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br/rl

A argumentação no texto acadêmico: teses


nas introduções/considerações iniciais de
monografias de cursos de Letras
RESUMO
Gilton Sampaio de Souza Este trabalho tem como objeto de estudo a construção argumentativa das monografias
giltonssouza@gmail.com
Universidade do Estado do Rio Grande do dos cursos de Letras/língua portuguesa e língua espanhola de uma instituição pública,
Norte (UERN), Natal, Brasil.
especificamente a construção das introduções\considerações iniciais do gênero
Rosa Leite da Costa monografia. Trata-se de uma pesquisa descritivo-interpretativista que partiu de uma
rs_leitejc@hotmail.com pergunta central: “Como nos cursos de Letras os estudantes estão construindo
Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN), Natal, Brasil. argumentativamente as introduções/considerações iniciais de seu trabalho
monográfico?”. O aporte teórico é a Teoria da Argumentação no Discurso (TAD), de
Sueilton Junior Braz de Lima
sueilton-pdf@hotmail.com
Perelman e Tyteca (2005), e as contribuições de Mosca (2004), Ide (2000), Souza (2003),
Universidade do Estado do Rio Grande do dentre outros. Para uma discussão sobre gêneros discursivos, nos reportamos aos estudos
Norte (UERN), Natal, Brasil.
de Bakhtin (2011), e às contribuições de Catunda e Soares (2007) e Marcuschi (2008) e,
especificamente, sobre gêneros acadêmicos, em Motta-Roth e Hendges (2010). O corpus
se constitui de seis introduções/considerações iniciais dos cursos de Letras de uma
instituição pública, sendo três do curso de língua portuguesa e outras três do curso de
língua espanhola. Em nossas análises, foram identificadas, inicialmente, as teses de
adesão inicial, as teses principais e os argumentos que as defendem e as justificam.
PALAVRAS-CHAVE: Argumentação no discurso. Teses. Monografias.

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R. Letras, Curitiba, v. 20, n. 31, p. 01-18, jul./dez. 2018.


INTRODUÇÃO

Neste trabalho, partimos do pressuposto de que o discurso acadêmico é


argumentativo, uma vez que os estudantes, na construção dos trabalhos
científicos, defendem uma tese central e que essa tese deve ser justificada para
que sejam validadas por um auditório que, neste caso, trata-se da comunidade
acadêmica especializada na área da pesquisa em questão.
Assim, nos propomos a analisar o texto acadêmico, mais especificamente
introduções/considerações iniciais de monografias dos cursos de Letras/Língua
Portuguesa e Língua espanhola de uma universidade pública brasileira, do
semestre 2013.1, com o intuito de investigar quais as teses apresentadas,
observando como foram defendidas e\ou justificadas. A escolha dessa seção do
gênero monográfico por considerarmos que as introduções ou considerações
iniciais são as sessões em que o orador, autor da monografia, dialoga
diretamente com o interlocutor, a fim de convencê-lo da importância do
trabalho.
Desta forma, propomo-nos a identificar e interpretar as teses de adesão
inicial e as teses principais, atentando para as técnicas argumentativas que
elaboram a tese central; descrever e interpretar o uso dos argumentos na
introdução, desenvolvimento e conclusão dos discursos em análise; discutir os
sentidos para o gênero monografia nos Cursos de Letras, com base na estrutura
argumentativa das introduções\considerações das monografias.
Para a efetivação deste trabalho, tomamos como base para as discussões
referentes à Teoria da Argumentação no Discurso (TAD) ou Nova Retórica, o
Tratado da Argumentação de Chaim Perelman & Lucie Olbrechts- Tyteca (2005),
como também, outros estudos como os de Ide (2000), Reboul (2004), Souza
(2003). No que diz respeito às discussões alusivas aos gêneros do discurso, os
pressupostos são os de Bakhtin (2011) e as contribuições de Motta-Roth e
Hendges (2010), Machado (2005), dentre outros.
Desta forma, nossa pesquisa assume um caráter descritivo e interpretativo, e
considerando que esta pesquisa tem como foco investigar e analisar as teses
reveladas em introduções/considerações iniciais de monografias. O método de
análise abordado é de natureza qualitativa. Nosso corpus se constitui de seis
introduções/considerações de monografias dos cursos de Letras/língua
português e Letras/língua espanhola, sendo três monografias de cada curso.

1. GÊNEROS DO DISCURSO NA ACADEMIA

As discussões de Bakhtin acerca do gênero do discurso estão ancoradas em


uma abordagem dialógica da linguagem, aplicando-se a contextos reais de
interação. Os estudos de Bakhtin (2011) defendem que a linguagem é ferramenta
essencial para todo e qualquer campo da atividade humana e que sua utilização
aplica-se em forma de enunciados, sejam eles escritos e/ou orais, são enunciados
concretos e únicos utilizados pelos sujeitos em suas mais variadas situações
sociais.
Podemos classificar, de acordo com Bakhtin, os gêneros do discurso como
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heterogêneos, pois o número existente de gêneros discursivos é enorme. Bakhtin
(2011) apresenta uma distinção entre gêneros secundários e os gêneros
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primários. Os gêneros discursivos primários são simples, faz parte de uma
interação imediata e espontânea, enquanto os gêneros secundários são
complexos, geralmente são gêneros da escrita, como, por exemplo, os romances
e o discurso científico.
É dessa classificação dos gêneros que podemos falar sobre os gêneros
acadêmicos. Segundo Motta-Roth e Hendges (2010), escrever na universidade, é
redigir textos com objetivos específicos, pois cada um dos vários gêneros
acadêmicos como o artigo, a resenha, o resumo a monografia e outros, têm
funções diferentes. Tomamos como exemplo o gênero monografia, o qual exige
que atentemos para alguns fatores relativos à sua escrita, a saber: a delimitação
de tema e de objetivo (o intuito de uma publicação, de avaliação, relato,
experimento ou comprovação diante dado tema); o público-alvo e a natureza e
organização das informações incluídas no texto.
Para Motta-Roth e Hendges (2010), na redação acadêmica é necessário,
também, que tenhamos uma noção do público a quem escrevemos, esse público-
alvo, provavelmente, é conhecedor do assunto abordado e apreciará o texto em
busca de novas informações. Por isso, devemos presumir o nosso auditório,
procurando o “tom apropriado para projetar as expectativas que temos sobre o
leitor, bem como os objetivos e o conhecimento prévio que o leitor trará para a
tarefa de leitura” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p.16). No caso da monografia,
por exemplo, o objetivo do texto é apresentar relevância no que está sendo
pesquisado diante de uma banca examinadora, a qual julgará o trabalho como
relevante e de caráter científico. Já se estivermos produzindo um texto para
nosso aluno, o objetivo é ser o mais didático possível, com fins pedagógicos.

2. TESE: UMA QUESTÃO CENTRAL

Para se construir um discurso argumentativo, a fim de persuadir e/ou


convencer os seus interlocutores e levá-los a adesão de suas teses, é necessário,
antes de tudo, apoiar-se nos efeitos argumentativos. Para Aristóteles esses
efeitos se dividem em duas partes, que são a ordem afetiva (ethos e pathos) e
ordem lógica (logos). Desta forma, o logos é a parte racional do discurso, na qual
encontramos a tese central do discurso, bem como as teses de adesão inicial, as
quais servem para chamar a atenção do auditório por parte do orador, isto é,
aquele que profere o discurso.
A tese, como apresentam Perelman e Tyteca (2005, p.325), “qualquer
argumentação, para ser eficaz, deve apoiar-se em teses admitidas pelo próprio
auditório”, assim, compreende-se que em um processo dialógico, quando
construímos o nosso discurso, estamos defendendo nossas ideias, que dialogam
com o auditório, estabelecendo uma relação harmoniosa, com o objetivo de
convencer e/ou persuadir acerca da validade de nossas teses.
Desta forma, a tese se caracteriza por ser a ideia principal defendida em um
discurso, é o que o discurso pretende apresentar como sendo algo verdadeiro ou
falso, ou seja, é uma síntese das ideias presentes no texto, a fim de ganhar
credibilidade ao que defendemos. Além dessas premissas, a tese nos permite
verificar as possíveis contradições presentes no discurso do orador, mesmo que
Página | 3 este (o orador) esteja acima de qualquer suspeita de manipulação (IDE, 2000).

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Para identificarmos uma tese em um texto, por exemplo, é necessário irmos
à ideia central, na proposição que formula o que diz o texto, essa ideia central do
texto é a tese propriamente dita, o que conhecemos como tese central.

3. TÉCNICAS ARGUMENTATIVAS

As técnicas argumentativas têm por função defender uma tese. De um modo


geral, de acordo com os pressupostos de Perelman e Tyteca (2005), se dividem
em quatro grandes técnicas, sendo as três primeiras classificadas por meio de
associações de noções que aproximam elementos distintos: os argumentos
quase-lógicos, os argumentos baseados na estrutura do real e os argumentos que
fundamentam a estrutura do real, e a quarta técnica, que são os argumentos por
dissociação das ideias, os quais propõem a ruptura dos elementos.
Os argumentos quase-lógicos são aqueles que se constituem por princípios
lógicos, que apresentam convicção naquilo que é exposto e são comparados a
raciocínios formais, matemáticos ou lógicos. Para Perelman e Tyteca (2005,
p.220) “o que caracteriza a argumentação lógica é o seu caráter não-formal e o
esforço mental de que necessita sua redução ao formal”, em outras palavras, o
orador se apropriará do raciocínio formal em sua tese, e faz uso de pensamentos
lógicos.
De acordo com Reboul (2004), os argumentos quase-lógicos podem ser
rejeitados, já que a própria linguagem não pode ser considerada totalmente
unívoca, pois é impossível prever as possibilidades de interpretação e
ambiguidade que a linguagem apresenta, assim, esse argumento pode se
apresentar como não puramente lógico, dependendo do interlocutor.
Os argumentos quase-lógicos dividem-se em modalidades, a saber,
Argumentos de contradição e incompatibilidade; Argumento por identidade e
definição; Regra de justiça e reciprocidade; Argumentos de transitividade, de
inclusão e de divisão e, Argumentos de comparação. Vejamos, a seguir, de acordo
com Perelman e Tyteca (2005), algumas considerações sobre essas modalidades.
Os argumentos baseados na estrutura do real, segundo Perelman e Tyteca
(2005), se diferem dos argumentos quase-lógicos pelo fato de não se basearem
em raciocínios lógicos e/ou matemáticos, mas se fundamentarem nas
experiências, em elos de ligações que existem no mundo real. Esses argumentos,
se utilizam de validades que existem na própria sociedade, isso, para estabelecer
uma solidariedade entre juízos permitidos e outros juízos que procura-se
promover.
Desta forma, dentre os argumentos baseados na estrutura do real surgem as
ligações de sucessões (os argumentos de vínculo causal, argumentos
pragmáticos, os fins e os meios e os argumentos de desperdício, da direção e da
superação), as ligações de coexistência (o argumento da pessoa e seus atos,
argumento de autoridade e as técnicas de ruptura e refreamento) e as ligações
simbólicas (argumentos hierárquicos e das diferenças de grau e ordem).
Dentre as ligações de sucessão estão o vinculo causal e a argumentação, que
pressupõem um vínculo de causa entre acontecimentos consecutivos, seja pela
Página | 4 descoberta de uma nova causa ou pela evidência de um efeito, isto é, nas
ligações de sucessão, quando há um vínculo causal entre fenômenos, a

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argumentação poderá se apropriar de causas para determinação de efeitos e
para apresentar um fato, de acordo com suas consequências (SOUZA, 2003).
Existem outros argumentos dentre as ligações de sucessão, como o
argumento pragmático, o argumento do desperdício, argumento de direção e
argumento de superação. O argumento pragmático, segundo Perelma e Tyteca
(2005), transfere o valor de elementos causais, indo da causa ao efeito e do
efeito à causa.
As ligações de coexistência apresentam-se de forma distinta das ligações de
sucessão, uma vez que, enquanto esta última tenta unir dois termos de uma
mesmo plano fenomênico, de realidades iguais, as ligações de coexistência se
propõem a unir duas realidade de nível desigual, sendo que uma é mais
fundamental e explicativa do que a outra. Segundo Perelman e Tyteca (2005), é
justamente esse caráter mais estruturado de um dos termos que distingui as
ligações de coexistência das ligações de sucessão. Ainda de acordo com os
autores, os principais argumentos que pertencem a estas ligações são: a pessoa e
o seus atos, argumento de autoridade e as técnicas de ruptura e de refreamento.
Para Perelman e Tyteca (2005), as ligações simbólicas se aproximam das
ligações de coexistência, porém o símbolo não é um instrumento meramente
convencional, tal como ocorre com o signo, isso porque o símbolo apresenta um
significado de um valor representativo. É o caráter quase mágico dessa relação
que distingue as ligações simbólicas das outras ligações, tanto de sucessão como
de coexistência.
As ligações simbólicas fazem a transferência entre o símbolo e o simbolizado,
por exemplo, quando uma cruz é um símbolo do cristianismo, essa realidade
desperta um amor ou um ódio, uma veneração ou um desprezo, que seria
incompreensível se o seu caráter representativo não estivesse em relação a um
vínculo de participação. Desta forma, esse vinculo entre o símbolo e o
simbolizado, entre a cruz e o cristianismo, é algo necessário para despertar o
fervor religioso, neste caso (PERELMAN; TYTECA, 2005).
A terceira técnica é constituída pelos argumentos que fundamentam a
estrutura do real que, para Perelman e Tyteca (2005), esses argumentos são
divididos em dois tipos, a saber, os que fundamentam pelo caso particular
(argumento pelo exemplo, argumento de ilustração e o argumento pelo modelo
e antimodelo) e o raciocínio por analogia. Para os autores, os casos particulares
são tratados como exemplos que devem levar a formulação de uma lei ou a
determinação de uma estrutura, sejam como amostras, ilustrações de algo
conhecido.
A última técnica argumentativa proposta por Perelman e Tyteca (2005) é a
dos argumentos por dissociação das noções. Enquanto as três técnicas
argumentativas anteriores apresentam-se como associação de noções ou
elementos, possivelmente, independentes, os argumentos por dissociação das
noções resolvem uma incompatibilidade no discurso para estabelecer uma visão
mais coerente dos fatos reais (SILVA, 2012). Esses argumentos “consistem, pois,
em afirmar que são indevidamente associados elementos que deveriam ficar
separados” (PERELMAN; TYTECA, 2005, p.467), isto significa que, esta técnica tem
como foco a incompatibilidade que há entre esses elementos.
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Para os autores, existem outros pares que se constituem a partir da
dissociação das noções, a saber, meio/fim, consequência/fato ou princípio,
ato/pessoa, acidente/essência, ocasião/causa, relativo/absoluto,
subjetivo/objetivo, normal/norma, individual/universal, particular/geral,
teoria/prática, linguagem/pensamento, letra/espírito e entre outros.
As técnicas que aqui foram apresentadas funcionam como elementos
formuladores de teses presentes nos mais variados discursos. Essas técnicas
argumentativas são usadas, de forma cociente ou inconsciente, pelo o orador,
como estratégia discursiva para conseguir convencer/persuadir o seu
interlocutor. Entretanto, já salienta Perelman e Tyteca (2005), essas técnicas não
são infalíveis ou irrefutáveis, uma vez que todo argumento pode ser colocado em
dúvida e ser refutado por outros argumentos.

4. TESES REVELADAS EM INTRODUÇÕES/CONSIDERAÇÕES INICIAIS DE


MONOGRAFIAS DOS CURSOS DE LETRAS

Com base nas discussões levantadas no decorrer desse trabalho, propomo-


nos a analisar as introduções/considerações iniciais de monografias dos cursos
Letras/Língua Portuguesa e Língua Espanhola de uma universidade brasileira.
As monografias de língua portuguesa estão codificadas em “MP1”
(Monografia de português 1), “MP2” (Monografia de português 2) e “MP3”
(Monografia de português 3), e as de espanhol em “ME1” (Monografia de
espanhol 1), “ME2” (Monografia de espanhol 2) e “ME3” (Monografia de
espanhol 3). Ressaltamos ainda que das seis monografias analisadas, cinco
trazem o primeiro capítulo como introdução e apenas uma, do curso de língua
portuguesa, nomeia o primeiro capítulo como considerações inicias.
Em nossas análises, dividimos essas introduções/considerações iniciais em
três partes: Introdução, seção em que o orador apresenta a tese de adesão
inicial, podendo ser apresentada também a tese principal e os argumentos de
apoio que sustentam essa tese ou até mesmo argumentos que a justifiquem;
Desenvolvimento, seção em que o orador poderá apresentar a justificativa do seu
trabalho, a tese principal, e argumentos que reforçam ainda mais a justificativa
e/ou a tese principal; Conclusão, seção destinada ao fechamento das ideias, de
reforçar as teses defendidas ao longo do texto.

4.1. Teses reveladas em introduções/considerações iniciais das monografias do


curso de Letras Língua Portuguesa

Monografia P1
A “MP1” apresenta como seu primeiro capítulo a introdução, que se
constitui de 8 (oito) parágrafos, compondo-se de 3 (três) laudas. O orador, em
sua monografia, discute sobre o ensino da leitura na educação infantil,
abordando especificamente a importância da leitura na formação humana desde
os anos iniciais da criança. Dessa forma, podemos notar, já no primeiro
parágrafo, aspectos argumentativos do autor na tentativa de ganhar de imediato
Página | 6 a adesão do auditório ao seu texto, o que reconhecemos, de acordo com as

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implicações teóricas aqui já abordadas, como tese de adesão inicial. Vejamos a
transcrição do primeiro parágrafo:

Que a leitura é um tema bastante discutido dentro e fora do espaço


escolar, ninguém tem dúvidas; que ela é fundamental para a
formação pessoal do homem, menos ainda. Assim, pensando que a
formação humana acontece desde a infância, optamos por discutir,
neste trabalho monográfico, sobre a importância do ensino de
leitura para o desenvolvimento educacional da criança, tendo em
vista o papel da leitura para a construção de um leitor crítico e que
compreenda o mundo a sua volta.

Nesse primeiro parágrafo, na introdução do texto, o orador, a fim de ganhar


a adesão inicial de seu auditório, defende a tese inicial de que ninguém tem
dúvidas que a leitura é um tema bastante discutido dentro e fora da sala de aula
e que ela é fundamental para a formação pessoal do homem.
Podemos ver que o orador, para construir a tese de adesão inicial, se utiliza
dos argumentos baseados na estrutura do real, do argumento de vinculo causal
de um meio com um fim, que para Perelman e Tyteca (2005) aparecem quando o
orador faz uma relação de vínculo entre dois acontecimentos e evidência o efeito
que deles podem resultar. Sendo assim, o orador estabelece um vínculo entre a
leitura e a formação pessoal humana, quando coloca que a leitura é fundamental
para a formação humana.
Ainda identificamos que o orador apresenta já na introdução do texto sua
tese principal, de que ensino de leitura é importante para o desenvolvimento
educacional da criança e que ela tem um papel fundamental para a construção
de um leitor crítico que compreenda o mundo à sua volta.
Neste sentido, percebemos que o orador volta-se para um auditório
particular, composto por membros da banca de monografia e estudantes da área
em questão, uma vez que versa sobre um tema particular, o ensino de leitura e,
quando afirma que seu texto é um trabalho monográfico. O orador também se
dirige a outro auditório universal, composto por indivíduos fora do contexto
acadêmico, quando expõe que a leitura é um tema discutido dentro e fora do
espaço escolar e que ninguém tem dúvidas disso.
Mediante a apresentação da tese principal, na introdução do texto, ainda no
primeiro parágrafo, o orador apresenta um argumento em torno da defesa de
sua tese, descrevendo sobre a importância da parceria escola/família para o
incentivo à leitura. Neste caso, recorre aos argumentos baseados na estrutura
do real, argumento por vinculo causal de um meio com um fim, assim, o meio,
que é a “parceria escola/família” gera uma série de efeitos que são o incentivo a
leitura e a contribuição para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional da
criança. Perelman e Tyteca (2005) colocam que o argumento por vinculo causal
de um meio com um fim, acontece quando o orador considera uma conduta
como um meio de alcançar uma causa e, para aumentar a importância de alguma
coisa é necessário apresentar o seu fim.
Como vimos, a tese principal aparece logo no parágrafo introdutório,
revelando certa objetividade no texto. Sendo assim, no segundo parágrafo, o
Página | 7 primeiro do desenvolvimento, o orador inicia buscando justificar o seu trabalho e
faz isso o comparando aos de outros autores da área. Dessa forma, podemos

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identificar que as citações feitas no texto são postas como argumentos que
fundam a estrutura do real, o argumento pelo exemplo, que para Perelman e
Tyteca (2005) é chamado para dá presença ao discurso, isto é, trazer algo de fora
para a realidade do discurso que está sendo proferido. O orador cita os trabalhos
já existentes a fim de justificar a importância do seu próprio trabalho, mas
principalmente, para conferir lugar de destaque ao seu próprio trabalho, à sua
tese, como podemos ver no terceiro parágrafo.

[...] Os estudos desses trabalhos aproximam-se da nossa temática


por mostrarem a importância da leitura para a formação do
indivíduo, o desenvolvimento da criança e chama a atenção para a
necessidade de criamos o hábito de ler desde pequenos. O artigo de
Castro (s/d) se distância da nossa pesquisa por focalizar
especificamente a importância da leitura literária, e o artigo de
Campelo (2012) distancia-se por abordar especificamente a falta de
leitura dos brasileiros. A monografia de Santos (2012) discute a
leitura e seu ensino especificamente no livro didático e o PCN de
língua portuguesa; [...] A nossa pesquisa além de abordar a
importância da leitura para o desenvolvimento educacional da
criança, também discute sobre seu ensino e busca analisar a
importância das atividades de leitura na educação infantil, a partir
de observação em sala de aula com carga horária total de 10h/a.

Como podemos notar, o orador, para melhor fundamentar a sua tese, utiliza-
se de um argumento âncora, do argumento quase-lógico de comparação,
quando cita os estudos já existentes no campo do ensino de leitura, medindo-
lhes o valor em relação aos estudos de sua pesquisa. Desse modo, o orador está
comparando realidades distintas, como dizem Perelman e Tyteca (2005), a
comparação pode se dar por oposição ou por ordenamento, no caso, por
oposição. Logo a pós utilizar o argumento de comparação, o orador volta a
utilizar outra técnica argumentativa, dessa vez dos argumentos baseados na
estrutura do real, do argumento de superação, quando cita os referidos estudos
para mostrar em que medida o dele (o orador) vai além, colocando o seu estudo
como superior aos demais.
No sétimo parágrafo, ainda no desenvolvimento do texto, o orador diz:

Desse modo, procuramos aprofundar esses estudos sobre o papel do


ensino de leitura na educação infantil através da discussão sobre a
importância da leitura para o desenvolvimento educacional da
criança[..] Essa pesquisa será respaldada nos estudos de Andrade
(1993) sobre a metodologia do trabalho cientifico; de Antunes (2003
; 2009) sobre as contribuições da leitura; de Brasil (1997) sobre os
PCNs do ensino fundamental; de Cagliari (2005), Colomer e Camps
(2002) sobre a leitura no ensino; Coll, Marchesi e Palacios (2004).

Vemos que o orador apresenta a fundamentação teórica do seu trabalho,


demonstrando, assim, um argumento em prol da tese principal, os teóricos são as
autoridades do seu texto. O argumento de autoridade, que para Perelman e
Tyteca (2005) acontece quando o orador se utiliza de pessoas ou de um grupo
como meio de provar a favor de uma tese.
Página | 8 Com essa análise, podemos perceber que o autor da “MP1” apresenta sua
tese principal logo após a apresentação da tese de adesão inicial, ainda na

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introdução do texto. Quanto ao desenvolvimento, notamos que o orador
apresenta apenas argumentos que agem em prol da tese principal, não
apresentando uma justificativa clara do porquê da importância da pesquisa ou,
até mesmo as questões pessoais que o levou a pesquisar. Neste sentido, o orador
se detém apenas em apresentar a fundamentação teórica do seu trabalho.
No que diz respeito à conclusão do texto, o orador não apresenta nenhum
argumento, nem conclui reforçando a tese principal, apenas descreve
metodologicamente o seu trabalho, apontando o que vai ser discutido em cada
capítulo da monografia.
Monografia P2
A “MP2”, assim como a “MP1” também nomeia seu primeiro capítulo como
introdução e nele discute acerca dos gêneros textuais e ensino, atentando para
as concepções de leitura presentes em um livro didático de língua portuguesa de
uma escola da rede pública de ensino. A introdução da Monografia P2 é
composta por 13 parágrafos, que compõem 4 páginas
Entretanto, percebemos nessas análises que o orador apresenta a tese de
adesão inicial, sendo que a tese principal só aparecerá no desenvolvimento do
texto, assim como a justificativa do trabalho. Já na conclusão, o orador não
reforça nem retoma a tese principal, o que ele faz é descrever a metodologia
aplicada ao seu trabalho. Observemos em síntese as teses defendidas na
“Monografia P2”:

Quadro 1 - Teses reveladas na introdução da Monografia P2


As teses no discurso. Monografia de português 02 Parte do discurso

Tese(s) de adesão inicial Técnicas argumentativas utilizadas. Introdução


Os gêneros textuais são Argumento baseado na estrutura do
importantes para o real, argumento de vinculo causal por
ensino de linguagem. causa e consequência.
Tese principal Técnicas e argumentos para a defesa Desenvolvimento
Antes de apresentar a sua tese
principal, o orador apresenta
argumentos em prol da tese principal,
que são:
Argumento que funda a estrutura do
real, no argumento pelo modelo.
Argumentos baseados na estrutura do
real, o argumento de autoridade.
Após a apresentação de tese principal
e para fundamentar a sua justificativa,
o orador ancora-se nos argumentos
baseados na estrutura do real, de
causa e consequência.
Reafirmação da tese Técnica argumentativa utilizada O Conclusão
O orador não retoma a orador não utiliza nenhuma técnica
tese, apenas descreve a argumentativa para elaborar ou
divisão dos capítulos do defender a tese na conclusão da
trabalho. introdução.
Fonte: Autores
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Monografia P3
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A “MP3” discute o ethos dos docentes e discentes do curso Letras do
CAMEAM/UERN, em discursos sobre as concepções de gramática. Das
monografias já analisadas, a Monografia P3 é a única que nomeia sua
apresentação como Considerações Iniciais, parte do trabalho composta por 15
parágrafos, distribuídos em 5 páginas.
Assim, podemos verificar que o autor da “MP3”, na introdução do seu texto,
se preocupa em descrever ao auditório sobre o que é Retórica, assim
apresentando a tese de adesão inicial. Percebemos ainda que a tese principal é
apresentada de forma diluída na justificativa, no sexto parágrafo do
desenvolvimento. Já na conclusão do trabalho, o autor não retoma as teses,
conclui a ideia fazendo uma descrição da sua monografia. Vejamos uma síntese
das teses defendidas pelo autor da “MP3”.

Quadro 2 - Teses reveladas nas considerações iniciais da Monografia P3


As teses no discurso. Monografia de português 03 Parte do discurso

Tese(s) de adesão inicial Técnicas argumentativas utilizadas Introdução


Os estudos da retórica Argumentos quase-lógicos, ao
são considerados como argumento de definição.
as primeiras reflexões Argumento baseado na estrutura do
sobre a formação do real, por vinculo causal.
discurso persuasivo.
Tese principal Técnicas argumentativas utilizadas Desenvolvimento
Os docentes e discentes Argumentos baseados na estrutura do
constroem um ethos ao real, o argumento da pessoa e o seus
falarem das concepções atos.
de gramática. Para fundamentar a justificativa da sua
tese principal, o orador se utiliza dos
Argumentos que fundam a estrutura
do real, do argumento pelo exemplo.
E, utiliza os seguintes argumentos em
prol da tese principal:
Argumentos baseados na estrutura do
real, do argumento de autoridade.
Argumentos baseados na estrutura do
real, do argumento de causa e
consequência.
Argumentos baseados na estrutura do
real, a pessoa e seus atos.

Reafirmação da tese Técnica e argumentos utilizados Parte do discurso


O orador não retoma a O orador não utiliza nenhuma técnica Conclusão
tese, apenas descreve a argumentativa para elaborar ou
divisão dos capítulos da defender a tese na conclusão das
monografia. considerações iniciais.
Fonte: Autores

Página | 10

R. Letras, Curitiba, v. 20, n. 31, p. 01-18, jul./dez. 2018.


4.2. Teses reveladas em introduções de monografias do curso de Letras/
Língua Espanhola

Monografia E1
A introdução da “Monografia E1” é composta por 15 parágrafos,
constituindo-se de 05 páginas. Na introdução do seu texto, a fim de ganhar
adesão do seu auditório, o orador apresenta o seguinte fragmento:

Diante da propagação, cada vez maior, do espanhol no mundo,


levando em consideração a importância desse idioma em território
brasileiro; principalmente após o acordo firmado com o MERCOSUL,
com o objetivo de facilitar as relações econômicas entre os membros
do bloco econômico, não só por isso, mas também por questões e
interesses políticos, tornou-se uma necessidade dos brasileiros
aprender este idioma.

Neste fragmento, percebemos que o orador apresenta a tese de adesão


inicial, a necessidade dos brasileiros em aprender o espanhol. Para isso, o orador
vale-se de estratégias para ganhar credibilidade de seu auditório, quando cita na
sua introdução um “acordo firmado com o MERCOSUL” e a Lei 11.161. Deste
modo, o auditório perceberá que o orador fundamenta o seu discurso, utilizando
fatos registrados, informações oficiais, leis e acordos estabelecidos.
Desta forma, notamos que o orador se dirige a um auditório universal,
composto por variados indivíduos, desde a própria banca de monografia e
estudantes da área em questão, quando o orador tenta introduzir o auditório a
justificativa do trabalho, e a todos os brasileiros, quando descreve a importância
deles aprenderem a língua espanhola.
Na sequência do texto, no quinto parágrafo do desenvolvimento, antes de
apresentar a tese principal, o orador diz:

Esta pesquisa poderá contribuir para promover uma reflexão sobre


os processos de ensino e de aprendizagem nas aulas de língua
espanhola praticadas nas escolas em relação à variação linguística.
Trata-se de um trabalho relevante para o contexto educacional,
podendo contribuir também na escolha de materiais didáticos que
comtemplam o uso da variação linguística em espanhol, e que a
análise possa auxiliar aos docentes a terem práticas não
preconceituosas e possam tornar o processo de ensino
aprendizagem mais rico, pois além de aprender o código, que torna
a língua compreensível a todos que utilizam o idioma, se faz
necessário conhecer os fatores históricos, geográficos, sociais e
culturais que fazem parte da existência de toda língua.

Podemos identificar nesse parágrafo que o orador tenta justificar o trabalho,


mesmo antes de apresentar a tese principal, assim, entendemos que ele prepara
o auditório com essa justificativa para a tese. Seu discurso volta-se para um
auditório composto por membros da banca de monografia e estudantes do
campo desses estudos, uma vez que ele (o orador) tenta justificar a pertinência
do seu trabalho, e também para professores e alunos de língua espanhola, já que
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afirma que o seu trabalho poderá contribuir para a prática desses professores.

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Para essa justificativa, o orador se utiliza de argumentos que fundamentam
a estrutura do real, do argumento pelo modelo. Para Reboul (2004), o argumento
pelo modelo é um exemplo que pode ser imitado. Assim, o orador faz do seu
trabalho monográfico um modelo dos estudos sobre o ensino e aprendizado da
língua espanhola, quando descreve a contribuição.
Ainda no desenvolvimento do texto, no nono parágrafo, o orador discute o
seguinte:

Os documentos oficiais como as OCN (2006, p.134) “destacam a


necessidade de substituir o discurso hegemônico pela pluralidade
linguística e cultural do universo hispano falante, ensejando uma
reflexão maior”. Ou seja, um ensino voltado para a multiplicidade
linguística deste idioma apresentando suas diferenças de uso da
linguagem, assim como também, conhecer a cultura. Diante desta
realidade, cabe-nos questionar como o espanhol está sendo
apresentado nos materiais didáticos com relação à variação
linguística, pois sabendo da importância que o livro didático exerce
nos processos de ensino e de aprendizagem, espera-se que o manual
didático aborde a existência da variação linguística, e possa
minimizar o preconceito linguístico, na concepção de Bagno (1999),
entende-se por preconceito linguístico o julgamento depreciativo
contra determinadas variedades linguísticas, e ocorre sempre
quando há um julgamento desrespeitoso ou humilhante da fala do
outro ou da própria fala.

De acordo com o exposto, identificamos que o orador revela a parte central


do seu texto, a tese (principal) de que é necessário investigar como a variação
linguística em língua espanhola está sendo apresentada nos livros didáticos e
qual a importância desse material didático para o ensino/aprendizado do
espanhol. Para a fundamentação de sua tese principal, o orador utiliza os
argumentos baseados na estrutura do real, do argumento de vinculo causal de
um meio com um fim, quando coloca a necessidade de se investigar a variação
linguística com a finalidade de buscar resultados para o ensino de língua
espanhola.
Para defender essa tese, o orador ancora-se aos argumentos baseados na
estrutura do real, o argumento de autoridade, quando cita e faz referência ao
discurso de outro indivíduo ou grupo, nesse caso, quando menciona OCN (2006,
p.134) e faz uma citação direta do seu discurso ou, até mesmo, quando faz
referência ao que defende Bagno (1999) sobre o preconceito linguístico. Recorre,
desse modo, ao prestígio das citações e autoridade dos autores citados, para
gerar credibilidade ao seu discurso e ganhar adesão do auditório.
Por fim, na conclusão da sua introdução, o orador descreve a metodologia
aplicada ao seu trabalho e, no último parágrafo, apresenta o seguinte: “Por fim,
queremos afirmar que desejamos que este trabalho possa levar a uma reflexão a
respeito do ensino de Espanhol no Brasil no tocante ao tratamento direcionado
ao uso da variação linguística”. Assim, de acordo com o fragmento, podemos
verificar que o orador, para concluir as suas ideias e firmar a adesão do auditório
as suas teses, recorre aos argumentos que fundamentam a estrutura do real,
ancorando-se ao argumento pelo modelo, quando ele descreve que deseja que o
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seu trabalho “possa levar a uma reflexão a respeito do ensino de espanhol no
Brasil”. De tal modo, o orador apresenta o sua monografia como um modelo dos

R. Letras, Curitiba, v. 20, n. 31, p. 01-18, jul./dez. 2018.


estudos voltados ao ensino da língua espanhola no território brasileiro. Com
exposto, é possível perceber, também, que o orador se utiliza de outro
argumento, de argumentos baseados na estrutura do real, do argumento
pragmático, quando mostra os possíveis impactos do trabalho e justifica sua
importância.
Conforme vimos, a “ME1” apresenta logo na introdução do texto uma tese
de adesão inicial, recorrendo a argumentos de ancoragem para fundamentá-la. Já
no desenvolvimento, o orador apresenta uma justificativa antes mesmo de
apresentar a tese principal, só depois, ainda no desenvolvimento ele apresenta a
tese principal. Notamos ainda, que a introdução da “ME1” não cita a
fundamentação teórica do trabalho e, na maioria dos parágrafos o orador está
mais preocupado em discutir sobre língua espanhola. Na conclusão, percebemos
que o orador descreve a metodologia do trabalho e, no ultimo parágrafo, ele
retoma a justificativa, apresentando um argumento de ancoragem.
Monografia E2
A Monografia E2 discute sobre as ações de linguagens praticadas no
Facebook, atentando para os aspectos linguísticos e os efeitos de sentido que são
construídos na rede social pelos seus usuários. Na introdução de sua monografia,
composta por 17 parágrafos, constituindo-se de 4 páginas.
Observemos, logo abaixo, um quadro-síntese das teses defendidas na “ME2”.

Quadro 3: Teses reveladas nas considerações iniciais da Monografia E2


As teses no discurso. Monografia 02 de espanhol Parte do discurso

Tese(s) de adesão inicial Técnicas argumentativas utilizadas Introdução


A tecnologia assume Argumentos baseados na estrutura do
maior espaço na vida das real, do vinculo causal de causa e
pessoas devido o consequência.
aumento do uso das Argumentos baseados na estrutura do
redes sociais. real, argumento de autoridade.
Argumentos que fundamentam a
estrutura do real, argumento por
analogia.
Tese principal Técnicas argumentativas utilizadas Desenvolvimento
Examinar, verificar e O orador apresenta a sua tese diluída
constatar ações de no texto, valendo-se do Argumento
linguagem produzidas quase-lógico do todo em suas partes.
pelos usuários no Argumentos quase-lógicos,
Facebook . ancorando-se ao argumento de
definição.

Reafirmação da tese Técnicas argumentativas utilizadas Conclusão


O orador discute sobre Argumentos baseados na estrutura do
os resultados esperados, real, argumento pragmático.
em virtude dos
argumentos que coloca
como efeito para a
necessidade de estudar
Página | 13 a tese que propõe.
Fonte: Autores

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Monografia E3
A Monografia “E3”, nomeia o primeiro capítulo como introdução, composta
por 18 parágrafos, constituindo-se de 4 páginas, discute sobre o espanhol no
livro didático, mais especificamente, atividades de leitura em um livro didático de
língua espanhola. Vejamos uma síntese das teses defendidas na “ME3”.

Quadro 4 - Teses reveladas nas considerações iniciais da Monografia E3


As teses no discurso. Monografia de espanhol 03 Parte do discurso

Tese(s) de adesão inicial Técnicas argumentativas Introdução


As pesquisas voltadas para as utilizadas.
língua estrangeira estão em argumentos baseados na
crescimento devido o estrutura do real, do
desenvolvimento acelerado das argumento por vínculo
mídias e tecnologias acerca da causal de um meio com um
linguagem. fim.
Tese principal Técnicas argumentativas Desenvolvimento
A leitura no livro didático de utilizadas
espanhol, visa entender a Argumentos baseados na
competência leitora no material estrutura do real, do
didático. argumento de causa e
consequência
O orador não apresenta
uma justificativa
propriamente dita, apenas
apresenta argumentos que
estão em prol da tese
principal, que são:
Argumentos baseados na
estrutura do real, do
argumento de autoridade.
Argumentos baseados na
estrutura do real, do
argumento de autoridade.
Reafirmação da tese Técnicas argumentativas Conclusão
O orador apresenta os resultados utilizadas
esperados, em virtude dos Argumentos baseados na
argumentos que coloca como estrutura do real,
causas para a necessidade de argumento pragmático.
estudar a tese que propõe.
Fonte: Autores

4.3. Correlação entre as introduções/considerações iniciais das monografias de


Português e espanhol: os sentidos para o gênero

Diante de nossas análises, foi possível um panorama acerca dos sentidos


para as introduções/considerações iniciais das monografias analisadas, no que diz
respeito à estrutura retórica do gênero.
Deste modo, inicialmente, percebemos que o gênero monografia se
enquadra no que Bakhitin (2005) chama de gênero secundário, pois se trata de
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um gênero escrito e de cunho científico. Para as nossas análises, nos detemos a
analisar a seção do gênero que dialoga imediatamente com o auditório: as
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introduções/considerações iniciais das monografias, sobre as quais percebemos
não haver uma definição quanto à nomenclatura, pois em alguns casos se
apresentam como introdução e em outros apresentam-se como considerações
iniciais.
Na introdução, das introduções/considerações iniciais das monografias
analisadas, percebemos que todas as monografias apresentam uma tese de
adesão inicial. Nessa parte do texto, os autores das monografias, para defender
melhor a tese inicial, se utilizam de técnicas argumentativas para fundamentar ou
apenas em prol da tese. As técnicas utilizadas nas introduções das monografias,
geralmente, são os argumentos baseados na estrutura do real, apresentando
problemas que fazem parte de uma determinada realidade.
Já no desenvolvimento do discurso, que notamos ser a parte mais longa do
texto, os autores das monografias apresentam, geralmente, a tese principal
fundamentada, ou não, em técnicas argumentativas, os argumentos utilizados
em prol da tese principal e a justificativa da importância da pesquisa. Sendo
assim, notamos que em algumas monografias analisadas a tese principal não se
fundamenta em uma técnica argumentativa, já em outras não há argumentos de
ancoragem para a tese principal. Percebemos ainda que, em algumas
monografias não há a apresentação de uma justificativa propriamente dita, o
orador apenas apresenta técnicas que agem em prol da tese principal.
No que diz respeito à conclusão do texto, que deve ser a parte destinada ao
fechamento das ideias e retomada da tese principal, foi bastante perceptível a
diferença entre as monografias do curso de espanhol e as monografias do curso
de português. Neste caso, percebemos que nas conclusões das introduções das
monografias de espanhol, os autores retomam a tese principal e/ou a
justificativa, ancoram-se a uma técnica argumentativa para defender a tese
principal e, consequentemente, fechar o discurso, convencendo o auditório. Já
nas conclusões das monografias do curso de língua portuguesa, os autores não se
detêm no fechamento das ideias e nem retoma a tese principal, apenas
descrevem metodologicamente, os procedimentos discutidos nos capítulos das
suas monografias.

CONCLUSÃO

Neste trabalho, objetivamos analisamos a construção argumentativa de


monografias de um curso de Letras Português e de um Curso de Letras Espanhol
de uma universidade pública brasileira. No que concerne ao nosso primeiro
objetivo, que foi identificar e interpretar as teses de adesão inicial e as tese
centrais presentes nas introduções/considerações iniciais das monografias,
percebemos que a maior parte das teses centrais são construídas com os
argumentos com base no real, evidenciando, assim, que nos cursos há um grande
interesse em se estudar temáticas consideradas como problemas\situações reais
que têm uma relação de causa\consequência.
Relativo ao nosso segundo objetivo, o de identificar e interpretar as teses de
adesão inicial e as teses principais atentando para as técnicas que elaboram ou
ancoram as teses, vimos que ao longo do texto foram utilizados, em maior
Página | 15 número, os argumentos baseados na estrutura do real, em sua maioria os
argumentos de causa. Esses argumentos ora servem de apoio a essas teses, uma

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vez que não são utilizadas diretamente na justificativa, ora são utilizados na
justificativa (da tese), o que pode ser visto como um aspecto da estrutura das
introduções\considerações iniciais. Os argumentos que fundam o real aparecem
apenas para apoiar a tese principal, quase sempre por meio de exemplos; os
argumentos quase-lógicos aparecem em pequeno número, destacando-se na
fundamentação de uma única tese principal e os argumentos por dissociação de
noções não aparecem, embora pelas temáticas dos trabalhos pudessem ser
usados para mostrar discrepâncias entre realidades.
Constatamos que todas as introduções\considerações iniciais apresentam a
tese de adesão inicial na introdução do texto, no primeiro parágrafo. Já as teses
principais, na maioria das monografias, aparecem no desenvolvimento do texto e
aparecem diluídas, ou antes, da justificativa, em apenas um caso, em uma
monografia do curso de espanhol, a tese central aparece depois da justificativa.
Considerando o nosso terceiro objetivo, o de discutir os sentidos para o
gênero com base na estrutura argumentativa das introduções\considerações
iniciais, verificamos que há uma divergência entre as introduções/considerações
iniciais de português e as introduções de espanhol, enquanto as monografias de
espanhol nomeiam a apresentação da monografia de introdução, nas
monografias de português não há uma padronização, ora se usa introdução, ora
considerações iniciais.
Na introdução das introduções/considerações iniciais das monografias, os
autores de ambos os cursos se detêm em fazer acordos prévios com o auditório,
se detendo em apresentar a tese de adesão inicial, ancorando-se em técnicas
argumentativas com o intuito de estabelecer relações com o auditório, logo no
início do texto.
No desenvolvimento, as introduções/considerações iniciais de ambos os
cursos apresentam argumentos em prol da tese principal, a maioria
apresentando a própria tese e a justificativa e outras apenas se detendo a
apresentar a fundamentação teórica do trabalho. Notamos ainda, que as
monografias do curso de português não concluem as introduções/considerações
iniciais retomando as teses defendidas, apenas descrevem a metodologia da
monografia. Já as introduções do curso de espanhol fazem uma conclusão
voltada para o arremate das teses defendidas, reforçando a justificativa do
trabalho, recorrendo a técnicas argumentativas.
Face ao exposto, há muito que se discutir sobre a construção do gênero
monografia, sobretudo no que concerne à argumentação nas
introduções/considerações iniciais desses trabalhos, uma vez que esta
apresentação é a parte do gênero que mais fala diretamente com o auditório, em
que se apresenta a pertinência de sua pesquisa. Contudo, esperamos que os
resultados apresentados nesse trabalho, possam servir como contribuições para
os estudos da Teoria da Argumentação no Discurso (TAD), tal como para futuros
estudos e discussões sobre a argumentação no texto acadêmico.

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R. Letras, Curitiba, v. 20, n. 31, p. 01-18, jul./dez. 2018.


The argument in academic text: theses on
the introductions/initial considerations of
monographs letters courses
ABSTRACT

This work has focused on studying the argumentative construction of the monographs of
Letters courses/Portuguese and Spanish of a undergraduate degree, specifically the
construction of introductions\initial considerations of monograph genre. This is a
descriptive and interpretive research, starting from a central question: "How in Letters
courses, students are building arguably the issues/ opening remarks of his monograph?"
The theoretical framework is the theory of argumentation studies (CAS), of Perelman and
Tyteca (2005), and the Mosca contributions (2004), Ide (2000), Souza (2003), among
others. For a discussion of genres, we refer to studies of Bakhtin (2011) and the
contributions of Catunda and Soares (2007) and Marcuschi (2008) and, specifically, on
academic genres, in Motta-Roth and Hendges (2010). The corpus is composed of six
introductions/initial considerations of Letters courses three from the course of
Portuguese and three other of course Spanish. In our analysis, we identified, initially, the
initial membership theses, the theses and arguments that defend and justify them. The
results indicate directions for gender Monograph on letters Courses.
KEYWORDS: Arguing in speech. Theses. Monographs.

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REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 6ª ed. – São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2011.

CATUNDA, E. L.; SOARES, M. E. Uma análise da organização retórica do acordão


jurídico. In: (org.) CAVALCANTE, M. M... [et al.] Texto e discurso sob múltiplos
olhares: gêneros e sequência textuais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

IDE, P. A arte de pensar. Tradução de P. NEVES. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. H. Produção textual na universidade. – São


Paulo: Parábola Editorial, 2010.

PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica.


Tradução de M. E. A. P. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

REBOUL, O. Introdução à retórica. Tradução de I. C. Benedetti. São Paulo:


Martins Fontes, 2004.

SOUZA, G. S. O Nordeste na mídia: um (des) encontro de sentidos. Tese de


Doutorado. Araraquara: UNESP, 2003.

Recebido: 30 out. 2015


Aprovado: 09 nov. 2018
DOI: 10.3895/rl.v20n31.3284
Como citar: SOUSA, Gilton Sampaio de; COSTA, Rosa Leite da; LIMA, Sueilton Júnior Braz da. A
argumentação no texto acadêmico: teses nas introduções/considerações iniciais de monografias de cursos
de Letras. R. Letras, Curitiba, v. 20, n. 31 p. 01-18, jul/dez. 2018. Disponível em:
<https://periodicos.utfpr.edu.br/rl>. Acesso em: XXX.

Direito autoral: Este artigo está licenciado sob os termos da Licença Creative Commons-Atribuição 4.0
Internacional.

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