A Sociologia No Brasil

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A SOCIOLOGIA NO

BRASIL
 Na América Latina, e em particular no Brasil, o processo
de formação, organização e sistematização do pensamento
sociológico obedeceu também às condições de
desenvolvimento do capitalismo e à dinâmica própria de
inserção do país na ordem capitalista mundial.

 Reflete a situação colonial, a herança da cultura jesuítica e


o lento processo de formação do Estado nacional.
O COLONIALISMO EUROPEU

 No Brasil, desde a colonização, teve início um processo


de implantação da cultura europeia promovido
principalmente pelas ordens religiosas.

 Durante séculos, a cultura no Brasil manteve seu perfil


ilustrado, de distinção social e de dominação.
A VISÃO DE MUNDO E AS CLASSES
INTERMEDIÁRIAS NO SÉCULO XVIII

A mineração provocou um surto de urbanização.

Surgiram novas ocupações livres: comerciantes,


artífices, funcionários da administração, fiscais e
controladores da extração de minérios e da
exportação, etc.
 Ao contrário do período açucareiro, o da mineração
alterou a composição da população: pela primeira vez, a
população livre era mais numerosa do que a escrava.

 Essacamada intermediária livre e sem propriedades,


que precede o surgimento da burguesia propriamente
dita, torna-se consumidora da cultura europeia,
buscando criar uma identidade nova que a distinguisse
tanto do escravo inculto como da elite colonial
conservadora.
A VISÃO DE MUNDO DA CORTE E O SÉCULO
XIX
 Com a transferência da corte joanina para o Brasil, em
1808, é introduzida na colônia a cultura portuguesa da
época.

 Criaçãoda Academia de Belas-Artes, a fundação da


imprensa, o lançamento do primeiro jornal, a
organização da primeira biblioteca e dos primeiros
cursos superiores.
Apesar de voltada mais à praticidade, continuava
sendo uma cultura alienada, ditada pelas normas
europeias, cujo objetivo era organizar o saber
descritivo, funcional e ostentatório.

O diploma concorria em importância com o título


de propriedade da terra.
O distanciamento dos rebeldes em relação ao
restante da população escrava e espoliada impedia
a transformação da dissidência em revolução.
Essa dicotomia entre a realidade vivida e o
conhecimento produzido e consumido pela elite
caracterizava uma nova forma de alienação,
responsável pelo tardio desenvolvimento da
ciência no Brasil.

Embora a imprensa se desenvolvesse, prevalecia


o caráter ostentatório de uma cultura de elite.
O ADVENTO DA BURGUESIA

O desenvolvimento das atividades comerciais e de


exportação e a expansão capitalista do início do século,
revolucionaram o modo de pensar no Brasil.

A nova classe social necessitava de um saber mais


pragmático capaz de transformar a antiga colônia em
uma nação capitalista.
 Além do combate às oligarquias agrárias era necessário
instruir e emancipar as camadas populares, de maneira a
desenvolver necessidades e atitudes políticas, além de
possibilitar novas alianças ideológicas.

A modernização do país passava a ser importante.


Nesse sentido desenvolviam-se inúmeras campanhas,
como a abolicionista, do final do século XIX.
 Aurora do nacionalismo.

 Propunham a defesa da produção nacional.


 O nacionalismo expressava o desejo de se conhecer realmente
a nação e de conclamar as diversas classes sociais a exercer seu
papel transformador da realidade.

 Procuravarepudiar todo traço de colonialismo propondo até


mesmo a substituição do português clássico por uma língua
brasileira, eminentemente nacional.
 Esse movimento revolucionário da sociedade e da
cultura reorientou o pensamento social na crítica
literária ou nas análises já de cunho sociológico.

 Sãodessa época, das primeiras décadas do século XX, o


movimento modernista nas artes e na literatura e a
fundação do Partido Comunista.
Organização da sociologia no Brasil – só irrompe
na década de 1930, com a fundação da
Universidade de São Paulo e o consequente
incremento da produção científica.

A repercussão mundial da crise norte-americana


de 1929 faz com que se desenvolva a crítica,
sistematizando-se de maneira científica na
nascente sociologia.
A GERAÇÃO DE 1930

 Emprimeiro lugar, o interesse pela descoberta do Brasil


“verdadeiro”, em oposição ao Brasil colonizado e
estudado sob a visão etnocêntrica da Europa.

 Emsegundo lugar, o desenvolvimento do nacionalismo,


como sentimento capaz de unir as diversas camadas
sociais em torno de questões internas à nação.
Avalorização do cientificismo e um grande
anseio por modernizar a estrutura social
brasileira estavam também presentes nesses
estudos.
Introdução da disciplina de sociologia no ensino
médio (1931).

Despontam nesse período os intelectuais da


chamada geração de 1930, cujos expoentes foram
Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio
Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo.
CAIO PRADO JÚNIOR

Procurava
formalizar o
método
marxista para a
análise da
realidade
brasileira.
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA

 Iniciou sua
produção
intelectual
voltado para a
crítica literária e
para a crítica
cultural.
 Foi um dos primeiros autores a utilizar o instrumental
tipológico de Weber na análise histórica e social do país
(comportamento típico do brasileiro).

O autor consegue denunciar em uma de suas obras, pela


primeira vez, a visão estereotipada que os europeus
tinham do Brasil.
FERNANDO DE AZEVEDO
 Destacou-se nas campanhas pela
laicização do ensino e pela escola
pública.

 Desempenhou importante papel na


criação da Universidade de São Paulo
e foi um dos primeiros mestres
brasileiros de sociologia naquela
instituição.
GILBERTO FREYRE
 Entendia o nacionalismo como a
fusão de raças, regiões, culturas e
grupos sociais possibilitada pelas
características do colonialismo no
Brasil.
 Destacava o papel do negro e do
mestiço na adaptação da cultura
europeia aos trópicos e na formação
da identidade cultural brasileira.
INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO E
DIVULGAÇÃO DA SOCIOLOGIA

 Na década de 1930

 Houve transformações importantes na área do


conhecimento como o surgimento de diversas profissões
impulsionado pela redefinição da divisão social do
trabalho.
 Osantigos bacharéis de direito, engenharia e medicina,
com conhecimentos gerais de ciências sociais e
humanas, foram encaminhados para o funcionalismo
público.

A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras pôde adotar


uma postura crítica em relação à realidade brasileira e
desenvolver a pesquisa de forma mais original e
autônoma.
A proximidade com o poder público e a ingerência do
Estado na universidade dificultaram o desenvolvimento das
ciências sociais que se confundia com a formação de
quadros para o serviço público.

 Inúmeros professores foram convidados a vir do exterior


para formar profissionais das ciências sociais. Para a Escola
Livre de Sociologia e Política de São Paulo vieram Donald
Pierson e Radcliffe-Brown, imprimindo às atividades
acadêmicas o cunho empirista da Escola de Chicago.
 Para
a USP, veio a chamada “Missão Francesa”,
composta por Lévi-Strauss, Georges Gurvitch,
Roger Bastide, Paul Arbousse-Bastide, Fernand
Braudel, nela instalando uma sociologia teórica
humanista, com ênfase nos estudos culturais.
A importância desses acontecimentos foi enorme para
a formação de um grupo de sociólogos que passará a
desenvolver suas pesquisas já no fim da década de
1940, como Florestan Fernandes, Maria Isaura Pereira
de Queiroz, Antonio Candido de Mello e Souza, Gilda
de Mello e Sousa, Ruy Galvão de Andrada Coelho e
outros.
O INTEGRALISMO E A INTELECTUALIDADE
REACIONÁRIA

O principal representante e o fundador dessa corrente foi


Plínio Salgado, que via com desconfiança não só o
movimento modernizador da sociedade como também o
liberalismo e o marxismo.

 Suas ideias conservadoras exaltavam a ordem, a disciplina e


a tradição, bem como o autoritarismo do Estado.
A DÉCADA DE 1940

 Emergência e consagração dos Estados Unidos e da


então URSS como potências mundiais.

 Os acordos de Yalta e Potsdam dividiram o mundo em


áreas de influência soviética e norte-americana.
 Esses acordos definiram as regiões do planeta que
ficariam sob o controle político e ideológico dos
Estados Unidos ou da URSS, “determinando” a divisão
do mundo em dois blocos antagônicos.

A industrialização transformava radicalmente as


relações sociais entre classes, entre setores e entre
regiões.
 Processava-se uma aceleração no êxodo rural.

 Inúmeros conflitos surgiam nesse processo de


mudança, e o pensamento sociológico procurava dar
conta das transformações.

 Integração e mudança eram temas recorrentes na


sociologia do pós-guerra.
O país adquiria a consciência de sua
complexidade, ao mesmo tempo em que se
estimulava a descoberta da própria
especificidade.
 Outrasquestões ocupavam também o pensamento dos
sociólogos. Era a tentativa de identificação, nesse
processo de mudança, de uma legítima revolução
burguesa, nos moldes da que ocorrera na Europa entre
os séculos XVIII e XIX.
 As teorias sobre a dependência e o imperialismo
permitiram que se compreendesse que o capitalismo no
Terceiro Mundo produz uma realidade diversa.

 Asanálises sobre desigualdades sociais, etnias, políticas


indigenistas, regionalismos, tradições, transição e
mudança extrapolaram os limites da disciplina e foram
incorporadas pela geografia, pela história e até pela
filosofia.
O resultado dialético dessa oposição foi uma produção
diversificada e rica que tinha o Brasil como principal
ponto de interesse e convergência.

 Começa a surgir uma preocupação mais abrangente


focada em toda a América Latina, constituída de nações
nascidas dos mesmos processos de dominação colonial e
de exploração imperialista.
A DÉCADA DE 1950
 O pós-guerra teve profundas repercussões no desenvolvimento do
pensamento sociológico no mundo.

 Rompe-se o intercâmbio mantido com alguns centros universitários,


especialmente os franceses.

 A sociologia brasileira volta-se mais profundamente para si mesma.

 A década de 1950 é marcada por dois importantes pensadores: Florestan


Fernandes e Celso Furtado.
DARCY RIBEIRO E A QUESTÃO INDÍGENA
 Romancista, etnólogo e político,
denunciou as relações interétnicas
brasileiras, que tinham como resultado o
aniquilamento dessa cultura e dessa etnia.

 Sua atuação foi sempre a de um


antropólogo militante que, seguindo a
linha marxista, condenou toda ortodoxia,
buscou as raízes históricas da situação das
populações indígenas e procurou saídas
estratégicas.
O GOLPE DE 1964

 No período que vai dos anos 1940 a meados dos anos


1960, as ciências sociais de maneira geral foram
responsáveis pela elaboração de teorias que
denunciavam as desigualdades sociais, as relações de
domínio e opressão, a exploração existente entre
regiões, classes e países.
O golpe militar de 1964, implantando nova
ditadura no Brasil, teve duras repercussões
junto ao desenvolvimento das ciências sociais
e à estruturação desses cursos universitários
no país.
 Ato Institucional n° 5 (AI-5) – os principais nomes da
sociologia no Brasil foram aposentados e impedidos de
lecionar.

 Muitos foram exilados, outros se exilaram, passando a


publicar seus trabalhos no exterior.
AS CIÊNCIAS SOCIAIS PÓS- 1964

 Alguns dos intelectuais afastados de suas cátedras e de


suas pesquisas continuaram trabalhando no exterior.
Outros formaram núcleos de pesquisa independentes.

 NaUSP os mais conhecidos foram o CERU (Centro de


Estudos Rurais e Urbanos), o CESA (Centro de
Estudos de Sociologia da Arte) e o CER (Centro de
Estudos da Religião).
A repressão política aos intelectuais e universitários foi
um duro golpe ao desenvolvimento da sociologia.

 Nos anos 1980, com a abertura política, surgem novos


partidos e a vida política participativa recomeça a tomar
fôlego.
 Multiplicaram-se os campos
de estudo, fazendo surgir
análises sobre a condição
feminina, do menor, das
favelas, das artes, da
violência urbana e rural,
entre outras.
A sociologia se fragmentava em áreas autônomas e
isoladas.

 Ganhou em riqueza, em sutileza dos métodos analíticos,


e na fecunda interdisciplinaridade, mas perdeu
complexidade, no fortalecimento da disciplina como
processo de entendimento da realidade e no alcance de
suas teorias.
A sociologia se torna cada vez mais
interdisciplinar e plural?

 Ossociólogos buscam redefinir os conceitos de


dependência e divisão internacional do trabalho
num mundo que se globaliza e no qual a opção
pelo capitalismo liberal aparece, ao menos
momentaneamente, triunfante.

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