Dissertacao Renato Final
Dissertacao Renato Final
Dissertacao Renato Final
Nº do Protocolo: 23122.047980/2023-28
São João del-Rei-MG, 06 de dezembro de 2023.
e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi aceita pelo Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei como requisito
parcial à obtenção do título de
MESTRE EM PSICOLOGIA
BANCA EXAMINADORA:
AGRADECIMENTOS
Não é possível, para mim, iniciar esta parte agradecendo outro que não seja a Deus –
meu Pai Celestial, que dá sentido à minha existência, cuida de mim em aspectos que ninguém
mais alcança e me guia à maturidade. Deus, você é amor e me estimula a amar e a me
importar com os outros – esse é o princípio com o qual procuro embasar tudo o que faço na
vida, inclusive esta dissertação. Você tem sido o meu firme fundamento e sua mão tem me
sustentado todos os dias, não só do mestrado, mas da vida.
Obrigado, meu Deus, por você ser tão próximo.
E falando em mão, preciso reconhecer as tantas mãos, pés e corpos humanos que
contribuíram para esta dissertação. Dizem que o mestrado e o doutorado são atividades
solitárias. E são mesmo. Ainda mais quando se é metido a independente, como eu sou. Mas
isso, essa solidão, não é totalmente verdade quando se tem memória.
A primeira mão que reconheço e agradeço é a da minha tia-avó, Adeir, que mesmo
com toda dificuldade, por ter tido seu direito à escolarização negado, me ensinou a ler.
Recordo-me de, no começo do mestrado, enquanto andava pelas ruas de São João
del-Rei/MG, ser repentinamente acometido da lembrança da tia Adeir me indicando as
letrinhas com suas mãos sofridas e ternas, e dizendo: “b com a faz… ba”. Chorei. Enquanto
escrevo essas palavras, choro novamente. A tia Adeir não só me apresentou as letras, mas
também me introduziu ao prazer da leitura. Foi ela quem me deu meu primeiro livro: grande,
verde, castigado pelo tempo e pelas traças. Era a história do Pequeno Polegar. De lá para cá,
nunca mais larguei os livros, e, olha só eu agora, de certa forma, escrevendo um.
Obrigado, tia Adeir, por me ensinar o prazer de ler.
“Escrevendo um livro” foi o jeito que encontrei de explicar para o meu pai o que é
essa coisa de mestrado e dissertação. Meu pai, como a mãe de Adélia, acha estudo a coisa
mais fina do mundo. Ele me incentivava na infância dizendo: “Meu filho, estuda. Estuda
porque nisso o pai não consegue te ajudar. Então estuda, estuda mesmo!”. E eu seguia sua
4
instrução. No mestrado, nos momentos difíceis, ele voltou a me incentivar com as mesmas
palavras. E acrescentou: “E termina esse livro que eu quero ler”. Ai, pai… Será que eu
consigo escrever de um jeito acessível? Deus me livre da erudição vazia! Ai, pai, que honra
saber que você quer ler o que escrevi! Vamos fazer assim: eu leio junto com você.
Obrigado, pai, por seu incentivo.
Estar junto nas dificuldades é a principal linguagem de amor da minha mãe. Ela
também me lembra a mãe de Adélia porque não é dada a palavras de luxo. Seu amor se
manifesta na presença diligente e nos conselhos assertivos – que às vezes doem, mas sempre
curam. Ela sofreu, à sua moda, quando eu anunciei que sairia de casa e iria para outra cidade
continuar os estudos. Deu pra sentir sua resistência e sua angústia. Mas confiou na boa
criação que me deu e foi quem desbravou comigo tantas imobiliárias, subiu tantos morros,
viu tantas casas feias e me ajudou a escolher o primeiro lugar onde eu iria morar sozinho.
Obrigado, mãe, por sua dedicação e cuidado.
“Nunca imaginei você saindo de casa para ir morar sozinho”, meu irmão me
confessou, ingenuamente, quando anunciei que estava pensando em fazer mestrado em outra
cidade. Lucas, como eu amo sua sinceridade! Para ele, o núcleo familiar sempre foi este: a
mãe, o pai e o Renato. Mas foi entendendo e se conformando: “Se você está feliz, eu estou
feliz”. Quer dizer, entendendo em parte. Não entra na cabeça dele como pode alguém gostar
tanto de estudar. Ele acha esquisito, e mais ainda que eu tenha me mudado para isso. Mas diz,
de um jeito tão generoso: “Se você gosta, se você está feliz, então eu estou feliz”. Lucas, meu
amor, eu sinto tanta saudade de você!
Obrigado por você existir.
Generoso foi Deus ao me dar uma irmã temporã. Mesmo na distância geográfica, a
Gabi foi a pessoa que mais ficou sabendo das minhas angústias, dos meus desesperos, das
minhas fraquezas; mas, também, das minhas alegrias, da minha esperança, das pequenas
conquistas. Eu não sei como ela me suportou, merece um prêmio! Foram tantos conselhos,
chamadas de atenção e encorajamentos! Dizem por aí que não existe amizade entre homem e
mulher. Não é verdade.
Obrigado, Gabi, por sua amizade.
Na verdade, quando o assunto é família, eu sou muito privilegiado. Tanto por parte de
pai, quanto por parte de mãe, eu sempre encontrei lugar seguro nas relações com meus
parentes. Tios, tias, primos, primas, avó, meu irmão mais velho, Roberto, minha cunhada e
meus sobrinhos. Foi tanto incentivo! Obrigado a todas e a todos por tanto amor. Cito,
nominalmente, as pessoas que estiveram mais próximas: tia Ni, tio Chico, João Pedro, vó
5
1
Alcunha do Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão, promovido pelo sistema Conselhos de
Psicologia.
6
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo discutir o trabalho em equipe de profissionais de
Psicologia e Serviço Social na educação básica pública. Essas áreas têm uma significativa
história de relações com o campo educacional, entretanto, somente em 2019 foi promulgada a
Lei nº 13.935, que determina a inserção dessas/es profissionais nas redes públicas de
educação básica. Tal lei estabelece que a atuação delas/es deve se dar de modo
multiprofissional, de forma que se torna relevante proceder a uma reflexão teórico-prática
sobre esse aspecto do trabalho. Esta dissertação tem por base o materialismo histórico
dialético, e está composta por dois estudos: o primeiro constitui uma pesquisa teórica em que
se discute sobre a multi e a interprofissionalidade na Educação, com foco no trabalho em
equipe de assistentes sociais e psicólogas/os, e por uma investigação das aproximações entre
os fundamentos teórico-práticos para o trabalho no campo educacional entre essas profissões.
Apresentados tais aspectos, foram elencadas perspectivas de atuação crítica no contexto da
Lei nº 13.935/2019: uma atuação interprofissional; marcada pelo compromisso social;
construída desde a formação; e na qual seja valorizada a potência, tanto das interfaces quanto
das particularidades que se constroem na relação entre as especialidades. O segundo
configura uma revisão integrativa da literatura nacional que tem como objeto o trabalho em
equipe de assistentes sociais e psicólogas/os na educação básica pública. Após buscas nas
bases de dados e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 18
trabalhos para análise, entre artigos, capítulos de livros, teses e dissertações. Realizou-se a
caracterização dos estudos e suas contribuições para o tema investigado. Os trabalhos foram
analisados criticamente a partir de seis categorias de discussão: 1) atravessamentos políticos e
econômicos na determinação do trabalho; 2) determinantes histórico-sociais do trabalho; 3)
estruturação da equipe; 4) concepções sobre o trabalho; 5) operacionalização do trabalho em
equipe; 6) lacunas e desafios. Por fim, foram elaboradas, a partir da revisão, proposições para
uma práxis colaborativa entre assistentes sociais e psicólogas/os na educação básica pública,
em um esforço de síntese das contribuições encontradas e analisadas.
ABSTRACT
This dissertation aims to discuss teamwork of Psychology and Social Service professionals in
public basic education. These areas have a significant history of relations with the educational
field, however, it was only in 2019 that Law No. 13.935, which determines the inclusion of
these professionals in educational policy, was enacted. This law establishes that their work
must take place in a multi-professional manner, so that it becomes relevant to carry out a
theoretical-practical reflection on this aspect of the work. This dissertation is based on
dialectical and historical materialism, and was carried out in two studies: The first constitutes
a theoretical research in which multi and interprofessionality in Education are discussed,
focusing on teamwork of social workers and psychologists, and by an investigation of the
similarities between the theoretical-practical foundations for work in the educational field
between these professions. Once these aspects had been presented, perspectives for critical
action in the context of Law No. 13.935/2019 were listed: interprofessional action; marked by
social commitment; built from the time of training; and in which the power of both the
interfaces and the particularities that are built in the relationship between specialties is
valued. The second configures an integrative review of the national literature that addresses
the teamwork of social workers and psychologists in public basic education. After searching
the databases and applying the inclusion and exclusion criteria, 18 works were selected for
analysis, including articles, book chapters, theses and dissertations. The studies and their
contributions to the topic investigated were characterized. The works were critically analyzed
based on six discussion categories: 1) political and economic crossings in determining the
work; 2) historical-social determinants of work; 3) team structuring; 4) conceptions about
work; 5) operationalization of teamwork; 6) gaps and challenges. Finally, based on the
review, propositions were developed for a collaborative praxis between social workers and
psychologists in public basic education, in an effort to synthesize the contributions found and
analyzed.
Keywords: School and Educational Psychology; Social Service in education; team work;
professional performance; integrative review.
11
ILUSTRAÇÃO
Figura 1 – Possibilidades, limites e desafios da prática profissional interdisciplinar………93
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Termos de busca nas bases de dados …………………………………………….73
Tabela 2 – Argumentos de busca, filtros aplicados e resultados retornados pelas fontes……75
Tabela 3 – Quantidade de materiais selecionados após aplicação dos critérios de inclusão e
exclusão ……………………………………………………………………………………...76
Tabela 4 – Identificação e caracterização dos artigos ……………………………………….80
Tabela 5 – Identificação e caracterização dos capítulos de livro ……………………………82
Tabela 6 – Identificação e caracterização das teses e dissertações ………………………….84
Tabela 7 – Proposições e descrições de práticas colaborativas nas publicações (organizadas
por ano) …………………………………………………………………………………….126
13
SUMÁRIO
1. Introdução...........................................................................................................................17
1.1 Objeto, Tema e Problema de Pesquisa......................................................................... 17
1.2 Objetivos...................................................................................................................... 19
1.3 A Objetividade Científica e os (Des)Caminhos de um Pesquisador e sua Pesquisa....19
1.3.1 Minha Relação com o Campo, o Tema, o Objeto e a Pesquisa...........................21
1.4 Organização desta Dissertação..................................................................................... 23
2. Aspectos Metodológicos..................................................................................................... 26
2.1 Método Materialista Histórico-Dialético..................................................................... 26
2.2 Delineamento de Pesquisa............................................................................................29
2.3 A Tarefa da Crítica....................................................................................................... 35
3. Fundamentos e Perspectivas para o Trabalho em Equipe............................................. 38
3.1. Divisão do Trabalho, Disciplinarização das Ciências e Trabalho em Equipe.............38
3.1.1 A Integração do Trabalho na Educação: o Paradigma da (Inter)Disciplinaridade..
42
3.1.2 A Integração do Trabalho na Saúde: o Paradigma da Profissionalidade.............44
3.2 Fundamentos para o Trabalho em Equipe de Profissionais da Psicologia e do Serviço
Social na Educação Básica................................................................................................. 47
3.2.1 Fundamentos Históricos e Técnico-Científicos da Psicologia Escolar e
Educacional.................................................................................................................. 49
3.2.2 Fundamentos Históricos e Técnico-Científicos do Serviço Social na Educação55
3.2.3 O Campo Escolar como Condicionante da Prática Profissional......................... 59
3.3 À Guisa de Síntese: a Lei nº 13.935/2019 e o Trabalho Colaborativo de Assistentes
Sociais e Psicólogas/os na Educação Básica Pública.........................................................63
4. Revisão Integrativa da Literatura Teórico-prática......................................................... 69
4.1 Procedimentos Metodológicos Para a Revisão Integrativa.......................................... 69
4.1.1. Levantamento do Material Bibliográfico........................................................... 70
Fontes e tipos de material.......................................................................................70
Recorte, estratégias de busca e critérios de inclusão e exclusão............................ 72
4.1.2 Estratégias de Coleta e Análise de Dados........................................................... 76
4.2 Caracterização e Discussão de Aspectos Gerais do Corpus Bibliográfico.................. 79
4.3 Apresentação das Contribuições Presentes em cada Estudo........................................ 88
4.3.1 Artigos sobre Experiências em Redes Municipais de Educação Básica............. 88
4.3.2 Trabalhos sobre a Atuação nos Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia.................................................................................................................... 94
4.3.3 Análises do Trabalho no PROINAPE............................................................... 106
4.3.4 Monografias Temáticas: Educação Inclusiva, Educação Omnilateral e
Interdisciplinaridade...................................................................................................108
4.4 Análise Crítica dos Estudos e Relatos de Experiência............................................... 112
16
1. Introdução
A presente dissertação está organizada em cinco seções. Nesta primeira seção, serão
apresentados os aspectos introdutórios da pesquisa realizada, quais sejam: o objeto, o tema e
o problema de pesquisa, os objetivos que buscamos alcançar e a relação entre o pesquisador e
a pesquisa realizada, bem como uma apresentação geral sobre cada uma das seções que
estruturam este escrito.
2
Em levantamento recente, o CFP destacou o fato de que 89% do total de profissionais de Psicologia no Brasil
identificam-se como mulheres (Lhuillier, 2013). A partir dessa constatação, a autarquia passou a referir aos
profissionais da categoria no gênero feminino antes do masculino (psicólogas e psicólogos) ou no gênero
feminino, apenas (psicólogas). No Serviço Social, a porcentagem de pessoas que se identificam com o gênero
feminino é ainda maior, 93%, (Conselho Federal de Serviço Social [CFESS], 2022). A partir disso, neste
trabalho, opta-se pela referência às categorias, preferencialmente, em construções textuais sem a determinação
de gênero (profissionais de Psicologia e Serviço Social), ou no gênero feminino antes do masculino (as/os
assistentes sociais e as/os psicólogas/os). As exceções se darão nos casos em que seja possível inferir o gênero
do sujeito a quem a frase se refere.
18
1.2 Objetivos
Das questões orientadoras e do problema de pesquisa enunciados acima, derivamos os
seguintes objetivos deste estudo:
Objetivo geral
Discutir o trabalho em equipe de profissionais de Psicologia e Serviço Social na
educação básica pública.
Objetivos específicos:
a) Proceder uma investigação histórico-crítica da fundamentação técnico-científica e
ético-política da atuação de profissionais de Psicologia e Serviço Social na educação
brasileira;
b) Sistematizar fundamentos e apresentar perspectivas para o trabalho em equipe de
assistentes sociais e psicólogas/os na educação básica pública;
c) Caracterizar a literatura teórico-prática que discute a atuação de assistentes sociais e
psicólogas/os em equipes multiprofissionais na educação básica pública;
d) Analisar o trabalho de profissionais da Psicologia e do Serviço Social em equipes
multiprofissionais na educação básica pública a partir dos relatos de experiência
presentes na literatura especializada;
e) Sintetizar as principais contribuições da literatura sobre o trabalho em equipe de
profissionais da Psicologia e Serviço Social na educação básica pública.
neutralidade e que “a raiz de todo o conhecimento é o próprio interesse dos homens como
exigência da transformação da realidade” (p. 19).
O objeto de estudo nas ciências humanas e sociais é intrinsecamente social e histórico.
Isso implica no fato de que os fenômenos investigados também se produzem na/o
pesquisadora/or. Fica evidente, desse modo, que frente a todo conhecimento há uma tomada
de posição da/o cientista, o que evidencia a parcialidade do conhecimento. Nas palavras de
Martín-Baró (1987/2017, p. 80):
Eticamente o cientista não pode deixar de tomar posição frente aos fenômenos, mas a
parcialidade decorrente de uma tomada de posição não elimina a objetividade. É um
absurdo e um contrassenso pedir imparcialidade para quem estuda a drogadição, o
abuso infantil ou a tortura. E se isto é claro [nítido]3 em relação ao socialmente
indesejável, por que não aceitar, também, uma necessária parcialidade diante daquilo
que é socialmente desejável? O problema reside no fato de que abordamos a definição
de bem social ou o bem comum, questão socialmente conflitiva e que muda de acordo
com o setor em que nos situamos. E esta é precisamente a questão: a partir de onde
julgaremos o que é socialmente desejável.
Desse modo, a explicitação da posição da/o pesquisadora/or frente ao fenômeno
estudado é fomentadora da objetividade científica no processo de pesquisa. Posto que o ser
humano tem natureza histórico-social (Lane, 1984/1991), essa explicitação deve se dar
através de um resgate do envolvimento dessa posição nos termos sociais e históricos.
Considerar isso implica em que, em Ciências Humanas, “a pesquisa tem o seu ponto de
partida no encontro entre a biografia e a história”4. E dado que toda pesquisa é realizada em
uma realidade concreta que determina limites e possibilidades, é importante mencionar
facilitadores e entraves que compuseram o processo.
Dessa perspectiva, na presente subseção, pretendo delinear, em alguma medida,
minhas relações sociais e históricas com o fenômeno que me proponho a investigar: o
trabalho em equipe de profissionais de Psicologia e Serviço Social na educação básica
pública. Resgato minha relação com os campos da Educação e da Psicologia; meu interesse
na atuação e envolvimento político com a prática em Psicologia Escolar e suas relações com
3
Em um esforço por adotar uma escrita antirracista, optamos por sugerir outro termo, entre colchetes, nesse caso
e em outras citações que usem palavras que atribuam valor a cor e contraste. Não queremos dizer com isso,
entretanto, que o autor original tenha tido intenção racista, mas buscamos apontar para as implicações
discursivas que têm sido discutidas na atualidade no campo dos estudos das relações étnico-raciais.
4
Essa expressão foi utilizada pelo professor Maurício de Carvalho Ramos, durante aula da disciplina Aspectos
epistemológicos e históricos do conceito de morfologia, oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em
Filosofia da Universidade de São Paulo.
21
5
A carreira científica ainda não é regulamentada no Brasil como uma profissão formal. É interessante notar que,
mesmo nas universidades públicas, principais instituições onde se desenvolve pesquisa no Brasil, as/os agentes
de pesquisa são pessoas que fazem concurso público para o cargo de docentes, ou discentes (de iniciação
científica, mestrado ou doutorado), que são entendidas/os como estudantes – e não como trabalhadoras/es.
23
6
Vale salientar que na própria categoria de psicólogas/os há profissionais que reproduzem essa concepção.
24
7
Não manifestação que persiste até o momento em que é redigido este trabalho.
25
2. Aspectos Metodológicos
Nesta seção, é apresentada a proposta metodológica geral desta pesquisa. Em um
primeiro momento, é anunciado o materialismo histórico-dialético como método do
conhecimento científico no qual se fundamenta este estudo. Esse é um método complexo e de
difícil apreensão, de modo que foi necessário um esforço de reconhecimento das proposições
a ele relacionadas, acompanhado de uma constante busca, nem sempre totalmente satisfeita,
por expressá-lo no desenvolvimento da pesquisa.
Em seguida, é posta a discussão sobre o delineamento geral desta pesquisa que, com
vistas a alcançar os objetivos, constituiu-se entre o que é uma pesquisa teórica, uma pesquisa
bibliográfica e uma revisão de literatura. Cada tipo é brevemente apresentado de modo a
posicionar melhor o delineamento do presente estudo no universo metodológico. Para
organizar melhor a incursão da/o leitor/a neste escrito, os procedimentos específicos
(passo-a-passo) para a realização de cada etapa da pesquisa são apresentados nos parágrafos
introdutórios da seção 3 e na subseção 4.1.
Por fim, é delimitada a concepção de “crítica” que assumimos neste trabalho,
reconhecendo sua posição no interior da construção histórica do conhecimento científico em
uma perspectiva crítica em Psicologia Escolar e Educacional. Desse modo, crítica, envolve
um esforço por realizar uma reflexão dialética e uma crítica do conhecimento, denunciar a
desumanização que é operada no sistema capitalista na presente era e adotar uma perspectiva
de emancipação humana e transformação social.
em constante transformação. Para Martins (2008), este é outro dos principais pontos a serem
apreendidos para se compreender a lógica dialética: a realidade está em movimento. Esta
noção de movimento é tão central para o método que é evidenciada por Netto (2011) na
interpretação que ele faz da citação de Marx sobre seu método dialético que está na epígrafe
desta seção: “teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo
sujeito que pesquisa” (p. 21). É relevante notar como, para Vigotski (1934/2010), um dos
mais relevantes teóricos marxistas da Psicologia, uma análise científica só pode apreender
corretamente o objeto se é capaz de reconhecer seu movimento peculiar. Desse modo, é
necessário instituir como objeto de estudo, não elementos decompostos, mas uma unidade
dialética de análise.
Reconhecer que a realidade está conectada e em movimento deve implicar, para a/o
pesquisadora/or que se inspira no materialismo histórico-dialético, em uma disposição para a
transformação da realidade. Beatón (2018) evidencia isso ao dizer que
todo en la naturaleza, la sociedad y el propio ser humano está concatenado o
interconectado, en constante movimiento, cambio y transformación y, el conocer la
esencia de las cosas y los hechos de la vida real y lo concreto, es la vía para conseguir
transformarlos y no solo contemplarlos (p. 633)8.
Esta transformação da realidade apontada por Beatón (2018) é discutida por
Tanamachi et al. (2018), que explicitam a necessidade de que a pesquisa fundamentada no
materialismo histórico-dialético tenha como fim a humanização e emancipação dos
indivíduos, em um compromisso ético explícito. Nesse sentido, o referido método é uma
resposta possível, no campo científico, ao que Martín-Baró (1987/2017) chama de desafio
popular à Psicologia (e às Ciências Humanas e Sociais), em especial no contexto
latinoamericano (e brasileiro, em particular) de modo que conhecer oferece condições para
transformar, não só o pensamento, mas também a ação.
8
Tradução livre: “tudo na natureza, na sociedade e no próprio ser humano está concatenado e interconectado,
em constante movimento, mudança e transformação; e, conhecer a essência das coisas e os fatos da vida real e o
concreto é a via para conseguir transformá-los, e não somente contemplá-los”.
30
Falcão, 2015, p. 74). Desse modo, segundo Fontes e Falcão (2015), a pesquisa teórica em
Psicologia se constitui como um campo aberto de reflexão que auxilia a construção da
Psicologia como um todo ao indicar problemas, apontar soluções, discutir aspectos éticos,
morais e políticos, dialogar perspectivas, debater conceitos, examinar pressupostos, construir
metateorias, entre outros aspectos.
Para Fontes e Falcão (2015), estudos teóricos “têm o potencial de provocar debates e
mudanças significativas no modo de se praticar ciência em Psicologia” (p. 77). Acrescenta-se
aqui, em acordo com Laurenti et al. (2016), que estudos teóricos têm grande importância e
potência para provocar reflexões e mudanças, não só na ciência psicológica, mas também na
atuação profissional em Psicologia – interesse maior desta dissertação. Exemplos disso no
campo da Psicologia Escolar e Educacional são as reflexões sobre a relação entre Psicologia e
Ideologia (Patto, 1984/2022), a discussão sobre o fracasso escolar como um fenômeno
historicamente produzido (Patto, 1990/2022), a crítica da razão psicométrica (Patto, 1997), os
pressupostos de uma atuação crítica (Meira, 2003; 2012; Tanamachi & Meira, 2003) e a
diferenciação entre práticas tradicionais e emergentes no campo (Martínez, 2010).
Outro exemplo da relevância da pesquisa teórica, desde o prisma do materialismo
histórico-dialético, é um dos trabalhos de Vigotski (1930/1997) sobre o objeto da Psicologia.
No texto La psique, la conciencia, el inconsciente, o autor demonstra como as (in)definições
sobre o referido objeto como ciência afetam não apenas a abordagem metodológica dos
fenômenos a serem estudados como o próprio estatuto científico pretendido. Vigotski, então,
empreende um estudo teórico-conceitual, com vistas a considerar uma solução, a partir da
lógica dialética, para o problema evidenciado.
Lopes (2016) diferencia pesquisas empíricas de pesquisas teóricas e define que
“pesquisas empíricas lidam com dados obtidos a partir de investigações do mundo (físico ou
social) mediadas por um background teórico, do qual participam compromissos filosóficos
mais ou menos explícitos e regras mantidas por uma comunidade científica” (p. 15). A
realidade desafia a ciência empírica, de modo que, a cada dia, aparecem mais procedimentos
e técnicas com vistas a abordá-la.
Sob influência do positivismo, as ciências, em geral, e as ciências humanas, em
particular, valorizaram muito, em um primeiro momento, o uso de procedimentos
experimentais e estatísticos para acesso à realidade, e enfatizaram uma perspectiva
nomotética de conhecimento. Embates teórico-filosóficos e a crise do positivismo abriram
espaço para que perspectivas mais idiográficas, abordagens qualitativas e novas formas de
acesso ao mundo fossem consideradas científicas. Na atualidade, há desenhos de pesquisa,
32
análise dos dados (Biblioteca do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, n.d.;
Casarin et al., 2020).
As revisões sistematizadas têm sido aperfeiçoadas ao longo do tempo como modos
mais transparentes e replicáveis de produção científica a partir de fontes bibliográficas, em
especial no campo das Ciências da Saúde e nas abordagens baseadas em evidências. Nesse
movimento, as revisões sistematizadas têm adquirido um caráter metodológico, em alguma
medida, replicável, baseado em material delimitado: a produção bibliográfica.
Dentre as revisões sistematizadas, destaca-se, como o delineamento mais estruturado
de todos, a revisão sistemática de literatura, propriamente dita, que consiste em um conjunto
de procedimentos com vistas a sistematizar, avaliar e sintetizar, por meio de protocolos
rígidos e específicos9, as melhores evidências para tomada de decisão (Casarin et al., 2020;
Cordeiro et al., 2007; Costa et al., 2022; Sampaio & Mancini, 2007; Souza et al., 2018). A
revisão sistemática é indicada, principalmente, para a avaliação de estudos experimentais
(Mendes et al., 2008).
Além da revisão sistemática, há, na literatura científica, diversos outros desenhos de
revisão que se propõem sistematizados (Souza et al., 2018), dentre os quais a revisão
integrativa de literatura (Andrade, 2021; Casarin et al., 2020; Soares et al., 2013; Souza et al.,
2010). O conjunto de procedimentos que constitui tal revisão objetiva a integração de
diferentes tipos de estudos e fontes, de modo a possibilitar a construção de um quadro de
referência ou uma síntese conceitual sobre determinado tema (Torraco, 2016). Isso permite,
ainda, identificar lacunas no conhecimento e direcionar novos focos de pesquisa (Mendes et
al., 2008; Torraco, 2016).
A revisão integrativa difere da revisão sistemática posto que não necessariamente tem
como foco a “avaliação de evidências”. Como dito, seu cerne está na apreciação crítica da
literatura disponível com vistas a uma síntese das diferentes contribuições, de modo a
apresentar um quadro de referências sobre o objeto de investigação. Ainda assim, é possível
uma rigorosa descrição dos procedimentos metodológicos de modo a possibilitar a
replicabilidade e transparência dos procedimentos de coleta e análise de dados.
Posto esse cenário, é possível identificar que as revisões não-sistematizadas de
literatura se diferenciam das sistematizadas e das pesquisas bibliográficas no que tange ao
rigor metodológico e às suas finalidades. As revisões não-sistematizadas consistem em uma
9
Na atualidade, há duas instituições principais que criam padrões de referência para a produção de revisões
sistemáticas para síntese de evidências para tomada de decisão: a colaboração Cochrane (www.cochrane.org) e a
colaboração Campbell (www.campbellcollaboration.org).
34
10
O objetivo desta subseção é localizar a ideia de crítica que foi utilizada para guiar o processo de reflexão e
discussão desta dissertação. A Psicologia Escolar e Educacional em uma perspectiva crítica, bem como a
perspectiva crítica no Serviço Social serão apresentadas, de modo aprofundado, na subseção 3.3 desta
dissertação.
36
críticas (Meira & Antunes, 2003b) e Psicologia Escolar: práticas críticas (Meira & Antunes,
2003a).
Meira (2003; 2012) trabalha a categoria de crítica em Psicologia ao sistematizar as
contribuições do materialismo histórico-dialético para o pensamento crítico. Desde esse
referencial, segundo a autora, o trabalho crítico deve envolver: 1º) uma reflexão dialética; 2º)
uma crítica do conhecimento; 3º) a denúncia da degradação humana e defesa da dignidade da
vida, da justiça e da liberdade para todas/os; e 4º) uma perspectiva de transformação social.
Sobre o primeiro aspecto, a autora resgata a compreensão da dialética como lógica
privilegiada no materialismo histórico-dialético, que permite a apreensão da realidade em seu
movimento peculiar e evidencia “o caráter de permanente transformação da realidade social”
(Meira, 2012, p. 17). A autora afirma que:
uma concepção ou teoria é crítica na medida em que tem condições de transformar o
imediato em mediato; negar as aparências sociais e as ilusões ideológicas; apanhar a
totalidade do concreto em suas múltiplas determinações e articular essência /
aparência, parte / todo, singular / universal e passado / presente, compreendendo a
sociedade como um movimento de vir a ser. (Meira, 2012, p.17).
O segundo aspecto evidenciado por Meira é o mesmo destacado por Martins (1977),
de que é necessário desvelar os compromissos históricos e ideológicos que subjazem o
conhecimento produzido, em um rompimento com o paradigma positivista de ciência. A
perspectiva crítica assume, segundo Meira (2012), que a ciência é sempre intencional e,
mesmo de modo não consciente, todo o processo de pesquisa é influenciado pela/o
pesquisadora/or: por sua história e compromissos na relação com o objeto. Assim, a
objetividade científica:
só se torna possível na medida em que se compreender a realidade como processo
que se constrói na trama complexa das relações sociais; que se buscar captar os
fenômenos, não como fatos em si, nem tampouco como ideias sobre os fatos, mas
como concretudes históricas, sínteses de múltiplas determinações (Meira, 2012, p.
18-19).
O terceiro e quarto aspectos podem ser apresentados de forma complementar. Meira
(2012) defende que uma concepção crítica não pode estar alheia aos efeitos da opressão das
classes dominantes na sociedade capitalista que tem produzido alienação e desumanização.
Ela salienta a maneira como “o trabalho alienado aliena, não só a natureza do homem, mas o
homem de si mesmo e de sua espécie” (p. 19), de modo que a vida se converte em mera
existência individual e as pessoas são destituídas do direito de se apropriarem da herança
37
como componente essencial a representação ideal prévia do produto que se pretende forjar,
subordinada ao seu objetivo e sua vontade. O autor salienta o trabalho como um processo que
engloba, basicamente, 1) ação orientada a um fim – ou trabalho propriamente dito; 2) objeto
do trabalho – que, modificado pelo trabalho, é chamado de matéria-prima; 3) meios (ou
instrumentos) de produção. Para o pensamento marxista, o trabalho é a atividade fundamental
humana, em que o humano produz a si mesmo e a sua vida social (Engels, 1876/2006;
Vigotski, 1991). Martins e Eidt (2010) destacam os termos de Lukács ao descrever o trabalho
como “categoria ontológica fundamental do ser social” (p. 676).
Adam Smith (1723-1790), filósofo e economista escocês anterior a Marx, fornece as
bases para a compreensão deste acerca da chamada divisão social do trabalho. Para Smith, há
uma propensão humana a trocas entre si dos excedentes do resultado do seu trabalho
(Lamounier, 2005), o que acarretaria em um aumento da produtividade e seria base para as
relações econômicas humanas. Marx & Engels (1845/2007) identificam o surgimento da
divisão social do trabalho em uma “divisão natural do trabalho" (p.90) ou “divisão
natural-espontânea do trabalho” (Marx, 1867/2013, p. 341).
Posto que “a divisão do trabalho é um organismo natural-espontâneo da produção”
(Marx, 1867/2013, p. 166), com o desenvolvimento histórico das sociedades humanas, e a
mercantilização da sociedade, o trabalho social continua a se complexificar e a ser dividido
em especializações necessárias à produção: “com a diferenciação dos instrumentos do
trabalho diferenciam-se cada vez mais os ofícios que produzem esses instrumentos” (Marx,
1867/2013, p. 342), o que, nas sociedades capitalistas, como a brasileira, abre espaço para a
divisão sociotécnica do trabalho.
Os diferentes estágios de produção se tornam em ofícios diferentes, e essa divisão “se
apossa não apenas da esfera econômica, mas de todas as outras esferas da sociedade,
firmando por toda parte as bases para aquele avanço da especialização, das especialidades, de
um parcelamento do homem” (Marx, 1867/2013, p. 342). Nesse contexto, além do mercado
de produtos, surge um mercado de trabalho onde aqueles que não detêm os meios de
produção vendem sua força de trabalho em troca de salário, a ser trocado por produtos que
garantam sua subsistência.
Faz-se relevante, aqui, uma breve apreciação da contribuição de Foucault para a
compreensão da temática das profissões e das disciplinas. Em sua obra Vigiar e punir:
nascimento da prisão, o autor (Foucault 1975/2013) explica como as disciplinas são criadas
de modo a cumprir funções especializadas na sociedade com vistas ao controle social. Isso se
dá, em especial, a partir da Era Moderna, através de instituições como escolas – com
40
primeiras versões dessa como um espaço para a educação das massas –, exército, hospícios,
conventos e prisões.
Ele associa as disciplinas, enquanto área do conhecimento, e a disciplina, enquanto
mecanismo de ordem, e aponta como a sistematização disciplinar do conhecimento tem
relação em duplo sentido com instrumentos de controle social (ou controle do corpo), de
modo que, para a manutenção da ordem, passaram a ser utilizadas, nessas instituições, as
disciplinas, como “fórmulas de dominação” (Foucault, 1975/2013, p. 118). O saber, deste
modo, é um mecanismo de poder: “formação de saber e majoração de poder se reforçam
regularmente segundo um processo circular” (p. 184), e a disciplina é uma manifestação
física desse poder. Em síntese,
As disciplinas atravessam então o limiar “tecnológico”. O hospital primeiro, depois a
escola, mais tarde ainda a oficina, não foram simplesmente “postos em ordem” pelas
disciplinas; tornaram-se, graças a elas, aparelhos tais que qualquer mecanismo de
objetivação pode valer neles como instrumento de sujeição, e qualquer crescimento de
poder dá neles lugar a conhecimentos possíveis; foi a partir desse laço, próprio dos
sistemas tecnológicos, que se puderam formar no elemento disciplinar a medicina
clínica, a psiquiatria, a psicologia da criança, a psicopedagogia, a racionalização do
trabalho. Duplo processo, portanto: arrancada epistemológica a partir de um
afinamento das relações de poder; multiplicação dos efeitos de poder graças à
formação e à acumulação de novos conhecimentos (Foucault, 1975/2013, p. 184-185)
As profissões11 e as disciplinas, então, estão intimamente relacionadas, posto que, ao
mesmo tempo que a divisão do trabalho dá origem a saberes especializados que são
dominados por cada categoria de trabalhadores, conjuntos de conhecimentos são organizados
como forma de controle social, através de mecanismos ideológicos. Cada conjunto de saberes
e práticas é instituído ou modificado conforme emerjam, no contexto das dinâmicas de poder,
necessidades sociais específicas. Mais do que isso, disciplina e profissão constituem um
emaranhamento dialético. No campo real, são formas de organização de um mesmo processo:
a atividade humana sensível, isto é, o trabalho. Assim, podem ser compreendidos de modo
relativamente intercambiável, mas, posto o processo histórico a que foram submetidas, não
são sinônimos perfeitos, de modo que é possível reconhecer peculiaridades de uma e de outra.
A diferenciação entre disciplina e profissão na contemporaneidade se consolida com
as influências do positivismo, movimento filosófico que propunha que a fragmentação dos
11
Aqui entendidas como formas institucionalizadas e legitimadas socialmente de trabalho, que envolvem o
domínio de determinada expertise e certificação (Yamamoto & Amorim, 2010).
41
objetos investigados era necessária para que fosse possível conhecer como as coisas
realmente são (conhecimento positivo). Esta doutrina é elemento fundante do modo como a
ciência e a sociedade ocidental se organizam na atualidade12. Japiassu (1976) aponta para isso
no campo científico/disciplinar; no campo profissional, destacam-se as influências e
desdobramentos da ideia de racionalização do trabalho proposta na Administração Científica
de Frederick Taylor (1856-1915).
Japiassu (1976) aponta o problema, em especial, para as Ciências Humanas, de as
disciplinas avançarem de forma isolada. O Ser Humano é uma unidade indissolúvel,
multidimensional e multideterminada, portanto, o “conhecimento do fenômeno humano na
totalidade de sua significação” (p. 66) exige uma convergência e integração das diferentes
ciências. À tendência no campo científico pela hiperespecialização e pela radicalização da
ação científica em uma perspectiva unidisciplinar, o autor refere como uma patologia do
saber (Japiassu, 1976). No prefácio do livro de Japiassu, Gusdorf afirma que “o triunfo da
especialização consiste em saber tudo sobre nada” (Gusdorf, 1976, p. 8) de modo que,
conforme a Ciência avança, o especialista se torna cada vez menos capaz de responder
efetivamente às questões reais do tempo presente. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à
uma reflexão sobre a parcelização do trabalho, de modo que, quanto mais intensa a
especialização, mais o trabalho se torna alienado e destituído de seu caráter original (Marx,
1867/2013; Dalla Vecchia, 2011).
As disciplinas tendem, assim, a ser identificadas com o saber, enquanto as profissões
costumam ser relacionadas com a prática. Apesar da crítica necessária, essa distinção faz-se
relevante para a presente reflexão a medida em que, no campo educacional brasileiro, é
comum que o trabalho em equipe seja referido como multi, inter ou transdisciplinar; enquanto
na Lei nº 13.935/2019, que constitui o fundamento da discussão que se realiza neste trabalho,
diz-se de uma atuação multiprofissional na Educação. Ora, o uso de termos como
multiprofissional e interprofissional são mais correntes no campo da Saúde13, onde a
discussão sobre o trabalho em equipe de profissionais da Psicologia e do Serviço Social, bem
como de outras especialidades, está mais estabelecida. No contexto contemporâneo, então,
12
Com isso não queremos dizer que o positivismo ainda esteja vigente na sociedade atual como doutrina
filosófica tal qual no século XIX. Reconhecemos os processos históricos de transformação da ciência e de
críticas à forma primordial dessa corrente de pensamento, mas também constatamos que não houve uma ruptura
com o referido sistema, não houve revolução, de modo que permanece fundante e influente nos modos como a
ciência e a sociedade se organizam hoje. Exemplos podem ser encontrados no próprio parágrafo.
13
Também tem se constituído alguma discussão no campo da Assistência Social, principalmente, desde a
implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
42
14
Cabe ressaltar que isso não implica que o trabalho escolar seja necessariamente horizontalizado e integrador,
afinal, a divisão social do trabalho também incide sobre o exercício profissional na Educação, promovendo
especializações, segmentações, hierarquias. Porém, há movimentos progressistas que promovem o trabalho
pedagógico numa perspectiva coletiva e dialógica, na direção da formação integral das/os educandas/os.
43
Um segundo momento, já nos anos 1980, foi marcado por discussões sobre como
tratar da interdisciplinaridade para além da teoria, versando sobre as contradições que
emergiam das teorizações sobre o conceito: “teoria/prática, verdade/erro, certeza/dúvida,
processo/produto, real/simbólico, ciência/arte” (Fazenda, 2008, p. 29), e sobre o método
interdisciplinar na Educação. Foi um período de estudo, sistematização e análise das práticas
interdisciplinares de professoras/es com vistas a lidar com as dicotomias e lacunas que o
estudo epistemológico deixara.
Dos anos 1990 em diante, como terceiro momento, o campo de estudos sobre
Interdisciplinaridade na Educação, no Brasil, passa a se ocupar de construir uma teoria da
interdisciplinaridade, isto é, de construir propostas de fundamentos para um novo paradigma
de Educação. Os estudos envolvem discussões sobre interdisciplinaridade e didática,
formação de professoras/es, ensino, currículo, entre outros temas. Como já pontuado, a
reflexão sobre o trabalho em equipe na educação centra-se nas relações entre os diferentes
conhecimentos e modos de fazer uma mesma atividade, e não sobre práticas de naturezas
distintas. Em outras palavras, a didática do professor de Matemática e a do professor de
História, por exemplo, ainda que apresentem peculiaridades inerentes à relação entre o
conteúdo e a psicologia da aprendizagem humana, apresentam a mesma estrutura: de prática
didática.
15
Peduzzi (2001) aponta como as profissões em saúde constituem especializações do saber médico. Ainda
assim, enfermeiras/os, fisioterapeutas, psicólogas/os, terapeutas ocupacionais etc. não são todas/os médicas/os.
Por outro lado, professoras/es de Português, professoras/es de Matemática, professoras/es de Biologia,
pedagogas/os etc. são todas/os profissionais do magistério, ou, simplesmente, professoras/es.
45
Esse tipo de equipe que Peduzzi concebe inicialmente como equipe integração é
referido, posteriormente, como equipe interprofissional (Peduzzi et. al., 2016) no rastro das
discussões que têm acontecido em âmbito internacional sobre o tema. A
interprofissionalidade implica, necessariamente, em integração entre as/os profissionais com
vistas a uma atenção integral ao sujeito atendido, como indica a definição da OMS (2010, p.
7):
A prática colaborativa acontece quando vários profissionais de saúde com diferentes
experiências profissionais trabalham com pacientes, famílias, cuidadores e
comunidades para prestar assistência da mais alta qualidade. Ela permite que os
profissionais de saúde integrem qualquer indivíduo cujas habilidades possam auxiliar
na conquista dos objetivos de saúde locais.
Peduzzi e Agreli (2018) ampliam a discussão sobre o trabalho em equipe e a prática
interprofissional ao discutirem níveis de colaboração de modo contingencial ao contexto e
condições de trabalho. Do mais para o menos integrado, os níveis são: o trabalho em equipe
interprofissional, propriamente dito; a colaboração interprofissional, com menos
interdependência e compartilhamento; a prática colaborativa interprofissional, quando foram
implementados elementos pontuais de colaboração; e trabalho em rede, quando há pouca
interdependência, mas é mantida uma integração enquanto rede. Por sua vez, Ceccim (2018)
ressalta como a multiprofissionalidade e a interdisciplinaridade são precondições para a
interprofissionalidade. As conexões “inter” que constituem o que é peculiar à
interprofissionalidade, segundo a autora, só podem emergir de um território multiprofissional.
Para que a interprofissionalidade ocorra, é necessária uma postura entre as/os
profissionais de valorização do saber da/o outra/o e das relações entre os conhecimentos
diversos sobre o objeto de interesse. Nesse sentido, a literatura sobre colaboração em Saúde
tem destacado a importância da educação interprofissional para que o trabalho em equipe seja
aprimorado. A educação interprofissional consiste em um tipo de formação em que há
aprendizagem compartilhada durante o processo de formação profissional, com interação
com estudantes e profissionais de diversas especialidades. A educação interprofissional
implica, portanto, em intensas trocas entre profissionais e estudantes de diferentes
especialidades nos mais diversos espaços de formação e, no âmbito da Saúde, contribuem
para a melhoria da qualidade da atenção em saúde e resolubilidade de casos (Peduzzi et al.,
2013).
47
No interior da concepção crítica, Meira (2003) reflete que a/o psicóloga/o escolar
precisa compreender, como sua função, a promoção do desenvolvimento humano
contribuindo para que a escola cumpra seu papel de socialização do patrimônio do
conhecimento acumulado historicamente pela humanidade, dando abertura para a
conscientização e a criticidade:
contribuir para que a escola cumpra, de fato, seu papel de socialização do saber e de
formação crítica… Ele é um profissional que, em seus limites e especificidade, pode
ajudar a escola a remover os obstáculos que se interpõem entre os sujeitos e o
conhecimento, favorecendo processos de humanização e desenvolvimento do
pensamento crítico (Meira, 2003, p. 57-58, grifos da autora).
As referências técnicas para a atuação de psicólogas/os na educação básica (CFP,
2013/2019) colocam em evidência uma perspectiva socialmente comprometida de atuação
baseada em marcos lógicos e legais que tratam do direito à educação de qualidade e a um
desenvolvimento humano saudável e à superação de processos de exclusão e marginalização
social. São ressaltadas, no referido documento, como possibilidades de intervenção: a atuação
na elaboração e acompanhamento do projeto político-pedagógico das escolas; as intervenções
relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem; a formação de educadoras/es; a atuação
com foco nos processos de inclusão escolar; e o trabalho com grupos de alunas/os.
Apesar de predominante, a perspectiva crítica não é homogênea. É válido lembrar que
o surgimento de um novo paradigma de atuação em um campo profissional não implica em
substituição automática do anterior, mas em uma construção gradual de um novo conjunto de
práticas. Nesse sentido, na atualidade, há profissionais que atuam no contexto escolar com
diferentes compromissos e perspectivas, declarados ou não, e que contribuem para a
manutenção do status quo ou para processos de conscientização e emancipação humanas
(inclusive, profissionais que atuam, de maneira contraditória, com influências de mais de um
paradigma ao mesmo tempo).
Há disputas entre defensoras/es de concepções teórico-práticas que levam em conta o
que foi debatido no período da crítica (perspectivas críticas) e aquelas/es que não adotam tal
posicionamento, mas sim perspectivas não-críticas. Há, ainda, perspectivas no campo (ainda
que em menor número) que negam que a atuação de profissionais no campo educacional
tenha uma especificidade que torne a/o profissional de Psicologia Escolar uma/um
profissional da Educação, e advogam a noção ingênua de que toda/o profissional da
Psicologia é profissional da Saúde (stricto sensu), independente do contexto onde atua.
Compartilhamos, no entanto, o posicionamento de que a trajetória e os referenciais teóricos
55
ciclo desenvolvimentista que gira o foco de atuação do Serviço Social para “a articulação da
harmonia social na relação Estado/Sociedade” (Faleiros, 1997/2011, p. 14), pelo
fortalecimento de grupos unidos e estabelecidos em prol do bem comum. No interior da
ideologia hegemônica, a perspectiva de atuação assumida é a do esforço individual, seja para
melhoria das condições próprias ou da comunidade.
A/o assistente social atua, nesse contexto, junto a clubes de mães, na articulação de
cooperativas, em projetos locais e na mobilização de lideranças, de modo a provocar
mudanças nas condições imediatas, e não mais no comportamento, como era a ênfase
anterior. Dentz e Silva (2015) discorrem que, no campo escolar, atuavam junto às/aos
estudantes desajustadas/os e a processos de anormalidade social, com vistas a um
desenvolvimento harmonioso e integral das/os alunas/os. Desse modo, era endereçada ao
Serviço Social uma gama de alunas/os que apresentavam algum tipo de “má conduta” no
ambiente escolar.
Nos anos posteriores, o mesmo ambiente crítico que influencia a Psicologia e faz
surgir nela um movimento de crítica e reorganização dos pressupostos afeta também o
Serviço Social. Faleiros (1997/2011) identifica as primeiras influências ainda nos anos 1960,
quando reconhece uma crise ideológica e política da profissão no aprofundamento das
questões de classe relacionada ao contexto de luta anticolonial e anti-imperialista. A crítica a
um Serviço Social advindo de países europeus e norte-americanos (Estados Unidos da
América e Canadá) estabelece as bases para diversas iniciativas de reconstrução do Serviço
Social desde a América Latina. Contesta-se, nesse sentido, a contribuição do Serviço Social
nos processos de dominação de classe e o caráter burocrático da profissão.
Segundo Faleiros (1997/2011), o processo de crítica, o reconhecimento do conflito
entre as classes e o compromisso entre profissional e povo são as bases do que ficou
conhecido como Movimento de Reconceituação do Serviço Social em toda a América Latina.
A partir das preocupações com as dimensões teórica, crítica e política do Serviço Social a
centralidade da intervenção muda novamente, dessa vez, para as relações de classe e o
enfrentamento de dinâmicas de dominação. A questão social, criticada como uma concepção
muito genérica para que seja utilizada como uma particularidade profissional, passa a ser
compreendida a partir dos processos de correlação de forças que se dão na sociedade.
Faleiros (1997/2011, p. 44) explica que:
Definimos como paradigma da correlação de forças [grifos do autor], a concepção de
intervenção profissional, como confrontação de interesses, recursos, energias,
conhecimentos, inscrita no processo de hegemonia/contra hegemonia, de
57
vinculadas à atividade laboral daquela família. A baixa Idade Média registra o aparecimento
de oficinas, para onde os jovens eram mandados a fim de aprender um ofício sob a tutela de
um artífice. A Igreja cumpria o papel de educar moralmente o povo, instilando a visão de
mundo prevalente. A alfabetização, o acesso às artes liberais19 e os estudos universitários
eram reservados às altas classes: clero e nobreza. A Educação tinha, então, como função,
reproduzir a dinâmica de classe, condições de vida e relações sociais das pessoas (Cambi,
1999).
Reconhece-se, como era Moderna, um período de profundas transformações nos mais
diversos âmbitos da vida social europeia posterior à Idade Média. A Modernidade é marcada
pelos ideais do Renascimento, pela formação dos Estados nacionais, laicização da sociedade,
surgimento do modo de produção capitalista, dentre outros aspectos. Há razoável consenso
em situar o início desse período em 1453, ano da queda do Império Romano do Oriente. O
final do século XV também foi marcado pelo início da expulsão dos mouros do velho
continente e pelos primeiros contatos dos povos europeus com o que viria a ser o continente
americano. Os séculos seguintes são palco do início do colonialismo europeu sobre os demais
continentes e da consolidação do Protestantismo como força religiosa de oposição ao
Catolicismo Romano no Ocidente.
Durante esse período, são disseminados outros espaços educativos além da família, da
igreja e da oficina, como a escola – com primeiras versões dessa como um espaço para a
educação das massas –, e espaços de controle social, como o exército, os hospícios e as
prisões. Cambi (1999) afirma que passa a ser exigido um compromisso maior da família com
a educação das/os filhas/os, de modo que ela (família) começa a se constituir em um modelo
nuclear e afetivo. A escola, por sua vez, torna-se uma instituição social cada vez mais
relevante para a manutenção ideológica e econômica da sociedade.
Cambi (1999, p. 200) registra que “o mundo moderno se organiza, sobretudo, em
torno dos processos de civilização (Elias), de racionalização (Weber) e de institucionalização
(Foucault) da vida social no seu conjunto, dando lugar a um estilo de vida radicalmente
novo”. A Educação moderna, nesse contexto, tinha como função produzir o homem novo (e,
pouco a pouco, também a mulher) que era exigido/a pelos novos tempos. A crescente
variedade de instituições de Educação e controle criadas e mantidas pelos Estados nacionais
participa de um “projeto de pedagogização da sociedade” (Cambi, 1999, p. 201), uma
doutrinação social necessária à manutenção do poder estatal.
19
Lógica, Gramática, Retórica (Trivium), Aritmética, Música, Geometria e Astronomia (Quadrivium), artes
liberais, em oposição às artes mecânicas, do povo, como a Metalurgia, a Tecelagem e a Agricultura.
60
Segundo Cambi (1999), surge, ainda, a Pedagogia como ciência que pretende
controlar racionalmente os processos envolvidos na atividade de formação humana. É desse
período que advém a ideia de currículo, oriunda da proposta de escola pública calvinista
(Goodson, 1995); a origem da didática, com Comenius; e o início da educação jesuítica.
Cambi (1999) destaca, como características que vão se desenvolvendo na educação europeia
durante o período moderno: um nível elementar, que possibilita ao escolar contato com os
elementos culturais básicos, como alfabetização e aritmética; uma escola média, com as bases
de uma preparação profissional; uma instrução superior, relacionada às profissões liberais;
um interesse público, no sentido de um direcionamento geral comum da Educação
concentrado pelo Estado; e uma organização precisa da vida escolar.
Cumpria, então, a Educação, uma função de controle social também na nova
configuração pós-feudal, mas, a partir da Modernidade, com centralidade na instituição
escolar. Nesse sentido, a escola constituía um lugar privilegiado de monitoramento da vida
familiar. Além da função disciplinar, a escola também vai assumindo feições iniciais de um
dispositivo social próprio para a formação moral e profissional da população, no lugar da
Igreja e das oficinas, respectivamente, o que se consolida na Contemporaneidade (Cambi,
1999).
A virada da Idade Moderna para a Contemporânea registra a publicação de Emílio,
ou, Da Educação, obra filosófica romântica de Jean Jacques Rousseau (1712-1778) que
aborda o tema da educação a partir dos princípios do Humanismo e do Contratualismo.
Segundo Cambi (1999), as contribuições desse filósofo, em especial, na obra mencionada,
tiveram tal influência que o tornaram conhecido como o “pai” da pedagogia contemporânea.
O tratado do autor sobre a educação promoveu uma nova perspectiva sobre a infância na
cultura ocidental, em que a criança passa a ser vista como um ser naturalmente bom e
curioso, que terá um bom desenvolvimento moral e intelectual se lhe forem garantidas
condições apropriadas de contato com a natureza e as coisas.
Cambi (1999) também refere outra característica do pensamento de Rousseau: a
relação que o filósofo fazia entre Pedagogia e Política. O projeto de sociedade proposto por
Rousseau implicava em articular ambas em um esforço para alcançar o renascimento do
humano moral – livre e bom. Nas palavras de Cambi (1999, p. 343):
Política e pedagogia estão estreitamente ligadas em Rousseau: uma é o pressuposto e
o complemento da outra, e juntas tornam possível a reforma integral do homem e da
sociedade, reconduzindo-a – por vias novas – para a recuperação da condição natural,
61
ou seja, por vias totalmente artificiais e não ingênuas, ativadas através de um radical
esforço racional.
Rousseau faleceu 11 anos antes do estopim da Revolução Francesa, período de grande
mudança política na França e na Europa que é entendido como marco da virada da
Modernidade para a Época Contemporânea. O início desse período é marcado, também, pelos
avanços tecnológicos que ocorriam nos meios fabris ingleses, com impacto tal que ficaram
conhecidos como Revolução Industrial.
O sistema educacional francês pós-revolução consolida o que estava sendo construído
no período Moderno em um modelo que serve de base para a escola contemporânea europeia
e ocidental, dada a ampla influência cultural francesa ao longo dos século XIX e XX, com
caráter “estatal, centralizado, organicamente articulado, unificado por horários, programas e
livros texto” (Cambi, 1999, p. 365). A escola francesa pós-revolução também difunde os
princípios da escola pública, obrigatória, gratuita, laica e como um lugar de formação cidadã
e moral, segundo os princípios revolucionários da liberdade, igualdade e fraternidade.
Gorender (1989/2001), com base no pensamento de Marx e Engels, discorre que:
Assim como o Estado é o Estado da classe dominante, as idéias da classe dominante
são as idéias dominantes em cada época [grifos do autor]. A classe que exerce o
poder material dominante na sociedade é, ao mesmo tempo, seu poder espiritual
dominante. Mas os enlaces das idéias dominantes com a classe dominante se
obscurecem. As idéias dominantes parecem ter validade para toda a sociedade, isto é,
também para as classes submetidas e dominadas. Forja-se a ilusão histórica de que
cada época da vida social resulta não de determinados interesses materiais de uma
classe, mas de idéias abstratas como as de honra e lealdade (na sociedade
aristocrática) e as de liberdade e igualdade (na sociedade burguesa).
Desse modo, com a vitória da burguesia pós-revolução francesa, a escola se torna um
local privilegiado de reprodução dos ideais burgueses na sociedade. Não somente a escola,
vale salientar, mas uma série de instituições que Althusser (1970/1987) reconhece como
Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE). No contexto original da Revolução Industrial, é por
meio de outros AIE, como o sistema político e o sindicato, que os processos de alienação vão
se reproduzir, posto que a escolarização de massa demorou a ser um projeto assumido na
Inglaterra do período. Com a urbanização e a industrialização, o proletariado se fortalece
como classe social em oposição à burguesia dominante e intensifica-se a luta entre as classes,
com disputas entre o controle social burguês e a luta por direitos das/os proletárias/os.
62
20
Recentemente foi apresentado, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 3.599/2023, de autoria das
deputadas federais Erika Kokay (PT-DF) e Lêda Borges (PSDB/GO), que visa alterar a LDB e incluir
profissionais da Psicologia e do Serviço Social no quadro funcional dos estabelecimentos de educação básica.
64
específicas destinadas a cada campo (Psicologia e Serviço Social), mas de modo integrado,
convergente.
As transformações feitas no Projeto de Lei – que originou a referida Lei – durante sua
longa tramitação sinalizam esse entendimento comum entre as/os que militaram pela sua
aprovação (CFP, 2022). O texto anterior à redação final que foi aprovada determinava que
as/os profissionais da Psicologia e do Serviço Social atuantes na Educação deveriam ser
vinculadas/os à política de Saúde e à de Assistência Social. A redação final é fruto de um
movimento21 que reconhece que a Psicologia e o Serviço Social produziram saberes e práticas
específicas referentes ao campo educacional.
Institui-se, na política pública, uma discussão que já estava presente no âmbito
técnico-científico da Psicologia e do Serviço Social, o que traz consigo a novidade de
reconhecimento político de outras matrizes profissionais na Educação. Isso suscita a questão
sobre como pensar o trabalho colaborativo entre as/os profissionais da Educação e aquelas/es
novas/os (agora também validadas/os como profissionais da Educação).
Qual seria, então, o sentido do trabalho em equipes multiprofissionais evocado no
texto da Lei nº 13.935 (2019)? Seria de um trabalho em que se justapõem as diferentes
profissões ou um trabalho que integre os diferentes saberes em torno de um objetivo comum?
Defende-se, neste estudo, que o texto parece indicar a segunda opção:
Art. 1º As redes públicas de educação básica contarão com serviços de psicologia e de
serviço social para atender às necessidades e prioridades definidas pelas políticas de
educação, por meio de equipes multiprofissionais. § 1º As equipes multiprofissionais
deverão desenvolver ações para a melhoria da qualidade do processo de
ensino-aprendizagem, com a participação da comunidade escolar, atuando na
mediação das relações sociais e institucionais. § 2º O trabalho da equipe
multiprofissional deverá considerar o projeto político-pedagógico das redes públicas
de educação básica e dos seus estabelecimentos de ensino (Lei nº 13.935, 2019, art.
1º).
Se o multiprofissional se referisse, apenas, à presença das/os profissionais atuando
separadamente, cada uma/um com ferramentas, métodos e conceitos peculiares de sua área,
não seria necessário o reforço da ideia de que o trabalho deve ser multiprofissional. Ainda, o
21
Compuseram esse movimento os conselhos profissionais da Psicologia e do Serviço Social, associações
científicas e profissionais (e.g. Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional [ABRAPEE] e
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social [ABEPSS]), grupos vinculados a universidades,
políticos (como a deputada Jandira Feghali - PCdoB/RJ, que foi a relatora do Projeto de Lei em sua tramitação
final, qual seja: votação no plenário da Câmara dos Deputados) e diversas pessoas, individualmente.
65
texto da Lei informa um foco comum para as duas profissões: “a melhoria da qualidade do
processo de ensino-aprendizagem [...] atuando na mediação das relações sociais e
institucionais” (Lei nº 13.935, 2019, art. 1º, § 1º), e não objetivos diferentes para cada
especialidade, o que indica a necessidade de uma integração entre os saberes especializados a
serviço desse objetivo estipulado.
A Lei, então, coloca em perspectiva uma atuação profissional que se organize pelo
paradigma da colaboração, da interdisciplinaridade e da interprofissionalidade. Como visto
anteriormente, as conexões entre saberes e práticas são favorecidos à medida em que são
identificadas e construídas convergências em torno de um objeto comum, seja de
conhecimento, seja de intervenção. Peduzzi (2001) registra como o trabalho em equipe é
amplamente facilitado por um projeto comum. Nesse sentido, os projetos profissionais
desenvolvidos a partir de uma perspectiva crítica na Psicologia Escolar e Educacional
(projeto predominante) e no Serviço Social (projeto hegemônico) – paradigmas de atuação
que são defendidos neste trabalho – comparecem de modo privilegiado, posto que já
apresentam elementos de convergência entre si.
Isso não significa que a prática interprofissional seja impossível para trabalhadoras/es
que atuem a partir de outros projetos profissionais ou que a colaboração entre críticos e
não-críticos seja impossível. É necessário relembrar, nesse ponto, do paradigma de correlação
de forças que, conforme postula Faleiros (1997/2011), implica no conjunto de forças e
interesses postos em disputa no campo de atuação, que (de)formam o objeto de intervenção.
Dentre os diversos fatores que participam dessa dinâmica encontram-se as/os colegas de
equipe, de modo que os limites e possibilidades de intervenção das/os profissionais podem
ser flexibilizados e/ou delimitados conforme as perspectivas e compromissos das/os demais.
É importante considerar que apenas delimitar o processo de ensino-aprendizagem
como o foco de ação e estabelecer que as ações devem se dar de modo coletivo não garante
uma perspectiva crítica de atuação. A abordagem do processo histórico de desenvolvimento
das profissões realizada anteriormente permitiu localizar momentos em que tanto na
Psicologia quanto no Serviço Social foram desenvolvidas práticas coletivistas, mas, ainda
assim, alinhadas à reprodução do sistema dominante e de mecanismos de exclusão social e
controle.
A perspectiva crítica é marcada pelo compromisso. Antunes (2008) reflete como
compromisso implica nas instâncias de quem se compromete, com quem se compromete e
com o que se compromete. Uma perspectiva crítica para o trabalho em equipe de assistentes
sociais e psicólogas/os é configurada a medida em que as/os trabalhadoras/es se
66
partir de uma concepção crítica em Psicologia Escolar, Meira (2003, p. 55) qualifica a
“relação entre o sujeito humano e a educação” como objeto da Psicologia Escolar em uma
compreensão do fenômeno psicológico a partir do conceito de “subjetividade”. Há uma
relação dialética entre subjetividade e escolarização, isto é, um “papel da subjetividade na
construção do processo educacional… e o papel da educação na construção da subjetividade
humana” (Meira, 2003, p. 55). Com essa compreensão, o que particulariza o objeto da
Psicologia são as “relações entre os processos psicológicos e os pedagógicos…, entre a
subjetividade humana e o processo educacional” (Meira, 2003, p. 55).
A particularidade do objeto do Serviço Social, por sua vez, encontra-se nas expressões
da questão social nas relações sociais que se estabelecem no contexto da política educacional.
Martins (2012) ressalta que isso implica na luta pelo acesso, permanência e qualidade da
educação, posto que esta é um direito social intrínseco à condição humana. A/o assistente
social, portanto, tem como elemento estruturante da sua atuação a execução da política social
educacional com vistas à manutenção dos direitos conquistados e à conquista de novos. Nesse
contexto, a própria política educacional, como campo de disputas, deve ser reconhecida como
expressão da questão social “na medida em que representa o resultado das lutas sociais
travadas pelo reconhecimento da educação pública como direito social” (Almeida, 2005, p.
10, citado por Martins, 2012, p. 49).
Por fim, é necessário pontuar que os processos formativos de profissionais da
Psicologia e do Serviço Social para a atuação com outras/os profissionais no campo da
Educação devem ser aprimorados no novo contexto com vistas a que sejam valorizados,
durante a formação, os aspectos das diretrizes curriculares dos cursos em tela que dizem
respeito à interdisciplinaridade e à interprofissionalidade. As diretrizes para o Serviço Social
anunciam que deve haver interdisciplinaridade no projeto de formação dos cursos (Resolução
CNE nº 15, 2002) e as diretrizes vigentes da Psicologia expõem, como uma das competências
esperadas, a atuação inter e multiprofissional (Resolução CNE nº 5, 2011). Apesar de alguma
presença dessas discussões, é relevante que em futuras versões das diretrizes curriculares, os
aspectos da interdisciplinaridade e interprofissionalidade sejam mais discutidos e adensados.
Elencam-se, como espaços que podem ser reformulados de modo a se tornar
mecanismos privilegiados de formação interprofissional, os projetos institucionais de
Residência Pedagógica e o programa geral de Residência Pedagógica da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A Residência Pedagógica tem
como foco o aperfeiçoamento da formação de professoras/es na educação básica por meio de
uma imersão no ambiente escolar com vistas a, dentre outros aspectos, construir a identidade
68
22
Original: “The integrative literature review is a distinctive form of research that generates new knowledge
about the topic reviewed. It reviews, critiques, and synthesizes representative literature on a topic in an
integrated way such that new frameworks and perspectives on the topic are generated.”
23
Os conteúdos desta coletânea consideradas em nossa revisão são os relativos à educação profissional e
tecnológica, modalidade que compõe a educação básica.
71
24
Isto é, literatura científica de difícil acesso, como teses, dissertações, outras monografias, relatórios não
editados e publicados, entre outros.
72
25
A busca posterior retornou um artigo que não havia sido encontrado na revisão prévia: Soares, Amaral e
Ferreira (2022). Isso provavelmente ocorreu porque o referido artigo passou a constar no mecanismo de busca
após o primeiro levantamento.
73
Tabela 1
Termos de busca nas bases de dados
Dimensões Termos de busca nas bases de dados
Amostra 1 “assistente social” OR “assistentes sociais” OR “serviço social”
“psicologia” OR “psicologias” OR “psicólogo” OR “psicólogos” OR
Amostra 2
“psicóloga” OR “psicólogas”
“escola” OR “escolas” OR “escolar” OR ”escolares” OR “educação”
Fenômeno
OR “educacional” OR “educacionais”
Desenho (indiferente)
Avaliação (indiferente)
Tipo (indiferente)
26
Operadores que auxiliam na construção dos argumentos em mecanismos de busca, como “OR”, “AND” e
“AND NOT”.
27
Recorte populacional (ou amostra) a ser investigado (Sample), fenômeno de interesse (Phenomenon of
Interest), desenho da pesquisa (Design), forma de avaliação (Evaluation) e tipo de pesquisa (Research type).
74
Para as buscas nos livros, foi utilizada uma estratégia diferente. A coletânea está
disponibilizada digitalmente. Cada um dos treze livros foi baixado para um computador e o
arquivo foi aberto em um programa leitor de textos em formato Portable Document Format
(PDF). Foi utilizada a ferramenta de busca do leitor de PDF para encontrar termos específicos
nos textos. Para os livros da coletânea, posto que todos os capítulos envolviam o trabalho de
profissionais da Psicologia no âmbito educacional, realizou-se a busca por “assistente”28,
localizando-se capítulos que mencionam os termos “assistente social” ou “assistentes
sociais”, e “Serviço Social”.
A tabela 2 expõe os argumentos completos de busca, conforme as especificidades dos
mecanismos de busca das bases de dados e leitor de textos, a quantidade de resultados obtidos
inicialmente, os filtros das bases de dados que foram utilizados e a quantidade de resultados
após a aplicação dos filtros.
Inicialmente, os critérios de inclusão de materiais foram: a) produções que tivessem
como foco o trabalho de equipes multiprofissionais na educação básica compostas, dentre
outras/os, por profissionais da Psicologia e do Serviço Social; b) produções sobre temas
específicos relacionados ao processo de escolarização que contenham, em sua construção,
discussões sobre o trabalho em equipe de profissionais da Psicologia e do Serviço Social na
educação básica. O segundo critério visava ampliar a quantidade de material considerando
reflexões e menções sobre o trabalho em equipe presentes em publicações cujo foco não fosse
o tema em tela.
Como critérios de exclusão, estabeleceu-se que: a) não seriam considerados trabalhos
elaborados fora da realidade brasileira, posto que a atuação profissional varia bastante
conforme o contexto histórico, social e político de cada país; b) não seriam consideradas
produções sobre o sistema socioeducativo, posto que é um contexto específico, onde o
trabalho das equipes multiprofissionais centra-se em dimensões muito mais amplas que as da
educação escolar; c) não foram consideradas produções centradas, exclusivamente, na
educação superior. Para a busca na WoS, optou-se por excluir, já na primeira análise,
trabalhos que já tivessem sido encontrados previamente na busca no portal de Periódicos
CAPES.
28
Em um teste inicial, utilizou-se com expressão de busca “assisten-”, para englobar outras ocorrências que
pudessem fazer referência ao trabalho de assistentes sociais, mas percebeu-se que não era um modo efetivo de
refinamento de busca, posto que quase todos os capítulos referem à assistência estudantil como a ênfase do
trabalho e “Assistência Social” não é uma forma precisa de se referir ao trabalho de profissionais do Serviço
Social.
75
Tabela 2
Argumentos de busca, filtros aplicados e resultados retornados pelas fontes
Resultados Resultados
Fonte Argumento de busca Filtros
da busca após filtros
Remoção dos
(“assistente social” OR “assistentes sociais” OR resultados
“serviço social”) AND (“psicologia” OR relacionados a
Periódicos “psicologias” OR “psicólogo” OR “psicólogos” OR “bases de
344 218
CAPES “psicóloga” OR “psicólogas”) AND (“escola” OR dados” e
“escolas” OR “escolar” OR ”escolares” OR “periódicos”
“educação” OR “educacional” OR “educacionais”) no filtro "Tipo
de recurso"
(((TSa=(“assistente social” OR “assistentes sociais”
OR “serviço social”)) AND TS=(“psicologia” OR
“psicologias” OR “psicólogo” OR “psicólogos” OR
WoS “psicóloga” OR “psicólogas”))) AND 34 Não aplicado 34
TS=(“escola” OR “escolas” OR “escolar” OR
”escolares” OR “educação” OR “educacional” OR
“educacionais”)
(“assistente social” OR “assistentes sociais” OR
“serviço social”) AND (“psicologia” OR
“psicologias” OR “psicólogo” OR “psicólogos” OR
BDTD 361 Não aplicado 361
“psicóloga” OR “psicólogas”) AND (“escola” OR
“escolas” OR “escolar” OR ”escolares” OR
“educação” OR “educacional” OR “educacionais”)
Coletânea “assistente”; “serviço social” 66 não se aplica 66
a
- “TS” significa topic search e indica, no argumento de busca, que os resultados devem considerar o título, o
resumo e as palavras-chave do autor.
Tabela 3
Quantidade de materiais selecionados após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão
Qte. de materiais com Qte. de material com apenas
Tipo de material
os dois critérios o primeiro critério
Levantamento de
8 6
artigos
Teses e dissertações 16 5
Capítulos de livros 42 6
Revisão anterior 1 1
Total 69 18
29
Não foi possível identificar o motivo de esse trabalho não aparecer na busca específica. Provavelmente é
algum erro na indexação do periódico desse artigo no buscador Periódicos CAPES. Identificada esta ausência, o
artigo foi procurado nominalmente no referido buscador e não foi encontrado. Tentou-se buscar outros artigos
do mesmo periódico que aquele e também não houve sucesso.
30
As autoras chamam de “leitura reflexiva ou crítica” (Lima & Mioto, 2007, p. 41). Optamos por manter apenas
a nomenclatura leitura reflexiva, posto que utilizamos outras noções de crítica ao longo deste trabalho.
77
pois podem ser discutidos sob diferentes perspectivas. Essas categorias serão discutidas na
seção 4.4.
Para a análise e discussão dos dados, foi realizada uma leitura interpretativa dos
materiais, inspirada em uma postura crítica, conforme apresentado na fundamentação teórica
deste trabalho. Lima e Mioto (2007) definem a leitura interpretativa como:
o momento mais complexo e tem por objetivo relacionar as idéias expressas na obra
com o problema para o qual se busca resposta. Implica na interpretação das idéias do
autor, acompanhada de uma inter-relação destas com o propósito do pesquisador.
Requer um exercício de associação de idéias, transferência de situações, comparação
de propósitos, liberdade de pensar e capacidade de criar. O critério norteador nesse
momento é o propósito do pesquisador (p. 41).
A leitura interpretativa foi a ferramenta analítica com a qual se operacionalizou a
discussão dos dados, com vistas a produzir uma síntese da literatura revisada. Torraco (2005)
define a síntese de uma revisão integrativa como:
Sintetizar a literatura significa que a revisão tece os fluxos de pesquisa para se
concentrar em questões centrais, em vez de meramente relatar a literatura anterior. A
síntese não é um depósito de dados. É uma atividade criativa que produz um novo
modelo, quadro conceitual ou outra concepção única informada pelo conhecimento
íntimo do autor sobre o tópico31 (p. 362).
Em conjunto com essa compreensão, a partir do método do conhecimento com o qual
se procura embasar esta pesquisa, a síntese é entendida desde uma perspectiva dialética. Os
movimentos da síntese configuram ações simultâneas de afirmação do objeto, no intuito de
encontrar “elementos da realidade objetiva” (Carvalho, 2014, p. 11) e negação do objeto, de
modo a desvelar os elementos contraditórios que constituem, também, o que o objeto é. É
possibilitado, assim, o soerguimento do conhecimento a um novo patamar – onde o objeto
aparece de modo mais complexo, mais concreto.
O movimento de síntese dos resultados dessa pesquisa é apresentado ao longo da
seção 4. Como já informado, as seções 4.2 e 4.3 apresentam os resultados da pesquisa. As
seções 4.4 e 4.5, por sua vez, apresentam, respectivamente, a análise crítica desses resultados
e uma série de proposições sobre o trabalho em equipe de profissionais da Psicologia e do
31
Original: “Synthesizing the literature means that the review weaves the streams of research together to
focus on core issues rather than merely reporting previous literature. Synthesis is not a data dump. It is a
creative activity that produces a new model, conceptual framework, or other unique conception informed by the
author’s intimate knowledge of the topic”.
79
32
Dos trabalhos de 2019, o de Craveiro é o único que menciona a Lei nº 13.935/2019. Por isso está considerado,
mesmo que esta Lei tenha sido promulgada quase na última quinzena do ano.
80
Tabela 4
Identificação e caracterização dos artigos
Formação
Afiliação da Objeto da Desenho do Pergunta/ problema de Procedimentos
Título Ano Autoria básica das/os Objetivo geral Contexto do estudo
publicação pesquisa/ relato estudo pesquisa metodológicos
autoras/es
Tabela 4 (cont.)
Identificação e caracterização dos artigos
Formação
Afiliação da Objeto da Desenho do Pergunta/ problema de Procedimentos
Título Ano Autoria básica das/os Objetivo geral Contexto do estudo
publicação pesquisa/ relato estudo pesquisa metodológicos
autoras/ores
Observação
"Pautar essa nova realidade
Prática "Desafios postos à participante;
O trabalho remoto [de trabalho remoto] no
profissional prática profissional no pesquisa
como imperativo: Serviço fazer profissional dos
Cavalcante, A. A., interdisciplinar âmbito da política de documental e Ensino Fundamental
possibilidades da Social; Serviço Relato de educadores... refletir sobre
2021 Albuquerque, M. L., em contexto de educação, face à bibliográfica; da rede de ensino de
prática profissional Psicologia; Social experiência os desafios, limites e
Lacerda, I. A. trabalho remoto emergência da sistematização do João Pessoa/PB
interdisciplinar na Serviço Social possibilidades na
na política pandemia da Covid-19" trabalho;
política de educação intervenção do Serviço
educacional (p. 1) leitura crítica da
Social e da Psicologia" (p. 2)
realidade (análise)
Pesquisa-
Atuação de um
O dispositivo NISE "Mapear a experiência de intervenção;
Oliveira, D. F. D., Psicologia; núcleo Cidade da região
como acionador de Pesquisa- constituição do Núcleo cartografia;
2022 Moehlecke, V., Psicologia; Psicologia interdisciplinar n/a metropolitana de
novas demandas na intervenção Interdisciplinar de Saúde na socioanálise;
Amador, F. S. Psicologia de saúde na Porto Alegre/RS
educação Escola (NISE)" (p. 1) diários de campo;
escola
encontros grupais
Política de "Analisar as Políticas de
Políticas de Como os educadores
assistência Assistência Estudantil e as
assistência estudantil Serviço não docentes participam Rede Federal de
estudantil e categorias profissionais Pesquisa
e educadores Soares, P. D. S., Social; do processo educacional Educação
profissionais Pesquisa envolvidas na sua execução quali-quanti;
não-docentes nos 2022 Amaral, C. D. A., Educação Educação dos estudantes de Profissional,
envolvidos em documental nos Institutos Federais de pesquisa
Institutos Federais de Ferreira, E. D. S.. Física; institutos federais, Científica e
sua execução Educação, Ciência e documental.
Educação, Ciência e Letras considerando a proposta Tecnológica
nos institutos Tecnologia numa
Tecnologia de educação omnilateral
federais perspectiva educativa" (p. 3)
82
Tabela 5
Identificação e caracterização dos capítulos de livro
Formação
Afiliação Pergunta/
básica Objeto da Desenho do Procedimentos
Título Ano Autoria da problema de Objetivo geral Contexto do estudo
das/os pesquisa/ relato estudo metodológicos
publicação pesquisa
autoras/es
O lugar da Psicologia no
A Psicologia na
Instituto Federal
Rede Interna de
Farroupilha Campus São Psicologia; Apresentar e contextualizar o
Wallau, R; Atendimento/ Relato da inserção Instituto Federal
Vicente do Sul e a Serviço Relato de trabalho da psicóloga no IFFar, os Estudo
2017 Lorenzoni, J. C.; Psicologia Acompanhamento da Psicologia na Farroupilha em São
Participação na Rede Social; experiência desafios e a inserção na Rede teórico-reflexivo
Ortiz, N. de Estudantes do Rede Interna Vicente do Sul/RS
Interna de Pedagogia Interna
Instituto Federal
Atendimento/Acompanham
Farroupilha (IFFar)
ento de Estudantes
Atuação da
"Apresentar um relato de Levantamento
A inserção do psicólogo Psicologia na O lugar da
experiências em torno da criação e bibliográfico e
escolar em equipes equipe Psicologia na Instituto Federal do
Souza, H. S. M.; Psicologia; inserção do psicólogo em uma documental;
multiprofissionais na multidisciplinar do Estudo de equipe Mato Grosso,
2018 Pires, C. C.; Pedagogia; Psicologia equipe multiprofissional... destacando perspectiva crítica em
educação: experiência no Instituto Federal do caso multiprofissional campus
Souza, L. G. História suas atribuições, apontando Psicologia Escolar
IFMT Campus Mato Grosso - em um Instituto Rondonópolis/MT
experiências e demonstrando como subsídio para
Rondonópolis campus Federal
possibilidades" (p. 41) análise
Rondonópolis
Instituto Federal
A potência do trabalho
Psicologia; Trabalho Fluminense,
multidisciplinar na Sodré, E. N.; Relatar a experiência do trabalho da
Matemática; multidisciplinar no Relato de campus
assistência estudantil do 2018 Assis, L. C.; Psicologia n/a equipe multidisciplinar do Instituto Relato de experiência
Serviço Instituto Federal experiência Campos-Centro,
Instituto Federal Duarte, R. B. Federal Fluminense (IFF)
Social Fluminense em Campos dos
Fluminense
Goytacazes/RJ
Como a equipe
As equipes "Uma reflexão crítica sobre o
A atuação de multiprofissional
multidisciplinares dos fracasso escolar, apresentando as Institutos Federais
equipes pode atuar diante
institutos federais: Matioli, A. S.; Psicologia; Ensaio estratégias de enfrentamento do de Educação,
2019 Psicologia multiprofissionais do fracasso Análise histórico-crítica
contribuições da psicologia Santarosa, R. B. Psicologia teórico problema empreendidas pelas Ciência e
diante do fracasso escolar, desde
para o enfrentamento do equipes multidisciplinares [dos Tecnologia
escolar uma perspectiva
fracasso escolar Institutos Federais]" (p. 59)
crítica
"A articulação do
trabalho do
"Apresentação e discussão da
O apoio matricial e a psicólogo escolar Como articular as Instituto Federal do
implementação de uma prática Apresentação e
composição de um plano com outras Estudo de práticas das Rio Grande do Sul -
2019 Prediger, J. Psicologia Psicologia inspirada no modelo de Apoio discussão de uma
do comum em uma equipe profissões e a caso equipes campus Porto
Matricial, advindo da saúde pública" experiência
multiprofissional do IFRS composição de um multiprofissionais Alegre/RS
(p. 109) em contexto educacional
plano comum de
atuação" (p. 109)
83
Tabela 5 (cont.)
Identificação e caracterização dos capítulos de livro
Formação
Afiliação Pergunta/
básica Objeto da Desenho do Procedimentos
Título Ano Autoria da problema de Objetivo geral Contexto do estudo
das/os pesquisa/ relato estudo metodológicos
publicação pesquisa
autoras/es
"Sentidos do
"Como se
Trabalho Método materialista
apresentam as "Apresentar a discussão sobre os
As perspectivas sociais e Pedagógico histórico dialético; Campi de Júlio de
relações sociais temas da permanência e do êxito e
psicológicas sobre o trabalho realizado nos Psicologia Castilhos e São
202 Silveira, R. B.; Psicologia; do Trabalho do Trabalho Pedagógico (TP) no
pedagógico e as implicações Psicologia Cursos Estudo de caso Histórico-Cultural Vicente do Sul do
0 Maraschin, M. S. Psicologia Pedagógico, nos ensino técnico, abordando aspectos
na permanência dos Técnicos como referencial; Instituto Federal
locais sociais e psicológicos dessas
estudantes do IF Farroupilha Integrados e entrevistas; Farroupilha/RS
pesquisados?" (p. categorias." (p. 152)
Subsequentes" pesquisa documental
156)
(p. 152)
84
Tabela 6
Identificação e caracterização das teses e dissertações
Formação
Afiliação
básica Objeto da Desenho do Pergunta/ problema de Procedimentos
Título Ano Autoria da Objetivo geral Contexto do estudo
das/os pesquisa/relato estudo pesquisa metodológicos
publicação
autoras/es
Tabela 6 (cont.)
Identificação e caracterização das teses e dissertações
Formação Afiliação
Objeto da Desenho Procedimentos
Título Ano Autoria básica das/os da Pergunta/ problema de pesquisa Objetivo geral Contexto do estudo
pesquisa/ relato do estudo metodológicos
autoras/res publicação
Trabalho
interdisciplinar
realizado no
"Projeto de Projeto de extensão
Extensão "Compreender como a Educação e
Educação e
Educação e "De que modo a inserção e inserção do assistente Perspectiva Cidadania realizado
'interdisciplinaridade': uma
Cidadania, atuação do/a assistente social e social e do psicólogo cartográfica; na Escola Liceu de
análise da inserção do/a França, S. C. Estudo de
2019 Serviço Social Psicologia elaborado e do/a psicólogo/a pode contribuir contribui nas respostas às entrevista narrativa; Artes e Ofícios,
assistente social e do/a P. L. caso
desenvolvido para fazer face às demandas demandas psicossociais na grupo lúdico; vinculada à
psicólogo/a no espaço
pelo curso de psicossociais?" (p. 22) Escola Liceu de Artes e observação Universidade
escolar.
Serviço Social Ofícios" (p. 7) Católica de
da Universidade Pernambuco
Católica de
Pernambuco em
2016" (p. 14)
"analisar a inserção da
"Atuação da Equipe Multiprofissional nas
Método dialético;
Equipe escolas municipais de Foz
Equipe multiprofissional e Atuação da equipe pesquisa
Multidiscipl Multiprofissional do Iguaçu, entre os anos de
educação omnilateral: a multiprofissional no município de bibliográfica; Rede municipal de
Craveiro, A. inar/ na Estudo de 2006 a 2016 e sua possível
experiência nas escolas 2019 Serviço Social Foz do Iguaçu parece ter, como entrevistas; Educação de Foz do
V. Interdiscipli oferta municipal caso contribuição no fomento de
municipais de Foz do iguaçu especificidade, uma perspectiva pesquisa Iguaçu/PR
nar de educação em uma educação escolar
de 2006 a 2016 de educação omnilateral documental;
Foz do Iguaçu" orientada por uma
análise de conteúdo
(p. 18) perspectiva de educação
omnilateral" (p. 19)
86
33
Ressalta-se que, antes da Lei nº 13.935 (2019), os referidos conselhos já haviam publicado, individualmente,
materiais de embasamento para a atuação das categorias no campo da Educação (CFESS, 2013; CFP,
2013/2019).
88
escolarização” (p. 193), com foco em coletivizar demandas que se apresentavam de forma
individual.
Para organização do trabalho interdisciplinar, as profissionais entendem como
relevante delimitar as especificidades da atuação das duas profissões na Educação. Para elas,
o trabalho das/os psicólogas/os deve estar centrado no encontro entre o humano e os
conhecimentos sistematizados historicamente pela humanidade, e citam referenciais críticos
como fundamento (Meira & Antunes, 2003). Por outro lado, o trabalho das/os assistentes
sociais tem como foco as expressões da questão social na realidade concreta do contexto
educacional, conforme documentos de referência do Conselho Federal de Serviço Social
(CFESS, 2001; 2012; 2013).
Com relação à atuação, elas relatam um documento, adotado como procedimento no
trabalho em equipe, utilizado para mediar o contato com as escolas: o formulário de
solicitação de intervenção, cujo objetivo é promover a reflexão das/os demandantes acerca do
que solicitam. Segundo as autoras, a ficha não apresenta apenas perguntas relacionadas à
descrição das demandas, mas também de fomento à reflexão e análise pelas/os próprias/os
demandantes.
As perguntas desse questionário visam conhecer: a) o histórico da situação junto a
qual a escola deseja a atuação da equipe; b) as implicações dessa situação nos
processos de ensino-aprendizagem; c) as ações que já foram desenvolvidas pela
escola e os efeitos que surtiram; d) as potencialidades da situação; e) os
desafios/dificuldades (p. 194).
Além disso, não relatam práticas específicas de cada especialidade, mas descrevem a
atuação sempre de forma conjunta. Elas apontam que no trabalho da equipe se busca a
problematização das solicitações por atendimento individualizado de alunos, ao mesmo
tempo em que entende-se essas demandas como legítimas, e delimitam seis categorias
principais das demandas: inclusão, indisciplina, relação com a família e a comunidade,
evasão, violações de direitos e articulação com a rede intersetorial.
Elas relatam que recebem as demandas e apresentam questionamentos, reflexões, de
modo a coletivizar as queixas individuais e intervir desde uma perspectiva institucional.
Buscam, assim:
construir formas de intervenção articuladas à formação dos profissionais da escola, à
promoção de saúde e qualidade de vida no contexto escolar, ao enfrentamento das
dificuldades nos processos de escolarização, de modo a favorecer a produção de
mudanças na dinâmica da instituição escolar (Lima et al., 2015, p. 195).
90
34
Projeto de extensão “Plantão Institucional” oferecido pela Universidade de São Paulo (USP).
91
garantir esse direito social previsto na legislação específica vigente” (p. 136). A expectativa
era de reduzir riscos e conflitos e promover o direito a uma convivência saudável.
No ano de 2018, o projeto foi realizado em três escolas do município, em grupos de
dez crianças por escola, e teve como referência o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
nº 8069, 1990), no qual a educação é descrita como direito que visa o desenvolvimento pleno
e o exercício da cidadania do público infantojuvenil, e que é dever de todas/os a prevenção a
fim de que os direitos das crianças e das/os adolescentes não sejam violados. O relato
centrou-se na atuação em uma escola específica.
As profissionais buscaram atuar coletivamente com as/os estudantes e as famílias, “na
perspectiva de desmitificar” (Souza & Oliveira, 2019, p. 137) rótulos e pseudo-diagnósticos,
e promover uma “compreensão ampliada da realidade da criança” (p. 137) tanto pela família
quanto pela escola. As profissionais valeram-se de uma série de procedimentos e ferramentas
de intervenção nos grupos, como escuta, conversação, vídeos e atividades lúdicas. As/os
estudantes elaboraram um portfólio de autoavaliação e as técnicas elaboraram um parecer
trimestral sobre o desenvolvimento do projeto. Foram abordados diversos temas com foco na
convivência e cidadania, como: tolerância, diálogo e paz, amizade e companheirismo, “boas
maneiras” e cidadania, sensibilidade e respeito.
As questões de violência, indisciplina e bullying eram debatidas com as crianças a
partir de vivências delas mesmas e compartilhados no grupo. Segundo as autoras, as
conversas com as famílias eram numa perspectiva de não-culpabilização destas pelas
questões escolares, e cuidava-se de atentar a questões de vulnerabilidade que as fragilizavam,
como separação conjugal, “falta de afetividade” e abandono familiar. Defendem que a escola
tem que conhecer a dinâmica e realidade familiar para que atuem juntas no processo de
socialização das crianças e das/os adolescentes. O projeto possibilitou, ainda, a priorização
das/os alunas/os participantes dos grupos nos atendimentos médicos especializados com
neuropediatras e psicólogas/os.
Cavalcante et al. (2021) apresentam uma sistematização da experiência de equipes
multiprofissionais atuantes na rede municipal de educação de João Pessoa/PB, denominadas
“equipes de especialistas”, durante o período pandêmico. As equipes contam com
profissionais da Pedagogia, da Psicologia e do Serviço Social que atuam em escolas da
educação infantil e do ensino fundamental. Cada unidade de ensino possui sua equipe, que
tem como objetivo
contribuir com o processo de ensino e aprendizagem, com o desenvolvimento humano
e com as relações interpessoais no contexto escolar, viabilizando a partir do nosso
92
Figura 1
Possibilidades, limites e desafios da prática profissional interdisciplinar
35
O texto do artigo não informa se esse núcleo está relacionado à operacionalização do Programa Saúde na
Escola, do Governo Federal, ou se é apenas uma ação local para atender uma determinada demanda.
94
36
Há, nos Institutos Federais, profissionais de Psicologia contratadas/os para atuar especificamente na área
organizacional ou na área clínica, além da área escolar.
96
37
O documento completo foi consultado de modo a complementar a coleta de dados para a prática caracterizada
nesse artigo.
38
Não foram encontradas informações no artigo que remetesse a outros públicos como estudantes do ensino
técnico subsequente e superior.
97
39
Concepção de educação que considera a formação e o desenvolvimento humanos desde uma multiplicidade de
dimensões. O tema será melhor abordado na apresentação da dissertação de Craveiro (2019).
99
produzidos, ou seja, sobre os sentidos que vão ganhando forma através das ações
individuais e coletivas (AGUIAR, ROCHA, 2013).
A atuação em equipe é entendida, também, como um campo de contradições, dada sua
natureza complexa, com as quais se deve lidar. Compreender a realidade como complexa,
segundo as autoras, auxilia na articulação do micro e macropolítico e na compreensão dos
mecanismos de exclusão social, abrindo espaço para seu enfrentamento e a descoberta de
potencialidades.
A atuação da equipe se dá por meio do acompanhamento das/os estudantes
assistidas/os por alguma das profissionais da equipe, uma técnica de referência. Além disso,
elas desenvolvem ações como oficinas de formação, seminários, projetos de extensão, e a
criação e desenvolvimento de uma política de saúde para o IFF.
O capítulo de Prediger (2019), que compõe o volume nove da coletânea, compartilha
a experiência de organização do trabalho da equipe multiprofissional do Instituto Federal do
Rio Grande do Sul (IFRS), em Porto Alegre/RS, lotada na Coordenadoria de Assistência
Estudantil e formada por profissionais da Enfermagem, Pedagogia, Psicologia e Serviço
Social – além de uma técnica em assuntos educacionais. A equipe passou a gerir o trabalho
com base nos princípios e práticas do apoio matricial após o aprofundamento das discussões e
reconhecimento dos desafios postos para o trabalho.
Os desafios identificados pela equipe frente a sua atuação são três: 1) a
preponderância dos auxílios estudantis na política de assistência estudantil para o
enfrentamento das vulnerabilidades das/os estudantes, discutida como uma verticalidade dos
auxílios que subordina as discussões de outros campos do saber no apoio estudantil ao
Serviço Social e limita a atuação das/os próprias/os assistentes sociais; 2) o excesso de
procedimentos burocráticos necessários para a concessão de auxílios, em uma perspectiva
individualizante, que consome o tempo da equipe com trabalho administrativo e a afasta de
outras possibilidades de reflexão e atuação mais amplas e institucionais; 3) a individualização
e fragmentação das/os estudantes e de seus processos educativos provocada por práticas
individuais.
O apoio matricial foi percebido, pela equipe, como modo proveitoso de organização
do trabalho para a superação dos desafios postos no cotidiano dela. A autora afirma que:
O modelo de matriciamento tem como princípios o rompimento com a verticalidade
dos saberes e com a ideia que [sic] um saber dominante irá condicionar a prática de
outros, propondo então um arranjo horizontal entre saberes através da gestão
104
inclusiva das/os profissionais das escolas, o tamanho reduzido das equipes diante da
demanda, a formação e capacitação das/os profissionais e a manutenção de uma prática
interdisciplinar (Pedroso, 2015). A autora ressalta, sobre este último aspecto, os impactos dos
processos de mediação e contradição que se manifestam na realidade cotidiana. Nesse
sentido, ela analisa que a equipe busca estruturar uma prática interdisciplinar por meio de
estratégias construídas a partir do cotidiano do trabalho direcionadas a uma integração da
atuação. Ao mesmo tempo, a realidade cotidiana também apresenta dificuldades estruturais e
administrativas, tensões e impasses diante da atuação, como a contradição entre a cobrança
de instâncias gestoras por uma produtividade numérica e o tempo necessário para que os
casos fossem estudados e discutidos com qualidade e em uma perspectiva interdisciplinar.
Como mencionado, além da dissertação de Pedroso (2015), há duas teses no corpus
desta revisão. A de Craveiro (2019) objetiva “analisar a inserção da Equipe Multiprofissional
nas escolas municipais de Foz do Iguaçu, entre os anos de 2006 a 2016 e sua possível
contribuição no fomento de uma educação escolar orientada por uma perspectiva de educação
omnilateral” (p. 19). Foi um estudo de caso sobre o programa Construindo Cidadania,
promovido pelo governo municipal após uma aposta feita entre o prefeito e o ministro da
Educação no ano de 2016 de que tal cidade paranaense receberia mais recursos se
conseguisse superar em muito a meta estabelecida para o seu Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB).
Inicialmente, foram instituídas cinco equipes – uma por região da cidade, com
coordenadora, assistente social, fonoaudióloga e psicóloga. Apesar de pagas com recursos da
prefeitura, as contratações eram feitas pelas escolas de educação especial do município e, em
contrapartida, as profissionais atuavam nessas instituições uma vez por semana. Esse arranjo
causava dificuldades burocráticas de contratação, como a não coincidência com o início do
ano letivo. Por esse motivo, as contratações passaram a ser realizadas via processo seletivo
simplificado (PSS) e levavam em conta a quantidade de alunas/os por escola para definir o
tamanhos das equipes. Posteriormente, foi constituída uma equipe específica no programa
para lidar com a articulação intersetorial com a Saúde, outra para atuar com professoras/es e
funcionárias/os da escola e mais uma para assessorar as demais equipes. O programa foi
encerrado em 2017, em uma mudança de gestão municipal.
Craveiro (2019) refere, também, a relação da atuação da equipe com o que ela chama
de “chão da escola”, onde se manifestam as expressões da questão social. Na pesquisa, ela
identifica como principais expressões a evasão escolar, a pobreza, a violência, a indisciplina e
o uso de drogas. A despeito da intenção política que determinou a organização do programa,
110
cujo propósito era o aumento do IDEB do município, a construção da equipe possibilitou que
ela adquirisse uma perspectiva de educação omnilateral, isto é, de compreensão da educação
como um espaço de formação humana integral e de apropriação da cultura, e não apenas de
instrução tecnicista.
As atribuições e competências das assistentes sociais e psicólogas que atuavam no
projeto foram sistematizadas pela própria pesquisadora após a realização de entrevistas.
Craveiro (2019) percebe que tanto as psicólogas quanto as assistentes sociais tinham que lidar
com visões limitadas sobre suas práticas. As profissionais do Serviço Social eram
demandadas a atuar com viés assistencialista, de resolução de conflitos e/ou moralizante;
enquanto as psicólogas eram procuradas para atender com viés clínico-terapêutico.
As profissionais utilizavam-se de abordagens individuais e coletivas em suas
atuações, tendo como principais ferramentas de trabalho a escuta, a entrevista e a visita
domiciliar. A maioria das psicólogas reconhecia como suas competências: “a) atendimentos e
acompanhamentos dos/as alunos/as e famílias; b) orientações as profissionais do magistério;
c) capacitações das profissionais do magistério; d) ações coletivas na sala de aula para os/as
alunos/as” (Craveiro, 2019, p. 170). Já as assistentes sociais mencionaram:
a) atendimentos e acompanhamentos dos/as alunos/as e famílias; b) orientações as
[sic] profissionais do magistério; c) articulações com as profissionais da rede de
proteção; d) organizações de rodas de conversas com os/as alunos/as; e) execuções de
palestras sobre diferentes temas nas escolas, para as profissionais do magistério e para
os/as alunos/as e suas famílias; f) participações em espaços democráticos de controle
social (p. 143).
Por fim, a segunda tese considerada para análise neste grupo foi a de França (2019),
cujo foco é a construção da interdisciplinaridade na atuação da Psicologia e do Serviço Social
na Educação. O campo da pesquisadora foi o projeto de Extensão Educação e Cidadania,
realizado na Escola Liceu de Artes e Ofícios, vinculada à Universidade Católica de
Pernambuco, em parceria com o governo do mesmo estado. A escola possui turmas de ensino
fundamental II e ensino médio e o referido projeto, de caráter interdisciplinar, consistiu em
um espaço de reflexões com vistas à formação cidadã das/os alunas/os. O objetivo da
pesquisa foi “compreender como a inserção do assistente social e do psicólogo contribui nas
respostas às demandas psicossociais na Escola Liceu de Artes e Ofícios” (França, 2019, p .8).
A pesquisa se caracterizou, principalmente, pela coleta de dados através de entrevista com
pessoas que se envolveram no projeto: gestoras/es, estudantes e profissionais.
111
decretos e pareceres que determinavam que o trabalho, no campo educacional, deveria ser
realizado de maneira remota.
Análises que não referem marcos normativos estabelecidos por instâncias superiores
de gestão para organização das equipes, discutem a organização da atuação, primordialmente,
a partir dos regimentos internos e/ou projetos (França, 2019; Lima et al., 2015; Palma, 2013;
Oliveira et al., 2022; Souza et al., 2019).
Os trabalhos sobre os Institutos Federais (Araújo & Andrade, 2017; Matioli &
Santarosa, 2019; Nascimento et al., 2021; Prediger, 2019; Silveira & Maraschin, 2020; Soares
et al., 2022; Sodré et al., 2018; Souza et al., 2018; Wallau et al., 2017) revelam como a
presença das equipes é estabelecida, principalmente, a partir das determinações da política de
assistência estudantil, materializada no Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e
normas a ele relacionadas. Constitui exemplo explícito dessa determinação o recorte do
público-alvo de Sodré et al., (2018), constituído apenas pelas/os discentes beneficiadas/os por
bolsas de assistência estudantil, apesar de o enfoque da atuação ter potencial para beneficiar
todo o alunado da instituição onde trabalham.
Alguns elementos ajudam a evidenciar os atravessamentos econômicos ao trabalho na
política social, como a já mencionada promessa de recebimento de mais recursos para a
Educação em Foz do Iguaçu/PR caso se cumprisse o objetivo de aumento do IDEB (Craveiro,
2019). Vale ressaltar, em conjunto com Souza e Oliveira (2019) que o aumento de índices,
não necessariamente reflete uma real melhoria no processo de ensino-aprendizagem e na
formação humana das/os estudantes. Essa leitura gerencial da realidade que conduz a política
educacional no Brasil, como discutido por Lima (2013), é um processo de racionalização
afim à lógica econômica neoliberal (Peroni & Lima, 2023).
Soares et al. (2022) discutem a determinação econômica do trabalho ao evidenciarem
a pouca quantidade de recursos para que a assistência seja operada na perspectiva
universalista nos Institutos Federais. O orçamento disponibilizado é destinado à concessão de
bolsas e auxílios, em detrimento de outros aspectos, mais amplos, de apoio à permanência e
êxito estudantil. A ênfase na assistência financeira mobiliza muito tempo do trabalho da
equipe em estabelecer e avaliar critérios, em um processo que Prediger (2019) descreve como
burocratização do trabalho da equipe.
A questão da centralidade na assistência financeira aparece de forma complexa ao
serem confrontadas as visões das profissionais entrevistadas por Araújo e Andrade (2017),
que questionam, a partir da experiência de trabalho delas, o caráter assistencialista do
PNAES, e de Nascimento et al., (2021), que destacam a assistência estudantil como uma
115
um todo, ainda que evidenciem que o trabalho se compõe a partir das diferentes perspectivas
das/os profissionais.
É possível perceber uma tendência geral de que, quanto mais as equipes busquem
refletir sobre seus processos de organização do trabalho, mais a atuação se aproxima do que
constitui um trabalho interdisciplinar, ou uma prática interprofissional. As características
dessas equipes vão ao encontro dos aspectos que Peduzzi (2001) identifica como distintivos
de uma equipe-integração, em especial: a presença de um projeto comum, o caráter
interdependente do trabalho e a flexibilização da divisão do trabalho e a menor desigualdade
entre os diferentes trabalhos.
O Serviço Social se conforma como uma profissão cujo trabalho está organizado a
partir de parcerias com outras/os profissionais, e isso tende a ser reconhecido e registrado nos
trabalhos consultados. Ainda sobre esse aspecto, nota-se que os registros sobre o trabalho de
assistentes sociais na literatura explorada tendem a salientar que esse trabalho se dá de
maneira multi/interdisciplinar, o que não é frequente nos trechos e relatos sobre a atuação de
psicólogas/os.
40
Instituto Gregório Baremblitt.
41
Conjunto de abordagens psicológicas que têm como base filosófica o Humanismo, a Fenomenologia e/ou os
existencialismos, como a Abordagem Centrada na Pessoa, a Psicologia Fenomenológico-Existencial e a
Daseinsanálise.
122
saberes de origem não ficam restritos a práticas das/os especialistas, mas se misturam na
operacionalização do trabalho. Em todos esses trabalhos, as práticas desenvolvidas são
comuns a todas/os as/os integrantes da equipe.
Em alguns casos, dentre os referenciais teóricos das/os trabalhadoras/es, algum
conceito ou paradigma específico é destacado como organizador do trabalho de toda a equipe.
Wallau et al. (2017) apresentam a noção de rede como paradigma organizador do trabalho em
equipe na escola onde atuam. Elas constituíram uma rede de atendimento de estudantes e nela
centralizaram as informações sobre atendimentos e acompanhamentos realizados por todos os
setores que prestam algum serviço aos/às estudantes em sua instituição – o Instituto Federal
Farroupilha (IFFar). Constituíram, assim, uma política de atendimento no Instituto que
possibilitou trocas entre as/os profissionais de modo a possibilitar formas de resistência às
exigências institucionais de que fossem realizados atendimentos clínicos em detrimento de
uma atuação institucional.
Prediger (2019) discute como sua equipe, ao identificar os principais desafios que se
interpunham ao trabalho – primazia dos auxílios estudantis como organizadores da política de
assistência estudantil, burocracia excessiva dos processos de trabalho e individualização e
fragmentação da/o usuária/o –, encontrou como forma de solucionar esse problema o uso dos
princípios do apoio matricial para a estruturação do trabalho. Assim, a equipe
multiprofissional passou a se organizar como equipe de referência que instrumentaliza as/os
demais atrizes/atores escolares para suas práticas cotidianas e diante dos desafios e impasses
que apareçam. Com essa estratégia, segundo a autora, houve um reposicionamento da equipe,
com ênfase na corresponsabilização de todas/os as/os envolvidas/os no processo de
escolarização.
Matioli e Santarosa (2019) têm como proposição central de seu trabalho o conceito de
fracasso escolar, desde uma perspectiva crítica, como organizador do trabalho em equipe. A
partir de outras autoras, elas definem o fracasso escolar como o processo em que uma pessoa
não consegue seguir o curso esperado na escolarização e apontam para a necessidade de se
compreender esse fenômeno a partir dos múltiplos determinantes, dentre os quais, aspectos
sociopolíticos, histórico-culturais e ideológicos, que o atravessam. A equipe multidisciplinar,
segundo as autoras, deve pautar seu trabalho nesta compreensão, de modo a não
individualizar questões escolares de natureza complexa, coletiva e relacional.
A interdisciplinaridade aparece como categoria analítica, principalmente, nos
trabalhos de Pedroso (2015) e França (2019). Não refletem, necessariamente, a organização
das equipes, mas é um conceito utilizado pelas autoras para discutir o trabalho das equipes
123
que analisam. Como já dito, essas autoras destacam como a interdisciplinaridade é uma
conformação articulada da multidisciplinaridade, de modo que essa é pré-condição para
aquela. A interdisciplinaridade se configura, assim, como uma atitude coletiva diante do
conhecimento, como uma postura de reciprocidade dos saberes necessária diante do caráter
de totalidade da realidade e do ser social.
Um último aspecto a ser considerado sobre os referenciais que fundamentam o
trabalho e discussão nos estudos revisados é a concepção de Educação que anunciam. A
maior parte dos trabalhos menciona o fato de a Educação ser um direito. Em especial,
Cavalcante et al. (2021), retomam que a Educação é um direito universal, conforme atestado
na Constituição Federal (1988) em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, e avançam essa compreensão ao afirmar que é um “direito subjetivo e inerente ao
pleno desenvolvimento da pessoa” (p. 3).
De modo semelhante, o projeto Conviver, apresentado no artigo de Souza e Oliveira
(2019), é construído a partir da compreensão da Educação como direito expressa no artigo 53
do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069, 1990) de que esse processo visa o
desenvolvimento pleno da criança e da/o adolescente e sua formação cidadã. Sodré et al.
(2018) elencam, além dessas, outra dimensão presente no artigo 53 do ECA: da qualificação
para o trabalho e do potencial de impacto do processo de escolarização para a transformação
social.
Sodré et al. (2018) valorizam o caráter de formação para o trabalho peculiar ao seu
lócus de atuação: os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), que são o
modo como é operacionalizada a política federal de educação profissional e tecnológica
(EPT). O caráter universal do direito à Educação e, em seu bojo, da educação profissional (ou
educação para o trabalho), em contraposição ao caráter limitado do acesso a instituições da
Rede Federal, colocam uma questão relevante de ser discutida com relação à implementação
da educação profissional e tecnológica: se é um direito de todas/os, não deveria ser acessível
a todas/os? O Novo Ensino Médio (NEM) tem, como uma de suas justificativas, uma melhor
atenção ao aspecto da preparação para o trabalho, mas isso resulta em uma precarização do
ensino. Os Institutos Federais se constituem como modelos relativamente bem sucedidos
nessa direção, de modo que deveriam ser vistos como paradigma mínimo a ser expandido na
política educacional brasileira.
É possível apreender do relato de Lima et al. (2015) que o trabalho dessas considera
os referenciais da Pedagogia histórico-crítica, de Demerval Saviani, que define a Educação
como a prática social de transmissão-assimilação dos saberes sistematizados historicamente
124
acumulados pela humanidade (Saviani, 1991/2008). Essa concepção aparece, no relato, como
parte do objetivo da atuação da equipe. O fundamento marxista que subjaz tal concepção
também se faz evidente nos trabalhos de Matioli e Santarosa (2019) e Silveira e Maraschin
(2020). As primeiras autoras discutem como o enfrentamento ao fracasso escolar perpassa
uma compreensão integral de Educação, “que não se limita a conteúdos que atendam apenas
ao mercado de trabalho, mas ofereçam conhecimento científico e cultura com o objetivo de
promover a humanização nos seus mais elevados níveis” (Matioli & Santarosa, 2019, p. 67).
Silveira e Maraschin ao discutir como o trabalho pedagógico afeta a permanência e êxito
estudantil, defendem que esse se materializa nas relações sociais que se estabelecem na
escola entre discentes, docentes e demais funcionários.
Diferentes concepções de Educação implicam em compreensões com amplitudes
distintas do que sejam as/os profissionais da Educação. Considerando isso, apesar de Lima et
al. (2015) dialogarem com a perspectiva de Educação da Pedagogia histórico-crítica, Saviani
(1991/2008, p. 15), ao compreender a “transmissão dos instrumentos de acesso ao saber
elaborado” como “atividade nuclear da escola” (p. 15), empreende uma crítica ao
desenvolvimento de outras atividades na escola e abre espaço para a contraposição à inflação
do corpo de profissionais dessa com especialistas não-docentes, pois no entendimento desse
pensador essas/es cumpririam funções não atinentes à educação escolar.
De outro lado, a compreensão de Educação veiculada na maioria dos demais trabalhos
revisados implica em um papel maior das/os especialistas não-docentes que enfatiza
relevância a participação dessas/es no processo de formação humana integral e do acesso à
educação como direito. Sobre isso, Soares et al. (2022) defendem que toda/o profissional que
trabalha em instituições escolares deve constituir uma identidade educadora, isto é, deve ser
fomentada a compreensão de que, mesmo que uma parte tenha função docente e outra exerça
funções não-docentes, todas/os são educadoras/es. Desse modo, todas/os as/os
trabalhadoras/es da Educação assumem papel relevante para a formação integral e cidadã
das/os sujeitos escolares.
A noção de Educação como uma prática social que tem como função a formação
humana integral é discutida por Craveiro (2019) a partir da proposta de educação omnilateral,
que seria uma concepção de Educação privilegiada para se pensar o trabalho de equipes
multiprofissionais. A autora resgata a ideia de omnilateralidade de Marx, como uma
perspectiva relacionada à promoção do “desenvolvimento integral das potencialidades
humanas” (Craveiro, 2019, p. 67), em contraposição a uma formação humana unilateral
provocada pela divisão do trabalho nas sociedades capitalistas e voltada aos interesses das
125
classes dominantes. A educação omnilateral deve, então, ser posta como horizonte para a
atuação de equipes multiprofissionais na Educação.
Dos exemplos que a autora oferece de perspectivas de Educação que levam em conta
os princípios da omnilateralidade, está o da Educação Popular de Paulo Freire, que
transforma o modelo educativo hierarquizado e centrado na transmissão-assimilação dos
conhecimentos, de modo bancário em um processo dialógico, de conscientização e
humanização dos sujeitos escolares (sejam discentes, docentes ou outras/os que participam do
cotidiano escolar).
Vale pontuar, como lembrado por Oliveira et al. (2022), que o campo da política
educacional, no Brasil e no mundo, tem sido cada vez mais influenciado pela doutrina
neoliberal. Se relaciona a isso a percepção de Lima (2013) de que a educação brasileira está
tomada por uma lógica gerencial, com foco na alocação eficiente de recursos. Na atualidade,
isso se materializa na disputa política em torno de quais categorias profissionais podem, ou
não, ter seus pagamentos abarcados pelos recursos oriundos do FUNDEB. A definição sobre
a amplitude da compreensão de que especialistas podem ser entendidas/os como profissionais
da Educação se relaciona, desse modo, com os atravessamentos político-econômicos já
discutidos neste trabalho.
Tabela 7
Proposições e descrições de práticas colaborativas nas publicações (organizadas por ano)
Título Ano Autoria Trabalho conjunto
Tabela 7 (cont.)
Proposições e descrições de práticas colaborativas nas publicações (organizadas por ano)
Título Ano Autoria Trabalho conjunto
Por outro lado, há os trabalhos que mostram equipes que executam ações que derivam
de um planejamento sistematizado sobre a atuação conjunta (Cavalcante et al., 2021; Lima,
2013; Lima et al., 2015; Oliveira et al., 2022; Palma, 2013; Prediger, 2019; Silveira &
Maraschin, 2020; Sodré et al., 2018; Souza et al., 2018; Souza & Oliveira, 2019; Wallau et
al., 2017). Cabe salientar que o planejamento é um movimento das/os profissionais que
influencia e é influenciado pelos demais aspectos já referidos neste trabalho: atravessamentos
político-econômicos, determinantes histórico-sociais, estruturação da equipe e referenciais
teórico-práticos, de modo que configura um elemento de grande importância na determinação
da atuação e de protagonismo da equipe. Destaca-se, aqui, novamente, o exemplo de Wallau
et al. (2017), que de modo a fazer frente às exigências da instituição de atendimento
individual, organizam seu trabalho em rede. Outro destaque sobre esse aspecto é o relato de
Oliveira et al. (2022) em que explicitam a necessidade de negociação entre o que foi
planejado e o que era esperado pelas escolas sobre sua atuação.
128
junto à escola, as demandas apresentadas de modo a identificar as raízes dos problemas que
estão sendo evidenciados. Martín-Baró (1987/2017) salienta isso como uma necessidade para
uma atuação comprometida com os processos de emancipação humana. Desse modo, a
demanda deve ser construída em conjunto com as/os sujeitos da escola, em um sentido de
práxis, de reflexão-ação e uma postura crítica frente aos processos históricos (Martín-Baró,
1987/2017).
42
Ainda que não fique explícito, no texto do artigo, se o núcleo faz parte do Programa de Saúde na Escola do
Governo Federal, seu nome anuncia algum vínculo – Núcleo Interdisciplinar de Saúde na Escola (NISE).
131
e ajude a compor esse fazer. Este trabalho, assim esperamos, constitui um passo nesse
sentido.
4.5 Proposições para uma Práxis Colaborativa entre Assistentes Sociais e Psicólogas/os
na Educação Básica Pública
Retomamos, aqui, a pergunta de pesquisa que direciona este trabalho: Como pensar o
trabalho em equipe de assistentes sociais e psicólogas/os na educação básica pública? Como
pensar, salienta-se, tendo como orientador um paradigma ético-político de emancipação
humana e compromisso com o desenvolvimento e formação integral das pessoas que
participam da comunidade escolar (e da sociedade). A partir da análise e reflexões
empreendidas ao longo desta pesquisa e da articulação com alguns referenciais, serão
apresentadas, a seguir, proposições em um esforço de síntese das contribuições encontradas
para responder a essa pergunta. Essas proposições serão apresentadas em tópicos, sem ordem
específica:
a. O trabalho em equipe, bem como a atuação no campo das políticas públicas de um
modo geral, é muito influenciado por normas formais – como leis, regimentos e
outros tipos de regulamentação – ou informais, como a vontade política e concepções
de gestoras/es. Para que se efetive uma atuação crítica e realmente transformadora, é
necessário que a equipe se atente a isso e entenda que está implicada nesse campo de
disputas políticas. Isso acontece, por exemplo, quando elaboram regimentos internos
para a atuação. Em outra dimensão, as equipes podem se implicar mais diretamente
no debate público sobre sua atuação, nos diferentes níveis (institucional, municipal,
estadual e federal) e frente a uma diversidade de temáticas que impactam seu campo
de trabalho, como as discussões acerca do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), os
debates sobre proposições legislativas relacionadas à regulamentação de seus cargos e
atribuições nas prefeituras, bem como conquistas e lutas políticas no âmbito
educacional.
b. É necessária a vigilância das/os profissionais da equipe de modo a manter uma
postura crítica. Isto é, um posicionamento que considere as contradições presentes na
realidade social e busque a superação de condições de alienação; tenha compromisso
com a dignidade humana e os processos de emancipação; busque reconhecer as raízes
e compromissos do conjunto de conhecimentos que orienta o trabalho; e tenha, como
horizonte, a transformação social. As/os profissionais devem cuidar para que se
132
5. Considerações Finais
Esta pesquisa teve como objetivo discutir o trabalho em equipe de profissionais da
Psicologia e do Serviço Social na educação básica pública e buscou-se organizá-la de modo a
atender aos objetivos específicos elencados.
Realizou-se uma investigação histórico-crítica onde foi retomado o processo histórico
de divisão do trabalho e disciplinarização das ciências que subjaz à organização da sociedade
ocidentalizada atual. Foram abordados os movimentos de conexão de saberes e relações entre
profissões, com enfoque na interdisciplinaridade e interprofissionalidade, como reações
necessárias frente à fragmentação da realidade.
Em seguida, discorreu-se sobre a construção dos projetos profissionais, em especial,
dos de fundamento crítico, nas áreas de Psicologia Escolar e Educacional e do Serviço Social
na Educação. A Psicologia e o Serviço Social surgem como profissões nesse contexto com
funções sociais específicas relacionadas à reprodução do capital. Respectivamente, avaliar e
controlar o novo modo que o fenômeno psicológico humano se constitui a partir da
instituição do capitalismo industrial, e lidar com as expressões da questão social evidenciadas
pelo acirramento da luta de classes. A partir da segunda metade do século XX, tanto na
Psicologia Escolar e Educacional quanto no Serviço Social, são construídos projetos
profissionais críticos, isto é, comprometidos com a denúncia de processos de degradação
humana e o compromisso com a transformação social, com uma crítica ao conhecimento
estabelecido e a adoção de uma perspectiva dialética para compreensão da realidade.
Apresentados tais aspectos, foram elencadas perspectivas de atuação crítica no
contexto da Lei nº 13.935 (2019): uma atuação interprofissional; marcada pelo compromisso
social; construída desde a formação; e onde seja valorizada a potência, tanto das interfaces
quanto das particularidades que se constroem na relação entre as especialidades.
Foi realizada, ainda, uma revisão integrativa de modo a possibilitar a caracterização
da literatura teórico-prática sobre as equipes de trabalho, tanto em aspectos gerais quanto no
conhecimento de parte da realidade possibilitada a partir dos relatos de experiência e estudos
de caso. Observou-se que a literatura encontrada sobre o tema é recente, concentrada nos
últimos 20 anos, e que prevalecem, na literatura, estudos e relatos realizados pelas/os
próprias/os profissionais. As contribuições dos estudos puderam ser lidas a partir de cinco
eixos, que constituem o trabalho em equipe de forma dialética: os atravessamentos
político-econômicos, os determinantes histórico-sociais, a estruturação da equipe, os
referenciais teórico-práticos, a operacionalização do trabalho e os desafios e lacunas de
discussão.
138
43
A título de exemplo, uma busca utilizando os termos “psychology”, “social work” e “education” na base de
dados Web of Science retornou 3.983 resultados.
44
França (2019), inclusive, pondera que em sua busca encontrou poucos trabalhos da Psicologia sobre a
“interdisciplinaridade” com o Serviço Social na Educação.
140
realizadas por pesquisadoras/es e especialistas nas áreas. A análise dos conteúdos e discursos
veiculados por essas/es atrizes/atores nos meios digitais em debates, seminários remotos,
audiências públicas gravadas, entre outras formas de apresentação pode ser útil para
compreender as disputas em torno do estabelecimento da Lei e o modo como tem sido
abordado o trabalho em equipe. Outras fontes que podem constituir material interessante para
explorar esse tema são documentos orientadores da atuação que têm sido produzidos por
secretarias de educação.
Sugere-se, também, para estudos futuros, a reflexão sobre as implicações da Lei nº
13.935 (2019) na atuação nos Institutos Federais, posto que há aspectos que devem ser
tensionados entre estruturar o trabalho a partir do prisma da assistência estudantil, que “tem
como finalidade ampliar as condições de permanência” (Lei nº 7.234, 2010, art. 1º) e
organizar a atuação tendo, como centro, “a melhoria da qualidade do processo de
ensino-aprendizagem, com a participação da comunidade escolar, atuando na mediação das
relações sociais e institucionais” (Lei nº 13.935, 2019, art. 1º, §1º). Faz-se relevante refletir
sobre qual o lugar da assistência estudantil nesse novo contexto.
Ademais, sugere-se a reflexão teórica sobre o trabalho em equipe na educação sob o
prisma do processo grupal, de modo semelhante ao realizado, como exemplo, por Dalla
Vecchia (2011) sobre equipes na política de saúde. O autor se valeu do processo grupal como
unidade de análise da dialética cooperação-trabalho coletivo para discutir o trabalho em
equipe na atenção primária à saúde. Segundo ele, o enfoque no processo grupal favorece a
qualificação da gestão do processo de trabalho, bem como beneficia a atenção, formação e
participação social em Saúde. É relevante, a partir dessa contribuição, pensar as
particularidades do trabalho em equipe na Educação a partir da noção de processo grupal
como unidade de análise.
Por fim, como pesquisa teórica, entende-se que esta investigação ficou entre o que
Teo (2009) chamou de pesquisa de desconstrução e pesquisa de reconstrução. Está, portanto,
a meio caminho de fazer avançar o conhecimento teórico no campo da Psicologia Escolar e
Educacional. É necessário discutir, por exemplo, aspectos como as presenças/ausências
(Andrade, 2023) no trabalho em equipe de questões de classe, gênero, raça, deficiência, entre
outros marcadores sociais da diferença, desde uma perspectiva interseccional. Magalhães
(2021) e Otaciano (2023) constatam um apagamento desses marcadores na literatura da área
da PEE, respectivamente sobre as queixas escolares e sobre a medicalização da Educação.
Sugere-se, portanto, a realização de estudos futuros que proponham-se a construir,
efetivamente, novos caminhos para o campo na realidade material que se configura a partir da
141
Lei nº 13.935 (2019) e das construções de outros campos teóricos com os quais a PEE carece
de diálogo.
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