Ecossistema Cripto e Novos Produtos Financeiros

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

FINANÇAS
DESCENTRALIZADAS
Estudo | Ecossistema
cripto e novos produtos
financeiros
AGO/22

1
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

Sumário
ECOSSISTEMA CRIPTO E
NOVOS PRODUTOS FINANCEIROS
Um estudo de finanças descentralizadas

páginas

01 Introdução 03

02 O mercado cripto no mundo 06

03 Brasil e os criptoativos 14

04 Quem investe em cripto no Brasil? 19

Posicionamento dos players


05 brasileiros
25

06 Contexto regulatório 28

07 Funcionalidades e produtos 36

08 Conclusão 43

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

INTRODUÇÃO

O blockchain se tornou um relevante viabilizador da inovação nos mercados


financeiro e de capitais. Para além dos criptoativos, essa tecnologia
tem permitido o surgimento de diversas iniciativas e práticas que estão
transformando toda a economia. Por isso, o tema finanças descentralizadas
entrou para o planejamento estratégico da ANBIMA em 2022.

Ao longo deste ano, produzimos e disseminamos conhecimento sobre o tema


com coordenação do Grupo Consultivo de Inovação. Esse trabalho começou com
o mapeamento de tendências e impactos sobre a indústria e se aprofundou em
temas transversais, como tokenização, o ecossistema cripto e novos produtos
financeiros.

As finanças descentralizadas, também conhecidas pela sigla em inglês DeFi,


têm crescido rapidamente ao redor do mundo. Embora o movimento tenha
ganhado tração após o “Verão de 2020”, nome dado ao período em que as
plataformas deste ecossistema passaram por uma grande evolução técnica, a
descentralização de serviços financeiros já acontece há mais tempo.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Introdução

Esse material foi produzido em parceria com a Accenture tem a finalidade de


entender melhor as diferentes nuances desse ecossistema, indo desde seu
contexto histórico até sua utilidade para o mercado financeiro. Nesse sentido,
os objetivos são: a) apresentar a evolução do mercado de criptomoedas e o
crescimento de sua relevância nos últimos anos, dentro e fora do Brasil; b)
identificar quais características atraem os investidores brasileiros para este
mercado; c) falar das etapas de desenvolvimento da criptoeconomia no
mercado brasileiro; d) entender o estado atual do cenário regulatório a nível
global e local; e) identificar desafios que envolvem a regulamentação.

Em suma, o propósito é falar sobre a criptoeconomia sob a ótica das finanças


descentralizadas, dando ênfase aos desafios e oportunidades que esse setor
oferece ao mercado tradicional. São entendidos como players das DeFi aqueles
com intermediação minimizada e atuação global, cuja governança pode ser
feita de forma centralizada ou através de votos, e a operação tecnológica pode
ser da propriedade de algum indivíduo, ou de código aberto.

Ficam de fora, então, as instituições financeiras tradicionais e já regulamentadas,


bem como as plataformas financeiras que utilizam tecnologias de registros
distribuídos (DLTs, na sigla em inglês) para potencializar suas operações.

Dada a diversidade do ambiente das DeFi, é importante também apontar que


os criptoativos que recebem atenção neste estudo são aqueles capazes de
oferecer produtos de investimento inéditos ao mercado. São eles os tokens
reputacionais e os tokens de serviço, também chamados utility tokens.

Tokens reputacionais são aqueles que recompensam seu detentor de alguma


forma, com bons exemplos sendo o ApeCoin (APE), o Pancake (CAKE) e os
tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês). Já os utility tokens dão acesso
a algum serviço, ou são utilizados como pagamento de serviços prestados por
protocolos baseados em DLTs. Os tokens mobiliários, ou security tokens, que
representam veículos de investimento, não serão abordados neste estudo. As
stablecoins e moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDC, na sigla em
inglês), conhecidas como tokens monetários, ou ainda payment tokens, entram
no estudo apenas na condição de viabilizadores.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Introdução

Conhecendo a metodologia

O desenvolvimento do estudo ocorreu a partir de referências bibliográficas


globais e locais, produzidas por entidades de renome. Além disso, foram
conduzidos diálogos com players atuantes tanto nas finanças tradicionais
quanto no ecossistema das finanças descentralizadas, visando o
aprofundamento em temas específicos.

Através destes meios, foi feito o levantamento de impactos, oportunidades


e desafios, perfilamento do investidor, volumetrias e dados do mercado, e
contexto regulatório.

Saiba mais

Quer se aprofundar nos temas tratados aqui


neste relatório? Assista à videoaula com Courtnay
Guimarães, cientista-chefe de metaeconomia e
blockchain da Avanade Brasil, e um dos consultores
responsáveis por este estudo.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

O MERCADO CRIPTO NO MUNDO

As finanças descentralizadas, ao oferecerem novas formas de


entender as relações financeiras, criam também terminologias
que precisam ser entendidas. Um único player dentro das
DeFi pode desempenhar diferentes papéis, atuando como:
protocolo, provedor de serviço, exchange e provedor de
infraestrutura

Diferentes terminologias

Protocolos atendem casos de uso específicos, podendo fornecer crédito,


operações com derivativos ou até mesmo apostas. Os provedores de serviços
oferecem ferramentas que interagem com os ecossistemas, como agregadores,
oráculos, análise de dados e soluções de segurança.

O player que atua como exchange atende necessidades como negociações,


custódia, compensação e liquidação. Ele pode atuar como mesa do mercado
de balcão, carteira ou provedor de liquidez. Por fim, o provedor de infraestrutura
trabalha para o desenvolvimento de uma rede, ou de aplicativos descentralizados
criados sobre ela. O exemplo mais comum nas DeFi são as bridges.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

Ecossistema

Mineração
Crédito Derivativos Hardware
(PoW / PoS)

Gaming Apostas Rede/Bridge Outros...

Fornecimento de Desenvolvimento da
padrões para casos Protocolos Infraestrutura rede e de aplicativos
de uso específicos descentralizados
Cripto-
economia
Disponibilização Negociação, custódia,
de serviços aos Provedores compensação e
Exchanges
ecossistema de serviços liquidação

Segurança e Mesas de Wallets


Agregadores Compliance trading e OTC (chaves)

Dados e Provedores Custódia


Oráculos de liquidez e Gestão
Analytics

Disclaimer: Há diversas formas de categorização do ecossistema conforme o objetivo da análise


Fonte: Elaboração Accenture

Um exemplo de player que acumula diferentes funções é a Binance, maior exchange


do mundo em volume de negociações de criptomoedas. Além de oferecer negociações
com ativos digitais, a empresa oferece empréstimos, operações com derivativos,
custódia, serviços de pagamento, um marketplace para NFTs, uma área de pesquisa,
dentre outros ambientes de atuação. Ao todo, estima-se que a Binance tenha 470
serviços diferentes

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - O mercado cripto no mundo

Exchanges centralizadas e descentralizadas

Sobre as exchanges, diferenciamos essas empresas em duas categorias:


as exchanges centralizadas e as exchanges descentralizadas.

As plataformas centralizadas operam sob a supervisão de uma entidade com


poder de decisão. Usando novamente a Binance como exemplo, ainda que
ela ofereça diferentes serviços, todos eles estão sob a gestão de um CEO. As
exchanges centralizadas também operam em diferentes redes de criptoativos,
algo necessário para dar suporte a negociações com diferentes moedas digitais.

As exchanges descentralizadas, regra geral, oferecem negociações de ativos


sem uma figura central ditando os rumos de suas operações. Um exemplo é
a Uniswap, que através de seu token UNI permite aos usuários votarem em
mudanças para a plataforma. Geralmente, as exchanges descentralizadas
atuam em redes blockchain de terceiros, como é o caso da Uniswap.

Ainda usando Binance e Uniswap como exemplos, ambas as exchanges


possuem seus tokens: Binance Coin (BNB) e Uniswap (UNI), respectivamente.
Enquanto a Binance consegue emitir o ativo BNB com baixo custo, devido à
centralização das operações, os custos de emissão do UNI são mais elevados,
pois são feitos através de contratos inteligentes dentro de blockchains de
terceiros.

Exemplos:
Possuem uma rede blockchain cuja
centralizadas
Exchanges

governança é majoritariamente
centralizada e exercem “múltiplas
funções”, ofertando diversos serviços.

Exemplos:
descentralizadas

Fornecem uma rede blockchain cuja


Exchanges

governança pode ser descentralizada


e atuam focadas na compra e venda
de ativos.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - O mercado cripto no mundo

Disparidades nos volumes negociados

Com base em dados de agosto de 2022, estima-se que as exchanges,


centralizadas e descentralizadas, movimentam US$ 254 bilhões diariamente.
Existe uma grande diferença, porém, no montante em que esses dois modelos
de exchanges processam em negociações. As exchanges centralizadas
representam US$ 249 bilhões em volume no período, e as exchanges
descentralizadas ficam com os US$ 5 bilhões restantes.

A Binance representa, sozinha, 25% de todo o volume negociado pelas


exchanges centralizadas. Trata-se de uma vantagem considerável em relação
à segunda colocada, a Deepcoin, que movimenta 11% dos montantes diários. A
OKX fica na terceira posição, com 7% do volume movimentado em 24 horas.

No setor das exchanges descentralizadas, a disputa pelo volume diário é mais


acirrada entre as três maiores aplicações. A dYdX lidera, sendo responsável
por movimentar 28% dos US$ 5 bilhões diários processados por exchanges
descentralizadas. StellarX e Uniswap empatam, cada uma com 20% das
negociações.

Volume diário de negociações

Exchanges centralizadas (U$ Bi)1

25% 11% 7% 6% 5% 45% 249

Binance Deepcoin OKX BitWell FTX Outras

Exchanges descentralizadas (U$ Bi)1

28% 20% 20% 8% 4% 20% 5

dYdX StellarX Uniswap DeversiFi ApolloX Outras

Fonte: Nomics em 1/8/2022

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - O mercado cripto no mundo

Número de usuários cresce

Apesar de movimentar centenas de bilhões de dólares diariamente, o ecossistema


de criptomoedas ainda possui poucos investidores no cenário global. Segundo
dados do Triple A, apenas 320 milhões de pessoas ao redor do mundo investem
em ativos digitais, sendo o equivalente a 4% da população mundial.

Usuários

América
Mundo EUA Índia Paquistão Nigéria Vietnã
do Sul

4% 6% 14% 2% 12% 10% 20%

320 27 46 27 26 22 20

Porcentagem da população (%) Número de usuários (MM)

Fonte: TripleA para o início de 2022

Analisada a proporcionalidade, o Vietnã é o país com a maior parcela da


população envolvida com criptomoedas: 20 milhões de usuários. Isso equivale
a 20% dos vietnamitas.

Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, ocupam a segunda


posição, com 46 milhões de investidores interagindo com o mercado cripto,
representando 14% da população do país. A América Latina soma 27 milhões de
usuários imersos na criptoeconomia, número que equivale a 6% da população
total da região.

Um dado positivo identificado, porém, é o crescimento de usuários do mercado


cripto. Esse movimento tende a seguir o mesmo ritmo de crescimento de
usuários na internet visto durante a “Primeira Grande Bolha”, ocorrida no final
dos anos 90.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - O mercado cripto no mundo

Fundos de criptoativos ganham relevância1

Os fundos de investimento em criptomoedas, que incluem os fundos de índice


(ETFs, na sigla em inglês), cresceram substancialmente entre 2018 e 2022. No
primeiro trimestre de 2018, os ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês) desses
fundos somavam US$ 6 bilhões. Após um crescimento gradual ao longo dos anos,
o recorde de US$ 70 bilhões em AuM foi atingido no quarto trimestre de 2021.

As gestoras Multicoin Capital e Amber Group dominam o segmento de fundos


de ativos digitais, com US$ 8,9 bilhões e US$ 5 bilhões em ativos sob gestão,
respectivamente.

Além disso, ao final do primeiro trimestre de 2022, mais de 850 fundos de


criptoativos estavam em operação. Foi identificada também uma concentração
de AuM em poucos fundos, já que 36% deles possuem menos de US$ 10 milhões
sob gestão, enquanto apenas 6% possuem mais de US$ 100 milhões.

Também foi identificada a existência de fundos de criptoativos que atuam nos


Estados Unidos dentro de zonas regulatórias incertas, conhecidas como zonas
cinzas. Dos 400 fundos de ativos digitais, somente 170 são registrados junto à
Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC.

Ativos sob gestão (AuM) em fundos de critptoativos (U$ Bi)

70 69

58 60

52

25
22 36
18 19 19 19
14
10
7 8
6
T4

T4
T1

T2

T3

T1

T3

T1

T3
T2

T4

T2

T3

T1

T2

T4

T1

‘18 ‘19 ‘20 ‘21 ‘22

1 - Fontes: Statista; Crypto Fund Research; SWFI

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

Descrição do mercado
Mais de 850 fundos de criptoativos Mais de 400 dos fundos estão localizados
existiam no mundo ao final do primeiro nos EUA, mas apenas cerca de 170 estão
trimestre de 2022 registrados na SEC.

36% deles possuem menos de As maiores gestoras de fundos de criptos


U$10 milhões em AuM e 6% em AuM são a Multicoin Capital (U$8,9 bilhões)
possuem mais de U$100 milhões e a Amber Group (U$ 5 bilhões)

Mercado trilionário

O valor total do mercado de criptoativos também exibiu variações positivas


expressivas, vistas entre 2019 e 2021. Em julho de 2019, o valor total era de US$
300 bilhões. Já em novembro de 2021, o mercado de ativos digitais atingiu seu pico
de valorização ao chegar em US$ 2,9 trilhões. O salto foi de quase dez vezes.

Valor total de market cap de criptoativos


Boom 1Q21 Boom 3Q21

Valor detido por brasileiros


estimado em R$ 270 bi.3

Pico em nov/21 $2,9T

$2,2T
$1,9T $2,0T
$1,4T
$1,9T

$0,3T $0,3T
$0,2T $0,3T $0,9T2
$0,8T
JAN 20

ABR 20
JUL 19

OUT 19

JUL20

OUT 20

JAN 21

ABR21

JUL 21

OUT 21

JAN 22

ABR 22

JUL 22

Mar/21: FED zera Mar/22: FED aumenta Mai/22: Crash


a taxa de juros a taxa de juros da Terra Luna

1 - Market cap cripto = cotação média do criptoativo em USD x quantidade de ativos em custódia.
2 - Bitcoin: 42%, Ethereum: 15%, Tether: 8%, USD Coin: 6%, BNB: 4%, Binance USD: 2%, Cardano: 2%, XRP: 2%, Solana: 1%, Dogecoin:
1%, Outros: 17%.
3 - Fonte: CoinMarketCap e Banco Central do Brasil

Fonte: Coinmarketcap; Bacen

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - O mercado cripto no mundo

Em julho de 2022, no entanto, o mercado de criptomoedas regrediu à marca de US$


900 bilhões, após o colapso do ecossistema Terra. Um ponto em comum entre o início
da alta do mercado cripto e o seu consequente fim é a política de juros do Sistema de
Reserva Federal dos Estados Unidos, o Fed.

Em março de 2021, o Fed zerou sua política de juros, fazendo com que o valor total do
mercado de moedas digitais saltasse de US$ 1,4 trilhão até o seu pico. Já em março
de 2022, o Fed iniciou sua política de aumento de juros, coincidindo com a redução do
tamanho do mercado de ativos digitais.

Mesmo com a extrema volatilidade, o tamanho total do mercado cripto atingiu patamares
comparáveis aos grandes mercados de ativos financeiros. A quantidade de players e
interesses movimentados faz com que a criptoeconomia não possa mais ser ignorada.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

BRASIL E OS CRIPTOATIVOS

O Brasil se colocou em um papel de relevância em termos


de adoção de ativos digitais, acompanhando o crescimento
global do mercado cripto. Em 2021, o valor detido em
criptoativos por brasileiros já representava 3% do PIB do
país, totalizando R$ 270 bilhões

Em termos de usuários, houve um crescimento de 12,6 vezes no número de


investidores entre 2020 e 2021. Após este salto, a fatia da população brasileira
que investe em cripto passou a ser de aproximadamente 3%, equivalente a
quase 6 milhões de pessoas. A título de comparação, a bolsa brasileira, a B3,
tem 5 milhões de CPFs cadastrados.

Estima-se que até 10% do PIB global pode ser tokenizado até 2027. Isso
significa que os direitos do mundo real representados no mercado digital
através de tokens podem ter um papel significativo dentro da criptoeconomia
nos próximos anos.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Brasil e os criptoativos

Mercado cripto no Brasil e no mundo


B3 possui 5
milhões PFs
Brasil cadastrados

R$270 BILHÕES 6 MILHÕES 12,6x


(3% DO PIB) (~3% DA POP. DO BRASIL) AUMENTO DE INVESTIDORES
2021 X 2020

É O VALOR EM ESTIMATIVA DO NÚMERO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO


CRIPTOMOEDAS DETIDOS BRASILEIROS QUE DETÉM DE INVESTIDORES EM
POR BRASILEIROS EM 2021 ALGUM CRIPTOATIVO EM FUNDOS CRIPTO
CARTEIRA
Fonte: Estadão e levantamento
Fonte: Bacen, 2021 Fonte: Estimativa Accenture, 2022 Hashdex, 2022

Mundo

US$ 900 BILHÕES 295 MILHÕES 10% DO PIB


(1,1% DO PIB GLOBAL) (3,7% DA POP. MUNDIAL) GLOBAL
VALOR DE MERCADO ESTIMATIVA DO NÚMERO DEVE ESTAR
DE CRIPTOATIVOS EM DE PROPRIETÁRIOS DE TOKENIZADO ATÉ 2027
JULHO DE 2022 CRIPTOATIVOS AO FINAL
DE 2021

Fonte: Coinmarketcap Fonte: Triple A, 2021 Fonte: Cisco, 2019

Aumento nos investimentos diretos

Investimentos diretos são compras feitas por investidores onde há uma


aquisição do ativo digital, diferente do investimento em fundos, que são geridos
por intermediários. No Brasil, o volume de investimentos diretos tem crescido
desde 2019.

Entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2020, o volume


investido avançou de R$ 18,1 bilhões para R$ 26 bilhões. No segundo trimestre
de 2021, esse volume atingiu a máxima de R$ 62,4 bilhões. No mesmo ano,
houve um aumento de R$ 200 bilhões movimentados no país.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Brasil e os criptoativos

Movimentação de criptoativos no Brasil1


Base de movimentações Receita Federal [R$ bi.]

Mais de R$ 200 bilhões Selic em 9,25%


Mínima histórica
movimentados em criptoativos e tendência
de 2% na Selic
no Brasil em 2021 de alta

+26% Queda de 17% vs. 34%


+91% mkt. cap.global 2
62,4
49,7 48,7
42,5 37,5
26,0 26,0
18,1 21,0 18,4

T4’19 T1’20 T2’20 T3’20 T4’20 T1’21 T2’21 T3’21 T4’21 T1’22

Exchange no exterior Movimentação P2P Exchange domiciliada no Brasil

1 - Dados declarados na Receita Federal, de acordo com IN RFB n° 1888: informações prestadas quando valor mensal das operações do
investidor ultrapassar R$ 30 mil. Exchanges que não possuam CNPJ no Brasil não são obrigadas a passar os dados para a Receita Federal.
2 - Comparação das movimentações nos meses dez/21 e abr/22.
Fonte: Receita Federal; Mercado Bitcoin; Gemini

A análise das movimentações mostra a possibilidade de correlação entre os


investimentos em ativos digitais e a taxa básica de juros, a Selic. Logo após a taxa
Selic atingir sua mínima histórica em 2%, no quarto trimestre de 2020, o volume
de investimentos diretos saltou de R$ 26 bilhões para R$ 49,7 bilhões no primeiro
trimestre de 2021. O aumento foi de 91%.

Inversamente, entre o fim de 2021 e início de 2022, quando a Selic atingiu o


patamar de 9,25% e passou a demonstrar tendência de alta, houve uma queda
de 17% no volume de investimentos em criptomoedas. Uma possibilidade é que
este movimento possa indicar um amadurecimento do mercado cripto, que tem
seguido variações semelhantes a outros grandes mercados de ativos de risco.

Quanto às vias escolhidas pelos brasileiros na hora de investir em ativos digitais, as


exchanges domiciliadas no país demonstram um domínio expressivo. A segunda
via mais procurada são os comerciantes independentes, conhecidos como P2P,
seguida pelas exchanges internacionais.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Brasil e os criptoativos

Crescimento também foi exibido


por fundos de investimentos

Assim como nos investimentos diretos, os brasileiros também demonstraram


interesse em se expor ao mercado cripto através de fundos. Mais do que isso,
houve um crescimento expressivo e muito rápido no volume aplicado nesses
fundos.

Em dezembro de 2020, existiam apenas dez fundos de criptomoedas no


Brasil, que somavam R$ 600 milhões em ativos sob gestão e 2.100 cotistas
em exposição. Em apenas um ano, o número de fundos subiu para 244 e o
patrimônio líquido disparou para R$ 58,5 bilhões, um aumento de 9.750%. O
número de cotistas atingiu 464,8 mil.

Fundos de criptoativos

Por tipo de investidor

Profissional Qualificado Público geral

Patrimônio líquido de fundos Fundos com Fundos com


de criptoativos no Brasil investimento direto1 investimento indireto2
[investem diretamente em cripto [fundos multimercado cujo
[R$ bi.]
via exchanges no exterior; R$ bi.] regulamento permite alocação
58,5 em ativos digitais; R$ bi.]
5,1
(9%) 53,4
47,5
4,7 Direto 42,8
(10%)
35%
9%
53,4 56%
(91%) 42,8 5,1 4,7 4%
Indireto 11%
(90%)
25% 4% 17% 56% 9%

0,6 65% 80% 35%


0,6 0,0

dez-20 dez-21 abr-22 dez-20 dez-21 abr-22 dez-20 dez-21 abr-22

fundos 10 244 303 10 24 37 0 220 266

cotistas
[mil]
2,1 464,8 528,6 2,1 198,0 254,4 0 266,9 274,2

~93% público geral


1 - Inclui ETFs;
2 - Valor do patrimônio líquido completo do fundo, do qual uma parte pode ser alocada em criptoativos
Fonte: Valor Investe, ANBIMA, Elaboração Accenture
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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Brasil e os criptoativos

Quanto aos fundos, a maioria dos investidores optou por produtos com
exposição indireta. Ou seja, os fundos multimercado com permissão para alocar
capital em ativos digitais foram mais populares. Dos R$ 58,5 bilhões alocados
em dezembro de 2021, R$ 53,4 bilhões estavam em fundos com exposição
indireta (91%). O restante dos investidores optou por ETFs, que fornecem
exposição direta.

O perfil de investidor que mais aplicou em fundos entre 2020 e 2021 foi o
público geral, que representou 65% dos aportes em ETFs e 56% nos fundos
com exposição indireta. Embora representem um volume menor de ativos sob
gestão, os ETFs contam com uma presença maior de investidores considerados
qualificados.

Em dezembro de 2021, 49,5 mil (25%) investidores qualificados investiram em


cripto através de fundos de índice, enquanto apenas 24 mil (9%), menos da
metade, investiram através de fundos multimercado.

No grupo de investidores profissionais, a preferência volta a ser a exposição


indireta. Nos volumes de dezembro de 2021, foram 21,8 mil (11%) dos investidores
profissionais investindo em ETFs, contra 93,4 mil (35%) investindo em fundos
com exposição indireta.

Semelhante aos investimentos diretos, todavia, os investimentos em fundos


também parecem seguir as movimentações da Selic. Entre dezembro de 2021
e abril de 2022, houve uma queda de quase 19% no volume de ativos sob gestão
de fundos. A movimentação foi de R$ 58,5 bilhões para R$ 47,5 bilhões.

Mesmo com a queda no volume de capital alocado nesses produtos de


investimento, o número de cotistas cresceu. De 464,8 mil em dezembro de
2021, o total atingido em abril de 2022 foi de 528,6 mil, um aumento de 13,7%.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

QUEM INVESTE EM CRIPTO


NO BRASIL

Quem investe em criptomoedas no Brasil possui um ticket médio inferior,


comparado ao mercado de capitais tradicional. A redução no ticket, entretanto,
é compensada no apetite por alto risco. Diferente do que é comumente
encontrado nas finanças tradicionais, as operações no mercado cripto ocorrem
com poucos intermediários e sem regulamentação.

Além disso, as ofertas encontradas no mercado cripto, especialmente na área


de finanças descentralizadas, possuem riscos de difícil mensuração. Mesmo
assim, o investidor brasileiro se mostra confortável diante da ideia de obter
ganhos expressivos ao se expor a riscos muitas vezes desconhecidos, que
podem acarretar perdas também significativas.

Dentre os riscos desconhecidos está a estrutura de plataformas centralizadas,


que podem colapsar da noite para o dia, como aconteceu recentemente com a
FTX. Já na parte das DeFi, ofertas como staking, fornecer liquidez para pools de
exchanges descentralizadas e comprar tokens de projetos cujos criadores são
pessoas anônimas representam potenciais de perdas de difícil mensuração.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Quem investe em cripto no Brasil

Mercado de fácil acesso

A chegada dos investidores brasileiros no mercado cripto é caracterizada como


fácil. Ainda que a maior parte das exchanges brasileiras aplique modelos de
cadastro tradicionais, que envolvem a identificação dos investidores, existem
plataformas internacionais que, muitas vezes, pedem apenas um endereço de
e-mail e um número de telefone.

Sobre as exchanges centralizadas, elas são a porta de entrada preferida


pelos investidores brasileiros. Dados de outubro de 2021 apontam que R$ 276
bilhões de criptomoedas em posse de brasileiros foram adquiridos através de
exchanges. Após certo tempo de uso e grau de sofisticação, porém, investidores
migram para as plataformas do ambiente de finanças descentralizadas.

A diferença entre o uso de plataformas centralizadas e descentralizadas é a


supervisão regulatória. Ainda que exchanges centralizadas permitam a compra
direta dos ativos digitais, eles ainda ficam sob custódia da plataforma até o
momento do saque pelo usuário.

No caso das exchanges descentralizadas, há uma exposição direta e total


aos criptoativos, mas com uma presença menor do regulador. Produtos
de rendimento, como staking, prover liquidez para pools de negociações,
e empréstimos estão entre as ferramentas preferidas dos investidores
brasileiros.

A exposição através de fundos e ETFs também é uma alternativa, mas é


considerada como menos sofisticada e menos rentável para o investidor.
Fundos são uma opção para o investidor que deseja exposição a criptoativos,
mas busca uma presença ainda maior do regulador do que aquela vista nas
exchanges centralizadas.

Nesta forma de entrada, os meios de exposição são os fundos multimercado


e os ETFs. Ambos são regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) e pela ANBIMA. Esses fundos são disponibilizados por corretoras
tradicionais, ou até mesmo por bancos comerciais regulados.

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ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Quem investe em cripto no Brasil

Perfil do investidor

O brasileiro que investe em criptomoedas é jovem de renda alta. Esse perfil


é caracterizado por indivíduos de aproximadamente 28 anos, a maioria
pertencente às classes A ou B, com ticket médio de R$ 45 mil. Os atuais 6
milhões de investidores de criptomoedas já ultrapassaram os 5 milhões que
investem na bolsa. O ticket médio destes, no entanto, é maior: R$ 105 mil.

Investidor brasileiro

investidor investidor de
de ações criptoativos

Média de idade 38 anos 28 anos

Classe social A/B A/B

Conhecimento
espontâneo do 21% 10%
produto – Classe AB

Qtd.
investidores PF 5 milhões1 6 milhões2

Ticket Médio R$ 105 mil1 R$ 45 mil3

1 - Baseado em dados da B3
2 - Estimativa Accenture
3 - Baseado em dados do Bacen (2021) e estimativa Accenture
Fonte: Raio x ANBIMA, B3, Monnos, Elaboração Accenture

21
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Quem investe em cripto no Brasil

Além disso, os brasileiros que se aventuram no mercado cripto possuem muito


acesso à informação e estão mais ligados a inovações digitais. As soluções
envolvendo criptoativos, especialmente na área das DeFi, ainda demandam
melhorias na área de experiência do usuário. Por isso, o uso destas aplicações
pede mais dedicação do investidor.

A difícil mensuração de valor fundamental e o cálculo dos riscos relacionados


estão entre os motivos que afastam gestores mais profissionais da
criptoeconomia. Muitas vezes, não há como prever as variações dos ativos
digitais: investidores compram quando assim desejam, e o mesmo acontece
na hora de vender os ativos.

Também é possível verificar uma correlação entre renda e disposição à tomada


de risco. Para o investidor com maior poder aquisitivo, a ideia de alocar parte de
seu capital em um ativo que só valorizará em alguns anos é mais confortável. Já
o investidor com menor poder aquisitivo, que pode precisar do valor investido
antes do ponto de valorização, tem uma aversão maior à volatilidade intrínseca
das moedas digitais.

Motivadores da exposição em cripto

Ainda que a entrada no mercado cripto seja considerada fácil, o investidor


precisa ser motivado a aplicar nesse setor da economia. Pesquisa da exchange
Gemini mostra que as duas principais motivações para o investidor global são a
proteção contra a inflação e a diversificação do portfólio com ativos alternativos.

De todas as regiões do mundo, a América Latina tem o maior índice de


investidores (46%) que consideram as criptomoedas como uma ótima
forma de proteção contra a inflação. A liderança latino-americana também é
vista no motivador de diversificação de portfólio, com 78% dos investidores
respondendo que moedas digitais são uma boa forma de exposição a ativos
alternativos.

22
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Quem investe em cripto no Brasil

Motivadores

Algumas criptomoedas são uma ótima


forma de proteção contra a inflação

46% 46%
32% 34%
16% 15%

EUA Europa América Ásia Oriente


África
Latina Pacífico Médio

Ter criptomoedas é uma ótima forma de


diversificar seus ativos (donos de criptos)

78%
62% 67% 63%
49%
34%

EUA Europa América Ásia Oriente


África
Latina Pacífico Médio

A proteção contra a inflação é um fator de motivação compreensível para a América


Latina, dado o histórico de altos índices inflacionários na região. Ter posições em
determinados tipos de ativos, como stablecoins, pode ser considerada uma forma
de proteção neste cenário.

Razões para não investir

Por outro lado, também foram analisadas as razões que ainda mantêm
investidores fora do mercado de ativos digitais.

Antes de abordar tais razões, é válido destacar que a tolerância ao risco


do investidor da América Latina é alta: somente 12% dizem não confiar em
criptoativos, e 13% se incomodam com o fato de criptoativos não serem
lastreados pelo governo ou outros ativos.

23
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Quem investe em cripto no Brasil

Os aspectos operacionais são apontados por investidores latino-americanos


como motivos que dificultam a entrada no mercado cripto. Não saber como
comprar ou utilizar criptoativos como meios de pagamentos são citados como
principais barreiras. Em ambos os casos, a América Latina exibe os índices mais
altos de dificuldade, com 42% e 31%, respectivamente.

A falta de conhecimento também é um aspecto que dificulta a maior adesão


das criptomoedas na região. 51% dos respondentes, contra uma média global
de 40%, alegam que ter maior entendimento sobre produtos do mercado de
criptomoedas os deixariam mais confortáveis para investir nesses ativos.

Motivos para não investir

Estou preocupado Tenho dúvidas Não entendo como


com a volatilidade sobre a comprar ou ter
de criptoativos segurança criptoativos

40% 38% 42% 40%


36% 35% 36% 36% 37% 37%
34%
22% 33% 27%
27%
24% 26% 23%
EUA

EU

Am Lat

A. Pac.

Afr.

OrMed.

EUA

EU

Am Lat

A. Pac.

Afr.

OrMed.

EUA

EU

Am Lat

A. Pac.

Afr.

OrMed.

Não sei como Não confio em Não gosto de criptoativos


fazer compras criptoativos porque não são garantidos
com criptoativos pelo governo ou outros ativos

32% 33%
28% 28% 31% 30% 27%
27% 26% 23%
24% 20% 20% 21%

12% 14% 13% 11%


EUA

EU

Am Lat

A. Pac.

Afr.

OrMed.

EUA

EU

Am Lat

A. Pac.

Afr.

OrMed.

EUA

EU

Am Lat

A. Pac.

Afr.

OrMed.

1 - Amostragem de pesquisa balanceada e representativa da população adulta (18 à 75 anos) em cada país com renda anual de
US$ 14000 ou mais – no Brasil houveram 1700 respostas
Fonte: Gemini, Elaboração Accenture

24
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

POSICIONAMENTO
DOS PLAYERS

A evolução do mercado cripto no Brasil ocorreu de forma gradual entre 2011 e


2019. A partir de 2020, contudo, um rápido e forte movimento de adesão foi
visto no setor de criptomoedas.

Entre 2011 e 2019, o momento foi de surgimento de novas empresas dentro do


setor de ativos digitais e experimentação por parte dos players do mercado
tradicional. Os primeiros avanços feitos no fim de 2019 por empresas mais
tradicionais, contudo, não foram bem recebidos pelos reguladores.

A postura restritiva dos órgãos reguladores do Brasil foi mantida entre 2019 e
2021. A diferença dos anos anteriores, no entanto, foi a pressão de crescimento
exercida por esse ecossistema. Com a alta nos preços iniciada em 2020, houve
uma expansão e difusão na oferta de criptoativos.

Além disso, os produtos de investimento disponíveis se multiplicaram, saindo


de 600 para mais de 10 mil tokens disponíveis. Há que se falar também nos
valores mantidos por investidores brasileiros, que totalizaram R$ 276 bilhões
em custódia neste período.

25
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Posicionamento dos players

O crescimento da economia digital fez com que os reguladores reavaliassem


suas posturas, assumindo um perfil menos constritivo. O projeto de lei com
a proposta de regulamentar o mercado de criptomoedas no Brasil, existente
desde 2015, ganhou maior atenção a partir de 2021 e foi aprovado em dezembro
de 2022.

Também foram iniciados os ambientes de testes para novas tecnologias


e soluções envolvendo o mercado cripto, conhecidos como sandboxes
regulatórios. O retorno de players do mercado tradicional também é uma
característica deste período.

Em um novo ambiente mais competitivo, marcado pela volta das empresas do


mainstream financeiro após o reposicionamento dos reguladores, integrantes
da criptoeconomia buscam otimizar a experiência de seus usuários, bem como
oferecer facilidades de saque.

Para o futuro, estima-se que haverá uma definição de regras para o mercado
cripto e formalização das exchanges. Existe também a expectativa de que
novos players se posicionem dentro deste mercado após a definição de um
ambiente com regras mais claras.

Presença do mercado tradicional aumenta

Com o crescimento do mercado cripto, instituições financeiras tradicionais


resolveram explorar esse setor e captar usuários antes que migrassem para o
ambiente de finanças descentralizadas.

O banco BTG Pactual foi uma das primeiras instituições a fazer este movimento,
ao lançar, em 2019, seu token ReitBZ. Trata-se de uma iniciativa de tokenização
que transformou em ativos digitais o direito a imóveis ao redor do mundo.

A partir de 2022, mais dessas instituições adentraram a economia digital. O


Mercado Pago acrescentou criptoativos ao seu balanço e passou a oferecer
negociações desses ativos aos seus usuários. Além disso, bancos como Nubank,
Itaú e BTG Pactual anunciaram serviços envolvendo a oferta de criptoativos aos
seus clientes e, em alguns casos, a tokenização de ativos reais.

26
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Posicionamento dos players

Linha do tempo
Principais movimentos no Brasil até julho/22

Mercado Bitcoin

2011 é a primeira
plataforma
cripto no Brasil

BTG Pactual
2019
Formação da
ABCripto cria o token
ReitBZ

2020 Binance entra


oficialmente
Projeto XDEX
é encerrado
no mercado
brasileiro

Hashdex lança Mercado Pago 2021


primeiro ETF adota
cripto criptoativos

Nubank passa
a oferecer BTG lança
criptoativos exchange Mynt

2022

Itaú lança seu XP lança


primeiro fundo corretora
de cripto XTAGE

Fonte: Clipping, Elaboração Accenture

27
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

CONTEXTO REGULATÓRIO

As abordagens utilizadas por reguladores ao redor do mundo em relação às


criptomoedas se dividem em quatro principais estratégias.

A criação de novas categorias para abarcar os diferentes ativos digitais surgidos


nos últimos anos é um destes modelos. A União Europeia, que divide criptoativos
entre utility tokens, asset-referenced tokens e payment tokens, e o Japão - que
utiliza as classificações de criptoativos, security tokens e payment tokens - são
dois exemplos.

O enquadramento de ativos digitais dentro de uma categoria já existente na


legislação do país é o que já fazem países como Estados Unidos e Suíça, e
também configura uma estratégia para regular o ecossistema de ativos digitais.

Existem ainda os reguladores que decidem simplesmente proibir


movimentações com ativos digitais. O exemplo mais notório é a China que, em
2021, baniu o uso de criptomoedas para negociações e pagamentos, além de
vetar a mineração desses ativos em seu território.

No espectro oposto, existem os reguladores que querem transformar o país no


qual atuam em um hub para o ecossistema cripto. Nas Bahamas, legislações
amigáveis para aplicação e tributação de ativos digitais foram criadas, com o
intuito de viabilizar o crescimento dos ativos digitais na região.

28
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

Panorama regulatório

União Europeia Japão


MiCA (set-20) regula utility Status legal do token é
Criação de tokens, asset-referecend baseado em sua função e
nova categoria tokens e payment tokens. uso.
Criou diretrizes para CASP Podem ser classificados
(cryptoasset service provider) como criptoativos, security
tokens ou payment tokens

Estados Unidos Suiça


Estados com pontos de • FINMA apresenta regulação
Inclusão em vista divergentes para cryptocurrencies, utility
categoria tokens, asset-referecend
existente Discussão em andamento:
tokens e stablecoins
criptoativos são ou não valor
mobiliário Exchanges são reguladas

China Rússia
Proibição dos Criptoativos banidos Criptoativos banidos
criptoativos em 2021 para negociação, em 2022 para negociação,
mineração e pagamentos mineração e pagamentos

Bahamas Dubai
Busca se posicionar como Busca se posicionar como
hub de ativos digitais no hub de inovação em ativos
mundo digitais
Posicionamento
como hub de Legislações amigáveis Estabelecimento de lei
cripto em termos de aplicação e específica e da VARA (Virtual
tributação Assets Regulatory Authority)
Legislações amigáveis
em termos de aplicação e
tributação

Fonte: ComplyAdvantage; Clifford Chance & R3; Accenture

29
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

Prós e contras

Ao escolher qual estratégia adotar, o regulador deve arcar com prós e contras
específicos.

Ao criar nova categoria para ativos digitais, o regulador garante que as mudanças
serão implementadas rapidamente no mercado financeiro. Além disso, há uma
facilidade maior ao criar novas categorias, uma vez que elas estarão fora de
problemas existentes em regulações antigas.

Tal posicionamento do regulador, contudo, vem acompanhada da dificuldade


de encaixar novos conceitos na regulação vigente no país e da possível
necessidade de criar uma entidade dedicada a supervisionar o mercado cripto.

Caso o regulador escolha incluir os criptoativos sob o conjunto de leis vigente,


ele não só garante a solidez da estrutura legislativa, como também utiliza a
maturidade desta estrutura em favor da regulamentação. O resultado são
normas que se relacionam de forma coesa e atuam de forma abrangente.

Ao adotar esta postura, no entanto, o regulador tem a necessidade de revisar


o regramento para abraçar novas tecnologias, e o tempo necessário para rever
a legislação cria um grande período no qual o mercado se movimenta sem
regulamentação.

A proibição de criptoativos é mais simples, mas é um cenário já descartado


para o Brasil.

Também é improvável o posicionamento do Brasil como hub cripto. Atingir


esse status demanda uma política nacional mais interessada e agressiva, além
da necessidade de ser um território que atraia investimentos e investidores
internacionais. A aquisição do status de hub cripto demanda uma mudança
muito grande para o país

30
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

Japão e a autorregulação

A autorregulação é uma forma válida de regular o mercado cripto, mas demanda


um alto grau de precisão para que o objetivo seja atingido de forma eficaz. O
Japão é um exemplo em andamento onde os players do ecossistema cripto
buscam se autorregular.

Em 2018, foi criada a Japan Virtual Currency Exchange Association, com o


objetivo de estabelecer e supervisionar políticas para empresas atuantes
no mercado cripto japonês. As políticas incluem diretrizes para prevenção à
lavagem de dinheiro e análise de pedidos para o surgimento de novos players
no mercado.

Implementar esses objetivos, entretanto, faz com que surjam desafios


específicos. O atraso na implementação de políticas de prevenção à lavagem
de dinheiro, a falta de clareza dos processos regulatórios e administrativos e a
demora para analisar os pedidos de entrada na economia digital japonesa são
os principais desafios.

O autorregulador justifica que esses desafios são causados pela falta de


coordenação com empresas internacionais que adentram a economia digital do
Japão, pela limitação de recursos para avaliar os pedidos de entrada de novos
players e as dificuldades em implementar padrões mais altos para combater a
lavagem de dinheiro.

Com o caso do Japão, podemos aprender que: são necessários escopos


de atuação e governança muito bem estruturados para que o esforço
autorregulatório seja efetivo; o processo de autorregulação pode ser relevante
para o processo regulatório do mercado de criptoativos; a cooperação com o
regulador local pode facilitar a definição de atividades e a trabalho em conjunto
entre os players do mercado.

31
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

Suíça e sua maratona regulatória

A Suíça é outro importante exemplo regulatório. O processo de estabelecimento


de regras pelo país é classificado como maratona regulatória, já que o país
avalia as melhores formas de regular o mercado cripto desde 2016. Isso tem
feito com que a abordagem dos reguladores do país seja amigável em relação
às criptomoedas.

Os esforços de entendimento sobre as dinâmicas da criptoeconomia e como


ela deve ser regulada se intensificaram em fevereiro de 2018. À época, foram
publicadas diretrizes para as ofertas iniciais de moedas (ICOs, na sigla em
inglês). Após dois anos e meio de avaliações, o “DLT Act” foi encaminhado ao
Senado suíço. A proposta tinha uma recomendação de estruturas sobre as
quais a regulamentação deveria ser criada.

A constante observação no mercado fez com que o DLT Act se tornasse um


modelo dinâmico de regulação. Em agosto de 2021, foram aprovadas emendas
à proposta, com o intuito de regrar procedimentos de custódia de criptoativos
e obtenção de licenças para players buscando atuar na área de infraestrutura.

Os avanços em emissão, custódia, transferência e taxação culminaram na


aprovação do primeiro fundo cripto da Suíça, bem como na criação da primeira
bolsa de ativos digitais do país, criada pela Autoridade Federal de Vigilância do
Mercado Financeiro (FINMA, na sigla em inglês).

União Europeia e a MiCA

O Markets in Crypto Assets, ou MiCA, é o conjunto de regras criado pela União


Europeia com objetivo de regular o mercado cripto de todos os países do bloco
econômico. O MiCA se enquadra na estratégia regulatória de criação de novas
categorias para criptoativos. Os principais focos deste conjunto de regras são as
classificações dos produtos, as regras para fornecedores de serviços com moedas
digitais e a segurança do investidor.

32
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

O MiCA divide os produtos em três diferentes grupos: e-money tokens, asset-


referenced tokens e outros criptoativos. Os e-money tokens são stablecoins
lastreadas em moeda fiduciária e soluções de pagamento já cobertas pela
regulação atual, como o PayPal.

Os asset-referenced tokens também abrangem stablecoins, mas que são


lastreadas em cestas de moedas, commodities ou até mesmo outros ativos
digitais. Existem mecanismos de defesa envolvendo este ativo digital: caso um
asset-referenced token ameace a soberania monetária, ele pode ser tirado de
circulação na União Europeia.

Exigências para que uma empresa se torne prestadora de serviços dentro do


ecossistema cripto também estão previstas no MiCA. É necessário o capital
mínimo de 50 mil euros para players que oferecem serviços gerais. Esse
requerimento aumenta para 125 mil euros no caso de custodiantes, e 150 mil
euros para exchanges.

Ademais, os prestadores de serviços com criptoativos devem seguir regras


parecidas àquelas aplicáveis a intermediários financeiros tradicionais. Caso sua
atividade gere prejuízos a clientes, como falhas de segurança que possibilitam
ataques hackers, o prestador de serviço será responsabilizado.

O impacto ambiental dos prestadores de serviços dentro da economia digital da


União Europeia também será monitorado. É exigência do MiCA que informações
relacionadas à preservação ambiental e climática sejam compartilhadas com
os reguladores.

A preservação do investidor também é uma das preocupações da legislação


europeia sobre criptoativos. Supervisão dos processos de trading, regras para
resolução de conflitos de interesse, manipulação de mercado e insider trading
são alguns dos temas previstos pelo MiCA.

Uma área não contemplada pelo MiCA, entretanto, é o ecossistema DeFi. Este é
um ponto de evolução futura nas próximas alterações a serem feitas no projeto
regulatório.

33
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

Regulamentação no Brasil

No Brasil, o marco regulatório dos criptoativos foi aprovado em dezembro de


2022. Trata-se do diploma legal que define a regulamentação deste mercado
no país

A Lei nº 14.478 cria o conceito de ativo virtual e de prestadores de serviços


de ativos virtuais (VASP, na sigla em inglês), e atribui a estes uma série de
diretrizes para atuação. Para isso, será necessária uma autorização prévia do
Banco Central para que um VASP possa atuar no mercado cripto brasileiro.

Um ponto importante deixado de fora da proposta são os valores mobiliários.


Com isso, a competência da Comissão de Valores Mobiliários em relação aos
criptoativos permanece a mesma. Quanto ao órgão supervisor do mercado
cripto no Brasil, caberá ao Poder Executivo nomeá-lo.

Outros pontos importantes da lei são: a segregação patrimonial entre os


fundos de clientes e valores da corretora; isenção de impostos para hardwares
e softwares destinados à mineração sustentável de ativos digitais; e a
possibilidade de órgãos da administração pública operarem com criptoativos
ou recebê-los como pagamento de tributos.

Assimetria regulatória

Ao observar os diferentes contextos regulatórios e a atuação global de


determinados players do mercado de criptoativos, nota-se que há uma
assimetria regulatória. Ou seja, enquanto prestadores de serviços com ativos
digitais sediados em um país precisam seguir uma série de regras, players que
operam fora da jurisdição têm uma liberdade maior para ofertar produtos.

Um exemplo é a atuação de players regulados, como as gestoras brasileiras


Hashdex e QR Asset, e as exchanges Binance e Uniswap. As gestoras estão

34
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Contexto regulatório

limitadas a ofertar produtos mais simples, como investimentos em Bitcoin e


Ethereum. Em razão da alta exposição ao regulador, os riscos de punição em
caso de descumprimento de alguma diretriz são altos.

Já players como Binance e Uniswap gozam de um status de “player inovador”


ao atuarem em vácuos jurídicos. Esse posicionamento permite a oferta de
produtos não encontrados no mercado regulado, como yield farming, staking,
liquidity mining e derivativos. Essa assimetria regulatória é reforçada pelo perfil
do investidor de criptoativos, que é indiferente à regulação e apresenta baixa
percepção de risco em relação a este mercado.

O cenário criado é desafiador para os governos, que precisam garantir a


regulação do mercado, mas sem cercear o potencial de inovação das empresas
que decidem seguir as regras estipuladas. De forma simples, cria-se um
ambiente de arbitragem regulatória que favorece o player internacional em
detrimento de empresas locais.

A nível internacional, instituições como o Banco de Compensações


Internacionais (BIS, na sigla em inglês), o Conselho de Estabilidade Financeira
(FSB, na sigla em inglês) e a OICV-IOSCO estão atuando para estabelecer
regras a serem cumpridas independentemente da jurisdição na qual uma
empresa se encontra.

A sedimentação dessas regras internacionais é uma condição fundamental para


avaliar os moldes que instituições bancárias devem obedecer para oferecer
serviços com ativos digitais.

35
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

FUNCIONALIDADES E PRODUTOS
DO MERCADO CRIPTO

O emprego da tecnologia DLT permitiu que o ecossistema de ativos digitais


desenvolvesse novos produtos. Parte desses novos produtos é derivada de
produtos já existentes, e a outra parte é originária desta nova economia digital.

Os produtos da economia digital derivados de estruturas já existentes são


tokens ligados a direitos reais e produtos financeiros transportados para o
mercado digital. Na primeira categoria, estão direitos como royalties, direitos
sobre patrimônios e até direitos decisórios dentro de um clube de futebol.
Enquanto isso, a segunda abarca tokens de precatório, recebíveis, consórcio,
dentre outros.

Quanto aos produtos originários do mercado cripto, eles vão desde contratos
futuros perpétuos até o ganho de renda passiva através de protocolos de
finanças descentralizadas.

Um ponto em comum com o contexto regulatório é que um ambiente amigável


aos criptoativos tende a permitir o surgimento de novos produtos nesse
ecossistema.

36
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Funcionalidades e produtos do mercado cripto

Derivados de produtos atuais¹

Produtos financeiros Direitos autorais


Produtos financeiros Direitos relacionados à
comumente negociados no propriedade intelectual
mercado para PF e PJ
Ex.: Consórcio, precatório, recebíveis

Fidelidade Patrimônio
Direitos decisórios Bens e direitos de PFs e PJs
sobre empresas e times Ex.: Casa, carro, títulos de clube
Ex.: fan tokens, UFC, Aston
Martin

1 - Produtos atuais que possuem sistema legal embasado.


Fonte: Mercado Bitcoin; Coinbase; Binance

Exclusivos do mercado cripto

Derivativos Projetos DeFi


Produtos de mercados futuro Investimento em protocolos
de criptoativos. que ofertam produtos
Ex.: Futuros perpétuos de pares de
e serviços em rede
criptomoedas (ex. Bitcoin xEthereum) descentralizadas
Ex.: Synthetix, Uniswap

Utility tokens Renda passiva


Negociação de tokens de Ganho de yield através da
acesso/direitos a produtos ou aplicação de criptomoedas
serviços de uma plataforma DLT Ex.: Staking/ yield farming, pool de
Ex.: Ether liquidez

37
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Funcionalidades e produtos do mercado cripto

Novas categorias de produtos

A criptoeconomia, por meio da tecnologia DLT, foi capaz de usar como base a
estrutura financeira em desenvolvimento nos últimos dez anos criou uma base
com potencial de criar novos produtos.

Dois exemplos possíveis são os mercados de dívidas e ações no Brasil. Apesar


de serem bem desenvolvidos, os ativos regulados possuem baixa liquidez.
Ao transformar esses ativos em tokens, pode surgir um mercado secundário
capaz de destravar valor para estes ativos.

Tokens de precatórios, de consórcio, de direito à propriedade imobiliária e de


direito a patentes são alguns dos novos produtos que poderiam ser criados
pela economia digital a partir de estruturas já consolidadas.

Apesar do potencial de inovação, contudo, existem alguns aspectos-chave


para garantir o sucesso desse novo horizonte de produtos : a garantia de lastro,
mitigação de risco em crises de confiança, impedir que a assimetria regulatória
se agrave e proteção do investidor.

Funcionalidades

Funcionalidades das stablecoins


Com a criação de novos produtos dentro do ecossistema cripto, novas
funcionalidades também são criadas. O uso de stablecoins em transferências,
por exemplo, é uma das novas funções habilitadas por meio desse novo
mercado e suas criações.

As stablecoins são moedas tokenizadas cuja finalidade é acompanhar o valor


de uma moeda fiduciária. Com o passar dos anos, muitos desses asset-backed
tokens, especialmente aqueles que seguem o preço do dólar estadunidense,

38
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Funcionalidades e produtos do mercado cripto

ganharam a confiança do mercado e se tornaram um sistema de câmbio


paralelo. A moeda de troca passou a ser o token, e não mais depósitos em
moedas fiduciárias, como o real.

Existem diversos modelos que buscam reforçar a confiança nesses ativos,


destacamos três: lastro em moeda fiduciária, lastro em outros criptoativos e
controle do preço através de um algoritmo.

As stablecoins colateralizadas por moedas fiduciárias devem manter a


proporção 1:1 entre o montante emitido e seu colateral, e a custódia dos
fundos que dão lastro aos tokens é feita por emissores centrais ou instituições
financeiras. Um exemplo de stablecoin dentro desta categoria que tem ganhado
tração são as moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDC, na sigla em
inglês).

Quando uma stablecoin possui lastro em outros ativos digitais, as características


mudam. Geralmente, a colateralização é feita em proporção 1:2, em razão da
alta volatilidade dos criptoativos. Isso significa que para cada token emitido, são
destinados dois ativos como lastro.

Todo o processo de emissão dessas stablecoins é feito através de contratos


inteligentes, até mesmo o controle do lastro. Se o preço dos ativos utilizados
como colateral cai abaixo de um limite pré-estipulado, eles podem ser
liquidados para evitar um colapso sistêmico. Um exemplo é o Wrapped Bitcoin
(WBTC), que é uma versão do Bitcoin emitida de forma sintética em outras
redes, como o Ethereum.

Já as stablecoins algorítmicas não possuem lastro. Seu preço é comandado


por algoritmos dentro de uma blockchain, que controlam a relação entre oferta
e demanda e recalculam o preço. Esse modelo para reforço de confiança é
arriscado, já que uma perda excessiva de paridade entre o preço da stablecoin
e o preço da moeda que ela replica pode gerar extrema fragilidade ao arranjo
financeiro sobre o qual ela se baseia.

39
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Funcionalidades e produtos do mercado cripto

As funcionalidades das DeFi

Um setor dentro da criptoeconomia que faz avanços constantes em termos


de novos produtos e funcionalidades são as finanças descentralizadas.
Novas formas de gerar renda fixa e criar livros de ofertas automatizados para
negociações estão entre as funções específicas geradas por esse ecossistema.

Pools de liquidez

Um pool de liquidez é composto por tokens depositados em um


contrato inteligente de um protocolo, com o objetivo de automatizar
operações. Esses pools fornecem liquidez para diferentes mercados
dentro de diferentes protocolos. Através desses produtos, é possível
tomar e conceder empréstimos, realizar trocas de ativos digitais e
outros processos. Tudo isso é feito de forma automatizada, sem
intermediários.

Os investidores que fornecem liquidez são recompensados com


uma participação nas taxas cobradas pelo pool. As recompensas são
distribuídas de forma proporcional, ou seja: quanto maior o montante
alocado no pool, maior a participação nos valores obtidos pela cobrança
de taxas.

Além disso, quanto maior for a liquidez do pool, menor serão as variações
de preço dos ativos, chamadas de slippage. Uma consequência desse
evento é que um volume maior de negociações ocorrerá na plataforma
que puder oferecer o menor slippage.

Assim como nos dark pools do mercado tradicional, que são proibidos
no Brasil, a troca de fundos é anônima. Em outras palavras, as partes
não sabem com quem estão negociando quando utilizam pools de
liquidez para negociar ativos digitais.

40
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Funcionalidades e produtos do mercado cripto

Staking
Assim como nos pools de liquidez, o staking consiste em alocar
criptoativos dentro de um contrato inteligente. A finalidade, contudo,
é diferente: a ideia é utilizar os ativos como colaterais para validar
transações em uma blockchain.

O modelo de staking está disponível somente nas blockchains que se


baseiam no algoritmo de consenso por prova de participação. Para
participar do processo de validação de transações, é necessária a
alocação de uma certa quantidade do criptoativo nativo daquela rede.
Em contrapartida por participar do processo de validação, ajudando na
segurança da blockchain, o usuário recebe um rendimento baseado no
percentual sobre o valor alocado.

Um paralelo rudimentar pode ser traçado com o mercado tradicional


através do empréstimo de ações. O emprestador ganha renda passiva
enquanto o receptor ganha maiores chances de influenciar a empresa
– no caso da blockchain, mas chances de validar as transações.

Formador de preço automatizado


A espinha-dorsal das exchanges descentralizadas são os formadores
de preço automatizados (AMM, na sigla em inglês). Utilizando
contratos inteligentes para automatizar o processo, esses protocolos
automatizam a negociação de criptoativos. O AMM tem relação direta
com o pool de liquidez.

Por exemplo, um pool de liquidez composto pela stablecoin USDT e o


criptoativo Ether permite que um investidor faça negociações entre os
tokens ali disponíveis. Nesse pool, é possível trocar Ether por USDT, ou
vice-versa, de forma automática. A precificação dos ativos é mantida
por meio de algoritmos presentes nos contratos inteligentes do
protocolo. Além de automatizada, a negociação é descentralizada e
ininterrupta.

41
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Funcionalidades e produtos do mercado cripto

Uniswap e SushiSwap, duas das maiores exchanges descentralizadas


em volume, utilizam AMM em seus serviços. Um paralelo com o mercado
financeiro tradicional são os Retail Liquidity Provider (RLP). Ambos os
mecanismos permitem que uma entidade atue como contraparte nas
negociações, com o intuito de melhorar a liquidez e formação de preços.

Meios de pagamento
Ainda abordando as novas funcionalidades da criptoeconomia, nos
aprofundamos sobre o uso de ativos digitais como meios de pagamento.
Os mais comuns são os criptoativos, as stablecoins e as CBDCs. A relação
entre esses três tipos de ativos é um potencializador de crescimento da
economia digital.

Os criptoativos, embora possam ser usados em pagamentos, em muitos


casos precisam ser convertidos em moedas fiduciárias para preservarem
seus valores. Por isso, a volatilidade desses ativos ainda é uma das
dificuldades em utilizá-los como meios de pagamento.

As stablecoins, por outro lado, resolvem o problema da volatilidade e


estabilizam os valores para fins transacionais. Isso é possível através do
lastro em moedas fiduciárias e commodities. Esses ativos, contudo, não
estão longe de perigo, já que ainda há risco de estabilidade causado por
falhas no algoritmo de estabilidade ou do emissor da stablecoin.

A estabilidade de valor com confiança e lastro de uma autoridade


monetária nacional é encontrada nas CBDCs. Esses ativos são
representações de moedas soberanas, mas com o ponto positivo da
tokenização. Ou seja: trata-se de uma expressão digital de uma moeda
fiduciária garantida por banco central, que pode ser facilmente movida a
qualquer momento, de qualquer lugar do mundo. Além disso, as CBDCs
herdam o status de moeda de curso legal do ativo que representam na
economia digital.

42
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

Conclusão

Este estudo aprofundado sobre o ecossistema e novos produtos financeiros


dentro das finanças descentralizadas, por meio dos pontos avaliados, chegou
a diferentes, porém relacionadas, conclusões.

O mercado de criptomoedas não é mais um movimento sutil. Houve um


crescimento notável na demanda doméstica por criptoativos nos últimos
anos. O portfólio mais completo de players internacionais, porém, fez com que
houvesse uma saída de capital do país para investir nessas instituições.

Trata-se de um paradoxo, que não é exclusividade do Brasil, onde o investidor


abandona o cenário local criado para sua proteção em busca de maiores riscos.

Mesmo com esse fenômeno, players regulados tentam se posicionar em meio


à incerteza regulatória. A assertividade desse posicionamento, bem como
a grama de produtos oferecida por essas entidades, são limitadas por essas
dificuldades.

O perfil do investidor de criptomoedas, que é adepto ao risco, faz com que


as exchanges internacionais sejam o principal portão de acesso do mercado
cripto. Embora ainda não sejam regulamentadas no Brasil, discute-se no país a
possibilidade de enquadramento dessas empresas.

43
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros - Conclusão

O enquadramento de exchanges internacionais, inclusive, é fruto do contexto


regulatório em desenvolvimento no Brasil, iniciado pela Lei 14.478, que traça
linhas claras dentro das quais os prestadores de serviços de criptoativos
poderão atuar.

Por fim, ainda que muito já tenha sido avançado na discussão regulatória do
Brasil, nota-se ainda uma baixa visibilidade sobre os possíveis desdobramentos
futuros e os potenciais impactos para o mercado. Tudo depende do nível de
representatividade que o país deseja: ser um país que exporta produtos e
serviços inovadores do mercado cripto, ou ser uma região que se protege dos
excessos de risco vistos a nível internacional.

44
ESTUDO | Ecossistema cripto e novos produtos financeiros

Expediente
ECOSSISTEMA CRIPTO E NOVOS
PRODUTOS FINANCEIROS
Um estudo de finanças descentralizadas
AGO/22

Presidente
Carlos André

Vice-presidentes
Aroldo Medeiros, Carlos Takahashi, Eric Altafim,
Rio de Janeiro
José Eduardo Laloni, Luiz Sorge, Pedro Rudge,
Praia de Botafogo, 501 - 704,
Roberto Paris e Sergio Cutolo
Bloco II, Botafogo,
Rio de Janeiro, RJ
Diretores
CEP: 22250-911
Adriano Koelle, Eduardo Azevedo, Fernanda
Tel.: (21) 2104-9300
Camargo, Fernando Rabello, Fernando Miranda,
Fernando Vallada, Giuliano De Marchi, Gustavo
São Paulo
Pires, Julya Wellisch, Rafael Morais, Roberto
Av. Doutora Ruth Cardoso,
8501, 21º andar, Pinheiros Paolino, Rodrigo Azevedo e Teodoro Lima
São Paulo, SP
Comitê Executivo
CEP: 05425-070
Tel.: (11) 3471 4200 Zeca Doherty, Francisco Vidinha, Guilherme
Benaderet, Lina Yajima, Marcelo Billi, Tatiana
Itikawa, Amanda Brum, Eliana Marino, Soraya
Alves e Thiago Baptista

Consultoria
Accenture
www.anbima.com.br
Conteúdo
Gino Matos

Projeto gráfico
Tomas Paulozzi

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