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LETRAMENTO LITERÁRIO EM

CÍRCULOS DE LEITURA NA ESCOLA


Cleonice de Moraes Evangelista Leão
Mestre em Letras pelo PROFLETRAS (UFU)
E‐mail: cleoprojovem@hotmail.com

Dalma Flávia Barros Guimarães de Souza


Mestre em Letras pelo PROFLETRAS (UFU)
E‐mail: dalmabarros2@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT
Este artigo tem o objetivo de apresentar This article aims to present alternative
práticas alternativas que propiciem o practices for the adequate teaching of
ensino adequado de literatura, através literature, using the methodology of
da metodologia de diários de leitura e journals and function cards. Therefore,
fichas de função. Para tanto discutimos we discuss some issues related to the
alguns temas que se relacionam com os interests of the research, namely,
interesses da pesquisa, quais sejam: literary literacy, reading circles and the
letramento literário, círculos de leitura e importance of reading of literature with
importância da leitura literária com aesthetic quality. We discuss reading
qualidade estética. Fazemos algumas the author Lygia Bojunga and its
considerações sobre a leitura de obras effectiveness for the literary reading
da autora Lygia Bojunga e sua eficácia circle that we suggested. Like Cosson
para o círculo de leitura literária que (2014), we believe that the reading
sugerimos. Assim como Cosson (2014), circle is a great strategy for education,
acreditamos que os círculos de leitura because it promotes the habit of
são uma ótima estratégia escolar, pois reading, the reader's training and the
promovem o hábito de ler, a formação reading of literature. Thus, it has an
do leitor e a leitura literária, deste amplitude that goes beyond school.
modo, possuem uma amplitude que vai
KEYWORDS: literature, literary literacy,
além da escola.
reading circles.
PALAVRAS‐CHAVE: literatura,
letramento literário, círculos de leitura.

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Letramento literário em círculos de leitura na escola

INTRODUÇÃO
Os estudos do letramento literário demonstram que a literatura ocupa um papel
relevante no domínio da leitura e escrita de forma singular, já que “conduz ao domínio
da palavra a partir dela mesma” (SOUZA; COSSON, 2011, p.102). Dessa maneira, o
letramento literário exige da escola “um tratamento diferenciado que enfatize a
experiência da literatura” (SOUZA; COSSON, 2011, p.101), ou seja, a leitura na
perspectiva do letramento literário não é somente o conhecimento sobre literatura,
“mas sim uma experiência de dar sentido ao mundo por meio de palavras que falam de
palavras, transcendendo os limites de tempo e espaço.” (SOUZA; COSSON, 2011, p.103).
Tendo em vista a essencialidade da leitura literária, os Parâmetros Curriculares
Nacionais de língua portuguesa, doravante PCN (BRASIL, 1998), também doutrinam
sobre a especificidade do texto literário.

O texto literário constitui uma forma peculiar de representação e estilo em


que predominam a força criativa da imaginação e a intenção estética. Não é
mera fantasia que nada tem a ver com o que se entende por realidade, nem
é puro exercício lúdico sobre as formas e sentidos da linguagem e da língua.
(BRASIL, 1998, p. 26)

Enquanto professoras, podemos dizer que não há literatura no Ensino


Fundamental II, ou se há, ela está sendo utilizada para outros fins que não sejam para
uma leitura estética, que envolvam construção de sentidos. Essa ausência tem nos
inquietado muito, ainda mais que verificamos em nossos alunos a aversão pelo livro
literário, já que a maioria não gosta de ler, e quando o fazem sentem que estão sendo
castigados. Então acreditamos que a escolarização inapropriada da literatura contribui
para a o afastamento da literatura na adolescência, pois “pesquisas já demonstraram
que o afastamento dos sujeitos da literatura ocorre predominantemente na
adolescência”. (PAULINO, 2010, p. 414)

Considerando que a escolarização adequada “seria aquela escolarização que


conduzisse eficazmente às práticas de leitura literária que ocorrem no contexto social e
às atitudes e valores próprios do ideal de leitor que se quer formar” (SOARES, 1999, p.
47 apud PINHEIRO, 2006, p. 58) é que pautamos nossa proposta de círculo de leitura,

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nos pressupostos do letramento literário, na tentativa de trabalhar a literatura de forma


mais apropriada possível no 6º ano do ensino fundamental II.

Queirós (2012) confirma a relevância do professor na mediação da leitura


literária ao afirmar que o “professor é, antes de tudo, aquele que acredita na realidade
como possível de ser alterada pelas constantes buscas de realizações pela humanidade”,
desta forma a função do professor “é, a partir dos conhecimentos, convocar os alunos
para outros passos em direção a novas realidades”. (QUEIRÓS, 2012, p. 87) Ademais,
Barbosa (2011) enfatiza o papel do professor como mediador do letramento literário na
escola básica:

Atuar como mediador no processo de aquisição de habilidades de leitura,


inclusive do texto literário, é papel central do professor. Organizar o espaço
da sala de aula, propor objetivos de leitura, fazer perguntas que facilitem o
processo interpretativo, são formas de atuar positivamente nesse processo.
(BARBOSA, 2011, p.156)

Em suma, compreendemos que a correta mediação é condição para que a leitura


literária seja efetivada “como o processo de apropriação da literatura enquanto
construção literária de sentidos” (Paulino e Cosson, 2009, p.67). Nesse sentido, para
buscarmos uma adequada escolarização da literatura, é necessário, contudo, que o
façamos por meio de práticas que ajudem o letramento literário a ser concretizado. A
esse respeito discorreremos a seguir.

LETRAMENTO LITERÁRIO E CÍRCULO DE LEITURA


Para se efetivar o letramento literário na escola, entendemos que a obra literária
deva ser trabalhada em sua integralidade, para isso é necessário que nós, professores,
abandonemos as práticas de leitura por meio de textos fragmentados e
descontextualizados e assumamos a postura da leitura do livro, pois “o letramento
literário requer o contato direto e constante com o texto literário”, incumbindo, por
conseguinte, à escola e ao professor “disponibilizar espaços, tempos e oportunidades
para que esse contato se efetive” (PAULINO; COSSON, 2009, p.74).

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Letramento literário em círculos de leitura na escola

Quanto às práticas que ajudam a concretizar o letramento literário na escola, de


acordo com Paulino e Cosson (2009, p.74), é importante o “estabelecimento de uma
comunidade de leitores na qual se respeitem a circulação dos textos e as possíveis
dificuldades de respostas à leitura deles”. Essa medida é simples, porém importante já
que “assegura a participação ativa do aluno na vida literária e, por meio dela, a sua
condição de sujeito” (PAULINO; COSSON, 2009, p.74). Entendemos como Cosson (2009,
p. 27) que “o ato físico de ler pode ser até solitário, mas nunca deixa de ser solidário”,
razão pela qual, escolhemos a metodologia de círculo de leitura para efetivar o
letramento literário na escola. Esta metodologia estimula a leitura coletiva, a formação
e a consolidação de uma comunidade de leitores, ou seja, conferindo um caráter social
à leitura.

Para Cosson (2014), o círculo de leitura é uma prática privilegiada de grupos de


leitores que se reconhecem como parte integrante de uma comunidade leitora
específica. Assim, apresenta três pontos relevantes da leitura em grupo: 1º ‐ “o caráter
social da interpretação dos textos” e a apropriação e manipulação do repertório “com
um grau maior de consciência”. 2º ‐ “a leitura em grupo estreita os laços sociais, reforça
identidades e a solidariedade entre as pessoas”. 3º ‐ “os círculos de leitura possuem um
caráter formativo”. (COSSON, 2014, p. 139)

As atividades de leitura possuem três fases: o ato de ler, o compartilhamento e o


registro. O primeiro refere‐se ao “encontro inalienável do leitor com a obra” que pode
ocorrer de forma solitária e de forma coletiva. Já o segundo compreende duas fases – a
preparação para a discussão (anotações de impressões sobre o texto) e a discussão
propriamente dita (“é o diálogo fundante da leitura”, ou seja, é o debate sobre a obra
lida.). A terceira fase refere‐se ao registro que é o “momento em que os participantes
refletem sobre o modo como estão lendo e o funcionamento do grupo, assim como
sobre a obra e a leitura compartilhada”, esses registros podem ocorrer de formas
variadas, desde diários de leitura, até fichas de função, bem como atividades
performáticas como peças teatrais, sarau etc. que podem ser utilizados como avaliação
para os círculos de leitura institucionais, combinados com o recurso da autoavaliação,

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tendo em vista que a literatura deve ser vista como uma experiência e não como um
conteúdo a ser avaliado. (COSSON, 2014, p.168‐171).

Para nosso círculo de leitura literária, utilizaremos como registro das leituras os
diários de leitura e as fichas de função, contribuições de Daniels (2002) citadas por
Cosson (2014) em seu livro Círculos de leitura e letramento literário. Vejamos:

a) Conector ‐ Liga a obra ou o trecho lido com a vida, com o momento;


b) Questionador ‐ Prepara perguntas sobre a obra para os colegas, normalmente
de cunho analítico, tal como por que os personagens agem desse jeito? Qual
o sentido deste ou daquele acontecimento?
c) Iluminador de passagens ‐ Escolhe uma passagem para explicitar ao grupo,
seja porque é bonita, porque é difícil de ser entendida ou porque é essencial
para a compreensão do texto;
d) Ilustrador – Traz imagens para ilustrar o texto;
e) Dicionarista ‐ Escolhe palavras consideradas difíceis ou relevantes para a
leitura do texto;
f) Sintetizador ‐ Sumariza o texto;
g) Pesquisador – Busca informações contextuais que são relevantes para o
texto;
h) Cenógrafo ‐ Descreve principais cenas;
i) Perfilador ‐ Traça um perfil das personagens mais interessantes. (DANIELS,
2002 apud COSSON, 2014, p. 142‐143).

Além de escolher a metodologia para trabalhar a leitura literária na escola,


precisamos estar atentos às escolhas das obras a serem lidas, pois estas escolhas fazem
grande diferença para a apropriação da literatura enquanto construção de sentidos e
enquanto arte. Por isso, é necessário que o professor leia previamente as obras
selecionadas para não só verificar se fez uma boa escolha, como também conduzir o
círculo de leitura com eficiência. Acreditamos que a seleção dos textos deve ser pautada
em uma literatura que possua qualidade estética, assunto este que discorremos no
tópico seguinte.

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Letramento literário em círculos de leitura na escola

POR UMA LITERATURA DE QUALIDADE ESTÉTICA


Andruetto (2012) destaca que ao pensar na obra de um escritor é necessário
observar o olhar que este tem sobre o mundo, assim, ela explica que a obra de um
escritor não pode ser definida por suas intenções, mas por seus resultados, pois um bom
escritor é um escritor diferente de outros escritores, é alguém preocupado em perseguir
uma imagem do mundo e construir com ela uma obra que pretenda universalizar sua
experiência. Assim, um bom escritor nega‐se a escrever conforme a demanda, ou seja,
seu trabalho não pode ser definido de antemão, tendo em vista que o pensamento se
modifica no próprio processo de escrita.

A literatura quase sempre esteve presente na escola para fins utilitários. Para
Edmir Perrotti (1986), o problema do discurso utilitário não está na utilização do
discurso enquanto instrumento de educação do leitor, mas em privilegiar essa função
em detrimento da função propriamente estética.

Para Paulino (2013, p.18), a “literatura juvenil não seria um conjunto de


produções resultantes de uma atuação de marketing editorial internalizada pela própria
instituição escolar”, já que professores escolhem os livros literários em grande maioria
para trabalhar temas transversais, sugeridos pelos PCN. A autora afirma que a
“formação de um leitor literário significa a formação de um leitor que saiba escolher
suas leituras, que aprecie construções e significações verbais de cunho artístico, que
faça disso parte de seus fazeres e prazeres” (PAULINO, 2013, p.19).

No momento da escolha de um livro literário para se trabalhar na escola, a


distinção entre o utilitário e o estético é condição essencial e indispensável para, pelo
menos, diferenciarmos a literatura enquanto arte da literatura enquanto pedagogia.
Paulino (2013) acredita que esta literatura de qualidade estética está sendo mais
valorizada neste século:

Na escola ou fora dela, a experiência estética, na qual se inclui a leitura


literária, compondo o letramento, esse processo ininterrupto e sempre
imperfeito de formação da identidade, está sendo mais valorizada neste
século, como de humanizar as relações enrijecidas pela absolutização das
mercadorias. (PAULINO, 2013, p. 23).

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Com o surgimento de autores como Lygia Bojunga, dificilmente poderá tornar


sustentável a defesa do utilitarismo como forma ideal e/ou única de discurso literário
dirigido à criança ou ao jovem. De acordo com Gama‐Kalil (2013, p.125), o leitor das
narrativas de Lygia Bojunga “entra sempre em contato com enredos que desvelam
mundos que representam muitas vezes penosas realidades sociais, como a morte, a
violência e as desigualdades sociais” e “são trabalhadas com a descrição direta de
situações coloquiais”, mas isso nunca foi empecilho para uma escrita de qualidade
estética, pelo contrário, essa estratégia foi eficaz para revelar ao seu interlocutor um
mundo de possibilidades no terreno conotativo. Escritora que carrega em seu currículo
vários prêmios da literatura, entre eles: Jabuti‐CBL, Orígenes Lessa, O melhor para
criança, Altamente recomendável para o jovem, Hans Christian Andersen e o prêmio
Alma, entre tantos outros.

Para nós, professoras, alunos do Ensino Fundamental II não podem deixar de


conhecer esta escritora, que coleciona em seu currículo tantas obras com qualidade
estética. Por esse motivo, selecionamos algumas obras da autora para compor o círculo
de leitura por nós elaborado, o qual será exposto no tópico seguinte.

PROPOSTA DE CÍRCULO DE LEITURA NA ESCOLA


Título: Bojunga – Por uma leitura estética

Disciplina: Língua Portuguesa / Literatura

Série: Ensino Fundamental II

Objetivo geral: Identificar obras de qualidade estética.

Objetivos específicos:

 Ampliar o repertório literário;


 Compartilhar experiências leitoras;
 Valorizar a leitura literária como experiência estética;

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Letramento literário em círculos de leitura na escola

 Estabelecer relações com outros livros, outras épocas/lugares e


autores diferentes;
 Identificar escrita com qualidade artística.

Conteúdo: Literatura enquanto criação artística.

Tempo estimado: Um bimestre.

Material necessário: Obras da autora Lygia Bojunga.

 Exemplares da obra A bolsa amarela;


 Exemplares da obra O meu amigo pintor;
 Exemplares da obra Seis vezes Lucas;
 Exemplares da obra Fazendo Ana Paz;
 Exemplares da obra Corda Bamba;
 Filme Corda Bamba: História de Uma Menina Equilibrista ou
trailer do filme oficial;
 Caderno para anotações.

Metodologia:

Primeiro passo: Convite ao círculo de leitura

Convidar os alunos para participarem de um círculo de leitura com algumas obras


da autora Lygia Bojunga. Apresentar um breve resumo da biografia da autora e as
características priorizadas para esse círculo de leitura.

Lygia Bojunga Nunes se consagrou como autora de alguns dos livros mais conhecidos da literatura
infanto‐juvenil brasileira. "Os Colegas", "Angélica" e "A Bolsa Amarela" são algumas das obras que já
completaram algumas décadas de existência, mas continuam presentes nas estantes das crianças.
Nascida em Pelotas (RS) em 1932, Lygia levou quase 40 anos para conseguir viver apenas de seu
talento literário. Durante esse tempo, atuou em peças de teatro, trabalhou em rádio e televisão e chegou
a fundar uma escola para crianças pobres do interior, que dirigiu por cinco anos. Mas foi como escritora
que Lygia alcançou um enorme prestígio. Em 1982, recebeu o prêmio Hans Christian Andersen, e em 2004
o prêmio ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award), os dois mais importantes prêmios internacionais da
literatura infanto‐juvenil.
Atualmente, a escritora cuida dos negócios de sua própria editora ‐ "Casa Lygia Bojunga" ‐ que
publica exclusivamente seus livros. Também é responsável pela Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga,
sediada no Rio de Janeiro e que desde 2004 desenvolve projetos socioeducativos voltados para o estímulo
da leitura de crianças e jovens.
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/lygia‐bojunga‐681657.shtml

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O professor também poderá levar os alunos ao laboratório de informática da


escola e deixar que eles mesmos pesquisem sobre Lygia Bojunga e compartilhem com
seus colegas.

Características priorizadas para esse círculo de leitura:

1. Leitura coletiva de uma obra literária (Trabalho em grupo);

2. Anotações das leituras e debates realizados em grupo nas fichas de função e


diários de leitura;

3. Cumprimento do calendário acordado para a apresentação de cada grupo;

4. Apresentação e debate das obras lidas em círculo de leitura pelos alunos,


mediadas pelo professor da sala.

Segundo passo: Aulas para leitura da obra em sala

Dividir a sala em 4 grupos. Entregar a obra Corda Bamba para cada grupo e pedir
que comecem a leitura do livro. O professor deverá caminhar pela sala até que os grupos
se concentrem na leitura. Esta tarefa é árdua, mas é importante para que os alunos
fiquem atentos à leitura. (Caso haja exemplares do livro na biblioteca da escola, que
estejam à disposição para os alunos peguem emprestado, esta etapa poderá ser
realizada em casa).

Terceiro passo: Apresentar aos alunos os passos do círculo de leitura

Após o término da leitura da obra Corda Bamba, o professor deverá apresentar


aos alunos as fichas de funções que cada grupo deverá contemplar.

Conector Liga a obra ou o trecho lido com a vida, com o


momento;

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Letramento literário em círculos de leitura na escola

Questionador Prepara perguntas sobre a obra para os colegas,


normalmente de cunho analítico, tal como por que os
personagens agem desse jeito? Qual o sentido deste ou
daquele acontecimento?

Iluminador de Escolhe uma passagem para explicitar ao grupo,


passagens seja porque é bonita, porque é difícil de ser entendida
ou porque é essencial para a compreensão do texto.

Dicionarista Escolhe palavras consideradas difíceis ou


relevantes para a leitura do texto.

Sintetizador Sumariza o texto.

Cenógrafo Descreve principais cenas.

Perfilador Traça um perfil das personagens mais


interessantes.

Nesta primeira leitura, o professor é quem desempenhará todas as funções,


exemplificando para seus alunos como deverão proceder nas próximas leituras.
Enquanto as funções são realizadas pelo professor, os alunos deverão fazer anotações
em diários de leitura (caderno), com o objetivo de compartilharem no fim das
apresentações de todas as obras. (Discuta coletivamente o que as crianças acham que
vale a pena anotar: sentimentos, relações, palavras interessantes, trechos que se deseja
guardar, questionamentos, comentários, relações entre a história e a vida delas;
perguntas que vierem à mente; como imaginam determinada cena; técnicas do autor,
boas ideias ao longo da escrita, etc.).

Como toda boa aula, faz‐se necessário planejamento detalhado para este
primeiro círculo de leitura, visto que o mesmo será apresentado pelo professor a fim de
tirar as possíveis dúvidas dos alunos sobre cada função que exercerão no círculo. É

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importante que durante a escolha das partes do texto que utilizará para apresentação
aos alunos, o professor escolha aqueles trechos que apresentam maior qualidade
artística, para que os alunos consigam perceber alguns critérios escolhidos pela autora,
com o objetivo de proporcionar ao leitor uma leitura estética da obra.

Quarto passo: Relacionar a obra Corda Bamba ao filme Corda bamba: História
de uma menina equilibrista

 Exercícios orais:
1‐ De quais passagens vocês mais gostaram durante a leitura do livro
Corda Bamba? Por quê?
2‐ Com quais personagens vocês se identificaram? Por quê?
3‐ Vocês entenderam toda a narrativa?
4‐ Qual parte da narrativa foi difícil para entender? Por quê?
 Assistir ao filme ou trailer do filme oficial para posterior
comparação.

Título no Brasil: Corda Bamba: História de Uma Menina Equilibrista (Filme


disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pHsWaY3hw1Q>)

Título Original: Corda Bamba, história de uma menina equilibrista

Ano de Lançamento: 2012

Gênero: Drama

País de Origem: Brasil

Duração: 80 minutos

Direção: Eduardo Goldenstein

Estúdio/Distrib.: Copacabana Filmes

Idade Indicativa: Livre

Sinopse: Maria é uma menina de 10 anos criada no circo pelos pais


equilibristas. Quando se vê obrigada a ir para cidade grande morar com a avó,
começa a ter dificuldades em lembrar do seu passado. Da janela de seu quarto,

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uma corda bamba é a conexão entre o real e o imaginário que a faz recuperar as
lembranças e seguir adiante.

 Conversa dialogada após assistirem ao filme:


1‐ Vocês gostaram do filme Corda Bamba: História de Uma
Menina Equilibrista? Por quê?
2‐ Quais características diferenciam o filme do livro Corda
Bamba, de Lygia Bojunga?
3‐ Tanto o livro quanto o filme possuem qualidade artística.
Porém, é no livro que conseguimos perceber a qualidade literária através
da escrita. Copie trechos do livro nos quais você considera que há maior
qualidade estética e apresente aos colegas.

Quinto passo: Leitura de novas obras em círculo de leitura

Entregar para cada grupo exemplares de uma mesma obra entre aquelas
indicadas no planejamento, quais sejam: A bolsa amarela, O meu amigo pintor, Seis
vezes Lucas, Fazendo Ana Paz. Pedir para que os grupos leiam a obra e sentem em
círculos de leitura para planejamento das leituras e direcionamento das funções.

O professor deverá mediar todo o trabalho em grupo, interferindo no


entendimento das leituras quando necessário, direcionando as funções, caso os alunos
não consigam sozinhos, aproveitando as habilidades de cada participante, além de
observar se os alunos estão fazendo anotações necessárias no diário de leitura e se estão
identificando escritas com qualidade estética. O importante é que os grupos se sintam
seguros para apresentação das obras aos demais alunos da sala. O professor aqui
desempenhará o papel de mediador das leituras, contribuindo para a efetivação do
letramento literário.

Sexto passo: preparar a apresentação em círculo de leitura

O professor deverá se reunir separadamente com cada grupo, revisando as


anotações para cada função e sanando as possíveis dúvidas dos alunos quanto à obra
lida. Se este for o primeiro círculo de leitura no qual os alunos participam, é fundamental

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auxiliar a segurança e confiança dos alunos para a primeira exposição, para que não seja
para eles mais uma atividade frustrante de leitura.

Não direcionaremos questões para serem trabalhadas de acordo com cada obra,
tampouco indicaremos páginas de qualidade estética, visto que cada obra possui uma
vasta opção de escolhas. Cada professor deverá direcionar os estudos de acordo com
sua comunidade leitora, pois só ele saberá em que processo de letramento literário se
encontram seus alunos.

Sétimo passo: Apresentar em círculo de leitura a obra lida para os colegas de


sala

O professor deverá fazer um calendário com as datas das apresentações de cada


grupo a serem seguidas. No dia de cada apresentação, é recomendável proporcionar um
ambiente mais informal, em que os alunos se sentirão em uma roda de conversa sobre
os livros lidos, o ideal é priorizar as carteiras em formato de círculo. O professor deverá
mediar, sempre que possível, as apresentações.

Oitavo passo: Divulgação das obras de Lygia Bojunga através de vídeos

Passar aos alunos o vídeo de divulgação da obra A bolsa amarela (Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=1JrpwxSa6BI>). Pedir para que os grupos que
apresentaram seus círculos de leitura escrevam um pequeno texto relatando a obra que
leram, fazendo indicações de leitura, exemplificando, com leituras e/ou textos escritos,
trechos de qualidade estética, que fazem com que a obra tenha qualidade artística.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não tivemos a intenção neste trabalho de prescrever um manual para ensino de
literatura, tivemos tão somente o intuito de apresentar atividades práticas para
aperfeiçoar esse ensino. Tendo em vista que somos professoras da rede pública e
mestrandas do Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS – acreditamos que é
necessário buscar práticas alternativas que fomentem a escolarização adequada da

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Letramento literário em círculos de leitura na escola

literatura. Práticas as quais propiciem o letramento literário e também estejam em


consonância com os conhecimentos adquiridos por meio do aporte teórico e das aulas
referentes à literatura no curso de Mestrado Profissional em Letras. Dessa forma,
acreditamos que os círculos de leitura estão inseridos nessas novas práticas.

Cosson (2014) afirma que os círculos de leitura promovem o hábito de ler, a


formação do leitor e a leitura literária, assim possui uma amplitude que vai além da
escola. Também conclui que “ler não tem contraindicação, porque é o que nos faz
humano” (COSSON, 2014, p.179). Ler em uma comunidade de leitores é, portanto,
reconhecer nosso lugar enquanto membros dessa comunidade. Assim, entendemos que
as obras de Lygia Bojunga constituem um ótimo recurso para motivar a leitura estética
de textos literários na escola da rede pública, propiciando, assim, o tão esperado
letramento literário.

REFERÊNCIAS
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2012.

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São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, v. 2, p. 101‐107.

Recebido em 02 de maio de 2015


Aceite em 23 de julho de 2015

Como citar este artigo:


LEÃO, Cleonice de Moraes Evangelista & SOUZA, Dalma Flávia Barros Guimarães de. Letramento literário
em círculos de leitura na escola. Palimpsesto, Rio de Janeiro, n. 21, jul.‐dez. 2015. p.427‐441. Disponível
em: < http://www.pgletras.uerj.br/palimpsesto/num21/estudos/Palimpsesto21estudos06.pdf >. Acesso
em: dd. mm. aaaa. ISSN: 1809‐3507

Nº 21 | Ano 14 | 2015 | p. 427-441 | Estudos (6) | 441

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