Tempo e Espaco Artigo

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DE UMA REFLEXÃO DO TEMPO E DO ESPACO


ESBOCO .
NO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO CLÁSSICO

Mísia Lins Reesink'

RESUMO INTRODUÇÃO
Esse artigo pretende refletir, em forma de es- A questão do tempo e espaço sempre implicou
boço, pois não vai mais além do que isto, as noções de em concepções e reflexões ontológicas e epistemo-
tempo e espaço no pensamento antropológico, restrin- lógicas sobre estes e seus inter-relacionamentos. Na
gindo-se sobretudo ao período clássico desta ciência. tradição ocidental desde a antigüidade clássica, tempo e
Dos evolucionistas à escola francesa, passando pelos espaço são pensados e refletidos nas elaborações filo-
particularistas de Boas e pelo estrutural-funcionalis- sóficas, com repercussões que se fazem sentir nas ciên-
mo de Radcliffe-Brown, estas categorias (compreendi- cias humanas, sobretudo história e ciências sociais. A
das principalmente a partir de uma concepção antropologia no processo de sua construção enquanto
kantiana) foram fundamentais na construção ciência moderna elaborou em diferentes etapas relações
epistemolôgica da antropologia e influiu nos seus diferenciadas com estas duas categorias, relações e con-
direcionamentos metodolôgicos. Faço, então, uma bre- cepções estas que foram influenciadas (e influenciou)
ve análise dos usos (ou não-usos) destas noções ten- por contextos históricos, culturais e filosóficos. Sem
tando, ainda, fazer uma rápida relação com o tempo/ dúvida, aliás, de uma forma ou de outra, a filosofia tem
espaço na contemporaneidade antropológica. um impacto grande na antropologia; mas para nós bas-
ta, por enquanto, tratar, a princípio e rapidamente, das
RESUMÉ concepções de KANT (1724-1804), que, de diferentes
maneiras, repercutiram na antropologia, principalmente
Cet article, enforme d'esquisse, prétend nous do período clássico, sendo talvez, na minha perspectiva,
emmener à Ia reflexion sur les categories du temps um dos pensadores que mais contribuíram para a cons-
et de I' espace dans Ia pensée antthropologique, trução dessa disciplina. Assim, para ele - quando discu-
concernée dans Ia période classique de cette te na Crítica da Razão Pura -, tempo e espaço são
science. Dês les evolucionistes jusqu 'a à l'école categorias de entendimento do pensamento humano, mas,
françaisc, en passant par le particularisme de Boas ao contrário de outras (quantidade, qualidade, relação e
et le structural-functionalisme de Radcliffe-Brown, modalidade), não são categorias puras (pureza esta que
ces categories ( comprises surtout a partir d'eune implica em transcendência e imperatividade). KANT
conception kantienne) ont eu une inportance pensa então que elas são formas a priori do pensamen-
fondamentale dans Ia construction epistemologique to, dando forma e dimensão às categorias puras, sendo
de I 'anthropologie, au même temps qu 'a influencé que estas se concretizam, fenomenologicamente, a par-
les perpectives méthodologiques. Voici alors une tir da condição daquelas. Depois de um período de "gló-
breve analise differents conceptions de ces notions. ria", essa postura de Kant vai ser questionada pelos
tout en essayant d'élaborer un rapport entre le temps/ neokantistas, principalmente HAMELIN (1856-1907)1,
l'espace el Ia comtemporanité anthropologique. contemporâneo de Durkheim, que vai ampliar estas re-
flexões a partir do momento que considera tempo e es-
1 Mísia Lins Reesink é mestra em Antropologia pela UFPE e Pro-
fessora Assistente do Departamento de Antropologia da Univer- 1 Para uma melhor discussão da concepção de Hamelin, ver R. Car-
sidade Federal da Bahia (UFBA) doso de Oliveira (1988).

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paço também como categorias puras do entendimento diretamente implicados na questão da alteridade - sen-
humano". Ora, a antropologia, sobretudo a partir do do esta problema básico para a antropologia.
momento que faz uma reflexão sobre os pressupostos Diante do exposto acima, pode-se ver como as
evolucionistas, tende a pensar estas categorias não mais categorias tempo/espaço se constituem, então, como
apenas como puras, mas sobretudo como construções pontos fundamentais para o conhecimento antropológi-
socioculturais. Mas, por enquanto antes de entrar numa co (mesmo quando há uma tentativa de negação ou anu-
discussão mais "exaustivamente antropológica", gosta- lação do tempo), pois instituição sociocultural implica
ria de voltar um pouco mais minha atenção para alguns reciprocamente em tempo/espaço. Sendo assim, o que
aspectos mais propriamente ontológicos do tempo/es- pretendo aqui é esboçar, rapidamente, como estas cate-
paço discutidos mais contemporaneamente, privilegian- gorias foram pensadas e refletidas no percurso que a
do aqui a perspectiva de C. CASTORIADIS. antropologia fez (e refez), centrando minhas considera-
Partindo de uma abordagem mais "estruturalis- ções no período da antropologia clássica (ou seja, antes
ta", C. CASTORIADIS (1992) concebe que há três da revolução estruturalista de Lévi-Strauss), a partir
tipos diferentes de tempo e espaço. Primeiramente, o principalmente das considerações de autores como J.
tempo/espaço objetivos (comensurável, quantificável, FABIAN, R. CARDOSO DE OLIVEIRA, R. DA-
materializado, conídico' ); com implicações no sistema MA TT A. Além disto, gostaria ainda de demonstrar a
filosófico de Aristóteles, por exemplo. Segundo, o tem- utilização do tempo/espaço como categorias de análise
po e espaço subjetivo, aquele experienciado e vivido pelo em etnografias clássicas, como a de E. EV ANS-
sujeito, estas categorias" aqui como ponto de importan- PRITCHARD, e também refletir um pouco, a partir de
tes reflexões para Santo Agostinho. Por último, o tempo etnografias contemporâneas, como estas categorias são
e espaço cósmicos, ou seja, o tempo e espaço enquanto pensadas hoje pela antropologia.
tais, base tanto para o objetivo, quanto para o subjetivo.
No entanto, como diz CASTORIADIS, tradicionalmen-
te estes dois primeiros tempos e espaços sempre foram NOCÕES DE TEMPO E ESPACO:UM BALANCO
pensados separadamente; entretanto, são fundamental- ANTROPOLÓGICO' .
mente inseparáveis: diferentes, mas complementares.
O tempo e espaço, assim, possuem duas dimensões: uma Se seguirmos o que pensa CASTORIADIS,
conídica ( relativa à lógica racional e ao cósmico) e ou- tempo/espaço estão em relação de implicação com
tra imaginária, estas sendo plenas de significação e sig- alteridade; ou seja, a percepção do "Outro", do diferen-
nificado. Num eco distante das idéias de KANT e te, se dá também a construção do tempo e do espaço. A
HAMELIN, então, institui o seu mundo a partir de dois partir disto, agora seguindo FABIAN (1983), tempo/es-
receptáculos: o espaço e o tempo social, tanto conídico, paço/'Outros" se constróem a partir de uma perspecti-
quanto imaginário, sendo que a instituição do espaço e va de inclusão/exclusão. Portanto, segundo este autor,
do tempo conídico (objetivo e cósmico) é modificado e na pré-modernidade o tempo e o espaço são pensados
alterado pela instituição do tempo e espaço imaginário inclusivamente, ou seja, a partir da conversão e salva-
(subjetivo - esse mesmo auto-alteração). Tempo e es- ção, o mundo pagão circundante era incluído dentro da
paço são então, relativos e se constróem implicitamen- espacialidade e temporal idade do mundo cristão; o mo-
te, e mais ainda, segundo CASTORIADIS, estão vimento então é o de inclusão. Já na modernidade, o
que ocorre é um distanciamento, onde a civilização eu-
ropéia é "aqui" e "agora" (here and now); e "lá" e o
2 Essa perspectiva de Hamelin será ampliada e rediscutida por "então" (there and then) é o tempo e o espaço dos sel-
Durkheim e Mauss, como veremos mais tarde. vagens. Ora, H. CLASTRES (apudMONTERO, 1991)
) O termo "conídico" foi elaborado por Castoriadis como uma con- já refletiu que é a partir do Iluminismo que a sociedade
tração do termo conjuntistalidentitário, que se refere à lógica racio-
ocidental vai pensar e refletir sobre a sua própria condi-
nal, ao que ele chama de fazer e dizer/representar social. Conide é
tudo aquilo que diz respeito ao que é conjuntizável pelo homem,
ção de sociedade, fazendo isso a partir de uma auto-
quantificável lógico-racionalmente pelo homem. O elemento consciência histórica, mas que, no entanto, nessa reflexão'
conídico é também instituído pelo imaginário radical e é necessá- não se inclui as sociedades diferentes, porque para o
rio para a instituição de uma sociedade pelo imaginário radical. O Iluminismo estas sociedades não têm história, impossi-
social-histórico não prescinde do elemento conídico.
bilitando o seu conhecimento, pois, para estes ilumina-
4 Utilizarei aqui neste trabalho a concepção de tempo e espaço
como categorias, mas em um sentido mais lato, próximo a "idéia" dos, o único método que assegurava um conhecimento
e "conceito". cientifico era o método histórico. H. CLASTRES acres-

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centa, então, que os antropólogos evolucionistas vão fazer evolucionistas, num movimento de crítica e princípio de
umaradicalização do Iluminismo, ao incluírem as outras superação destas. Para CARDOSO DE OLIVEIRA, a
sociedades dentro da história da humanidade. antropologia se divide em duas tradições (intelectualista
Voltando novamente ao que dizia Fabian sobre e empirista) e dois tempos (diacrônico e sincrônico), que
inclusão/exclusão, ele afirma que a passagem da inclu- se intercruzam; a isso correspondem quatro paradigmas
são para o distanciamento (da pré-modemidade para a disciplinares que se situam cada qual em um tempo, uma
modemidade) ocorre a partir de uma secularização e tradição. Primeiro, a Escola Sociológica Francesa, que
naturalização do tempo. Assim, a concepção que os se inclui na tradição intelectualista (dentro da tradição
evolucionistas têm do tempo é de um tempo naturaliza- racionalista francesa, a partir de DESCARTES): aqui, se-
do, numa concepção neokantiana do tempo fisico e de gundo CARDOSO DE OLIVEIRA, o tempo é posto
um tempo espacializado. A ambição dos evolucionistas entre parênteses; segundo a Escola Estrutural-Funcional
é, assim, da construção de uma teoria universal do tem- Britânica de tradição empirista e tempo sincrônico: o tempo
po; tempo este que é unilinear, quantificável e universal. está mais do que nunca em suspenso; terceiro, a Escola
Concebendo todas as sociedades humanas como fazendo Histórico-Cultural, de tempo diacrônico e tradição
parte da história da humanidade, os evolucionistas fa- empírica: o tempo do outro é resgatado e incluído; por
zem um movimento de inclusão, como bem viu H. fim, o Interpretativismo (que não vou discutir aqui espe-
CLASTRES, mas também de exclusão (distanciamento) cificamente neste trabalho) de tradição intelectualista e
ou negação das sociedades diferenciadas. Como de- tempo diacrônico: história do pesquisador e pesquisado
monstra DAMA TIA (1994) (e fazendo já parte do "sen- são incluídos. A partir desta idéia de "Matriz Discipli-
so comum antropológico"), os evolucionistas pensam a nar", é possível fazer uma compreensão estrutural das
humanidade dentro de uma perspectiva de evolução e categorias, aqui implicadas, na antropologia. Aqui neste
progresso histórico: passando da selvageria, para a "espaço", levantarei então alguns pontos sobre o tempo/
barbárie, e daqui para a civilização, ponto mais alto da espaço nos três primeiros paradigmas.
evolução humana e onde se encontra a sociedade oci-
dental. Esse tipo de concepção é construída a partir de
alguns pressupostos e percepções: a) a humanidade se ESCOLA SOCIOLÓGICA
desenvolve a partir de estágios evolutivos, ocorridos
dentro de grandes escalas de tempo; b) a humanidade é
FRANCESA
uma só, ou seja, existe a unidade psíquica do homem; c)
as sociedades do mundo que se encontram na Aqui iniciarei retomando um pouco o que dizíamos so-
contemporanidade, de fato, estão divididas em estágios bre HAMELIN. Este, numa revisão à KANT, conside-
de tempo, são "sobrevivências" (termo cunhado por ra o tempo e o espaço como também categorias puras
TYLOR) de tempos passados. Assim, como observa do entendimento, não mais como formas mediadoras. A
DAMATTA, evolucionistas tais como MORGAN, partir dessa perspectiva, DURKHEIMs e MAUSS, vão
FRAZER, MAINE, MCLENNAN, entre outros, inclu- ampliar o campo das reflexões hamelianas. Para estes,
em essas sociedades na humanidade, mas asseguram o assim como para Kant e Hamelin, o homem pensa sim
distanciamento ao colocá-Ias em uma etapa do passado através de categorias, no entanto, estas categorias não
evolutivo do próprio Ocidente. Para os evolucionistas são formuladas no pensamento, elas são constituídas
assim como para os iluministas, o espaço é concebido sociohistoricamente; assim, tempo e espaço são cons-
enquanto local, pensado geograficamente. Assim, a dis- truções sociohistóricas, são instituições formuladas den-
tância entre sociedades é assegurada pelo tempo, pela tro de um contexto sociohistórico. As categorias são
história e pelo espaço. É assumida uma contem- concretas (apesar de não serem todas conceitos e cate-
poraneidade espacial para as sociedades diferenciadas, gorias, só aquelas que são o "esqueleto do espírito hu-
mas ao mesmo tempo negada uma historicidade/ mano", nas palavras de DURKHEIM); portanto, as
temporalidade contemporânea para elas.
Ao chegar a este ponto da reflexão, seria inte- 5 Todas as principais obras de DURKHEIM tratam, de uma forma
ressante se debruçar sobre algumas considerações acer- ou de outra, das categorias tempo/espaço. Mas, sem dúvida, o
ensaio em que ele mais aprofunda as questões relativas às categori-
ca do tempo/espaço na antropologia, tendo como base a
as humanas é o que ele fez, juntamente com MAUSS, Algumas
concepção de "Matriz Disciplinar" desenvolvida por R. formas primitivas de classificação escrito em 1903. A tradução
CARDOSO DE OLIVEIRA (1988), que compreende brasileira pode ser encontrada na coletânea Ensaios de Sociologia,
um momento imediatamente posterior às concepções de M. MAUSS (1981).

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categorias, o tempo e o espaço são representações so- ESTRUTURAL FUNCIONAL-BRITÂNICA
ciais. Tendo isto em comum, no entanto MAUSS e
DURKHEIM se afastam; esse cada vez numa pers- Talvez seja nesse paradigma que o tempo te-
pectiva de abstração maior; aquele sempre refletindo nha sido mais negado, ou mesmo posto no "gelo", como
através do concreto, do vivido e, assim, numa postu- diz Fabian, isso ocorrendo principalmente através de
ra em direção a um relativismo mais radical, con- MALINOWSK.I e RADCLIFFE-BROWN que não dis-
cluindo que cada sociedade elabora e constrói de cutem sobre essas categorias, apesar do mesmo não
formas diferenciadas as suas próprias categorias, acontecer com EV ANS-PRlTCHARD e outros, mas
estas elaborações sociais que vivem e morrem com então o tempo e espaço são pensados como formas de
suas sociedades (DUMONT, 1993). apreensão das contradições da própria estrutura do tem-
No entanto, levando em consideração ainda a po e do espaço relativo a uma sociedade determinada.
concepção de DURKHEIM do tempo e espaço en- Fabian acredita, assim, que apesar da crítica que a Es-
quanto categorias, R. CARDOSO DE OLIVEIRA cola Britânica faz aos evolucionistas, ela não questiona
considera que, para esse (e seus discípulos), com base a naturalização do tempo. o entanto, DAMA TT A
numa postura metodológica que se apóia no sincrônico, acrescenta que essa crítica dos britânicos tem conseqü-
o tempo é posto entre parênteses (assim como o indi- ências fundamentais para a antropologia, pois o tempo
víduo e o sujeito): ele é neutralizado e silenciado. Con- passa a ser relativizado, atra és da concepção sincrônica
tudo, acredito que o tempo em Durkheim é extremamente das sociedades, onde tempo e espaço devem ser relati-
ambíguo, pois mesmo postulando uma necessidade de vos a cada sociedade, pois estas têm seu próprio tempo
uma análise sincrônica da sociedade, ao mesmo tem- e espaço. Nesse sentido os britânicos se recusam a
po ele observa a necessidade de uma explicação his- fazer comparações entre o tempo e o espaço da sua
tórica, ou seja, diacrônica da sociedade, (o que explica sociedade e da sociedade pesquisada. Tempo e espaço
o motivo de M. GOLDMAN (1993) considerar relativos a cada sociedade implica aqui, acredito, em
DURKHEIM dentro de um modelo diacrônico), pois temporalidade e espacial idade localizadas.
está preocupado também com as origens dos fatos Contudo, no princípio do desenvolvimento desta
sociais; ou seja, ele tem também uma preocupação ge- escola, o tempo ainda não esta a posto no "gelo", para
nética (e portanto temporal) e não apenas estrutural utilizar um termo de FABIAN. . H. R. RlVERS, um
(e assim sincrônica), o que aponta para ambigüidades dos "fundadores" do paradigma estrutural-funcional,
e contradições do pensamento durkheimiano, mas que apoiado nas categorias (em um sentido não kantiano)
não aprofundaremos aqui. da causalidade e do empirismo - que são categorias de
Quando se trata da categoria espaço, valor para os intelectuais britânicos (CARDOSO DE
DURKHEIM considera-o estando diretamente ligado a OLIVEIRA, 1988 e DUMO T, 1993), categorias es-
sua concepção de morfologia social: a forma da socie- tas baseadas na lógica induti a de STUART MILL -,
dade, seu volume e sua densidade. MAUSS (1974a), considera a pesquisa de campo" como fundamental para
também partindo disso, elabora que a noção de pessoa o estudo antropológico, estudo este que deve ser feito a
diz respeito aos afetos e sentimentos de grupo em rela- partir da história (não-conjectural, como faziam os
ção ao local em que se encontram, assim o espaço está evolucionistas) e da psicologia social- sendo esta a pes-
diretamente relacionado à sociedade e ao local onde se quisa realmente social. Rivers vai privilegiar, então, o
situa (ou território onde esta se encontre). MAUSS,jun- estudo diacrônico sobre a sincronia, pois, para ele, aquele
tamente com HUPERT, partindo de DURKHEIM, vai deve ser realizado antes para ser possível o conheci-
analisar as categorias de tempo no "Esboço de uma te- mento do segundo; portanto, a partir desta perspectiva,
oria geral da Magia" (1974a) e a de espaço na sua
monografia sobre os Esquimós (197 4b), onde analisa a
6 É bom lembrar que, até esta época, fim do século XIX, os antro-
morfologia sazoneira das populações esquimós (e o tipo pólogos não realizavam pesquisa de campo, recebendo os dados
de comportamento social relativo a cada morfologia) a de terceiros. Estes antropólogos evolucionistas ficaram conheci-
partir da mudança de estação, que são duas, onde há dos como antropólogos de gabinete, e tiveram muitos de seus
dados e conclusões questionados, pois apresentavam seríssimos
uma conformação morfológica diferente em cada tem-
problemas de interpretação e metodológicos. Rivers é um dos
po. Assim, partindo sempre dos dados concretos, do vi- primeiros antropólogos a elaborar um programa em que a pesqui-
vido, MAUSS pretende demostrar que tempo e espaço sa de campo, realizada pelo antropólogo, é fundamental para a
são categorias sociais do entendimento, e, portanto, re- pesquisa antropológica Esta perspectiva vai influenciar toda a
lativa a cada sociedade. escola britânica.

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vê-se o impacto primordial da compreensão antropoló- obscurecimento pelo hegelianismo, KANT ressurge
gica ser posta no tempo histórico. Em contraposição, cenário alemão, contemporaneamente aos estudos e
rompendo drasticamente com seu antecessor, RAD- BOAS, repercutindo na história particularista de então.
CLIFFE-BROWN faz uma inversão do programa an- Nesse cenário, DIL THEY vai realizar um diálogo com
tropológico de RIVERS, dando privilégio ao social e KANT que repercute também em Boas. Não é dificil
excluindo ou negando o indivíduo e a história, numa então perceber que a concepção relativizadas e
radicalização do projeto durkheimiano, segundo CAR- particularista de BOAS é um eco do historicismo e do
DOSO DE OLIVEIRA. RADCLIFFE-BROUWN, en- kantismo em um dialogo com DIL THEY. Este a partir da
tão, vai considerar que o fundamental é conhecer antes noção de valor (relativo) de KANT vai pensar numa pers-
o estático, para só então ser possível o estudo e conhe- pectiva relativizada, comungando com Boas. Dentro des-
cimento do dinâmico. Isto porque considera que é exa- se quadro (KANT, DILTHEY, particularismo histórico
tamente o estático que permite a sobrevivência e alemão), BOAS irá considerar que o tempo e a história
continuidade da sociedade, através da relação de for- são particulares e relativos a uma dada cultura, possuin-
ças entre equilíbrio e conflito, sendo afunção uma rela- do e sendo significados dentro desta cultura. A
ção causal entre estas forças. É então por isso que a temporalidade significa e é particular a uma sociedade
análise das relações sociais deve ser realizada no está- especifica. Assim como Dilthey, numa conversa com o
tico, ou estrutura, pois este é o local privilegiado da particularismo histórico alemão ainda, BOAS considera
garantia da manutenção dessas relações. Assim, o tem- que é a tradição, significados e ações do homem no pas-
po realmente é posto no "gelo", ou mesmo, como ainda sado (a teoria do homem, como lembra Sahlins), que con-
diz FABIAN, é na pior das hipóteses considerado como sidera o presente e é efetivado a partir das ações do
não tendo significados. Portanto, a partir da concepção homem no presente; o presente é em parte condicionado
de espaço morfológico (influência de DURKHEIM), os pelo passado e em parte pelo futuro. A história se dá
britânicos vão relacionar o tempo a um espaço/ local localmente, ou seja, é particular a uma sociedade locali-
dado, tempo este que tem o seu movimento abstraído. zada em uma área determinada. É então aqui que Boas
realiza uma concepção de espaço como local, isto é, ge-
ograficamente. É em áreas ou círculos culturais (tendo
ESCOLA HISTÓRICo-CULTURAL AMERICANA como base a geografia) que os traços culturais são dife-
renciados no tempo e no espaço. Entretanto, é bom sali-
Aqui, ao contrário dos britânicos, o tempo é sim entar que Boas reafirma ser necessário um cuidado e
levado em consideração; tempo este histórico, mas de uma rigor metodológico na delimitação dessas áreas e na "tri-
historicidade da sociedade estudada, pois a historicidade lha" desses traços culturais. Tendo uma perspectiva ge-
do observador é ainda neutralizada, sendo a historicidade ográfica do espaço (territorialidade), Boas acredita que é
do "Outro" e a a-historicidade do pesquisador garantia para o método histórico o único que pode dar condições ao
o alcance do conhecimento objetivo, (CARDOSO DE alcance do conhecimento das culturas, entretanto ele não
OLIVEIRA, 1998). Assim, Fabian concebe que, no nega a possibilidade de uma abordagem sincrônica, mas
culturalismo, o tempo é relativizado ao humano, abando- considera que isto por enquanto não é possível (numa
nando-se uma preocupação com uma teoria universal do perspectiva inversa a RADCLIFFE-BROWN), tendo em
tempo (como faziam os evolucionistas sociais), deixando vista que seria necessário ter um conhecimento pleno da
este para as preocupações da evolução biológica. sociedade, o que, segundo ele, ainda é impossí el.
Para compreender melhor esta escola, seria in- Portanto, com o já exposto até aqui, pode-se
teressante aqui abordar especificamente as concepções vislumbrar diferentes formas de utilização e concepção
de F. BOAS (alemão naturalizado americano), já que metodológica e epistemológica de tempo/espaço na an-
este é o fundador e mentor deste paradigma. As pers- tropologia clássica, e como estas categorias são
pectivas teóricas boasianas estão diretamente ligadas à condicionantes da própria construção paradigmática da
tradição alemã, como também à sua experiência no cam- disciplina; entretanto, é impossível deixar de reafirmar
po. Boas, como lembra STOCKING (apud SAHLINS, que a antropologia clássica e atual, quer considerando
1979), é diretamente influenciado pela filosofia de Kant ou não tempo/espaço como categorias do entendimen-
e pelo repensar deste por Dilthey, além do historicismo to, certamente as considera como categorias culturais.
•.. ão e do difusionismo de RATZEL e BASTIAN. as deixarei as reflexões abstratas um pouco de lado .
oi na Alemanha o primeiro a advogar O e e inte agora é debruçar sobre como estas
~~.ri·~a ra ional da humanidade e, apesar de se categorias estão presentes na prática etnográfica, numa

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lU ••
rápida e superficial análise que servirá mais a título de de linhagem e parentescos. Portanto, ele afirma que os
exemplo. Nuer têm uma baixa profundidade temporal, tendo em
vista que o tempo é fixo e contado entre dois pontos.
Assim, por exemplo, o tempo é contado entre um grupo
ALGUNS EXEMPLOS ETNOGRÁFICOS E O de agnatos em relação ao ancestral em comum mais
TEMPO/ESPAÇO afastado na escala temporal, os graus de parentesco, no
entanto, são quatro: avô - pai - filho - neto. Quando se
Ora, a antropologia está transbordando de im- pensa nos grupos etários, os Nuer concebem seis e o
portantes textos etnográficos que tocam a questão do tempo é contado entre o primeiro e o sexto grupo etário.
tempo/espaço - tomando-os invisíveis ou o contrário. Como fala EV ANS-PRlTCHARD, para os Nuer o co-
Mas, aqui me deterei sobre dois trabalhos que conside- meço do mundo foi e é há um tempo sempre recente.
ro exemplares: o primeiro é a clássica etnografia de E. Ainda em relação ao tempo estrutural, EV ANS-
EV ANS-PRlTCHARD sobre os Nuer da África; o se- PRlTCHARD considera que este está condicionado e
gundo é um trabalho contemporâneo da antropóloga bra- estruturado pelo espaço ou distância estrutural, como já
sileira E. WOORTMANN sobre uma população mencionei; o tempo só pode ser conhecido se se conhe-
pesqueira do Nordeste do Brasil. Assim, o que pretendo ce a distância estrutural. Mas, para compreender isto é
é, rapidamente, demonstrar como o tempo/espaço foi necessário antes considerarmos os espaços Nuer, por
pensado na antropologia clássica e como é concebido EVANS-PRITCHARD.
hoje na antropologia contemporânea. Ora, os Nuertambém possuem dois espaços ou
distâncias: a ecológica que se refere a distribuição e
densidade, como também à água, a vegetação, etc.; e a
EVANS-PRITCHARD - OS NUER distância estrutural, que se refere as relações entre
grupos e ao valor e significado dessas relações, modifi-
Talvez esta seja uma das etnografias mais conhe- cando a distância ecológica. Assim, se três aldeias ( a,
cidas sobre o tempo e o espaço de uma dada sociedade, no a', e b ) estão geograficamente eqüidistantes, na dis-
caso, a sociedade Nuer. Aqui EV ANS-PRlTCHARD tância ecológica, se a, e a' fazem parte de uma mesma
(1978) analisa a sociedade Nuer (dentro de uma perspec- linhagem, elas estão mais próximas em relação à dis-
tiva estrutural-funcional, na tradição de RADCLIFFE- tância estrutural do que b. Há, então, alguns tipos de
BROWN) considerandoque o socialestá contidono ecológico. distâncias estruturais: linhagem grupos etários, etc.
A partir dos seus dados, ele descreve que os Nuer conce- Assim, a distância estrutural entre segmentos de linha-
bem dois tipos de tempo (sendo o tempo uma sucessão de gem mínima é menor do que a distância estrutural entre
acontecimentos): o tempo ecológico e o tempo estrutu- os segmentos da linhagem menor, que é menor do que
ral. No primeiro, o tempo é concebido como um reflexo os segmentos da linhagem maior que é menor do que os
das relações com o meio ambiente; no segundo o tempo é segmentos da linhagem máxima. É partindo da distân-
concebido como um reflexo das relações entre os grupos cia estrutural entre, por exemplo, os indivíduos de um
sociais. O tempo ecológico possui uma concepção cíclica, grupo de agnatos, que se conhece o tempo estrutural
sendo a contagem do tempo anual, em que se encontram dessa linhagem a partir do ancestral comum mais longe
duas estações principais: a da chuva e de seca. É seca na estrutura de linhagens. Assim, para o autor, tempo e
quando se está no acampamento, é chuva quando se está espaço se inter-relacionam, o espaço condicionando o
na aldeia. A concepção de tempo ecológico é feita a partir tempo. E, nessa brilhante etnografia de EV ANS-
das atividades, ou seja, são as atividades que defmem o PRlTCHARD, podemos encontrar o pressuposto da
tempo ecológico. Assim, literalmente, o tempo é o de seca, escola britânica, e já mencionados, do tempo e espaço
não porque cessaram as chuvas, mas porque se está no relativos apenas à sociedade estudada, mais especifica-
acampamento. Nesse sentido, são as atividades que dão mente, à estrutura e funcionamento de uma socieda-
significado ao tempo ecológico. O tempo estrutural é um de específica.
reflexo ou está condicionado pela distância estrutural:
faz parte, assim, propriamente da estrutura social. Segun-
do EVANS-PRITCHARD, a contagem do tempo estrutu- E. WOORTMANN - TEMPO, ESPAÇO E GÊNERO
ral se dá a partir de pontos significativos dentro do contexto
social e histórico para o grupo, mais a relação entre os Chega-se então à contemporaneidade. Na
grupos de conjuntos etários e a relação dos segmentos etnografia "Da Complementaridade à Dependência:

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espaço, tempo e gênero em comunidades "pesqueiras" oposição entre o tempo de antigamente/jartura-res-
do nordeste", WOORTMANN (1992) discute a cons- peito; e o tempo de hoje ("um tempo muito esquisi-
trução de gênero em uma comunidade "pesqueira" do to '')/de ambição, onde as relações são monetarizadas
NE, a partir das categorias (do pensamento e culturais) e a mulher passa a ser considerada pelos homens como
de tempo e espaço. Nessa etnografia, já podemos per- preguiçosa e, assim, ocorrendo uma desvalorização da
ceber a mudança de tom e de perspectiva, sobre o tem- mulher. WOORTMANN considera, então, como já dito,
po e o espaço, que encontramos nas etnografias atuais. que a identidade feminina (ou de gênero, já que também
Nessa comunidade os seus limites e a sua identidade se a do homem) é construída a partir da percepção do es-
constroem a partir dos espaços que são incluídos como paço e do tempo, que não é dito, mas é sentido. Um
fazendo parte da comunidade: a terra e o mar - apesar tempo passado que é idealizado, uma temporal idade que
do mar ser, no discurso, apontado como o espaço da se percebe a partir da memória. Existe, então, o tempo
comunidade e através do qual ele se define. Woortmann dos acontecimentos, que é refletido a partir da experiên-
considera, entretanto, que estes espaços são comple- cia da mulher, de sua vivência; e o tempo cíclico, o da
mentares, mesmo que ideologicamente hierarquizados, pesca, o do preparo do pescador, o da suspensão tem-
mas que no entanto estes espaços foram modificados porária da pesca.
no decorrer dos acontecimentos e dos tempos. Mas, WOORTMANN conclui, então, fazendo uma
acrescenta ela, é a partir do tempo e pelo espaço, que a comparação com EVANS-PRITCHARD, que para
identidade de gênero é constituída pelas mulheres, sem- este o tempo estrutural é constituído da identidade do
pre em relação ao espaço e tempo dos homens e aos grupo. Ela, no entanto, vai mais longe e acrescenta
homens. Assim, tempo e espaço são pensados a partir que este tempo estrutural é constituído não apenas da
de polaridades que são flexibilizadas por tempos e espa- identidade do grupo, mas também (e principalmente)
ços intermediários. Portanto, no tempo de antigamente das identidades de gênero. Para além disso, a autora
(tempo das terras soltas) a terra era o espaço da mulher considera que a história dessas mulheres, como per-
e o mar o espaço dos homens, estes espaços eram sub- cebidas e construídas por elas mesmo, está condicio-
divididos em terra solta - mulher, praia-mulherlhomem, nada pela própria temporal idade do tempo, ou seja: a
mar de dentro-homem/mulher, mar de fora - homem. concepção do tempo, da historicidade, está condi-
No tempo de antigamente era o tempo da fartura e do cionada a temporalidade vivida relativa a própria con-
respeito à mulher, pois as atividades femininas tingência temporal dos pesquisados e de suas
complementavam a masculina e era no domínio da mu- representações dos tempos, consequentemente, dos es-
lher que a vida social se organizava. Nesse tempo, a paços. Ainda mais, a própria percepção do antropólo-
terra era coletiva e utilizada pelas mulheres para o plan- go sobre os espaços e os tempos construídos pelo
tio, coleta e parto, onde as necessidades familiares eram pesquisados é condicionado pela contingência temporal.
satisfeitas por essas atividades, acrescentando a isso a Enfim, depois dessa rápida digressão sobre es-
reciprocidade na comunidade, evitando uma moneta- tas etnografias acima comentadas, posso retomar a
rização das relações. Esse tempo, o tempo da fartura, FABIAN (1983) e ver como ele classifica os usos e
representa para as mulheres o tempo do respeito, do concepções do tempo na disciplina. Ele considera que
valor. há três tipos de uso do tempo na antropologia: o ''Physical
Entretanto, vai ocorrer nessa comunidade, como Time" (usado pelos evolucionistas) onde o tempo é na-
em outras, uma modificação dos espaços: espaço do turalizado, considerado em relação a contagem de gran-
homem permanece inalterado, entretanto, é o espaço des escalas de tempo - há uma frieza do antropólogo
da mulher que se modifica. Com a chegada do arame, em relação aos tempos. Segundo o' Typological Time"
da cerca, as mulheres vão ter seus espaços diminuídos (funcionalistas, culturalistas, etc.) onde o tempo é pen-
e consequentemente, também suas atividades. Assim, a sado a partir dos acontecimentos sociais significativos,
terra agora será o espaço em que a mulher será o braço mais precisamente entre os acontecimentos - ele é pen-
do homem. Esse processo que se agrava no decorrer sado em termos de classificação dos opostos: rural/ur-
do tempo - através das privatizações da terra, do man- bano, tradicional/moderno, etc.; é pensado enquanto
gue, da poluição da praia e também do mangue, da venda "entidade" e não como movimento. Por fim, há o
da casa de pescadores para turistas -, representa a im- "Intersubjective Time", defendido por GEERTZ e seus
possibilidade e dificuldade da mulher em desenvolver seguidores, profundamente reelaborado e refletido pela
atividades que complementem às do homem. Essa mu- antropologia atual, como pode-se entrever pela
dança de tempo é percebida pelas mulheres como uma etnografia de WOORTMANN.

Educação em Debate - Fortaleza - ANO 20 - N° 35 - 1998 - p. 29-36 rTs


CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Sobre o Pen-
É aqui, então, que podemos iniciar as minhas
samento Antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Bra-
conclusões. Diferentemente da antropologia clássi-
sileiro,1988.
ca, o paradigma interpretativista vai incluir, na sua
CASTORIADIS, Cornelius. As Encruzilhadas do Labi-
perspectiva, as categorias da desordem (CARDO- rinto: o mundo fragmentado. Rio de Janeiro: Paz e
SO DE OLIVEIRA, 1988), nelas incluídas a subjeti- Terra, 1992.
vidade e a historicidade, só que não apenas do "Outro", DAMA TIA, Roberto. Relativizando: uma introdução à
assim como percebe-se na etnografia de WOORT- antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.
MANN: o tempo do etnógrafo, na historicidade, é o DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva
tempo contingente, faz parte mesmo da pesquisa antropológica da ideologia moderna. Rio de Janei-
etnográfica e da própria etnografia. Como falam os ro: Rocco, 1993..
pós-modernos, a própria etnografia tem o seu tempo. EV ANS-PRITCHARD, E.E. Os Nuer. São Paulo: Pers-
Além disso, como observa o pós-moderno G. Marcus pectiva, 1978.
(1994), dentro de um mundo fragmentado, os espa- FABIAN, Johannes. Time and The Other: how
anthropology makes its object. New York: Columbia
ços devem ser desterritorializados, e as etnografias
University Press, 1983.
realizadas dentro de uma percepção não mais local
GOLDMAN, Márcio. Antropologia Contemporânea, So-
(como faziam os antropólogos da antropologia clássi-
ciedades Complexas e outras Questões. In: Anuário
ca, que tinham como uma das técnicas de pesquisa a Antropológico 93. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
elaboração de um mapa e da distribuição da socieda- 1995,p.ll3-153.
de ), é por isso que ele considera ser possível fazer MAUSS, Mareei. Sociologia e Antropologia. São Pau-
uma comparação por justaposição, a partir da transi- lo: EPUIEDUSP, voI. I, 1974a.
toriedade do espaço, possibilitando a comparação MAUSS, MarceI. Sociologia e Antropologia. São Pau-
entre coisas incomensuráveis. Para além das consi- lo: EPUIEDUSP, voI. n, 1974b.
derações sempre bombásticas, mas nem sempre per- MAUSS, MarceI. Ensaios de Sociologia. São Paulo:
tinentes dos pós-modernos, podemos terminar com Perspectiva, 1981.
as reflexões que a antropologia reflexiva britânica nos MONTERO, Paula. Reflexão sobre uma Antropologia das
últimos anos vem elaborando, quando que observa que Sociedades Complexas. In: Revista de Antropologia,
o processo do conhecimento antropológico decorre a São Paulo: FFLCHlUSP, 1991, voI. 34, p. 103-l30.
SAIllJNS, Marshall. Cultura e Razão Prática. Rio de
partir de um contexto, temporal e espacial, onde as
Janeiro: Zahar, 1979.
experiências do sujeito que observa e do que é ob-
WOORTMANN, Ellen. Da Complementaridade à Depen-
servado (sendo que este também observa) fazem
dência: espaço, tempo e gênero em comunidade "pes-
parte, dentro de tempos e espaços, da própria cons-
queiras" do nordeste. In: Revista Brasileira de
trução do saber antropológico. Ciências Sociais. São Paulo: ANPOCS, 1992, n2 18.

36] Educação em Debate - Fortaleza - ANO 20 - N° 35 - 1998 - p. 29-36

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