Sentença de Violência Obstétrica

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE BARRETOS
FORO DE BARRETOS
2ª VARA CÍVEL
AVENIDA CENTENÁRIO DA ABOLIÇÃO, 1500, Barretos - SP - CEP
14783-195

SENTENÇA

Processo nº: 1001009-78.2020.8.26.0066


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Indenização por Dano Moral
Requerente: Lidiane Chaves da Silva
Requerido: Santa Casa de Misericórdia de Barretos e outro
Advogado(a)(s) da(s) Eduardo Bordini Novato, Edson Flausino Silva Júnior e Conrado
parte(s) passiva(s): Francisco Almeida Carvalho

Justiça Gratuita

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Carlos Fakiani Macatti

Processo nº 1001009-78.2020.8.26.0066
Vistos.
LIDIANE CHAVES DA SILVA ajuizou a presente AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS em face da SANTA CASA DE
MISERICÓRDIA DE BARRETOS e FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO
PAULO alegando, em síntese, realizou junto a primeira requerida parto pelo
Sistema Único de Saúde no dia 17/01/2018. Esclarece que já havia dado à luz,
anteriormente, contudo através do procedimento denominado 'cesariana', ante a
ausência de dilatação. Mesmo conhecedores que a paciente tinha dificuldade de
dilatação, responderam com evasivas, sendo-lhe negado a aplicação de
anestesia. Aduz que foi utilizado oxitocina para aceleração do parto, manobra de
Kristeller e Episiotomia médio-lateral direita. Afirma que foi amarrada ao dar a
luz. Alega que após o parto não recebeu nenhuma orientação, recomendação ou
cuidado específico. Outrossim, sustenta que como consequência da aludida
violência, passou a ter problemas físicos, entre eles impossibilidade de segurar
fezes, bem como vagina desfigurada, com dores e incômodos, razão pela qual
submeteu-se a cirurgia para correção. Requer a procedência da ação, com a
condenação dos requeridos ao pagamento de R$ 30.000,00 a título de danos
morais. Juntou documentos.

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A requerida Santa Casa apresentou contestação às fls.


124/133, aduzindo, em suma, que não há qualquer indício que tenha envidado
qualquer atitude que pudesse dar guarida aos danos buscados pela autora,
tampouco negligência, imperícia ou imprudência de seus prepostos, tendo os
mesmos prestado todos os atendimentos que a eles competia. Pleiteia pela
produção de prova pericial. Requer a improcedência da ação.

Sobreveio réplica (fls. 231/236).

Citada, a ré Fazenda Estadual contestou (fls. 237/244),


sustentando, preliminarmente, ilegitimidade passiva. No mérito, aduz, em suma,
que a atividade médica, com algumas exceções que não se enquadra o parto, é
atividade de meio e não de fim, não podendo se exigir do médico a garantia do
resultado. Pleiteia pelo acolhimento da preliminar aventada e no mérito, a
improcedência da ação. Em caso de condenação, postula pela fixação em
patamar mínimo.

Decisão saneadora rejeitando a preliminar e determinando a


realização de perícia médica (fls. 259/260).

Oposição de embargos de declaração (fls. 262/264) que


foram rejeitados às fls. 273.

Laudo pericial (fls. 304/328), sobre o qual as partes se


manifestaram às fls. 334/336, 339/342 e 344.

É o relatório.

DECIDO.

Passo ao julgamento antecipado da lide (art. 355, inc. I, do


CPC).

A ação é improcedente.

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Era ônus da autora a prova do fato constitutivo de seu


direito, nos termos do artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil. No
entanto, não trouxe elementos contundentes que provassem suas alegações,
como a conduta ilícita dos requeridos.

A perícia médica realizada concluiu que: "Análise da


assistência prestada à saúde, no que se refere à pratica médica, tendo em conta
o preconizado da Literatura, seguiu os protocolos vigente na literatura médica. "
(fls. 319).

Segundo a perita "Em 16/01/2018, às 08:28 minutos, a


autora retorna ao hospital, com idade gestacional de 39 semanas e 6 dias.
Refere contrações a cada 10 minutos e saída de material gelatinoso da vaginal.
Movimentos fetais presentes. Ao exame físico: dinâmica uterina ausente.
Batimentos cardíacos fetais 140 batimentos por minuto. Movimentos fetais
presentes. Toque vaginal: colo posterior, fechado. Sem saída de líquidos.
Cardiotocografia: feto ativo reativo. Conduta: alta com orientações. Nesse
atendimento não havia indicação de internação hospitalar. Foram seguidos os
protocolos vigentes na literatura médica.

Em 16/01/2018, às 20:59 minutos, a autora retorna ao


hospital, idade gestacional de 40 semanas. Referia contrações frequentes. Ao
exame físico: Batimentos cardíacos fetais: 148 batimentos por minuto.
Movimentos fetais presentes. Toque vaginal: colo pérvio, 2cm, apagado 50%,
cefálico, bolsa rota. Conduta: internação. Nesse atendimento havia indicação de
internação hospitalar. Foram seguidos os protocolos vigentes na literatura
médica.

Em 17/01/2018, às 02:17, a autora evoluiu para parto


normal, com episiotomia média lateral direita e sutura colo uterina. Com RN vivo,
sexo feminino. Peso 3170 g. Folha 47. Havia indicação para parto normal, foram
seguidos os protocolos vigentes na literatura médica.

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Em 02/08/2018, foi submetida a procedimento cirurgico para


correção perineal, sem intercorrências. Laceração da episiotomia, rotura perineal
são complicações do parto normal, previstas em literatura, foram devidamente
diagnosticadas e corrigidas cirurgicamente".

Em suma, apontou a perita que todos os procedimentos que


seriam indicados foram seguidos em conformidade com a literatura médica. As
complicações observadas posteriormente são decorrência do parto normal e
previstas regularmente na literatura.

Não obstante, por mais lastimoso que sejam os danos


suportados pela autora, não se pode arbitrar compensação indenizatória sem a
presença do nexo de causalidade, o qual fora afastado pela I.Perita.

À despeito do tema:

“O nexo causal ou relação de causalidade é o


liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame
da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano.
Trata-se de elemento indispensável”. (VENOSA, Sílvio de Salvo.
Direito Civil: Responsabilidade Civil. Vol.4. 3°ed. São Paulo: Atlas
S.A., 2003.p, 39.)

Sendo assim, tem-se que não houve erro ou culpa nos atos
praticados pelos prepostos dos requeridos, que agiram dentro da normalidade,
razão pela qual a improcedência da demanda é medida que se impõe.

Nesse sentido:

"INDENIZAÇÃO. ERRO MÉDICO. Sentença que


julgou improcedente a ação. Recurso da autora. Cerceamento de
defesa afastado. Prova testemunhal desnecessária. Laudo pericial
e demais provas documentais que atestam, adequadamente, a
inexistência de conduta negligente dos corréus. Alegação de
negligência, imperícia e imprudência. Inocorrência. Inexistência de
nexo causal entre a conduta adotada pelos prepostos do
nosocômio e as lesões genitais da autora. Laudo pericial conclusivo
quanto à ausência de nexo causal. Ausência de provas capazes de
infirmar a conclusão do perito. Tratamento médico em

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conformidade com o recomendado pela prática e literatura médica.


Parto natural, inexistindo culpa da requerida. Atendimento médico
hospitalar que seguiu a norma médica preconizada, sendo a
intercorrência de laceração comum, e sanada no próprio hospital.
Conduta omissiva afastada pela prova pericial. Pedido rejeitado.
Sentença que observou o conjunto probatório indicativo de
ausência de falha na prestação de serviços. RECURSO NÃO
PROVIDO." (TJSP; Apelação Cível 1010530-95.2016.8.26.0451;
Relator (a): Ana Maria Baldy; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Piracicaba - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento:
10/06/2021; Data de Registro: 10/06/2021)

À vista do exposto, e do mais constante dos autos, JULGO


IMPROCEDENTE a ação. Arcará a autora com as custas, despesas processuais
e honorários advocatícios, ora fixados em 15% do valor da causa, observada a
gratuidade da justiça concedida à autora.

Vista à Fazenda Estadual, via Portal Eletrônico.


P.R.I.C.
Barretos, 09 de setembro de 2021.
Carlos Fakiani Macatti
Juiz(a) de Direito

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI


11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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