Análise Dos Casos Otavio, Júlia e Paula - Trabalho Concluído

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DO CEARÁ

DISCIPLINA: CLÍNICA PSICANALÍTICA

TRABALHO PARA AV1 – ANÁLISE DOS


CASOS CLÍNICOS

Professor (a):
Andréa Senna

Integrantes:
- Ana Paula de Morais Leite
- Ellen Fernanda Vieira Pinto
- Flaviana Barbosa Oliveira de Queiroz
- Francisca Maria Santos Cruz
- Renata Oliveira de Albuquerque

FORTALEZA
2021
Análise do Caso Otavio, da série Sessão de Terapia.

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, durante suas pesquisas na clínica


psicanalítica estabeleceu regras mínimas, que devem reger o manejo clínico de
qualquer processo psicanalítico, essenciais para construir a relação analista-
analisando e para organizar o setting. Após as contribuições psicanalíticas de
Freud e seus seguidores, tais regras continuam sendo utilizadas durante o
processo clínico. A seguir, foi exemplificado a prática do psicanalista na série
brasileira fictícia, Sessão de Terapia. Todavia, o enfoque desse trabalho é
analisar a técnica e a escuta do analista, o processo de transferência e a
ansiedade do paciente, de acordo como foi abordado na série.
As regras do setting são compostas por elementos organizadores como
o espaço físico de atuação, o contrato e a relação transferencial e
contratransferencial entre o analista e o paciente. No manejo clínico, também há
regras técnicas que o rege, como a regra fundamental de associação livre, a
regra de atenção flutuante, da neutralidade e da abstinência. Uma delas, fala da
postura, onde Freud enfatiza, ao comparar com um cirurgião, que o
comportamento do analista inclui colocar de lado todos os seus afetos e
sentimentos.
No campo psicanalítico é concedida uma condição alegórica dos
elementos iniciadores, como um contrato estabelecido para iniciar a própria
relação terapêutica, firmando um controle para o tratamento manter um êxito.
Nota-se que, no início de uma das sessões, não está definido esse ponto, pois
o analista não cria uma posição assumida no percurso, deixando a relação sem
um desenvolvimento inicial. Na falta da construção do setting, ocorre uma
resistência maior do paciente, havendo uma recusa para com aquilo que o
analista se posiciona e, consequentemente, dificultando o trabalho psicanalítico.
Entretanto, essa posição se desenvolveu no decorrer das sessões.
Theo, o psicanalista da série, preferiu deixar o paciente conduzir a análise, sem
prestar esclarecimentos, apenas complementando a sessão com argumentos ou
questionamentos fundamentais à continuidade da narração do indivíduo em
análise. O paciente, desde o início, se manteve resistente em que sua forma de
reprimir o recalcado ou seu mecanismo de defesa estava diretamente conectado
com a sua sede pelo controle e por mostrar uma postura de poder.
O método de associação livre consiste no paciente dizer tudo o que lhe
vem à cabeça, enquanto o terapeuta escuta através de uma atenção flutuante,
captando tudo pela arte da interpretação desde ocorrências do paciente, sonhos
até atos involuntários, com intuito de encontrar pensamentos recalcados. Na
neutralidade, como foi exemplificado por Freud, o médico precisa ser opaco para
o analisando, assim como uma superfície espelhada. A abstinência está
associada com a dinâmica da doença e da cura, tal qual a doença pode ocorrer
por meio de frustrações, levando a sintomas que servem como satisfação
substitutiva, sendo perceptível perante as relações transferenciais, ou seja, um
aspecto essencial para a cura.
A relação transferencial, que se repete várias vezes no processo de
análise, ocorre quando o analisando projeta figuras parentais, que tiveram um
papel importante no passado, em pessoas do seu convívio atual. No caso Otavio,
isso ocorre quando ele fala sobre a preocupação com a filha. Desse modo, o
analista, através da interpretação e reconstrução das memórias inconscientes,
conclui que essa relação está ligada com a perda do irmão mais novo e com a
sua dependência aos pais.
É perceptível a transferência nas resistências do paciente, quando se
mostra um lado controlador e autoritário para as situações que fogem do seu
controle, como é o caso do vínculo com a filha. O retorno da memória reprimida
acontece após o relato de uma imagem, que surgiu, de uma lembrança do irmão,
justamente no momento que buscava retomar o poder sobre a filha e, dessa vez,
não obteve sucesso. A luta entre analista-analisando acaba quando a lembrança
retorna à disponibilidade do Eu, ou seja, quando Otavio tomou consciência de
suas resistências e do material recalcado.
A relação contratransferencial surge de maneira inconsciente como
influência, em que consiste nas reações emocionais inconscientes do analista
frente às investidas afetivas do paciente. Para Freud, são obstáculos ao
tratamento analítico e devem ser dominados. É notório observar na série o exato
momento que isso acontece, quando o terapeuta é impactado pelo
questionamento do analisando, sendo colocado diante de sua própria
singularidade, de seus conflitos e limites.
É necessário mostrar um setting analítico claro e firme, que possa
manter a ética e a transparência de uma postura de saber ciente onde fica o
lugar do analista dentro da análise. Mas também, em algumas situações, é
necessário demonstrar interesse genuíno para afastar as resistências que
surgem no tratamento. Na época de Freud, o fato de observar tais afetos como
obstáculos pode estar relacionado com suas próprias resistências.
Voltando ao caso Otavio foi visto um medo, colocado por si, de que se
descubra que está em processo de terapia. Ele esclarece que no seu mundo
esse tipo de pessoa é visto como fraca. Diante dessa situação, o analista agiu
correto em ressaltar que o sigilo faz parte da regra do Setting. No entanto, isso
passa a ser interpretado como uma resistência do paciente perante as sessões,
como uma ansiedade diante a exposição de suas vulnerabilidades.
A queixa inicial do Otavio foi sobre um possível transtorno de ansiedade,
onde relatou sintomas parecido com um ataque cardíaco. Mas preferiu diminuir
a importância do problema, associando os sintomas como apenas um estresse
natural, por conta de sua vida agitada, como alguém importante e com muitas
responsabilidades. Logo, outra resistência por parte dele em aceitar o transtorno.
A conduta do analista é fazer com que o analisando se escute e perceba essa
camuflagem, que desenvolveu para ocultar o medo de perder o controle do seu
corpo e das pessoas que fazem parte da sua convivência.
O técnico, em seu manejo, coloca-se em movimento ao sujeito,
deparando-se com o inconsciente, que se manifesta através da fala como uma
forma singular de revelações. Nessa situação, pode ser provocativo ao colocar
o analisando diante de suas próprias palavras e o levar a um aprofundamento
nas suas lembranças que buscam permanecer ocultas. Com a superação das
resistências e o manejo da transferência, é trazido para o momento a atenção
do paciente para o expressar dos seus sintomas e, assim, o levando ao caminho
mais próximo da cura.
Com a análise do caso Otavio, foi possível concluir a importância da
clínica psicanalítica, principalmente em casos que remetem amnésias infantis,
como uma forma de mecanismo de defesa do indivíduo, que necessita vir à tona
para dar um novo significado e superá-las. A conduta do psicanalista se torna
essencial para que essa revelação aconteça. Para futuros profissionais, a série
pode ser vista como um objeto de estudo sobre a prática. Porém, vale salientar
que ela tem cunho fictício, e que o setting pode ser ainda mais complexo do que
é mostrado em uma ficção.
Análise do Caso Julia, Sessão em Cena.

O caso Júlia é uma obra de ficção que dramatiza um recorte de uma das
sessões de análise de Júlia, uma mulher que vive uma dinâmica de violência
psicológica e dependência emocional com seu marido. É notório diversas
contribuições da clínica psicanalítica no caso Júlia. A começar pela queixa
principal de Júlia: sua impotência e submissão diante das recorrentes agressões
do marido.
A queixa atual é o sintoma de Júlia que se repete e volta várias vezes na
mesma sessão. Essa repetição se contrapõe à recordação bem específica do
seu passado, mais propriamente da sua infância. Em Inibição, Sintoma e
Angústia (1926) Freud apresenta o sintoma como “um sinal e um substituto de
uma satisfação pulsional que permaneceu em estado adjacente, o sintoma é
uma consequência do processo de recalcamento (p.122).
Em uma das cenas, Júlia reconhece o quanto ouvir “coisas tão duras,
agressivas e desqualificadoras” (como foi bem pontuado pela analista) sobre si,
vindas do próprio marido a traziam sentimentos de raiva, dor e muito desconforto.
Na mesma frase, Júlia afirma: “ao mesmo tempo tenho a impressão de que ele
está certo”. Desta forma, pode ser observado o predomínio de um sentimento
auto aversivo dela para consigo mesma. A auto aversão é uma emoção ligada
ao sistema de ameaça e corresponde ao sentimento de repulsa que atributos
físicos, da personalidade ou do comportamento suscitam no próprio (Freitas,
Paula Cristina Oliveira de Castilho, 2015).
A paciente relata não reagir às ofensas do marido, apesar de toda a raiva
e dor despertadas. São recorrentes as expressões como "eu não consigo", "não
adianta", “eu fico com medo", " eu não vou dar conta". Ela não se percebe capaz
de romper com o círculo vicioso de sua dependência emocional, se sentindo
literalmente presa.
CG de C Cesário (2021) assinala que Freud, em sua obra (1914/1996),
utiliza-se do termo resistência para construí-lo como um conceito, que se refere
principalmente a obstáculos localizados no decorrer do tratamento, que são
formas do sujeito defender o seu sintoma. Ao falar do conceito de resistência
como um obstáculo na clínica, deve ser ressaltado que o dispositivo de análise
inclui, necessariamente, a transferência como um de seus princípios
fundamentais. A discussão sobre a resistência adquiriu uma configuração
peculiar chamada por Freud de “resistência transferencial”.
São resistências contra a mudança, relacionadas à “compulsão à
repetição”, onde o paciente inconscientemente resiste a impulsos instintivos que
possam promover mudanças em sua forma de viver, sobreviver e se expressar.
É importante, diante da fala da paciente, entender o papel que esse marido
ocupa em sua psiquê.
O parceiro ocupa o espaço de Pai, a Lei, figura indispensável e portadora
do poder masculino, sem o qual se vê destituída de qualquer possibilidade de
sobrevivência emocional. O nome dado para essa ocorrência, de acordo com as
contribuições psicanalíticas, é de relação transferencial. Em algumas das falas
de Júlia, fica explícita sua expectativa em relação ao marido, que vem para
preencher simbolicamente muitas lacunas afetivas e para depositar nele todas
as expectativas de resgate de um abandono imposto por um pai distante e
exigente.
Júlia agiu em muitos momentos da sessão, inclusive através de sua
expressão corporal, como uma menina desamparada e solitária que se trancava
no quarto, a fim de se proteger "do mundo", aquele mundo que girava em torno
do pai. Essa menina buscava desesperadamente a atenção e aprovação de um
pai exigente e distante.
Essa dinâmica de menina indefesa e carente versus homem dominador e
negligente reedita uma história que Júlia não recordou. Tal reedição pode ser
compreendida pelo conceito psicanalítico da repetição. A compulsão à repetição
é o mecanismo por meio do qual o inconsciente tende a buscar situações que
possibilitem ao indivíduo reviver situações que foram geradoras de conflitos e
sofrimento psíquico (Freud 1914/1979d; 1914 /1579d;1920/1979a; 1926/1979 b).
O abandono é sua realidade simbólica não tolerado conscientemente, e
resultado daquilo que foi recalcado pelo inconsciente. A paciente repetiu várias
vezes o quanto se sente ou sentia solitária, mas amenizava a constatação, como
as afirmações a seguir: “e aí depois, não tinha mais babá, mas eu tinha as
minhas coisas, eu tinha livro, TV, eu tinha o meu mundo"; "quando eu tinha meus
pais eu me sentia sozinha, mas eu me sentia protegida"; "ele não tinha tempo, a
vida tava sempre corrida".
Dessa forma, o conteúdo impedido de ascender à consciência vai
estruturar uma tensão, que surge por meio de uma repressão e,
consequentemente, causando dor e desconforto. A partir do conteúdo reprimido,
é possível chegar ao recalcamento. No caso de Júlia, ao recordar sobre as
atrocidades que o marido dizia a seu respeito.
Na clínica psicanalítica, o manejo da transferência é essencial para a
descoberta do recalque reprimido, assim como as próprias resistências e
repetições. As contribuições psicanalíticas se tornam mais precisas, após o
paciente tornar-se consciente das suas resistências. Para que isso aconteça, a
escuta técnica utilizada pelo analista faz toda diferença na hora de interpretar e
reconstituir as memórias inconscientes, que deve se obter de uma atenção
flutuante para captar tudo aquilo que não é dito na sessão.
Análise do Caso Paula, Sessão em Cena.

Paula uma mulher de 38 anos que mora sozinha, trabalha, mas


sobrevive com o auxílio dos pais. Ela costuma repetir que se acha uma pessoa
insignificante e que ninguém se importa, assim como também fantasia que as
pessoas têm sorte por ter uma vida “boa”, um casamento estável. O seu discurso
repetitivo durante a sessão gira em torno do medo de desapontar os pais.
Diante a fala de Paula, discorrendo um pouco sobre a angústia, segundo
a teoria de Freud, esta resulta de um medo imaginário ou sinal de perigo frente
à exigência pulsional. É perceptível no seu discurso de que ela teria a obrigação
de agradar e dá o seu melhor frente aos pais. Pois, segundo a paciente, eles
fizeram um grande investimento nos seus estudos, por isso o medo de
desapontá-los. No caso, frente a isso se observa esta insegurança e este medo
imaginário de decepcionar os pais, onde se supõe que os pais deixaram de
investir nas suas irmãs para investir nela, e que ela não deu retorno.
No que diz respeito a transferência tem sua importância dentro do
processo de análise, visto que é por meio dela que o sujeito poderá reconstruir
e resolver conflitos reprimidos. Nesse sentido, a transferência acontece quando
o indivíduo projeta em outras pessoas figuras marcantes do passado, de forma
inconsciente. Diante do exposto, é possível observar, na cena da Paula, a
transferência quando pergunta ao analista o que ela deve fazer, possivelmente
colocando-o no lugar dos pais, onde sempre tiveram um papel fundamental nas
decisões dela.
A contratransferência, assim como a transferência, também tem o seu
papel importante, mas acontece o oposto do exemplo anterior, pois os
sentimentos do analista frente ao do analisando também pode ser inconsciente.
Mas, por o analista possuir habilidades e técnicas para tal demanda, fica mais
fácil de identificar o momento em que isso acontece e, assim, conduzir a sessão
sem prejuízos. No caso da Paula, é possível notar essa contratransferência
quando o analista a questiona sobre a pressão que ela sente em si mesma ao
se julgar, onde ele fala que ela tem que seguir a vida e se desgarrar do outro,
ressaltando que pode ajudá-la, mas não pode fazer por ela. Nesse sentido, a
contratransferência não pode ser vista como algo que não deve existir no
processo.
No que tange a interpretação, segundo Freud, é a forma como o
analista explica os significados dos desejos inconscientes do analisando e
resultado de uma repercussão contratransferencial no analista. Desta forma, no
caso clínico da Paula tem como exemplo os momentos em que relata que não
tem confiança em si, que se acha sem graça, que não sabe como sair daquele
estado, que não é mais a mesma pessoa, que os pais investiram nela, mas não
deu retorno satisfatório a eles, dentre outros. O discurso nos remete uma pessoa
insegura, uma pessoa que vive em função do outro, não busca as suas próprias
realizações, sendo que constantemente se preocupa com que os outros vão
pensar.
Paula não enxerga que o fato de agradar somente ao outro e de,
principalmente, não desapontar os pais, pode estar prejudicando a sua saúde
mental e os seus possíveis projetos e sonhos. Outro exemplo é quando ela fala
do casamento ideal das amigas ou quando fala das irmãs bem-sucedidas. Nota-
se aqui o ideal de relacionamento, que poderia ser um motivo de satisfação para
os pais e, novamente, mostra o seu desejo em agradar o outro.

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