2017 - Giovana Parente Negrão
2017 - Giovana Parente Negrão
2017 - Giovana Parente Negrão
INSTITUTO DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
AGRÍCOLA
DISSERTAÇÃO
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA
MESTRADO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA
Sob a Orientação do
Dr. Allan Rocha Damasceno
Seropédica, RJ
Agosto de 2017
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Biblioteca Central / Seção de Processamento Técnico
_______________________________________________________________
Allan Rocha Damasceno, Dr. UFRRJ
_______________________________________________________________
Sílvia Maria Melo Gonçalves, Dra. UFRRJ
_______________________________________________________________
Fátima Niemeyer da Rocha, Dra. USS
_______________________
_______________________________________________________
Adriana Vasconcelos da Silva Bernardino, Dra. USS
Aos meus pais, irmãos, esposo e a todos os
profissionais que acreditam na diversidade
humana, na possibilidade da inclusão e que
lutam pela efetivação do direito à educação
pública de qualidade para TODOS.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pelo dom mais precioso que é a vida; pela força e energia
positiva que todos os dias renova a esperança de poder continuar a caminhada com serenidade
e sabedoria;
Aos meus pais Jones (in memoriam, † 23/12/00) e Raimunda, que mesmo diante das
dificuldades e limitações vivenciadas, proporcionaram-me condições de avançar nos estudos e
se esforçaram para dar-me o melhor, conforme suas possibilidades;
Ao meu esposo que sempre me incentivou e ajudou na continuidade de meus estudos,
buscando compreender os momentos de minhas ausências e estresse;
Aos meus irmãos que contribuíram direta e indiretamente para a conclusão deste
estudo.
Ao meu Orientador Prof. Dr. Allan Rocha Damasceno, uma pessoa acima de tudo
muito especial, que admiro pela condução séria, responsável, flexível, instigante e eficiente na
orientação deste trabalho;
Aos professores do PPGEA, pela socialização de seus conhecimentos em todas as
etapas de formação e aos demais funcionários, os quais sempre se mostraram disponíveis a
nos atender;
Ao “Douglas”, esposo de minha amiga Malena, pela sua contribuição para que este
estudo se tornasse possível.
A todos os colegas de curso, pelo companheirismo e incentivo; em especial a colega
“Giselle” que em todos os encontros esteve sempre pronta a nos acolher em sua residência.
Agradeço de uma forma muito especial a todos os profissionais do Setor de Educação
especial da Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba, pela disponibilidade e
socialização de informações e experiências necessárias na execução das atividades desta
pesquisa;
A todos os Professores das Salas de Recursos Multifuncionais da rede municipal de
ensino de Abaetetuba, pela receptividade e colaboração;
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o desenvolvimento deste
trabalho e na superação dos obstáculos, minha imensa gratidão.
“A inclusão só é possível lá onde houver
respeito às diferenças e, consequentemente, a
adoção de práticas pedagógicas que permitam
as pessoas com deficiências aprender e ter
reconhecidos e valorizados os conhecimentos
que são capazes de produzir, segundo seu
ritmo e na medida de suas potencialidades”.
(MANTOAN, 2011, p. 77).
RESUMO
Este estudo elegeu como objeto as Políticas Públicas de Educação Inclusiva e os desafios da
formação docente para o atendimento educacional especializado (AEE).Teve como objetivo
principal caracterizar a implementação da Política Nacional de Educação Especial na
perspectiva da Educação Inclusiva na Rede Municipal de Ensino em Abaetetuba/PA, que se
desdobrou em: identificar e analisar os dispositivos legais referentes a modalidade de
educação especial construídos no âmbito da rede municipal de ensino do município de
Abaetetuba; identificar as ações de educação inclusiva implementadas na referida rede de
ensino a partir dos dispositivos constituídos e analisar a formação inicial e continuada dos
professores lotados nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), bem como os reflexos
desta formação no Atendimento Educacional Especializado (AEE) dos estudantes público-
alvo da Educação Especial. A metodologia fundamenta-se na abordagem qualitativa,
envolvendo pesquisa bibliográfica e de campo. A coleta de dados contou com levantamentos
estatísticos na rede de ensino, incluindo pesquisa de documentos oficiais; aplicação de
questionário a trinta e quatro docentes lotados em Sala de Recursos Multifuncionais das
escolas da rede de ensino e entrevista semiestruturada a Coordenação do Setor de Educação
Especial e a três Professores que atuam no AEE em realidades educacionais distintas (cidade,
Ilhas e Estradas/Ramais). Para a análise dos dados adotou-se a metodologia de Análise de
Conteúdo de Franco (2012), que permite considerar o material coletado, contextualizando-o.
Destaca-se neste estudo o referencial teórico de autores como: Freire (1986), Mantoan (2006),
Prieto (2006), Silva (2008), Tardif (2014), Baptista (2011), Oliveira (2002), Damasceno
(2010), Ferreira (2003), entre outros autores e documentos oficiais sobre a temática. Percebe-
se que a rede municipal de ensino em Abaetetuba vem gradativamente estruturando a
construção de políticas públicas de educação especial voltada para a perspectiva inclusiva.
Verificou-se que, embora ocorram ações formativas para os docentes da educação especial,
estas ocorrem de forma esporádica, aligeirada e transitam na superficialidade; estas ações não
se traduzem em uma política efetiva bem definida de formação e não são suficientes para
atender as necessidades de formação dos profissionais frente as demandas amplas de sua
atuação e os atuais desafios do trabalho pedagógico, no atendimento educacional
especializado. Conclui-se, destacando a importância de políticas públicas direcionadas para a
educação inclusiva, bem como políticas de formação continuada para a concretização e
consolidação da inclusão.
NEGRÃO, Giovana Parente de. Inclusive Education Public Policies: challenges of teacher
education for the specialized educational service (AEE) in the municipal teaching
network of Abaetetuba/Pá.2017. 146p. Dissertation (Master in Agricultural Education).
Institute of Agronomy, Federal Rural University of Rio de Janeiro, Seropédica - RJ, 2017.
This study chose as object the Public Policies of Inclusive Education and the challenges of
teacher education for the specialized educational service (ESA). Its main objective was to
characterize the implementation of the National Policy of Special Education in the perspective
of Inclusive Education in the Municipal Network of Education in Abaetetuba / PA, which was
developed to: identify and analyze the legal provisions regarding the special education
modality built within the municipal education network of the municipality of Abaetetuba; To
identify the actions of inclusive education implemented in said network of education from the
constituted devices and to analyze the initial and continued formation of full-time teachers in
the Multifunctional Resource Rooms (SRM), as well as the reflections of this training in the
Specialized Educational Assistance (AEE) of Special education public school students. The
methodology is based on the qualitative approach, involving bibliographical and field
research. Data collection included statistical surveys of the education network, including the
search for official documents; Application of a questionnaire to thirty-four teachers filled in
the Multifunctional Resource Room of the schools of the education network and semi-
structured interview the Coordination of the Sector of Special Education and to three Teachers
who work in the EEE in distinct educational realities (city, Islands and Roads /). For the
analysis of the data the Franco Content Analysis methodology (2012) was adopted, which
allows to consider the material collected, contextualizing it. In this study the theoretical
reference of authors such as Freire (1986), Mantoan (2006), Prieto (2006), Silva (2008),
Tardif (2014), Baptista (2011), Oliveira (2002), Damasceno), Ferreira (2003), among other
authors and official documents on the subject. It can be seen that the municipal education
network in Abaetetuba is gradually structuring the construction of public policies of special
education focused on the inclusive perspective. It was verified that although there are
formative actions for the teachers of the special education, these occur sporadically, light and
transit in the superficiality, these actions do not translate into a well defined effective policy
of formation and are not enough to attend the training needs Of the professionals facing the
broad demands of their performance and the current challenges of the pedagogical work, in
the specialized educational service. It is concluded, emphasizing the importance of public
policies directed towards inclusive education, as well as policies of continuous formation for
the concretization and consolidation of inclusion.
Tabela 12- Demonstrativo de formação inicial dos docentes do AEE. ................................. 108
Tabela 13 - Cursos de graduação realizados pelos docentes lotados no AEE. ...................... 109
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 1
FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA: INCLUSÃO DO PÚBLICO-ALVO
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL – CENÁRIOS E DESAFIOS ............................................... 8
1 ASPECTOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS
DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ..... 14
1.1 A Trajetória Histórica e Legal das Politicas Públicas da Educação Especial na
Perspectiva Inclusiva no Brasil a Partir daDecada de 1990 ..................................................... 14
2 PERCURSOS METODOLÓGICOS PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO:
SOBRE TRAJETÓRIAS, CAMINHOS... ESCOLHAS COMO PONTO DE PARTIDA ..
............................................................................................................................................. 27
2.1 A Pesquisa Qualitativa ................................................................................................. 27
2.2 Objetivos do Estudo ..................................................................................................... 29
2.3 Questões de Estudo ....................................................................................................... 29
2.4 Caracterização e Contextualização do Locus de Estudo: O Município de
Abaetetuba/PA .......................................................................................................................... 30
2.4.1 Aspectos históricos, demográficos e econômicos ........................................ 30
2.5 Definição dos Sujeitos e Locus de Pesquisa .................................................................. 34
2.6 Procedimentos de Coleta de Dados ............................................................................... 34
2.6.1 Análise documental: dispositivos legais e documentos oficiais ................... 34
2.6.2 A observação no contexto das salas de recursos multifuncionais ................ 35
2.6.3 Entrevista semiestruturada ............................................................................ 36
2.7 Instrumentos de Coleta: Questionário ........................................................................... 37
2.8 Análise e Tratamento do Material Empírico e Documental .......................................... 37
3 EDUCAÇÃO ESPECIAL: ORGANIZAÇÃO HISTÓRICO-POLÍTICA DA
MODALIDADE NO MUNICÍPIO ABAETETUBA/PA .................................................... 38
3.1 Dispositivos Legais e Políticas Referentes a Educação Especial Constituidos no
Âmbito Municipal de Abaetetuba............................................................................................. 45
4 ESTRUTURA ORGANIZACIONALE CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO NO VIÉS DA POLÍTICA
NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL ......................................................................... 60
4.1 A Estrutura Administrativa da Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba-
SEMEC ..................................................................................................................................... 60
4.2 O Setor de Educação Especial e o Atendimento Educacional Especializado: Ações,
Projetos, Parcerias e Convênios................................................................................................ 67
5 ARTICULAÇÕES INTERSETORIAIS PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS
POLÍTICAS PÚBLICASDIRECIONADAS AOO PÚBLICO DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL .............................................................................................................................. 75
5.1 Contextualização e Caracterização das Salas De Recursos Multifuncionais: O AEE
emRealidades Distintas ............................................................................................................ 76
6 FORMAÇÃO DOCENTE E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO: OS DESAFIOS DA INCLUSÃO NA REDE MUNICIPAL DE
ENSINO DE ABAETETUBA/PÁ ......................................................................................... 95
6.1 O Docente do AEE e os Dilemas da Formação Multiprofissional e Atuação
Multifuncional: Os Dispositivos Legais da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva em
Questão ................................................................................................................................... 103
6.2 Caracterização do Perfil Profissional de Formação Inicial e Continuada dos Docentes
que Atuam no AEE Rede Municipal de Ensino em Abaetetuba ............................................ 106
6.3 Olhares, Diálogos e Reflexões Sobre a Prática Docente no AEE: Resultados e
Discussões .............................................................................................................................. 111
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 124
8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 131
9 apêndice ............................................................................................................................ 137
Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. ......................................... 137
Apêndice B - Questionário de pesquisa sobre o perfil de formação dos professores ...... 139
Apêndice C - Entrevista Semiestruturada comos Professores lotados nas Salas de
Recursos Multifuncionais ................................................................................................. 141
Apêndice D - Entrevista Semiestruturada com a Coordenadora do Setor de Educação
Especial da SEMEC/ Abaetetuba ..................................................................................... 143
Apêndice E – Roteiro de observação no contexto das Salas de Recursos Multifuncionais
.......................................................................................................................................... 145
APRESENTAÇÃO
Dessa forma, a inclusão escolar demanda desafios aos sistemas de ensino e aos
profissionais da educação, principalmente diante da realidade que se apresenta, solidificada
por um modelo de educação que ao longo da história veio negando o diferente,
desvalorizando a diversidade sociocultural do aluno e distanciando-o do contexto escolar.
Vivenciar o processo de inclusão escolar na sociedade contemporânea requer adoção
de postura reflexiva para rever e modificar atitudes e concepções construídas e estabelecidas
culturalmente ao longo da história e validadas pela sociedade e no processo educativo, para
que seja possível a inclusão educacional e social.
Nessa perspectiva, percebe-se que os princípios da inclusão estão longe de serem
atingidos se analisarmos de perto as situações e atitudes de exclusão que ocorrem no
cotidiano dos espaços escolares e na sociedade de modo geral.
As lutas travadas pela sociedade e os avanços conquistados até os dias atuais, no que
se refere a inclusão escolar, desencadearam incentivos para ressignificação do fazer
pedagógico nas escolas. No entanto, muitas reflexões e ações ainda se fazem necessárias.
Poder estudar a temática em questão é a oportunidade de buscar respostas para a uma
série de inquietações que de certo modo foram potencializadas no âmbito de minha vida
profissional.
Assim, destaco as experiências vivenciadas no contexto educacional desde 1998, em
atuações na docência das séries iniciais e na Coordenação Técnico Pedagógica da Rede
Municipal de Ensino em Abaetetuba, no estado do Pará, que oportunizaram o surgimento de
persistentes reflexões diante dos problemas e dificuldades de aprendizagem manifestados
pelos estudantes público alvo da educação especial.
Ainda no tocante a trajetória profissional é importante destacar que em 2008, iniciei
atividades de assessoramento técnico pedagógico na Educação Profissional, com atuação no
Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica – IFPA/ Campus Abaetetuba. Nesta
instituição educacional o trabalho pedagógico é desenvolvido de forma integrada com o
Núcleo de Atendimento à Pessoas com Necessidades Especificas – NAPNE, implantado na
instituição por meio de ações e de políticas de inclusão fomentada pela Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica – SETEC, para os Institutos Federais.
Observa-se, no entanto, que o Núcleo constituído no Campus Abaetetuba enfrenta
algumas barreiras para implementar a política de inclusão. Esses entraves são caracterizados
pelo número reduzido de profissionais com formação específica na área para atuar junto a
equipe técnica de apoio ao núcleo; falta de recursos de tecnologia assistivas; dificuldades no
trabalho colaborativo e articulado com os professores do ensino comum, além de atitudes de
resistência manifestadas pelos docentes do ensino básico para desenvolver o trabalho
pedagógico na perspectiva inclusiva.
Outro motivo que suscitou a realização da pesquisa sobre o assunto, decorre de minha
formação no curso Psicopedagogia, a qual levou-me a atuar profissionalmente no Setor de
Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação-SEMEC/Abaetetuba, desde do ano
de 2009, setor no qual venho desenvolvendo atividades de avaliação educacional,
assessoramento técnico pedagógico e formação continuada junto as escolas que realizam o
Atendimento Educacional Especializado (AEE).
A experiência técnico pedagógica tem oportunizado o engajamento em diferentes
ações voltadas para a educação na Rede Municipal de Ensino e permitido um contato mais
próximo com a realidade social, econômica e educacional dos estudantes público-alvo da
Educação Especial, bem como presenciar as dificuldades, que não são poucas, enfrentadas
diariamente por seus familiares e por todos os envolvidos com este trabalho.
A vivência no contexto da Educação Especial da Rede Municipal de Ensino em
Abaetetuba tem possibilitado a observação de que, embora os profissionais que atuam nas
Salas de Recursos Multifuncionais participem frequentemente de formação continuada
oferecida pela Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba - SEMEC e por outras
instituições de ensino, os mesmos não se sentem seguros diante do desafio do atendimento de
demandas distintas do público-alvo da educação especial e da responsabilidade de ter que
dominar um vasto conhecimento na área, envolvendo o público alvo desta modalidade de
ensino.
Nesse sentido, os professores enfrentam dificuldades na efetivação dos saberes e
fazeres pedagógicos e nesse aspecto, Tardif (2014) ao referir-se aos saberes dos professores
pontua que estes:
[...] dependem das condições sociais e históricas nas quais ele exerce seu ofício, e
mais concretamente das condições que estruturam seu próprio trabalho num lugar
social determinado. Nesse sentido à questão dos saberes está intimamente ligada à
questão do trabalho docente no ambiente escolar, à sua organização, à sua
diferenciação, `a sua especialização, aos condicionantes objetivos e subjetivos com
os quais os professores têm que lidar etc. Ela também está ligada a todo o contexto
social no qual a profissão docente está inserida e que determina, de diversas
maneiras, os saberes exigidos e adquiridos no exercício da profissão (TARDIF,
2014, p. 218).
É desafiadora a atuação dos profissionais do AEE, uma vez que nas diferentes redes
de ensino: municipal, estadual ou federal, parte dos professores do ensino básico não
possuem domínio na comunicação, tanto com pessoas que apresentam deficiência auditiva
utilizando a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, quanto no uso do sistema de leitura para
pessoas com deficiência visual (Braille), e por outro lado, os estudantes público-alvo da
Educação Especial que necessitam deste atendimento para interagir socialmente, aprender e
se desenvolver não podem ser prejudicados.
Os documentos regulamentadores direcionam e especificam questões relacionadas ao
atendimento educacional especializado e a formação dos profissionais da educação para atuar
neste espaço educativo, tanto para os docentes que recebem a denominação de especializados,
quanto para os que atuam na sala de aula do ensino regular. Contudo, são situações diversas
em que esse profissional além de realizar o Atendimento Educacional Especializado-AEE
desenvolve atividades que extrapolam os muros da escola. Nesse sentido, torna-se
2
indispensável que toda a comunidade escolar conheça as interfaces desse atendimento,
entendendo o trabalho e participando ativamente na efetivação do mesmo.
A Política Nacional de Educação Especial (2008), admite que os sistemas de ensino
possuem fragilidades em diferentes âmbitos de organização; no entanto a mesma aponta para
a necessidade de se combater qualquer forma de discriminação e fortalecer estratégias que
possam superar essas fragilidades.
Sabe-se, no entanto, que a inclusão na educação como prerrogativa de um ensino de
qualidade para todos os alunos, não se faz tão somente com boa vontade, requer investimentos
de diferentes níveis. A inovação na educação implica mudanças e recursos; rever as condições
em que se desenvolve o trabalho educativo, as estruturas físicas e pedagógicas atuais das
escolas.
A adoção de referenciais que auxiliem a construção de políticas educacionais
inclusivas pelos sistemas de ensino pode ser uma das estratégias que contribua para que as
escolas repensem suas práticas pedagógicas, reorganize seus espaços e possam atender as
especificidades dos estudantes.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu art.58, esclarece o conceito de
Educação Especial e referenda: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação” (BRASIL, 1996, p 58).
A mesma lei, ainda destaca o seguinte:
1
Generalista:Professor que possui conhecimentos gerais e atua em diferentes áreas.
3
Mantoan (2010), frisa que no tocante ao docente para realizar o Atendimento
Educacional Especializado, este deve ser um profissional capaz de desenvolver estratégias
pedagógicas considerando as diferentes necessidades especiais dos estudantes, propiciando
assim, novos ambientes e possibilidades de aprendizagens que permitam o desenvolvimento
dos mesmos.
Essa concepção generalista é evidenciada no documento ao fazer referência à
formação do profissional do AEE, destacando:
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base de sua formação,
inicial e continuada, os conhecimentos gerais para o exercício da docência e
conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no
atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e
interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos,
nos centros de atendimentos educacional especializado, nos núcleos de
acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos
ambientes domiciliares, para oferta dos serviços e recursos de educação especial.
(BRASIL, 2008, p.18).
4
AEE da rede municipal de ensino do município de Abaetetuba, o Setor de Educação Especial
vem desenvolvendo ações pontuais. No entanto, observa-se que a demanda por formação para
os docentes tem sido crescente para o número reduzido de profissionais que compõem a
equipe técnica, não ocorrendo, assim, a contento dos docentes da educação especial e
comprometendo uma ação mais efetiva nessa direção.
Outra problemática observada no contexto da rede de ensino, quanto a formação
continuada é decorrente da rotatividade na lotação dos docentes que atuam no AEE, pois
apesar do número expressivo de docentes efetivos na rede, ocorrem constantes
remanejamentos desses profissionais para o ensino comum.
Considera-se que, embora as ações de formação continuada voltadas para os docentes
que atuam com estudantes do AEE da rede municipal, estejam sendo efetivadas pelo Setor de
Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação (SEMEC), seus resultados precisam
ser estudados.
Assegurar a inclusão escolar dos alunos público-alvo da Educação Especial é o
objetivo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008). Porém,
indaga-se: que proposta de formação é essa propagada pela Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva Inclusiva e que embasa o trabalho da Educação Especial na Secretaria
municipal de Educação no município de Abaetetuba, no estado do Pará? Que formação é essa
que a Política Nacional direciona para os sistemas de Ensino e Secretarias de Educação e que
vai de encontro com a realidade e organização destes espaços? Uma formação visando um
profissional generalista? Um profissional especialista em tudo?
Diante deste cenário de inquietações foram delineados os seguintes
questionamentos/questões de estudo:
5
o Caracterizar a implementação da Política Nacional de Educação Especial, na
perspectiva da Educação Inclusiva, na Rede Municipal de Ensino em
Abaetetuba/PA;
6
intersetoriais para implementação de políticas públicas e caracteriza as salas de recursos
multifuncionais. Esta abordagem tem como pretensão compreender como vem se efetivando
as ações inclusivas na rede de ensino.
O quinto capítulo, discute a formação docente e o atendimento educacional
especializado, os desafios da inclusão na rede municipal de ensino de Abaetetuba, no estado
do Pará; retrata os docentes do AEE e os dilemas da formação multiprofissional e atuação
multifuncional diante dos aspectos legais da educação especial na perspectiva inclusiva;
apresenta a caracterização do perfil de formação inicial e continuada dos docentes que atuam
nas SEM, discute a temática sobre os olhares, diálogos e reflexões da prática docente no AEE,
apresentando os resultados e discussões.
Por fim, as Considerações Finais que priorizam as discussões complementares
destacadas no decorrer do estudo, fruto das experiências que se traduzem em conhecimentos
construídos ao longo da pesquisa e os quais contribuíram significativamente para o
desvelamento e compreensão acerca da investigação de como vem se configurando a
implementação da Política Nacional de Educação Especial (2008) no cenário da rede
municipal de ensino de Abaetetuba. Trata das legislações e ações direcionadas para público-
alvo da educação especial na rede de ensino e dos desafios enfrentados pelos mesmos para
realizar o atendimento educacional especializado diante da formação que possuem.
7
FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA: INCLUSÃO DO PÚBLICO-ALVO
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL – CENÁRIOS E DESAFIOS
Os dados do Censo escolar indicam que do ano de 2003 a 2014, ocorreu um aumento
significativo de 43% no número de matrículas de pessoas com deficiência em escolas
regulares/classe comum, enquanto o percentual de matrículas nas escolas especializadas ou
classes especiais vem declinando no mesmo período com 59,25%. (INEP, 2014).
Os números de crescimento das matrículas nas escolas regulares/ensino comum são
animadores, porém não se pode deixar de refletir sobre a relação desse crescimento com os
aspectos econômicos e educacionais envolvidos.
Deste modo, se considerarmos o demonstrativo do ponto de vista do repasse de
recursos destinados ao AEE nas instituições públicas e privadas e que este repasse só é
possível mediante a matrícula dos estudantes concomitantemente no ensino comum, os dados
8
apresentados podem indicar relações com a obrigatoriedade de matrícula, tendo em vista o
repasse dos recursos.
É inegável que o acesso dos estudantes à escola, conforme mostra o indicador de
crescimento das matrículas do público da educação especial nas escolas públicas do ensino
regular tem contribuído para democratização da mesma, visto que historicamente o Poder
Público sempre veio restringindo as políticas públicas de educação para esse público.
Os indicadores estatísticos sinalizam que o acesso à escolarização é uma problemática
que vem gradativamente sendo superada, pois os estudantes estão ocupando os espaços
escolares. Por outro lado, sabe-se que a inclusão escolar deve ir muito além do acesso à
escolarização, pois é preocupante quando se constata no recorte da realidade questões
referentes à frequência/permanência, aprendizagem/desenvolvimento e as condições em que
se efetiva o trabalho pedagógico no ensino regular e no atendimento educacional
especializado das escolas públicas brasileiras.
Assim, pode-se dizer que um dos desafios mais atuais está em atingir a qualidade na
educação e que esta seja para todos, uma vez que o aceso, a permanência e o sucesso escolar
dos alunos são metas que perpassam pela organização dos sistemas educacionais, pela gestão
dos recursos e formação dos professores.
Nesse sentido, o processo educativo ao ser efetivado sem as devidas condições
estruturais, passa a apresentar um resultado inverso, constituindo-se em fator que pode
contribuir para reforçar a discriminação, acentuar as desigualdades sociais e a exclusão sob
diversas formas.
A luta política em prol da inclusão tem transformado debates em embates no interior
das escolas. Pois, ao observar que seus alunos não conseguem aprender, se desenvolver e se
integrar na sociedade, os profissionais da educação se sentem frustrados e não conseguem
vislumbrar alternativas possíveis a não ser continuar se adaptando ao sistema imposto a ele e
reproduzir práticas excludentes.
A Constituição Nacional de 1988, é uma das primeiras referências na legislação
brasileira que discute a questão de direitos e deveres, citando em seu Art. 205, “[...] a
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2005, p.104).
Ainda, no Art. 206, Inciso I, da mesma legislação determina, “[...] igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola” e no (Art. 208, Inciso III), a oferta do “[...]
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino”. Essas prerrogativas contidas na Carta Magna brasileira representaram
um avanço significativo para o processo de inclusão no Brasil.
É importante esclarecer que o termo “preferencialmente” constante no referido
documento, do artigo 208, inciso III refere-se ao “Atendimento Educacional Especializado”,
este deve ser ofertado na rede regular de ensino e em todos os níveis e modalidades como
suporte para atender as necessidades/especificidades dos alunos público-alvo da educação
especial, como forma de complemento a ser ofertado pela rede regular de ensino ou fora
desta, em escolas especializadas.
A Lei nº 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, no Art. 59
determina aos sistemas de ensino que assegurem aos estudantes público-alvo da educação
especial, o seguinte:
9
III - Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para
atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados
para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV - Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em
sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de
inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins,
bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística,
intelectual ou psicomotora;
V - Acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares
disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
[...] alunos com deficiência àqueles que têm impedimentos de longo prazo, de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas
barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na
sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que
apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na
comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e
repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do
autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram
potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas:
intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes (BRASIL, 2008, p.15).
11
fazer parte da categoria de pessoa com Deficiência, ou possuir Transtorno Global do
Desenvolvimento ou Altas Habilidades/Superdotação, ou seja 25,4% desta população.
Em virtude da diversidade geográfica do município, pode-se identificar alguns fatores
considerados entraves ao processo de inclusão de estudantes público-alvo da Educação
Especial em idade escolar. Dentre as problemáticas, destaca-se a situação e as dificuldades
dos alunos que residem no campo (região das Ilhas e Ramais), pois existe um percentual de
estudantes que pouco frequenta o atendimento educacional especializado, ou que encontram-
se fora da escola devido ao grau de comprometimento de sua deficiência e/ ou por residir em
localidades distantes e de difícil acesso.
A Secretaria Municipal de Educação no município de Abaetetuba é responsável pela
administração do trabalho de 175 escolas da Educação Básica, considerando os níveis
Educação Infantil e Ensino fundamental (1º ao 5º ano) e Educação Especial e de Jovens e
Adultos. As escolas estão assim distribuídas: 43 na cidade, 50 no Campo (Ramais e Estradas)
e 82 no Campo (Ilhas), destas 19 escolas municipais possuem Salas de Recursos
Multifuncionais e 36 docentes são lotados nestas Salas. Segundo informações do Setor de
estatística da SEMEC/ Abaetetuba em 2016.
No ano de 2015, de acordo com dados do INEP/MEC foram registradas 674
matrículas de alunos Público-alvo da educação especial na rede municipal de ensino, sendo
200 matrículas nas escolas da rede de ensino que possuem Salas de Recursos Multifuncionais
e 474 em instituições especializadas filantrópicas e conveniadas com a Secretaria Municipal
de Educação. Já no ano de 2016, foram 479 matrículas, sendo 210 das escolas da rede e 269
das instituições especializadas.
Esses dados estatísticos revelam que ocorreu um decréscimo de 4,8 % nas matrículas
identificadas na APAE, que é uma das instituições especializadas e conveniada com a rede
municipal de ensino, por outro lado, observou-se aumento nas matrículas dos estudantes
público da educação especial das escolas da rede e da Associação Milton Melo, também
instituição especializada e conveniada com a Secretaria de Educação.
O anseio por uma escola de qualidade que promova a aprendizagem para todos é o que
almeja os profissionais da educação no município, bem como a sociedade de um modo geral,
entretanto a concretização deste objetivo exige permanentes ajustes na organização do sistema
de ensino, apoio e incentivo dos gestores, bem como a efetivação de Políticas públicas
inclusivas que possam atender as demandas da realidade educacional e social do município.
A partir de 2009, foram restruturados os serviços administrativos e pedagógicos do
Setor de Educação Especial e do Atendimento Educacional Especializado (AEE),
realinhando-os às diretrizes emanadas da Política de Educação Especial na perspectiva
Inclusiva (2008) e construídos novos projetos contemplando inclusive as famílias dos alunos.
A Política inclusiva na rede vem ganhando destaque, sendo reconhecida e premiada
em eventos nacionais por desenvolver experiências inovadoras de inclusão, principalmente
por meio do projeto “Professor Cuidador”2 .
Recebeu o prêmio Inovação em Gestão Educacional em 2013, pelo INEP/MEC e o
Prêmio Plataforma Cidades Sustentáveis, “Experiências Exitosas para o Mundo”, ambos com
o projeto Professor Cuidador, que também foi decisivo para o recebimento do selo UNICEF
2009/2012. O projeto objetiva melhorar a aprendizagem dos alunos incluídos no ensino
regular e concretizar os princípios da inclusão educacional.
2
Projeto Professor Cuidador: projeto que garante a inclusão de alunos Público-Alvo da Educação Especial no
ensino regular. O trabalho pedagógico é desenvolvido por um profissional pertencente ao quadro do magistério.
O Projeto visa proporcionar acompanhamento individualizado ao aluno público da Educação Especial,
viabilizando mobilidade no ambiente escolar, atendimento de necessidade de higiene e auxiliar nas atividades
pedagógicas adaptadas na sala de aula do ensino regular.
12
Cabe ressaltar aqui as ações dos gestores públicos municipais na aprovação dos
dispositivos legais direcionados ao público da Educação Especial, tais como: a
regulamentação da Lei municipal nº274/09 de 09/06/09, que cria a função de professor
tradutor de LIBRAS; a lei nº 302 de 15/12/2010, que institui o “dia da pessoa com
deficiência”; a Lei nº 401 de 07/07/2014 que dispõe sobre a obrigatoriedade de Intérprete em
Libras nos eventos públicos realizados no município de Abaetetuba; a Lei nº 408/2014, de
03/11/2014 que institui a semana municipal de conscientização e apoio aos deficientes
auditivos no âmbito do município.
Ainda, no rol dos dispositivos municipais, encontra-se a institucionalização do Plano
de Carreira, Cargo e Remuneração da Rede Pública Municipal de ensino de Abaetetuba-
PCCR, que normatiza a gratificação aos profissionais do magistério que estiverem em
exercício de docência com alunos público da educação especial ou que atuem no AEE; a
garantia de vagas para o cargo efetivo do professor intérprete de LIBRAS no concurso
público para a rede municipal, conforme o edital n.º 06/2015, de 30 de novembro de 2015.
Diante deste cenário educacional que versa sobre a educação especial inclusiva, surge
a necessidade de estudos e aprofundamentos que fomentem discussões sobre a Política de
educação especial na perspectiva inclusiva, com destaque para as experiências que vem sendo
desenvolvidas pelos docentes que atuam no atendimento educacional especializado na rede
municipal de Abaetetuba/Pá.
A investigação tem como centralidade a seguinte pergunta: Como vem sendo
implementada a Política de inclusão do público-alvo da Educação Especial no âmbito da Rede
Municipal de Ensino em Abaetetuba/PA?
Diante desta indagação e o desenvolvimento desta pesquisa, busca-se entender as
situações que por ora se apresentam no âmbito da inclusão, especificamente no que diz
respeito a Política de educação especial no município de Abaetetuba/PA, bem como
resinificar as ações pedagógicas frente a essa questão.
13
1 ASPECTOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS SOBRE AS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA
14
Compreender o seu significado, seu sentido no contexto histórico, sua amplitude e
repercussão no campo educacional e social é condição necessária para pontuar e discorrer
sobre a temática focalizando outros contextos históricos educacionais, ampliando o
entendimento sobre como se deu a efetivação de fato destas políticas e a garantia do direito à
educação ao longo da história.
O caminho percorrido de avanços e retrocessos para garantir a efetiviação da educação
inclusiva é longo. As políticas públicas implementadas a patir desses avanços, se reverteram
em leis e ações sociais que, do ponto de vista de Mazzotta (2003), são ações quedecorrem de
uma postura recente na sociedade.
Destaca-se que, nesse período, ocorreram significativas mudanças no âmbito da
educação internacional que influenciaram diretamente o contexto nacional, no que diz
respeito a Educação Especial e Inclusiva. Assim, para Santos (2008, p. 149), “[...] a escola é
uma realidade histórica em processo contínuo”. É preciso que seja entendida como uma
instituição voltada para a realização da prática pessoal e social [...], revestida de caráter
contraditório e complexo”.
No panorama desta trama histórica é importante não perder de vista, nem ignorar os
diferentes interesses que sempre estiveram imbuidos em toda e qualquerpolítica, inclusive a
educacional, pois em uma sociedade capitalista sempre esteve paralelamente presente o
dualismo na educação.
Sobre isso, Saviani (2003) discute muito bem e alerta para a coexistência nesse tipo de
sociedade de dois modelos paralelos de educação: um que avança nos conhecimentos
produzidos,o qual é destinado à elite dominante, e outro que forma o homem para o trabalho,
para a mão de obra. Este último destinado, obviamente, à classe dominada. Assim, os
paradigmas educacionais foram se configurando.
Para discorrer sobre o contexto da educação dos anos 1990, é importante um breve
resgate histórico no final da década de 1980. No Brasil vivenciava-se a forte influência do
“modelo” da integração escolar3, período no qual ocorreu a inserção de pessoas com
deficiência nas escolas. Esse modelo integracionista se intensificou desde a década de 1970 e
perdurou por aproximadamente trinta anos. Suas concepções foram evidenciadas em alguns
documentos legais e contribuíram para tardar a efetivação de práticas pedagógicas inclusivas
nas escolas, práticas estas que se diferem na perspectiva de que a escola deve se adaptar ao
estudante e não o contrário.
Por outro lado, é importante frisar que ao proceder na defesa da inclusão como uma
atitude de superação do processo integrativo, não se pode deixar de reconhecer que de certa
forma a integração favoreceu o movimento inclusivo. Considerando que nesse período os
países desenvolvidos já discutiam e implementavam a concepção de inclusão na educação. Os
educadores na época, porém receberam duras críticas e o cenário social e educacional foi
marcado por conflitos e incertezas, tanto advindas das famílias, como dos educadores.
A família não se sentia segura para matricular seus filhos na escola especial para poder
se integrar posteriormente na escola regular. Ao passo que o processo inverso também
ocorria, quando os pais de alunos, “ditos normais”, se sentiam receosos com a inserção de
crianças “especiais” no ensino comum.
Os educadores manifestaram inseguranças diante de novas demandas que desafiavam
seu profissionalismo. Assim, apesar do público da educação especial ocupar o mesmo espaço
3
Modelo educacional que vigorou a partir da década de 1970, fundamentado no princípio de que a pessoa com
deficiência deveria estar inserida no ensino regular, conforme suas condições e capacidades. Os atendimentos
educacionais especializados eram realizados em espaços como: escolas especiais, classes
hospitalares/domiciliares, classes especiais, ensino itinerante e Serviço de Apoio Pedagógico Especializado -
SAPE. As classes especiais, como uma das modalidades de atendimento foi alvo de muitas críticas.
15
educacional, possibilitado pelo processo de inclusão, havia uma dicotomia entre os dois
contextos: da educação regular e o da educação especial.
Portanto, o movimento favorável a inclusão ganhou força na década de 1990, com
fortalecimento dos debates sobre a democratização do ensino, o direito e a equidade. A
educação passou a ser considerada um dos direitos fundamentais e assegurada na Constituição
Federal, visando a inclusão social do indivíduo.
O direito de todos à educação na rede regular de ensino já havia sido preconizado pela
Constituição Federal Brasileira de 1988, também denominada “Constituição Cidadã”. E no
art. 1º, inciso II e III que elegeu como fundamentos da República, a cidadania e a dignidade
da pessoa humana, esta normatização se tornou um marco democrático importantíssimo no
processo de inclusão no Brasil.
A lei estabeleceu como um de seus objetivos fundamentais a promoção do bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação, art. 3º, inciso IV.
O documento constitucional garantiu também, no seu artigo 5º, “o direito à igualdade”
e no artigo 205 e seguintes, “o direito de todos à educação”. Elegeu ainda, no seu artigo 206,
inciso I, como um dos princípios para o ensino, a “igualdade de condições de acesso e
permanência na escola”. Estipulou que o ensino seria ministrado com base, entre outros
princípios, na “[...] igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (BRASIL,
1988, p. 34).
No art. 208, da mesma lei que trata do dever do Estado na garantia da educação citou
no inciso III: o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”; a lei utilizou o termo “portador de deficiência”,
conforme o contexto e referências teóricas e filosóficas da época.
Complementando o que a Constituição Federal havia previsto, a Lei nº 7.853/1989,
salientou a garantia dos direitos sociais e institucionalizou a CORDE - Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. A lei declarou em seu art. 2º o
seguinte:
Em 1989, foi promulgada a Lei nº 7.853/1989, que foi regulamentada pelo Decreto-lei
nº 3.289/20/12/1999, dispondo sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência. O dispositivo compreendeu as diretrizes que objetivam assegurar o
pleno exercício dos direitos sociais e individuais das “pessoas portadoras de deficiência”,
conforme o disposto no art. 7º:
16
A garantia do direito à educação também é expressa na Lei nº. 8.069/90, que constitui
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), como se pode observar no artigo 53º: “A
criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho [...]” (BRASIL,
1990, p.38 e 39).
Em 1990, por meio do Decreto nº 99.678, a Educação Especial e Educação Básica
passam a ser competências da SANEB - Secretaria Nacional de Educação Básica, esta
constitui um órgão do Departamento de Educação Supletiva e Especial (DESE). À secretaria
competia ações diversas de operacionalização técnica e pedagógica direcionadas à Educação
Básica e Educação Especial.
A Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), evento internacional ocorrido
em Tailândia e o Plano Nacional de Educação para Todos (1993), constituíram-se em marcos
importantes da política educacional em prol da Inclusão e tiveram seus conceitos
aprofundados e divulgados com a Declaração de Salamanca (1994), documento que repercutiu
mundialmente. Este documento, já sinalizava os princípios do processo de inclusão escolar,
conforme segue o trecho do referido documento:
[...] a inclusão escolar constitui, portanto, uma proposta politicamente correta que
representa valores simbólicos importantes, condizentes com a igualdade de direitos e
de oportunidades educacionais para todos, em um ambiente educacional favorável.
Impõe-se como uma perspectiva a ser pesquisada e experimentada na realidade
brasileira, reconhecidamente ampla e diversificada (BRASIL, 1998, p. 17).
18
O dispositivo repercutiu significativamente, indicando a necessidade de se proceder a
reinterpretação dos verdadeiros propósitos da Educação Especial, o qual consistia em eliminar
qualquer tipo de barreiras que impedissem o acesso e a efetivação do processo de
escolarização dos alunos no ensino regular.
O Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 10.171/ 2001, revelou que apesar
das exigências direcionadas às diferentes esferas administrativas no cumprimento das metas e
objetivos pelos sistemas de ensino na ampliação do acesso e permanência na Educação
Básica, estas se destoaram da realidade e dificultaram o alcance da meta inicial,
principalmente quando se observa no diagnóstico do documento sobre a oferta de matrículas
dos alunos no ensino regular, a formação docente, as instalações físicas e o atendimento
especializado. Assim, consta no teor da lei:
19
compreensão da temática: Políticas públicas efetivadas no Brasil. Assim, seguem os atos
normativos:
A Resolução CNE/CP Nº 1, de 18 de fevereiro de 2002, instituiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, orienta as
instituições de Ensino Superior para que seja previsto em sua organização curricular formação
docente voltada a Educação Especial.
Em 2002, foi identificado importante conquista na área da surdez com a instituição da
Lei nº 10.436/02, a qual reconhece a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como “[...] meio
legal de comunicação e expressão” dos surdos (BRASIL, 2002), determinando a garantia das
formas de uso e difusão e a inclusão da disciplina de Libras como parte dos cursos de
formação e de fonoaudiologia. Em 2005, com a aprovação do Decreto nº 5.626 (BRASIL,
2005), essa lei foi regulamentada, prevendo o direito dos alunos surdos ao acesso às escolas
ou classes bilíngues e o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua.
A Portaria nº 2.678/2002 aprova as diretrizes e normas para o uso, o ensino, a
produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo
o projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo
o território nacional.
Em 2003, o MEC lança por intermédio da Secretaria de Educação Especial - SEESP, o
Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. O referido programa veio contribuir para
formação dos gestores e educadores das redes estaduais e municipais, bem como melhorar a
qualidade na educação oferecida pelos sistemas de ensino no âmbito da inclusão escolar.
Realizar Seminário Nacional de Formação para coordenadores municipais e dirigentes
estaduais; entre as ações do programa está o apoio técnico e financeiro, a orientação e a
organização da formação de gestores e educadores dos municípios, bem como disponibilizar
referenciais pedagógicos para a formação regional.
Com o avanço da inclusão e das políticas públicas implementadas, logo estas
refletiram no significativo crescimento no número de matrículas dos alunos público-alvo da
educação especial nas redes municipais de ensino.
O Decreto nº 5.296/2004, regulamenta a Lei nº 10.048 de 2000, que dá prioridade de
atendimento e a Lei n. º 10.098 de 2000. Estabelece as normas gerais e os critérios básicos
para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida e
especifica outras providências. Destaca-se que a barreira não se configura apenas em um
obstáculo físico e visível, ela pode também ser representada solidamente por atitudes e ações
que tornam uma ideia impraticável.
Ainda em 2004, o Ministério Público Federal torna público o documento intitulado “O
Acesso de Alunos com Deficiência às Classes Comuns da Rede Regular”, o dispositivo
objetiva difundir conceitos e tratados mundiais sobre a inclusão.
O Decreto nº 5626/2005, regulamentou a Lei Federal nº 10. 436/2002, reconheceu a
Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão; determinou a
garantia e formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da LIBRAS; esta língua passa
a ser incluída como disciplina nos cursos de formação de professores.
Em 2005, foram implantados vários Núcleos de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotação (NAAHS) nos estados e no Distrito Federal como referência no
atendimento a estudantes e orientação a pais e professores.
A Secretaria de Educação Especial/MEC, expediu em 2005 o documento Subsidiário à
Política de inclusão contendo ações orientadoras para os sistemas de ensino, visando a
readequação dos espaços das escolas públicas que atendam às necessidades educacionais dos
educandos.
Em 2006, a partir da ação conjunta entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO, é lançado o Plano Nacional
20
de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), a proposta tem como objetivo contemplar no
currículo da educação básica, temáticas relativas a Inclusão e desenvolver ações afirmativas
para o acesso e a permanência na educação superior.
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado pelo Governo Federal no
ano de 2007, apresenta os eixos sobre acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares,
implantação das salas de recursos e a formação docente para o atendimento educacional
especializado, definindo metas para acesso e a permanência do ensino comum/regular dos
estudantes com deficiência.
O Plano tem como meta a redução da defasagem do Brasil em relação aos países
desenvolvidos e no documento foram proposta ações diversas direcionadas à área da educação
especial, tais como: formação dos professores, implantação de salas de recursos
multifuncionais, promoção de acessibilidade arquitetônica nos prédios escolares, o acesso e
permanência das pessoas com deficiências na educação superior, bem como o monitoramento
do acesso à escola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC.
O Decreto nº 6.094/2007, referiu-se à implementação do Plano de Metas
“Compromisso Todos pela Educação”. Este decreto se traduziu pelos esforços, em regime de
colaboração entre a União, os Estados e o Distrito Federal, juntamente com as famílias e a
comunidade em prol da qualidade na educação e visando a garantia do acesso e permanência
no Ensino Básico.
Ressalta-se que com a adesão do Plano de Metas, os estados, os municípios e o
Distrito Federal passaram a elaborar também seus Planos de Ações Articuladas (PAR),
ocasionando mudanças na organização e estruturação do Ministério da Educação (MEC).
Nesse sentido, foi criada a Secretaria de Educação, Diversidade e Inclusão (SECADI), no
intuito de apoiar estados e municípios nas políticas educacionais na perspectiva da inclusão.
No ano de 2008, é lançada a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da
Educação Inclusiva que veio reforçar as diretrizes contidas em documentos anteriores. Suas
diretrizes versam sobre o direito à Educação Especial Inclusiva, em todos os níveis. Ou seja,
estabelece direitos educacionais para que seu público alvo possa exercer sua plena cidadania.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
trouxe questões importantes para o acesso e a aprendizagem dos estudantes público da
educação especial nas escolas regulares e no atendimento especializado, orientando e
direcionando os sistemas de ensino com ações inclusivas considerando a transversalidade da
educação especial; a possibilidade de continuidade dos estudos nos níveis mais elevados do
ensino; formação de professores e demais profissionais da área; a importância da participação
da família e da comunidade; acessibilidade urbanística e arquitetônica e a necessidade de
articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.
No entanto, esta política nacional quando se refere aos profissionais para atuar na
Educação Especial, não deixa bem claro o que compete a cada categoria profissional. Delega
competências aos sistemas atribuindo responsabilidade estes quanto a disponibilização das
“funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia intérprete, bem como de monitor ou
cuidador de alunos” (BRASIL, 2008, p. 09).
Na atuação das Salas de Recursos Multifuncionais a política nacional cita apenas o
“professor” para atuar neste espaço. Pontua que os profissionais devem ter formação inicial e
continuada, “ [...] conhecimentos gerais para o exercício da docência e específicos da área”.
Cita que: “Essa formação possibilita a atuação no Atendimento Educacional Especializado e
deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comum do ensino
regular. ” (BRASIL, 2008, p.10).
Por último, ressalta que “esta formação deve comtemplar conhecimentos de gestão de
sistemas educacionais inclusivos, tendo em vista o desenvolvimento de projetos em parceria
com outras áreas [...]” (BRASIL, 2008, p.10).
21
Assim, observa-se que Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva apresenta inconsistências, principalmente em questões referentes a
formação e atuação profissional do professor.
O Decreto nº 6.571/2008, revogado pelo Decreto 7.611/2011, discute as determinações
contidas no novo decreto e retoma o termo do inciso VII do mesmo documento,
“preferencialmente” na rede regular de ensino, utilizado na constituição federal de 1988, em
substituição ao termo “prioritariamente” do decreto anterior. O dispositivo frisa ainda no
parágrafo 2º do Art.2º, o que compreende por serviço educacional especializado “[...] um
conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e
continuamente”.
Um dos aspectos que merece destaque pelo avanço na política diz respeito a definição,
de modo claro, do público-alvo a ser atendido pela Educação Especial, atualmente ratificado
pelo Decreto nº 7611/2011, assim, no §1º designa: “considera-se público-alvo da educação
especial, pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades
ou superdotação”. (BRASIL, 2011.p 01).
Em 25 de agosto de 2009, foi promulgada por meio do Decreto nº 6.949, a Convenção
Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e seu protocolo facultativo,
assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. O documento teve como objetivo
promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua
dignidade inerente a todo ser humano.
O texto da Convenção Internacional definiu o conceito de Pessoa com Deficiência no
Art. 1º “[...] são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais
pessoas”.
E no Art.3º o documento cita os Princípios gerais dos direitos humanos:
22
especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, em
todas as faixas etárias e níveis de ensino, em condições e horários adequados às necessidades
dos alunos” (BRASIL, 2010, p.01).
O Decreto nº 7.611/ 2011, citado anteriormente, dispõe sobre a Educação Especial e o
Atendimento Educacional Especializado, sinalizou o apoio técnico e financeiro prestado pela
União aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios, do Distrito Federal, bem
como às instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos; e
estabeleceu o seu financiamento no âmbito do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação Básica (FUNDEB).
Em 2011, é instituído o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência “Plano
Viver sem Limites”, por meio do Decreto nº7.612, de 17 de novembro de 2011. O objetivo do
Plano é promover a integração e articulação de políticas, programas e ações; o exercício pleno
e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência nos termos da Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. O plano visa promover a inclusão social das
pessoas com deficiência e o fortalecimento do regime de colaboração entre os entes
federados, visando o desenvolvimento inclusivo das escolas públicas.
A Nota técnica nº 62 – MEC de 08 de dezembro de 2011, trata das orientações
direcionadas aos Sistemas de Ensino sobre o Decreto nº 7.611/2011, quanto aos fundamentos
legais da educação inclusiva.
A Nota técnica Nº 05 – MEC/SECADI/GAB/2011, refere-se a orientações sobre
implementação da educação bilíngue. Assim, evidencia a importância do AEE para a
efetivação da proposta de educação bilíngue estabelecida no Decreto nº 5626/2005, a partir da
disponibilização dos serviços de tradutor/intérprete e o ensino de LIBRAS para os estudantes.
A Nota técnica Nº 08 – MEC/SEESP/GAB/2011, trata da orientação para promoção de
acessibilidade nos exames nacionais e chama atenção para a responsabilidade dos órgãos
federais, municipais e estaduais em assegurar as condições necessárias para o pleno acesso e
participação de estudantes com deficiência nos exames de avaliação institucional ou de
desempenho estudantil.
Nota técnica Nº 07 – MEC/SEESP/GAB/2011, trata sobre o Instituto Nacional de
Educação de Surdos (INES) e Instituto Benjamim Constant (IBC). Sinaliza as orientações do
MEC para a continuidade do processo de transformação e fortalecimento das instituições
especializadas como centros de referência nacional nas áreas de formação de educadores e
produção de matérias didáticas acessíveis.
Nota técnica Nº 06 – MEC/SEESP/GAB/2011, trata sobre a avaliação de estudantes
com deficiência intelectual, ratificando a avaliação como parte integrante e inseparável do
processo de ensino e aprendizagem.
Nota técnica Nº 03 – MEC/SEESP/GAB/2011, discorre sobre o atendimento de
estudantes público-alvo da Educação Especial com 18 anos ou mais; sugere a matrícula dos
estudantes com 18 anos ou mais em cursos de educação de jovens e adultos, para que
continuem seus estudos.
A Lei 12.764/2012 - institui a Política de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos direitos e
liberdade fundamentais de seu público-alvo.
No dia 30 de maio de 2012, foi publicada a Resolução CNE/CP nº 01 que estabeleceu
as Diretrizes Nacionais para a Educação dos Direitos Humanos. O documento visa estabelecer
as diretrizes nacionais sobre a educação em direitos humanos na educação básica e superior a
serem observadas pelos sistemas de ensino e instituições educacionais, esclarece no parágrafo
1º “Os direitos Humanos, internacionalmente como um conjunto de direitos civis, políticos,
sociais, econômicos, culturais e ambientais, sejam eles individuais, coletivos, transindividuais
ou difusos, refere-se à necessidade de igualdade e defesa da dignidade humana”.
23
A Nota Técnica nº 24 – MEC/SACADI/DPEE/2013, foi publicada com o objetivo de
orientar os Sistemas de Ensino para a implementação da Lei nº 12.764/2012. Ratifica os
direitos assegurados a Proteção e os Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
A Nota Técnica nº 28 - MEC/SECADI/DPEE/2013 – discorre sobre o Projeto “Uso do
Sistema de Frequência Modulada (FM) na escolarização de estudantes com deficiência
auditiva” e a Nota Técnica nº 055 – MEC/SECADI/DPEE/2013 – orienta à atuação dos
Centros de AEE, na perspectiva da educação inclusiva. Para tanto, ratifica os fundamentos
legais, políticos e pedagógicos do Atendimento Educacional Especializado bem como o
caracteriza enquanto serviço/suporte para a consecução da orientação inclusiva de Educação
Especial, além de outros direcionamentos.
Os Referenciais de acessibilidade na Educação Superior e a Avaliação in loco do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), em 2013, é um documento
orientador, com o propósito de subsidiar a avaliação educacional em seus diferentes níveis.
No dia 04 de abril de 2013, foi promulgada a Lei nº 12.796, que alterou a Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996. Assim, a LDB dispõe diretamente que os sistemas de ensino
devem assegurar o AEE considerando as dimensões curriculares e organizacionais, bem como
a adaptação e a flexibilização da dinâmica escolar visando à efetiva inclusão do aluno na vida
em sociedade.
Nota Técnica nº 04 – MEC/SECADI/DPEE/2014 – trata de documentos
comprobatórios de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas/superdotação no Censo Escolar. Nesse sentido, orienta para a necessidade do diagnóstico
clínico para declará-lo no Censo escolar e garantir o Atendimento Educacional Especializado
e que a declaração dos estudantes público-alvo da Educação Especial, no âmbito do Censo
Escolar, deve alicerçar-se nas orientações contidas na Resolução CNE/CEB, nº 4/2009.
A Nota Técnica Nº 29 – MEC/SECADI/DPEE/2014 – a qual encaminha ao Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação, o Termo de Referência para aquisição de
brinquedos e mobiliários acessíveis visando à aquisição de brinquedos pedagógicos para
disponibilizar aos municípios que apresentam situações de exclusão educacional de crianças
com deficiência, na faixa etária de 0 a 5 anos.
O Plano Nacional de Educação (2014-2020), foi aprovado recentemente pela Lei nº
13.005/2014. Trata em seu Eixo II, sobre a Educação e Diversidade: Justiça Social, Inclusão e
Direitos Humanos. O documento representa importante avanço quanto à perspectiva inclusiva
na Educação Especial.
A Nota Técnica Conjunta nº 02 – MEC/SECADI/DPEE – SEB/DICEI/2015, traz
orientações sobre a organização e oferta do Atendimento Educacional Especializado na
Educação Infantil. Enfatiza a importância desse serviço neste nível de ensino e conclama para
que as ações possam garantir os direitos fundamentais de todas as crianças.
Em 03 de março de 2015, foi lançada pelo MEC/DECAD/DPEE a Nota Técnica
nº15/2015 que trata da avaliação técnica do indicador relativa ao cumprimento da Meta 4
prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei nº 13.005/2014. A referida
meta trata da universalização do acesso à Educação Básica e ao atendimento educacional
especializado ao público da educação especial na faixa etária de 04 a 17 anos e que este
atendimento seja realizado preferencialmente na rede regular de ensino, com garantia de
sistema educacional inclusivo, salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços
especializados públicos ou conveniados.
Nota Técnica nº 20 – MEC/SECADI/DPEE/2015- orienta os sistemas de ensino no
cumprimento do artigo 7º da Lei nº 12.764/2012, regulamentada pelo Decreto nº 8368/2014.
O documento orienta os sistemas públicos e privados sobre a atuação de gestores escolares e
de autoridades competentes, em razão da negativa de matrícula a estudantes com deficiência.
Em 2015, a Lei nº 13.146 – instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
24
Deficiência (Estatuto da Pessoa com deficiência), assegurando condições de igualdade, o
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando à sua
inclusão social e cidadania.
A Portaria nº243, foi expedida em 15 de abril de 2016. O MEC publicou em seu texto,
os critérios e exigências técnicas para o funcionamento, a avaliação e a supervisão de
instituições públicas, privadas e confessionais que prestam atendimento educacional a alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação e se
posiciona quanto as outras determinações relacionadas a oferta do AEE. Juntamente com essa
Portaria, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão-
SECADI/ MEC, divulgou a Nota Técnica nº 35/ 2016, na qual recomenda a adoção imediata
dos critérios para tais instituições.
No dia 16 de março de 2016, foi expedida a Nota Técnica nº 25 / 2016 / DPEE /
SECADI / MEC que trata das orientações para o acolhimento dos bebês com microcefalia
pela educação infantil, assegurar o acesso à educação infantil, em creches e pré-escolas, às
crianças na faixa etária de 0 a 05 anos de idade, como dever do Estado, evidenciando de
forma inequívoca o caráter educativo dessas instituições.
O percurso histórico sobre a trajetória das políticas públicas, a partir da década de
1990, é longo, mas permite adquirir uma visão do quanto é difícil mudar uma concepção de
educação que na sua essência veio impregnada de conceitos excludentes. É possível
vislumbrar também, nesse percurso o quanto já se avançou em algumas questões e, ao mesmo
tempo, compreender o quanto temos ainda a caminhar para que a igualdade de direitos e
equiparação de oportunidades realmente se efetive em nosso país.
Na trajetória história das políticas públicas direcionadas para a educação especial na
perspectiva inclusiva, os conflitos políticos, os antagonismos e os paradoxos estão intrínsecos.
Pois, os dispositivos legais em determinados momentos históricos avançam, com propostas
inovadoras, porém quando adentra para o campo da implementação e efetivação, ocorre uma
descontinuidade, principalmente nas ações dos sistemas públicos de ensino e nas escolas.
Mantoan (2003) se posiciona esclarecendo que o avanço na educação especial inclusiva se
verifica mais nos campos conceituais.
Concordo com Oliveira (2004) quando afirma que a Educação Especial é bastante
discutida; no entanto, apesar do discurso de “educação para todos”, percebe-se que há um
distanciamento entre o ensino comum e a educação especial
Mantoan (2003) se posiciona sobre essa questão e comunga do mesmo pensamento, e
esclarece que:
25
das ações propostas para que os alunos possam de fato sentir-se incluídos e receber uma
educação que se afirme humana, plural e solidária.
26
2 PERCURSOS METODOLÓGICOS PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO:
SOBRE TRAJETÓRIAS, CAMINHOS... ESCOLHAS COMO PONTO DE PARTIDA
27
Assim, Minayo (2008), compara a pesquisa qualitativa como um procedimento
contínuo de investigação, em que a cada etapa surgem novas inquietações e a classifica em
três fases:
1) Fase exploratória: refere-se à organização de todos os procedimentos prévios necessários a
estruturação da pesquisa;
2) O trabalho de campo: é a execução empírica da construção teórica produzida na etapa
anterior;
3) O tratamento e análise: consiste na interpretação dos dados em confronto com as
referências teorias que fundamentam a pesquisa.
As definições das concepções teóricas que nortearam o percurso investigativo foram
imprescindíveis. Pois, como afirma Gatti (2002, p.43), “método não é algo abstrato. Método é
ato vivo, concreto, que se revela nas nossas ações, na nossa organização do trabalho
investigativo, na maneira como olhamos as coisas no mundo”.
O estudo envolveu: pesquisa bibliográfica e de campo, incluindo levantamento e
análise documental e coleta de dados em campo. A metodologia foi constituída de dois
momentos: no primeiro momento contou com a revisão da literatura, com o levantamento dos
aportes, dos marcos históricos e legais referentes a política de educação inclusiva e
documentos oficiais internacionais e nacionais sobre a temática em questão, aprovados a
partir da década de 1990, apresentando assim, o panorama das transformações históricas
transcorridas até o marco de consolidação da política atual.
A pesquisa teve como base para fundamentação teórico-metodológica, referências
tais como: Candau, que trata da formação continuada dos professores em suas diversas
dimensões; Freire, teórico clássico da educação que propõe por meio de suas obras discussões
críticas sobre educação e prática pedagógica; Pirrenoud que dialoga sobre a prática
pedagógica reflexiva e Tardif, que desenvolve discussões importantes sobre os saberes
docentes.
Dentre os autores que discutem a Educação Inclusiva e Educação Especial na
perspectiva inclusiva, encontram-se: Baptista, autor que discorre sobre as políticas de inclusão
educacional no Brasil e as Salas de Recursos Multifuncionais; Mantoan, uma das primeiras
autoras a discutir o processo de inclusão no contexto educacional brasileiro e que participou
do processo de construção da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
Inclusiva (2008); Mazzotta, que discute a trajetória histórica da educação especial no Brasil;
Damasceno, autor e pesquisador na área que discute questões referente as Políticas inclusivas,
Educação Especial e formação de professores.
Ainda, Oliveira, autora e pesquisadora paraense que discute a Educação, bem como a
formação de professores na Educação Especial; Santos e Pietro que dialogam sobre políticas
inclusivas e Januzzi que descreve e discute a trajetória histórica da Educação Especial no
Brasil, entre outros. Estes autores deram suporte teórico no decorrer da pesquisa.
No segundo momento do estudo, dedicado ao trabalho de pesquisa de campo,
realizou-se o procedimento de coleta de dados, com aplicação de questionários para o
levantamento do perfil de formação de todos os professores que atuam nas Salas de Recursos
Multifuncionais da rede de ensino; pesquisa na Secretaria Municipal de Educação sobre os
documentos oficiais e dados estatísticos existentes relacionados ao assunto em questão,
observação nos espaços das SRM em três escolas do município de Abaetetuba-Pará, locus de
atuação dos professores que realizam o AEE e as entrevistas junto aos professores e
Coordenadora do Setor de Educação Especial da SEMEC/ Abaetetuba-PA.
28
2.2 Objetivos do Estudo
Quais as ações são desenvolvidas pelos professores atuantes nas Salas de Recursos
Multifuncionais (SRM) no município de Abaetetuba/PA para o atendimento das
29
demandas de aprendizagem dos estudantes público-alvo da educação especial? Existe
relação entre suas ações e formação?
O município de Abaetetuba, cenário macro deste estudo, possui 122 anos (1895-
2017). Está situado no estado do Pará, pertence à Mesorregião do Nordeste Paraense e à
Microrregião de Cametá. Compreende os municípios de: Abaetetuba, Baião, Barcarena,
Acará, Cametá Limoeiro do Ajuru, Igarapé-Miri, Tailândia, Oeiras do Pará, Mocajuba e
Moju. Estes municípios pertencem à região do Baixo Tocantins.
Segundo estimativas do IBGE (2016), Abaetetuba possui uma população de 151.934
mil habitantes, constituindo-se no 7º município mais populoso do Estado do Pará com
extensão territorial de 1.610.408 Km2, conforme a ilustração a seguir:
Está localizado às margens direita da foz do rio Tocantins, banhado pelo do Rio
Maratauíra, um dos afluentes do Rio Tocantins. O tráfego de embarcações no rio é intenso
pelas idas e vindas diárias dos “ribeirinhos”4, assim denominado os moradores das ilhas de
Abaetetuba.
O movimento nos rios de “Abaeté”, nome designado à cidade pelos seus moradores,
se justifica pela produção do açaí em larga escala, fruto nativo que é consumido localmente e
exportado para diversos estados do País e para o exterior, além dos produtos extrativistas,
artesanais e do pescado que é transportado e comercializado pelos ribeirinhos na feira livre da
cidade, conforme as figuras 03 e 04.
4
Os ribeirinhos são caracterizados por sujeitos que possuem uma cultura diferenciada, que vivem nas terras de
várzea e retiram seus sustentos das águas e da floresta. São exímios pescadores, caçadores, trabalhadores em
olarias, produtores de açaí e roças de farinha de mandioca, dentre outras atividades.
30
Figura 03- Rio Maratauira
31
Figura 05 - Igarapés nas Ilhas de Abaetetuba
32
Situada cerca de 60 km em linha reta de Belém, a capital do Estado, e de 110 km por
via rodoviária, a cidade de Abaetetuba vem passando por acelerado processo de expansão,
principalmente após a construção do elo viário sobre os rios Guamá, Acará e Moju, ligando o
município à Região Metropolitana de Belém e a outros municípios do Estado. A inauguração
do Projeto da Alça Viária, no ano de 2002, concretizou a integração de Abaetetuba às novas
áreas pela rodovia PA-252.
O município configura-se como um dos importantes polos da região, o que faz com
que Abaetetuba seja um entreposto de referência para outros municípios vizinhos. As
principais atividades econômicas na área urbana concentram-se nos setores do comércio e
serviços. Na área rural destaca-se a agricultura familiar, a pesca artesanal e o cultivo do açaí.
A cidade é considerada atualmente a “capital mundial do brinquedo de miriti”. Os
artesanatos de miriti são confeccionados a partir da palmeira do Buritizeiro ou Miritizeiro,
como é conhecido o vegetal pelos abaetetubenses. O artesanato é a expressão da cultura local
e retrata o imaginário do povo amazônico e a variedade da fauna e flora da região.
A planta do Buritizeiro, matéria prima para a confecção do artesanato pertence à
família das Arecáceas, de nome científico Mauritia Setigera é nativa da região, com
concentração principalmente em áreas de várzea, conforme descreve a ilustração abaixo:
33
Abaetetuba vem passando por um acelerado processo de transformação e expansão
urbana. Concentra suas principais atividades econômicas no comércio, em serviços, na
agricultura e na pesca, além dos serviços autônomos que formam o contingente de geradores
de renda e desenvolvimento do município.
Para a caracterizar o perfil de formação dos docentes que atuam nas Salas de
Recursos Multifuncionais e identificar os reflexos desta no atendimento dos estudantes
público-alvo da Educação Especial foram entrevistados neste estudo 34 (trinta e quatro)
docentes, envolvendo as localidades da Sede do município e do Campo (Estradas, Ramais e
Ilhas), atingindo 94,44% dos docentes lotados nas SRM, os quais responderam questionários.
No entanto, deste universo de docentes, participaram das entrevistas semiestruturadas
apenas 03 (três) docentes, lotados em Sala de Recursos Multifuncionais e 01 (uma)
Coordenadora do Setor de Educação Especial da SEMEC/ Abaetetuba-PA.
Os docentes selecionados constituíram representatividade do universo dos
profissionais lotados na escola da área urbana e na área rural (Estradas/Ramais e Ilhas). O
trabalho com amostragem apoiou-se em Marconi e Lakatos (2010, p.206) que conceituam
amostragem como uma representatividade de uma população selecionada.
A pesquisa teve como foco, os espaços do Setor de Educação Especial da Secretaria
Municipal de Educação do município de Abaetetuba- SEMEC e as Salas de Recursos
Multifuncionais das Escolas da Rede Municipal de Ensino. Do universo de 19 (dezenove)
escolas municipais que possuem SRM, foram selecionadas apenas 03 (três) escolas, na
condição de representatividade, cada uma retratando as diferentes realidades constituídas na
área urbana e rural (Estradas e Ramais e Ilhas).
35
2.6.3 Entrevista semiestruturada
Se nos revela como algo que já poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao
encontrarmos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais que um meio para
que ele se faça, se nos impõe buscar, também seus elementos constitutivos.
(FREIRE, 1986, p.89).
36
2.7 Instrumentos de Coleta: Questionário
37
3 EDUCAÇÃO ESPECIAL: ORGANIZAÇÃO HISTÓRICO-POLÍTICA DA
MODALIDADE NO MUNICÍPIO ABAETETUBA/PA
5
Termo clínico: refere-se à seleção dos estudantes para receber o Atendimento educacional especializado.
38
Figura 09 – Prédio provisório da “Casa Bem-te-vi ”.
Fonte: APAE/Abaetetuba.
Aos poucos este espaço tornou-se pequeno, pois além de atender crianças e jovens do
município de Abaetetuba a instituição foi expandindo os serviços aos municípios vizinhos,
tais como: Igarapé-Miri, Barcarena e Moju, entre outros.
No ano de 1990, com a doação de um terreno pela família Ribeiro de Andrade, foi
possível edificar o prédio próprio da instituição, por intermédio do convênio com a extinta
Legião Brasileira de Assistência (LBA), com o Banco Nacional do Desenvolvimento - BNDS
e com o Ministério da Educação – MEC.
No contexto educacional da época, vivenciava-se no município de Abaetetuba o
paradigma educacional da integração; os alunos com deficiência eram “preparados” nas
classes especiais para posteriormente ingressarem no ensino regular. Oliveira (2004),
caracteriza bem esta fase da educação especial no contexto nacional e afirma que o
atendimento da época apresentava um caráter clínico e assistencialista que perdurou até os
anos 1990.
Conforme o Plano Municipal de Educação (2012), os alunos passaram a frequentar
classes especiais. Assim, paralelo ao contexto educacional da época, o processo de expansão
social e econômico no município, ocasionado, entre outros motivos, pela migração de parte
dos moradores ilhas para a sede do município, este ocasionou significativo crescimento no
número de matrículas dos alunos e consequentemente na busca por capacitação pelos
educadores envolvidos com a educação especial. As mudanças ocorridas podem ser
traduzidas nas palavras de Caputo (2003):
39
concepção da inclusão à luz dos indicativos contidos na Declaração Mundial de Educação
para Todos (1990) e na Declaração de Salamanca (1994).
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 se constituiu em um marco para a
educação inclusiva, com a valorização do pleno desenvolvimento das potencialidades
humanas e a inclusão de todos os alunos no ensino comum, inclusive aqueles que
apresentassem alguma limitação.
Atualmente, a APAE é uma das instituições percursoras no trabalho da educação
especial no município de Abaetetuba, encontra-se localizada no prédio próprio situado à rua,
Brigadeiro Eduardo Gomes, nº 1767, no bairro da Aviação, onde funciona conjuntamente o
Complexo Educacional e Terapêutico “Casa bem-te-vi” e a Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais – APAE. As atividades terapêuticas e pedagógicas são organizadas e
desenvolvidas atualmente por três centros: Centro de Atendimento Multidisciplinar e Saúde
(CAM), o Centro de Apoio Educacional Especializado (CAEE) e o Centro de
Profissionalização Emprego e Renda “Helena Vinagre”.
Posteriormente, outras entidades passaram a se organizar. Assim, no dia 07 de agosto
de 1994, foi fundada a Associação dos Deficientes do Município de Abaetetuba-ADEMA,
entidade de caráter associativo e sem fins lucrativos, voltada para a defesa dos interesses e
direitos das pessoas com deficiência.
Esta associação surgiu a partir da mobilização de um pequeno grupo de pessoas que
apresentavam deficiência física e que se organizaram em prol e defesa de seus direitos, com o
intuito de promover melhor qualidade de vida, inclusão e integração educacional, social,
política, econômica e cultural aos integrantes da associação e demais abaetetubenses que
necessitarem dos serviços desta Associação. Nesse sentido, visando a constituição e
estruturação da associação, foi eleita a primeira diretoria.
Foram inúmeros os desafios, pois sem sede própria as reuniões da associação
ocorriam em espaços físicos provisórios, chegando a ponto de ser necessário realizar reuniões
até mesmo em praça pública para poder deliberar sobre demandas importantes para os
associados.
Aos poucos a ADEMA foi se estruturando e diante das dificuldades para manter o
funcionamento institucional, pleiteou o convênio com a Prefeitura do município, à qual
passou a arcar com algumas despesas como o aluguel da sede provisória, conta de luz, entre
outras.
Com o passar dos anos o número de associados foi aumentando e a ADEMA foi
aprimorando o seu trabalho, buscando outras parcerias e convênios, bem como procurando se
integrar nos diferentes contextos e setores da vida social do município. Atualmente a
instituição conta com um quadro de associados de 1.236 pessoas, sendo 145 pessoas com
deficiência visual; 131 com deficiência múltipla; 221 com deficiência intelectual; 522
deficientes físicos e 217 deficientes auditivos.
A estrutura administrativa da ADEMA atual, conta com uma presidente, exercida
atualmente pela Senhora Aldinéia Vilhena Barbosa, vice-Presidente, Secretário e Tesoureiro,
além do Conselho fiscal.
A instituição possui diversos parceiros e convênios, os quais viabilizam a
manutenção da estrutura necessária ao funcionamento da entidade, além de facilitar ações de
políticas públicas que visem melhorias para pessoas que apresentam deficiência no município
de Abaetetuba.
Retomando o percurso histórico da educação especial no município, até meados dos
anos de 1990, a responsabilidade com a Educação Especial no município de Abaetetuba era
atribuída a rede estadual. No entanto, em 1996, com a extinção das classes especiais a
Educação Especial em Abaetetuba deu início ao processo de reestruturação dos serviços,
considerando a perspectiva da Educação Inclusiva.
40
A partir do processo de municipalização do ensino fundamental iniciado em 1997, no
estado do Pará, a modalidade de educação especial deste nível de ensino passou a ser
responsabilidade da Rede Municipal de Educação. Assim, em 1998 a Secretaria Municipal de
Educação do município de Abaetetuba assume a gestão das ações educacionais para o público
da educação especial.
Em junho de 1998, no intuito de promover ações de sensibilização e conscientização,
a ADEMA realizou o I Encontro Municipal da Pessoa com Deficiência de Abaetetuba e
posteriormente, em 1999, sediou o II Encontro Municipal de Portadores de Deficiência.
Com vistas a fomentar e ampliar as discussões e promover debates,
encaminhamentos e melhorias no trabalho da Educação Especial no município, em 1999, um
grupo de profissionais da educação incentivados pela proposta da educação inclusiva deu
início a organização e passou a sediar o “Encontro de Educação Especial”. O evento reúne
educadores das escolas locais de vários municípios do baixo Tocantins para dialogar, refletir,
trocar conhecimentos e experiências sobre educação inclusiva, bem como fomentar o
processo de formação dos profissionais da área.
Atualmente, o evento é realizado de forma integrada e coordenado por diferentes
instituições: Unidade Técnica de Educação Especial-UTEE, 3ª Unidade Regional do Estado-
URE, Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba-SEMEC, Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais-APAE/ Casa Bem-te-vi, Associação Beneficente de Educação e
Neurofuncional Milton Melo-ABENMM, Associação dos Deficientes do Município de
Abaetetuba- ADEMA, Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência -
CMDPC e Grupo de Estudos de Língua de Sinais – GELIBRAS.
Salienta-se que o encontro de educação especial, em Abaetetuba agrega oficinas
temáticas voltadas para a Educação Especial Inclusiva, às quais são definidas de forma
coletiva com os educadores que trabalham na educação especial, em reuniões de planejamento
do evento.
No início, o evento educacional reunia apenas os profissionais da área da educação
especial, porém, aos poucos foi tomando dimensão e atualmente é considerado um dos
maiores eventos educacionais sobre Educação Especial e Inclusão na região do Baixo
Tocantins, assim, no ano de 2017, foi realizado o XVIII Encontro de Educação Especial em
Abaetetuba.
O trabalho de Educação Especial na rede municipal de ensino, sob a constituição de
um Setor de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba-SEMEC,
veio ser instituído somente no ano de 2001, pois apesar da Pedagoga Maria Gilzete Rodrigues
de Sousa (Coordenadora na época) ter assumido a função desde 1998, o Setor constituído
somente passou a funcionar de fato em 2001.
Assim, visando a organização da modalidade, no ano de 2003, foi formada a
primeira equipe do Setor de Educação Especial da rede municipal de ensino, composta por
sete profissionais com formação em Pedagogia, Psicopedagogia, Letras e Fonoaudiologia, os
quais assumiram o desafio de estruturar o serviço na rede e implementar ações para o
processo de inclusão escolar.
As atribuições deste Setor, na época constituíam-se na estruturação dos serviços da
Educação Especial visando o processo gradativo de inclusão dos estudantes com necessidades
educacionais especiais na rede regular de ensino; em realizar avaliação educacional dos
alunos (pré-triagem), tanto no Setor de Educação Especial como no contexto escolar para
encaminhamento e atendimento pedagógico nas Salas de Apoio Pedagógico Específico-
SAPE e viabilizar a formação continuada aos docentes, além de desenvolver o assessoramento
técnico pedagógico junto às escolas que possuíam estas salas de apoio.
Os serviços de Apoio Pedagógico Especializado desenvolvidos na SAPE consistiam
no atendimento de estudantes que não podiam ser incluídos em classes comuns justificado
41
pelo significativo comprometimento físico e/ou neurológico. Os estudantes eram lotados em
salas específicas – as chamadas classes especiais. Nestes casos, frequentavam a escola, porém
não participavam, de fato, na vida em comunidade, pois raramente conseguiam ter acesso às
turmas regulares.
A partir do ano de 2004, o Setor de Educação Especial da SEMEC/Abaetetuba,
passou a realizar anualmente em parceria com: 3ª URE/ UTTE, APAE, ADEMA e ABMM o
“Encontro de Gestores”; este é um evento que tem, dentre outros objetivos, trabalhar a
sensibilização e a integração dos gestores com a Educação Inclusiva. Nesse sentido, os
encontros possibilitaram discussões sobre temáticas como: “Escola Inclusiva: Espaço de
Construção de Cidadania” (2005); “Inclusão: protagonizar, interagir e ampliar avanços” (III
Encontro, 2006); “Gestão Democrática: repensando práticas para uma escola inclusiva” (IV
Encontro, 2007); “Gestão Democrática e as exigências de uma escola de qualidade para
todos” (V Encontro, 2008); A Nova Política de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva:
reafirmando direitos na interação com as diferenças” (VI Encontro, 2009).
Ainda no ano de 2004, um grupo formado por aproximadamente vinte famílias,
motivados e apoiados pela médica neurologista Madacilina Melo Teixeira, fundou no
município de Abaetetuba a Associação Beneficente de Educação e Neurofuncional Milton
Melo – ABENMM. A Associação é uma instituição especializada que possui caráter
filantrópico, assistencial, cultural, educacional e neurofuncional, regida por estatuto próprio.
A criação da instituição foi justificada diante da demanda e carência no município na
oferta de atendimento educacional especializado que trabalhasse a estimulação precoce de
crianças e adolescentes com deficiência, possibilitando aos mesmos, o desenvolvimento
neuropsicomotor e a interação social.
O trabalho terapêutico e pedagógico da instituição está embasado no referencial
teórico e metodológico do Desenvolvimento do Potencial Humano, conhecido como “Método
Glenn Doman”, criado pelo médico americano e fisioterapeuta Glenn Domam, na década de
1950.
Quanto a caracterização do público atendido, a instituição possui 99 estudantes
matriculados, conforme o Censo de 2016. São estudantes que apresentam comprometimentos:
físico, neurológico e deficiência intelectual associadas a outras deficiências. Possuem faixa
etária que varia de 04 a 60 anos e residem em localidades da cidade e do campo (ilhas,
estradas/ramais).
O quadro funcional é composto por 16 docentes cedidos pela Prefeitura Municipal de
Abaetetuba e 10 funcionários que compõem a equipe de apoio técnico, sendo 05 vigias, 04
serventes e 01servidor motorista. A instituição também possui 04 voluntários que prestam
serviços a mesma. Quanto aos recursos, a Associação é mantida por meio do convênio que
mantém com a Prefeitura e com o repasse de recursos financeiros, com doações realizadas
pelos voluntários considerados “padrinhos”, eventos realizados pela instituição e a
mensalidade dos associados.
Ressalta-se nesta discussão que a APAE/Casa bem-te-vi e a Associação
Neurofuncional Milton Melo são instituições conveniadas com a Prefeitura Municipal de
Abaetetuba que disponibilizam o atendimento educacional especializado aos estudantes
público-alvo da educação especial matriculados nas escolas da rede pública municipal de
ensino. As instituições especializadas possuem autonomia pedagógica e são responsáveis pelo
seu próprio assessoramento técnico, bem como dos docentes lotados nas escolas de Ensino
Comum, onde seus alunos estão matriculados.
É importante observar que de 1998 a 2008, realizava-se no Setor de Educação
Especial, atendimentos pedagógicos aos estudantes com dificuldade de aprendizagem, bem
como o Apoio Fonoaudiológico e Pedagógico, inclusive com a existência do espaço da SAPE
42
nas escolas. Assim, foi implementado e caracterizado o trabalho referente ao
acompanhamento dos estudantes das classes especiais.
No percurso histórico da educação especial no município de Abaetetuba é relevante
salientar a trajetória de conquistas dos estudantes com surdez. E de acordo com o que consta
no Projeto Professor Intérprete (2016) do Setor de Educação Especial da SEMEC/Abaetetuba,
“foi no ano de 2003 que esses estudantes passaram a frequentar as turmas regulares de ensino
e as Salas de Apoio Pedagógico no contra turno” (ABAETETUBA, 2016, p.04).
Ainda segundo o Projeto (2016), os profissionais da educação passaram a buscar
cursos de formação continuada, e no ano de 2005 a Universidade Estadual Vale do Acaraú
(UVA) ofertou em Abaetetuba o Curso Básico “Libras em Contexto”. No ano de 2007, a
Universidade Estadual do Pará (UEPA), trouxe para Abaetetuba o primeiro Curso de
Especialização em “Tradução e Interpretação de Libras – Língua Portuguesa”, contribuindo
significativamente para a educação dos surdos no município. E, em 2010 um grupo de
educadores participou do curso “Libras para Todos”, ofertado pelo Campus Universitário do
Baixo Tocantins, da UFPA.
No período de 2006 a 2007 foram desencadeadas diversas ações de formação
continuada, dentre estas, encontra-se a oferta do curso “Educar na Diversidade” pelo
COEES/SEDUC/UTEE, com apoio da Coordenação de Educação Especial no município. O
curso atendeu profissionais da rede municipal e estadual de ensino e teve como objetivo a
formação continuada dos docentes para atuação pedagógica no AEE. O trabalho do Setor de
Educação Especial, nesse período foi desenvolvido de forma integrada com o Setor
psicossocial, este que contava com um psicóloga e duas Pedagogas.
A partir das novas diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na
perspectiva da Educação Inclusiva, no ano de 2008, o trabalho do Setor de Educação Especial
foi reestruturado. Com implementação das ações por meio do Programa de implantação das
Salas de Recursos Multifuncionais do MEC, os espaços das Salas de Apoio Pedagógico
Específicos aos poucos foram substituídos pelas Salas de Recursos Multifuncionais,
atendendo as novas diretrizes emanadas da Política de Educação Especial (2008), uma das
primeiras ações da SEMEC nesta direção foi a extinção das classes especiais e o
encaminhamento dos estudantes com necessidades educacionais especiais para o ensino
regular. Portanto, esta política para Oliveira:
43
nas ações do Setor com a implementação da Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva Inclusiva (2008).
Nesse sentido, deu-se início na construção coletiva de documentos diversos, tais
como: o Plano do Setor e a construção dos Projetos: Professor Cuidador, Libras em Família,
entre outros instrumentos pedagógicos, além de ações de formação continuada. Assim, de
acordo com o que consta no Plano Municipal de Educação (2012), define-se as ações do Setor
de Educação Especial da rede municipal de ensino:
Frisa-se, no entanto que parte dos avanços no que diz respeito a educação especial e
inclusão no município de Abaetetuba ao longo dos últimos anos deve-se a importante atuação
da Defensoria Pública, bem como dos Conselhos Tutelares para efetivação dos direitos e
inclusão de pessoas com deficiência, pelas mais diversas formas de atuação.
Quanto as ações da rede municipal de ensino, em parceria com a Defensoria Pública
do Estado do Pará, direcionada ao público-alvo da educação especial, pode-se citar o I
Seminário, em 2009, com o tema: “Garantindo os direitos das pessoas com necessidades
especiais no âmbito educacional e a integração dos diversos atores da rede para efetivação de
políticas públicas, visando o processo de inclusão”. Esta ação envolveu diferentes setores das
esferas: municipal, estadual e federal, com o objetivo de fomentar políticas públicas
multisetoriais, principalmente da Educação, Saúde e Assistência Social do município.
Do seminário foram retiradas proposições que resultaram na assinatura do termo de
ajuste de conduta com a prefeitura municipal de Abaetetuba para a criação do cargo de
professor intérprete da LIBRAS e no mesmo ano foi promovido o I Seminário de Educação
Especial envolvendo o tema “Os serviços de Educação Especial no município de Abaetetuba”.
Em 2011 foi realizado o II Seminário de Divulgação de Direitos da Pessoa com
deficiência, com o tema: “Acessibilidade, profissionalização e Inclusão do deficiente”,
também promovido em parceria com a Defensoria Pública.
Em 2012, foram desencadeadas várias ações ligadas a educação especial e inclusiva,
assim, a ADEMA promoveu em parceria com a SEMEC e demais entidades, o III Seminário
de Divulgação de Direitos das Pessoas com deficiência e o II Seminário da Pessoa com
deficiência do município de Abaetetuba com o tema: “Ações Básicas no Processo de Políticas
Públicas para a Inclusão das Pessoas com Deficiência”. As instituições parceiras também
promoveram no mesmo ano I Seminário sobre altas habilidades no município de Abaetetuba.
Ainda no ano de 2012, foi realizado o II Fórum Municipal dos Direitos da Pessoa
com Deficiência em Abaetetuba, o evento abordou a temática “Um Olhar através da
convenção da ONU sobre os direitos da pessoa com deficiência: novas perspectivas e
desafios”.
Foi criado também o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de
Abaetetuba-CMDPA, este Conselho é vinculado estruturalmente à Secretaria Municipal de
Assistência Social e visa garantir os direitos das pessoas com deficiência.
O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Abaetetuba,
funciona no Prédio da Casa dos Conselhos do município, localizado na rua Magno de Araújo,
2158, no bairro São Lourenço, é presidido pela senhora Maria do Socorro Carvalho de
Araújo. Este conselho está estruturado com representação da Secretaria Municipal de Obras-
44
SEMOB, Secretaria Municipal de Educação-SEMEC, Gabinete do Prefeito, Secretaria de
Assistência Social, Secretaria Municipal de Saúde, APAE, Associação Milton Melo,
ADEMA, Pastoral da Criança e Comissão dos Bairros de Abaetetuba.
Em junho de 2015, ocorreu a I Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência no município de Abaetetuba, este evento educacional teve, entre outros, o
objetivo de homologar o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência – CMDPA e criar o
Fundo Municipal vinculado ao conselho.
De acordo com a Lei Municipal n° 454 de 21 dezembro de 2015, o fundo “tem por
objetivo ser o instrumento de captação, repasse e aplicação de recursos, destinados a
implantação, manutenção e desenvolvimento de programas e ações dirigidos à pessoa com
deficiência no Município de Abaetetuba” (ABAETETUBA, 2015, p.01).
Dentre as principais ações atuais do Setor de Educação Especial da SEMEC inclui a
efetivação de formação continuada direcionada aos docentes do AEE, bem como aos demais
profissionais da educação no que diz respeito a política de educação inclusiva na rede
municipal de ensino; realizar o assessoramento técnico pedagógico junto às escolas e famílias;
realizar avaliação educacional junto aos estudantes das ilhas do município. Observa-se que a
avaliação dos estudantes matriculados nas escolas da sede da cidade e no campo
(ramais/estradas), é realizada atualmente pelos profissionais que atuam nas Salas de Recursos
Multifuncionais.
Frisa-se que a Unidade Técnica de Educação Especial- UTEE é um órgão do governo
estadual de educação vinculada a SEDUC que responde pela Política de inclusão da rede
estadual de ensino no município de Abaetetuba e baseia-se entre outros documentos, na
Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e na
Resolução nº 001 de 05 de janeiro de 2010, do Conselho Estadual de Educação do Estado do
Pará para desenvolver suas ações.
Esta Unidade possui atualmente uma equipe técnico-pedagógica formada por
aproximadamente 13 (treze) profissionais lotados no referido órgão e desenvolvem ações de
planejamento e assessoramento junto às escolas da referida rede. Observa-se que somente os
estudantes que residem na região das ilhas e aqueles que apresentam Altas Habilidades são
avaliados e recebem o AEE no espaço da Unidade Técnica do Estado (UTEE). Os demais
estudantes que necessitam de avaliação educacional para verificação do público-alvo da
Educação Especial são avaliados e atendidos nos espaços das Salas de Recursos das escolas
da rede estadual de ensino.
É possível vislumbrar os significativos avanços em relação à Educação Inclusiva no
município de Abaetetuba, no entanto, identifica-se que a vontade política e as ações
integradas de setores e esferas governamentais são necessárias para que se avance, cada vez
mais, nesta modalidade de ensino, pois segundo Mantoan (2001), a inclusão na educação vem
beneficiar todos os alunos.
46
Verifica-se que nas escolas da rede municipal de ensino, a inclusão dos estudantes da
Educação de Jovens e Adultos é preocupante, pois como a oferta do ensino regular para essa
modalidade ocorre geralmente no período noturno e a recusa das famílias para a matrícula
nesse horário é justificada pela pouca autonomia dos estudantes e no horário diurno há
incompatibilidade de adequação no ensino regular devido a distorção série e idade. Os
estudantes deixam de frequentar a escola ou só frequentam o AEE, esta é uma realidade
principalmente na localidade do Campo, em que as dificuldades se somam a fatores como as
distâncias longínquas em relação a residência e a escola, bem como as condições
socioeconômicas das famílias.
A meta 04 do Plano municipal de Educação da SEMEC, no entanto, aponta para a
prioridade e garantia desse atendimento aos Jovens e Adultos e propõe: “Assegurar aos alunos
da EJA o atendimento especializado através de equipes multiprofissionais da SEMEC”
(ABAETETUBA, 2015, p.57). No entanto, observa-se a inexistência desta equipe para este
tipo de atendimento mencionado no plano municipal de educação.
Percebe-se, nesse sentido que a igualdade de oportunidades é inviabilizada quando as
políticas e as oportunidades educacionais são direcionadas somente para alguns. Dessa
maneira, concorda-se com Mantoan (2006), quando nos remete a reflexão sobre a igualdade
de oportunidades para pessoa com deficiência, pois os sistemas de ensino que se consideram
inclusivos são aqueles que nem sempre asseguram condições para a permanência e o
prosseguimento da escolaridade dos estudantes nos diferentes níveis de ensino.
A lei orgânica observa, em seu texto, que a “rede regular de ensino” deve ser
prevalência para o público da educação especial e se manifesta na garantia de materiais e
equipamentos necessários para o seu funcionamento. Isenta de tributos as instituições que
desenvolvem trabalho direcionado a pessoas com deficiência ou idosos no município.
Quanto a verba direcionada ao público-alvo da educação especial, a Lei orgânica
esclarece no parágrafo § 4 – “O Município destinará cinco por cento dos recursos carreados
para a Educação, a entidades legalmente constituídas sem fins lucrativos com fins específicos
de atendimento às pessoas com necessidades especiais”. (ABAETETUBA, 1990, p.40).
No capítulo, 175, no inciso X, a lei sinaliza os recursos para a Educação Especial:
Efetivação da política inclusiva com a intensificação quantitativa e qualitativa na
formação de recursos humanos, na garantia de recursos materiais e financeiros, além
de serviço de apoio especializado, que assegure o desenvolvimento educacional dos
alunos com necessidades especiais. (ABAETETUBA, 1990, p.41).
Art. 197 - O Município proverá, além de benefício social a ser concedido pelo
Estado, o pagamento de um auxílio correspondente a um quarto do salário mínimo
do país ao portador de necessidades especiais, filho de servidor público municipal
ou servidor municipal que a adquirir no exercício de suas funções.
(ABAETETUBA, 1990, p.46).
47
O Plano Diretor Participativo de Abaetetuba, sancionado por meio da lei nº222 de 10
de outubro de 2006, é um documento de planejamento da política municipal que orienta as
ações dos gestores públicos. O art.23, inciso III refere-se a estrutura arquitetônica e a
infraestrutura das escolas da área rural e urbana, de forma que a acessibilidade nos espaços
escolares seja um dos fatores que possibilite a inclusão e a qualidade do ensino.
Atualmente parte das escolas municipais contam com adequações estruturais, com
banheiros adaptados, rampa, entre outras. No entanto, ainda há muito a que se fazer quanto a
questão, pois os estudantes que apresentam deficiência física, residentes nas ilhas e ramais
enfrentam sérias dificuldades para o acesso ao prédio escolar e alguns deixam inclusive de
frequentar a escola devido as precárias condições quanto ao transporte e acessibilidade.
Quanto a esse aspecto destacado no plano sobre a acessibilidade nas escolas, a docente
da EI3 das ilhas esclarece as dificuldades: “eu acho preocupante a questão, pois tem que subir
escadas, não tem rampa, eu acho que leis tem, mas que sejam de fato cumpridas” (DI3, 2016).
No inciso VII do mesmo artigo, o plano Diretor ressalta a importância de políticas
específicas de capacitação, a formação continuada aos profissionais da educação especial e
propõe no art.58 a atuação e o fortalecimento do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa
com deficiência.
Em 2008, foi criado o Regimento Unificado das escolas públicas municipais de
Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba,
este documento constitui-se em uma das primeiras mobilizações de educadores da rede
municipal de ensino com o objetivo organizar um documento que representasse a identidade
da educação na rede de ensino. O documento foi elaborado com o esforço conjunto dos
profissionais da educação e coordenado pela Secretaria Municipal de Educação.
O regimento faz referência à Educação Especial na Seção IV e prevê critérios de
enturmação, currículos e terminalidade. No art. 44 conceitua a Educação Especial como uma
“proposta pedagógica” pontuando o seguinte:
48
II- Matrícula de todo e qualquer aluno, organizando-se para o atendimento aos
educandos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns;
III- professores com qualificação específica, em nível superior para os atendimentos
especializados, bem como formação continuada para o ensino na diversidade;
IV- Professores com qualificação em Licenciatura Plena ou nível médio normal para
atuar em sala regular, garantindo formação continuada na perspectiva inclusiva;
V- Constituição de equipes multiprofissionais para identificar as potencialidades e
necessidades educacionais dos alunos, bem como as condições das escolas para
atendê-los por meio de alternativas e serviços educacionais especializados;
VI- Constituir e fazer funcionar o setor responsável pela Educação Especial, dotado
de recursos humanos, materiais e financeiros que viabilizem e dê sustentação ao
processo de construção da Escola Inclusiva;
VII -rede de apoio por meio de ações articuladas com as áreas da saúde, assistência
social e trabalho (ABAETETUBA, 2008, p.12).
Apesar do Setor possuir um Plano que direciona suas ações e encontrar-se embasado
legalmente na Política Nacional de Educação Especial (2008), considera-se o documento
sucinto e superficial quanto as diretrizes para o trabalho da educação especial da rede de
ensino.
Quanto ao professor intérprete de LIBRAS/ Língua Portuguesa para atuar em sala de
aula, ressalta-se que esta conquista foi fruto principalmente da luta de pais, profissionais e
educadores que resultou na assinatura do termo de ajuste de conduta celebrado entre a
Defensoria Pública e a Prefeitura Municipal possibilitando a aprovação da Lei municipal
nº.274, de 09 de junho de 2009, pela Câmara dos Vereadores.
A lei cria o cargo de Tradutor-Intérprete de LIBRAS/Língua Portuguesa pelo gestor
municipal, seguido da aprovação da Lei nº 268 de 26/05/2009 da Prefeitura Municipal de
49
Abaetetuba, que garante 02 vagas em concurso público para este profissional na rede
municipal de ensino.
O documento destaca no art. 1º:
50
Pré-escola deve ser inclusiva. Caso contrário não cumprem seu papel social e não garantem os
direitos fundamentais de todas as crianças” (BRASIL, 2015, p.04).
A Política Nacional de Educação Especial também se posiciona e prevê a
transversalidade na modalidade de educação especial, desde a educação infantil ao ensino
superior e quanto a oferta do AEE para a Educação Infantil, assim propõe:
Deve ser feito no contexto da instituição educacional, que requer a atuação do AEE
nos diferentes ambientes: tais como: berçário, refeitório, solário, parquinho, sala de
recreação, refeitório, entre outros onde as atividades comuns a todas as crianças são
adequadas as necessidades específicas (BRASIL, 2015, p.05).
6
Pessoa que opera um tipo de barco pequeno, com motor traseiro, próprio para navegação em águas rasas.
51
nos cuidados necessários com os estudantes durante o percurso. Dessa forma, àqueles que
necessita dos serviços complementares, enfrentam sérias dificuldades para frequentar,
permanecer e aprender no espaço escolar.
O Plano Municipal de Educação (2012, p.57) se coloca sobre o assunto em questão
com o seguinte posicionamento: “A acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação
de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação, incluindo instalações, equipamentos e
mobiliários nos transportes escolares, bem como as barreiras nas comunicações e
informações”.
A Lei Brasileira de inclusão da Pessoa com Deficiência também reforça que o poder
público deve criar condições, implementar, acompanhar e avaliar as ações direcionadas a
pessoa com deficiência e no inciso II do art.28, afirma que é necessário o “aprimoramento dos
sistemas educacionais, visando garantir condições de acesso, permanência, participação e
aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as
barreiras e promovam a inclusão plena” (BRASIL,2015, p.01), pois entende-se que a
educação inclusiva não se resume a atividades vivenciadas em sala de aula.
Assim como constata-se lacunas na educação inclusiva para os educandos das creches
e da educação de Jovens e Adultos, expostas neste estudo, verifica-se também que pouco tem
sido proposto, por meio de políticas públicas para os educandos público da Educação Especial
que apresentam necessidades de AEE para Altas Habilidades.
Dentre outras metas previstas no Plano Plurianual para os anos de 2014 a 2017 e
pensadas para o público da educação especial, encontram-se as seguintes:
- Potencializar as ações do programa professor-cuidador, com meta de atender 100%
dos alunos deficientes incluídos na rede regular;
- Assegurar continuidade de apoio técnico e financeiro às instituições sem fins
lucrativos, com atuação exclusiva em educação especial, de forma a atender 100%
das mesmas;
- Elevar de 77,4% para 90% o percentual de crianças que recebem o BPC na escola.
(ABAETETUBA, 2013, p.41)
52
III - Acompanhar e analisar programas dos serviços não governamentais que operem
em sistema de financiamento e compõem as redes de atendimento municipal;
IV – Propor campanhas e programas educativos de sensibilização, conscientização e
prevenção de deficiências, promovendo debates, seminários, mesas-redondas e
outros eventos;
V- Acompanhar, conjuntamente com os Conselhos Municipais afins, os projetos,
programas e serviços que envolvam as pessoas com deficiência;
VI- Promover periodicamente plenárias pró-cidadania, visando a estabelecer canais
de comunicação com a sociedade em geral, com o objetivo de divulgar as ações do
conselho e levantar as demandas à pessoa com deficiência;
VII – Promover capacitação de conselheiros e entidades;
VIII - Convocar a cada dois anos, através da Mesa Diretora, a Conferência
Municipal de Direitos das Pessoas com Deficiência, para aprofundamento de
questões pertinentes a à formulação de políticas, programas, projetos e serviços,
abrangendo toda a Administração pública Municipal e órgãos estaduais de educação
especial, fixando prioridades para a execução das ações e estabelecendo critérios
para a avaliação e controle de seus resultados;
IX- Receber e encaminhar aos órgãos competentes denúncias ou reclamações
formuladas por qualquer entidade, quando ocorrer discriminação, ameaça ou
violação de direitos da pessoa com deficiência, exigindo a adoção de medidas
efetivas de proteção e reparação;
X- Zelar pelo efetivo funcionamento do sistema participativo de defesa e promoção
do s direitos das pessoas com deficiência. (ABAETETUBA, 2012, p.01).
No ano de 2014, foi aprovado pelo poder público a Lei municipal nº 401 de
07/07/2014, que dispõe sobre a obrigatoriedade de Intérprete em Libras nos eventos públicos
realizados no município de Abaetetuba e o artigo 1º destaca “Torna-se obrigatório a inclusão
de Intérprete de Língua Brasileira de Sinais -LIBRAS, em todos os eventos realizados pela
Prefeitura de Abaetetuba e outras instituições que realizam suas atividades no município”
(ABAETETUBA, 2014, p.01).
Em 03 de novembro de 2014, é estabelecida a lei nº.408/2014, que regulamenta a
Semana Municipal de conscientização e apoio a pessoas com deficiência auditiva no âmbito
do Município de Abaetetuba. A lei tem a finalidade de desenvolver ações voltadas para a
pessoa surda e cita no art. 2º:
Em dezembro de 2015, foi sancionada a Lei Municipal n° 454, que cria o fundo
municipal dos direitos da pessoa com deficiência-CMDPA, a referida lei tem por objetivo ser
o instrumento para viabilizar a captação, repasse e aplicação de recursos destinados a
53
implantação, manutenção, desenvolvimento de programas e ações dirigidos à pessoa com
deficiência no Município de Abaetetuba.
De acordo com a legislação que trata sobre o fundo municipal dos direitos da pessoa
com deficiência, a autorização de aplicação dos recursos oriundos do fundo depende de
análise e autorização do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência.
54
No tocante a formação inicial e continuada dos profissionais para atuar na modalidade,
o Plano Municipal prevê metas com vistas a formação dos mesmos e o Setor de educação
Especial vem promovendo ações diversas nesse sentido:
-Promover em 100% a formação continuada de professores para o Atendimento
Educacional Especializado;
-Promover em 100% a formação continuada de professores do ensino regular com
temáticas relacionadas à educação inclusiva;
-Garantir, em até cinco anos, a lotação de professor tradutor-intérprete de Libras em
100% das escolas que possuam alunos com surdez, matriculados no ensino regular,
de acordo com a legislação vigente. (ABAETETUBA, 2012, p.58).
Apesar de estar prevista nos documentos oficiais, bem como na proposição da lei
orgânica do município e nas demais legislações como meta a ser atingida, a acessibilidade
55
arquitetônica nos prédios públicos no município é uma questão que requer melhor atenção dos
gestores públicos, tanto no contexto mais amplo dos espaços urbanos, como nos espaços
educacionais.
Retomando questões pontuais sobre o Projeto “Professor Cuidador” da Secretaria
Municipal de Educação. Foi criado por meio da Portaria nº 001/2014, do Gabinete do
Secretário Municipal de Educação, a função deste profissional no quadro do magistério da
rede de ensino, conforme consta o projeto em questão. No entanto, cabe destacar a
mobilização dos Pais e/ou responsáveis dos estudantes público-alvo da Educação Especial na
reivindicação do direito à inclusão de seus filhos no ensino regular junto a Defensoria Pública
e demais órgãos da Justiça no município. Resultando, assim na determinação pelo juizado, na
contratação de profissionais para dar apoio as atividades diárias aos estudantes que necessitam
do serviço desse profissional.
Na discussão sobre atuação deste profissional, é importante a reflexão sobre suas
ações no contexto escolar. Assim, o Projeto intitulado “Professor Cuidador” no município é
um documento construído pelo Setor de Educação Especial e encontra-se embasado na
Política Nacional de Educação Especial (2008). O documento, em seus objetivos específicos
sugere um perfil generalista para esse profissional, pois segundo o projeto, o professor
cuidador pode atuar tanto em atividades pedagógicas, como naquelas que envolvem cuidados.
Mas será que isto é possível? Um profissional multifuncional? Nesse sentido, o documento
assim descreve:
56
Diante destas pontuações das legislações, percebe-se que não há consenso e definição
clara sobre a questão, uma vez que a Portaria nº01/2016 da Secretaria de Municipal de
Educação e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com deficiência, ambas sugerem um
profissional com atuação pedagógica e ao mesmo tempo, em cuidados ou de saúde. Isso é
possível? E a Política Nacional deixa subtendida a compreensão sobre a atuação quando cita
“entre outras que exijam auxílio constante no ambiente escolar” (BRASIL 2008, p.15).
Tanto a Portaria nº 01/2016 do Gabinete do Secretário Municipal-GS, como o texto
contido no projeto professor cuidador seguem o que diz a política nacional de educação
especial (2008) “para atuar na educação especial o professor deve ter como base de sua
formação inicial e continuada conhecimentos gerais para o exercício da docência e
conhecimentos específicos da área”, ou seja formação pedagógica.
Na portaria nº 001/2016 – GS, expedida pelo Secretário Municipal de Educação que
orienta a lotação dos docentes no art.7º, inciso II, que trata da lotação e formação desse
profissional é o seguinte:
57
diferentes sistemas de ensino contratam esse profissional e organizam estruturas diferenciadas
para a oferta deste serviço.
Diante da indefinição no perfil profissional e da incompatibilidade das ações
requeridas no contexto escolar pergunta-se: será que esse profissional inserido em uma
educação inclusiva tem realmente contribuído para a inclusão dos estudantes público-alvo da
educação especial? Pois, percebe-se nessas condições de trabalho, uma tendência em querer
reduzir os antigos problemas da educação a um único sujeito.
Outra reflexão importante sobre o profissional de apoio escolar, é que do ponto de
vista da inclusão, este deveria atuar junto aos demais estudantes e não somente com o público
da educação especial, uma vez que a inclusão diz respeito a todos indistintamente. Pois, a
atuação somente com o público da educação especial pode se tornar uma barreira à inclusão,
interferindo nas relações sociais do estudante, bem como no desenvolvimento da sua
autonomia.
Nesse sentido, Costa (2003), manifesta seu posicionamento:
Mantoan (2003, p. 43) também se manifesta e diz que na “a inclusão escolar não cabe
em um paradigma tradicional de educação [...] nessa direção requer design diferente das
propostas de profissionalização existentes e de uma formação em serviço que também muda”
O art. Art. 2º do Plano Municipal de Educação, na seção II, refere-se valorização do
profissional que desenvolve o trabalho pedagógico na Educação Especial no município e a Lei
nº 295, de 31 de dezembro de 2009, dispõe sobre a estruturação do Plano de Cargo, Carreira e
Remuneração da rede pública municipal de ensino de Abaetetuba-PCCR, o documento prevê
vantagens por meio de gratificação pelo exercício do magistério com estudantes público-alvo
da educação especial e o documento esclarece no art.4º, inciso VI, o que considera como
funções de magistério:
Art. 40. Serão concedidas gratificações pelo exercício de Magistério com alunos
com deficiência, correspondente a 20% (vinte por cento) calculada sobre o
vencimento do Professor, Nível I, Classe a, da jornada de 20 (vinte) horas da grade
de Licenciatura Plena, para aqueles que atuem no atendimento educacional
especializado.
58
pedagógico que não apresente as condições então previstas. (ABETETUBA, 2009,
p.16)
Conforme o Plano de governo da atual gestão municipal para o mandato (2017- 2020),
em queconsta na meta para educação, identifica-se a seguinte proposição:
59
4 ESTRUTURA ORGANIZACIONALE CONTEXTUALIZAÇÃO DA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO NO VIÉS DA
POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
60
Conselho Estadual e Conselho Municipal de Educação, além dos demais dispositivos e
instrumentos legais da legislação municipal.
A política educacional da rede pública municipal de ensino é administrada pela
Secretaria Municipal de Educação – SEMEC, instituição que direciona as ações educacionais
nos níveis e modalidades de sua responsabilidade: Educação Infantil (creches e pré-escolas),
séries iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), bem como as modalidades de Educação
de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação do Campo. Ressalta-se que a
responsabilidade pelo Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio da rede pública no
município de Abaetetuba fica a cargo da Secretaria Estadual de Educação-SEDUC/PA,
representada pela 3ª URE.
Na SEMEC, os níveis e modalidades de ensino são de responsabilidade de suas
respectivas Coordenações, Setores e Núcleos, estes coordenam o trabalho educacional
direcionado aos estudantes que residem em distintas localidades como zona urbana e zona
rural ou (Campo), esta última também chamada de “Estradas/Ramais e Ilhas”, conforme
revela a Figura 11 que apresenta o organograma do referido órgão educacional.
61
A multissérie também é um fator preponderante no Município de Abaetetuba,
evidenciando-se especificamente no campo, onde o índice de turmas de Educação
Infantil (pré-escola) e 1º ano do ensino fundamental/9 organizadas em
multisséries/multietapas é bastante expressiva. No ano de 2011, o município
apresentava um número de 116 turmas de educação infantil
multisseriada/multietapa, sendo 37 turmas na região de estrada e ramais e 79 nas
ilhas. (ABAETETUBA, 2012, p. 15).
62
Tabela 03 - Matrícula do Público alvo da Educação Especial-2009.
ILHAS ESTRADAS/ SEDE DO
PÚBLICO DA EDUCAÇÃO RAMAIS MUNICÍPIO
INF FUND INF FUND INF FUND TOTAL
ESPECIAL
Surdocegueira - - - - - 01 01
Altas
- 08 - - - 02 10
Habilidades/Superdotação
TGD (Psicose/Autismo) - 05 - 08 01 01 15
Deficiência Física 03 06 05 08 04 10 36
Deficiência Múltipla 06 17 - 02 01 14 40
Deficiência Visual (Baixa
02 07 - 05 01 28 43
visão e cegueira)
Deficiência Auditiva e
02 16 01 18 - 37 74
Surdez
Deficiência Intelectual 02 29 03 32 06 74 146
Total por escolaridade 15 88 09 73 13 167 -
Total por localidade 103 82 180 365
Fonte: Minuta do Plano Municipal de Educação.
63
Tabela 05 – Matrícula do Público-alvo da Educação Especial, Censo 2013.
PÚBLICO DA EDUCAÇÃO ILHAS ESTRADA ÁREA TOTAL
ESPECIAL S/RAMAIS URBANA
Cegueira - 01 - 01
Síndrome de Rett - - 01 01
Surdo Cegueira - - 01 01
Transtorno Desintegrativo da Infância 02 02 06 10
Altas Habilidades/Superdotação 05 02 04 11
Autismo Infantil - 01 12 13
Baixa Visão 07 03 10 20
Surdez 13 02 08 23
Deficiência Auditiva 05 03 19 27
Deficiência Múltipla 12 07 24 43
Deficiência Física 35 18 41 94
Deficiência Intectual 67 37 139 243
TOTAL 146 76 265 487
Fonte: Setor de Estatística da SEMEC/Abaetetuba.
64
independentemente de estarem incluídos no ensino regular. Assim, a partir de 2016 a
instituição foi orientada a informar somente as matrículas dos estudantes que recebem o AEE
e estão incluídos no contra turno em turma do ensino regular nas escolas públicas da rede
municipal de ensino, o que resultou em um decréscimo nas matrículas totais da instituição, no
ano de 2016, se comparado com as matrículas de 2015.
Os demais estudantes (195) que não estão incluídos no ensino regular frequentam
somente a instituição especializada. São Jovens e adultos que já receberam a terminalidade
educacional, apesar da observação sobre essa questão no Decreto 7.611/2011, no inciso II, de
que o aprendizado deve acontecer durante toda a vida. Parte destes estudantes que não estão
incluídos no ensino regular residem em localidades longínquas, de difícil acesso, como é o
caso dos moradores das ilhas e ramais de Abaetetuba. Os estudantes enfrentam sérias
dificuldades para frequentar a escola, principalmente aqueles que apresentam significativo
comprometimento devido a deficiência.
Verifica-se que do total de estudantes público alvo da educação especial da rede
municipal de ensino matriculados no ano de 2016 que recebem atendimento, somente 43,84%
pertencem as escolas municipais da rede pública de ensino que possuem SRM, enquanto as
matrículas das instituições especializadas filantrópicas/conveniadas representam 56,15%.
Esses dados indicam que os números mais expressivos de estudantes da rede municipal de
ensino informados no Censo estão concentrados nas instituições especializadas/conveniadas.
E sobre a questão, observa-se também que de acordo com o Plano Municipal de
Educação (2012), no ano de 2011, das 413 matrículas da rede municipal de ensino referente
ao público da educação especial registradas no Censo escolar, somente 184 são
correspondentes aos estudantes matriculados nas escolas municipais. As matrículas restantes,
(229) correspondem a estudantes que frequentam as instituições especializadas no município.
O Art. 14, do Decreto nº7.611/2011, esclarece a questão dos recursos provindos das
matrículas e cita: “Admitir-se-á, para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o
cômputo das matrículas efetivadas na educação especial oferecida por instituições
comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos [...]”.
Sobre os docentes que fazem parte do quadro funcional da Secretaria Municipal de
Abaetetuba, verifica-se que o ingresso dos mesmos na rede municipal de ensino se realiza por
meio de concurso público e ou contratação temporária. O quadro de docentes pertencentes a
rede de ensino, de acordo com o levantamento estatístico de 2015, encontra-se retratado na
figura 11. O demonstrativo aponta para um total de 1.469 docentes lotados e enquadrados na
categoria de profissionais efetivos com suas respectivas formações.
65
Constata-se que o maior percentual 51,46% são de docentes graduados, o que
caracteriza um quadro positivo em consonância com as exigências da LDB 9.394/96 para a
formação inicial. Desse universo, 30,63 % têm Especialização, 8,03% habilitados em
Magistério e 9,87% encontra-se cursando a graduação. Ressalta-se que atualmente a rede de
ensino já possui docentes efetivos com formação em mestrado e cursando doutorado, porém
não identificado por ocasião deste levantamento estatístico.
A categoria de docentes da SEMEC de Abaetetuba apresenta um bom nível de
formação inicial e a Secretaria considera importante o trabalho efetivo dedicado a formação
continuada para a melhoria da qualidade do ensino, pois é necessário que os educadores sejam
estimulados ao crescimento profissional e que estejam em permanente processo de formação.
A formação continuada ocorre geralmente nos encontros de formação ofertados pelas
coordenações e ou nas horas pedagógicas no contexto escolar.
As horas pedagógicas são normatizadas no Plano Municipal de Educação da rede de
ensino, como espaço pedagógico para formação continuada em serviço. Os encontros ocorrem
nas sextas-feiras, sendo concedido meio expediente da jornada de trabalho dos educadores
para participar dos encontros dos educadores no espaço escolar.
Salienta-se que as escolas da rede contam com serviço de assessoramento técnico-pedagógico
(Coordenação Pedagógica), desenvolvido por docentes efetivos que possuem formação em
Pedagogia, bem como especialização diversas e conforme informações do Setor de Ensino
Fundamental a Secretaria de educação possui 48 Coordenadores Pedagógicos na Sede, 06 no
Campo (Estradas e Ramais) e 08 nas ilhas, totalizando 62 Coordenadores Pedagógicos que
oferecem suporte técnico pedagógico nas escolas da rede pública municipal.
Apesar de ser um avanço importante a presença desse profissional nos espaços
escolares, no entanto não são todas as escolas que podem contar com este serviço em seu
quadro escolar e a falta do coordenador pedagógico é verificada principalmente na localidade
do campo. E nesse caso, a orientação depende da equipe técnica da Secretaria Municipal de
Educação e ou dos responsáveis de escola.
Sobre o trabalho da coordenação pedagógica, a docente da escola EI3 enfatiza: “aqui
não tem troca de informação sobre os avanços e entraves. Eu não sei se é....porque aqui é bem
diferente de uma escola de Abaeté. Lá toda sexta-feira tem hora pedagógica”. (DI3, 2016). No
entanto a docente DS1 que trabalha na escola da sede do município, afirma: “A gente ainda
parece que está isolado, pois quando tem reunião, dizem: é só para os professores! Como se
não fossemos professores também, ainda tem essa visão ” (DS1).
A atuação desse profissional é essencial na efetivação das ações inclusivas no espaço
escolar, uma vez que cabe ao mesmo articular diferentes ações de planejamento pedagógico,
colaborando para integrar os protagonistas educadores.
Sobre a importância da atuação do Coordenador Pedagógico, Oliveira (2009, p.35),
acrescenta:
66
Coordenação da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos e
Educação do Campo.
Quanto ao número de docentes lotados na Educação Especial, não foi identificado
tanto no Setor estatístico, como no Setor de Educação Especial o levantamento do
quantitativo docente do ensino regular que trabalha com estudantes incluídos.
Na lotação dos docentes na Educação Especial, prioriza-se os servidores efetivos
para atuar na SRM e os servidores contratos geralmente atuam na função de professor
cuidador. Quanto a exigência de formação profissional, estes devem ser habilitados para atuar
na docência e possuir formação específica na área.
67
municipal por meio de visitas técnicas junto às escolas; formação continuada aos docentes,
Pais e ou responsáves dos educandos, técnicos e gestores das escolas públicas municipais que
e demais profissionais da educação, inclusive em parceria com outras instituições, entre outras
ações. Parcipação e realização de eventos relacionados à área da educação especial.
A função do Setor de Educação Especial da SEMEC, segundo o Plano Municipal de
Educação (2012) consiste em:
68
da área da educação, saúde e Assistência Social, visando o dialogo, o compartilhamento de
dilemas e responsabilidades, ou seja, a inclusão dos educandos.
E sobre as dificuldades na concretização da relação intersetorial, a Coordenação de Educação
Especial esclarece:
Com relação a isso se tem muita dificuldade. É o que quebra realmente o trabalho
porque se tu tens um aluno com deficiência fisicomotora que precisa...vamos
imaginar, de adaptações que é o Terapeuta Ocupacional que pode fazer, mas que
acaba que o professor traz pra si, mas o professor não tem condições de avaliar qual
a espessura por exempo dessa adaptação, ele faz com o senso comum. Mas a função
do professor não pode se confudir com a função de um prifissioal de saúde.Até a
postura do aluno na cadeira de roda, tudo isso não somos nós que vamos dizer. [...]
queriam que eu desse parecer positivo para uma cadeira de roda protótipo, eu disse
...eu não posso dar parecer para uma série de cadeiras iguais para alunos diferente
(CSEE, 2016).
69
Tabela 07- Alunos atendidos no projeto professor cuidador- 2016.
ILHAS (ESTRADAS SEDE DO
ALUNOS /RAMAIS) MUNICIÍPIO TOTAL
ATENDIDOS INF FUND EJA INF FUND EJA INF FUND EJA
Surdocegueira 01 01 - - - - - - - 02
Transtorno do Déficit - - - 01 01 - - 02 - 04
de Atenção
Cegueira - 03 - 02 01 - 02 - - 08
Baixa Visão - 02 - 01 03 - - 05 - 11
Deficiência Múltipla 01 03 - 01 - - 01 06 - 12
Autismo - - - 01 01 - 14 21 - 37
Deficiência - 14 01 - 13 - 01 13 01 43
Intelectual
Deficiência Física 01 16 - 05 03 - 09 14 - 48
TOTAL 43 33 89 165
70
oportunidade de enriquecer seus conhecimentos e vivências no processo de Educação
Inclusiva.
O projeto visa ampliar o repertório linguístico dos alunos surdos e ouvintes, promover
a sua fluência por meio de aulas semanais, com metodologias apropriadas à cada nível de
ensino e contribuir para a construção da Educação Bilíngue, respeitando os direitos
linguísticos dos alunos surdos no processo de Educação Inclusiva.
O documento possui embasamento legal na Política Nacional de Educação Especial (2008),
na Lei Brasileira de Inclusão LBI/2015 no Plano Municipal Decenal dos Direitos da Criança e
Adolescentes de Abaetetuba, no eixo 5, meta 88 e na Lei municipal nº 274/09 de 09/06/2009.
Projeto Professor Intérprete: foi iniciado nas escolas municipais no ano de 2009
e de acordo com a versão atualizada do Projeto (2016), visa promover aos estudantes surdos,
surdocegos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação e informação, com atuação
conjunta do profissional Intérprete educacional, sendo um dos mediadores na construção
dosconhecimentos e conteúdos curriculares em todas as atividades didático-pedagógicas.
Tanto o Projeto Libras na Escola, quanto o Projeto Professor Intérprete possuem
respaldo legal, na Política Nacional de Educação Especial (2008) que sinaliza para a inclusão
além de outros dispositivos, e propõe:
Para o ingresso dos estudantes surdos nas escolas comuns, a educação bilíngüe –
Língua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na
língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade
escrita para estudantes surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua
Portuguesa e o ensino da Libras para os demais estudantes da escola. O atendimento
educacional especializado para esses estudantes é ofertado tanto na modalidade oral
e escrita quanto na língua de sinais. Devido à diferença lingüística, orienta-se que o
aluno surdo esteja com outros surdos em turmas comuns na escola regular.
(BRASIL, 2008, p.12).
71
Atualmente o “Projeto Professor Intérprete” envolve 21 estudantes e 17 docentes
intérprete de LIBRAS/ Língua Portuguesa e abrange 13 escolas, tanto da área urbana quanto a
localidade do campo.
Projeto Sala de Recursos Multifuncionais: este atendimento é direcionado ao
público-alvo da Educação Especial, tem como objetivo promover condições de acesso,
participação e aprendizagem aos estudantes com deficiência, transtornos globais de
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, matriculados na rede pública de ensino
regular da Secretaria Municipal de Educação, nos níveis da Educação Infantil (Período I e II),
Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) e modalidade da EJA e Educação do Campo.
De acordo com o projeto o atendimento será ofertado semanalmente, no horário oposto
ao que o aluno freqüenta no Ensino Regular, no mínimo três (03) vezes por semana, com
duração de no mínimo 2 horas.
O AEE previsto neste projeto encontra fundamentação legal na Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, na Resolução CNE/CEB nº 4/2009 que institui
diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica;
no Decreto nº 7.611/2011, o quais rege sobre a educação especial e o atendimento educacional
especializado. E a Resolução CEE/PA nº 001/2010 que dispõe sobre a regulamentação e a
consolidação das normas estaduais, bem como as normativas nacionais aplicáveis à Educação
Básica.
As instituições conveniadas com a rede muncipal de ensino: a APAE/Casa
bem-te-vi e a Associação Milton Melo são instituições especializadas filantrópicas que
realizam o atendimento educacional especializado e possuem convênio firmado com
Prefeitura Municipal de Abaetetuba. Observa-se, no entanto que estas isntituições, não
atendem os estudantes público-alvo da educação especial que apresentam deficiência auditiva,
visual, surdez e surdocegueira.
As instituições especializadas e conveniadas atendem ofertam o AEE aos estudantes
da rede pública no contra turno do ensino comum, além dos atendimentos clínicos de
estimulação precoce, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, atendimento
psicológico, orientações e acompanhamento de assistência social.conforme indica o quadro
01:
72
Tabela 09 - Evolução de matrículas nas instituições conveniadas.
MATRÍCULAS DOS ALUNOS PÚBLICO
ANO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
MILTON MELO APAE
2009 53 -
2010 25 120
2011 39 176
2012 54 86
2013 71 58
2014 22 96
2015 80 394
2016 99 170
Fonte: Setor de Estatística da SEMEC/Abaetetuba
A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos
Estados, Municípios e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, confessionais
ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade de ampliar a oferta do
atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na
rede pública de ensino regular” (BRASIL, 2011, p.01).
73
Apesar da portaria 243/MEC, de 15 de abril de 2016, que trata dos requisitos para o
funcionamento dessas instituições, inclusive as públicas e definir os critérios para supervisão
e avaliação dos serviços que são prestados ao público alvo da educação especial. Observa-se,
que não é realizado por parte da SEMEC um acompanhamento efetivo sobre o atendimento
educacional especializado desenvolvido nas instituições conveniadas. Este fato é justificado
pela autonomia pedagógica e financeira das mesmas.
Ressalta-se, no entanto que são promovidas ações de interação pedagógica entre os
docentes que atuam no AEE das instituições conveniadas, com os profissionais de apoio
escolar da SEMEC. E que o intercâmbio pedagógico entre os docentes das instituições
conveniadas e o professor do ensino regular e vice-versa, tanto das instituições conveniadas,
como das Salas de Recursos Multifuncionais da rede, ainda é pouco efetivada e a recusa para
a prática decorre pela demanda de trabalho, justificada pelos docentes.
74
5 ARTICULAÇÕES INTERSETORIAIS PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS
POLÍTICAS PÚBLICASDIRECIONADAS AOO PÚBLICO DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL
Assim, como deveria ocorrer nas demais políticas da sociedade brasileiras, as políticas
educacionais também deveriam atuar de forma articuladas, envolvendo as diversas áreas e
setores na promoção de políticas públicas que vá ao encontro das necessidades de todos os
educandos, incluindo as especificidades do público alvo da educação especial. Nesse sentido,
comungo com a idéia traduzida no pensamento de Caiado e Laplane ao tratar do assunto em
questão:
Uma política capaz de prever a integração efetiva com outros setores e esferas da
vida social. Assim, é nossa hipótese que as relações entre a educação, a saúde, o
transporte e a assistência social terão um papel importante nas próprias
possibilidades de sucesso dessa política. (CAIADO; LEPLANE, 2009, p.81)
O Setor de Educação Especial contribui, mas a gente sabe que não depende só dele,
depende dessa política pública, então às vezes a gente tem aluno aqui que está
precisando de psicólogo, de fono, de outros atendimentos, ai agente não tem esse
suporte. A gente coloca no relatório do aluno que a gente precisa disso e quando
chega lá na SEMEC não tem.[...] então não adianta colocar aqui, a gente sabe que
tem que unir a questão da intersetorialidade, que tem que ter essa relação com outras
secretarias [...]. Ai essa política não está contribuindo (DS1).
75
Diante da narrativa do docente (DS1), percebe-se que o mesmo desconhece o que
afirma o decreto e demais dispositivos legais as parcerias com as áreas intersetoriais, ao
mesmo tempo, contribui apontando para a operacionalização dos relatórios dos estudantes
atendidos e as necessidades de atendimentos complementares dos mesmos. Sabe-se que a
própria legislação contribui para esta indefinição das ações docente quando atribui ao mesmo
funções diversas (docência, técnica e de gestão).
Existe discussão da secretaria de municipal de educação com a área da saúde para
acordar possível parceria, porém até o momento não é possível identificar na rede municipal
de ensino uma política intersetorial da educação articulada com as demais áreas que viabilize
as necessidades dos educandos da educação especial, conforme propostos nos dispositivos
legais.
Em relação aos serviços de saúde voltados ao público da educação especial que
recebem AEE nas escolas da rede pública de ensino, quando necessitam, seus familiares
buscam suportes da saúde pelos caminhos do SUS. Os educandos da rede municipal que
recebem o AEE nas escolas especializadas/conveniadas, contam com serviços diferenciados
de saúde e assistência social.
76
[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que
eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas
necessidades específicas[...] disponibiliza programas de enriquecimento curricular, o
ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas
técnicas e tecnológia assistiva, dentre outros (BRASIL, 2008, p.16).
77
e materiais didáticos e pedagógicos de acessibilidade, bem como, da lotação do docentepara
atuar no AEE.
Para firmar a parceria com o MEC/SECADI na implantação das Salas de Recursos
Multifuncionais, os sistemas de ensino devem atender os critérios estabelecidos pelo
programa. Os espaços são classificados como tipo I, e tipo II (está última é acrescida de
outros recursos e materiais pedagógicos específicos para estudantes que apresentam cegueira).
Dessa maneira, as Salas de Recursos Multifuncionais são implementadas pelo governo
federal, conforme a demanda da rede onde o Censo Escolar indicou a matrícula dos estudantes
público-alvo da Educação Especial.
No âmbito da rede municipal de ensino em Abaetetuba, são apenas 19 escolas públicas
municipais que ofertam o AEE e esse número de escolas vem decrescendo, segundo os dados
do Setor de educação Especial da SEMEC, no ano de 2009 existiam 27 escolas estruturadas
com Salas de Recursos, sendo 15 na área urbana e 12 na área rural e considerando que a rede
municipal de ensino conta com 175 escolas, ou seja, as escolas que possuem SRM
representam atualmente 10,85% do número de escolas existentes na rede de ensino. Esses
espaços pedagógicos estão distribuídos da seguinte forma: 14 escolas na cidade e 05 no
Campo (02 nas ilhas e 03 nos Ramais). Assim, foram desativadas 08 Salas de Recursos e o
maior número de desativação concentra-se na área rural.
O quadro 02 destaca as unidades educacionais da rede municipal de ensino que
possuem Sala de Recursos multifuncionais:
78
Parte dos equipamentos das SRM foram entregues diretamente na escola e outra
(principalmente das salas de recursos da área rural), na Secretaria Municipal de Educação
para posterior entrega as escolas.
Observa-se que, embora a SEMEC seja a executora das ações de Educação Especial
nas escolas públicas da rede municipal de ensino, a mesma não possui gerência sobre o envio
de recursos materiais contínuo para as escolas, já que o repasse ocorre via MEC direto para
asescolas da sede do município, conforme informações do Setor de Educação Especial.
Apesar do importante trabalho do AEEdesenvolvido pelas escolas públicas municipais
em Abaetetuba, as atividades pedagógicas nesses espaços não são desenvolvidas na mesma
proporção indicada pelo Programa de Implantação destas Salas, pois observa-se em certos
espaços da SRM a falta de equipamentos que compõe o (kit pedagógico) como: televisor,
impressora, scanner, cadeiras e mobiliários adaptados, entre outros recursos e ainda as salas
que possuem os equipamentos, os mesmos encontram-se com defeito ou na secretaria da
escola. Essa situação foi identificada no decorrer da pesquisa de campo, e é mais acentuada
nasescolas localizadas na área rural.
Diante do exposto, questiona-se: será que a Sala de Recursos Multifuncionais nessas
condições verificadas oferece realmente as melhores possibilidades para a oferta do AEE, que
atenda o público alvo da Educação Especial com suas especiaficidades e demandas
educacionais na rede pública do ensino regular? Pois os estudantes podem ter o acesso
garantido por lei no espaço escolar, no entanto diante da situação educacional exposta, à qual
é oferecida aos educandos, é delicado falar em inclusão escolar.
De acordo com o programa do MEC, as Salas de Recursos Multifuncionais são
classificadas do Tipo I e Tipo II. As salas do tipo I são compostas por equipamentos e
materiais didático/pedagógicos para atender todos os alunos com necessidades educacionais
especiais. As Salas do Tipo II contém todos os equipamentos da sala do Tipo I, sendo
adicionados os recursos de acessibilidade para o atendimento de alunos cegos ou com Baixa
Visão. As Salas de Recursos Multifuncionais do Tipo I são compostas de equipamentos e
materiais didático-pedagógicos demonstrados no quadro 03:
79
As Salas do Tipo II são consideradas complemento, com recursos específicos são
compostas dos seguintes equipamentos e materiais didático-pedagógicos, conforme apresenta
quadro 04:
80
De acordo com a realidade na organização das Salas de Recursos da rede municipal de
ensino em Abetetuba, geralmente é lotado 01 docente em cada horário de atendimento, sendo
que das 19 salas de recursos existentes, apenas 02 escolas contam com mais de um docente.
Na sede do município são atendidos parte dos alunos das ilhas, pois esta localidade
conta com apenas 02 escolas que possuem SRM, sendo lotado 01 docente em cada horário,
estes possuem somente 20h de trabalho semanal. Pelo motivo do número reduzido de escolas
e docentes para realizar o AEE, parte dos estudantes das ilhas do município frequentam o
AEE nas escolas da sede do município.
Sobre os estudantes com dificuldade ou problema de aprendizagem, estes recebem
apoio pedagógico por meio de projetos coordenados pelas escolas. São 14 Salas de Recursos
localizadas em escolas da área urbana, 03 na área rural estradas e ramais e 02 nas ilhas.
Quanto ao número de professores que atuam nas Salas de Recursos Multifuncionais,
os dados do Setor de Educação Especial em 2016 revelam que a rede municipal possui
atualmente 36 professores.
Assim, a educação Especial na perspectiva inclusiva desenvolvida no município de
Abaetetuba pela Secretaria municipal de Educação (SEMEC) é resultante do convênio
firmado com a SEESP, atual SECADI, e com o apoio do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), para financiamento das ações voltadas para a
construção da escola inclusiva. Estas ações visam efetivar a reestruturação e adequações dos
espaços físicos das escolas a fim de promover a acessibilidade.
Quanto aos instrumentos de planejamento docente, as SRM utilizam o Plano de
Desenvolvimento Individualizado-PDI, que tem como objetivo realizar o levantamento de
informações sobre o educando, no intuito de mediar e viabilizar suas necessidades e organizar
o plano de atendimento diário. Além do PDI, cabe aos docentes o planejamento do Plano
Pedagógico Especializado, que é o instrumento que propicia a intervenção pedagógica do
profissional do AEE, visando favorecer seu processo de aprendizagem no ensino regular.
O apoio técnico e financeiro é oferecido pela união aos sistemas de ensino para a
implantação dos espaços do AEE, com a finalidade da oferta do atendimento educacional
especializado nas escolas públicas. Sobre isso, o quadro abaixo retrata o repasse de recursos
realizados pelo governo federal às escolas da rede municipal de Abaetetuba, conforme o
Plano municipal de Educação (2012, p.102):
PDDE R$1.979.390,59
PDE ESCOLA
R$1.143.000,00
MAIS EDUCAÇÃO R$2.344.118,10
TOTAL R$ 5.997.408,69
Fonte: FNDE/MEC, Plano Municipal de Educação (2012).
81
segundo, informações extraídas no Plano Municipal de Educação. Nesse sentido, as escolas
públicas da rede municipal de ensino que atuam na perspectiva inclusiva têm recebido apoio
financeiro do governo federal para adequações de seus espaços.
A Coordenadora do Setor de Educação Especial ao se manifestar sobre os recursos,
esclarece que “algumas ações são custeadas através dos recursos do FUNDEB, outras com
recursos próprios da prefeitura” (CSEE, 2016).
Verifica-se que nem todas as unidades escolares possuem adequações necessárias em
suas estruturas físicas para favorecer acessibilidade, principalmente as escolas que possuem
estudantes que apresentam deficiência física e visual, além de outros comprometimentos e a
situação é justificada pela escassez de recursos públicos.
Quanto ao apoio técnico e financeiro da União para com os sistemas públicos de
ensino e instituições especializadas, preconizados no Decreto nº 7.611 de 2011, os incisos III
e IV do art.9º citam sobre esse apoio a formação continuada para os docentes, gestores e
demais profissionais da educação. Para os docentes, oferece inclusive, apoio para realização
de cursos sobre educação bilíngue, braile, bem como os demais profissionais educação, com o
fortalecimento de vínculos interpessoais.
Embora se reconheça os avanços no AEE nas escolas públicas municipais, a realidade
indica a necessidade de investimentos permanentes em ações de políticas educacionais
inclusivas e políticas de formação para os docentes, bem como o acompanhamento e
avaliação abrangente do trabalho, de forma que favoreça a inclusão dos educandos.
Na implementação de uma proposta inclusiva, não basta oferecer recursos, pois as
ações precisam ter um caráter mais amplo, refere-se na organização e na totalidade das
políticas dos sistemas de ensino e da escola, tendo como parâmetro a inclusão.
82
Os alunos atendidos, na sua totalidade são oriundos de famílias consideradas de baixa
renda, conforme registros identificados no Projeto Político Pedagógico-PPP (2016), 32,8%
dessas famílias recebem menos de um salário mínimo e 15% dos responsáveis de alunos se
autodeclararam analfabetos. Conforme mostra a figura 12:
83
O Projeto Pedagógico da escola ES1 possui referência do ano de 2016, o documento é
fruto de construção gradativa pela comunidade escolar, possui 30 páginas e a sistematização
do documento encontra-se organizada com os seguintes itens principais: apresentação;
diagnóstico da realidade escolar; concepção filosófica; concepção de Educação; concepção de
aprendizagem, relacionamento escola e comunidade; objetivos e metas; ações e projetos;
acompanhamento e avaliação.
A linha filosófica da escola está embasada na tendência crítico social dos conteúdos e
defende princípios como:
Gestão democrática;
Escola acolhedora e segura, um espaço não somente para aprender, mas para ser;
Escola que promove a transformação do sujeito, através dos conteúdos culturais,
para a transformação da sociedade;
Docentes conscientes de seu papel para o educando e para a sociedade.
(ABAETETUBA, 2016, p.11)
84
A nossa escola é considerada inclusiva, portanto o currículo também deve ser
flexível para atender as dificuldades desses alunos com deficiência, garantindo para
os funcionários formação continuada nas áreas específicas para o atendimento a
pessoa com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. Sendo assim, um currículo inclusivo deve implicar na
inserção de todos sem distinção, considerando-se as diferenças sensoriais,
cognitivas, físicas, emocionais, éticas e socioeconômicas. Requerendo ainda,
sistemas educacionais planejados e organizados de tal forma que promova o trabalho
com a diversidade dos alunos e que ofereça respostas satisfatórias assuas
características e necessidades. (ABAETETUBA, 2016, p.11).
O PPP em análise não apresenta clareza quanto ao trabalho inclusivo, assim não foi
possível identificar no mesmo a estrutura geral dos serviços do AEE, ou seja, o plano do AEE
da escola.
Percebe-se que o documento esboça princípios filosóficos e concepções voltados para
construção de uma postura inclusiva, tais como desenvolver valores democráticos, adoção de
prática pedagógica integradora, trabalho coletivo e a efetivação de direitos, mas esses
conceitos transitam no plano das ideias se comparado com a prática cotidiana no interior da
escola.
Ao analisar as ausências de metas para o trabalho direcionado ao público da educação
especial, entende-se que é necessário implementar políticas formação que promova a
autorreflexão crítica. Imprescindível para melhor compreensão sobre educação especial
inclusiva.
85
O Contexto da Sala de Recursos Multifuncionais da Escola (ES1):
Os nossos alunos das ilhas apresentam bastante dificuldade, eu penso que é pelo
número de atendimentos. É inviável eles virem mais de uma vez por conta da
distância, transporte, dificuldade[...] eles pagam o transporte para vir (DS1).
86
Assim, o plano contempla o que diz a Resolução 04/2009, no Art. 13, II – “elaborar e
executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a
aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade”.
Outro instrumento didático utilizado pelos docentes é o Plano de Atendimento
Pedagógico, estruturado por três áreas a serem trabalhadas: área cognitiva, motora e
social/afetiva e o relatório de desempenho final do aluno, documento de registro dos avanços
e entraves no desenvolvimento. Em cada área o docente observa: os objetivos, as atividades,
as adaptações necessárias, a metodologia, os recursos e os critérios de avaliação.
Os docentes do AEE desenvolvem o Projeto “Libras na sala de aula”, que consiste na
ida em turmas do ensino regular uma vez por semana, em horários pré-agendados, com
duração de 45 minutos para todos os alunos. Os docentes do AEE, realizam sempre que
possível a visita no ensino regular e na família do educando.
Quanto ao planejamento, foi identificado um trabalho bem organizado, porém os
docentes consideram o instrumental do PDI muito extenso. As ações articuladas são
comprometidas por falta de um planejamento coletivo e do trabalho interdisciplinar. A
interação com a família ocorre de forma esporádica, somente, quando convocada e quando
precisa conversar a respeito do educando. E quanto ao trabalho intersetorial não foi
identificado, pois a comunidade escolar não se sente responsável por esta ação.
Como instrumento de avaliação é utilizado o relatório final do desempenho do aluno,
documento de registro dos avanços e dificuldades, bem como dos atendimentos e ou serviços
complementares necessários para o próximo ano letivo.
88
refere-se a uma formação crítica, mítica e ética. Entende-se, no entanto que estes princípios
são antagônicos, uma vez que uma formação voltada para o mercado de trabalho não coaduna
com uma formação crítica e ética, são concepções que possuem princípios filosóficos distintos
e sobre essa questão Freire (1996, p.11), comenta “[...] é preciso também atentar para a força
do seu discurso ideológico e para as inversões que pode operar no pensamento e na prática
pedagógica”.
A escola é concebida no documento como “um espaço de aprendizagem, de
coletividade, de igualdade e/ou de possibilidade de que a igualdade deva prevalecer”
(ABAETETUBA, 2013, p.12).
Ao discorrer sobre a concepção de educação, o Projeto Político Pedagógico (2013),
enfatiza:
Assim, verifica-se que as metas citadas no documento e projetadas para EJA não
foram atingidas, pois as turmas foram desativadas.
Apesar do documento retratar os anseios e os objetivos da comunidade local quanto a
questão educacional, observa-se que existem lacunas no documento que indicam que este
encontra-se inconcluso, não foi identificado registro descritivo da forma como ocorreu o
processo de construção do mesmo.
Outro ponto importante que sugere reflexão, refere-se à ausência do plano de trabalho
direcionado a proposta de educação inclusiva e diretrizes pedagógicas, objetivos e ações do
Projeto Político Pedagógico.
Todo projeto político pedagógico, deve se revestir em instrumento que aponta para a
organização do ensino, possibilitando elevar a qualidade do trabalho, a LBI, no art.28, inciso
III reforça a importância do documento e comenta que a escola deve providenciar este
instrumento, assim ressalta:
89
currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua
cidadania (BRASIL,2015, p.07).
Quanto a formação docente, não foi possível identificar referências no PPP sobre
como a instituição conduz a política de formação de seus profissionais.
No que se refere a concepção de avaliação, a comunidade escolar traduz a seguinte
proposição:
Um processo que deve ser contínuo, sistemático, de aprendizagem, de reflexão, de
diálogo, considerando todo o momento como de construção de conhecimento. Além
disso, deve ser considerada como um instrumento que pode ser utilizado sob várias
formas, ou seja, não adotando modelos ou priorizando um tipo. A diversidade de
instrumentos vai fornecer ao educador um número maior, como também melhores
informações sobre o cotidiano da sala de aula. (ABAETETUBA, 2013, p. 24)
90
em execução, bem como não foi relatado atividades de visitas no locus do ensino regular e
nem junto a família.
A escola EI3 encontra-se localizada na área Rural/Campo (região das Ilhas), mais
precisamente no rio Arumanduba, localidade que possui uma população estimada em 2.600
pessoas distribuídas em 244 famílias, cujas bases econômicas estão voltadas para atividade
agrícola familiar, cultivo de produtos naturais, comercialização, pesca, entre outros.
A região das ilhas de Abaetetuba é formada por furos e igarapés e constituída de
aproximadamente 40.000 pessoas, segundo informações do Movimento dos Moradores das
Ilhas e Várzea de Abaetetuba-MORIVA. Nesse sentido, a região conta com 82 unidades
educacionais, no entanto apenas 02 escolas públicas municipais possuem Salas de Recursos
Multifuncionais implantadas.
O PPP caracteriza a região e o contexto econômico dos moradores da localidade e
descreve:
91
A instituição encontra-se localizada às margens do Rio Arumanduba, na região das
ilhas de Abaetetuba e funciona nos turnos matutino e vespertino. Atende um total de 195
estudantes matriculados, sendo 41 na Educação Infantil e 154 no Ensino Fundamental (1º ao
5º ano), do total de estudantes matriculados, 04 são considerados público alvo da educação
especial atendidos na SRM. Ressalta-se que a escola não possui turma de EJA.
O quadro administrativo é composto de 20 funcionários, incluindo 01 Diretor, 07
Técnicos Administrativos, 12 Docentes lotados no ensino regular, incluindo a docente da Sala
de Recursos Multifuncional e 01cuidadora.
A estrutura física é considerada de médio porte, constituída de 06 Salas de aula, 01
Sala de diretoria, 01 Secretaria, 01 Sala de Recursos Multifuncionais, 01 pequena biblioteca,
banheiro com rampa e com alargamento de portas, de acesso restrito comum, Pátio coberto,
01copa cozinha e 01sala depósito.
O Projeto Político Pedagógico da escola, encontra-se desatualizado em relação ao
tempo de efetivação, pois refere-se ao período de 2012 a 2013. O documento possui 49
páginas e quanto aos itens que compõem: introdução, dimensão administrativa, aspectos
geográficos, diagnostico, organização curricular, metodologia, planejamento, avaliação da
aprendizagem, organização do tempo escolar, formação continuada, serviços técnicos
pedagógicos, relação escola-família, conselho escolar, serviço especializado, fundamentação
teórica, conceito de educação, missão, objetivos, metas, acompanhamento e avaliação,
cronograma e referencias.
A linha filosófica da escola está fundamentada nas concepções de Freire, Gardner,
Jussara Hofmann e Bolivar e no PPP a educação é considerada como processo coletivo de
desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Apoia o
pensamento de que a escola deve ser uma família que contribui para o desenvolvimento social
do educando e a aprendizagem decorre na interação social. A gestão deve ser democrática e
participativa e entende-se o currículo como um processo que deve ser vivenciado nas
relações, experiências e avaliação como um processo contínuo, sistemático de aprendizagem,
de reflexão, de diálogo baseada no diálogo.
De forma geral, apesar de necessitar de atualização, o documento encontra-se bem
estruturado e retrata a intenção da instituição em primar pelos princípios da participação,
interação social e do diálogo, pois Damasceno (2010, p.168), observa sobre o planejamento
escolar, “não há dúvida sobre a orientação de que se desenvolva de maneira participativa,
ampliando o processo de organização ao descentralizar-se, apontando a participação de outros
agentes, como pais e comunidade, no processo da organização escolar”.
Um aspecto importante verificado no PPP diz respeito ao AEE. O documento
considera este atendimento importante no trabalho da escola e descreve as diretrizes básicas
do atendimento, como o horário, no qual frisa que deve ser oposto da classe comum e o
número de vezes por semana, considerando 02 ou 03 vezes; o número de alunos por turma,
variáveis, entre 05 a 10, no máximo e os atendimentos individuais ou em grupos de até 02
alunos, levando em consideração as necessidades específicas dos mesmos.
Quanto as normas de funcionamento do AEE, contidas no PPP, observa-se que a
prática do atendimento nesta SRM contraria essas orientações, bem como as diretrizes
oriundas da SEMEC, pois foi informado pela docente que dois estudantes recebem o
atendimento no mesmo horário de aula do ensino regular duas vezes por semana em duas
horas de tempo e dois alunos frequentam somente o AEE devido apresentar comportamento
agressivo.
A SEMEC é clara quanto ao atendimento na SRM: “O atendimento será ofertado
semanalmente, no horário oposto ao que o aluno frequenta no Ensino Regular, no mínimo três
(03) vezes por semana, com duração de no mínimo 2 horas” (ABAETETUBA, 2010, p.15).
92
Quanto ao trabalho pedagógico, a docente DI3, relata sobre sua percepção em relação
a visão dos docentes do ensino regular:
Para a maioria das pessoas na escola, o AEE é visto como reforço escolar. Que
digamos como se fosse o meu papel ensinar aquele aluno a ler e escrever. Coisas que
deveria ser a professora lá que estivesse focando de fato nisso e aqui eu poderia estar
trabalhando outras necessidades daquele aluno para que ele pudesse melhorar lá na
sala de aula (DI3, 2016)
E sobre os recursos e atividades previstos para o AEE, o Projeto Pedagógico da escola pontua:
93
apresentam muitas ausências nos atendimentos, principalmente devido a constante interrupção
no convênio do transporte escolar fornecido pela SEMEC ou pela SEDUC.
Observa-se que, sobre o planejamento, não foi identificado registro do atendimento
dos estudantes. A docente considera o instrumental do PDI muito extenso para ser utilizado.
Quanto aos projetos, ou trabalho de formação desenvolvidos pela comunidade escolar a
docente DI3, afirma que não ocorrem, assim como o trabalho articulado e nesse caso, ao ser
interrogada sobre os encontros para o diálogo entre os docentes do AEE e do ensino comum,
comenta referindo-se ao processo da avaliação da aprendizagem no ensino regular e
acrescenta “ não acontece, pois quando é relatório, ele faz sozinho, quando é avaliação ele faz
sozinho e fica por isso mesmo” (DI3).
As ações articuladas são comprometidas por falta do planejamento coletivo e do
trabalho interdisciplinar no AEE. A interação com a família ocorre de forma esporádica,
somente quando a mesma é convocada e quando precisa conversar a respeito do educando.
Quanto ao trabalho intersetorial não foi identificado, pois a comunidade escolar não se sente
responsável por esta ação inclusiva.
94
6 FORMAÇÃO DOCENTE E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO: OS DESAFIOS DA INCLUSÃO NA REDE MUNICIPAL DE
ENSINO DE ABAETETUBA/PÁ
A formação docente, tanto inicial como continuada, constitui-se a partir dos anos de
1990, em uma das mais importantes políticas defendidas como condição para o avanço do
processo de inclusão educacional com qualidade. Nesse sentido, inúmeros dispositivos legais
e referenciais teóricos salientam a formação docente e o atendimento educacional
especializado na modalidade da educação especial.
A LDB, lei 939496 de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, reitera quanto a
formação docente e reporta-se ao artigo 59, ao propor que os Sistemas de Ensino devem
assegurar aos educandos público da educação especial: “professores com especialização
adequada em nível médio ou superior para atendimento especializado, bem como professores
do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns”
(BRASIL,1996, p.25).
Outro documento importante nesta discussão é a atual Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), no qual a formação docente é tratada
da seguinte forma:
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação,
inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e
conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no
atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e
interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos,
nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade
das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes
domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial (BRASIL,
2008, p. 17).
Com a determinação da Lei nº 9.394/96, a formação inicial dos docentes, no Art. 62.
é descrita da seguinte forma “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á
em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal” (BRASIL,1996, p.23).
A lei magna da educação ainda esclarece sobre a forma como poderá ocorrer esta formação,
assim:
96
Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação a
Distância e Educação Escolar Quilombola), nas diferentes áreas do conhecimento e
com integração entre elas, podendo abranger um campo específico e/ou
interdisciplinar(BRASIL, 2015, p.03).
E ainda acrescenta:
Art. 17. A formação continuada, na forma do artigo 16, deve se dar pela oferta de
atividades formativas e cursos de atualização, extensão, aperfeiçoamento,
especialização, mestrado e doutorado que agreguem novos saberes e práticas,
articulados às políticas e gestão da educação, à área de atuação do profissional e às
instituições de educação básica, em suas diferentes etapas e modalidades da
educação
Diante desta realidade, sabe-se que os docentes buscam como podem diferentes
formas de adquirir conhecimentos na área para desenvolver o trabalho com qualidade.
Segundo Candau (2003), os docentes realizam formação promovidas por instituições
particulares, pelas próprias secretarias de educação e pelas universidades para realizar cursos
de diferentes níveis de aperfeiçoamento, especialização, pós-graduação lato e stricto sensu.
97
Uma questão importante quando se discute a formação docente é atentar não somente
para a questão da oferta, mas sobretudo para a qualidade dos cursos que são oferecidos aos
estudantes de graduação e profissionais que já atuam na educação, tanto na formação inicial
como continuada, pois a qualidade pode comprometer seriamente a prática do profissional.
Na rede municipal de ensino de Abaetetuba a dificuldade para a efetivar o processo de
inclusão, segundo a opinião da Coordenação do Setor de Educação Especial da SEMEC em
Abaetetuba, perpassa, sobretudo pela formação dos docentes, assim a mesma comenta: “O
professor tem boa vontade, mas lhe falta referencial teórico sobre o público da educação
especial, sobre metodologias de como trabalhar com esse público” (CSEE, 2016).
As formações promovidas pela SEMEC, com o objetivo de capacitar os profissionais
da Educação Especial, são consideradas pelos professores como “aligeiradas, fragmentadas e
descontínuas, por apresentar carga horária curta e geralmente ocorrem por meio de
seminários, palestras, oficinas e encontros. A docente da escola EER2 comenta a questão:
A gente tem muita dificuldade com um público alvo que a gente não tem formação,
que não tem conhecimento e.…vou te dar um exemplo, a gente gostaria muito de ter
uma formação sobre libras tátil por conta da nossa aluna cega e mesmo com tanto
conhecimento, mesmo assim eu ainda não me sinto, assim segura, pois eu posso
estar fazendo o meu trabalho assim desse jeito, mas eu posso estar errada (DS1,
2017).
98
[...] ao longo de todos esses anos a gente vem implementando formação, então os
professores que não tem condições de trabalhar deve estar faltando alguma coisa
...ne? Será que esses cursos estão servindo para eles colocarem em pratica ou é só
mais um certificado a mais? Será que eu aprendo realmente? Eu fico me
perguntando porque é o nosso fazer, então eu tenho que ter consciência que uma
hora ou outra... (CSEE, 2016).
Identifica-se que apesar dos docentes do AEE nas escolas ES1, EER2 e EI3
participarem frequentemente de cursos de formação e ainda possuírem anos na Educação
Especial, os mesmos encontram dificuldades diversas para realizar o atendimento na Sala de
Recursos Multifuncionais:
Falta máquina braille, não tenho reglete, o aluno que não foi estimulado a
comunicação de libras, alunos que faltam muito, e a formação que é essencial
(DER2, 2016).
Na verdade, eu foco nas deficiências que eu tenho aqui. Que eu estou atendendo,
mas eu acho que se eu recebesse um aluno autista eu não saberia trabalhar e com
certeza eu tenho que melhorar muito e só esses cursos que a SEMEC oferece não é
suficiente (DI3, 2016)
Mantoan (2001, p.118), no entanto, analisa essa situação e comenta que os docentes
realmente necessitam estar em permanente processo de formação e observa:
Acreditam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar as crianças com
deficiências ou dificuldades de aprender por outras incontáveis causas referem-se,
primordialmente, à conceituação, etiologia, prognósticos das deficiências e que
precisam conhecer e saber aplicar métodos e técnicas específicas para a
aprendizagem escolar desses alunos.
Enquanto os docentes das escolas ES1, EER2 e EI3 comentam sobre distanciamento
da SEMEC e afirmam que as formações atendem em parte suas necessidades e anseios
profissionais. Por outro lado, os mesmos buscam formação por conta própria realizando
cursos, inclusive particular, não esperam que este seja viabilizado somente pela rede
municipal de ensino.
No levantamento estatístico das matrículas do público-alvo da educação especial na
rede de ensino, foi identificado predominância de estudantes que apresentam Deficiência
Intelectual. No entanto, a ênfase nas ações de formação continuada para os docentes do AEE
está voltada para a deficiência auditiva. Esta constatação é reafirmada pela reivindicação dos
docentes para que seja diversificado os cursos de formação, de forma a subsidiar o trabalho
com os estudantes que apresentam outras deficiências.
Diante desta discussão sobre formação docente, questiona-se: é possível uma política
de formação que atenda uma demanda tão ampla de necessidades educacionais específicas do
público-alvo da educação especial?
Este ideal de formação, é contemplado na narrativa da docente da escola EER2. “A gente que
trabalha com todo esse público alvo, todas são importantes, todas as temáticas são
importantes para quem trabalha com tudo” (DER2, 2016)
Também se verifica nas escolas a prática de grupos de diálogo sobre os alunos
atendidos (estudo de caso), é muito comum esta prática entre os docentes lotados no AEE da
99
rede municipal de ensino, contudo observa-se que esta prática pedagógica ocorre de forma
esporádica, justificada pelos desencontros nos horários dos profissionais. E quanto a
organização do tempo a Coordenadora do Setor propõe:
Eu acho que todo professor de educação especial deveria ter duzentas horas em uma
só escola [...] porque vai facilitar o acompanhamento com as famílias. O professor
vai ter uma visão geral, vai ter mais tempo. Do que está aqui e em Barcarena, aqui e
em Igarapé-Miri, aqui e no estado. Isso atrapalha muito...muito mesmo, eu vejo
como uma coisa que atrapalha demais (CSEE, 2016).
É evidente, contudo, que não se deve responsabilizar apenas o docente e sua formação
profissional pelo bom desempenho dos estudantes nas escolas e pelo sucesso no processo de
inclusão escolar, mas é importante repensar as políticas educacionais e a organização no
cotidiano escolar. Nesse sentido, a Coordenação do Setor de Educação Especial pontua:
“Acredito que todos nós temos responsabilidades: o governo, a escola, a família e toda sua
comunidade” (CSEE, 2016).
A formação em contexto é muito importante e nesse sentido, concordo com o
pensamento de Perrenoud (2002) quando discute a importância do contexto escolar como
locus de formação que permite ao professor vivenciar situações que propiciam a reflexão e a
tomada de decisões para a reestruturação de sua prática pedagógica. Assim, a formação
docente para atuação no AEE deve ser processo contínuo no exercício da profissão e
associado a realidade educacional.
Nesse cenário descrito de formação coletiva, torna-se imprescindível a atuação da
Coordenação pedagógica da escola, pois:
100
Quadro 05-Encontro de educação especial em Abaetetuba/PA.
ENCONTROS ANUAIS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NO MUNICÍPIO DE
ABAETETUBA
ANO TEMÁTICA
2000 I Os Valores Proclamados e os Valores Reais da Educação Especial;
2001 II Fracasso Escolar;
2002 III Desconstruindo Práticas que segregam;
2003 IV Inclusão Escolar: Compromisso de Todos;
2004 V Educação para todos: Ressignificando o Espaço Escolar;
2005 VI Educação para a Diversidade: Novas concepções, Novas atitudes;
2006 VII Inclusão: do cotidiano escolar à implementação das Políticas Públicas;
2007 VIII O Protagonismo da Escola no processo de Inclusão;
2008 IX Inclusão Escolar: Direitos Humanos e Social;
2009 X Diversidade: o desafio das diferenças na escola;
2010 XI A Educação Inclusiva no Cenário atual da Escola;
2011 XII Educação Inclusiva, uma responsabilidade coletiva do Sistema Educacional;
2012 XIII Inclusão escolar: vivência e concretização da função social da escola. Tempo
de recriar, tempo de incluir;
2013 XIV Educação Inclusiva e Valorização da Escola Pública;
2014 XV Políticas Públicas e Cidadania;
2015 XVI Refletindo a Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva;
2016 XVII Inclusão e Renovação da escola: das políticas públicas às práticas
educacionais;
2017 XVIII Educação Inclusiva e Emancipação
101
Quadro 06 - Formação continuada sobre educação especial em Abaetetuba/PA.
ANO AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA
Formação sobre a Nova Política Nacional de Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva/2008;
2009 Formação sobre Desenvolvimento Humano;
Formação sobre Práticas Pedagógicas desenvolvidas com alunos público-alvo da
Educação Especial;
Formação continuada para os Professores da Educação Infantil/Creche:
Concepções do Desenvolvimento Infantil: Teorias de Piaget e Vigotsky;
Legislação Decreto nº 6.571/2008 (Institucionalização do AEE);
Orientações para a construção dos Projetos das Salas de Recursos Multifuncionais
e Elaboração da Ficha de Acompanhamento do aluno para 2010;
Formação Continuada para os docentes da Educação Especial, coordenadores
pedagógicos, diretores e professores do ensino regular cuja escola executa o
2010 Projeto Professor Cuidador;
Foramação sobre Construção do Plano Individual do Aluno matriculado no AEE;
Orientações Metodológicas;
Formação aos docentes, tema: Estruturando o AEE;
Seminário de Educação Profissional: A Educação Especial na Defesa de Direitos
2011 ao Mercado de Trabalho;
Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla na APAE;
Formação sobre Desenvolvimento da sexualidade nas Pessoas com Deficiência;
Formação para Professores cuidadores, do ensino regular e coordenadores
pedagógicos;
2012
Temáticas: orientações a respeito do projeto professor cuidador; práticas
pedagógicas inclusivas; práticas pedagógicas e tecnológicas na educação inclusiva;
Formação continuada sobre o público alvo da Educação especial (oficinas
pedagógicas).
2015 II Simpósio Municipal da Síndrome de Williams Beuren;
Uma importante formação que envolveu docentes que atuam na educação especial da
rede municipal de ensino foi o curso de formação continuada para o Atendimento Educacional
Especializado (AEE), em formato de especialização, este ocorreu na modalidade à distância,
desenvolvido pela Universidade Aberta do Brasil – UAB e na modalidade presencial e
semipresencial pela Rede Nacional de Formação Continuada de Professores na Educação
Básica – RENAFOR, no período de 2011/2013. O curso foi ofertado por meio de convênio
entre o MEC/SEESP e as universidades estaduais e federais, como parte das ações de
formação da Rede Nacional de Formação Inicial e Continuada de Profissionais da Educação-
RENAFOR.
Também foram destinadas vagas para os docentes que atuam na educação especial em
cursos ministrados pela Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA e a Universidade
Federal do Pará -UFPA. Sobre esta política de formação a Coordenação do Setor de Educação
Especial comenta:
Porque nós fornecemos formação em AEE, através da UFRA, depois houve só sobre
práticas tecnológicas, englobava todas as deficiências, também pela UFPA, dos vox
voltado para cegos. Então...cursos apoiados por instituições de renome, ...que é a
UFRA... né? Dentro do RENAFOR (CSEE/2016).
102
Municipal de Educação ou por solicitação dos servidores atendendo com prioridade
a sua integração, atualização e aperfeiçoamento.
E ainda acrescenta:
Art. 28. O processo de Qualificação Profissional ocorrerá por iniciativa do Governo,
através da Secretaria Municipal de Educação mediante convênio, ou por iniciativa
do próprio servidor [...]
III – formação continuada dos Trabalhadores em Educação;
Observar que os professores do AEE realizam formação para os professores do
ensino regular e demais integrantes da escola, bem como a equipe de educação
especial (ABAETETUBA, 2009, p.41).
Deve ser um compromisso dos sistemas de ensino com a qualidade do ensino que,
nesta perspectiva, devem assegurar que sejam aptos a elaborar e a implantar novas
propostas e práticas de ensino para responder às características de seus alunos,
inclusive aquelas evidenciadas pelos alunos com necessidades educacionais
especiais (PRIETO, 2006, p. 57).
103
dentre outras situações, a descaracterização do profissional, próprio atendimento educacional
especializado, a sobrecarga de trabalho e de responsabilização pelo desempenho dos
estudantes público-alvo da educação especial.
Sobre o docente de Educação Especial, mencionado pela Política de Educação Especial
em comparação com as atribuições do docente do AEE, o documento aponta para um
profissional com diferentes vertentes de formação e atuação. No entanto, considera-se que
este último possa assumir o papel de intermediador da política de inclusão na escola, tendo
em vista que, dentre suas atribuições, a Resolução nº 4 (BRASIL, 2009, p. 02), observa que:
A concepção de atuação docente apontada pela Política Nacional (2008) está pautada
em um perfil profissional que deve ser capaz de atuar em diferentes espaços e contextos, pois
esse profissional ora é o docente, ora é o gestor dessa política na escola e ora é o técnico que
orienta o uso de recursos para o desenvolvimento das habilidades dos estudantes. Nesse
sentido, a docente da escola EI3 diz: “A gente não consegue ser esse multiprofissional que a
lei diz que deveríamos ser”.
Verificando as diretrizes definidas pela Resolução CNE/CEB nº 04/2009, percebe-se a
ênfase e a preocupação de que os estudantes estejam na escola e prioritariamente no ensino
regular, bem como na utilização dos recursos e técnicas necessárias para a sua aprendizagem,
ou seja, frisa-se o ensino de técnicas específicas para a deficiência do educando, porém
quanto ao detalhamento para a instrumentalização destes recursos, percebe-se que o
documento deixa lacunas.
Tais indicações contribuem para a falta de entendimento sobre quem é o professor de
Educação Especial na atual política, tendo em vista que esse profissional ora é o especialista
que precisa ter conhecimentos específicos da área para atender as necessidades educacionais
do público-alvo, ora é o generalista que atuará tanto nas salas de recursos multifuncionais
como na gestão de sistemas educacionais inclusivos, envolvendo as questões técnicas.
104
O conceito “generalista” utilizado por Prieto (2006) e Baptista (2011), abrange
atribuições para o docente do AEE que vão além das salas de recursos multifuncionais e
estendem-se para a efetivação da política no interior da escola, inclusive para espaços não
escolares. Esses autores defendem o docente generalista na Educação Especial por
acreditarem que somente esse perfil profissional poderá intermediar e concretizar a política
inclusiva nas escolas.
A discussão sobre o professor gestor possui embasamento nas atribuições destinadas ao
professor do AEE que dentre suas funções, deverá exercer a gestão da política de inclusão nas
escolas regulares. Como observa-se na Resolução CNE/CEB nº 04/2009, uma das atribuições
destacadas é “orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de
acessibilidade utilizados pelo aluno” (BRASIL, 2009, p. 3).
Segundo a Política Nacional e a Resolução nº04/2009, cabe ao docente intermediar a
política de inclusão e o foco de sua ação está no recurso e no material disponível para
promover a acessibilidade do aluno da Educação Especial. Diante desta questão, pode-se
afirmar que a política Nacional privilegia o caráter instrumental, de técnicas e estratégias da
educação em detrimento da escolarização dos sujeitos da Educação Especial.
Percebe-se no contexto educacional que há um certo conflito sobre as diretrizes da
Política Nacional e o que de fato é implementado nas escolas, favorecendo a indefinição sobre
a identidade do profissional do AEE e certa confusão conceitual entre Educação Especial e
Atendimento Educacional Especializado, diluindo-se as responsabilidades profissionais na
área.
Diante desta situação a docente DI3 se manifesta:
105
É inegável a importância da formação docente, mas há de se ressaltar que, para além de
sua qualificação, está a preocupação com as reais condições de trabalho desse profissional em
esclarecer as incertezas e as obscuridades por onde transitam as políticas públicas que tentam
justificar as mazelas da educação como um problema único e exclusivo da falta de formação
dos docentes, além de considerar e rever as possibilidades e os limites na dimensão de sua
atuação.
Esta etapa do estudo visa apresentar o panorama sobre o perfil de formação inicial e
continuada dos docentes lotados nas Salas de Recursos Multifuncionais da rede municipal de
ensino no município de Abaetetuba, proceder análise dos dados e identificar as demandas de
formação para os mesmos. Esta investigação ocorreu por meio da utilização de questionário
de caracterização, conforme o Apêndice B.
Vale ressaltar que os sujeitos participantes deste estudo foram identificados por
pseudônimos a fim de preservar suas identidades, destacando-se as seguintes variáveis: idade,
sexo, tempo de magistério, tempo de atuação na escola, área de atuação, carga horária de
trabalho na escola, formação na graduação, pós-graduação, cursos de extensão e/ou
aprofundamento, bem como em ações de formação continuada promovidas pela rede
municipal de ensino em que tenha se discutido o processo de inclusão dos estudantes público
da educação especial como (cursos e/ou seminários, encontros, fóruns,...), além das
observações amplas registradas pelos docentes.
Nesta etapa da pesquisa de campo foram envolvidos de 34 docentes, sendo 27
docentes atuantes no AEE das escolas da área urbana, 05 na área rural (estradas/ramais) e 02
na área rural (ilhas), este número representa 94,4% do universo de 36 docentes lotados no
AEE das escolas da rede municipal de ensino de Abaetetuba/PA.
Como procedimento para o preenchimento do formulário, foi realizado o
esclarecimento aos docentes sobre a pesquisa, a finalidade da mesma, bem como o
procedimento de assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
1. Quanto ao sexo:
2. Idade:
A figura 15 retrata a idade dos docentes lotados no AEE das escolas públicas no município de
Abaetetuba:
106
Figura 15 - Idade dos docentes lotados no AEE.
Quanto a idade dos docentes, percebe-se que os profissionais são caracterizados com
faixa etária que varia entre 27 a 64 anos, sendo preponderante a faixa etária situada na idade
de 44 a 49 anos. Ressalta-se que a idade mais elevada foi identificada no grupo dos docentes
que atuam na Sede do município e que o perfil profissional vem se modificando com a
inserção de docentes mais jovens. Pois, recordando a realidade no contexto histórico da
educação especial no município de Abaetetuba, era frequente a lotação nesses espaços de
profissionais que estavam aguardando aposentadoria ou oriundos de processos de readaptação
de função.
107
No que se refere ao turno de atuação, os atendimentos em média são equilibrados entre
os turnos matutino e vespertino, com exceção de 01 escola nas ilhas em que o atendimento
ocorre somente no horário matutino, justificado por ter apenas um docente e a mesma residir
na Sede do município e ter que se deslocar diariamente para as ilhas.
Sobre o tempo de atendimento, em média varia de 2 a 4 horas. Quanto a organização
do atendimento, ocorre tanto de forma coletiva, quanto individualmente, conforme as
especificidades do atendimento dos estudantes de cada SRM.
No que diz respeito ao número de estudantes atendidos, em média, cada docente
atende de 04 a 10 estudantes, com planejamento de atendimentos ao longo da semana e de
acordo com sua carga horária de trabalho, conforme a portaria nº01/2017- SEMEC.
Foi identificado que o maior número de estudantes em Sala de Recursos
Multifuncionais concentra-se nas escolas da Sede do município, em bairros mais
centralizados.
De acordo com as informações dos docentes entrevistados por meio do formulário, foram
contabilizados 257 alunos atendidos no AEE. Quanto ao quantitativo, observa-se que parte
dos estudantes são matriculados após o cadastro realizado pelo Censo escolar e/ou os
educandos migram para os espaços de SRM de outras escolas no meio do ano letivo sem
realizar o cancelamento imediato na secretaria da escola, o que, segundo informações do Setor
de Educação Especial, dificulta a obtenção de dados precisos.
Sobre a diversidade do público-alvo atendido, observa-se predominância descrita da
seguinte forma: na Sede do município: deficiência intelectual, deficiência física e baixa visão;
no Campo (Estradas/Ramais): deficiência intelectual e deficiência física; no Campo (ilhas):
deficiência intelectual.
108
Tabela 13 - Cursos de graduação realizados pelos docentes lotados no AEE.
ESTRADAS/ SEDE DO
CURSOS ILHAS
RAMAIS MUNICÍPIO
Educação do - 01 -
Campo
Matemática 01 - -
Ciências Naturais - 01 01
Educação Especial - - 01
Inclusiva
Pedagogia e - - 01
Matemática
História e geografia - - 01
Serviço Social - - 01
História - 01 03
Letras 01 01 05
Pedagogia - 01 13
TOTAL 02 05 26
109
Quanto a participação em atividades de formação continuada, 73,52% dos docentes
citaram o Encontro de Educação Especial que é realizado anualmente. O evento é planejado
conjuntamente com os docentes e realizado por diversas instituições, inclusive pela SEMEC.
Outra formação citada por 23,52% dos docentes foi a Oficina sobre deficiências e práticas
pedagógicas, seguindo com o II Seminário de divulgação de direitos da Pessoa com
Deficiência apontado por 11,76%. No entanto, foram citados cursos como: Orientações
pedagógicas sobre o Plano de Desenvolvimento Individual do Aluno (PDI), Oficinas de
Produção de material didático, Práticas Pedagógicas desenvolvidas com alunos público-alvo
da Educação Especial, Letramento direcionado aos alunos com deficiência, Seminário sobre
Altas Habilidades, Mesa redonda sobre Síndrome de Asperger e Willians, entre outros.
10. Espaço destinado aos docentes do AEE para suas observações quanto a
formação e atuação profissional:
Nesta parte do questionário os docentes que atuam no AEE fizeram suas observações
quanto a formação e o trabalho desenvolvido, apontando para as seguintes questões:
110
Ofertar de curso básico de Libras pela SEMEC a todos os docentes da rede de
ensino;
Ampliar da oferta de vagas no Encontro de Educação Especial para os docentes
do ensino regular;
Intensificar formação para os gestores e coordenadores pedagógicos sobre o
AEE;
Promover formação com a família dos estudantes do AEE sobre seus “direitos”;
Graduação em Letras
DI3 27 04 anos
Graduação em Pedagogia
Especialização em Alfabetização
CSEE 47 38 anos
e Psicopedagogia com ênfase em
Educação Especial
Graduação em Pedagogia
Especialização em Interpretação e
DS1 51 23 anos
Tradução de Libras/Língua
Portuguesa
Graduação em História
DER2 55 Especialização em Educação 25 anos
Especial Inclusiva-Libras
111
Para o procedimento das análises, foram selecionadas três categorias que abarcam o
tratamento dos dados coletados sobre formação docente e atendimento educacional
especializado. A primeira trata da identidade docente e inclusão, retrata a percepção dos
docentes. A segunda categoria, discute questões relacionadas a formação docente e a terceira
busca relacionar a formação e atuação docente no AEE.
Os diálogos, observações e experiências vivenciadas no cotidiano das Escolas ES1,
EER2 e EI3, locus de pesquisa deste estudo e as narrativas obtidas nas entrevistas
semiestruturadas, como procedimento metodológico deste estudo, foram analisadas,
considerando-se o referencial teórico e legislações pertinentes, com destaque para a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva de 2008, às quais nortearão as
análises das categorias adotadas.O quadro 07 apresenta as categorias de análise:
Se acontecesse de fato a inclusão, seria muito bom, mas...eu pelo pouco tempo que
eu tenho de experiência, o que eu percebo é que o aluno não está incluído de fato no
ensino regular (DI3, 2016).
112
Identifica-se na fala das docentes das escolas ES1 e EER2 que as mesmas não se
mostram muito otimistas e não se consideram protagonistas no processo quando dizem “não
aconteceu para todos”, “se acontecesse de fato”, como se imaginassem a inclusão algo a ser
concedido por outrem. Enquanto que, do ponto de vista da docente DER2, esta considera o
processo inclusivo de forma bem positiva, porém este posicionamento vai de encontro como
que se verifica no cotidiano escolar no decorrer da pesquisa de campo.
Nesse sentido, Oliveira (2004, p. 224) pontua que a escola pública é uma instituição
contraditória, porque apresenta tanto representações e práticas de exclusão como
representações e práticas inclusivas e de transformação.
Uma observação importante refere-se a forma como os docentes da educação especial,
participantes da pesquisa lidam diante de suas concepções, às quais refletem como são
construídas e estabelecidas suas relações profissionais, bem como na criação de diferentes
interpretações e conclusões sobre suas atribuições, responsabilidades e percepções, que
acabam interferindo por vezes de forma positiva ou negativa na inclusão dos educandos. A
questão é retratada a partir dos diferentes pontos de vista:
Do docente do AEE sobre a forma como o docente do ensino regular entende a sua
atuação:
O professor quase sempre é mal falado. Por exemplo se a minha aluna não veio hoje,
eu não fico parada sem fazer nada. Eu ajudo na secretaria, se tiver alguma coisa eu
faço. Aos olhos das pessoas que estão aqui eu não faço nada. Entendeu? As pessoas
falam: esse trabalho é muito bom! Não se faz nada! (DI3, 2016).
Porque se o professor estiver no espaço da SRM para fazer o trabalho dele e nas
horas em que ele não tiver aluno, ele estudar, pesquisar para preparar material. A
questão é, se ele está sem fazer nada e ele vai para a secretaria, ele vai fazer coisa
que não é papel dele e acaba perdendo tempo com isso. Até porque quem passa diz
assim, olha o fulano! Ele está sem fazer nada, mas o que é esse estar sem fazer nada?
Mas, se ele mostrar [...] por exemplo, tenho um aluno surdo e eu não domino
libras...quantos cursos tem na internet gratuito, então eu estou aqui me qualificando
para atender esse aluno. Também esse professor não sabe aproveitar o seu tempo
(CSEE, 2016).
A maioria desses alunos incluídos não tem esse profissional preocupado. Ele está
colocado lá e o professor continua fazendo o trabalho dele do mesmo jeito e não se
113
preocupa se o aluno com deficiência está realmente aprendendo e não procura
formação e informação (DS1, 2016).
Às vezes, o próprio professor do ensino regular, parece que não quer que a gente vá
lá com eles (DER2,2016).
Formação docente
a)Formação docente para o AEE, limites e possibilidades
Diante da realidade das SRM das escolas públicas da rede municipal de ensino, em
Abaetetuba, às quais geralmente possuem apenas um docente lotado em cada horário de
atendimento e para cada estudante atendido são requeridos conhecimentos e estratégias
pedagógicas diferenciadas e ao mesmo tempo específicas, bem como a dinâmica de trabalho
requer atuações diversas, conforme o que diz a Resolução nº04/2009, indaga-se: que
profissional é esse “multi especializado”? É possível um profissional dominar tanto
conhecimento?
A Coordenação do Setor de Educação Especial se manifesta inicialmente afirmando
que sim:
Ele vai ter que correr atrás. É difícil é, mas eles sabem quais as atribuições deles.
Porque senão vai parar, porque o AEE hoje ele vive nessa expectativa, então tu não
podes dizer assim, eu não vou atender esse aluno porque eu não dou conta não.
Eu penso que sim, vejo que há possibilidade desde que o professor tenha tempo para
se planejar e que tenha formação continuada. Se tem formação continuada ou não
tem, essa é uma outra questão (CSEE,2016).
114
Os docentes também se posicionam sobre a questão, se estão preparados para atender
o público da educação especial “Com certeza não, eu falo isso com toda certeza, a gente está
buscando, mas ainda temos muita dificuldade” (DI3, 2016). A docente da escola EER2
continua “ Devido a necessidade e a carência de não ter quem atenda a gente tenta fazer o
melhor para trabalhar com todas as deficiências” (DER2, 2016). E a docente da escola
ES1conclui:
Eu tenho formação específica na área, eu sei libras. O braile eu sei o básico. A gente
consegue alfabetizar no braile, mas eu não me considero preparado para atender
todas as deficiências (DS1,2016).
Mantoan (2006, p.44) acrescenta que “Assim como qualquer aluno, os professores não
aprendem no vazio” e Tardif (2014) reitera que o saber docente é fundamentalmente social,
produzido na negociação entre diversos grupos, assim Oliveira (2009, p.35) considera
importante “discutir a formação profissional do professor para ensinar na diversidade,
respeitando e atendendo às necessidades individuais de todos os alunos”.
E, ao serem questionados sobre como se sentem trabalhando nesse contexto, os
mesmos esclarecem:
Eu me sinto frustrada, porque as pessoas veem a gente, por exemplo os pais como
alguém que vai de fato ajudar o seu filho a aprender, mais dificilmente tem essa
visão de como funciona as coisas (DI3, 2016).
A gente precisa ter muita força de vontade e uma mente bem tranquila, senão...(DI3,
2016).
115
Sobre a realidade atual das práticas educacionais inclusivas e sobre os desafios
necessários às suas implementações ressaltam-se a importância de uma discussão, de
reflexão e de um posicionamento comprometido com o acesso de todos às
necessidades que cada sujeito demanda. Mas para que essa demanda seja atendida,
uma formação permanente precisa ser assegurada aos profissionais da educação. A
formação deve ser continuada e permanente [...].
A gente vê que aqui ainda não aconteceu por exemplo como a formação sobre libras
táteis para trabalhar com o surdocego e outras formações que a gente necessita e que
aqui não chega, nunca teve, em parte sim, eles até que se esforçam, mas a gente não
sabe as problemáticas deles, mais ainda falta (DS1, 2016).
No entanto, muitas destas ações, são consideradas pelos docentes como fragmentadas
e distantes de consolidar uma prática, totalmente inclusiva, pois não há uma relação entre os
conteúdos e as necessidades destes docentes para uma prática de qualidade.
Prieto (2006) defende que a formação docente possibilita melhor atuação, tanto na sala
de recursos, como na gestão de sala de aula para inclusão na escola regular. No entanto, a
autora afirma que “ultrapassar essa condição de formação dos professores especializados é um
dos desafios para os sistemas de ensino” (PRIETO, 2006, p. 11).
Reportando-se aos objetivos da Política Nacional (2008), verifica-se que a atuação é
bem abrangente, e pontua o seguinte:
Portanto, como é possível perceber, a atuação “multi” proposta pela política nacional
não se limita a questão da formação para o atendimento do estudante da educação especial
com distintas demandas conhecimentos específicos da área, mas extrapola os espaços e as
ações pedagógicas, pois o docente do AEE deve atuar na articulação com o ensino comum, na
parceria com as áreas intersetoriais, na interação com a família, na avaliação educacional para
a definição do público-alvo, entre outras ações.
Na análise dos dados sobre a formação continuada dos docentes do AEE, constata-se
que parte da formação está vinculada a cursos voltados para deficiência auditiva e deficiência
116
intelectual, porém o público alvo mais expressivo para o atendimento é constituído pelos
estudantes que apresentam deficiência física.
Em Abaetetuba, as dificuldades dos docentes parecem ser comuns nas diferentes
localidades do município e passam pelas necessidades de formação docente, questões
estruturais, de recursos e de gestão.
Os discursos dos docentes abordam aspectos importantes para a análise sobre a
formação e atuação profissional, pois conforme a Nota Técnica nº11/2010 o docente do AEE
deve desenvolver atividades próprias do AEE, de acordo com as necessidades dos estudantes
e entre elas estão o ensino de Libras, a Comunicação Aumentativa e Alternativa, ensino de
Braille e do uso do Soroban, Tecnologia Assistiva, entre outras atividades.
Desse modo, é preciso sim, garantir que os estudantes tenham acesso a esses recursos
e conhecimentos, pois o AEE foi criado com essa finalidade. A carência de formação se
contrapõe às exigências do referido documento, e isso propicia uma prática pedagógica
fragmentada e ineficiente.
Esse fato é preocupante, pois tanto as SRM do tipo I, como do tipo II precisam dar
suportes para os educandos que delas necessitarem (BRASIL, 2007), e este atendimento, por
uma série de fatores não está ocorrendo a contento.
Portanto, é preciso o entendimento por parte dos docentes, no que compete a sua
responsabilidade, que é no cotidiano escolar, entre outros espaços, que ocorre uma importante
etapa de sua formação, em que se vai construindo as possibilidades de atendimento inclusivo.
117
fatores como o aprofundamento sobre a especificidade do público da educação especial e em
virtude da desarticulação do trabalho nas escolas. Esses fatores são visíveis nas entrevistas
realizadas:
A gente planeja de manhã. Às vezes com o professor da tarde quando tem tempo
vem aqui pela manhã. A gente planeja só nós dois, só (DS1, 2016).
É complicado, a gente não tem muita interação, os que nos procuram a gente tem
uma relação boa. Infelizmente não são todos que vem, mesmo a gente se oferecendo
(DS1,2016).
Eu não faço avaliação com os professores, só oriento quando eles estão passando
revisão, eu pego uma cópia da revisão na secretaria, eu vou trabalhar em cima da
revisão para eles realizarem a avaliação lá na sala de aula (DER2, 2016).
Adaptar o ensino para alguns alunos de uma turma da escola comum não conduz e
não condiz com a transformação pedagógica dessas escolas, exigida pela inclusão. A
inclusão implica em uma mudança de paradigma educacional, que gera uma
reorganização das práticas escolares.
Até porque quando ele faz o PDI, ele está voltado para a necessidade específica de
cada aluno. Então é ali que vou verificar o que meu aluno precisa. Eu posso atender
dez alunos com deficiência intelectual, por exemplo, esses dez alunos vão requerer
coisas totalmente diferente e é claro que o uso facilitaria muito para o professor
(CSEE,2016).
119
mesma, um espaço isolado. Esse aspecto foi identificado principalmente no relato da docente
DS1 da escola ES1, ao se referir as atividades coletivas na escola “Quando eles estão reunidos
a gente vai lá. A gente não é chamada, mas a gente vai” (DS1).
Verifica-se na realidade das escolas pesquisadas a presença de uma problemática em
relação a interação do grupo escolar que afeta significativamente o trabalho, quanto ao
processo de inclusão. Nesse sentido, Oliveira (2009, p.18) comenta:
Tal situação revela um sentimento de certo isolamento dos docentes que ora são
aceitos com tantas reservas e ora se sentem temerosos e desamparados, com atribuições que
lhes foram dadas e com a falta de uma política pública que realmente contribua com
melhorias nas suas condições de trabalho.
Oliveira (2004), alerta para a necessidade de se investir na ampliação do debate da
educação inclusiva para além da sala de aula e dos muros da escola, envolvendo a
participação da comunidade escolar e externa. A conscientização e o conhecimento sobre a
inclusão não podem se restringir aos docentes e técnicos que atuam na educação especial.
Este distanciamento entre os docentes interfere significativamente no processo de
aprendizagem dos educandos, na medida em que não há interação sobre as dificuldades e
necessidades que os mesmos enfrentam e assim poder propor uma intervenção coerente para o
sucesso escolar do educando. Esse fato é claro na narrativa da docente da escola EI3:
Uma das dificuldades é com os professores de longe, esse é um entrave que eu não
tenho nenhuma comunicação com eles, eu não sei o que acontece com esse aluno lá
na sala de aula. Essa é uma dificuldade de não ter esse contato com o professor (DI3,
2016).
O que eu percebo é que eles não se sentem responsáveis pelo aluno de fato. Se o
aluno tem cuidador, ele é do cuidador, é ele que tem que ir lá, reformular a aula,
adaptar. Aquele aluno está na sala de aula, mas ele não se volta para aquele aluno,
mas se tem cuidador é ele que tem a responsabilidade e é ele que tem que ir lá
adaptar a aula para dar para aquele aluno, ele só se preocupa em preparar as aulas
para os outros alunos porque sabe que o cuidador está lá e que vai repassar aquilo de
120
uma outra forma para o aluno, ele não inclui de fato o aluno em suas aulas (DI3,
2016).
Tem alguns pais que são comprometidos; tem aqueles que trazem os filhos só
porque está recebendo o benefício; tem alguns que precisamos ficar chamando e que
nem sempre vem. Também as famílias precisam de formação melhor para isso. Tem
aqueles que superprotegem o filho. Tem aqueles que tem o filho do lado porque
recebem o dinheiro. Assim, a mente deles é muito fechada para muitas coisas, eles
não participam, tem os que participam de acordo com as suas possibilidades e tem
aqueles que só trazem porque acham que são obrigados a trazer (DI3, 2016).
121
c)Os desafios para atuação profissional no AEE
122
expõe o Decreto nº 7.611/2011 e a Resolução nº04/2009, bem como suas atribuições neste
espaço.
Entende-se que a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva está pautada no princípio hegemônico neoliberal e nesse sentido difunde um perfil
multiprofissional para o Atendimento Educacional Especializado, ou seja, um docente que
que dê conta de atender todos os educandos, independente de sua condição para isso.
Diante do cenário das SRM pesquisadas, observa-se que as dificuldades são
diferenciadas e as superações dependem dos protagonistas. Os desafios a serem superados
situam-se, tanto em questões de ordem estruturais como pedagógicas e estas últimas
perpassam por questões conceituais referente aos princípios inclusivos. Assim, cabe a cada
um, dentro de suas competências, atribuições e responsabilidade, contribuir para que a
inclusão se torne realmente um desafio superado.
123
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas últimas décadas, a educação inclusiva vem promovendo mudanças nos sistemas
educacionais e no contexto escolar, mesmo que estas sejam gradativas. O avanço no processo
de inclusão escolar tem recebido importantes contribuições de diferentes protagonistas como
os educadores e principalmente as famílias que, de certa forma, vem se mobilizando para
cobrar a garantia e a efetivação dos direitos à educação para seus filhos em uma escola que
possibilite não somente o acesso, mas principalmente a permanência, a aprendizagem e a
qualidade na educação.
A construção de políticas públicas inclusivas e a garantia dos direitos na execução
dessas políticas exigem o acompanhamento e a avaliação de sua aplicabilidade, pois os
direitos não são concedidos e nem se originam de um plano pacífico, mas são resultantes de
lutas estabelecidas nas relações de grupos antagônicos, pois de um lado verifica-se os
movimentos sociais, as famílias que se indignam e que se articulam para defender e cobrar a
efetivação de seus direitos, ao mesmo tempo que estas são impulsionadoras de mudanças. De
outro, a construção de uma determinada política que implica em escolhas e decisões pelos
seus dirigentes, de que estas sejam mais viáveis para certos indivíduos, grupos e instituições,
mas nem sempre favoráveis aos interesses de todos.
Nesse sentido, foi identificado uma brilhante atuação dos órgãos da justiça e
principalmente a Defensoria pública do município de Abaetetuba, como parceira da rede
municipal de ensino nas ações inclusivas, bem como na defesa dos direitos dos estudantes
público-alvo da educação especial.
Assim, uma política pública direcionada à educação inclusiva é aquela que além
investir em políticas de formação continuada para todos os profissionais da educação,
promove articulações favoráveis as condições das escolas, dos educadores e dos educandos
para a concretização da inclusão.
A chegada de estudantes da educação especial às escolas regulares lança o instigante
desafio às mesmas quanto à necessidade de seu redimensionamento nos diferentes aspectos,
tanto estrutural quanto pedagógico.
Nesse processo de reestruturação, se insere o trabalho desenvolvido nas Salas de
Recursos Multifuncionais das unidades escolares, como estratégia para o subsidiar a
escolarização dos estudantes público da educação especial.
Assim, no intuito de investigar o processo de inclusão é que esta pesquisa teve como
centralidade discutir as Políticas Públicas de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva: Desafios da formação docente para o atendimento educacional especializado na
rede municipal de ensino.
O propósito deste estudo, além de buscar a caracterização da implementação da
Política Nacional de Educação Especial na Inclusiva na rede municipal de Ensino no
município de Abaetetuba, procurou identificar e analisar os dispositivos legais e as ações de
educação inclusivas a partir dos dispositivos constituídos no âmbito da rede municipal, bem
como a formação dos docentes lotados no AEE e as implicações desta formação no
atendimento educacional especializado da SRM.
A escolha da temática, bem como as Salas de recursos multifuncionais da rede
municipal de ensino, como locus deste estudo contribuiu para uma reflexão crítica sobre as
condições da estrutura organizacional da política inclusiva desenvolvida na rede de ensino e
para análise de seus diferentes aspectos, bem como sobre a formação dos docentes e os
reflexos desta formação no AEE dos estudantes da educação especial da rede pública
municipal de ensino de Abaetetuba/PA, ampliando os conhecimentos nesta área.
124
Nesse sentido, considerando os objetivos e questões deste estudo, seguem as
Considerações Finais:
Na rede municipal de ensino a concepção que vem se afirmando para o público da
educação especial está fundamentada no princípio que aponta para a educação como direito de
todos e embasada em dispositivos legais nacionais e municipais, tendo a Política Nacional de
Educação especial na perspectiva inclusiva como a principal diretriz para as ações da rede de
ensino.
Constatou-se com este estudo que a Política de Educação Especial na Perspectiva
Inclusiva vem permeando as ações da Educação Especial Inclusiva na rede municipal de
ensino, esse aspecto é fortemente verificado na narrativa da Coordenadora do Setor de
Educação Especial quando se refere a forma como encontra-se organizada a oferta do AEE
para o público da educação especial na SRM, constituída geralmente de um docente em cada
horário de atendimento para atender educandos público-alvo da educação especial,
considerando a diversidade em relação as especificidades de suas necessidades educacionais:
Por que é assim, se a diretriz hoje diz que tem que atender a todos, a gente não vai
fugir disso né? É para atender todos. Isso é uma normativa. É como se fosse...é a
própria política que diz isso e não é para servir de discussão. Já que é uma
normativa. O que é preciso fazer é verificar a melhor forma possível disso acontecer
na prática. E, é através da formação continuada (CSEE, 2016).
No entanto, no decorrer deste estudo foram identificados diferentes aspectos que vão
de encontro aos princípios defendidos como a centralidade do processo inclusivo de
“educação para todos”. Assim, a oferta do AEE encontra-se centrado nas primeiras séries do
ensino fundamental e não atende a rede em sua totalidade em termos de níveis de ensino,
existindo inclusive predomínio de atendimento educacional especializado na área urbana.
Esta questão alerta para o fato de que existem estudantes que não estão incluídos
ensino regular e/ou que não recebem o AEE. Esse fato vai de encontro ao que é descrito na
Política Nacional, “[...] construir políticas públicas promotora de educação de qualidade para
todos os alunos” (BRASIL, 2008, p.05). Mantoan (2006, p.23), observa sobre a situação da
educação no Brasil:
125
dos educandos destas localidades que se deslocam até a SRM da sede do município (polo) é
afetada pela redução nos dias de atendimento, pelas frequentes faltas e pelas condições
impostas pela viagem.
A rede municipal de ensino apresenta lacunas no AEE para a educação infantil
(especificamente na creche) e na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, bem como
ações para estudantes com altas habilidades contrariando o estabelecido nos dispositivos “a
educação é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis e modalidades”
(BRASIL,2008, p.16) e até mesmo o que defende a própria rede municipal de ensino,
“educação como direito de todos”.
A estruturação dos serviços da Educação Especial na rede municipal de Abaetetuba,
apesar dos avanços visíveis, encontra-se ainda distante do que é preconizado pela política
Nacional de educação Especial. Para isto, é necessário a exemplo, melhorar as estruturas das
escolas, com o olhar para a acessibilidade, prover os recursos necessários, intensificar o
envolvimento e empenho da gestão, bem como da família e demais membros da comunidade
escolar no processo de inclusão e que haja um programa específico de formação continuada
para os professores de SRM, construído coletivamente, a partir do diagnóstico real deste
contexto e das necessidades.
Quanto a lotação de turmas do AEE, foram identificadas portarias da SEMEC que
disciplinam a lotação nesse atendimento, bem como diretrizes sobre a formação mínima
necessária para atuação profissional no referido espaço; esse aspecto é considerado um
avanço quanto a organização da rede de ensino. Isto demonstra preocupação da SEMEC/
Setor de Educação Especial em direcionar a questão, apesar de que, ainda há superlotação de
turma como ocorreu na lotação do AEE na escola ES1 e ainda considerando a diversidade do
público-alvo que constitui o AEE nesta escola
Assim, na operacionalização da política inclusiva destaca-se questões que demandam
ações políticas, administrativas e pedagógicas e que envolvem diferentes aspectos. Os
resultados desta pesquisa indicam que a política de educação inclusiva no município encontra-
se em processo de construção embasada na Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva Inclusiva.
Quanto as legislações no âmbito municipal, percebe-se que o município de Abaetetuba
possui uma longa trajetória histórica de lutas e construções direcionadas para a educação
inclusiva; nesse sentido foram identificados diversos dispositivos legais constituídos para o
público da educação especial que apontam para a perspectiva inclusiva.
A ausência de um plano mais consistente reflete-se nas políticas públicas e nas
práticas escolares, pois a educação inclusiva é efetivada conforme as interpretações dos
gestores (da secretaria de educação, como das escolas), a partir de suas leituras sobre os
documentos nacionais.
Outro ponto importante que merece atenção na rede municipal de ensino em
Abaetetuba, é a política intersetorial, pois constatou-se que não há políticas públicas advindas
do trabalho intersetorial entre educação, saúde, assistência social, entre outros setores da vida
pública no município, que sejam provedoras dos serviços complementares que irão
possibilitar ao educando a inclusão educacional e social, conforme consta nos dispositivos
legais nacionais e municipais.
Nas diferentes realidades pesquisadas foram identificadas lacunas quanto as diretrizes
das escolas para o trabalho voltado à educação especial inclusiva traduzidas no Projeto
Político Pedagógico (PPP); assim o fato de existir um certo desconhecimento de diretrizes
claras por parte da comunidade escolar sobre a política inclusiva da SEMEC, este fato reflete-
se na lacuna visível no PPP das escolas, com relação a política inclusiva das escolas. Esta
evidência pode revelar também pouca divulgação do documento existente da rede de ensino,
quanto a sua operacionalidade.
126
Nesse sentido, é pertinente o pensamento de Damasceno (2010, p.171) ao afirmar que
“Em outras palavras, assumir um projeto de escola inclusiva significa romper com a ideologia
vigente de que a escola serve exclusivamente à manutenção da lógica dominante
reproduzindo, assim as contradições sociais”. Portanto, o autor chama atenção para a
importância de que no PPP seja manifestada a identidade da comunidade na busca por uma
educação justa, que liberte e sobretudo que seja inclusiva.
Os dispositivos legais que versam sobre a educação inclusiva defendem o propósito de que
todos devem ter assegurados o seu direito de aprender, independentemente e os sistemas de
ensino tem por obrigação propor e garantir condições para isso.
Os resultados desta pesquisa indicam a intenção de materializar políticas mais gerais
de inclusão que aparecem nas ações municipais nos seguintes aspectos: definição de inclusão
como diretriz educacional; organização do atendimento na rede de ensino; expansão da oferta
de matrícula, a implantação do AEE, apesar de limitada; criação de políticas para atuar como
referência no ensino e na formação dos educadores, entre outras;
Assim, a partir da construção de dispositivos legais e documentos oficiais, os quais
tiveram embasamento legal principalmente na constituição federal, na LDB e na Política
Nacional de Educação Especial, foram desencadeadas diversas ações tais como os projetos
“professor cuidador”, “libras em família”, “libras na sala de aula”, “intérprete de libras”, “sala
de recursos multifuncionais”, a criação do fórum e do Conselho Municipal de Direito da
Pessoa com Deficiência.
A Lei municipal nº 401 de 07/07/2014 que dispõe sobre a obrigatoriedade de
Intérprete em Libras nos eventos públicos realizados no município de Abaetetuba e no artigo
1º destaca: “Torna-se obrigatório a inclusão de Intérprete de Língua Brasileira de Sinais -
LIBRAS, em todos os eventos realizados pela Prefeitura Abaetetuba e outras instituições que
realizam suas atividades no município” propiciou melhorias na educação desse público-alvo,
apesar dos poucos profissionais especializados lotados por meio de concurso público.
Um incentivo e valorização aos profissionais da Educação Especial foi conquistado
com o Plano de Cargo, Carreira e Remuneração da rede pública municipal de ensino de
Abaetetuba (PCCR), que prevê vantagens por meio de gratificação pelo exercício do
magistério com alunos público-alvo da educação especial.
As ações de formação direcionada para os docentes do AEE vem sendo desenvolvida
por meio de encontros, seminários, mesas redondas, oficinas e cursos de curta duração,
conforme descrição histórica no corpo deste estudo.
Estas ações de formação centralizam as discussões no atendimento ao estudante, no
domínio de técnicas, nos instrumentos, na utilização de recursos pedagógicos e nos moldes
propagados pela Política Nacional.
Apesar do atendimento educacional especializado ter a Política Nacional de Educação
como embasamento legal para sua ação, foram identificados diferentes aspectos da SRM que
estão em desacordo com o proposto pela Política Nacional, como: a prática do reforço escolar;
o atendimento do educando somente no AEE; a falta do trabalho interativo e colaborativo do
AEE e o ensino regular; a problemática na intersetorialidade entre as áreas na promoção das
políticas públicas, entre outras.
As ofertas e a periodicidade das formações desenvolvidos pela rede de ensino ocorrem
de forma esporádica e não tem atendido as necessidades dos profissionais da educação
protagonistas do processo inclusivo nas escolas, principalmente diante da amplitude deste
atendimento proposto pela política nacional, tanto em relação ao público-alvo, como as
distintas funções atribuídas a esse profissional.
As ações de formações são desenvolvidas por meio de reuniões pedagógicas,
encontros, oficinas, entre outras, consideradas pelos docentes como formações “aligeiradas” e
127
“fragmentadas” e ocorrem de forma superficial; dessa forma, pouco contribui para melhorar a
prática docente e promover a qualidade do atendimento.
O encontro de educação especial realizado anualmente no município tenta amenizar a
problemática da formação continuada, momento em que as demandas nos cursos de formação
dos docentes do AEE em parte são sanadas, porém o número de vagas é limitado diante da
procura dos profissionais, inclusive dos docentes do ensino regular.
O perfil de formação que vem sendo adotado pela rede municipal de ensino é de um
perfil profissional generalista, com atuação multifuncional, nos mesmos moldes apresentados
e defendidos pela Política Nacional de Educação Especial.
Há uma demasiada ênfase para formação continuada direcionada ao público da
educação especial que apresenta deficiência auditiva em detrimento dos demais públicos. A
ênfase para o público-alvo que apresenta deficiência auditiva não se justifica se for levado em
consideração que o número de matrículas desse público é menos expressivo se comparado
com os alunos que apresentam deficiência física e intelectual, conforme os dados estatísticos.
Os docentes do AEE, conforme a pesquisa de campo realizada, demonstram bom nível
de formação, tanto inicial como continuada; no entanto, percebe-se que há uma certa
dificuldade e/ou confusão na compreensão sobre a concepção de inclusão e as ações que
devem ser desenvolvidas na Sala de Recursos Multifuncionais, pois é possível identificar
práticas pedagógicas direcionadas para reforço escolar, como revela a docente:
128
Portanto, as atividades envolvendo os equipamentos tecnológicos são pouco enfatizadas nos
encontros de formação e pouco desenvolvidas no AEE.
Outra situação verificada por ocasião da pesquisa trata-se da existência de
equipamentos como impressora, computador e notebook que deveriam estar no espaço físico
da SRM, mas encontram-se na secretaria da escola. Há situações em que nem o próprio
docente do AEE sabe se o equipamento é da SRM, uma vez que há pouca repasse de
informações ao docente do AEE sobre o envio dos equipamentos pelo MEC pela gestão
escolar. Nesse sentido, pergunta-se: como o docente poderá exercer suas atribuições nestas
condições conforme propõe a Resolução nº 04, no art. 13, inciso VII, “Ensinar e usar a
tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo
autonomia e participação” (BRASIL, 2009, p.2009).
Sobre o assunto em questão, a docente da ES1, comenta:
[...] precisamos demais porque quando a gente atende cinco alunos e só tem um
computador, aí a gente acaba nem trabalhando nesse dia com o computador devido
não ter como”. Ainda falta melhorar muita coisa, eu já tentei várias vezes ver se
viessem consertar, mas até hoje.... Essa televisão não funciona há mais de três anos e
ninguém resolve nada (DS1, 2016).
129
Embora seja visível o avanço e se reconheça as melhorias na política de educação
especial da rede municipal no município de Abaetetuba, tem-se ainda um longo caminho a
percorrer em termos de políticas educacionais inclusivas e políticas de formação de
professores que favoreça o acesso à educação, a permanência e a aprendizagem no contexto
escolar à todos os educandos, pois como afirma Mantoan (2003), as melhorias na educação
quando feitas atingem todos e certamente os estudantes público da educação especial terão
mais oportunidades e ganhos para a sociedade.
Diante desse contexto, é fundamental a construção de políticas de formação e de
gestão para a transformação da realidade que por ora se apresenta, a fim de assegurar as
condições de acesso, participação e aprendizagem de todos estudantes, concebendo a escola
como um espaço que reconheça e valorize as diferenças, ou seja um espaço inclusivo. Pois,
segundo Damasceno (2010, p. 160), “as mudanças a serem promovidas no sistema
educacional demandam esforços, adaptações arquitetônicas, didático-pedagógicas e
curriculares, desenvolvimento de tecnologia assistivas, entre outros”.
A docente da ES1 se manifesta quanto a política inclusiva e, assim, comenta: “Falta
melhorar muita coisa, nossos espaços, equipamentos. Eu penso que falta melhorar nessa
política do município...falta eles aplicarem o que está escrito na lei, pois as vezes as coisas só
estão lá no papel e não funcionam na realidade” (DS1, 2016).
Pois, para que os docentes possam exercer suas ações pedagógicas com competência e
assim, promover a qualidade no ensino, é imprescindível que a escola ofereça condições de
trabalho, incluindo estrutura física adequada, oportunidades para a troca de experiências,
políticas de formação permanente envolvendo todos os profissionais da escola, trabalho
colaborativo e que os sistemas de ensino promovam políticas de valorização dos profissionais.
Portanto, conforme aponta Mantoan (2003), para que a inclusão seja realmente
concretizada nos moldes propostos pela lei e por outros autores, é necessário a transformação
na escola atual. Essa transformação envolve aspectos diversos.
Acredita-se que o rompimento com práticas de exclusão no contexto escolar, tendo por
meta o processo de inclusão, só é concretizável com o desenvolvimento de políticas de
formação que considere a contribuição docente, sua valorização profissional, o trabalho como
ponto de partida para temáticas de formação englobando conhecimentos científicos,
pedagógicos, técnicos, éticos e políticos, que sejam capazes de subsidiar a atuação e o fazer
docente comprometido com o projeto de inclusão.
As palavras de Oliveira (2004, p.225), são pertinentes para este momento:
130
8 REFERÊNCIAS
____________. Lei n° 454 /2015 de 21 dezembro de 2015. Institui o fundo municipal dos
direitos da pessoa com deficiência-CMDPA. Prefeitura Municipal de Abaetetuba. PA, 2015.
131
____________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional
de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994.
133
____________. Nota Técnica nº 20, 18 de março de 2015. Orientações aos sistemas de
ensino visando ao cumprimento do artigo 7° da Lei n° 12.764/2012 regulamentada pelo
Decreto n° 8368/2014. Brasília: MEC / SECADI / DPEE/2015.
CAIADO, kátia Regina; CAMPOS; Juliane Aparecida; VOLARONGA, Carla Ariela. Estudo
Exploratório sobre o perfil, a formação e as condições de trabalho do professor. (Org.)
Professores e Educação Especial: formação em foco. Porto Alegre: Mediação, 2011.
CANDAU, Vera Maria Ferrão; MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Educação Escolar e
Cultura (s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, Brasil, v. -, n.n.23, p.
156-168, 2003.
CAPUTO, Maria Elisa e GUIMARÃES, Marli. Educação Inclusiva. Rio de Janeiro, R.J.:
DP&A Editora, 2003.
COSTA, Marisa Vorraber; (Re) pensando uma educação para todos na Era das Relações. In:
CAPUTO, Maria Elisa e GUIMARÃES, Marli. (Org.) Educação Inclusiva. Rio de Janeiro,
R.J.: DP&A Editora, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 35ª ed. São Paulo: Paz e Terra,1996.
LOUREIRO. João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: uma poética do imaginário. Belém:
Cejup, 1995.
MANTOAN, Maria Tereza Égler. Inclusão escolar: o que? Porque? Como fazer? São
Paulo: Moderna, 2003.
____________. Maria Teresa Eglér; SANTOS, Maria Terezinha Teixeira dos. Atendimento
educacional especializado: políticas públicas e gestão nos municípios. 1.ed. São Paulo:
Moderna, 2010.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: DESLANDES, Sueli
Ferreira; GOMES, Romeu; MINAYO, Maria Cecília de Souza. (Org.). Pesquisa Social:
teoria, método e criatividade. 27. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
____________. Ivanilde Apoluceno de; SANTOS, Tânia Regina Lobato dos (Org.). Política
de Educação Inclusiva e Formação de Professores no Município de Ananindeua-Pará.
Belém: CCSE/UEPA, 2007.
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____________. Luíza de Fátima Medeiros. Formação Docente na escola inclusiva: diálogo
como fio torcedor. Porto Alegre, RS: Mediação, 2009.
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre
a educação política. 36. ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 16ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2014.
136
9 APÊNDICE
137
Em caso de reclamação ou qualquer tipo de denúncia sobre este estudo devo ligar
para o UFRRJ (21) 3787-3741 ou mandar um email para ppgea@ufrrj.br.
__________________________________________
Assinatura do voluntário
_____________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
138
Apêndice B - Questionário de pesquisa sobre o perfil de formação dos professores
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO
Prezados professores:
139
7). Quantos alunos recebem o AEE realizado por você? ___________ e quais as deficiências?
___________________________________________________________________________
7). Em que ano você iniciou suas atividades como funcionário (a) da SEMEC - Abaetetuba?
_____________________________________________________________________
8). Você trabalha ou trabalhou em instituições outras escolares? ( .) Sim () Não. Se sim,
quais? ______________________________
9). Qual sua formação:
Ensino Médio:() Completo ( ) Incompleto
Ensino Superior: () Completo() Incompleto
() Bacharelado -
Qual?________________________________________________________________
() Licenciatura -
Qual?________________________________________________________________
() Sim() Não
Em caso afirmativo, qual curso?
_____________________________________________________________________
13). Este espaço é reservado para esclarecimentos que você considere importantes e que não
foram contemplados nas questões deste questionário. Fique à vontade para escrever o que
considerar necessário.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Obrigada por sua colaboração!
140
Apêndice C - Entrevista Semiestruturada comos Professores lotados nas Salas de Recursos
Multifuncionais
1. Nome ou pseudônimo
2. Naturalidade
3. Formação
4. Quais as categorias do público-alvo que você atende no AEE?
5. Qual é sua função na SEMEC/Abaetetuba?
6. Qual é o cargo que ocupa? Há quanto tempo? Você é efetiva ou temporária?
7. Qual a sua opinião sobre a inclusão dos alunos Público-Alvo da Educação Especial no
Ensino regular?
8. Como você considera o trabalho que vem desenvolvendo na rede municipal?
9. Como são planejadas as atividades pedagógicas?
10. Como são organizadas as avaliações dos alunos?
11. Como se dá a relação de trabalho com o professor do ensino comum?
141
12. De que forma ocorre a relação com as famílias dos alunos?
13. Quais as dificuldades que o professor do AEE tem enfrentado para a efetivação do
AEE?
a) quanto a sua atuação?
b) quanto aos recursos pedagógicos?
c) quanto às políticas públicas direcionadas para a Educação Especial?
d) quanto ao trabalho integrado com o professor do ensino comum?
14. Você tem conhecimento das legislações existentes sobre a Educação Especial. Quais?
15. Você sabe o que diz a Política Nacional de Educação Especial (2008) sobre a formação
que o professor deve ter para atuar na Sala de Recursos Multifuncionais?
15. Você se considera capacitado para atender os alunos público-alvo da Educação
Especial, conforme o que dispõe a Política de Educação Especial (2008) e outros
dispositivos legais que regem sobre o atendimento nas Salas de Recursos Multifuncionais?
Qual a sua opinião sobre isso? E como você se sente trabalhando nessa realidade?
16.A formação continuada/aperfeiçoamento em serviço oferecido pelo Setor de Educação
Especial da SEMEC/Abaetetuba aos professores do AEE tem atendido a necessidade de
formação e favorecido a melhoria a prática pedagógica no espaço da Sala de Recursos
Multifuncionais? Se não, por quê?
17. Quais as temáticas direcionadas a Políticas Inclusivas e Educação Especial que você
considera importante para ser tratada nos encontros de formação continuada promovido
pelo Setor de Educação Especial da SEMEC/Abaetetuba.
142
Apêndice D - Entrevista Semiestruturada com a Coordenadora do Setor de Educação Especial
da SEMEC/ Abaetetuba
Senhor (a),
1. Nome ou pseudônimo
2. Naturalidade
3. Formação
4. Qual é sua função na SEMEC/Abaetetuba?
5. Qual é o cargo que ocupa? Há quanto tempo?
6. Qual a sua concepção de Educação Inclusiva? Qual a concepção de Inclusão definida
pela rede municipal?
7. O que você pensa a respeito da inclusão de alunos público-alvo da educação especial
nas escolas da Rede municipal de ensino?
8. Como você vê a política da rede municipal de ensino direcionada para o público alvo
da Educação Especial?
143
9. Como está estruturada (organizada) a Educação Especial na rede municipal?
10. As legislações existentes têm contemplado as necessidades do atendimento
educacional do público-alvo da Educação Especial?
11. Quais as dificuldades enfrentadas para a efetivação do processo de inclusão na rede
municipal de Abaetetuba/PA?
12.De que maneira as políticas de inclusão estão contempladas no planejamento
orçamentário da Secretaria Municipal de Educação?
13.A rede municipal de Ensino segue as diretrizes emanadas da Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva do Ministério da Educação?
14. Qual a sua opinião sobre as diretrizes propostas pela Política de Educação Especial na
perspectiva da Educação Inclusiva?
15. Você considera que os Professores lotados nas Salas de Recursos Multifuncionais
encontram-se capacitados para realizar o AEE, conforme o que estabelece a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008, p.09-10)?
16. No seu entendimento, de quem é a responsabilidade pela iniciativa e concretização de
ações que viabilizem a inclusão desse público na rede de ensino?
17. Como você avalia a política de formação inicial e continuada dos professores que
atuam nas Salas de Recursos Multifuncionais. Tem atendido a demanda de formação dos
mesmos? Se não, quais os entraves? Você considera que essa formação viabiliza o
atendimento das necessidades educacionais dos alunos público da Educação Especial?
18.Qual a sua opinião sobre a concepção do profissional generalista proposta pela Política
Nacional de Educação Especial (2008)?
19.Você considera que é possível promover educação de qualidade a todos e assim
contribuir para a inclusão escolar sabendo que no AEE os professores têm que realizar o
atendimento educacional especializado com demandas educacionais distintas? Isso é
possível? O que você pensa que pode ser feito?
20. Na sua opinião o que é necessário para melhorar a política de inclusão na rede
municipal de ensino, no município de Abaetetuba/PÁ.
144
Apêndice E – Roteiro de observação no contexto das Salas de Recursos Multifuncionais
Esta observação se insere no contexto das Salas de Recursos Multifuncionais e faz parte da
pesquisa de campo do Curso de Mestrado em Ciências, no Programa de Pós-Graduação em
Educação Agrícola, pretende colaborar com a coleta de informações que possibilite a
viabilização dos objetivos da pesquisa.
1. Descrição da escola.
2. Espaço físico da Sala de Recursos Multifuncionais (Tipo I ou Tipo II).
3. Equipamentos, mobiliários e materiais Didático-pedagógicos existentes na SRM.
4. Quais os recursos que faltam para compor a SRM?
5. Número de alunos atendidos na Sala de Recursos Multifuncionais e quais os tipos que
predominam (Deficiência, TGD, AH/SD).
6. Quantos docentes estão lotados na SRM e qual a CH de cada docente?
7. Comunicação do professor na SRM (domínio da Libras, facilidade de comunicação com o
aluno, domínio do Braille).
8. Atuação do professor na Sala de Recursos (dinamismo, autonomia, interesse, domínio na
utilização dos recursos).
9. Estruturação do atendimento (Material pedagógico utilizado suficiente, atualizado).
10. Organização do atendimento (grupo, individual, misto).
11. Frequência dos alunos.
12. Existência de interação dos professores da SRM com outros profissionais da escola.
145