A reforma litúrgica de Paulo VI
A reforma litúrgica de Paulo VI
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Apresentação
Mesmo considerando assim, está claro que existe nisto uma espécie de
simulação. Pois enquanto se mantém a fé católica no sacrifício da Missa,
maquia-se o rito para os protestantes terem menos dificuldade.
Seja como for, havia uma clara intenção de Bugnini de tirar aquilo que
salienta a Missa como um sacrifício. Sua ideia era mais ou menos esta:
“Embora interiormente nós católicos continuemos a crer no sacrifício,
vamos tirar aquilo que é empecilho”. Tanto é verdade que Bugnini quis
retirar do missal aquilo que é, digamos assim, a “besta fera” para os
protestantes: a Oração Eucarística I, o chamado Cânon Romano.
Nada disso. Primeiro, o missal valeria porque não foi escrito apenas por
Bugnini; ele foi escrito por um consilium (conselho) composto por
pessoas que tinham fé católica. E, segundo, porque o próprio Papa Paulo
VI, que promulgou o missal, tinha fé católica e cria verdadeiramente na
Eucaristia.
Essa intenção dita por Bugnini ex professo não pode, contudo, ser para
nós uma objeção à validade da Missa. Sua validade, como vimos,
repousa em outros princípios. Mas deve-se ter um caveat, um cuidado: já
que o Missal de Paulo VI foi feito daquela maneira, os padres celebrantes
e os fiéis que participam precisam fazer um esforço maior para trazer a
intenção dogmática à celebração, a intenção verdadeira de renovação
do sacrifício de Cristo. É necessário que haja um esforço, o que não é
necessário quando se celebra o Missal de Pio V.
Aqui, pois, vemos com clareza a utilidade desse módulo que estamos
concluindo.
A validade da Missa
Mas agora vem outra pergunta: “Padre, e o sacerdote que não sabe nada
disso que o senhor explicou? Não sabe que a Missa é a renovação do
sacrifício na Cruz, não estudou essa teologia que o senhor está
explicando, será que quando ele celebra a Missa de Paulo VI, a Missa
dele é inválida?”
Há quem possa dizer que isso é muito laxo. Porém, se o laço fosse muito
estreito nessa questão, o que seria da história da Igreja?
Que essas Missas possam ser celebradas com mais piedade, com mais
devoção, com mais fé, com mais dignidade etc., estamos de acordo.
Vamos trabalhar para isso.
Por esse motivo estou fazendo esse curso, para que Nosso Senhor pare
de ser ofendido. Pois, quando você sabe o que está fazendo, tem ideia
clara e distinta de que o padre está renovando o sacrifício no Calvário, é
evidente que o “palhacinho fazendo mímica na Missa” não tem mais
lugar. É evidente que danças, jograis e o circo dentro da Missa não têm
lugar. Porque a Missa não é um mero ato de pedagogia.
Um testemunho pessoal
Bugnini tinha a intenção de fazer uma Missa que fosse aceitável pelos
protestantes. Contudo, tão logo o missal foi promulgado, aconteceu algo
de que Paulo VI não gostou, e o monsenhor foi mandado como núncio
em Teerã. Foi claramente um castigo, alguma coisa errada ele fez.
Quando se celebra Pio V, por exemplo, está dito o que se deve fazer com
as mãos. Não há espaço para uma criatividade litúrgica, para inventar.
Tudo está previsto: o que o acólito faz, o que o padre faz. Tanto é verdade
que havia pequenas variações culturais, e em pequenos detalhes. Eram
coisas pequenas.
Seja como for, é importante que a gente entenda que há coisas a ser
corrigidas. Por exemplo, um defeito que eu não notava: eu não enxergava
o quanto a Missa de Paulo VI é antropocêntrica. De fato, existe ali um
excesso da presença do sacerdote. Podemos dizer que, de certa forma,
é uma espécie de performance do padre, enquanto a Missa
tradicionalmente não era isso. O padre não precisava aparecer tanto,
inclusive ficava até “de costas” para o povo, ou “de frente para Deus”.
Enfim, fica o meu testemunho e sei que levantei muitas questões que
precisam ser resolvidas [6], e é por isso que teremos dois outros
módulos para esclarecer melhor as ideias.
Conclusão
Isso não é questionável e precisa estar bem sólido, precisa estar bem
presente na forma de celebrar, na forma de realizarmos esse ato do qual
brota toda a vitalidade da Igreja: Ecclesia de Eucharistia, a Igreja vem da
Eucaristia, e ali está contido todo o bem da Igreja.
Nota
1. Este nosso curso será dividido em três módulos: o primeiro mais teológico-
dogmático, pois trata daquilo que mais importa, aquilo que está em
questão quando falamos do sacramento da Eucaristia. O segundo será
dedicado à história do Missal de Pio V e o terceiro à história do Missal de
Paulo VI.
2. Cf. Annibale Bugnini, “Le ‘variationes’ ad alcuni testi della Settimana Santa”.
In: L’Osservatore Romano, 19 mar. 1965, n. 65, p. 6; cf. também A reforma
litúrgica (1948-1975). Loyola: 2018, pp. 126-127. Ainda no ano de 1965,
publicou-se uma reforma da Missa Tridentina com algumas orações em
vernáculo. Outras, que eram silenciosas, passaram a ser ditas em voz alta.
O Missal de Paulo VI, contudo, só foi publicado em 1969.
6. É importante frisar que em toda essa disputa, há, sim, gente mal
intencionada, que quer destruir a fé da Igreja, mas há também gente como
eu era, com pensamento muito bem intencionado, mas com as ideias
litúrgicas um pouco fora da realidade, um pouco arqueológicas. Apesar
disso, em momento nenhum celebrei a Missa hereticamente, em momento
nenhum quis celebrar a Missa de Paulo VI como uma liturgia protestante.
7. A finalidade principal deste curso, com efeito, não é fazer uma guerra de
purismo litúrgico. É claro, temos o ideal litúrgico, e não estou fazendo
pouco caso da dignidade da liturgia celebrada pelos santos. Não é isso.
Mas estamos num caos tão grande, tão tremendo, que se a gente
conseguir fazer com que os padres celebrem com mais dignidade, com
mais consciência e mais devoção, com mais clareza do que estão
celebrando, isso já será uma coisa extraordinária.
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