Dialética Do Esclarecimento - Wikipédia, A Enciclopédia Livre

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Dialética do

Esclarecimento

Dialética do Esclarecimento (em alemão: Dialektik der Aufklärung) é uma obra de


filosofia e crítica social escrita pelos filósofos da Escola de Frankfurt, Max
Horkheimer e Theodor W. Adorno. O texto, publicado em 1947, é uma versão
revisada do que os autores originalmente circularam entre amigos e colegas em
1944, sob o título de Fragmentos Filosóficos (alemão: Philosophische
Fragmente).[1]
Dialektik der Aufklärung
Dialética do Esclarecimento [BR]

Autor(es) Max Horkheimer


Theodor W.
Adorno
Idioma alemão
País Alemanha
Assunto filosofia
sociologia
Lançamento 1947
ISBN 0-8047-3633-2

Um dos textos centrais da teoria crítica, a Dialética do Esclarecimento explora o


status quo sociopsicológico que foi responsável pelo que a Escola de Frankfurt
considerou o fracasso do Iluminismo (também referido, em português, como
Ilustração ou Esclarecimento)[2]. Juntamente com The Authoritarian Personality
(1950), de Adorno, e One-Dimensional Man (1964), de Herbert Marcuse, membro
da Escola de Frankfurt, teve um efeito importante na filosofia, sociologia, cultura e
política do século XX, inspirando especialmente a Nova Esquerda dos anos 1960 e
1970.[3]

Contexto histórico
Uma das diferentes características da nova teoria crítica, como Adorno e
certa ambivalência quanto à fonte ou fundamento último da dominação social.

Isso daria origem ao “pessimismo” da nova teoria crítica sobre a possibilidade de


emancipação e liberdade humana.[4] Além disso, essa ambivalência estava
enraizada nas circunstâncias históricas em que a Dialética do Esclarecimento foi
originalmente produzida: os autores viam o nacional-socialismo, o stalinismo, o
capitalismo de estado e a indústria cultural como formas inteiramente novas de
dominação social que não podiam ser explicadas adequadamente nos termos da
teoria tradicional.[5]

Para Adorno e Horkheimer (apoiando-se na tese do economista Friedrich Pollock


sobre o nacional-socialismo),[6][7] a intervenção estatal na economia havia
efetivamente abolido a tensão no capitalismo entre as "relações de produção" e
as "forças produtivas materiais da sociedade", uma tensão que, de acordo com a
teoria tradicional, constituía a contradição primária dentro do capitalismo. O
mercado (como mecanismo "inconsciente" de distribuição de mercadorias) foi
substituído pelo planejamento centralizado.[4]

[G] uma são as leis


objetivas do mercado que
governavam as ações dos
empreendedores e
tendiam à catástrofe. Em
vez disso, a decisão
consciente dos diretores
executivos executa como
resultados (que são mais
obrigatórios que os
mecanismos de preços
mais cegos) a antiga lei
do valor e, portanto, o
destino do capitalismo.
Dialectic of Enlightenment, p. 38

No entanto, ao contrário da famosa previsão de Karl Marx em seu prefácio de Uma


Contribuição à Crítica da Economia Política, essa mudança não levou a "uma era de
revolução social", mas sim ao fascismo e ao totalitarismo. Como tal, a teoria
tradicional foi deixada nas palavras de Jürgen Habermas, sem "nada de reserva a
que pudesse apelar; e quando as forças de produção entram em uma simbiose
funesta com as relações de produção que deveriam explodir, não há mais
dinamismo sobre o qual a crítica possa basear sua esperança".[8] Para Adorno e
Horkheimer, isso colocava o problema de como explicar a aparente persistência
da dominação na ausência da própria contradição que, de acordo com a teoria
crítica tradicional, era a fonte da própria dominação.[3]

Metodologia
Os problemas colocados pela ascensão do fascismo com o fim do estado liberal e
do mercado (juntamente com o fracasso de uma revolução social em se
materializar em seu rastro) constituem a perspectiva teórica e histórica que
emoldura o argumento geral do livro – as duas teses de que "o mito já é a
iluminação, e a iluminação reverte para a mitologia".[4]

A história das sociedades humanas, bem como a da formação do ego ou do eu


individual, é reavaliada do ponto de vista do que Horkheimer e Adorno perceberam
na época como o resultado final dessa história: o colapso ou "regressão" da razão,
com a ascensão do nacional-socialismo, em algo (referido como meramente
"Esclarecimento", na maior parte do texto) semelhante às próprias formas de
superstição e mito das quais a razão supostamente emergiu como resultado do
progresso ou desenvolvimento histórico.[carece de fontes

?
]

Horkheimer e Adorno acreditam que no processo do Esclarecimento, a filosofia


moderna tornou-se excessivamente racionalizada e um instrumento da
tecnocracia. Eles caracterizam o ápice desse processo como positivismo,
referindo-se tanto ao positivismo lógico do Círculo de Viena quanto às tendências
mais amplas que viam em continuidade com esse movimento.[9] A crítica de
Horkheimer e Adorno ao positivismo foi criticada como muito ampla; eles são
particularmente criticados por interpretar Ludwig Wittgenstein como um
positivista — na época apenas seu Tractatus Logico-Philosophicus havia sido
publicado, não seus trabalhos posteriores — e por não examinar as críticas ao
positivismo de dentro da filosofia analítica.[10]

Para caracterizar essa história, Horkheimer e Adorno recorrem a uma ampla


variedade de materiais, incluindo a antropologia filosófica contida nas primeiras
obras de Marx, centrada na noção de "trabalho"; a genealogia da moralidade de
Nietzsche e a emergência da consciência através da renúncia à vontade de poder;
o relato de Freud em Totem e tabu da emergência da civilização e da lei no
assassinato do pai primordial;[11] e pesquisa etnológica sobre magia e rituais nas
sociedades primitivas;[12] bem como crítica de mitos, filologia e análise literária.[13]

Os autores cunharam o termo "indústria cultural", argumentando que em uma


sociedade capitalista, a cultura popular é semelhante a uma fábrica que produz
bens culturais padronizados – filmes, programas de rádio, revistas, etc.[14] Esses
produtos culturais homogeneizados são usados para manipular a sociedade de
massa em docilidade e passividade.[15] A introdução do rádio, meio de
comunicação de massa, não permite mais ao seu ouvinte qualquer mecanismo de
resposta, como foi o caso do telefone. Em vez disso, os ouvintes não são mais
sujeitos, mas receptáculos passivos expostos "de maneira autoritária aos
mesmos programas emitidos por diferentes estações".[16]
Ao associar o Esclarecimento e o totalitarismo às obras do Marquês de Sade —
especialmente Juliette, no excurso II — o texto também contribui para a
patologização dos desejos sadomasoquistas, como discutido pela historiadora da
sexualidade Alison Moore.[17]

Edições
O livro fez sua primeira aparição em 1944, sob o título Philosophische Fragmente
pela Associação de Estudos Sociais, Inc. (Nova Iorque). Dialektik der Aufklärung
(Dialética do Esclarecimento) foi publicado como uma versão revisada em 1947
por Querido Verlag (Amsterdã). Foi reeditado em 1969 pela S. Fischer Verlag.

Houve duas traduções para a língua inglesa: a primeira por John Cumming (Nova
Iorque: Herder and Herder, 1972); e uma tradução mais recente, baseada no texto
definitivo das obras completas de Horkheimer, por Edmund Jephcott (Stanford:
Stanford University Press, 2002).

Ver também

Escola de Frankfurt
ContraIluminismo
O Capital

Referências

1. Schmidt, James (1998).


« 'Language, Mythology, and
Enlightenment: Historical Notes
on Horkheimer and Adorno's
Dialectic of Enlightenment.' ».
Social Research. 65 (4): 807-38
(p.809)
2. Dicionário Houaiss:Iluminismo
3. Held, D. (1980). Introduction to
Critical Theory: Horkheimer to
Habermas. Berkeley, CA:
University of California Press.
4. Adorno, T. W., and Max
Horkheimer. [1947] 2002.
Dialectic of Enlightenment,
translated by E. Jephcott.
Stanford: Stanford University
Press.
5. Habermas, Jürgen. [1985] 1987.
The Philosophical Discourse of
Modernity: Twelve Lectures,
translated by F. Lawrence.
Cambridge, MA: MIT Press. p.
116: "Critical Theory was initially
developed in Horkheimer's circle
to think through political
disappointments at the absence
of revolution in the West, the
development of Stalinism in
Soviet Russia, and the victory of
fascism in Germany. It was
supposed to explain mistaken
Marxist prognoses, but without
breaking Marxist intentions."
(See also: Dubiel, Helmut. 1985.
Theory and Politics: Studies in
the Development of Critical
Theory, translated by B. Gregg.
Cambridge, MA.)
6. Pollock, Friedrich. 1941. "Is
National Socialism a New
Order?" Studies in Philosophy
and Social Science 9 (2):440–
45. p. 453.
7. van Reijen, Willem, and Jan
Bransen. "The Disappearance of
Class History in the Dialectic of
Enlightenment." In Dialectic of
Enlightenment. p. 248.
8. Habermas, Jürgen. 1982. "The
Entwinement of Myth and
Enlightenment: Re-Reading
'Dialectic of Enlightenment' (http
s://www.academia.edu/252711
81/J%C3%BCrgen_Habermas_T
he_Entwinement_of_Myth_and_
Enlightenment_Re_Reading_Dial
ectic_of_Enlightenment_) ." New
German Critique 26(4):13-30.
doi:10.2307/488023 (https://dx.
doi.org/10.2307/488023) . .
9. Josephson-Storm, Jason
(2017). The Myth of
Disenchantment: Magic,
Modernity, and the Birth of the
Human Sciences (https://books.
google.com/books?id=xZ5yDgA
AQBAJ) . Chicago: University of
Chicago Press. ISBN 978-0-226-
40336-6
10. Josephson-Storm (2017)
11. Dialectic of Enlightenment, 7,
159, 162.
12. Dialectic of Enlightenment, 10,
256.
13. Sadean Nature and Reasoned
Morality in Adorno/Horkheimer's
'Dialectic of Enlightenment',
Psychology and Sexuality 1 (3),
September 2010, 249-260.
14. pp. 94–5 (https://books.google.
com/books?id=l-75zLjGlZQC&pg
=PA94)
15. pp. 94–5 (https://books.google.
com/books?id=l-75zLjGlZQC&pg
=PA95)
16. pp. 95–6 (https://books.google.
com/books?id=l-75zLjGlZQC&pg
=PA95)
17. Moore, Alison M. 2015. Sexual
Myths of Modernity: Sadism,
Masochism and Historical
Teleology. Lanham: Lexington
Books. ISBN 978-0-7391-3077-3.

Ligações externas

Theodor Adorno e Max


Horkheimer (1944)"The Culture
Industry: Enlightenment as Mass
Deception (https://marxists.org/re
ference/archive/adorno/1944/cult
ure-industry.htm) " (em inglês).
Trecho do Capítulo 1 de The
Dialectic of Enlightenment,
transcrito por A. Blunden [1998]
2005.
" Dialectic of Enlightenment (htt
p://plato.stanford.edu/entries/ado
rno/#2) " (em inglês), na
Enciclopédia de Filosofia de
Stanford.

Obtida de
"https://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Dialética_do_Esclarecimento&oldid=68
785445"

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