Inteligência Artificial Na Educação 2.1
Inteligência Artificial Na Educação 2.1
Inteligência Artificial Na Educação 2.1
Introdução
A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma realidade distante ou restrita à ficção científica e está cada
vez mais presente em nossas vidas – inclusive na educação. A temática não é nova, já nos anos 1930 o
pai da computação e matemático Alan Turing formalizava o termo algoritmo em artigo sobre a máquina
de Turing. O algoritmo é o ingrediente fundamental para a Inteligência Artificial, termo cunhado pelos
pesquisadores John McCarthy, Marvin Minsky e Claude Shannon em uma conferência em 1956.
É difícil ter uma definição única para IA, pelo fato de ser um campo multidisciplinar e em constantes
atualizações. Confira abaixo um vídeo no qual o jornalista Marcelo Tas explica o que é IA, que integra o
Glossário de Inteligência Artificial da I2AI, associação sem fins lucrativos que conecta pessoas, negócios,
conhecimento e tecnologia para acelerar a adoção sustentável da Inteligência Artificial no mundo.
Oportunidades e desafios a serem considerados
1
Centro de Referência em Inteligência Empresarial, da COPPE/UFRJ
2
International Association of Artificial Intelligence
Alexandre Ferraz - segunda feira, 15 de julho de 2024
Em geral, há abordagens distintas sobre o assunto, com níveis de gradação entre elas. Existem desde
previsões que a IA substituirá os seres humanos e eliminará uma lista de profissões até alegações de que
ela contribuirá com "o uso humano dos seres humanos", parafraseando o subtítulo do livro de 1954 do
matemático e considerado fundador da cibernética, Norbert Wiener, liberando-os para usar melhor o
tempo ao assumir as tarefas repetitivas.
Uma pesquisa Abre em uma nova guiada empresa de consultoria McKinsey, com 2000 professores dos
Estados Unidos, Canadá, Cingapura e Reino Unido sugere que 20 a 40% das horas atuais dos professores
– o equivalente a 13 horas por semana – são gastas em atividades que poderiam ser automatizadas
usando tecnologia já existente. Ainda de acordo com a pesquisa da McKinsey, a área com maior
potencial de automação é a preparação das aulas. Os professores entrevistados revelaram gastar em
média 11 horas por semana em atividades de preparação. Estima-se que o uso eficaz da tecnologia
poderia reduzir esse tempo para apenas seis horas. Mesmo que os professores passem o mesmo tempo
se preparando, a tecnologia poderia tornar esse tempo mais eficaz, ajudando-os a criar planos de aula e
abordagens ainda melhores. A automação poderia reduzir também o tempo que os professores gastam
com atividades administrativas - de cinco para apenas três horas por semana.
Um grupo de pesquisadores - formado por Rose Luckin Abre em uma nova guia, professora da
University College London (UCL), em Londres, e diretora da Educate Ventures Abre em uma nova guia,
empresa de pesquisa e desenvolvimento criada para ajudar o ecossistema de EdTech a agir eticamente;
Wayne Holmes Abre em uma nova guia, consultor em IA e educação da Unesco, e professor da UCL;
Mark GriffithsAbre em uma nova guia, professor da Nottingham Trent University, na Inglaterra, e diretor
de pesquisa na Pearson; e Laurie B. Forcier, diretora de parcerias da Educate Ventures - produziu a
publicação "Intelligence Unleashed - an argument for AI in education" Abre em uma nova guia(na
tradução livre Inteligência Liberada - um argumento para a IA na educação) para demonstrar os
benefícios da IA para a educação.
Antes de elencar quais são esses benefícios, é importante definir o que é Inteligência Artificial aplicada
na educação - algo que vem sendo estudado na academia há mais de três décadas. Para os autores da
publicação mencionada, "Intelligence Unleashed", IA refere-se a "sistemas de computador que foram
projetados para interagir com o mundo através de capacidades (por exemplo, percepção visual e
reconhecimento de fala) e comportamentos inteligentes (por exemplo, avaliando as informações
disponíveis e, em seguida, tomando a ação mais sensata para atingir um objetivo declarado) que seriam
consideradas essencialmente humanos".
Um dos objetivos do uso da IA na educação é abrir a chamada "caixa preta do aprendizado", ou em
outras palavras, contribuir para uma compreensão mais profunda e detalhada de como o aprendizado
realmente acontece (por exemplo, como é influenciado pelo contexto socioeconômico e físico dos
alunos ou por tecnologia).
Neste contexto, a IA na educação oferece a possibilidade de uma aprendizagem mais personalizada,
flexível, inclusiva e envolvente. Além disso, as ferramentas fornecem informações não apenas sobre o
que está sendo aprendido, mas também como está sendo aprendido e como os alunos estão se
Alexandre Ferraz - segunda feira, 15 de julho de 2024
1. tutores pessoais para cada aluno, que entregam atividades de aprendizagem de acordo com as necessidades
cognitivas dos alunos e que fornecem feedback direcionado;
2. suporte inteligente para aprendizagem colaborativa, para apoiar a formação de grupo, a facilitação e a
moderação;
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, a IA pode ser
relevante em duas frentes: (a) personalização da aprendizagem e melhoria do desempenho escolar, (b) em
sistemas de gestão escolar e análise de dados. Na primeira vertente, a robótica de telepresença permite, por
exemplo, que alunos com necessidades especiais frequentem escolas em casa ou hospital, ou mantenham a
continuidade da aprendizagem em situações de crise. Além disso, a IA pode contribuir para a promoção da
aprendizagem colaborativa.
Com base em técnicas de IA, como aprendizado de máquina e processamento de texto superficial, sistemas de IA
são usados para monitorar grupos de discussão assíncronos, fornecendo aos professores informações sobre as
discussões e suporte aos alunos para orientar o envolvimento e a aprendizagem. E, ainda, ajudar a mapear os
planos de aprendizagem individuais de cada aluno e trajetórias, seus pontos fortes e fracos, assuntos mais
facilmente assimilados ou aprendidos, e preferências de atividades de aprendizagem.
No que se refere a sistemas de informações gerenciais, que coletam, armazenam, processam, analisam e
divulgam informações para planejamento educacional e gestão, os algoritmos de IA podem ser úteis para
subsidiar decisões baseadas em dados para melhorar a educação escolar. Um sistema aprimorado com IA tem
uma capacidade muito mais robusta para analisar automaticamente os dados e gerar dashboards, além de
realizar análises preditivas.
Além das oportunidades elencadas, no entanto, há desafios a serem enfrentados. A publicação da Unesco
"Artificial Intelligence in Education: Challenges and Opportunities for Sustainable Development"Abre em uma
nova guia (Inteligência Artificial na Educação: Desafios e Oportunidades para o Desenvolvimento Sustentável,
tradução livre), lista seis desafios relacionados à incorporação da IA na educação como forma de melhorar a
equidade e qualidade do ensino e possíveis maneiras de lidar com eles. Confira:
Alexandre Ferraz - segunda feira, 15 de julho de 2024
O desenvolvimento de políticas públicas sobre IA em educação ainda está em sua infância, mas é um campo que
provavelmente crescerá exponencialmente nos próximos dez anos. Alguns países estão desenvolvendo
laboratórios e incubadoras por meio de parcerias com o setor privado para implementar ou ampliar ecossistemas
de IA.
Estudos recentes, como o do professor Benjamin Nye,Abre em uma nova guia da University of Southern
California, mapearam os obstáculos para a introdução IA na educação em países em desenvolvimento, como
baixo acesso a energia elétrica, hardware e internet; habilidade básica dos alunos em TICs; falta de conteúdo
culturalmente apropriado ou em outro idioma. Para remover esses obstáculos, múltiplas políticas devem ser
colocadas em prática.
Terceiro desafio: preparar os professores para atuar com IA na educação e preparar sistemas que atendam às
demandas educacionais
Para que sistemas de análise de aprendizagem sejam eficazes, é necessário ter utilidade e relevância para
estudantes e educadores. O processamento de dados em tempo real deve se traduzir em feedback em tempo
real, intervenção mais rápida e instrução individualizada. Professores e diretores precisam de autonomia
suficiente para gerenciar suas respectivas salas de aula e escolas, pois são eles que estão mais familiarizados com
as necessidades de seus alunos. No entanto, para serem capazes de usar tecnologias de IA de forma eficaz, novas
competências precisam ser assimiladas pelos professores, tais como crítica, analítica e habilidades para dados,
ressaltam Rose Luckin e outros pesquisadores.
Um sistema com dados abrangentes e atualizados abre possibilidades para algoritmos preditivos e de
aprendizado de máquina. No entanto, muitos países ainda lutam para coletar dados educacionais básicos. Os
dados educacionais devem ser abertos e sistemas de informações gerenciais devem ser capazes de gerar análises
granulares o suficiente para ajudar professores e gestores a entenderem os principais desafios. Também devem
conseguir agregar dados para revelar tendências que podem subsidiar o desenvolvimento de políticas. Embora as
tecnologias para capturar dados estão realmente se tornando cada vez mais poderosas, é necessário reconhecer
que seus custos podem ser proibitivamente altos, particularmente para países de baixa e média renda.
A pesquisa tem um papel fundamental para a investigação mais aprofundada sobre o papel que as soluções de
tecnologia desempenham na melhoria da qualidade da educação. As pesquisas educacionais, no entanto, têm
condições limitantes para realizar generalizações, o que afeta sua contribuição na criação de teorias
universalmente válidas. Assim, é fundamental que sejam desenvolvidas pesquisas locais e descentralizadas, para
compreender o que está acontecendo nas salas de aula, em especial no contexto dos países em desenvolvimento.
Diversos estudos já evidenciaram os vieses dos algoritmos e como eles podem funcionar de maneira
discriminatória e não transparente, entre eles o artigo da ProPublica, de 2016;Abre em uma nova guia
o artigo da Mic, 2016;Abre em uma nova guia e o livro “Algoritmos de Destruição em Massa” de Cathy
O’Neil. Na educação, isso pode ter impactos negativos. Instituições educacionais que usam, por
exemplo, algoritmos de aprendizado de máquina para aceitar ou rejeitar alunos podem ter dois
potenciais problemas: falta de informações sobre a "caixa preta" e discriminação injusta. Outra
questão é a concentração de dados pessoais. As plataformas educacionais atuais são de propriedade
de poucas empresas, o que gera risco de privacidade e monopólio de dados. O ecossistema fAIr
LACAbre em uma nova guia, iniciativa do Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento – Grupo
BID e parceiros composta por especialistas e profissionais da academia, governo, sociedade e setor
privado, atua na América Latina e Caribe para promover o uso ético e responsável da IA a fim de
melhorar a prestação de serviços sociais e criar oportunidades de desenvolvimento. Para tal, estão
sendo desenvolvidos projetos-piloto para o bem social e também ferramentas para mitigar os
possíveis riscos associados aos sistemas de IA.