Análise Dos Casos Otavio, Júlia e Paula - Trabalho Concluído
Análise Dos Casos Otavio, Júlia e Paula - Trabalho Concluído
Análise Dos Casos Otavio, Júlia e Paula - Trabalho Concluído
Professor (a):
Andréa Senna
Integrantes:
- Ana Paula de Morais Leite
- Ellen Fernanda Vieira Pinto
- Flaviana Barbosa Oliveira de Queiroz
- Francisca Maria Santos Cruz
- Renata Oliveira de Albuquerque
FORTALEZA
2021
Análise do Caso Otavio, da série Sessão de Terapia.
O caso Júlia é uma obra de ficção que dramatiza um recorte de uma das
sessões de análise de Júlia, uma mulher que vive uma dinâmica de violência
psicológica e dependência emocional com seu marido. É notório diversas
contribuições da clínica psicanalítica no caso Júlia. A começar pela queixa
principal de Júlia: sua impotência e submissão diante das recorrentes agressões
do marido.
A queixa atual é o sintoma de Júlia que se repete e volta várias vezes na
mesma sessão. Essa repetição se contrapõe à recordação bem específica do
seu passado, mais propriamente da sua infância. Em Inibição, Sintoma e
Angústia (1926) Freud apresenta o sintoma como “um sinal e um substituto de
uma satisfação pulsional que permaneceu em estado adjacente, o sintoma é
uma consequência do processo de recalcamento (p.122).
Em uma das cenas, Júlia reconhece o quanto ouvir “coisas tão duras,
agressivas e desqualificadoras” (como foi bem pontuado pela analista) sobre si,
vindas do próprio marido a traziam sentimentos de raiva, dor e muito desconforto.
Na mesma frase, Júlia afirma: “ao mesmo tempo tenho a impressão de que ele
está certo”. Desta forma, pode ser observado o predomínio de um sentimento
auto aversivo dela para consigo mesma. A auto aversão é uma emoção ligada
ao sistema de ameaça e corresponde ao sentimento de repulsa que atributos
físicos, da personalidade ou do comportamento suscitam no próprio (Freitas,
Paula Cristina Oliveira de Castilho, 2015).
A paciente relata não reagir às ofensas do marido, apesar de toda a raiva
e dor despertadas. São recorrentes as expressões como "eu não consigo", "não
adianta", “eu fico com medo", " eu não vou dar conta". Ela não se percebe capaz
de romper com o círculo vicioso de sua dependência emocional, se sentindo
literalmente presa.
CG de C Cesário (2021) assinala que Freud, em sua obra (1914/1996),
utiliza-se do termo resistência para construí-lo como um conceito, que se refere
principalmente a obstáculos localizados no decorrer do tratamento, que são
formas do sujeito defender o seu sintoma. Ao falar do conceito de resistência
como um obstáculo na clínica, deve ser ressaltado que o dispositivo de análise
inclui, necessariamente, a transferência como um de seus princípios
fundamentais. A discussão sobre a resistência adquiriu uma configuração
peculiar chamada por Freud de “resistência transferencial”.
São resistências contra a mudança, relacionadas à “compulsão à
repetição”, onde o paciente inconscientemente resiste a impulsos instintivos que
possam promover mudanças em sua forma de viver, sobreviver e se expressar.
É importante, diante da fala da paciente, entender o papel que esse marido
ocupa em sua psiquê.
O parceiro ocupa o espaço de Pai, a Lei, figura indispensável e portadora
do poder masculino, sem o qual se vê destituída de qualquer possibilidade de
sobrevivência emocional. O nome dado para essa ocorrência, de acordo com as
contribuições psicanalíticas, é de relação transferencial. Em algumas das falas
de Júlia, fica explícita sua expectativa em relação ao marido, que vem para
preencher simbolicamente muitas lacunas afetivas e para depositar nele todas
as expectativas de resgate de um abandono imposto por um pai distante e
exigente.
Júlia agiu em muitos momentos da sessão, inclusive através de sua
expressão corporal, como uma menina desamparada e solitária que se trancava
no quarto, a fim de se proteger "do mundo", aquele mundo que girava em torno
do pai. Essa menina buscava desesperadamente a atenção e aprovação de um
pai exigente e distante.
Essa dinâmica de menina indefesa e carente versus homem dominador e
negligente reedita uma história que Júlia não recordou. Tal reedição pode ser
compreendida pelo conceito psicanalítico da repetição. A compulsão à repetição
é o mecanismo por meio do qual o inconsciente tende a buscar situações que
possibilitem ao indivíduo reviver situações que foram geradoras de conflitos e
sofrimento psíquico (Freud 1914/1979d; 1914 /1579d;1920/1979a; 1926/1979 b).
O abandono é sua realidade simbólica não tolerado conscientemente, e
resultado daquilo que foi recalcado pelo inconsciente. A paciente repetiu várias
vezes o quanto se sente ou sentia solitária, mas amenizava a constatação, como
as afirmações a seguir: “e aí depois, não tinha mais babá, mas eu tinha as
minhas coisas, eu tinha livro, TV, eu tinha o meu mundo"; "quando eu tinha meus
pais eu me sentia sozinha, mas eu me sentia protegida"; "ele não tinha tempo, a
vida tava sempre corrida".
Dessa forma, o conteúdo impedido de ascender à consciência vai
estruturar uma tensão, que surge por meio de uma repressão e,
consequentemente, causando dor e desconforto. A partir do conteúdo reprimido,
é possível chegar ao recalcamento. No caso de Júlia, ao recordar sobre as
atrocidades que o marido dizia a seu respeito.
Na clínica psicanalítica, o manejo da transferência é essencial para a
descoberta do recalque reprimido, assim como as próprias resistências e
repetições. As contribuições psicanalíticas se tornam mais precisas, após o
paciente tornar-se consciente das suas resistências. Para que isso aconteça, a
escuta técnica utilizada pelo analista faz toda diferença na hora de interpretar e
reconstituir as memórias inconscientes, que deve se obter de uma atenção
flutuante para captar tudo aquilo que não é dito na sessão.
Análise do Caso Paula, Sessão em Cena.