CONTESTAÇÃO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DO

TRABALHO DE

ATOrd00000000
RECLAMANTE:SEU ZÉ(3)
RECLAMADO: FULANO E OUTROS (5)

FULANO E OUTROS 5, pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o


CNPJ de nº 00000000, com endereço profissional localizado na Rua TAL, nº 00
BAIRRO, CIDADE, CEP:, E AS OUTRAS QUALIFICAÇÕES, SE HOUVER, por
intermédio de sua advogada infra-firmada ADVOGADA(procuração anexa – doc.
01), OAB/PE 26414-D, endereço àLLLLLLLLL, 00, BAIRRO, CEP 000000 CIDADE.,
vem perante Vossa Excelência, com base no art. 847 da CLT c/c art. 336 do CPC e
demais dispositivos legais pertinentes ao caso, para apresentar tempestivamente
sua CONTESTAÇÃO aos termos da RECLAMAÇÃO TRABALHISTA proposta por
SEU ZÉ, já qualificados nos autos, o que faz pelos motivos de fato e de direito que
passa a expor.

1. DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE DE DOCUMENTOS


REPROGRÁFICOS OFERECIDOS PARA PROVAS –

Com lastro no art. 425, inciso VI, do CPC, c/c com art. 830 da CLT, e sob a
responsabilidade pessoal do advogado que esta subscreve, cabe declarar que são
autênticas as cópias reprográficas dos documentos anexos a esta petição, não
sendo necessárias, portanto, as autenticações cartorárias. Caso o Reclamante
impugnar[1] as autenticidades das cópias, requer-se seja intimado para apresentar
os originais ou cópias devidamente autenticadas, para o serventuário competente
proceder à conferência e certificar a conformidade entre esses documentos, nos
termos do parágrafo único, do art. 830, da CLT.

2. DO ÔNUS DA PROVA

Aquele que alega deve provar o alegado nos termos do artigo 818 da
Consolidação das Leis do Trabalho, combinado com artigo 333 do CPC,
consoante ensina Valentin Carrion, em sua consagrada obra Comentários à
Consolidação das Leis do Trabalho, “... quem não pode provar é como que
nada tem aquilo que não é provado é como se não existisse; não poder ser
provado, ou não ser é a mesma coisa” (Mascarus, apud João Mendes de
Almeida Jr. - Direito Judiciário do Trabalho).

Esclarece, ainda, o citado Autor, na mesma obra:

“A falta de provas, quanto a certo fato que interessa ao


processo e que poderá ter influência no julgado, prejudica
aquele a quem incumbia o ônus da prova, ou seja, quem tinha a
responsabilidade de provar: não o tendo feito, a sentença terá o
respectivo fato como inexistente.”

“Ao Autor cabe o ônus da prova do fato constitutivo de seu


direito.”

“Fato constitutivo é o fato capaz de produzir o direito que a


parte pleiteia...”

No caso sub-judice, compete ao Reclamante provar, robustamente, os fatos


constitutivos dos direitos que postula, sob pena de indeferimento das pretensões.

3. PRELIMINARES DE DEFESA

3.1 – Da Impugnação ao Pedido de Assistência Judiciária Gratuita

Excelência, tendo em vista as novas disposições do NCPC, não mais se faz


necessário interpôr peça apartada quando da impugnação ao pedido de AJG do
Reclamante, conforme Art. 337, XIII, da Lei 13.105/2015, vejamos:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


[…] XIII – indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
[…]

No âmbito do Processo do Trabalho, este benefício somente pode ser


concedido quando presentes e atendidos os requisitos exigidos pelo artigo 14 da Lei
n. 5.584/70, motivo pelo qual, não estando presentes esses requisitos, deve ser
indeferida a concessão deste benefício à reclamante. Salienta-se ainda que o artigo
133 da CF de 1988 não revogou a referida Lei, tampouco, o “jus postulandi”, próprio
do processo do trabalho, assegurado pelo artigo 791 da Consolidação das Leis do
Trabalho.

Não pode ser desvirtuada a natureza do benefício da gratuidade judiciária,


visto que destinada a pessoas sem possibilidade de sustento próprio e de sua
família, não sendo este o caso da demandante.

Atualmente, a simples afirmação de miserabilidade jurídica não basta para o


deferimento da assistência judiciária gratuita. Revogada foi a presunção de pobreza
anteriormente estabelecida em lei ordinária. A Nova Constituição Federal, mais
precisamente em seu artigo V, inciso LXXIV, determina: “O Estado prestará
assistência judiciária e integral gratuita aos que comprovarem a insuficiência de
recursos”.

A simples declaração de pobreza não tem, no Processo do Trabalho, a


mesma força que possui na Justiça Comum. Isto é, não basta a simples declaração
para a requerente ser considerada impossibilitada de sustento próprio, deve haver
comprovação, mediante atestado da autoridade local do Ministério do Trabalho (art.
14, § 2º, da Lei nº 5.584/70) da situação econômica peculiar.

Na espécie, o RECLAMANTE, contrariando dispositivo constitucional, não


comprovou a condição alegada.

Assim, em sede preliminar, requer-se o indeferimento do pedido de AJG.

3.2 DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL

Inicialmente, vem a Reclamada, anteriormente à discussão do mérito,


requerer seja julgado improcedente o pedido autoral, nos termos precisos do art.
330, I, do CPC, pois: São requisitos do pedido que o mesmo seja claro, coerente,
certo e determinado, não se admitindo pedido implícito, ou seja, aquele
reputado formulado, mesmo sem ter sido feito expressamente.
As quatro características supra mencionadas são também as quatro
dimensões da sentença regular.
Desta maneira, informe-se, que conforme o parágrafo único do artigo 330,
§ 1º, inciso III do CPC a inicial apresenta inépcia quando falta pedido ou causa de
pedir; da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; o pedido for
juridicamente impossível; ou contiver pedidos incompatíveis entre si.

Apesar de mais flexível, a inicial trabalhista deve revestir-se de no


mínimo condições claras à compreensão do dissídio, nos termos do ARt. 840, §1
das CLT, in verbis:

Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.


§ 1º Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do
juízo, a qualificação das partes, a breve exposição dos fatos de que
resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e
com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante
ou de seu representante.

Dessa forma, considerando que a petição inicial deixou de explicar


pormenorizadamente o que efetivamente pleiteia e apresentar os cálculos
discriminados de todas as verbas pleiteadas, deixou de apresentar PEDIDO
CERTO, DETERMINADO e com o VALOR pleiteado, deve culminar com a inépcia
da inicial, conforme precedentes sobre o tema:

PEDIDO GENÉRICO DE INCORPORAÇÃO. INVIABILIDADE DE


ACOLHIMENTO. Não basta à parte formular genericamente
pedido de 'incorporação' do vale alimentação e do adicional de
insalubridade, sem declinar em quais parcelas do contrato
pretende ver integrados tais títulos, uma vez que não cabe ao
juízo deduzir a respeito, inclusive sob pena de decidir aquém ou
além da pretensão. (TRT-4 - RO: 00201914820185040471, Data de
Julgamento: 23/04/2019, 11ª Turma)

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO. PEDIDO CERTO E


DETERMINADO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ART. 840 DA CLT. (...).
No processo do trabalho o pedido deve ser certo e determinado,
além de indicar o valor correspondente, na forma do art. 840 da
CLT, sendo que sua inobservância importará na extinção do
pedido sem resolução do mérito (§ 3º), o que equivale à
extinção processual por inépcia. (TRT-1,
0100079-72.2018.5.01.0205 - DEJT 2019-03-23, Rel. DALVA
AMELIA DE OLIVEIRA MUNOZ CORREIA, julgado em 19/03/2019)

Portanto, diante da ausência de explicação pormenorizadamente do


que efetivamente pleiteia e de valor certo e determinado na inicial, requer a
extinção do processo por manifesta INÉPCIA DA INICIAL.

4. MÉRITO DA RECLAMATÓRIA
A Reclamada impugna todos os fatos articulados na inicial, esperando a
IMPROCEDÊNCIA DA RECLAMAÇÃO PROPOSTA, pelos seguintes motivos:

4.1 DA RESCISÃO INDIRETA

A rescisão indireta é direito do empregado somente diante de circunstâncias


legais previstas na CLT, em seu Art. 483, quando caracterizarem gravidade
suficiente a justificar o pedido de rescisão.

No presente caso, a saída do emprego deu-se por iniciativa dos próprios


RECLAMANTES, uma vez que não configurada qualquer das hipóteses que
motivam a rescisão indireta.

Tem-se, pelo contrário, notória caracterização de abandono de emprego, uma


vez que os Reclamantes foram notificados diversas vezes para retornar ao trabalho.

Portanto, tratando-se de desligamento por iniciativa dos reclamantes, não há


que se falar em rescisão indireta, conforme posicionamento do próprio TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RESCISÃO INDIRETA. O Tribunal Regional, com amparo no
quadro fático dos autos, concluiu que a rescisão contratual
ocorreu por iniciativa do reclamante, na medida em que não
restou evidenciada nos autos nenhuma falta grave cometida
pela reclamada, apta a ensejar o reconhecimento da rescisão
indireta do contrato de trabalho. Desse modo, para se decidir
diversamente, como pretende o reclamante, e de forma a ter
como violados os artigos 7º, VI, da Constituição Federal e 2º e
483, "d", da CLT, necessário seria o revolvimento de fatos e
provas, o que é inviável nesta Corte Superior, a teor da Súmula
nº 126 do TST. Agravo de instrumento conhecido e não
provido. (TST, AIRR - 12090-88.2015.5.15.0093, Relatora
Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento:
28/02/2018, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 02/03/2018)

Portanto, não há que se falar em rescisão indireta quando inexistem


elementos imputados às reclamadas para sua configuração.

No presente caso não há elementos que provem alguma conduta das


Reclamadas suficientemente grave a amparar o pedido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RESCISÃO INDIRETA. O Tribunal Regional decidiu que o
rompimento do vínculo empregatício por culpa do empregador
deve ser de natureza grave, que impeça o prosseguimento da
execução do contrato de trabalho ou justifique sua extinção, o
que não ficou comprovado no caso em apreço, uma vez que a
prova oral não se mostrou apta a demonstrar que o
afastamento do reclamante de seu trabalho não decorreu de
sua livre vontade, mas de ilícito praticado pelo empregador,
razão pela qual a Corte de origem afastou o reconhecimento
da rescisão indireta do contrato de trabalho do reclamante.
Ileso o art. 820 da CLT, porque, primeiro, o referido dispositivo
sequer disciplina matéria alusiva à rescisão indireta, segundo,
o artigo mencionado não impede o Regional de, avaliando a
prova dos autos, concluir de modo contrário ao juízo de
origem. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST,
AIRR - 20680-19.2015.5.04.0333, Relatora Ministra: Dora
Maria da Costa, Data de Julgamento: 28/02/2018, 8ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 02/03/2018)

RESCISÃO INDIRETA. CRITÉRIOS. 1. Para a configuração da


rescisão indireta, impõe-se ao trabalhador comprovar, dentre
outros requisitos, a gravidade, a adequação e a
proporcionalidade entre a conduta do empregador e a punição
a ele aplicada (artigos 483 e 818 da Consolidação das Leis
Trabalhistas). 2. Não comprovados os atos ilícitos alegados
pelo autor, não há falar em rescisão indireta. (TRT-24
00253264020155240002, Relator: AMAURY RODRIGUES
PINTO JUNIOR, 2ª TURMA, Data de Publicação: 03/02/2017,
#93165242)

Portanto, não há que se falar em rescisão indireta quando inexistem provas


de qualquer fato com a notória gravidade exigida em lei para sua configuração.

Ademais, o simples atraso no recolhimento do FGTS não configura por si só


motivos para a rescisão indireta, conforme precedentes sobre o tema:

AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. RESCISÃO


INDIRETA. A ausência de recolhimento dos depósitos do
FGTS na conta vinculada do empregado, por si só, não
configura falta grave do empregador apta a ensejar a rescisão
indireta do contrato de trabalho." (Inteligência da Súmula nº
126 do TRT de Santa Catarina) (TRT12 - RO -
0000235-80.2017.5.12.0011, Rel. WANDERLEY GODOY
JUNIOR, 1ª Câmara, Data de Assinatura: 11/04/2018,
#23165242)
Portanto, sem a demonstração inequívoca de falta grave por parte do
empregador, não há que se falar de direito à rescisão indireta, refletindo na
necessária improcedência da inicial.

O simples fato de haver diferenças salariais que os reclamantes entendem


ser devidos, não configura por si só, falta grave suficiente a motivar a rescisão
indireta.

Como mencionado, a falta deve ser suficientemente grave a ponto de motivar


a "Demissão por justa causa do empregador", conforme entendimento do próprio
TST:

RECURSO DE REVISTA. PROCESSO ANTERIOR À LEI Nº


13.467/2017. RESCISÃO INDIRETA POR DIFERENÇAS DE
HORAS EXTRAS. INOCORRÊNCIA. Cinge-se a controvérsia
ao exame da possibilidade de reconhecimento da rescisão
indireta do contrato de trabalho, nos termos do artigo 483, "d",
da CLT, quando há inadimplemento parcial de verbas
trabalhistas, consistente em diferenças de horas extras não
pagas. O Tribunal Regional entendeu não se tratar de hipótese
de rescisão indireta, mas sim de pedido de demissão. No caso
dos autos, em que pese ao fato de restar incontroversa a
existência de diferenças de horas extras impagas pelo
empregador, tal fato, por si só, não é capaz de ensejar a
rescisão indireta do contrato de trabalho. A falta cometida pelo
empregador, embora reprovável, não detém gravidade
suficiente a fim de abalar a continuidade da relação de
emprego. Se o caso fosse de ausência total do pagamento de
horas extras, dúvidas não haveria quanto a configuração da
justa causa do empregador. No entanto, em se tratando
apenas de diferenças, que podem decorrer inclusive de uma
errônea interpretação do ordenamento jurídico, sem qualquer
outro descumprimento contratual por parte da empresa
reclamada, visto que as alegações de "ausência de anotação
da CTPS na época própria" e "inexistência de recolhimento do
FGTS sobre as gorjetas" não ficaram comprovadas, não reputo
a conduta com gravidade suficiente para reconhecer a ruptura
do vínculo por culpa grave da ré. Logo, resta incólume o artigo
483, "d", da CLT, devendo ser mantida a decisão da Corte
Regional. Recurso de revista não conhecido. (TST, RR -
129-95.2013.5.07.0012, Relator Ministro: Alexandre de Souza
Agra Belmonte, Data de Julgamento: 13/11/2018, 3ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 16/11/2018)
Portanto, não há que se falar em rescisão indireta quando estamos diante de
um fato sem a notória gravidade exigida em lei para sua configuração.

4.2 NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS

Outra alegação trazida pelo reclamante diz respeito ao não recolhimento do


FGTS. Constata-se pelo extrato que é incontroverso a ausência de depósitos da
verba fundiária, contudo não é motivo suficiente para o pedido de rescisão indireta.

A irregularidade nos depósitos do FGTS não é falta suficiente para


caracterizar a justa causa por culpa do empregador, visto que os depósitos poderão
ser regularizados a qualquer tempo, inclusive por vias judiciais, ou por via
administrativa, no momento oportuno para movimentação da conta vinculada,
acrescido de suas correções.

O descumprimento das obrigações trabalhistas deve se revestir de gravidade


que torne impossível/inviabilize a continuidade do pacto laboral. Ocorre que os
descumprimentos contratuais alegados pela demandante não são graves ao ponto
de tornar insustentável a manutenção do vínculo empregatício.

A falta de depósitos do FGTS isoladamente, por exemplo, não configuraria


falta suficientemente grave a ensejar a rescisão indireta do contrato, acolhendo-se
modalidade de extinção postulada, até porque inexiste óbice à obtenção da parcela
pleiteada pela autora mediante o ajuizamento de reclamatória trabalhista, como de
fato assim procedeu.

Reitera-se que a rescisão indireta só se verifica quando a conduta do


empregador torna insuportável ao obreiro a permanência no emprego, o que não
ocorre no caso em análise. Tem-se que a reclamante não se desincumbiu do ônus
de comprovar falta praticada pelo empregador com gravidade suficiente a justificar o
acolhimento do pedido de rescisão indireta.

Ademais, o reclamante não demonstrou que pretendeu a utilização da verba


dentro das hipóteses cabíveis em lei (doença grave ou aquisição do imóvel), a fim
de comprovar efetivo prejuízo, deixando a reclamada em plenas condições de
cumprir a obrigação a qualquer momento, inclusive optando pela integralidade numa
hipótese de rescisão imotivada.

O pleito de rescisão indireta deve basear-se em falta grave praticada pelo


empregador. O não recolhimento do FGTS, embora reprovável, não detém
gravidade suficiente a fim de abalar a continuidade da relação de emprego,
principalmente na atual conjuntura econômica. Neste sentido a jurisprudência:

AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. RESCISÃO


INDIRETA. A ausência de recolhimento dos depósitos do
FGTS na conta vinculada do empregado, por si só, não
configura falta grave do empregador apta a ensejar a rescisão
indireta do contrato de trabalho."(Inteligência da Súmula nº 126
do TRT de Santa Catarina) (TRT12 - RO -
0000235-80.2017.5.12.0011, Rel. WANDERLEY GODOY
JUNIOR, 1ª Câmara, Data de Assinatura: 11/04/2018)

Os depósitos mensais do FGTS não são verbas rescisórias, das quais trata a
norma celetista citada, e seu inadimplemento não é motivo para a punição
pretendida.

O pedido de rescisão indireta não pode ser utilizado como artifício para
levantar o FGTS, receber o seguro-desemprego e verbas devidas na dispensa sem
justa causa. O reclamante vê na rescisão indireta a possibilidade de obter
vantagens financeiras. Nesse contexto, qualquer descumprimento contratual passa
a ser apresentado como justificativa para tanto, assoberbando ainda mais o
Judiciário com demandas sem procedência. Essa banalização acaba prejudicando o
trabalhador que realmente precisa se valer do instituto.

4.3 CONTRATO DE EMPREGO, REMUNERAÇÃO E RESCISÃO INDIRETA

A presente ação reclamatória é proposta por 3 Reclamantes:

LUIZ JERÔNIMO DA SILVA FILHO, admitido em 03/02/2020, na função de


porteiro, percebeu como último salário o valor de R$ 1.603,79, e último dia de
trabalho ativo 21/03/2022;

SILVIO BEZERRA DE ARAÚJO, admitido em 05/11/2019, na função de


Auxiliar de Serviços Gerais, percebeu como último salário o valor de R$ 1.220,00
(mil duzentos e vinte reais), e último dia de trabalho ativo 21/03/2022;

SÁVIO FRANCISCO DO LIVRAMENTO, admitido em 14/07/2021, na função


de Porteiro, percebeu como último salário o valor de R$ R$ 1.203,71 (mil duzentos e
três reais e setenta e um centavos), e último dia de trabalho ativo 21/03/2022.

Afirmam que o presente pedido é fundamentado nas seguintes situações:


atraso no pagamento de seu salário e ausência de depósitos de FGTS na conta
vinculada, e que diante dessas situações requer: a rescisão do contrato de
trabalho, com a declaração da extinção contratual por culpa do empregador, a
baixa da CTPS, bem como, no pagamento do aviso-prévio, saldo de salário,
férias proporcionais com 1/3 da CF, décimo terceiro salário proporcional,
multa de 40% do FGTS, liberação dos depósitos do FGTS e a entrega da guia
SD ou indenização relativa ao seguro-desemprego.

Prevista no artigo 483 da CLT, a rescisão indireta visa proteger o empregado


de faltas graves cometidas pelo empregador, podendo ser chamada de “justa causa
patronal”, expressão esta utilizada pelo ministro Renato de Lacerda Paiva, do
Tribunal Superior do Trabalho.

Nas palavras de Amauri Mascaro Nascimento, a rescisão indireta nada mais


é do que a rescisão do contrato de trabalho pelo empregado, tendo em vista justa
causa praticada pelo empregador.

Ocorre que, assim como a justa causa por iniciativa do empregador, por ato
praticado pelo operário, a rescisão indireta precisa ser muito bem fundamentada e
provada, o que não pode se aceitar no presente caso.

A jurisprudência e a doutrina entendem que a despedida por justa causa é a


forma de punição mais grave que o empregado está sujeito. É igualmente grave a
situação do empregado que atribui justa causa ao seu desligamento por ato do
empregador.

Dessa forma, um dos requisitos que vem sendo exigidos pela jurisprudência
para o rompimento justificado do contrato de trabalho é a observância da gradação
das penalidades pelo empregador, sendo admitido o imediato rompimento do pacto
laboral somente nos casos de rompimento da fidúcia, elemento tido como essencial
à manutenção da relação de trabalho, vejamos:

JUSTA CAUSA. GRADAÇÃO E PEDAGOGIA DAS PENAS QUE


DECORRE DE SEDIMENTADO ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E
JURISPRUDENCIAL. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 5º., ii, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. a
necessidade de gradação e pedagogia na aplicação de penalidades
trabalhistas decorre de sedimentado entendimento doutrinário e
jurisprudencial, não sendo possível ao legislador munir o ordenamento
jurídico de soluções exatas para toda e qualquer situação jurídica
concreta, o que transformaria o juiz em mera "bouche de la loi" (idéia
sustentada por Montesquieu). A tendência do processo legislativo atual é
privilegiar a edição das chamadas "cláusulas gerais", que traduzem
normas de diretrizes indeterminadas, sem soluções jurídicas previamente
prontas e acabadas, sobrelevando a função jurisdicional, típica do
pós-positivismo, de interpretação e adequação da legislação aplicável ao
caso concreto. Desrespeitados os critérios para a aplicação da penalidade
máxima pela Empregadora, não pode ser mantida a dispensa por justa
causa, inexistindo violação ao artigo 5º, II, da Constituição Federal, que
materializa o Princípio da Legalidade.
(TRT3 – RO 0001812-56.2011.5.03.0043 – Terceira Turma – Relator: Des.
Luiz Otavio Linhares Renault – Publicado no DEJT em 10/02/2014)

Ora Excelência, se esse é o entendimento aplicado aos casos de justa causa


por ato do empregado, há de se considerar que o Empregado também deve
comprovar que o Empregador não só praticou ato faltoso como também demonstrar
que esse ato efetivamente gerou prejuízos e/ou constituiu ato grave o suficiente
para o rompimento da fidúcia inerente à relação laboral.

No caso dos autos, percebe-se muito bem como descrito pelo próprio
Reclamante que as razões para o seu pedido possuem como lastro atraso o
pagamento de seu salário, não consegue usufruir de seu intervalo intrajornada e
não gozou/percebeu por suas férias concessivas, sem contudo detalhar desde
quando os fatos vem ocorrendo, se é algo constante ou por apenas um determinado
período, NADA É JUSTIFICADO DE FORMA CLARA E PRECISA!!.

Ora, o Reclamante não demonstrou nenhum ato anterior que manifestasse


seu inconformismo com a situação.

O princípio da imediatidade, aplicável aos casos de rescisão indireta do


Contrato de Trabalho, consiste na obrigação de a parte inocente numa relação de
trabalho que toma conhecimento de uma falta praticada pela outra, que
imediatamente aplique a sanção cabível. Quando a parte inocente assim não age,
ocorre o que a doutrina chama de perdão tácito.

O doutrinador Domingos Sávio Zainaghi, já se pronunciou sobre o tema na


obra A Justa Causa no Direito do Trabalho (2ª edição, Malheiros, pág.152/153):
“Após ter o empregado percebido a intenção do empregador de forçá-lo a
pedir demissão, deve tomar algumas cautelas.
Primeiramente, deve-se ter em mente que também aqui, nas justas causas
do empregador, aplica-se o princípio da imediatidade.
Imaginemos que o empregador, não cumpra com uma obrigação
contratual (não deposita o FGTS). Logo no primeiro mês o empregado
deve requerer a rescisão de contrato. Se deixar passar alguns meses, o
princípio da imediatidade não foi observado, e o empregado não poderá
requerer a rescisão indireta”.

Igualmente, os Autores reclamam atrasos no salário, sem nem sequer definir


o período ou a constância. Desta forma torna impossível inclusive o contraditório
pelas Reclamadas. Quanto a essa constância é impossível os Reclamantes dizerem
que não tinham conhecimento, uma vez que era verba que recebia todos os meses
da empregadora, tendo pleno e inequívoco conhecimento da data em que recebiam.

Para sustentar a tese de ocorrência de perdão tácito pelas supostas faltas


reclamadas pelos Autores, colaciona-se os seguintes julgados:

RESCISÃO INDIRETA. AUSÊNCIA DE ATUALIDADE DA FALTA.


PERDÃO TÁCITO. Assim como acontece com a falta contratual praticada
pelo empregado, motivadora da dispensa, que requer reação atual do
empregador, no caso de rescisão indireta também é necessário o requisito
da atualidade da falta, o que não se verifica no caso, configurando-se o
perdão tácito. Além disso, as circunstâncias denunciadas como
insuportáveis para a continuidade do vínculo constituem irregularidades
que podem ser corrigidas, se e quando postuladas, como na espécie
(TRT-3 - RO: 00115783420175030105 0011578-34.2017.5.03.0105,
Relator: Convocado Marcio Jose Zebende, Nona Turma)

RESCISÃO INDIRETA. Os mesmos requisitos exigidos do empregador


para a caracterização da falta grave configuradora de justa causa pelo
empregado (artigo 482 da CLT) são também exigidas do empregado
quando este vem a juízo pleitear a rescisão indireta do contrato de
trabalho, artigo 483, da CLT. A falta alegada deve ser grave o suficiente
para impedir a continuação do vínculo, além de atual, sob pena de
caracterizar o perdão tácito. No caso, não vislumbro qualquer conduta
ilícita praticada pela empresa que pudesse justificar a rescisão indireta do
contrato de trabalho da reclamante.
(TRT-3 - RO: 00104945820155030140 0010494-58.2015.5.03.0140,
Relator: Convocado Ricardo Marcelo Silva, Nona Turma)
Sendo assim, resta firmemente demonstrado que os Reclamantes não se
desincumbiram do ônus que lhe competiam, em demonstrar a existência dos
requisitos necessários à configuração de motivo justo apto a ensejar a ruptura da
relação laboral por justa causa.

4.4 BAIXA DA CTPS


Não há que se falar em baixa da CTPS, visto que a Reclamada não cometeu
nenhum ato que justifique o presente pedido de rescisão indireta, e nem efetivou a
rescisão sem justa causa dos Reclamantes.

Os Reclamantes de forma confusa pedem que se fixe a data de 03/02/2021,


novamente destoando da data fixada no início de sua exordial, que seria a data da
interposição da ação ocorrida em 28/03/2022. De forma que não há como definir a
data a ser fixada na baixa de sua CTPS. A Reclamada nunca teve interesse em
desligar os Reclamantes, e as causas trazidas nos autos não ensejam uma ruptura
por rescisão indireta.

Razão pela qual o pedido deve ser julgado improcedente.

4.5 SALDO DE SALÁRIO


O saldo de salário é totalmente indevido, tendo em vista que os Reclamantes
continuam com seu contrato de trabalho ativo, não se podendo precisar dias e
valores proporcionais.

Os Reclamantes se reportam a um período fictício já remunerado pela


Reclamada, não conseguindo especificar a quantos dias seria esse saldo de salário,
limitando-se a indicar o mês de referência e atribuindo, ao pedido, o mesmo valor de
um salário alegado como sendo a média integral do trabalhador em sua exordial.
Sendo assim, há de ser extinto, sem resolução de mérito, este item dos
pedidos, uma vez que o Reclamante não delimitou o que lhe seria devido,
impossibilitando a defesa por parte desta Reclamada, ressaltando que o pedido
deve, sempre, ser certo e determinado, com discriminação do valor, nos termos do
art. 840, §1º da CLT.
Razão pela qual o pedido deve ser julgado improcedente.
4.6 AVISO PRÉVIO
Uma vez reconhecida a ausência de justo motivo para encerramento
unilateral do contrato por parte do Reclamante, converte-se a demissão em pedido
de demissão sem justa causa.

Sendo assim, nos termos da legislação trabalhista, deveria o Reclamante ter


dado o aviso de saída ao empregador, o que não ocorreu, merecendo ser
descontado, dessa forma, o valor referente ao aviso, nos termos do art. 487, §2º da
CLT.

Sendo julgado improcedente o pedido de rescisão indireta do contrato de


trabalho, reconhecendo-se a tese aventada pela Reclamada de que o Reclamante
não realizou o pedido a tempo e modo, em afronta ao princípio da imediatidade,
configura-se o pedido de demissão por parte do empregado, sem justa causa, o que
não acarreta o pagamento do aviso prévio, pelo contrário, devendo o mesmo ser
descontado do trabalhador no momento do cálculo rescisório, em consonância com
o art. 487, §2º da CLT.

Razão pela qual o pedido deve ser julgado improcedente.

4.7 DO PEDIDO DE DOBRA DAS FÉRIAS

Os Reclamantes FULANO aduzem que gozaram de período de férias, e não


receberam os respectivos valores no prazo legal, e por isso fazem jus a dobra.

Ocorre que não restou discriminado o período de gozo das férias, e nem a
data em que tal verba foi creditada para os Reclamantes, sendo a comprovação do
fato constitutivo do direito, incumbência dos Reclamantes e não da Reclamada. Se
nem sequer constam as informações de base, a Reclamada é cerceada do seu
direito de defesa.

Não há que se falar em pagamento fora do prazo, os RECLAMANTES nem


sequer anexaram aos autos extrato de conta bancária comprovando os fatos
alegados em sua exordial, não se desincumbindo de tal ônus.
E mesmo que se considere, apenas por amor ao debate, pagamento fora do
prazo, já há entendimento dos nossos tribunais, de que o pagamento fora do prazo,
considerando um período ínfimo, não incide a aplicação da penalidade prevista,
na Súmula 450, do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RITO SUMARÍSSIMO. FÉRIAS PAGAS FORA DO PRAZO
LEGAL. Em face da má aplicação da Súmula nº 450 do TST,
impõe-se o provimento do agravo de instrumento a fim de
determinar o processamento do recurso de revista. Agravo de
instrumento conhecido e provido. B) RECURSO DE REVISTA.
RITO SUMARÍSSIMO. FÉRIAS PAGAS FORA DO PRAZO
LEGAL. O Tribunal de origem deixou assente que o pagamento
das férias era efetuado no primeiro dia de seu respectivo gozo.
Assim, o atraso ínfimo de dois dias no pagamento da parcela
não deve implicar a condenação da reclamada à dobra.
Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (TST,
RR-10128-11.2016.5.15.0088, 8ª Turma, Relatora Ministra
Dora Maria da Costa, DEJT 01/12/2017).

Desta forma a RECLAMADA requer pela improcedência do pedido de


aplicação do pagamento em dobro das férias

4.8 FÉRIAS PROPORCIONAIS + 1/3

As férias proporcionais, ainda não gozadas, caso se acolhesse o pedido de


rescisão indireta. Neste ponto é importante enfatizar que nem sequer os
Reclamantes conseguem fixar uma data certa para sua rescisão indireta, no início
da ação fixa a data pela distribuição da presente ação, 28/03/22 e em seguida fixa
em 03/02/2022, tornando impossível a Reclamada sua defesa nos autos, ou
compreensão da liquidação das verbas existentes.
Razão pela qual o pedido deve ser julgado improcedente.

4.9 13º SALÁRIO PROPORCIONAL


Os Reclamantes postulam o pagamento de 13º proporcional, sem nem
sequer discriminar um valor específico para o pedido de cada Reclamante.
De forma reiterada o Reclamante postula indevidamente não indica ao
menos um subsídio legal ou fático para o requerimento que faz, motivo por si só
suficiente à improcedência.
.
Razão pela qual o pedido deve ser julgado improcedente.

4.10 DO PEDIDO DE MULTA DO ART. 477 DA CLT

A CLT expressamente ao dispor sobre o cabimento de multas pelo não


pagamento de verbas incontroversas dispõe:

Art. 467. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o


montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data
do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena
de pagá-las acrescidas de cinqüenta por cento".
(...)
Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder à
anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos órgãos
competentes e realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo e na forma
estabelecidos neste artigo.
(...)
§8º Sem prejuízo da aplicação da multa prevista no inciso II do caput do art. 634-A, a
inobservância ao disposto no § 6º sujeitará o infrator ao pagamento da multa em favor do
empregado, em valor equivalente ao seu salário, exceto quando, comprovadamente, o
empregado der causa à mora.
Ou seja, tais multas são cabíveis quando os valores requeridos pelos
Reclamantes são incontroversos, o que não é o caos, uma vez que se discute
exatamente o cabimento ou não dos valores cobrados.
Desta forma, não há que se falar em multa dos Arts. 467 e 477 por se tratar
de verbas controvertidas, conforme precedentes sobre o tema:
MULTAS DOS ARTS. 467 E 477 DA CLT. Por seu turno, postula o
Recorrente a condenação da Reclamada ao pagamento das multas
dos artigos 467 e 477 da CLT. A multa do art. 467 da CLT, por se
tratar de penalidade, deve ser interpretada de forma restritiva. O
direito à multa do art. 467 da CLT surge com a falta de pagamento
do valor incontroverso quando da realização da primeira audiência.
No caso dos autos, não há que se falar em sua aplicação, eis que
não havia verbas incontroversas a serem quitadas, havendo
inclusive controvérsia entre as partes quanto à modalidade da
rescisão contratual. A multa do artigo 477 é indevida ante à
inteligência do disposto na OJ nº 351 da SDI-I do TST, a qual foi
cancelada, mas permanece a ideia central. A multa é indeferida pelo
fato de o litígio estar sob o crivo da apreciação judicial, aplicando-se
a Súmula nº 33 desse Regional (Resolução TP nº 04/2015 -
DOELETRÔNICO de 13 e 14/07/2015) (...) (TRT-2,
1000993-66.2017.5.02.0384, Rel. FRANCISCO FERREIRA JORGE
NETO - 14ª Turma - DOE 26/11/2018)
MULTA DO ART. 467 DA CLT Não procede o inconformismo.
Diante da inexistência de verbas incontroversas, não há que se
falar em multa do art. 467 da CLT, considerando-se, sobretudo,
o disposto na Súmula 74 deste Regional: 74 - Multa do art. 467
da CLT. Reconhecimento judicial de vínculo empregatício.
Indevida. (Res. TP nº 03/2017 - DOEletrônico 12/05/2017) A
presença de controvérsia em torno do vínculo empregatício é
suficiente para afastar a multa prevista no art. 467 da CLT
DANOS MORAIS Correta a sentença. O fato de as rés não
terem cumprido com suas obrigações contratuais não pode
ensejar, por si só, a indenização por danos morais, mas, sim,
materiais e, não havendo prova de que houve invasão na
esfera moral do autor, mantenho a improcedência do pedido.
(TRT-2, 1000702-48.2017.5.02.0002, Rel. ANA CRISTINA
LOBO PETINATI - 5ª Turma - DOE 21/08/2018)

Motivos pelos quais devem conduzir ao indeferimento do pleito.

4.11 FGTS E MULTA 40% FGTS.

Os Reclamantes pleiteiam parcelas de FGTS em aberto sem, contudo,


indicar os meses em aberto ou mesmo a juntada do extrato analítico nos autos. A
incumbência de fazer prova as alegações pleiteadas, pertence ao Reclamante, não
tendo os mesmos se desincumbido, merecendo ser julgado improcedente o pedido
neste sentido.
Eventual condenação ao pagamento de diferenças de depósitos do FGTS
deve observar os valores já depositados por estas Reclamadas, o que deverá ser
apurado na competente fase de liquidação, caso se chegue até lá.

A rescisão indireta é direito do empregado somente diante de


circunstâncias legais previstas na CLT, em seu Art. 483, quando caracterizarem
gravidade suficiente a justificar o pedido de rescisão.

No presente caso não há elementos que provem alguma conduta das


Reclamadas suficientemente grave a amparar o pedido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RESCISÃO INDIRETA. O Tribunal Regional decidiu que o
rompimento do vínculo empregatício por culpa do empregador
deve ser de natureza grave, que impeça o prosseguimento da
execução do contrato de trabalho ou justifique sua extinção, o
que não ficou comprovado no caso em apreço, uma vez que a
prova oral não se mostrou apta a demonstrar que o afastamento do
reclamante de seu trabalho não decorreu de sua livre vontade, mas
de ilícito praticado pelo empregador, razão pela qual a Corte de
origem afastou o reconhecimento da rescisão indireta do contrato de
trabalho do reclamante. Ileso o art. 820 da CLT, porque, primeiro, o
referido dispositivo sequer disciplina matéria alusiva à rescisão
indireta, segundo, o artigo mencionado não impede o Regional de,
avaliando a prova dos autos, concluir de modo contrário ao juízo de
origem. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST, AIRR
- 20680-19.2015.5.04.0333, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa,
Data de Julgamento: 28/02/2018, 8ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 02/03/2018)

RESCISÃO INDIRETA. CRITÉRIOS. 1. Para a configuração da


rescisão indireta, impõe-se ao trabalhador comprovar, dentre
outros requisitos, a gravidade, a adequação e a
proporcionalidade entre a conduta do empregador e a punição a
ele aplicada (artigos 483 e 818 da Consolidação das Leis
Trabalhistas). 2. Não comprovados os atos ilícitos alegados pelo
autor, não há falar em rescisão indireta. (TRT-24
00253264020155240002, Relator: AMAURY RODRIGUES PINTO
JUNIOR, 2ª TURMA, Data de Publicação: 03/02/2017, #63165242)

Portanto, não há que se falar em rescisão indireta quando inexistem


provas de qualquer fato com a notória gravidade exigida em lei para sua
configuração.
Ademais, o simples atraso no recolhimento do FGTS não configura por
si só motivos para a rescisão indireta, conforme precedentes sobre o tema:

AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. RESCISÃO INDIRETA.


A ausência de recolhimento dos depósitos do FGTS na conta
vinculada do empregado, por si só, não configura falta grave do
empregador apta a ensejar a rescisão indireta do contrato de
trabalho." (Inteligência da Súmula nº 126 do TRT de Santa Catarina)
(TRT12 - RO - 0000235-80.2017.5.12.0011, Rel. WANDERLEY
GODOY JUNIOR, 1ª Câmara, Data de Assinatura: 11/04/2018,
#13165242)

Portanto, sem a demonstração inequívoca de falta grave por parte do


empregador, não há que se falar de direito à rescisão indireta, refletindo na
necessária improcedência da inicial.

O Reclamante postula o pagamento da multa rescisória incidente sobre o


saldo projetado do FGTS, em casos de demissão sem justa causa.

Ocorre que, igualmente ocorre no caso do aviso prévio, uma vez reconhecida
a tese aventada pela Reclamada nesta defesa, converter-se-á o pedido da
Reclamante em demissão por iniciativa do empregado, sem justa causa, hipótese
em que não é devida a multa rescisória postulada.

Razão pela qual o pedido deve ser julgado improcedente.

4.12 DO PEDIDO DE SEGURO DESEMPREGO

Conforme já exposto a RECLAMADA impugna o pedido de RESCISÃO


INDIRETA, requerendo pelo sua IMPROCEDÊNCIA e conversão em ABANDONO
DE EMPREGO, o que não gera o percebimento as parcelas de seguro-desemprego
ou qualquer indenização substitutiva.

Requer o indeferimento do pedido do Reclamante, porquanto não encontra


suportes fático, probatório e legal para ser acolhido.
5. AUSÊNCIA DE PROVAS

Diferente do que fora alegado na inicial, o período de trabalho


respeitava integralmente os termos contratados, uma vez que o reclamante não
juntou qualquer prova que invalidasse o cartão ponto para auferir as alegadas horas
extras:

HORAS EXTRAS-PROVA. Incumbia ao reclamante a


indicação analítica das discrepâncias no pagamento das
horas extras lançadas nos documentos exibidos pela
reclamada, uma vez que sua validade foi referendada por sua
própria testemunha. A inércia processual opera em desfavor
da existência de diferenças no pagamento das suplementares.
Sentença mantida. (TRT-2, 1001236-44.2016.5.02.0384,
Rel.ROSA MARIA VILLA- 2ª Turma - DOE 18/04/2018,
#23165242)

HORAS EXTRAS. As horas extras são deferidas dentro dos


limites da prova, respeitadas as peculiaridades do serviço e
da região de sua execução. RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA DO TOMADOR DOS SERVIÇOS.
INAPLICABILIDADE. DONO DA OBRA. Havendo contrato de
empreitada de construção civil entre o litisconsorte e a
reclamada, não sendo a contratante construtora ou
incorporadora descabe responsabilidade solidária ou
subsidiária. Aplicação da OJ nº 191, da SDI-I, do TST. (TRT-11
00019309220145110014, Relator: DAVID ALVES DE MELLO
JUNIOR, Gabinete do Desembargador David Alves de Mello
Junior, Data de Publicação: 12/07/2017, #93165242)

HORAS EXTRAS. É ônus do autor comprovar o labor em


sobrejornada, do qual não se desincumbiu
satisfatoriamente. ACÚMULO DE FUNÇÃO. NÃO
CARACTERIZADO. O acúmulo de função ocorre quando o
empregado passa a desempenhar função diversa para a qual
foi contratado, acumulando-a com a função antes
desempenhada, com acréscimo de serviço e responsabilidade,
sem a contraprestação financeira. Não tendo sido
caracterizado o acúmulo de função alegado pelo reclamante,
impõe-se a manutenção da sentença que julgou improcedente
o pleito de plus salarial. (TRT-11 00002407620155110019,
Relator: ELEONORA SAUNIER GONCALVES, Gabinete da
Desembargadora Eleonora Saunier Goncalves, Data de
Publicação: 24/08/2017, #33165242)

HORAS EXTRAS. MANUTENÇÃO DO JULGADO. Não


comprovado, nos autos, que o autor cumpria a extensa
jornada descrita na petição inicial, sobretudo porque
sequer produziu prova testemunhal a fim demonstrar sua
tese de que havia fraude nos registros de horários,
mantém-se a sentença que corretamente indeferiu o
pagamento das horas extras perseguidas. Recurso
conhecido e desprovido. (TRT-20 00008357120155200004,
Relator: FABIO TULIO CORREIA RIBEIRO, Data de
Publicação: 20/11/2017, #73165242)

Portanto, todas as condições eram respeitadas pela Reclamada, o que


se prova por meio dos controles de ponto e contracheques anexo aos autos.

Assim, não há que se falar em horas extras, pois totalmente indevido.

6. DO PEDIDO DE DANO MORAL

Improcede o PLEITO DE DANOS MORAIS. Isso porque não é o fato de ser


as condutas ilícitas que atraem a indenização, mas sim o abalo na honra e imagem
do lesado. Tais condutas, isoladamente, não são capazes de abalar a esfera
personalíssima do titular. Este vem sendo o entendimento adotado pelo Tribunal
Superior do Trabalho, senão vejamos recente decisão da mais alta corte trabalhista:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. FALTA


DE ANOTAÇÃO NA CTPS. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
(SÚMULA 126 DO TST). A reparação por danos morais decorrente
do contrato de trabalho se caracteriza por lesão a direito da
personalidade do empregado decorrente de ato ilícito praticado pelo
empregador. Consoante jurisprudência desta Corte, a falta de
anotação da CTPS do trabalhador, por si só, não configura dano
moral ensejador de reparação pecuniária. O dever de reparar só
surge quando evidenciada lesão que provoque abalopsicológico,
decorrente de efetiva afronta à honra, à imagem, constrangimento ou
prejuízo suportado pelo trabalhador, o que não restou comprovado
no caso em exame. Incidência do óbice da Súmula 126 do TST.
Agravo de instrumento não provido. (AIRR – 1172-29.2011.5.15.0040
Data de Julgamento: 19/03/2014, Relatora Ministra: Delaíde Miranda
Arantes, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 28/03/2014).

EMENTA – FALTA DE PAGAMENTO DE VERBAS RECSISÓRIAS –


AUSÊNCIA DE DANOS MORAISO não pagamento de verbas
rescisórias, exceto dolo provado, não dá ensejo à indenização por
danos morais porquanto a legislação trabalhista contém medidas
punitivas e reparadoras, como juros de mora, multas dos artigos 467
e 477 da CLT e, no âmbito processual, há possibilidade de tutela
antecipada. Se for entendido que inadimplementos de toda natureza
causam danos morais, a cadeia de reparações pode não ter fim.
Recurso do empregador provido para excluir da condenação a
indenização por danos morais. (PROCESSO TRT/SP Nº
01654.2007.055.02.00-2, ORIGEM: 55ª VARA DO TRABALHO DE
SÃO PAULO, 1º RECORRENTE: SERVIMARC CONSTRUÇÕES
LTDA, 2º RECORRENTE: VT E MUNICÍPIO DE SÃO
PAULO,RECORRIDO: J.N.R.M.)

O dano moral, portanto, assim como qualquer outra reparação baseada na


teoria da responsabilidade civil, artigo 186 do Código Civil, pressupõe
necessariamente três elementos: uma ação ilícita, um dano e um nexo de
causalidade entre ambos. Se não há registros concretos de prejuízos de ordem
moral, as meras deduções em torno de eventuais desconfortos que o fato possa
trazer não são suficientes para ensejar a reparação.

Devendo, portanto, ser indeferido o pedido, o que desde já se requer!

7. DO PAGAMENTO DAS VERBAS RESCISÓRIAS

A pretensão dos Reclamantes não merece prosperar, a versão relatada na


inicial distorcia da realidade dos fatos e cheia de incongruências.

Ademais, postulou as verbas da rescisão, com base apenas na alegação de


que houve rescisão indireta do pacto laboral. Entretanto, não faz jus ao pagamento
das verbas rescisórias se houvesse um pedido de demissão ou demissão por justa
causa.

Imaginemos que um empregado possa reivindicar o pagamento das verbas


resilitórias, com base em rescisão indireta, sem qualquer demonstração de
elementos justificantes.

Os Reclamantes sequer apontam seu último dia trabalhado na exordial. Os


Reclamantes já possuem faltas por mais de 30 dias corridos sem qualquer
justificativa, incorrendo nos efeitos do abandono de emprego. E até a data do
trânsito em julgado do presente procedimento judicial transcorrerá prazo maior.

É sabido que os Reclamantes não estão obrigados a comparecerem ao local


de trabalho após ajuizar pedido de rescisão de indireta. Mas caso não haja o
reconhecimento da rescisão indireta por este juízo, deve reconhecer que o lapso
temporal é suficiente para dispensa motivada por abandono de emprego.

Desta forma, ficam impugnadas as verbas rescisórias alegadas como


devidas.

8. DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

É exorbitante e absurdo o valor atribuído à causa de R$ 62.617,50 (sessenta


e dois mil, seiscentos e dezessete reais e cinquenta centavos) “data vênia”, não
condiz com os pedidos formulados na presente demanda. Salientando que é
desconhecida a origem dos valores expostos nos pedidos da exordial, posto não
demonstrar o lapso temporal utilizado na base de cálculo, nem sequer as
referências dos cálculos, cerceando a defesa das reclamadas.

Assim sendo, restou demonstrada a total incompatibilidade entre os pedidos


exordiais e o valor atribuído à causa, no presente processo, estando desatendidos,
o disposto no art. 291, e seguintes do CPC.

9. DA IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS JUNTADOS

Por fim, impugnam-se todos os documentos juntados na inicial, por


manifestamente insuficientes a provar suas alegações.

Portanto requer o recebimento e acolhimento da presente defesa, para


que sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos ventilados na
Reclamatória Trabalhista, razão pela qual necessária a conclusão que os
Reclamantes não fazem jus aos pedidos dispostos.

9. CONCLUSÃO

Diante todo exposto e de tudo o mais que dos autos consta, espera a
reclamada:
I. O acolhimento das preliminares arguidas com a imediata extinção do
processo sem resolução de mérito, nos termos dos arts. 354 e 485 do
CPC;
II. O recebimento da presente contestação e dos documentos que a
acompanham, para ao final, julgar TOTALMENTE IMPROCEDENTES
os pedidos formulados pela Reclamante em sua exordial,
condenando-a ao pagamento das custas, honorários advocatícios e
outras despesas do processo.

III. Ficam expressamente impugnadas todas as assertivas lançadas na


prefacial, nada sendo devido ao Reclamante, seja a que título for.
IV. Por basilar princípio de Direito, não havendo o principal, não há que se
falar em acessórios.

V. Requerem as Reclamadas, “ad cautelam” a observância e aplicação


do disposto no artigo 767 Consolidado, pela COMPENSAÇÃO de
todos os valores já pagos aos Reclamantes, bem como
expressamente aos artigos 920 do antigo CC e 940 do N. Código Civil,
no sentido de quitação parcial (art. 767 da CLT – En. n.ºs.: 18 e 48 do
TST), devidamente corrigida monetariamente dos valores já recebidos
pelo obreiro, na remota hipótese de se dar procedência a qualquer dos
pedidos a serem liquidados.

VI. Requer ainda, argumentando por mero sabor da discussão, caso seja
deferido algum pedido formulado pelos Autores, que sejam
compensados os valores pagos a mesmo título, bem como limitando
possível condenação ao valor da inicial. Evitando assim,
enriquecimento sem justa causa.

VII. Requer ainda, caso seja deferido algum pedido formulado pelos
Autores, seja concedido, em momento oportuno, o direito de
impugnação fundamentada ao cálculo das parcelas requeridas,
ANTES DE HAVER HOMOLOGAÇÃO, primando pela celeridade
processual e, objetivando evitar necessidade de recurso(s), sendo que
os valores apresentados pelos Reclamantes em sua inicial, o foram
apenas para fins de fixação de alçada e rito processual.

VIII. Requer, ainda, caso alguma condenação sobrevenha aos presentes


argumentos defensivos, o que diante de todo o exposto, espera não
ocorra, sejam autorizados os descontos dos recolhimentos devidos
pelo Reclamante à previdência social e ao IRRF;

IX. A aplicação do IPCA-E e SELIC para fins de correção e atualização do


quantum debeatur nos termos da ADC 58 e 59 do STF;
X. A condenação dos reclamantes ao pagamento de sucumbência e
honorários advocatícios, nos termos dos Arts 791-A e 790-B da CLT.

XI. Isto posto, esperam as Reclamadas, que esta r. Vara, extinga o


presente processo ou, no mínimo, julgue totalmente improcedente a
presente reclamatória, condenando-se o Autor no pagamento de
custas processuais e demais consectários, por medida de justiça.

Por fim, pretende provar o alegado por todos os meios de prova em direito
admitidos, sem exceção, notadamente: depoimento pessoal dos reclamantes, desde
logo requerido, sob pena de confissão, oitiva de testemunhas, juntada de
documentos, ofícios conforme requerido, exames, etc.

Termos em que
Pede deferimento.

CIDADE, DIA de MÊS de ANO

ADVOGADA
OAB-

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