HISTÓRIA PÚBLICA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
HISTÓRIA PÚBLICA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
HISTÓRIA PÚBLICA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
DIDÁTICA DA HISTÓRIA
Juliana Gelbcke
(Universidade Estadual de Ponta Grossa)
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Introdução
1
Criada pela Lei 12528 no ano de 2011 e instituída em 16 de maio de 2012.
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“Os manifestantes, que tinham a expectativa de refazer o percurso da primeira edição do evento –
da praça da República até a praça da Sé – gritaram, por vezes, fora Dilma, e entoaram melodias
pedindo a prisão da presidenta e a volta dos militares: Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos os
militares protegendo o Brasil, e um, dois, três, Dilma no xadrez. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/queremos-os-militares-protegendo-o-brasil-gritam-
manifestantes-2537.html Acesso em: 20/08/2014.
3
“Uma faixa que dizia Parabéns aos militares. Graças a vocês o Brasil não é Cuba! foi estendida por
militantes na galeria do plenário enquanto discursava a deputado Luiz Erundina (PSB-SP). Segundo a
segurança da Câmara, a faixa foi trazida pelo deputado conservador Jair Bolsonaro (PP-RJ)”.
Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/04/bolsonaro-e-apoiadores-tumultuam-
sessao-dos-50-anos-golpe-de-1964.html Acesso em: 20/08/2014.
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“Comissão Nacional da Verdade pede esclarecimentos às Forças Armadas sobre conclusões de
sindicâncias que desconsideraram provas de tortura”. Disponível em: <
http://www.cnv.gov.br/index.php/outros-destaques/524-cnv-pede-esclarecimentos-as-forcas-armadas-
sobre-conclusoes-de-sindicancias-que-desconsideraram-provas-de-tortura> Acesso em: 20/08/2014.
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questões foram amplamente debatidas entre aqueles que defendem o Golpe Militar
e aqueles que o enxergam como um problema a ser superado. Ambos os lados
recorrem ao passado para justificar, validar, legitimar seus respectivos argumentos,
e, embora se reconheça não haver na História uma verdade absoluta, há a
possibilidade de um consenso minimamente humanista em que vale a força do
melhor argumento, pautado na racionalidade científica. Por isso, a racionalidade
histórica não permite que enxergamos na ditadura e em seus princípios a
valorização da cidadania, da democracia, dos direitos humanos...
Essa é uma das funções da Ciência Histórica, garantir que versões já
superadas e distorcidas da história não se multipliquem e ganhem forças nos
discursos públicos. É isso que a diferencia, por exemplo, das outras formas de
história, tais como as de grande circulação. Como afirma SADDI (2010, p.76):
Isso não quer dizer que essas outras formas de história que não são
científicas devam ser desconsideradas, deslegitimadas, ou que somente o
historiador tenha propriedade para falar sobre história, ao contrário, esse é um dos
papéis colocados pela Didática da História, ou seja, investigar as diferentes formas
narrativas que se expressam, por exemplo, através dos meios de comunicação de
massa, de instituições culturais e religiosas, de discursos políticos; assim como
investigar a consciência histórica produzida por esses meios e de que forma essas
reflexões acerca do passado atuam na consciência histórica dos indivíduos.
Essas produções normalmente surgem em tempos de crise, onde as
identidades passam a ser questionadas e há a necessidade de se recorrer ao
passado para encontrar justificativas, explicações ou até mesmo dar legitimidade ao
tempo presente. Esse foi o caso, por exemplo, das inúmeras reflexões (seja na
forma de textos, seja na forma de discursos) relacionadas à Ditadura Militar, que
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tomaram espaços em destaque nas diversas livrarias do país, mídias televisivas,
revistas, internet, debates na esfera política, dentre outros. Essas diversas
produções compõem o fenômeno que tem sido chamado de História Pública.
Segundo Sara Albieri (2011, p.19):
Vale notar que, nesses casos, a publicação não é de interesse apenas para
o trabalho historiográfico, mas, com frequência, é reivindicada em meio à
discussão de direitos políticos ou civis. O interesse histórico mistura-se à
agenda de movimentos sociais, e as manifestações desse interesse vem
por vezes impregnada das paixões que mobilizam os grupos que
reivindicam publicação. (ALBIERI, 2011, p. 19)
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sendo por elas motivada. Beatriz Sarlo chama esse campo de “história da grande
circulação” e, tratando-o como modalidade não acadêmica, afirma:
Esse advento de uma nova sociedade marcada pela crise das múltiplas
identidades, fez com que se refletisse sobre a função social da história. Pois o
interesse coletivo e individual pela história passa a ser cada vez mais reivindicado
por esses grupos que procuram sanar suas carências de orientação temporal. Ou
seja, esses sujeitos procuram respostas no passado para resolver as questões
levantadas no tempo presente que desestabilizaram as percepções que tinham se si
mesmos, daquilo e daqueles que lhes cercavam. Desta forma, a história científica
passou a se preocupar cada vez mais sobre a necessidade, a importância de
expandir seu conhecimento para além dos muros acadêmicos e também de refletir o
conhecimento produzido fora deles5.
Dessa forma, a história pública vem se expandindo como uma preocupação
entre os historiadores em refletir sobre a própria função, compromisso social da
História. Almeida e Rovai colocam a história pública como:
5
Nesse contexto, simultaneamente às preocupações levantadas a respeito da história pública, vários
autores, como, por exemplo, Hartog, Koselleck, Michel Pollack, Agnes Heller, Paul Ricoeur, Jörn
Rusen, Klaus Bergmann, dentre outros, trazem a importância em discutir sobre as relações entre
passado e presente, a função social da história, dentre outras questões que perpassam as formas
que a história vai sendo construída de acordo com as memórias em função da identidade de grupos
coletivos e individuais.
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história sem perder a seriedade ou o poder de análise. Nesse sentido, a
história pública pode ser definida como um ato de "abrir portas e não de
construir muros", nas palavras de Benjamin Filene. (ALMEIDA; ROVAI,
2011, p.7)
Também Zahavi afirma que a história pública é um veículo para ampliar nossa
visão sobre o passado. Segundo o autor:
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sentido, a didática da História se preocupa com a formação, o conteúdo e
os efeitos da consciência histórica num dado contexto sócio-histórico
(Jeismann, 1977). (BERGMANN, 1990, p. 29)
Referências Bibliográficas
ALBIERI, Sara. História pública e consciência histórica. In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo
de; ROVAI, Marta G. de Oliveira (org). Introdução à História Pública. São Paulo:
Letra e Voz, 2011. p.19-28.
ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta G. de Oliveira. Introdução à História
Pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p.7-15.
BERGMANN, Klaus. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de História,
São Paulo, v. 9, n.19, set.89/fev.90, p. 29-42, 1990.
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HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu
da Silva e Guacira Lopes Louro. 11ª ed., 1ª reimp., Rio de Janeiro: Editora DP&A,
2011.
RÜSEN, JÖRN. Razão histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência
histórica. Tradução de Estevão de Rezende Martins. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2001.
SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da Ciência Histórica.
História & Ensino, Londrina, v. 16, n. 1, p. 61-80, 2010.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva.
Tradução de Rosa Freire d‟Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2007.
ZAHAVI, Gerald. Ensinando história pública no século XXI. In: ALMEIDA, Juniele
Rabêlo de; ROVAI, Marta G. de Oliveira (org). Introdução à História Pública. São
Paulo: Letra e Voz, 2011. p.53-63.
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