenções ao de
poucas possibilidades mentais.
Pensamos na sublimidade de desfrutarmos de uma ambiência repleta
de respeito e dignidade, honradez e altruísmo, com a valorização dos
sentimentos de gratidão e desprendimento, onde os seres humanos sejam
mais importantes e maiores que os valores puramente materiais.
Tudo isso idealizamos, sendo muito lógico, oportuno e natural esse
nosso desejo, no entanto. não podemos prescindir do questionamento:
Para que esse mundo imaginado se torne realidade, de que forma estamos
contribuindo? Que mensagem estamos transmitindo?
As pessoas que nos observam, no quotidiano, estão conseguindo
identificar algum valor real em nossas ações?
Conseguimos conviver pacificamente com o nosso próximo, cultivando
a educação e a fraternidade, o respeito e a compreensão?

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Já nos comovemos com as dores e aflições que torturam tantos
corações maternos diante da escassez de alimento e a fome angustiante
dos filhinhos?
Temos coragem de abrir mão de horas de lazer para nos dedicarmos a
trabalhos voluntários em prol de crianças, adolescentes e jovens que
necessitam de rumos seguros para suas vidas iniciantes?
Em nossos compromissos e afazeres profissionais, temos sido
honestos, leais e preocupados em não causar prejuízos a ninguém e nem
em levar vantagens descabidas?
No contexto da família, diante do cônjuge e dos filhos que a
Providência Divina nos confiou, conseguimos dimensionar o tamanho da
responsabilidade que pesa sobre nossos ombros, quanto à condução dos
rumos desta célula importante da sociedade?
É preciso refletir...
Pouco adiantará sonhar com um mundo melhor se no âmbito das
nossas ações não estivermos dando a nossa quota indispensável de
contribuição. Não basta que os outros façam o que é devido e necessário,
nós precisamos fazer também.
Então, antes de lamentarmos a atual estrutura social que nos acolhe,
melhor será analisar se ela não está assim por nossa culpa também.
Pensemos nisso...

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38

A fonte divina

“Nunca te deixarei e nem te desampararei.” (Paulo, Hebreus, 13:5)

Na vida, estamos situados na posição evolutiva decorrente dos nossos


esforços e empenho empreendidos ao longo dos quarenta mil anos
fazendo uso da razão, conforme nos informou André Luiz, no livro
“Libertação”, capítulo I, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Não somos melhores e ainda não conseguimos avançar mais na senda
do progresso espiritual por nossa própria deliberação. A Justiça Divina, no
contexto da sua imensurável fonte de amor, sempre se apresentou com
fartura de oportunidades em nosso favor, no entanto, o aproveitamento
das chances oferecidas sempre dependeu de nossa boa vontade e
interesse em fazer uso adequado do tempo.
Dessa forma, somos o que somos porque assim quisemos ser.
Verdadeiramente, somos herdeiros de nós mesmos, tendo o mérito pelas
conquistas efetuadas e a culpa pelos fracassos conhecidos. “E o meu Deus
suprirá todas as vossas necessidades...” (Paulo, Filipenses, 4:19).
Observemos uma fonte a jorrar água abundante e cristalina ficando à
disposição daqueles que têm sede. Se nos dirigirmos a ela conduzindo um
copo, não conseguiremos apanhar mais que um copo de água límpida. Se
levarmos uma jarra, carregaremos conosco um pouco mais de água e, se
nos apresentarmos levando um balde, teremos a oportunidade de reter
uma quantidade bem maior desse precioso líquido.
Obviamente, cada um colherá na fonte a quantidade de água
proporcional ao recipiente conduzido, embora ela continue a jorrar
abundantemente.
Assim também acontece com a Providência Divina, sempre a oferecer
uma quantidade imensa de recursos que permanecem à disposição de
todos nós. Dependendo do recipiente da nossa maturidade espiritual,
consciência evolutiva e vontade de avançar pela estrada do progresso,
poderemos aproveitar mais ou menos tais disponibilidades divinas.
Ainda não podemos olvidar que nada cairá do “céu” de forma gratuita,
mas que tudo, dentro das sábias e perfeitas leis de Deus, obedecerá às
leis do mérito. A cada um segundo as suas obras, conforme sentenciou
Jesus (Jesus, Mateus, 16.27), então, não resta qualquer dúvida: quem não

83
se esforçar, não se dedicar e não se interessar por dias melhores,
certamente, não os terá.
Então, descruzemos os braços e estendamos as mãos para a realização
do trabalho gratificante da semeadura, pois que, no tempo certo,
abarrotaremos o celeiro das nossas conquistas com os frutos saudáveis do
lavor empreendido.
Basta um olhar de observação ao nosso redor e logo identificaremos
inúmeras oportunidades para vivenciar as imprescindíveis lições de Jesus
Cristo: “Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a
tua alma e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti
mesmo”. (Jesus, Mateus, 22: 37)
Qualquer outro caminho que deliberarmos seguir, por certo, não nos
conduzirá a nenhum lugar seguro. Disso já temos uma quantidade imensa
de constatações, pois que ao longo desses anos todos temos trilhado
outras estradas e, até agora, o que encontramos foram dores, aflições,
decepções, amarguras e remorsos.
Paulo de Tarso, no âmbito da sua reconhecida sabedoria, nos advertiu
que será preciso e urgente que “matemos o homem velho que existe
dentro de nós, para que nasça o homem novo” (Paulo - Colossenses, 3).
Assim, informou o Apóstolo dos Gentios que não podemos adiar mais a
decisão de erradicar o egoísmo e o orgulho dos nossos corações,
substituindo-os pela fraternidade, solidariedade e o imenso amor pelo
próximo.
Não será difícil concluir, então, que, se desejamos uma vida de paz e
serenidade, não existe outro caminho que não seja o de plantar a
felicidade nos corações alheios.
A fonte divina continua a jorrar as águas cristalinas da sabedoria e do
amor. Apenas precisamos aumentar o recipiente do nosso interesse em
aproveitá-las.
Reflitamos...

84
39

Alfredo e a força de vontade

“A perseverança é a base da vitória. Não olvides que ceifarás, mais tarde,


em tua lavoura de amor e luz, mas só alcançarás a divina colheita se
caminhares para diante, entre o suor e a confiança, sem nunca desfaleceres.”
(Emmanuel, Livro “Fonte Viva”, item 124 – Psicografia de Francisco C. Xavier.)

Ávido por obter informações sobre espiritualidade e tomar contato com


as sábias e valiosas lições do Cristo, Alfredo deliberou procurar uma
instituição espírita que pudesse, pelas suas atividades no bem, satisfazer a
sua expectativa e curiosidade.
Logo nos primeiros dias, estando vinculado a grupos de estudos,
entendeu a necessidade de seguir além das letras e dos ensinamentos, na
realização de tarefas que pudessem se prestar a servir aos mais
necessitados, como bem ensinou e exemplificou Jesus.
Em contato com os companheiros mais antigos da instituição,
conheceu as atividades assistenciais que ali eram desenvolvidas no
socorro, dentro do possível, aos irmãos em penúria e em dificuldades.
Com detalhes, inteirou-se da “Campanha do Quilo” ou “Campanha
Auta de Souza”, como é conhecido popularmente esse trabalho, que trata
da distribuição de saquinhos nas residências por grupos de trabalhadores
das instituições, geralmente num sábado, ficando para a semana seguinte
a coleta dos alimentos que formarão as cestas básicas que serão
oferecidas às famílias carentes.
Percebeu que não poderia participar do grupo de voluntários que
realizam a “Campanha”, pois, sendo dono de um pequeno
empreendimento comercial, aos sábados de lá não poderia sair, pois que
as portas de seu estabelecimento precisavam permanecer abertas para a
obtenção de recursos financeiros necessários à manutenção de sua
numerosa família.
Mas desejava ardentemente cooperar para a diminuição das dores e do
sofrimento alheio.
Pensou, meditou, refletiu, buscou Jesus em preces, e, movido por uma
grande e decisiva força de vontade, encontrou a solução para também se
prestar a servir aos irmãos do caminho que experimentam sorte inferior à
sua.

85
Sob a coordenação da “Campanha do Quilo” da entidade onde milita,
apanha os saquinhos e, no final de seu expediente de trabalho, ou em
suas horas de descanso, procura os vizinhos, os moradores do seu
quarteirão, do bairro, e, uma vez por mês, faz a coleta dos gêneros
alimentícios que lhes são ofertados. Quando o grupo da citada
“Campanha” chega à instituição espírita para a formação das cestas
básicas, que são oferecidas às famílias em penúria, lá encontra o Alfredo
com o material coletado, ajudando a “engordar” a quantidade de
alimentos que são entregues aos necessitados.
Impedido por compromissos profissionais e obrigações familiares, não
conseguia estar junto ao grupo de trabalho, mas nem por isso deixava de
trabalhar em favor do próximo. A força do seu ideal e a perseverança no
bem fizeram com que superasse os obstáculos para poder servir em nome
do Cristo.
Tem profundo significado o adágio popular: “Querer é Poder”.
Realmente, quem quer com determinação e labora com convicção
suplanta todas as barreiras e vence todas as dificuldades, ainda mais
quando se coloca ao lado de Jesus para ajudar aos “pequeninos do
caminho”.

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40

Lembranças de nossos mortos

“Os Espíritos são sensíveis à saudade dos que os amavam na Terra? –


Muito mais do que podeis julgar. Essas lembranças aumentam-lhes a
felicidade, se não são felizes, e se são infelizes, servem-lhes de alívio.”
(Pergunta 320, de “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec.)

A morte, como é entendida pela maioria dos homens da Terra,


verdadeiramente não existe. Apenas o corpo termina, uma vez que as
suas forças orgânicas se extinguem, mas nós, em Espírito, somos eternos.
Deixamos a matéria física e seguimos nossa vida, rumo à eternidade.
Assim, a separação das pessoas que amamos e que nos amam, ao
deixarmos o corpo, é momentânea, breve, pois um dia novamente nos
reuniremos na Pátria Espiritual, onde desfrutaremos da vida em
abundância.
Os laços de amor, de simpatia e de afinidade não se rompem com a
desencarnação. Seguem conosco, pois que continuamos vivos, apenas
existindo em dimensões diferentes, mas muito vivos.
Dessa forma, a saudade que sentimos dos seres que partiram pelo
veículo da desencarnação, sem dúvida, pelos canais do pensamento chega
até eles. E da mesma forma eles também pensam em nós, vibram com as
nossas verdadeiras vitórias e podem sofrer com os nossos fracassos.
Então, ao recordarmos um ente querido que hoje mora na
espiritualidade, não o façamos com tristeza, lamentação e desespero. É
muito natural a saudade, mas podemos envolvê-lo com a certeza de que
caminha rumo ao futuro e que continua a trabalhar pelo seu progresso.
Nossos pensamentos de equilíbrio, fé e esperança chegam para eles
como bálsamos de consolo e incentivo para as lutas que travam. Quando
sentem que na Terra seguimos confiantes e determinados, na plena
convicção de que também vivem e progridem, eles se tranquilizam e
encontram melhores condições de crescimento espiritual.
Sabendo disso, será sempre interessante que evitemos recordá-los em
comportamentos e atitudes fúnebres, tétricas, cerimoniosas, como se
estivessem guardados em sepulcros ou isolados em cemitérios. Eles não
estão ali, onde jazem seus despojos. Já demandaram outras paragens e se
recolheram em abrigos espirituais próprios para cada um.

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Gostam imensamente de ser lembrados, mas de forma alegre, otimista
e equilibrada.
Assim sendo, cultivemos o hábito de orar por eles diariamente, quando
nos recolhemos para as nossas preces, enviando-lhes pensamentos de
esperança e certeza dos nossos reencontros futuros.
Procuremos recordar os seus exemplos de grandeza espiritual e
façamos o maior esforço para abafar os comportamentos infelizes que,
porventura, tiveram, para que não os façamos sofrer ainda mais com
aquilo que já os marcaram.
A flor que eles gostam de receber é a flor do sorriso e da compreensão
das Leis de Deus, sem revolta, sem desespero, sem lamentação, mas com
muita confiança no Pai Celestial que tudo faz pela nossa felicidade.
Portanto, para lembrar os nossos “mortos”, não serão necessários
locais determinados, gestos decorados, comportamentos ensaiados,
posicionamentos físicos tradicionais; não, nada disso, apenas o nosso
pensamento, a qualquer hora, em qualquer lugar, de preferência repleto
de amor e recheado do desejo de que sejam felizes onde estão.
Hoje ou amanhã, quando Deus o permitir, novamente estaremos com
eles, porque a morte, verdadeiramente, não existe.

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O significado da reencarnação

"Qual a finalidade da reencarnação? – Expiação, melhoramento


progressivo da humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?". (Questão 167,
de "O Livro dos Espíritos" - Allan Kardec.)

A reencarnação, isto é, o retorno do Espírito em um novo corpo para


mais uma existência na Terra, não se caracteriza como prerrogativa dos
espíritas ou daqueles que têm plena consciência das vidas sucessivas. É lei
inquestionável da Providência Divina e que açambarca todos os filhos de
Deus.
Criados que fomos, pelo Pai Celestial, simples e ignorantes, com a
proposta de alcançarmos a perfeição, vamos paulatinamente, mediante os
esforços que empreendemos e obviamente com a colaboração das leis
universais, atingindo os nossos objetivos.
Mas como atingir os píncaros do conhecimento, da bondade, do amor,
da humildade e de todas as qualidades indispensáveis ao sólido estado de
perfeição em uma só existência aqui neste planeta?
Obviamente, tal empreitada seria humanamente impossível. Daí o
sábio Código Divino ter instituído as reencarnações, que nada mais são do
que etapas de trabalho e aprendizado, a exemplo de um educandário que
ano a ano promove os seus educandos para as séries posteriores.
Em cada série o aluno se aperfeiçoa em determinadas matérias, assim
o Espírito, na sua longa jornada de progresso, em cada reencarnação se
aprimora em certos aspectos da sua vida.
Em realidade o processo reencarnatório tem duas nítidas metas:
oferecer ao Espírito reencarnante a possibilidade de viver novas e
oportunas experiências, e também vivenciar chances de redimir e reparar
os equívocos e erros do passado.
Numa reencarnação, zelosos, podemos aproveitar devidamente a
pauta de trabalho apresentada, avançando rumo ao progresso, como
também, descuidados, perder as oportunidades oferecidas, caindo na vala
sombria dos enganos e acarretando sérios prejuízos para a nossa
caminhada.
Sendo as leis de Deus de imenso amor e sábia justiça, jamais de
punições e castigos, outra vez se apresentam oferecendo novas

89
oportunidades para que refaçamos o nosso caminho e encetemos outras
direções para as nossas vidas.
Um pai amoroso, consciente e responsável, jamais fecha a porta do
arrependimento aos seus filhos e nem se compraz em vê-los sofrer, e, ao
invés de definir a sorte deles após alguns anos de enganos, se esmera em
estender as mãos aos rebentos desajustados, objetivando reerguê-los para
uma caminhada digna, honrada e feliz.
A reencarnação não é um castigo, mas sim um imenso campo de labor
e de estudos que, se aproveitado devidamente, abre notórias e
incalculáveis possibilidades de ascensão espiritual a todos nós que
sonhamos com a paz verdadeira e com a felicidade definitiva.
Portanto, não se trata de uma realidade para ser ou não ser
acreditada, mas sim de uma lei natural que, no contexto de uma lógica
nítida, esclarece as diferenças existentes entre as criaturas humanas.
Por que uns sofrem mais que outros? Por que uns são mais saudáveis
que outros? Por que uns vivem mais felizes que outros? Seria Deus
caprichoso e injusto? Se vivêssemos uma única existência na Terra e se a
nossa sorte fosse definida após esta existência, a conclusão, obviamente,
seria essa: um Deus parcial, indiferente e descuidado.
No entanto, tudo fica muito claro, muito evidente e totalmente
compreensível quando entendemos o processo reencarnatório, em que,
mediante sucessivas reencarnações, aos poucos vamos edificando a
estrutura da nossa perfeição. Então, escorados por essa insofismável
realidade, vemos um Deus de amor, de oportunidades, um Pai fraterno e
sumamente justo, permitindo que cada filho faça o seu próprio caminho,
sob o amparo de suas abençoadas mãos.
Reflitamos.

90
42

Carregar a nossa cruz

"Ele salvou a muitos e a si mesmo não pôde salvar." (Mateus, 27:42)

Observando, historicamente, a trajetória de Jesus pelo mundo, pela


ótica terrena, identificamos imenso fracasso do Mestre, pois que Ele
acabara condenado pelas autoridades da época à pena de morte, tendo
sido crucificado publicamente.
No entanto, afirmara o próprio Cristo: "Eu venci o mundo" (Jesus -
João, 16:33), deixando bem nítido que ele havia cumprido integralmente a
sua valiosa e indispensável missão: a de trazer o evangelho aos homens,
apresentando à humanidade um novo e promissor roteiro de vida, que, se
devidamente seguido, será capaz de assegurar a paz e a felicidade a cada
criatura.
Em realidade, somos Espíritos eternos e temos como proposta
definitiva: chegar à perfeição e, para tanto, o foco de nossas vitórias
deverá ser direcionado para as conquistas de valores morais íntimos, esses
que nos assegurarão maturidade espiritual e plena conscientização das
nossas reais finalidades na vida.
Muitos vencem no mundo, mas acabam derrotados espiritualmente.
Conhecem a glória, a fama, o prestígio, o poder, a fortuna no convívio
social em que se situam, mas, intimamente, carregam vulcões de
sofrimento e ardem em labaredas de torturas e confusões mentais, dentro
de um contexto de inenarráveis perturbações.
"Vencer no mundo" é bem diferente de "vencer o mundo". Na primeira
situação encontramos vitórias materiais, aqui na Terra, na segunda, nós as
temos espiritualmente. E como a nossa verdadeira vida é a espiritual, pois
que a permanência na Terra é curta e passageira, não temos dificuldades
em concluir para qual direção precisamos apontar o rumo de nossas
ações, procedimentos e atitudes.
Obviamente, ninguém está impedido de desfrutar uma vida material de
conforto e comodidade, tendo obtido recurso para isso com honestidade.
O equívoco se dá quando menosprezamos os valores espirituais, pois que
esses são definitivos, eternos, enquanto os materiais são efêmeros e
passageiros. Mas sempre que utilizamos os recursos da matéria dentro de
um contexto de equilíbrio, eles podem nos ajudar a progredir
espiritualmente.
91
Na vida tudo é uma questão de bom senso e maturidade. Com tantas
informações na atualidade, não podemos ignorar o que somos, de onde
viemos e para onde vamos. Somente tendo uma ampla consciência de
eternidade é que teremos plenas possibilidades de traçar metas e
objetivos que nos garantirão progresso e prosperidade reais.
Assim, no mínimo, utilizemos as mesmas forças, o mesmo ímpeto e os
mesmos interesses que declinamos às buscas materiais, também, às
conquistas espirituais, para que não nos mergulhemos mais tarde nas
águas turvas do arrependimento e do remorso.
Estudemos, com afinco e zelo, as ciências terrenas, buscando o
máximo de conhecimento nas escolas, livros e compêndios, mas não
olvidemos a necessidade de conhecer, detalhadamente, as ciências
espirituais, pois que somos compostos de duas naturezas: a física e a
espiritual, e o equilíbrio da nossa vida somente o alcançaremos,
integralmente, quando essas duas naturezas estiverem devidamente
ajustadas.
Sendo Jesus Cristo o modelo a ser seguido, aprendamos com ele a
também vencer o mundo, superando os defeitos que ainda insistem em
nos fazer infelizes e adquirindo as virtudes que nos elevarão a patamares
de bem-estar e tranquilidade.
Reflitamos...

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43

O despertar da consciência

“Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e o Cristo te


iluminará”. (Paulo, Efésios, 5:14)

Um dia, na espiritualidade, analisando o nosso passado, tomamos


ciência da quantidade de equívocos e tropeços cometidos ao longo do
tempo, e, vislumbrando as possibilidades de vivenciar a paz e a felicidade
no futuro, nos sentimos motivados a redimir tais enganos. Para tanto,
recorremos aos préstimos de valorosos benfeitores espirituais solicitando
novas oportunidades, mediante nosso retorno à Terra em novo processo
reencarnatório.
E aqui estamos com amplas condições de corrigir o que não fizemos
direito e com uma gama imensa de chances de realizar novas
experiências. Ao nosso redor, quotidianamente, pululam oportunidades de
toda ordem, a fim de que saiamos da condição inferior em que ainda
estamos, indo em busca de uma postura de maior elevação moral e
espiritual.
A família que nos acolhe se caracteriza como um vasto campo de
trabalho e de aprendizado, para que aprendamos a domar as nossas más
tendências e, ao mesmo tempo, ir desenvolvendo a paciência, a
compreensão e a fraternidade.
No âmbito do trabalho profissional que desenvolvemos, com muita
frequência convivemos com criaturas que não pensam como nós, o que
possibilita a nossa interação com as diferenças decorrentes do modo de
vida de cada uma delas, aprendendo a tolerar e a respeitar as pessoas
como elas são e não como gostaríamos que elas fossem.
E, dentro de todo esse contexto social em que mourejamos, aos
poucos vamos aprendendo que não existe uma única pessoa detentora de
plenas faculdades mentais e lucidez de raciocínio que não deseje ser feliz
e viver serenamente. Isso nos leva à conclusão de que todas as ações,
atos e procedimentos que desencadeamos deverão ter por meta e objetivo
o bem-estar daqueles que seguem conosco pela vida.
Da mesma forma que desejamos a paz, os outros também anseiam por
ela.
Então, é indispensável refletir se realmente fazemos uso da presente
reencarnação conforme planejamos um dia na espiritualidade, ou se,
93
porventura, debruçados em novos equívocos, fantasias e ilusões, não
estamos repetindo os erros de outrora e, com isso, perdendo mais uma
vez a oportunidade de prosperidade espiritual.
Nossa vida segue dentro dos padrões da dignidade, nobreza, honradez
e decência?
Temos feito todos os esforços possíveis para que em momento algum
causemos sofrimento e dor aos irmãos do caminho, conforme preceituam
as valiosas e indispensáveis lições de Jesus?
Nas refregas diárias combatemos, com força e vigor, o egoísmo e o
orgulho, que insistem em empanar o brilho da nossa existência e
escurecer nossas propostas de redenção e aprimoramento?
Nos momentos difíceis e angustiantes temos mantido o equilíbrio, a
perseverança e, acima de tudo, a fé na Providência Divina, que
disponibiliza imensos recursos e mecanismos para que avancemos
corajosamente na direção do progresso?
Não esqueçamos: um dia na espiritualidade, esperançosos, pedimos o
aval dos benfeitores amigos para retornar à vida física. E quando saímos
de lá tínhamos perfeitas informações de que nada seria fácil. Portanto,
agora, não valem o desânimo, o abatimento, a tristeza ou o
inconformismo.
Deus a ninguém desampara, e afirma Jesus que "batendo à porta ela
se abrirá". Assim, oportuno será meditar, maduramente, observando se
realmente estamos aproveitando a chance reencarnatória que temos em
mãos. Fomos nós que a pedimos.
Reflitamos...

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44

Aprender com Jesus Cristo

"Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a


humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a
doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei..." (Comentário
de Allan Kardec, na questão 625, de "O Livro dos Espíritos".)

A criatura humana, no contexto da sua intelectualidade e postura


social, sempre estará numa posição intermediária, em algumas situações
ensinando e em outras aprendendo. Imprescindível, então, que, ao buscar
conhecimentos, o faça tendo como referência modelos de dignidade,
honradez e sublimidade.
Na Terra, em realidade, o modelo seguro a ser seguido é, sem dúvida,
Jesus Cristo, que há mais de dois mil anos nos apresentou o Seu
Evangelho recheado de notáveis e imprescindíveis lições. Viver longe das
informações que Ele nos trouxe ou divergir delas será andar na contramão
da lógica.
Ao nascer numa modesta manjedoura, em Belém, Jesus chegou à
Terra portando a mensagem da humildade e da simplicidade, pois que
poderia, se desejasse, ter nascido na Grécia, que na época era o berço da
cultura mundial. Preferiu o ambiente bucólico e pacato da Palestina,
seguindo uma vida descomplicada e sem ostentações.
Suas lições foram apresentadas ao povo em ambientes livres, nas ruas,
na natureza, evidenciando a importância da essência dos ensinamentos e
não o local e a forma como eles eram informados, combatendo, assim, o
personalismo e a necessidade de templos suntuosos.
Esteve sempre em contato com as pessoas, no meio do povo,
deixando clara a lição da iniciativa e da boa vontade, saindo em socorro
dos necessitados sem esperar que eles O procurassem. Seus braços
abertos acolhiam os carentes de toda ordem, dispensando aparatos e
regalias.
Quando disse que era preciso "dar a César o que era de César e a
Deus o que era de Deus" (Jesus – Mateus, 22:21), lecionou a disciplina e a
obediência aos que o assediavam, evitando exaltar o povo em movimentos
de rebeldia e tumultos, proclamando com isso a serenidade e a paz.
No episódio da "multiplicação dos pães" (Jesus-João 6:1-14), para
alimentar a população faminta que o cercava, deixou nítida a lição da
95
responsabilidade pelo trabalho que Lhe competia, não delegando a
ninguém a tarefa que entendeu ser Sua, pois que os discípulos sugeriram,
na oportunidade, que o povo fosse dispensado para buscar alimento.
Dizendo a Pedro que era preciso "perdoar setenta vezes sete vezes"
(Jesus – Mateus, 18:22), falou da importância e do valor da fraternidade e
da tolerância, destacando um manual de boa convivência como base para
que as criaturas pudessem construir um ambiente de saúde mental e
física.
Quando destacou a lição "buscai e achareis" (Jesus – Mateus, VII: 7-
11), apresentou à humanidade a lei do esforço e da perseverança,
alavancas indispensáveis para a implantação do progresso e da
prosperidade entre os homens. Sem a força do trabalho no mundo, o caos
se instala.
Apresentando a necessidade do "vigiai e orai" (Jesus – Mateus, 26:41),
aconselhou os homens a cuidarem do pensamento, da área mental,
nascedouro das ideias que ao se concretizarem produzirão fatos e
acontecimentos que movimentarão a vida social do planeta. Dependendo
do teor e do conteúdo mental que criarmos, viveremos num mundo
equilibrado ou não.
Ao comentar que "quando dás esmola, não saiba tua mão esquerda o
que faz a direita" (Jesus - Mateus, 6:3), apresentou a caridade
desinteressada, desprendida, onde será preciso servir indistintamente,
socorrer sem exigir nada em troca e dar sem esperar receber, ou seja,
amar sem apresentar quaisquer condições.
Dizendo que os "sãos não precisam de médico" (Jesus – Mateus,
9:12), deixou bem claro que aqueles que nos procuram com as mãos
estendidas e corações dilacerados são aqueles que precisam de socorro e
atendimento, e a eles jamais podemos negar qualquer auxílio.
Portanto, se a lâmpada do esclarecimento e maturidade já espalha luz
em nosso âmago, e se já conseguimos, mesmo que seja um pouco,
entender as lições imorredouras de Jesus Cristo, O tomemos como modelo
e guia e saiamos a vivenciar, quotidianamente, suas notáveis e preciosas
lições, pois, à medida que difundimos a paz e a serenidade entre as
criaturas que nos rodeiam, também perpetuaremos essas virtudes em
nosso coração.
Qualquer caminho ou direção que seguirmos, distante de Jesus, será
andar na contramão da lógica. Pensemos nisso...

96
45

Maria Antônia e o valor da prece

“Pela prece, o homem chama para si o concurso dos bons Espíritos, que
vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo - Cap. XXVII – Item 11 – Allan Kardec.)

Maria Antônia sofria, há muito tempo, de terríveis dores de cabeça.


Havia percorrido médicos e hospitais buscando encontrar o tratamento
adequado para o mal que a afligia.
As dores eram tão intensas e frequentes que dificultavam a realização
das tarefas domésticas, pois as crises, via de regra, a prostravam ao leito
enquanto os serviços da casa aguardavam.
Naquele dia, a dor de cabeça estava insuportável. Doía tanto que se
refletia em todo o corpo. Recolhida na penumbra do seu quarto, não lhe
restava outra alternativa senão esperar, pois que nem sempre os
analgésicos devolviam-lhe a normalidade.
Maria Antônia, que registrava acentuada sensibilidade mediúnica,
começou a perceber que era envolvida por uma névoa esbranquiçada,
como uma fumaça clara e tênue que girava ao redor do seu corpo.
Curiosa, fixou-se no fenômeno, pois sabia que estava vendo o desenrolar
dos acontecimentos pela visão espiritual, e, surpresa, observou que a
branda névoa que penetrava o seu quarto perdia-se na distância.
Percebeu que a dor começava a ceder e um grande alívio a dominava,
confortando-a.
Fixou ainda mais sua observação no fenômeno que se desenrolava ao
seu redor e vislumbrou, ao longe, a figura de um homem recostado ao
tronco de uma árvore, desfrutando a plácida sombra do enorme vegetal,
enquanto repousava, cobrindo o rosto com um chapéu. Dele emanava a
bruma que a circundava, afastando-lhe, aos poucos, a imensa dor que
estava sentindo.
Não teve qualquer dúvida. Tratava-se do senhor José Francisco, amigo
de sua família, homem fraterno e solidário que, aproveitando o pequeno
repouso após o almoço, enquanto aguardava a reinício das tarefas na
lavoura, endereçava a ela uma prece, pois conhecia os padecimentos que
as dores de cabeça lhe proporcionavam.

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Decorridos mais alguns instantes, Maria Antônia nada mais sentia. A
dor terrível havia desaparecido e, disposta, retomava os afazeres do lar.
Em conversa com um amigo, relatou-lhe o acontecimento e este, na
primeira oportunidade, abordou o senhor José Francisco, de forma
discreta, sem mencionar o fato. Ficou sabendo que ele tinha o hábito de,
após o almoço, enquanto aguardava o retorno ao trabalho, endereçar
preces às pessoas que sofriam, carregando o coração de votos de melhora
e restabelecimento da saúde.

Se a prece com sinceridade foi capaz de aliviar uma forte dor de


cabeça, pode, sem dúvida, fazer muito mais.
Foi por isso que Jesus sentenciou: “Se tivésseis fé como um grão de
mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daqui para ali, e ela se
transportaria, e nada vos seria impossível” (Jesus - Lucas, 17:6).
A prece está à nossa disposição, como recurso de grande valor, apenas
ainda não descobrimos como fazer uso desse poderoso mecanismo,
acessível a todos a qualquer momento e em qualquer situação.
Meditemos.

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46

Dores ocultas

“Nas grandes calamidades, a caridade se manifesta, e veem-se generosos


impulsos para reparar os desastres; mas, ao lado desses desastres gerais, há
milhares de desastres particulares que passam despercebidos, de pessoas que
jazem sobre um catre sem se lamentarem.” (O Evangelho segundo o
Espiritismo – Cap. XIII – item 4 – Allan Kardec.)

Tornar realidade a vida de paz e tranquilidade que queremos é


trabalho para todos nós. No entanto, a criatura humana, acreditando estar
oferecendo a sua cota de contribuição para que o mundo melhore, se
arvora na condição de fazer julgamento da vida alheia. Nessa preocupação
enganosa, acaba deixando de fazer o que lhe compete para exigir que os
outros façam aquilo que lhe caberia realizar.
Quando tal situação passa a comandar os destinos humanos,
imediatamente se instala a confusão e a desordem. Em realidade, o que
estamos a presenciar, no momento, no seio da coletividade, é o produto
do comodismo e da inércia, uma vez que sempre queremos que os outros
trabalhem, enquanto, de braços cruzados, observamos de longe o quadro
social a derramar problemas e preocupações que acabam por nos atingir
também.
É preciso reagir quando a poltrona da inércia nos convida ao descanso
imerecido, em detrimento do serviço que nos aguarda a execução.
É preciso não aceitar a anestesia do comodismo que entorpece os
nossos sentimentos e impede que avancemos na existência, adquirindo
valores enobrecidos.
É preciso que evitemos a flor enganosa das ilusões, pois um dia suas
pétalas murcharão e os sonhos vazios e inatingíveis nos farão infelizes e
amargurados.
É preciso despistar, com energia e firmeza, a presença da palavra
desprovida de essência moral, uma vez que nos abre as portas largas para
as quedas espetaculosas e a falência da dignidade.
É preciso fugir dos apelos insistentes das viciações que abocanham
nossa saúde física e mental, além de roubar valiosas oportunidades de
servir a quem nos estende as mãos.

99
É preciso evitar que declinemos preocupações com assuntos que aos
outros pertencem, e lancemo-nos a verificar o que realmente devemos
fazer no bem, para a nossa ascensão espiritual.
É preciso observar que aos poucos, descuidados, vamos morrendo com
o peso do desânimo, enquanto vicejam ao nosso redor múltiplas
possibilidades de socorrer os que sofrem.
Saiamos sim, encorajados, a procurar pelos infortúnios ocultos e pelas
dores silenciosas que atrofiam corações e aniquilam aspirações, a fim de
que façamos a esperança brotar.
Lancemo-nos, sim, a espargir cultura e lições onde a ignorância faz
morada e ceifa oportunidades , grassando a tristeza aos irmãos do
caminho.
E nunca nos esqueçamos de que o infortúnio oculto se instala no
casebre, mas também lança seus tentáculos na mansão. Na choupana,
com mais frequência, denomina-se fome, nudez, doença, desemprego; já
na casa mais aquinhoada materialmente, é patenteado como desuniões
conjugais, dramas morais, toxicomanias, doenças incuráveis, ilusões e
outros. Mas, de qualquer modo, está sempre a requisitar providências.
Vejamos, então, como servir, objetivando que a luz da paz possa
dissipar a escuridão do sofrimento, clareando os caminhos dos homens
para que a felicidade envolva a todos.

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Nem tudo nos convém

“Todas as coisas são lícitas, mas nem tudo convém.” (Paulo, Coríntios,
Capítulo 10, Versículo 23.)

A sábia palavra evangélica, há séculos, vem advertindo e orientando a


humanidade quanto ao que é oportuno e valioso, informando, com
presteza, tudo aquilo que prejudica nossa caminhada em direção à
felicidade.
Paulo, o grande mensageiro da Boa Nova, sempre atento na defesa
dos reais interesses da vida, procurando manter os cristãos em alerta,
ensinou naquela época, e, por consequência, nos ensinou também, a
verificar se o que estamos fazendo é bom.
Isso, evidentemente, em razão do nosso progresso espiritual, pois que
na Terra, nesta existência, estamos vivendo apenas uma etapa da nossa
vida real, já que existíamos antes do nascimento físico e continuaremos a
viver depois da morte. Portanto, somos eternos, em Espírito, e não no
corpo material. Assim, as coisas do Espírito devem ter prioridade sobre as
do corpo perecível.
E a advertência: “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm”
merece de todos nós profundas reflexões.
Manter conversação no seio social em que vivemos é lícito, no entanto,
descambar para comentários levianos, críticas infundadas e falatórios
inoportunos não convém, pois que nos coloca na condição de fofoqueiros
ou maledicentes.
Fazer uso de bebidas alcoólicas é lícito para qualquer um, mas não
precisamos de grandes discursos para informar que isso não convém, pois
a ciência já demonstrou, por pesquisas de alto nível, as consequências
danosas do álcool no organismo, além da degradação moral.
É lícito à criatura humana usar fumo ou outros tóxicos, mas qualquer
pessoa de bom senso sabe, com relação à nossa saúde física e mental,
não convém manter tais viciações.
O sexo é lícito para qualquer ser humano, para a perpetuação da
espécie e o equilíbrio das energias, mas o abuso sexual e a sua utilização
de forma desequilibrada e imoral não convêm, pois com sentimentos não
se brinca sem graves prejuízos.

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Cruzar os braços ante o serviço por fazer é lícito, o que evidentemente
não nos convém, porque, por meio do trabalho, além da dignidade,
mantemos nossa vida na Terra sem pesar para a economia popular.
A alimentação que oferece ao corpo os elementos de sustentação é
lícita, mas a gula – ou abuso alimentar – não convém, uma vez que
sobrecarrega nossa máquina orgânica de atividades extras,
comprometendo seu funcionamento.
O descanso, para todos, é lícito, uma vez que restaura as nossas
forças orgânicas e mentais, mas o excesso de horas ociosas não convém
porque temos tarefas importantes a realizar visando ao nosso crescimento
espiritual, como: visitar um doente, socorrer um necessitado, amparar
uma criança e muito mais.
Assim, é imperioso analisar o que realmente é lícito e aquilo que
convém, uma vez que nossa vida por aqui é apenas uma etapa da vida
total.

102
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Seria interessante ter o futuro revelado?

"O futuro pode ser revelado ao homem? – Em princípio, o futuro lhe é


oculto e só em casos raros e excepcionais Deus lhe permite a sua revelação."
(Questão 868, de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec.)

Vivendo aqui na Terra, no atual estádio evolutivo em que nos


encontramos, não é nada fácil administrar o presente, com toda a sua
complexidade. Imaginemos ter ainda o acréscimo de revelações do que
nos ocorrerá nos dias do futuro? Por certo, seria uma sobrecarga de
emoções, expectativas e ansiedades que pesariam sobre os nossos
ombros, com sérias e preocupantes consequências para a nossa vida
mental.
Por isso as sábias e prudentes leis divinas nos posicionam os limites da
vida presente, permitindo, somente em casos raríssimos, que o véu do
futuro seja levantado.
Tendo essa consciência, será inútil, ou mesmo pouco proveitosa,
qualquer tentativa de vislumbrar o que nos espera no porvir. Mais sensato
e lógico é viver bem cada oportunidade que Deus nos concede hoje.
Assim, desaconselhável será procurar por quem possa nos informar sobre
o amanhã. Primeiro, pela inutilidade dessas possíveis informações,
segundo, pelo risco que se corre de se ser enganado por criaturas
desprovidas de honestidade, ou mesmo por ignorância.
E temos tanto o que fazer no presente, em busca do atendimento aos
nossos deveres e compromissos da reencarnação em curso, que, se
realmente aproveitarmos o manancial de recursos que a Providência
Divina disponibiliza em nosso favor, não restará tempo para divagações ou
procura por aquilo que se realizará em outras oportunidades.
Sabemos, com plena clareza, mediante as abundantes informações
que nos são passadas pelos Espíritos benfeitores, que colhemos hoje os
frutos das sementes que plantamos ontem, e isso nos leva a concluir que
ceifaremos amanhã de acordo com a semeadura de hoje. Assim, vivendo
no bem e cultivando sempre o bem, não teremos qualquer dúvida de que
o futuro será bom.
Melhor, então, e bem mais racional, é que cuidemos devidamente do
presente, dando atenções e declinando responsabilidades com os nossos
deveres de agora, que não são poucos.
103
Se conhecêssemos o futuro, por certo negligenciaríamos o presente,
com prejuízos incalculáveis. Não teríamos a mesma liberdade e a iniciativa
de agora, pois que seríamos dominados pelas emoções do que iria ou não
acontecer.
Nada sabendo sobre os dias do futuro, seguimos a nossa vida no
presente dentro da normalidade, empreendendo esforços e laborando
firmemente em busca do nosso crescimento espiritual.
Melhor será, então, que utilizemos o nosso tempo, e o nosso desejo de
saber o que nos está reservado para o tempo que ainda não chegou, em
atividades e realizações no momento, executando o programa de trabalho
e aprimoramento que traçamos.
Estudemos mais, trabalhemos mais, sirvamos mais, amemos mais...
Ao nosso redor pululam oportunidades para que ajudemos a construir
um mundo melhor, partindo da melhoria de nós mesmos.
E, se não é conveniente que tenhamos o nosso futuro revelado, será
conveniente que nos ocupemos no presente com total interesse e
dedicação ao próximo. Dessa forma, contribuímos decididamente para que
o futuro de todos seja, no momento certo, uma realização plena de
serenidade e paz.
A vida de hoje tem sua base no passado e, da forma que conduzirmos
a nossa existência agora, estaremos projetando o futuro. Vivamos, então,
de tal maneira dentro dos preceitos evangélicos que, mesmo sem ter o
nosso futuro revelado, saibamos que ele, pela lei de causa e efeito, ação e
reação, será repleto de alegrias e infindáveis realizações.
Reflitamos...

104
49

Jesus Cristo: o modelo a ser seguido

“Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de
guia e modelo? – Vede Jesus. (Questão 625, de "O Livro dos Espíritos", de
Allan Kardec.)

Sendo Jesus Cristo o guia e o modelo a ser seguido por nós, o que
estamos esperando para agir desta forma? Tudo o que deliberarmos fazer
de diferente dessa valiosa observação, por certo, nos colocará na
contramão da lógica e da razão, e, por consequência, nos trará o reflexo
da desobediência e da indisciplina em forma de reveses, dores e
decepções.
Obviamente, a escolha será sempre nossa, pois que o livre-arbítrio é
uma Lei Divina, onde cada qual vive de conformidade com o que pensa,
mas o bom senso nos recomenda observar a maneira como decidimos a
nossa jornada terrena, pois que ninguém, em sã consciência e perfeita
lucidez de raciocínio, deseja sofrer.
Contrariar as profundas e sábias lições de Jesus é, incontestavelmente,
uma forma de semear espinhos que nos proporcionarão colheitas fartas de
arranhões e ferimentos.
Sugere o Mestre, objetivando a construção de uma saudável vida
social, que aprendamos a compreender as pessoas como elas são,
despidos de egoísmo, preconceito ou exclusividades, pois que, de nossa
parte, também temos necessidade de que nos entendam como somos.
Orienta que, diante de conflitos, rusgas ou pugnas, façamos uso do
perdão e da tolerância, pois que dificilmente, no estágio em que vivemos,
conseguiremos nos relacionar com os outros sem causar algum tipo de
mágoa, ressentimento ou coisa que valha.
Pede que estendamos as mãos àqueles que seguem vivendo em
situação de penúria, aliviando-lhes os padecimentos e torturas, pois
nenhum de nós sabe como será o nosso dia amanhã.
Informa que devemos amar ao nosso próximo como a nós mesmos,
assim ensinando que os mais fortes precisam amparar os mais fracos, os
mais poderosos socorrer os menos influentes, e os mais ricos não ignorar
aqueles que vivem na pobreza.

105
Propõe que a mão esquerda não saiba o que faz a direita, ministrando
as lições da humildade e da simplicidade, e, ao mesmo tempo,
condenando o orgulho, que nos faz pensar ser melhores que os outros.
Anuncia que quem socorrer os "pequeninos" de toda ordem é a Ele
mesmo que está a servir, pois que a Sua maior alegria é ver o bem sendo
espalhado em todas as direções e o mal sufocado pelos nossos esforços.
Ampara Maria Madalena, a jovem que se prostituía; conversa com
Nicodemos, o orgulhoso doutor da lei; e hospeda-se na casa de Zaqueu, o
cobrador de impostos, tido como de má vida, sem apresentar nenhuma
censura ou reprimenda, acolhendo-os com carinho e ternura, propiciando
a transformação deles, no tempo, sem qualquer acusação ou violência.
Diante da multidão faminta de esclarecimentos e gêneros alimentícios,
falou da Boa Nova, mas não se esquivou do dever de alimentá-la também,
multiplicando pães e peixes, socorrendo conjuntamente o coração e o
estômago.
Dependurado injustamente numa cruz, vítima da incompreensão e da
ignorância humana, ainda teve forças para rogar a Deus que perdoasse a
humanidade, pois que, em suma, não tinha ela noção do que estava
fazendo.
Como podemos observar, nitidamente, nada é mais novo e moderno
do que as imprescindíveis lições de Jesus Cristo, que já são por demais
conhecidas, mas tão pouco praticadas.
Ou seguimos Jesus, o modelo e guia da humanidade, ou nos
preparamos para longas temporadas de dissabores e infortúnios. A escolha
é de cada um.
Meditemos.

106
50

Amor e sabedoria

"Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus
irmãos são os meus bem-amados." (Espírito da Verdade, em “O Evangelho
segundo o Espiritismo", item 6, capítulo VI.)

O amor é o sublime sentimento que está no topo de uma escada cujos


degraus são constituídos pela compreensão, companheirismo, paciência,
resignação, tolerância e fraternidade. Somente conseguirá vivenciá-lo, em
sua plenitude, quem tiver a coragem, a determinação e a sabedoria de
transpor cada degrau desta ascensão, tendo a consciência plena dos
compensadores esforços que deverá empreender.
O amor é dotado de essência divina, desenvolvendo e prosperando nos
corações daqueles que já entenderam que a vida vai muito além da sua
presença física na Terra.
É sábio quem já conseguiu compreender que a paz que sonha e a
felicidade que busca serão conquistadas a partir do momento em que se
predispuser a servir os irmãos do caminho. Plantando a alegria e a
esperança nos corações alheios, por reflexo, tais benesses florescerão
também no seu.
Em realidade, ninguém conseguirá viver satisfatoriamente no egoísmo
e no isolamento. Somos seres gregários e, como tal, jamais podemos
olvidar a necessidade da vida em sociedade, onde o que sabe mais precisa
ajudar o menos dotado intelectualmente, o mais forte deve amparar o
debilitado, o mais rico não pode esquecer os menos aquinhoados com
recursos materiais, e assim por diante.
O amor e a sabedoria, as duas asas que nos permitirão voar em
direção à evolução espiritual, meta proposta a todos nós pelas Leis
Divinas, necessitarão estar em equilíbrio. Pela sabedoria, teremos ampla
consciência dos nossos deveres e obrigações como filhos de Deus, perante
a família universal, e, pelo amor, entenderemos a urgente e imprescindível
razão de trabalharmos arduamente pela humanização social.
Se até o presente momento ainda não logramos viver, aqui na Terra,
no âmbito do clima de serenidade desejado, obviamente é porque
persistimos em seguir na contramão da lógica e do bom senso,
significando entender a nossa preferência em afrontar as orientações
107
claras que há muito tempo nos foram passadas por Jesus Cristo: "amai-
vos uns aos outros como eu vos amei" (João, 15:12).
Aquele que já consegue se sensibilizar pelos dramas e tormentos que
incendeiam a vida do próximo, e se propõe dentro do possível e mediante
suas possibilidades a prestar-lhe algum tipo de socorro, demonstra que a
sabedoria e o amor, mesmo que ainda em estado latente, moram nas
entranhas do seu coração.
E no mundo não existem palavras capazes de exprimir os valiosos
sentimentos do amor vivido e a serena sensação de paz que exala dos
corações altruístas e generosos. Somente quem ama consegue sentir, e
não há como transferir tal experiência. Cada um somente poderá conhecê-
la se aprender a amar.
Ao nosso redor, todos os dias, a Providência Divina nos coloca uma
gama enorme de possibilidades para que desenvolvamos a sabedoria e o
amor. Basta que observemos atentamente as circunstâncias que se
destacam.
Um filho solicitando atenção, um familiar carecendo de amparo, um
vizinho vivendo na solidão, um amigo passando por dificuldades
financeiras momentâneas, um desempregado implorando por trabalho,
uma mãe desesperada por não ter alimentação a oferecer aos filhinhos,
um jovem desorientado, uma criança sem lar, um idoso vivendo ao
relento, um estudante sem condições de arcar com as despesas da escola,
um adulto entregue a viciações tóxicas... O campo para que vivamos com
sabedoria e amor é vasto. Aproveitar as oportunidades deflagradas é uma
decisão que cabe a nós, somente.
Sabedoria e amor...
Reflitamos...

108
51

Não é saudável julgar o próximo

"Não julgueis, para não serdes julgados. Porque, com o juízo com que
julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, vós sereis
medidos." (Jesus – Mateus, 7:1 a 3)

Certamente, agiríamos bem melhor e com muito mais maturidade se


observássemos os nossos defeitos, com a firme proposta de eliminá-los,
ao invés de procurar pelas falhas alheias.
É conduta equivocada dos homens destacar as imperfeições que ainda
maculam as criaturas, quando sabemos perfeitamente que a maioria ainda
vive dando demonstrações de conduta em desacordo com os preceitos da
moralidade.
Em verdade, o que ganhamos ou quais benefícios somamos quando
julgamos o comportamento dos outros? Gostamos quando alguém faz
alguma crítica quanto ao nosso modo de vida?
Pela lógica e diante do bom senso, podemos identificar os
desequilíbrios que ferem os nossos irmãos de caminhada. Isso quando
carregamos o saudável propósito de ajudá-los, dentro do possível, sem
alarde.
De outra forma, bem mais útil será utilizar as forças que ostentamos
para sondar o nosso íntimo à procura dos pontos desajustados, tendo em
vista a urgente necessidade de saná-los. Somente alcançaremos a
perfeição a que estamos destinados, dentro das Leis Divinas, quando
superarmos as mazelas que nos prendem aos círculos inferiores da vida.
Então, aprendamos com Jesus, "que bem sabia o que existia no
homem" (Jesus - João, 2:25) e, mesmo assim, trabalhou arduamente para
a edificação de um mundo melhor a partir do incentivo à melhoria de cada
criatura.
O Cristo acolheu amorosamente Maria Madalena, a jovem que se
prostituía na época, apontando-lhe, com a Sua autoridade moral, um
novo roteiro de vida, que ela aceitou, dignificando o resto de sua
existência na Terra.
Não abandonou Pedro, mesmo depois de tê-Lo negado por três vezes,
depositando no valoroso discípulo a tarefa de ajudá-Lo na implantação do
Evangelho entre os homens.

109
Aceitou conversar com Nicodemos, o doutor da lei, nas sombras da
noite, porque aquela autoridade não queria ser vista por populares, em
contato com Jesus, temendo por sua reputação. Incentivou-o à renovação
e à tomada de nova postura diante das oportunidades da vida.
Hospedou-se na casa de Zaqueu, o publicano cobrador de impostos,
tido como homem de má vida, mesmo ante a incompreensão daqueles
que O seguiam. Despertou Zaqueu para a aquisição de valores nobres.
Como podemos observar, Jesus não julgava ninguém, apenas servia.
Identificava em cada criatura um imenso campo de trabalho e saía,
resoluto, a laborar.
Como cristãos que somos, tendo o Mestre como nosso guia e modelo,
o que estamos esperando para segui-LO? Obviamente, não poderemos
fazer como Ele fez, mas não estamos impedidos de realizar tarefas
menores, de conformidade com as nossas condições evolutivas.
Assim, ao invés de julgamentos, críticas ou observações vazias quanto
ao comportamento alheio, procuremos uma forma de contribuir para a
construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais humana,
tomando cada irmão nosso como alguém que também aspira pela paz e
pela felicidade, mesmo que no momento esteja ainda caminhando na
contramão do progresso moral, pois que amanhã tudo poderá ser bem
diferente.
Não julguemos os outros, julguemos a nós mesmos e procuremos,
com determinação e coragem, detectar nossas falhas, empreendendo
esforços e sacrifícios para saná-las.
Reflitamos...

110
52

Evitemos guardar mágoas e ressentimentos

"Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes


meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?
Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes
sete." (Jesus - Mateus, 18:21,22)

Mágoas e ressentimentos guardados em nosso âmago atuam como


ácidos corroendo a essência das nossas emoções, com graves
repercussões também em nossa constituição física.
A ciência médica já há muito detectou que os desequilíbrios
sentimentais que descuidadamente ainda carregamos, somatizados em
nossa constituição orgânica, são geradores de uma infinidade de
distúrbios, nem sempre de fácil solução.
Na base dessas doenças emocionais, quase sempre estão: a raiva, o
ódio, a irritação, o inconformismo, a mágoa e o ressentimento – defeitos
que ainda possuímos e que precisam ser erradicados com urgência, se
desejarmos desfrutar de uma vida de equilíbrio e saúde.
Jesus Cristo, profundo conhecedor da natureza humana, desejando
nos orientar com segurança, apontou à humanidade o roteiro para uma
vida saudável quando ensinou a Pedro, simbolicamente, que será preciso
perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete, isto é, perdoar sempre,
infinitamente.
É por demais conhecida a complexidade das relações humanas. Somos
criaturas diferentes umas das outras. Segundo o Espírito André Luiz, no
livro “Libertação”, no capítulo I, psicografia de Francisco Cândido Xavier,
nós estamos usando a razão há quarenta mil anos.
No percurso desses milênios, tivemos a liberdade de decidir, deliberar,
escolher caminhos, com independência. Isto obviamente permitiu que
cada um de nós construísse o seu patrimônio de experiências, cada um à
sua maneira, daí as diferenças pessoais existentes.
Saber viver no contexto dessas diferenças, eis o grande desafio.
E como não existem criaturas iguais no Universo, com urgência,
precisamos saber compreender as pessoas como elas são, para que elas
também nos compreendam como somos. Quando conseguirmos tal
proeza, por certo teremos encontrado o caminho da serenidade.

111
Não será uma tarefa fácil, como não está sendo, mas é indispensável o
empreendimento de grandes cotas de esforços, sacrifícios e renúncias
pessoais, para que os sentimentos da mágoa, do ódio e outros,
definitivamente, desapareçam do nosso coração.
Sabendo disso, nos empenhemos ao máximo visando exercitar o
perdão, a compreensão e a tolerância para com aqueles que,
possivelmente, nos ofenderam ou nos causaram quaisquer aborrecimentos
ou venham a causar. Não vale a pena abrigar, no íntimo, tais sentimentos
pestilentos. Em realidade, os maiores prejudicados somos nós mesmos.
Se as criaturas com quem nos relacionamos, desavisadas, ainda
pactuam com a inferioridade, lançando dardos ferinos, isso é problema
exclusivamente delas. De nossa parte, façamos o contrário: emitamos
vibrações de equilíbrio e de serenidade, mesmo sabendo não ser nada
fácil, pois agindo assim, sem dúvida, neutralizaremos os raios
desequilibrados que poderiam nos atingir.
Como podemos concluir, ao ensinar o uso contínuo do perdão, Jesus
Cristo, dentro da sua imensa sabedoria, informou a todos nós, por
intermédio do apóstolo Pedro, a forma correta e eficaz da convivência
social, para que tenhamos uma vida saudável, tanto emocional como
fisicamente.
Portanto, perdoar não se trata tão somente de um apontamento
especulativo, religioso, moral, mas de um conselho profundo que assegura
o nosso bem-estar.
Reflitamos...

112
53

A guerra que cultivamos todos os dias

“A guerra desaparecerá um dia da face da Terra? – Sim, quando os


homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então, todos os
povos serão irmãos.” (Questão 743, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec.)

Equivocadamente, pensamos que a guerra se configura apenas em


conflitos bélicos entre as nações, onde os povos, fazendo uso de
armamento pesado e de alta tecnologia, se lançam uns contra os outros,
movidos por interesses de toda ordem, em verdadeiras carnificinas.
Sem dúvida, essa é uma guerra ostensiva que chama a atenção pela
agressividade exacerbada, pelos prejuízos visíveis e pelo sofrimento
profundo que causa às pessoas, mas outras formas de guerra existem que
provocam imensos malefícios à humanidade e que nem sempre são vistas
com indignação.
Guerreamos quando cultivamos no pensamento a ideia de ferir alguém
ou de prejudicar de alguma forma o semelhante, mesmo que não
materializemos o nosso desejo, pois que criamos ao nosso redor um
campo vibratório de natureza inferior, capaz de emitir energia pestilenta,
que tanto machuca nosso oponente quanto a nós mesmos.
Guerreamos quando atuamos em nossas atividades profissionais
fazendo terrorismo contra os nossos concorrentes, entendendo que o
sucesso deva ser somente nosso e que aos demais restam apenas
derrotas e fracassos.
Guerreamos quando agimos no meio social em que militamos como
peça destoante do equilíbrio e da sensatez, espalhando confusões, intrigas
e malquerenças, contribuindo para a formação de ambientes desajustados
e infelizes.
Guerreamos quando dentro do lar não sabemos conviver com os
demais familiares, semeando a discórdia, a agressividade, a falta de
educação, ou plantando o medo e a insegurança em nome do respeito.
Guerreamos quando não conseguimos identificar, no irmão de
caminhada, alguém que também deseja viver em paz e que segue sua
vida procurando pela felicidade.

113
Guerreamos quando alimentamos, descuidadamente, o egoísmo e o
orgulho em nosso coração, essas terríveis chagas que tantos males e
dissabores têm provocado em nosso meio social, fazendo correrem
imensos rios de lágrimas e nascerem enormes montanhas de dor no
contexto social em que vivemos.
Guerreamos quando acreditamos ser melhores e mais importantes que
os outros, e que somente os nossos direitos devam prevalecer, custe o
que custar.
Guerreamos quando entendemos que temos direitos a privilégios e
deferências especiais, a destaques e honrarias, pois que nesse momento
estaremos subindo em pedestais ilusórios, restando a outros a condição de
bajuladores ou admiradores.
Como podemos observar, a guerra é muito mais ampla e nefasta do
que aparenta.
Um avião de bombardeio, um míssil poderoso e um canhão de longo
alcance fazem verdadeiro arraso, destruindo, matando, mutilando,
liquidando com as esperanças de tantas criaturas. Mas ações de
desequilíbrio, insensatez, indiferença e descaso para com os semelhantes
também promovem tragédias de mesma intensidade no seio das
coletividades humanas.
Por certo, quando entendermos o que nos ensinam as valiosas e
inesquecíveis lições de Jesus Cristo, compreenderemos que somos filhos
do mesmo Pai Celestial e que todos nós carregamos na intimidade os
mesmos desejos de felicidade e vontade de desfrutar uma vida em paz, o
que somente alcançaremos quando “amarmos uns aos outros”,
trabalhando para que não existam guerras de espécie alguma.
Nesse dia, então, concluiremos que a nossa serenidade só será
possível quando todas as criaturas estiverem serenas.
Reflitamos...

114
54

A presença constante da proteção divina

“Qual a missão do Espírito protetor? – A de um pai para com os filhos:


conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos,
consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.”
(Questão 491, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Filhos de Deus como somos, e sendo o Pai Celestial extremamente


justo e bom, é natural e lógico que providenciaria todos os recursos,
possibilidades e instrumentos visando ao nosso progresso e prosperidade
espiritual.
Obviamente, ninguém está sozinho, mesmo que estejamos,
momentaneamente, caminhando na solidão pelas estradas difíceis da
Terra. Aos olhos do mundo físico podemos estar em abandono, mas,
definitivamente, ante os olhares abençoados de Deus, seguimos
observados atentamente, tendo ao nosso dispor, mediante nossos desejos
e esforços, todos os mecanismos capazes de nos assegurarem a
assistência de que necessitamos.
Toda criatura, indistintamente, recebe a proteção de um Espírito
protetor, que ombreia sua jornada na condição de um grande amigo e
auxiliar. Ele, certamente, não realizará o serviço que nos pertence, não
executará as nossas tarefas e nem nos desincumbirá das missões que nos
foram confiadas, mas estará sempre presente em nossas vidas, prestando
todo tipo de apoio, socorro e ajuda de que precisarmos.
Nisso vemos quanto a Providência Divina zela por cada um de nós, e
nos remete a refletir sobre a nossa importância no contexto humano em
que vivemos. Quase sempre, por descuido ou mesmo por descaso, não
conseguimos identificar nosso valor e influência no âmbito em que
mourejamos.
Daí concluirmos sobre a necessidade premente de valorizar a presente
existência aqui na Terra, dando destaque aos reais valores – aqueles que
nos fazem homens de bem, que nos aproximam da divindade, que nos
promovem a paz e a felicidade que tanto desejamos.
Tendo notícias dessa imensa consideração de Deus para com todos os
seus filhos, fica ainda mais evidente a necessidade que temos de conhecer
os nossos defeitos, pois eles nos mantêm ainda atrelados à imperfeição.
115
Busquemos eliminá-los, já que não podemos ignorar a urgente
necessidade de empreender grandes e incontáveis esforços na aquisição
de virtudes que nos elevem na direção da sublimidade.
Até por uma questão de gratidão e reconhecimento, não podemos
decepcionar o nosso Espírito protetor e muito menos a Deus, pelo zelo,
carinho e atenção que nos dedicam.
Portanto, ao invés de ficarmos, muitas vezes, lamentando os
acontecimentos da vida, procuremos a lógica e a razão de tudo e, de
imediato, encontraremos as mãos divinas estendidas em nossa direção.
Obviamente, se temos a liberdade para agir conforme a nossa
vontade, podemos também escolher aceitar ou não o socorro do nosso
Espírito protetor. Ele, na condição de um pai espiritual, orienta, ampara e
ajuda. Nós aceitamos, ou não.
Como podemos perfeitamente perceber, a Providência Divina nos
colocou no lugar certo, junto daqueles que precisam estar conosco, dotou-
nos de obrigações e responsabilidades que nos são importantes, apontou-
nos um roteiro de progresso e ainda nos presenteou com a proteção
constante desse amigo espiritual.
Assim, devidamente munidos e abastecidos com o ferramental
necessário, só nos resta seguir, firmes e determinados, rumo à evolução
espiritual que nos assegurará, no futuro, a serenidade que queremos.
Pensemos nisso...

116
55

Morre o corpo, prossegue a vida

“Em que se transforma a alma no instante da morte? – Volta a ser


Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos, que ela havia deixado
temporariamente.” (Questão 149, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Somos Espíritos eternos que, momentaneamente, possuímos um corpo


físico. Esse veículo carnal teve um começo quando reencarnamos aqui na
Terra e, obviamente, terá um fim quando deixarmos a presente existência
para voltar ao mundo espiritual, de onde partimos um dia carregando no
íntimo inúmeras propostas de progresso e aprimoramento.
O que a morte é capaz de fazer, pelas leis naturais da matéria, é ceifar
a vitalidade desse corpo físico que utilizamos, jamais tendo qualquer
atuação sobre a nossa vida, que é imortal e definitiva.
No momento em que tomarmos absoluta consciência dessa
incontestável realidade, por certo a humanidade caminhará sob a rota de
novas perspectivas e esperanças, pois que não mais viverá preocupada
com a brevidade da vida na Terra, uma vez que terá a eternidade diante
dos olhos.
A pressa, o apego exagerado à matéria, a ganância em desfrutar de
tudo rapidamente, a busca desesperada por posições de destaque, de
mando, de poder, de fama, e o medo da velhice, por certo, não terão o
mesmo peso de agora, haja vista a certeza de que os milênios nos
esperam e, dentro do tempo, lograremos realizar nossos sonhos e metas
com mais equilíbrio e serenidade.
E mais ajustados ainda seremos à medida que nos conscientizamos de
que somos absolutamente livres para viver como desejamos, construindo
com mais rapidez a nossa paz, ou ainda caminhando entre vacilações, no
contexto das nossas dores e angústias.
Somos, em realidade, hoje, o que fizemos de nós ao longo do tempo.
Aquele que se esforçou mais, que aproveitou mais as oportunidades que
teve, sob o comando das sábias lições da dignidade, honradez e
sublimidade, logrou encontrar um patamar de alegria e realizações. Quem
viveu na contramão desse caminho, naturalmente amarga as decepções e
os equívocos que, descuidadamente, cultivou.
Tendo a eternidade pela frente e a responsabilidade de construir a vida
que queremos desfrutar, será preciso apenas observar ao nosso redor e
117
fazer uso dos recursos e mecanismos que as sábias leis de Deus colocam à
nossa disposição, sem atropelos, ansiedades e precipitações.
Dentro da vida, na busca pela perfeição a que estamos destinados –
onde lograremos desfrutar a paz que sonhamos e a felicidade que
queremos –, ainda teremos muitos nascimentos e mortes físicas aqui na
Terra, nos vários e sucessivos processos reencarnatórios que nos
aguardam.
O importante é lembrar que ninguém poderá impedir a nossa escalada
de progresso e evolução espiritual. O código divino que rege as diretrizes
da humanidade dispõe de todos os recursos a nosso favor, bastando que
cada um faça uso desses mecanismos, conforme seus interesses.
Compreendendo, pela lógica e evidência da razão, que a morte do
corpo físico se caracteriza apenas como o encerramento de uma etapa de
trabalho na Terra, e que a vida prossegue pela eternidade afora, sem
dúvida viveremos com mais serenidade para edificar os dias do futuro.
Temos um corpo material que morre e uma vida espiritual imortal.
Reflitamos...

118
56

Como seremos recebidos no mundo espiritual?

“A alma, ao deixar os despojos materiais, vê imediatamente os parentes e


amigos que a precederam no mundo dos Espíritos? – Imediatamente, nem
sempre; pois, como já dissemos, é-lhe necessário algum tempo para
reconhecer o seu estado e sacudir o véu material.” (Questão 286, de “O Livro
dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

A desencarnação, ou a morte do corpo físico, obviamente gera uma


transformação em nossa vida, pois que deixamos a existência material
para adentrar o mundo imaterial, ou seja, saímos da Terra e seguimos
para o mundo dos Espíritos.
Como em qualquer outra situação, necessário se faz a devida
adequação à nova realidade. Mesmo na Terra, quando necessitamos
promover alguma mudança significativa em nossa vida, precisamos de um
certo tempo para a acomodação das alterações feitas.
Morrer para o mundo físico e renascer para a vida espiritual, na
sequência lógica da vida eterna, também requer um período de ajuste e
acertos, mesmo que a mudança seja apenas de estado vibratório, onde
continuamos alimentando nossos sonhos, ideais e metas de prosperidade
e progresso.
Lembremos que inúmeros parentes e amigos já deixaram este mundo
e eles também continuam vivos, seguindo a normalidade de suas vidas e,
como tinham afinidades conosco, certamente se preocupam em nos ajudar
na grande travessia, quando chegar o momento da nossa transição. Sem
dúvida, tudo farão para nos receber bem na nova morada. No entanto,
será preciso levar em consideração o fator merecimento, pois que nas
sábias e justas leis divinas não existem privilégios. Cada criatura terá de
volta o reflexo daquilo que fez.
Embora o amor e o carinho dos nossos entes amados, eles só poderão
fazer, por nós, o que deliberar a lei do merecimento, daí a importância em
se saber viver convenientemente aqui na Terra, conduzindo nossos dias
pelas infalíveis regras e orientações do Evangelho de Jesus.
Quanto mais conseguirmos exemplificar, no quotidiano, as notáveis e
necessárias lições do Cristo, mais agradável, aconchegante e calorosa será
a nossa recepção na vida espiritual. Ignorar a importância desses
ensinamentos e seguir na contramão do que é razoável, justo e
119
equilibrado. Será programar decepções, arrependimentos e remorsos para
os dias do futuro.
Sabendo disso, não basta traçar um roteiro de vida voltado somente
para a existência terrena, pois que ela é muito curta. Jamais poderemos
olvidar que os comportamentos, as ações e as atitudes desencadeadas
neste mundo repercutirão em nossa vida onde estivermos.
O bem ou o mal que realizamos hoje, sem sombra de dúvida, pela lei
de ação e reação, serão nossos companheiros de amanhã.
Portanto, não será difícil concluir, pelo que estamos fazendo agora,
qual deverá ser a nossa recepção no mundo espiritual quando formos
convidados a deixar a vida na Terra.
Mas, como ainda estamos por aqui, obviamente temos tempo. Se não
podemos voltar ao passado para fazer um novo começo, temos plenas
condições de modificar o nosso presente, dentro de princípios de
dignidade, honradez e sublimidade, projetando um futuro alvissareiro.
Que a vida não acaba com a morte do corpo, não resta dúvida alguma.
O que precisamos decidir é de que forma desejamos viver no mundo
espiritual: junto daqueles que amamos e que também nos amam, ou
relegados a situações desconfortáveis.
Ignorância não podemos alegar, pois que nunca recebemos tantos
esclarecimentos e informações como na atualidade. A decisão,
obviamente, é totalmente nossa.
Reflitamos...

120
57

Atributos de Deus

“Que é Deus? – Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as


coisas.” (Questão 01, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Não podendo ainda ter uma ideia completa sobre Deus, devido à nossa
pequena condição evolutiva. Resta-nos a possibilidade de perceber alguns
de seus inúmeros atributos, o que é o suficiente, no momento, para
compreendermos a justiça e o amor das leis universais.
Dentro do código divino, instituído pelo Pai Celestial, fica evidente que
não existe espaço para punições e castigos às criaturas, ante os erros
cometidos, mas, sim, sempre novas oportunidades de reparação, no
âmbito da justiça e do amor.
Sabendo que cada ação carrega consigo uma reação da mesma
natureza, não será difícil a conclusão de que colhemos a safra decorrente
das sementes que livremente plantamos. Boas sementes, colheitas
satisfatórias; sementes ruins, produção de má qualidade. Obviamente,
será preciso saber o que plantar.
Dessa forma, temos o mérito das conquistas edificantes e a
responsabilidade pelos fracassos verificados. Deus, dentro da sua
sabedoria, criou as estruturas do Universo para nos garantir plenas
condições de vida saudável. Viver no equilíbrio ou seguir pelas vielas dos
desajustes é, obviamente, um problema nosso.
“Deus é eterno. Se ele tivesse tido um começo, teria saído do nada,
ou, então, teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a
pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.
Deus é imutável. Se Ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que
regem o Universo não teriam estabilidade.
Deus é imaterial, quer dizer, sua natureza difere de tudo o que
chamamos matéria, pois, de outra forma, Ele não seria imutável, estando
sujeito às transformações da matéria.
Deus é único. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de
vistas nem de poder na organização do Universo.
Deus é todo-poderoso, porque é único. Se não tivesse o poder
soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto

121
Ele, e assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que Ele não tivesse
feito seriam obras de um outro deus.
Deus é soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis
divinas se revela nas menores como nas maiores coisas, e essa sabedoria
não nos permite duvidar da sua justiça e nem da sua bondade.” (Questão
13, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)
Em realidade, o pouco que conseguimos saber sobre Deus, nosso Pai
Celestial, basta para que tenhamos certeza absoluta de que tudo ao redor
conspira em nosso favor e nos dá plenas condições para efetuarmos o
progresso espiritual que nos está proposto.
Obviamente, se ainda seguimos as trilhas do mundo mergulhados em
ações e comportamentos que diferem do que nos ensina o Criador, a
deliberação é uma escolha nossa, proporcionando, é claro, os reveses e as
dores que, no momento, povoam o nosso âmago.
Caso queiramos dar outro rumo à vida, pautando nossos dias com
comportamentos de equilíbrio e bom senso, tomemos Jesus como modelo,
que junto de nós é, sem dúvida alguma, o legítimo representante de Deus
na Terra.
Embora toda a estrutura divina ao nosso inteiro dispor, cada um de
nós tem o livre-arbítrio para decidir como deseja viver, aceitando a lógica
e a evidência das lições evangélicas, ou ignorando-as.
Pelos atributos de Deus que conhecemos, por certo, quando um filho
Seu estiver cansado de andar sem rumo, carregado de decepções e
angústias, Ele estará de braços abertos para acolhê-lo, com renovadas
oportunidades de redenção e aprimoramento.
Reflitamos...

122
58

Ter fé é diferente de crer

“Hoje, não mais cogito de crer, pois sei.” (Humberto de Campos, no livro
“Boa Nova”, psicografia de Francisco Cândido Xavier.)

A fé é a absoluta confiança que depositamos em uma determinada


ideia e não se admite dúvidas. É ter a certeza de que tudo o que Deus faz
está certo. Já a crença é a ideia que formamos ou conhecimento que
temos sobre determinada situação que pode sofrer alteração.
Um dia a humanidade acreditou que a Terra era o centro do Universo,
que só existia o sistema solar, mas as novas descobertas da Astronomia
determinaram a mudança dessa crença.
No contexto dos relatos evangélicos podemos exemplificar o que
realmente é ter fé e o que é simplesmente crer.
No Evangelho de Lucas (XXII, 54-62), nos deparamos com a afirmativa
de Jesus a Pedro, dizendo que o discípulo o negaria três vezes antes que o
galo cantasse. E, realmente, o fato se confirmou, pois assim que Jesus foi
preso, em três oportunidades, naquela noite tenebrosa, criaturas
apontaram Pedro como seguidor do Cristo e, nas três vezes, o discípulo
afirmou que não o conhecia.
Pedro seguia Jesus, mas ainda não havia adquirido a fé para sacrificar-
se pelo Cristo. Mas tarde, sim, em outras oportunidades, deu plenas
provas da sua fé em Jesus.
Já em Atos, 9:1-6, encontramos a narrativa do episódio onde Saulo, o
doutor da lei, estando a caminho de Damasco, em perseguição aos
Cristãos, com ordem governamental, deparou-se com Jesus. Um clarão
imenso tirou-lhe a visão e o fez cair da sua montaria sobre a areia do
deserto, momento em que ouviu a voz do Mestre a lhe perguntar: “Saulo,
Saulo, por que me persegues?”.
Desse momento em diante não mais vacilou ou teve qualquer dúvida.
Orientado pelo Mestre, adentrou a cidade de Damasco em busca de
socorro, e, posteriormente, passou bom tempo no deserto meditando
sobre o acontecimento, lendo os pergaminhos que guardavam as lições de
Jesus.
Determinado e convicto, deixou sua vida de conforto e abundância e,
mesmo ante a incompreensão de amigos e familiares mais íntimos, passou

123
a seguir Jesus, divulgando os ensinamentos dele até o fim de seus dias na
Terra, em Roma, quando foi condenado à morte.
Pedro acreditava em Jesus, mas não tinha a verdadeira fé para
promover a total reformulação da sua vida, com base no que o Cristo
trazia consigo. Já Paulo foi bem diferente: não acreditava em Jesus, mas
teve fé o suficiente para tomar direção totalmente oposta àquela que
seguia, assim que teve a felicidade de se encontrar com o Cristo.
No livro “O Consolador”, Emmanuel, por intermédio da mediunidade de
Francisco Cândido Xavier, informa que crer diz respeito à crença, enquanto
a fé é inspiração divina. Diferentemente da simples crença, a fé desperta
todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem e, como
tal, é a base da regeneração”.
Ainda entre as narrativas dos apóstolos sobre a vida de Jesus,
encontramos em Mateus, 8:5-13, o relato sobre um Centurião de Roma
que procura pelo Mestre, buscando a cura para um dos seus soldados que
permanecia no quartel. Quando Jesus se propôs a visitar o doente, o
Centurião afirmou que não era preciso, pois que Jesus dali mesmo poderia
curá-lo. Então, Jesus o fez, dizendo: “nem mesmo em Israel encontrei
tamanha fé”.
Outro momento que se caracteriza nos Evangelhos, como
demonstração plena de fé, foi quando Jesus, cercado pela multidão, foi
tocado por uma mulher que sofria de uma hemorragia há mais de doze
anos, ficando, a partir daquele instante, totalmente curada. (Marcos, 5:25
a 34.) Obviamente que aquela senhora possuía muito mais que crença em
Jesus. Possuía fé.
Cabe, então, refletir se já conseguimos conquistar a fé ou se ainda
permanecemos apenas na crença.
Pensemos nisso.

124
59

O limite do necessário

“A Natureza não traçou o limite do necessário em nossa própria


organização? – Sim, mas o homem é insaciável. A Natureza traçou o limite de
suas necessidades na sua organização, mas os vícios alteraram a sua
constituição e criaram para ele necessidades artificiais.” (Questão 716, de “O
Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Por certo, nada será suficiente para aquele que acredita ser sempre
pouco o necessário.
A natureza, no contexto das suas sábias leis, definiu com acerto as
linhas do equilíbrio, e a inteligência humana tem plena capacidade de
discernir entre aquilo que é certo e o que não é devido. Resta, portanto,
ao homem, ter o interesse e o desejo de viver em consonância com tais
assertivas.
As necessidades artificiais que vão sendo criadas pela sociedade
acabam por complicar, sobremaneira, a vida da população terrena. O
Planeta, sem dúvida, possui todos os recursos e mecanismos capazes de
garantir, com segurança, a vida de todos os habitantes, nos variados
aspectos, no entanto, o que vemos hoje, diante da valorização do
supérfluo, é uma corrida desenfreada na alimentação do egoísmo, que
tantos males proporciona no seio das coletividades.
Não nos basta o necessário, que quase sempre todos possuem,
queremos vorazmente contar com aquilo que é supérfluo, e, então,
erigimos um sistema de vida na Terra, onde a dor, o sofrimento e as
decepções caminham ombreando conosco, como consequências dos
nossos desmandos.
Assim, é possível identificar que poucos possuem muito, e em seus
cofres guardam o excesso. Por outro lado, muitos possuem pouco, vivendo
na carência geral dentro do contexto de uma desequilibrada distribuição
de rendas.
Possuir uma camisa que nos protege o corpo é pouco, queremos uma
camisa da moda, de preferência que tenha etiqueta de marca famosa,
para que possamos desfilar com ela pelos caminhos sociais.
Possuir um carro que nos permite a locomoção para distâncias maiores
não é suficiente, uma vez que o nosso ego alimenta o desejo de contar

125
com os préstimos de um carro novo que nos ofereça uma certa posição de
prestígio.
Contar com a alimentação suficiente não nos satisfaz, pois que
carregamos no íntimo a vontade imensa de desfrutar de mesa farta,
recheada de iguarias, para o deleite do nosso apetite insaciável.
Uma casa que nos abrigue das intempéries e que nos sirva de ninho
doméstico, quase sempre, não atende aos nossos anseios, pois que
carregamos no âmago a proposta de possuir um imóvel requintado que,
de preferência, nos ajude a ser vistos sobre um pedestal econômico.
É muito lógico que, dentro do livre-arbítrio, cada um de nós tem o
direito de escolher como deseja viver, no entanto, será sempre oportuno
refletir se as nossas escolhas nos convêm.
Observando os caminhos da história da humanidade, vamos encontrar
aqueles que laboraram, determinadamente, para progresso e evolução
social, sempre preocupados com as boas ideias e grandes ideais, no
entanto, pouco afeitos às conquistas de bens materiais. Valorizaram
sempre o necessário, e dispensaram o supérfluo.
O maior dentre eles foi Jesus. Possuía uma túnica e um par de
sandálias, no entanto, foi capaz de mudar, para melhor, o destino da
humanidade. Exemplificou o uso dos valores reais, aqueles que permitem
ao homem sair da inferioridade para a angelitude, condição que lhe
garante a paz e a felicidade. Em momento algum se prendeu a ilusões,
fantasias e falsidades.
Observemos, então, enquanto é tempo, como estamos conduzindo os
nossos dias: pelas trilhas do necessário ou pelas vielas enganosas do
supérfluo?
Reflitamos...

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60

Somos o que fazemos de nós

“O homem tem livre-arbítrio nos seus atos? – Pois se tem a liberdade de


pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio, o homem seria uma máquina.”
(Questão 843, de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.)

Cada criatura é herdeira de si mesma.


Criados por Deus, na simplicidade e na ignorância, cada um de nós
tem a liberdade de fazer o seu próprio caminho, escolhendo e decidindo a
forma e a maneira que deseja viver.
Assim, estamos hoje na condição evolutiva a que conseguimos chegar,
mediante os esforços que empreendemos até o momento. Não fomos
além por livre decisão nossa, sendo detentores de algumas virtudes e
ainda donos de uma gama incomensurável de defeitos a serem corrigidos.
Fazendo um balanço geral da nossa vida, podemos perceber,
nitidamente, que temos muito mais a conquistar do que já conquistamos,
pois que os dias de serenidade que sempre almejamos ainda não
chegaram. Vivemos tempos de dores e aflições, de angústias e
inseguranças, o que bem reflete o estado de insatisfação e inferioridade
que segue conosco, nascedouro da ambiência infeliz que nos envolve.
Em realidade não somos criaturas acabadas, mas sim seres que
rumam à perfeição, conforme as determinações do sábio código divino
que possibilita a cada um chegar à meta proposta quando bem entender.
Sabendo disso e convictos de que os recursos estão disponíveis ao
nosso redor, será interessante não perder mais tempo, partindo
imediatamente na direção da paz que queremos e da felicidade que tanto
sonhamos.
Nada, obviamente, nos será oferecido de forma gratuita, mas tudo nos
chegará às mãos na proporção do nosso empenho e dedicação em
progredir.
Paulo de Tarso nos ensinou que “será preciso que matemos o homem
velho que ainda habita dentro de nós, permitindo o nascimento de um
homem novo” (Paulo - Efésios, 4:17-32). Esse “homem velho”, até o
momento, ainda não conseguiu a vida de sublimidade e equilíbrio que
buscamos. Assim, indispensável refletir, maduramente, sobre o surgimento
desse “homem novo”, atrelado aos verdadeiros princípios da moralidade,

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dignidade e honradez, e que realmente tenha interesse em conviver com a
solidariedade, fraternidade e justiça, no âmbito social em que vivemos.
Indispensável e sumamente importante nunca olvidar que somos o que
fizemos de nós até agora. Temos, portanto, os méritos das vitórias
alcançadas ao longo do tempo, e, obviamente, a responsabilidade pelos
fracassos que surgiram em nosso caminho.
Somos o que somos mediante as escolhas e as deliberações que
livremente fizemos. Em momento algum fomos constrangidos ou
impedidos de realizar alguma coisa contra a nossa vontade. As Leis
Divinas sempre atuaram na defesa dos nossos interesses e anseios. Por
certo, ante o quadro sofrível que vivemos, podemos concluir que nossa
maturidade insipiente foi a responsável pelas desditas da atualidade.
Mas continuamos livres, e, se não é possível modificar o nosso
passado, sem dúvidas, temos plenas condições de alterar o presente,
projetando um futuro promissor.
As notáveis lições de Jesus Cristo há dois mil anos estão conosco. "Eu
sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai, senão por mim."
(Jesus - João, 14:6). Este, certamente, é o roteiro. Qualquer outra direção
a seguir será, incontestavelmente, a direção do equívoco.
Reflitamos...

- Fim -

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