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Dissertação apresentada ao
Instituto de Biociências, do Câmpus
de Rio Claro, Universidade
Estadual Paulista, como parte dos
requisitos para obtenção do título
de Mestre em Ciências Biológicas
(Área: Microbiologia Aplicada).
Abril - 2016
ANA MARIA LIMA CORREIA
Abril - 2016
589.2 Correia, Ana Maria Lima
C824d Diversidade e prospecção de fungos endofíticos de
Begonia spp. encontradas na Mata Atlântica / Ana Maria
Lima Correia. - Rio Claro, 2016
59 f. : il., figs., gráfs., fots.
Fungos endofíticos vivem no interior dos tecidos das plantas sem causar dano aparente aos
seus hospedeiros. É sabido que esses fungos podem estimular as defesas da planta frente a
fitopatógenos, através da produção de compostos químicos; sendo uma promissora fonte para
a descoberta de novos compostos bioativos. Utilizando método dependente de cultivo, o
presente estudo avaliou a diversidade de fungos endofíticos associados à Begonia fischeri,
Begonia olsoniae e Begonia venosa encontradas na Mata Atlântica. Adicionalmente, foram
realizados bioensaios in vitro com frações acetato dos fungos endofíticos frente aos
fitopatógenos Phomopsis sojae e Colletotrichum gloeosporiodes, com o intuito de verificar a
produção de compostos bioativos. Das 20 folhas analisadas de cada espécie de planta, um
total de 426 fungos endofíticos foi obtido, sendo que 120 foram isolados de B. fischeri, 151 de
B. olsoniae e 155 de B. venosa. Após a triagem dos isolados e sequenciamento da região ITS,
as sequências foram agrupadas em Unidades Taxonômicas Operacionais (UTOs) e as métricas
ecológicas aplicadas a 97% de similaridade. Utilizando tal abordagem, 46 taxa foram
identificados, sendo Colletotrichum (51,6% do total de 426 isolados) e Diaporthe (22,5%) os
gêneros mais abundantes, seguido por Phyllosticta (3,5%), Neopestalotiopsis (1,8%),
Stagonospora (1,8%) e Nigrospora (1,6%) entre os gêneros com menor abundância. A
riqueza e a diversidade de fungos foi maior em B. fischeri, quando comparada a B. olsoniae e
B. venosa. Além disso, a análise de correspondência sugere que o tipo de hospedeiro pode
explicar 24% das diferenças observadas entre as comunidades de endófitos, demonstrando
que outras variáveis ecológicas (por exemplo, o local de coleta) também podem explicar a
estrutura dessas comunidades. Dos 88 endófitos utilizados nos ensaios, as frações acetato de
26% deles (n= 23) inibiram pelo menos um fitopatógeno. Tais resultados são promissores e
indicam que os fungos endofíticos dessas plantas são uma fonte ainda não explorada para a
prospecção de compostos antifúngicos.
Endophytic fungi live within plant tissues without causing any apparent disease symptoms.
Fungal endophytes may stimulate host defenses towards pathogens through the production of
chemical compounds; thus they are a promising source for the discovery of new bioactive
compounds. Using culture dependent methods coupled with a polyphasic approach for fungal
identification, we evaluated the diversity of endophytic fungi associated with Begonia
fischeri, Begonia olsoniae and Begonia venosa found in the Atlantic Rain Forest. In addition,
we carried out in vitro bioassays from acetate fractions of the endophytic fungi towards the
plant pathogens Phomopsis sojae and Colletotrichum gloeosporiodes, to verify the putative
production of bioactive compounds. From 20 leaves analyzed of each species, a total of 426
endophytic fungi were obtained, comprehending 120 from B. fischeri, 151 from B. olsoniae
and 155 from B. venosa. After screening the isolates and sequencing the ITS region, the
sequences were clustered into Operational Taxonomic Units (OTUs) and ecological metrics
applied at 97% similarity. Using this approach, we identified 46 taxa and the prevalent genera
were Colletotrichum (51.6% of the total of 426 isolates) and Diaporthe (22.5%), followed by
Phyllosticta (3.5%), Neopestalotiopsis (1, 8%), Stagonospora (1.8%) and Nigrospora (1.6%)
among the genera found in minor abundance. Richness and diversity of fungi were higher in
B. fischeri in comparison to B. olsoniae e B. venosa. Furthermore, correspondence analysis
demonstrated that the host plant explains 24% of the observed differences among the
endophytic community, suggesting that other environmental variables (e.g., sampling sites)
may explain the community structure. From the 88 endophytes evaluated in the inhibition
assays, 26% (n = 23) of the acetate fractions showed activity against at least one
phytopathogen. These results are promising and indicate that endophytic fungi these plants are
an untapped source for prospecting antifungal compounds.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
2 CAPÍTULO 1 - COMUNIDADES ENDOFÍTICAS ENCONTRADAS EM BEGONIA
spp. DA MATA ATLÂNTICA .............................................................................................. 12
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13
2.2 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 15
2.2.1 Área de estudo ......................................................................................................... 15
2.2.2 Coleta das amostras ................................................................................................ 15
2.2.3 Isolamento dos fungos endofíticos........................................................................... 17
2.2.4 Triagem, extração de DNA, sequenciamento e análise filogenética ....................... 18
2.2.5 Análise das comunidades de endófitos .................................................................... 20
2.3 RESULTADOS ............................................................................................................. 20
2.3.1 Diversidade e ecologia dos fungos endófitos .......................................................... 20
2.3.2 Estrutura das comunidades de endófitos encontrados em begônias ....................... 25
2.4 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 27
2.5 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 31
2.6 ANEXOS ....................................................................................................................... 35
3 CAPÍTULO 2 - PROSPECÇÃO DE FUNGOS ENDOFÍTICOS ENCONTRADOS EM
TRÊS ESPÉCIES DE BEGONIA.......................................................................................... 46
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 47
3.2 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 49
3.2.1 Origem das linhagens .............................................................................................. 49
3.2.2 Obtenção da fração acetato e bioensaios in vitro ................................................... 49
3.3 RESULTADOS ............................................................................................................. 51
3.4 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 55
3.5 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 57
4 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................................. 59
5 PERSPECTIVAS .................................................................................................................. 59
10
1 INTRODUÇÃO
Micro-organismos endofíticos vivem no interior dos tecidos das plantas sem causar
danos aparentes ao hospedeiro. Muitos desses micro-organismos podem auxiliar o
desenvolvimento das plantas e promover a resistência frente a patógenos, devido à produção
de compostos bioativos. Embora haja um grande interesse nos metabólitos secundários
produzidos pelos fungos endofíticos, muitas questões relacionadas à biologia e ecologia
desses organismos ainda não são compreendidas.
Devido à ampla diversidade taxonômica, os fungos endofíticos constituem uma fonte
promissora de biocompostos, porém pouco explorada. Pesquisas apontam que esses micro-
organismos são bons produtores de enzimas e metabólitos secundários, o que possibilita sua
aplicação em diversas áreas como a indústria farmacêutica, agronômica e química. Nesse
contexto, os fungos endofíticos se destacam no controle de fitopatógenos, pois compartilham
o mesmo nicho ecológico, portanto, úteis no combate dessas pragas que assolam diversas
lavouras.
É sabido que a Mata Atlântica abriga uma grande diversidade biológica de plantas,
animais e micro-organismos, devido às condições ambientais únicas. Considerado um
hotspot, tal bioma apresenta grande relevância em estudos de diversidade e bioprospecção,
pois é um refúgio de espécies ainda desconhecidas pela ciência e com amplo potencial
biotecnológico. Tal bioma possui uma variedade de espécies de plantas endêmicas e não
endêmicas. Dentre as endêmicas, destacamos Begonia venosa e Begonia olsoniae e a espécie
não endêmica Begonia fischeri, as quais não foram estudadas do ponto de vista da diversidade
e prospecção de fungos endofíticos.
Nesse contexto, ambientes diferenciados como as ilhas também são de grande
relevância em estudos de diversidade, como é o caso do Arquipélago de Alcatrazes.
Localizado a 43 km da costa de São Sebastião (SP), o arquipélago é constituído por cinco
ilhas: Ilha da Sapata, do Paredão, do Porto, do Sul, e a principal, Ilha de Alcatrazes. Por fazer
parte da Mata Atlântica, o arquipélago apresenta espécies de Begonia, incluindo B. venosa, a
qual é considerada endêmica da ilha.
De ocorrência pantropical, o gênero Begonia é reconhecido como um dos maiores do
grupo das angiospermas, quanto ao número de espécies descritas (cerca de 1.500). A maioria
dos estudos enfatizou a taxonomia, a genética de populações e as propriedades do genoma
desse gênero. Por outro lado, existem trabalhos que relataram o uso de espécies do gênero
11
Begonia para fins biotecnológicos. No entanto, até o momento não há estudos sobre a
diversidade e prospecção de fungos endofíticos associados às espécies desse gênero.
Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a diversidade das
comunidades de fungos endofíticos presentes em B. fischeri, B. olsoniae e B. venosa
encontradas em diferentes locais da Mata Atlântica (continente e ilha) e, posteriormente,
avaliar o potencial desses micro-organismos na inibição do crescimento de fitopatógenos. Os
resultados desse estudo estão divididos em dois capítulos, apresentados em formato de
manuscritos, a saber:
Capítulo 2: Com base em frações acetato obtidas dos cultivos dos endófitos das três espécies
de begônia, realizamos uma triagem para avaliar se tais fungos produzem metabólitos
secundários capazes de inibir o crescimento de fitopatógenos. Nesse contexto, avaliamos a
inibição do crescimento micelial de Colletotrichum gloeosporioides e Phomopsis sojae frente
a frações de 88 fungos endofíticos. A pergunta deste capítulo é se os fungos endofíticos
associados à Begonia produzem compostos ativos frente à fitopatógenos. Os resultados
obtidos são promissores, pois 26% das frações foram capazes de inibir pelo menos um dos
fitopatógenos. Os resultados sugerem que os endófitos presentes nessas plantas são uma fonte
para prospecção de compostos antifúngicos.
12
* Correspondência para:
Andre Rodrigues (andrer@rc.unesp.br)
Universidade Estadual Paulista, UNESP, Câmpus de Rio Claro
Avenida 24-A, n. 1515, Bela Vista, Rio Claro, São Paulo, Brazil, CEP: 13.506-900
Tel.: +55 19 3526-4364; Fax: +55 19 3526-4176
13
RESUMO
Fungos endofíticos representam um grupo intrigante de micro-organismos. Os fatores que
determinam a diversidade e a distribuição em seus hospedeiros ainda não são bem
compreendidos. Neste trabalho, avaliamos as comunidades de fungos endofíticos associadas à
Begonia fischeri, Begonia olsoniae e Begonia venosa encontradas em diferentes locais da
Mata Atlântica. A primeira não é endêmica, já as duas últimas são endêmicas desse bioma.
Dentre as 20 folhas analisadas de cada espécie, um total de 426 endófitos foi isolado. Após
identificação polifásica dos fungos, um total de 19 gêneros foi identificado, sendo os mais
abundantes Colletotrichum (51,6%) e Diaporthe (22,5%), seguido por, Phyllosticta (3,5%)
Neopestalotiopsis (1,8%), Stagonospora (1,8%) e Nigrospora (1,6%). A diversidade e
composição de espécies foram diferentes para cada planta hospedeira avaliada. Além disso, B.
fischeri apresentou maior diversidade e riqueza de endófitos, quando comparado a B. olsoniae
e B. venosa. De acordo com a análise de correspondência, 24% da estrutura observada das
comunidades endófiticas pode ser atribuída aos hospedeiros. Tais diferenças entre as
comunidades de fungos podem estar relacionadas às características intrínsecas de cada espécie
de planta. No entanto, a maior parte da variação observada na estrutura das comunidades é
devida a outros fatores, como o local de coleta que também pode atuar como fator
determinante das comunidades endofíticas do gênero Begonia.
2.1 INTRODUÇÃO
Os estudos realizados com Begonia sp. incluem aqueles com enfoque taxonômico
como um indicador de variação biogeográfica, estudos de genética de populações de espécies
endêmicas, hibridação e genômica, entre outros (DEWITTE et al., 2009; 2011). Alguns
trabalhos apontam o potencial biotecnológico de Begonia malabarica no tratamento de
diabetes (PANDIKUMAR et al., 2009). Além disso, extratos foliares dessa mesma espécie
apresentaram atividade antimicrobiana frente a Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus
aureus e Klebsiella pneumoniae (RAMESH et al., 2002). No entanto, nada se sabe sobre os
micro-organismos endofíticos associados às plantas do gênero Begonia.
Micro-organismos endofíticos compreendem fungos e bactérias que estão presentes
nos tecidos das plantas, durante parte do ciclo de vida, sem causar sintomas visíveis
(WILSON, 1995; ARAÚJO et al., 2010). Tais micro-organismos podem contribuir com a
nutrição, crescimento e até resistência do hospedeiro frente a patógenos (ARNOLD, 2005).
Considerados um grupo hiperdiverso, os micro-organismos endofíticos representam uma
importante fonte de novos metabólitos secundários bioativos com aplicações em diversos
setores da sociedade, como saúde, indústria, agricultura, entre outros (STROBEL; DAISY,
2003; WANI et al., 2015).
Esses micro-organismos estão amplamente distribuídos entre as plantas terrestres.
Estima-se que cada espécie de planta abriga ao menos uma espécie de fungo endofítico,
entretanto esse número pode variar de dezenas a centenas, dependo do hospedeiro (ARNOLD,
2005). Muitos estudos abrangendo a distribuição biogeográfica dos hospedeiros e seus micro-
organismos endofíticos foram realizados (ARNOLD; LUTZONI, 2007; DAVIS; SHAW,
2008; U’REN et al., 2012; ZHANG et al., 2013). Contudo, compreender o funcionamento
dessas associações é uma tarefa desafiadora, pois às diversas interações que ocorrem entre o
endófito e a planta, e também as interações que acontecem entre os endófitos, fazem dessas
associações uma rede de interações (SANCHEZ-AZOFEIFA et al., 2012).
É sabido que vários fatores bióticos e abióticos influenciam a estrutura das
comunidades endofíticas. Por exemplo, hospedeiros não relacionados filogeneticamente (i.e.
plantas de gêneros diferentes) e o tipo de órgão da planta foram os fatores mais determinantes
nas diferenças entre as comunidades endofíticas estudadas por Peršoh (2013). Além disso,
diferenças no local de coleta também influenciam na estrutura, pois hospedeiros mais
próximos tendem a ter comunidades mais similares, do que aquelas encontradas em
hospedeiros distantes (HIGGINS et al., 2014). Embora, estudando diferentes hospedeiros, tais
resultados demonstram a complexidade das interações fungo, planta e ambiente.
15
placa derramada, este método foi realizado no doutorado de Sérgio Birello Sartori, o qual
recuperou um maior número de fungos endofíticos comparado aos demais meios utilizados
(dados não publicados).
Os meios utilizados neste estudo são comumente empregados para o isolamento de
fungos endofíticos (ARNOLD; HERRE, 2003). No entanto, diferente da maioria dos estudos,
optamos por utilizar duas técnicas de isolamento a fim de recuperar uma maior diversidade de
endófitos. Os meios de cultivo foram suplementados com os antibióticos tetraciclina (100 mg
L-1) e sulfato de estreptomicina (20 mg L-1) para evitar o crescimento de bactérias.
As placas de isolamento foram incubadas em B.O.D à 25 °C, durante 10 dias, no
escuro, e observadas diariamente. Uma vez detectado o crescimento de hifas, estas foram
transferidas para placas adicionais contendo MA2% e incubadas nas mesmas condições. Após
incubação, para os fungos que apresentaram esporulação foram preparadas culturas
monospóricas para garantir a pureza da cultura. Para aqueles fungos que não apresentaram
esporulação, a pureza da cultura foi checada através de transferências sucessivas em MA2%.
Após a purificação dos isolados, estes foram submetidos em dois métodos de preservação: (a)
em tubos de ensaio contendo MA2% inclinado e mantidos à 10 °C e (b) criopreservação à -80
°C, em glicerol 10%. Os isolados estão mantidos no acervo de pesquisa da Central de
Recursos Microbianos da UNESP (CRM-UNESP).
para esses gêneros, quando comparados com ITS. As reações de amplificação consistiram em:
0,2 mM de cada dNTP, tampão KCl 5x, MgCl2 1,5 mM, 0,5 μM de cada primer e 1U da
enzima Taq polimerase em volume final de 25 μL; as condições de amplificação foram
aquelas descritas em Montoya et al. (2016).
Os produtos da amplificação foram visualizados em gel de agarose 1% corado com
GelRed® (Biotium). A purificação dos amplicons foi realizada com Wizard® Genomic DNA
Purification Kit (Promega) e quantificado em NanoDrop (Thermo Scientific). Uma
quantidade de 20 ng de DNA molde foi utilizada na reação de sequenciamento empregando
BigDye® Terminator Cycle Sequencing Kit v. 3.1 (Life Technologies), seguindo o protocolo
do fabricante e aplicados em sequenciador ABI 3500 (Life Technologies).
Após sequenciamento, os contigs foram montados utilizando o software BioEdit v.
7.0.5.3 (HALL, 1999). Os contigs foram comparados com sequências homólogas presentes no
NCBI-GenBank (www.ncbi.nlm.nih.gov), utilizando a ferramenta MEGA BLAST
(http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/). As sequências pertencentes aos fungos do gênero
Trichoderma foram comparadas com outras depositadas no banco de dados do International
Subcommission on Trichoderma and Hypocrea Taxonomy (ISTH), utilizando o aplicativo
TrichOKEY (DRUZHININA et al., 2005).
As sequências foram agrupadas em (UTOs) no software MOTHUR, considerando um
ponto de corte de 97% de similaridade. Para auxiliar na afiliação taxonômica de alguns grupos
de fungos (a saber, Aspergillus, Colletotrichum, Diaporthe, Epicoccum, Mucor, Penicillium,
Stemphylium e Trichoderma), foram realizadas análises filogenéticas a partir das UTO’s
obtidas pelo software MOTHUR. Desse modo, para cada UTO foram geradas árvores para
determinar os taxa mais relacionados com os examinados.
Análises preliminares foram realizadas para com sequências obtidas do NCBI-
GenBank (baseado nos hits obtidos) e também sequências obtidas de outros estudos (WANG
et al., 2014; CANNON et al., 2012; WALTHER et al., 2013; UDAYANGA et al, 2012;
FÁVARO et al., 2011; INDERBITZIN et al., 2009; DODD et al., 2003). As sequências foram
alinhadas com a ferramenta MAFFT (KATOH; STANDLEY, 2013), seguido de refinamento
manual. As filogenias foram inferidas utilizando o método de neighbor-joining, calculando a
distância evolutiva com o modelo Kimura 2-parâmetros (KIMURA, 1980). O suporte dos
clados foi calculado com 1.000 pseudorepetições de bootstrap e as árvores inferidas
utilizando MEGA v. 6.0 (TAMURA et al., 2013).
20
2.3 RESULTADOS
A média e o desvio padrão para cada espécie de planta estão indicados acima dos boxplots. Letras iguais
demonstram diferenças não significativas (Kruskal-Wallis, p > 0,1). Círculos indicam valores outliers. A: Chao1,
B: Simpson, C: Shannon.
24
Xylariales 3 2 2
Xylariales 4 1 1 2
Xylariales 5 1 1
Xylariales 6 1 1
Total 120 151 155 426
2.4 DISCUSSÃO
hospedeiros de ambientes próximos, o que mostra que cada uma das três espécies de planta
possui uma comunidade singular de endófitos.
Muitos trabalhos sugerem que a comunidade de endófitos difere segundo o tipo de
hospedeiro (U’REN et al., 2012; LAU et al., 2013; ZHANG et al., 2013; PERŠOH, 2013).
Contudo, a maioria dos hospedeiros avaliados nesses trabalhos não era relacionada, ou seja,
eram plantas de grupos filogeneticamente distintos. Embora, no presente estudo as três
espécies de plantas pertençam ao mesmo gênero, nossos resultados mostraram diferenças
significativas entre as comunidades de cada hospedeiro. As espécies B. olsoniae e B. venosa
pertencem ao mesmo clado filogenético (MOONLIGHT et al., 2015). No entanto, essas
apresentaram o maior valor de dissimilaridade entre suas comunidades (83,6%). Ou seja,
relações filogenéticas e genotípicas dos hospedeiros parecem não ter uma correlação com a
composição das comunidades endofíticas, podendo ser diferente entre hospedeiros da mesma
espécie, porém semelhantes entre outros gêneros ou até mesmo hospedeiros de outras famílias
(PERŠOH, 2015).
A diferença na diversidade entre as comunidades de fungos de B. fischeri, B. olsoniae
e B. venosa pode estar relacionada às características intrínsecas de cada hospedeiro, como a
espessura da folha e quantidade de tricomas, os quais podem interferir na entrada de
endófitos. Por exemplo, B. olsoniae e B. venosa apresentam folhas mais grossas e com mais
tricomas que B. fischeri, porém não encontramos na literatura estudos sobre endófitos dessas
plantas ou tais características associadas. Além disso, metabólitos secundários presentes nas
folhas de cada planta pode também apresentar o papel de selecionar a comunidade endofítica,
de modo que, alguns fungos consigam resistir às condições desse ambiente e outros não.
No estudo sobre endófitos de Taxus chinensis var. mairei, Wu e colaboradores (2013)
sugeriram que as características ambientais de cada local influenciaram na estrutura das
comunidades de endófitos, uma vez no interior da planta estes podem ser selecionados por
diferentes tipos de tecidos. De modo semelhante, as comunidades de fungos estudadas neste
trabalho podem variar conforme o local, porém serem “selecionadas” pelo hospedeiro, de
modo que alguns endófitos consigam se alojar dentro do tecido vegetal, no caso as folhas, e
outros não.
Nesse trabalho, observamos que cada uma das espécies avaliadas apresenta uma
comunidade distinta de endófitos independente da área de coleta. No entanto, o fato de B.
fischeri e B. olsoniae compartilharem um número considerado de espécies, comparado a B.
venosa sugerimos que, embora o hospedeiro seja um dos principais fatores para as diferenças
observadas na composição de espécies, o local de coleta também pode atuar como fator
31
2.5 REFERÊNCIAS
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35
2.6 ANEXOS
Tabela A1. Endófitos isolados de Begonia fischeri, Begonia olsoniae, Begonia venosa encontradas na
Mata Atlântica.
ID Total de
Identificação Resultado da busca no NCBI-GenBank N. de acesso
(%) isolados
Ascomycota
TOTAL 426
37
Figura A1. Aspecto geral das colônias de algumas UTOs representativas obtidas no presente
estudo. Para maiores detalhes sobre a origem (espécie de planta), consulte a tabela 2.
A: Epicoccum nigrum, B: Penicillium thomii var. flavescens, C: Cladosporium sp., D: Diaporthe sp.1, E:
Neopestalotiopsis sp., F: Colletotrichum sp.1, G: fungo não identificado, H: Nigrospora sp.1, I: Mucor bainieri,
J: Aspergillus niger, K: Xylaria sp. 1, L: Trichoderma sp. M: Cantharellales, N: Curvularia sp.1, O:
Endomelanconiopsis sp, P: Diaporthe sp. 2, Q: Diaporthe sp. 2, R: Epicoccum soghi, S: Trichoderma atroviride,
T: Diaporthe sp. 2, U: Neopestalotiopsis sp., V: Neofusicoccum sp., X: Colletotrichum sp. 1, W: Diaporthe sp. 6,
Y: Ascomycota não identificado 2
38
Figura A2. Árvore filogenética de sequências de Aspergillus spp. inferida com o gene que codifica
para a proteína beta tubulina. A árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining, inferida com o
modelo de Kimura 2 parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de
bootstrap. Em negrito estão os isolados analisados no presente estudo.
39
Figura A3. Árvore filogenética de sequências de Colletotrichum spp. inferida com o marcador ITS. A
árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining e inferida com o modelo de Kimura 2
parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de bootstrap. Em negrito
estão os isolados analisados no presente estudo
40
Figura A4. Árvore filogenética de sequências de Diaporthe spp. inferida com o marcador ITS. A
árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining e inferida com o modelo de Kimura 2
parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de bootstrap. Em negrito
estão os isolados analisados no presente estudo.
41
Figura A5. Árvore filogenética de sequências de Epicocum spp. inferida com o marcador ITS. A
árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining e inferida com o modelo de Kimura 2
parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de bootstrap. Em estão os
isolados analisados no presente estudo.
42
Figura A6. Árvore filogenética de sequências de Mucor spp. inferida com o marcador ITS. A árvore
foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining e inferida com o modelo de Kimura 2 parâmetros. O
suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de bootstrap. Em negrito estão os isolados
analisados no presente estudo. Grupo externo Rhizomucor.
43
Figura A7. Árvore filogenética de sequências de Penicillium spp. inferida com o gene que codifica
para a proteína Beta tubulina. A árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining e inferida com o
modelo de Kimura 2 parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de
bootstrap. Em negrito estão os isolados analisados no presente estudo.
44
Figura A8. Árvore filogenética de sequências de Stemphylium spp. inferida com o marcador ITS. A
árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining e inferida com o modelo de Kimura 2
parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de bootstrap. Em negrito
estão os isolados analisados no presente estudo
45
Figura A9. Árvore filogenética de sequências de Trichoderma spp. inferida com o gene que codifica
para a proteína fator alfa. A árvore foi baseada no algoritmo de Neighbor-Joining, inferida com o
modelo de Kimura 2 parâmetros. O suporte dos clados foi calculado com 1000 pseudoréplicas de
bootstrap. Em negrito estão os isolados analisados no presente estudo.
46
1
UNESP – Univ Estadual Paulista, Departamento de Bioquímica e Microbiologia, Rio Claro,
SP, Brasil.
2
USP – Univ de São Paulo, Departamento de Produtos Naturais, Piracicaba, SP, Brasil.
* Correspondência para:
Andre Rodrigues (andrer@rc.unesp.br)
Universidade Estadual Paulista, UNESP, Câmpus de Rio Claro
Avenida 24-A, n. 1515, Bela Vista, Rio Claro, São Paulo, Brazil, CEP: 13.506-900
Tel.: +55 19 3526-4364; Fax: +55 19 3526-4176
47
RESUMO
Fungos endofíticos vivem dentro do tecido das plantas sem causar sintomas aparente de
doença. Tais fungos são conhecidos por serem excelentes produtores de metabólitos
secundários capazes de combater micro-organismos patogênicos, além de constituírem uma
fonte pouco explorada em relação aos compostos bioativos que produzem. Nesse contexto, o
presente trabalho avaliou frações acetato obtidas de fungos endofíticos isolados de Begonia
fischeri, Begonia olsoniae e Begonia venosa, plantas encontradas em diferentes áreas da Mata
Atlântica. As frações foram obtidas de cultivos em meio líquido e submetidas a teste de
antagonismo em placa frente aos fitopatógenos Phomopsis sojae e Colletotrichum
gloeosporioides. Das 88 frações acetato avaliadas, 26% apresentaram atividade inibitória
significativa em relação ao controle, dessas 14,7% inibiram C. gloeosporioides e 11,3 %
inibiram P. sojae. Neste trabalho destacamos a importância de estudos com hospedeiros não
usuais como fonte de endófitos não explorados. Aqui, demonstramos que esses endófitos são
capazes de produzir compostos que podem eventualmente serem empregados no controle
desses fitopatógenos.
3.1 INTRODUÇÃO
de crescimento. Entre o fitopatógeno e a borda da placa foi inserido um disco de papel filtro
esterilizado, onde foi depositado 2 mg da fração acetato obtida de cada isolado. Também
foram realizados controles dos fitopatógenos (somente o fitopatógeno) e do acetato de etila
(fitopatógeno mais disco com o solvente). As placas de Petri foram incubadas em B.O.D. a 28
°C, durante sete dias, no escuro.
Para avaliar o crescimento dos fitopatógenos na presença das frações foram
determinados escores qualitativos de inibição, os quais foram baseados no tamanho do halo de
inibição formado e se o crescimento micelial do fitopatógeno alcançou o disco de papel ou
não (Figura 1). Optou-se por esse tipo de avaliação, uma vez que é sabido que os resultados
obtidos através de bioensaios variam segundo a capacidade de difusão do composto no meio
de cultivo e quantidade do composto ativo formado. A fim de verificar a reprodutibilidade do
ensaio, as frações que foram capazes de inibir o crescimento dos fitopatógenos foram
submetidas a um novo bioensaio. Esse foi realizado do mesmo modo que o anterior, porém
para cada fração foram realizadas três réplicas.
3.3 RESULTADOS
Os (*) sobre os boxplots indicam diferença não significativa em relação ao controle (Anova, p > 0,05).
O tratamento am222 apresentou resultado no primeiro bioensaio, no entanto, não apresentou atividade
quando submetido ao novo bioensaio em triplicata.
Os (*) sobre os boxplots indicam diferença não significativa em relação ao controle (Anova, p > 0,05).
54
Figura 5. Crescimento micelial de Phomopsis sojae na presença de frações acetato obtidas de cultivos
de fungos endofíticos de Begonia fischeri, Begonia olsoniae e Begonia venosa
A: am02, B: am29, C: am58, D: am78, E: am80, F: am82, G: am95, H: m111, I: am117, J: am120, K:
am122, L: am173, M: am193, N: am 273, O: b 145, P: b147, Q: Controle
55
3.4 DISCUSSÃO
melhores inibidores para P. sojae não foram os mesmos para C. gloeosporioides, o que do
ponto de vista do controle biológico é interessante. Baseado nesses resultados é provável que
os compostos ativos desses endófitos sejam diferentes, o que mostra um potencial
biotecnológico a ser explorado.
Em relação ao gênero Neopestalotiopsis, embora a similaridade das sequências obtidas
no presente estudo aponte para espécies desse gênero, é necessário que outras regiões do
genoma sejam avaliadas para confirmar a identificação, visto que muitas espécies de
Pestalotiopsis foram transferidas para Neopestalotiopsis, seguido da descrição de 11 espécies
novas (MAHARACHCHIKUMBURA et al., 2014). Espécies do gênero Pestalotiopsis são
consideradas excelentes produtores de metabólitos secundários, pois cerca de 160 metabólitos
secundários com atividade antitumoral, antifúngica e antimicrobiana foram descobertos entre
os anos de 2010 e 2013 provenientes desse gênero (XU et al., 2014).
O gênero Diaporthe é encontrado comumente como endófito em várias plantas
(GOMES et al., 2013). Muitos trabalhos reportaram a atividade antagonista de espécies desse
gênero frente a vários micro-organismos patogênicos. Dettrakul et al. (2003) isolaram o
composto Diaporthein B, o qual inibiu o crescimento de Mycobacterium tuberculosis, o
agente etiológico da tuberculose. Desse modo, devido Diaporthe ser um dos gêneros que
apresenta um grande número de espécies endofíticas, esse é um grupo promissor na busca de
novos compostos bioativos. Portanto, trabalhos futuros poderão explorar esse potencial nos
isolados obtidos de begônias.
Neste estudo, observamos que linhagens de Cuvularia e Epicoccum apresentaram
atividades antagonistas ao fitopatógeno P. sojae. Semelhante a Curvularia pallescens, isolado
como endófito de Calotropis procera, destacou-se pela inibição das bactérias Staphylococcus
aureus, Streptococcus pyogenes e o fungo fitopatogênico Colletotrichum dematium
(NASCIMENTO et al., 2015). Já, E. nigrum foi capaz de inibir o crescimento de vários
fitopatógenos da cana-de-açúcar, além de ocasionar o aumento de biomassa da raiz
(FÁVARO et al., 2012). Isso sugere que tais gêneros também são promissores na busca por
compostos bioativos.
O gênero Xylaria é comumente encontrado como sapróbio, entretanto, algumas
espécies são encontradas com endófitos ou patógenos (CHEN et al., 2014). Além disso,
representantes desse gênero são reconhecidos por apresentarem compostos bioativos, como o
antifúngico xyloide isolado do endófito Xylaria feejeensis, encontrado em plantas da
Amazônia (BARABAN et al., 2013). No presente trabalho, também observamos a atividade
antagonista de Xylaria sp. frente aos fitopatógenos estudados, o que demonstra que esses
57
fungos endofíticos são uma fonte a ser explorada na busca de compostos para fungos
fitopatogênicos.
Nesse contexto, embora várias espécies de fungos sejam conhecidas pela produção de
metabólitos secundários, pouco se sabe sobre a interação desses compostos na associação
fungo-planta e de que modo tais fungos podem atuar como agentes de defesa naturais para as
plantas (FÁVARO et al., 2012). Desse modo, é de grande relevância estudos
interdisciplinares, associando tanto os aspectos ecológicos evolvendo fungo-planta, quanto
metabólicos para melhor compreensão, desse diverso e intrigante grupo de fungos.
Embora houve um aumento no número de estudos sobre os fungos endófiticos nos
últimos anos, este grupo ainda permanece pouco explorado (CORRÊA et al., 2014). Neste
trabalho destacamos a importância de estudos com hospedeiros não usuais como fonte de
endófitos não explorados. Aqui, demonstramos que esses endófitos são capazes de produzir
compostos que podem eventualmente atuar no controle de C. gloeosporiodes e P. sojae. No
entanto, é necessário exaurir os potencias de tais endófitos, não somente avaliando quais são
os compostos que estes produzem, como também, avaliar os efeitos em outros micro-
organismos de interesse médico ou biotecnológico.
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59
4 CONSIDERAÇÕES
Esses hospedeiros são uma fonte pouco explorada do ponto de vista dos fungos
endofíticos, visto que, não foi possível identificar alguns dos fungos obtidos no
presente estudo, além disso, a maioria do isolados foi identificada até gênero o que
sugere que esses hospedeiros podem abrigar espécies ainda desconhecidas para a
ciência. Estudos posteriores com os fungos depositados no acervo da CRM-UNESP
poderão revelar se esses isolados são taxa ainda não descritos.
5 PERSPECTIVAS