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O Vento nos Salgueiros (Livro


Completo)
O Vento nos Salgueiros (The Wind in the Willows), de
Kenneth Grahame, é uma obra clássica da literatura
infantil que narra as aventuras de quatro amigos animais:
Toupeira, Rato, Texugo e Sapo. A história explora temas
como amizade, lealdade e as alegrias da vida simples,
enquanto os personagens enfrentam desa os, como as
imprudências do impulsivo Sapo e sua paixão por carros.
Com uma atmosfera encantadora e descrições líricas da
natureza, o livro celebra a beleza do mundo rural e os laços
que unem os amigos em meio às suas diferenças.
• Capítulo 1: A margem do rio
• Capítulo 2: A Estrada Aberta
• Capítulo 3: O Bosque Selvagem
• Capítulo 4: Sr. Texugo
• Capítulo 5: Dulce Domum
• Capítulo 6: Sr. Sapo
• Capítulo 7: O Flautista às portas do amanhecer
• Capítulo 8: As Aventuras do Sapo
• Capítulo 9: Todos os Viajantes
• Capítulo 10: As novas aventuras do Sapo
• Capítulo 11: Como as Tempestades de Verão Vieram suas
Lágrimas
• Capítulo 12: O Retorno de Ulisses

Capítulo 1: A margem do rio


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O Toupeira havia trabalhado muito durante toda a
manhã, limpando a primavera em sua pequena casa.
Primeiro com vassouras, depois com espanadores;
depois em escadas e degraus e cadeiras, com uma
escova e um balde de cal; até que ele cou com
poeira na garganta e nos olhos, e manchas de cal
por todo o seu pelo preto, e com as costas doloridas
e braços cansados. A primavera estava se
movimentando pelo ar acima, na terra abaixo e ao
redor dele, penetrando até mesmo sua pequena e
sombria casa com seu espírito de descontentamento
divino e anseio. Não é de se estranhar que, então, ele
de repente jogou a escova no chão, disse “Droga!” e
“Ai, caramba!” e ainda “Que se danem as limpezas de
primavera!”, e saiu disparado de casa sem nem
esperar para colocar o casaco. Algo lá em cima o
estava chamando imperiosamente, e ele correu para
o pequeno túnel íngreme que, em seu caso, era
equivalente à entrada de pedregulhos das
residências de animais cujas moradias estavam mais
próximas do sol e do ar. Então ele começou a cavar e
arranhar, escarafunchar e se apertar, e então se
apertou e escarafunchou e arranhou e cavou
novamente, trabalhando arduamente com suas
pequenas patas e murmurando para si mesmo:
“Vamos subir! Vamos subir!”, até que, nalmente, pop!
seu focinho saiu à luz do sol, e ele se viu rolando na
grama quente de um vasto prado.
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“Isso é ótimo!” disse ele para si mesmo. “Isso é bem
melhor do que pintar paredes com cal!” A luz do sol
atingiu forte seu pelo, brisas suaves acariciaram sua
fronte quente, e após o isolamento no porão em que
ele vivia por tanto tempo, o gorjeio dos pássaros
felizes atingiu seus ouvidos embotados quase como
um grito. Saltando sobre todas as suas quatro patas
ao mesmo tempo, na alegria de viver e no deleite da
primavera sem precisar limpá-la, ele continuou seu
caminho pelo prado até chegar à cerca no outro lado.
“Segura aí!”, disse um coelho idoso na abertura. “Seis
pence pelo privilégio de passar pela estrada
particular!” Ele foi derrubado num instante pelo
ansioso e desdenhoso Toupeira, que trotou ao longo
da cerca, zombando dos outros coelhos enquanto eles
espiavam apressadamente de suas tocas para ver
qual era a confusão. “Molho de cebola! Molho de
cebola!” ele exclamou zombeteiro, e desapareceu
antes que eles pudessem pensar numa resposta
devidamente satisfatória. Então todos começaram a
resmungar uns com os outros. “Como você é estúpido!
Por que não o disse——” “Bem, por que você não
contou——” “Você poderia tê-lo lembrado——” E assim
por diante, do jeito de sempre; mas, claro, era tarde
demais, como sempre acontece.
Parecia bom demais para ser verdade. Para lá e para
cá pelos prados ele divagava ocupado, ao longo das
sebes, através de bosques, encontrando pássaros
construindo, ores brotando, folhas surgindo—tudo
feliz, progressivo e ocupado. E ao invés de ser
atormentado por uma consciência inquieta
sussurrando “cal! cal!”, tudo o que ele podia sentir
era o quão animado era ser o único “vagabundo”
entre todos esses cidadãos ocupados. A nal de
contas, talvez a melhor parte de um feriado não seja
tanto descansar, como ver todos os outros colegas
ocupados trabalhando.
Ele pensou que sua felicidade estivesse completa
quando, ao vaguear sem rumo, de repente ele se viu
à beira de um rio cheio. Nunca na vida ele havia
visto um rio antes—aquele animal elegante, sinuoso,
de corpo cheio, correndo e gargalhando, agarrando-
se às coisas com um gorgolejo e soltando-as com
uma risada, para se atirar a novos companheiros que
se sacudiam livres e eram capturados novamente.
Tudo sacudia e tremia—re exos e brilhos e
centelhas, farfalhar e redemoinho, murmúrios e
borbulhas. O Toupeira cou encantado, enfeitiçado,
fascinado. Ao lado do rio, ele trotava como quem
trota ao lado de um homem, quando muito pequeno,
que o mantém atento com histórias emocionantes; e
quando nalmente cansado, sentou-se à margem,
enquanto o rio ainda murmurava para ele, uma
procissão falante das melhores histórias do mundo,
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enviadas do coração da Terra para serem contadas
en m ao insaciável mar.
Ao sentar-se na grama e olhar do outro lado do rio,
um buraco escuro na margem oposta, logo acima da
linha d'água, chamou sua atenção, e sonhadoramente
ele começou a pensar em como seria um bom e
aconchegante lar para um animal com poucas
necessidades e afeito a uma pequena residência à
beira-rio, acima do nível das enchentes e longe do
barulho e poeira. Enquanto olhava, algo brilhante e
pequeno pareceu cintilar dentro do coração do
buraco, desapareceu, depois cintilou mais uma vez,
como uma estrelinha. Mas di cilmente poderia ser
uma estrela em uma situação tão improvável; e era
pequeno e brilhante demais para ser um vagalume.
Então, enquanto ele observava, deu uma piscadela,
revelando-se como um olho; e um rostinho começou
gradualmente a aparecer em volta dele, como uma
moldura ao redor de uma imagem.
Um rostinho marrom, com bigodes.
Um rosto redondo e grave, com o mesmo brilho no
olho que inicialmente chamara sua atenção.
Pequenas orelhas arrumadas e um pelo grosso e
sedoso.
Era o Rato-d’Água!
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Então, ambos os animais caram olhando
cautelosamente um para o outro.
“Olá, Toupeira!” disse o Rato do Rio.
“Olá, Rato!” disse o Toupeira.
“Gostaria de vir até aqui?” perguntou o Rato, após
um momento.
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“Oh, é fácil falar,” disse o Toupeira, um tanto irritado,
sendo ele novo em assuntos de rio e vida à beira-rio.
O Rato não disse nada, mas se inclinou, desamarrou
uma corda e puxou-a; depois entrou levemente em
um pequeno barco que o Toupeira não havia visto. Era
pintado de azul por fora e branco por dentro,
exatamente do tamanho para dois animais; e o
coração do Toupeira se derreteu por completo, mesmo
antes de entender totalmente a utilidade do barco.
O Rato remou rapidamente até a margem, amarrou o
barco e levantou a pata dianteira enquanto o Toupeira
descia cuidadosamente. “Apoie-se aqui!” disse ele.
"Agora, ande rápido!" E o Toupeira, para sua
surpresa e êxtase, encontrou-se sentado na popa de
um verdadeiro barco.
“Esse tem sido um dia maravilhoso!” exclamou ele,
enquanto o Rato empurrava o barco de volta para o
meio do rio e voltava a remar. “Você sabe, nunca
entrei em um barco antes, em toda a minha vida.”
“O quê?” gritou o Rato, de boca aberta: “Nunca
esteve em um—a sério, você nunca—bem, o que você
tem feito então?”
“É tão bom assim?” perguntou o Toupeira,
timidamente, embora estivesse bastante inclinado a
acreditar, enquanto se recostava no assento e
examinava as almofadas, os remos, as forquilhas e
todos os detalhados acessórios fascinantes, sentindo
o barco balançar levemente sob ele.
“Bom? É a única coisa que vale a pena fazer,” disse o
Rato do Rio solenemente, inclinando-se para remar.
“Acredite em mim, meu jovem amigo, não há
absolutamente nada—nada pela metade tão prazeroso
quanto simplesmente mexer com barcos. Mexer com
barcos,” ele continuou sonhadoramente: “mexer—com—
barcos; simplesmente mexer com eles...”
“Olhe para frente, Rato!” gritou de repente o
Toupeira.
Mas era tarde demais. O barco bateu com força na
margem. O sonhador e alegre remador caiu de costas
no fundo do barco, seus pés para o ar.
“—Com barcos... ou neles,” o Rato continuou
tranquilamente, levantando-se com uma risada
agradável. “Dentro ou fora deles, não importa. Nada
parece realmente importar, essa é a mágica. Se você
partir ou não; se você chegar ao seu destino ou
parar em algum outro lugar; ou se nunca chegar a
lugar nenhum, você está sempre ocupado, e ao
mesmo tempo nunca faz nada em particular. E
quando você termina, há sempre algo mais a fazer, e
você pode fazê-lo, se quiser, mas seria melhor não
fazer. Veja só! Se realmente não tiver mais nada
para fazer nesta manhã, que tal descermos o rio
juntos e passarmos o dia todo nisso?”
O Toupeira mexeu os dedos dos pés de pura
felicidade, encheu o peito com um suspiro de
completo contentamento, e recostou-se alegremente
nas suaves almofadas. “Que dia estou tendo!” disse
ele. “Vamos começar imediatamente!”
“Espere um minuto!” disse o Rato. Ele prendeu a
corda através de um anel no cais, subiu para seu
buraco, e, após um curto intervalo, reapareceu
cambaleando debaixo de uma grande cesta de
piquenique de vime.
“Empurre isso sob seus pés,” comentou ao Toupeira,
enquanto passava a cesta para dentro do barco.
Depois soltou a corda e voltou a pegar nos remos.
“O que tem dentro?” perguntou o Toupeira,
contorcendo-se de curiosidade.
“Tem frango frio,” respondeu o Rato brevemente.
“Línguafriadapresuntofriocarnedefriocintracruzarpicl
esaladaspãocommortadelaemaionesecervejagengibrer
efrigerantelimãosuperfaco——”
“Pare, pare,” gritou o Toupeira em êxtase: “Isso é
muita coisa!”
"Você acha mesmo?" perguntou o Rato, sério. “É só o
que eu costumo levar nessas pequenas excursões; os
outros animais sempre me dizem que sou ‘mão de
vaca’ e que trago pouco!”
O Toupeira não ouviu uma palavra do que ele dizia.
Absorvido na nova vida em que estava entrando,
enfeitiçado pelo brilho, o som do rio, os cheiros e o
sol, ele colocou a pata na água e cou a sonhar
acordado longamente. O Rato, como o bom amigo que
era, remava serenamente, evitando perturbá-lo.
“Eu gosto muito das suas roupas, velho amigo,”
comentou o Rato após meia hora ou mais, enquanto o
silêncio continuava. “Um dia desses, quero ter um
terno de veludo preto para fumar, assim que puder
pagar por um.”
“Perdão,” disse o Toupeira, voltando dos devaneios
com esforço. “Você deve pensar que sou muito rude;
mas tudo isso é tão novo para mim. Então—isso é—um
rio!”
“O Rio,” corrigiu o Rato com ênfase.
“E você realmente vive à beira do rio? Que vida
tranquila e maravilhosa!”
“À beira dele, com ele, sobre ele e dentro dele,” disse
o Rato. “É irmão e irmã para mim, além de tia,
companhia, alimento e bebida, e (naturalmente)
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também para banhos. É o meu mundo, e eu não quero
outro. O que ele não tem não vale nada, e o que ele
não sabe não vale a pena conhecer. Senhor! As vezes
que passamos juntos! Seja no inverno ou no verão, na
primavera ou no outono, o rio sempre tem sua
diversão e suas emoções. Quando as enchentes
chegam em fevereiro, e meus porões cam cheios de
bebida que não me serve de nada, ou quando as
águas baixam e surgem lamaçais que cheiram como
bolo de fruta; os juncos e ervas enroscados, e eu
posso andar por grande parte do leito do rio,
encontrar novos alimentos ou coisas que as pessoas
descuidadas deixaram cair dos barcos!”
“Mas não é um pouco entediante às vezes?” o
Toupeira atreveu-se a perguntar. “Só você e o rio, e
mais ninguém para conversar?”
"Mais ninguém para...? Ah, bom, não vou ser duro
com você,” disse o Rato com paciência. “Você é novo
por aqui, então, claro, você não sabe. Hoje em dia, as
margens estão tão lotadas que muitos animais estão
se mudando daqui. E claro que não é como
antigamente. Lontras, martins-pescadores,
mergulhões, galinhola-d'água, todos por ali durante o
dia, sempre querendo que você faça algo—como se eu
não tivesse meus próprios afazeres para cuidar!”
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“O que há do outro lado?” perguntou o Toupeira,
acenando a pata em direção ao contorno escuro da
oresta ao fundo das pradarias.
“Aquilo? Ah, é só o Bosque Selvagem,” disse o Rato
rapidamente. “Nós, os ribeirinhos, não andamos muito
por lá.”
“Eles não são... eles não são muito amigáveis por lá?”
perguntou o Toupeira, um pouco nervoso.
“B-e-m,” respondeu o Rato, um pouco hesitante,
“deixe-me ver. Os esquilos são gente boa. E os
coelhos—alguns deles. Mas os coelhos são um grupo
diversi cado. E depois tem o Texugo, claro. Ele vive
bem no meio da oresta; não viveria em nenhum
outro lugar, nem se você pagasse. Querido e velho
Texugo! Ninguém mexe com ele. Melhor nem tentar,”
ele acrescentou signi cativamente.
“Por que alguém mexeria com ele?” perguntou o
Toupeira.
“Bem, claro que... há outros,” explicou o Rato com
certa cautela. “Doninhas... e furões... e raposas... e
por aí vai. Eles são gente boa, de uma maneira. Sou
muito amigo deles—trabalho de dia e, de vez em
quando, troco um ‘olá’ quando cruzamos caminho;
mas a verdade é que de vez em quando eles causam
problemas.”
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Sabendo que não era adequado, segundo a etiqueta
dos animais, falar sobre possíveis di culdades à
frente—ou sequer mencioná-las—o Toupeira deixou o
assunto de lado.
“E além do Bosque Selvagem?” perguntou ele
novamente, apontando para o horizonte azul e
enevoado: “Onde parece haver montanhas, ou talvez
não, e algo que parece fumaça de cidades, ou talvez
apenas neblina?”
“Além do Bosque, está o Mundo Amplo,” disse o Rato.
"E isso é algo que não nos interessa, nem a você
nem a mim. Nunca fui lá, e nunca vou; e você, se
tiver bom senso, também não. Vamos mudar de
assunto, por favor. Agora veja! Chegamos ao desvio
do rio, onde vamos almoçar.”
Deixando o uxo principal, eles entraram no que
parecia à primeira vista um pequeno lago isolado.
Os gramados verdes desciam suavemente até as
margens, raízes marrons e largas de árvores se
serpentavam abaixo da superfície da água serena,
enquanto adiante, a sobrancelha prateada e a
espuma agitada de uma represa, ao lado de uma
engrenagem de moinho inquieta e gotejante, que por
sua vez sustentava um moinho de pedra com telhado
acinzentado, preenchiam o ar com um murmúrio
suave de sons, abafado, mas com pequenas vozes
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nítidas surgindo esporadicamente em intervalos
alegres. Era tão bonito que o Toupeira só conseguia
levantar as duas patas da frente e suspirar: "Oh,
meu! Oh, meu! Oh, meu!".
O Rato trouxe o barco para a margem, amarrou-o,
ajudou o desajeitado Toupeira a desembarcar em
segurança e arremessou a cesta de piquenique para
fora. O Toupeira, ansioso, suplicou para poder
desempacotar tudo sozinho; e o Rato, muito contente
por deixá-lo se divertir, se largou na grama de corpo
inteiro, descansando enquanto seu entusiasmado
amigo sacudia a toalha de mesa e a estendia,
tirando os pacotes misteriosos um por um e
organizando o conteúdo em perfeita ordem, ainda
suspirando “Oh, meu! Oh, meu!” a cada nova
descoberta. Quando tudo estava pronto, o Rato disse:
"Agora, mande ver, meu amigo!" E o Toupeira,
exausto, obedeceu com prazer, pois havia começado
sua limpeza de primavera muito cedo naquela manhã
e não tinha parado para comer ou beber nada; e,
entre tudo o que havia acontecido, pareceria ao
Toupeira que tudo aquilo pertenciam a dias muito
distantes, que de alguma forma agora pareciam
parte de outra existência.
"O que você está olhando?" perguntou o Rato, depois
que o imenso apetite de ambos foi razoavelmente
saciado e os olhos do Toupeira começaram a vaguear
um pouco da toalha de piquenique.
"Estou olhando," disse o Toupeira, "para uma leira
de bolhas que vejo viajando pela superfície da água.
Isso parece um tanto engraçado."
“Bolhas? Oh!” disse o Rato, dando um assobio alegre,
em um tom amigável e convidativo.
Um focinho largo e brilhante apareceu sobre a
margem e a Lontra emergiu da água, sacudindo-se
para secar o pelo encharcado.
“Bando de guloso!” observou a Lontra, avançando em
direção ao banquete. “Por que não me convidaram,
hein, Ratinho?”
“Foi algo improvisado,” explicou o Rato. “A propósito—
meu amigo Sr. Toupeira.”
"Prazer em conhecê-lo," disse a Lontra, e
imediatamente os dois animais tornaram-se amigos.
"Que confusão está por todo lado!" continuou a
Lontra. “O mundo inteiro parece estar no rio hoje.
Vim para este desvio do rio tentando encontrar um
pouco de paz — e agora dou de cara com vocês! —
Bom, desculpem. Não quis dizer isso, sabem.”
Houve um leve farfalhar atrás deles, vindo da cerca
viva onde ainda pendiam folhas grossas do ano
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passado, e uma cabeça listrada, com ombros altos
logo atrás, espiou entre a folhagem.
“Venha logo, velho Texugo!” gritou o Rato.
O Texugo avançou alguns passos, grunhiu, “Hrumph!
Companhia!” E virou de costas, desaparecendo antes
que qualquer um pudesse interpelá-lo.
“Esse é exatamente o tipo de sujeito que ele é!”
observou o Rato, desapontado. “Simplesmente odeia
qualquer Sociedade! Agora, não veremos mais ele o
resto do dia. Ah, tanto faz. Nos conte, quem mais
está no rio?”
“O Sapo está por aí,” respondeu a Lontra. “Com seu
novíssimo barco de corrida; roupa nova e tudo!”
Os dois animais se entreolharam e riram.
“Uma vez, ele só queria velejar,” disse o Rato.
“Depois enjoou disso e passou a navegar com varas.
Nada mais o agradava além de fazer isso o dia
inteiro, e bagunçou tudo bonito. No ano passado, foi o
papo de uma casa utuante, e todos nós tivemos que
ir car com ele na tal casa, ngindo que estávamos
adorando. Ele dizia que iria passar o resto da vida
assim. É sempre o mesmo; tudo o que ele começa, se
cansa e logo pula para outra coisa.”
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“Mas... é um bom sujeito,” ponderou a Lontra. “Só
falta um pouco de estabilidade — especialmente em
um barco!”
De onde estavam, conseguiam ver o uxo principal do
rio do outro lado da ilha que os separava; e justo
naquele momento, um barco de corrida entrou em
cena, com o remador — uma gura baixa e robusta —
respingando mal e rolando muito, mas se esforçando
ao máximo. O Rato se levantou e acenou para ele,
mas o Sapo, pois era ele mesmo, balançou a cabeça e
concentrou-se mais ainda no trabalho.
"Vai cair daquilo a qualquer minuto, com esse
balanço todo," disse o Rato, sentando-se de novo.
"Claro que vai," riu a Lontra. "Eu já te contei aquela
boa história do Sapo e o guarda-eclusa? Aconteceu
assim..."
Uma libélula errática passou oscilando pelo ar, no
estilo descontrolado típico dos jovens tomados pela
vida. Um redemoinho na água e um “ploft!” — e a
libélula não estava mais lá.
E tampouco estava a Lontra.
O Toupeira olhou para o local onde a voz ressoava
há pouco, mas o gramado onde a Lontra estava
deitada estava claramente vazio. Nem sinal de Lontra,
tanto quanto ele podia ver, até o horizonte distante.
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Mas de novo, havia uma linha de bolhas na
superfície do rio.
O Rato cantarolou uma melodia, e o Toupeira se
lembrou de que a etiqueta animal proibia qualquer
comentário sobre o desaparecimento repentino de
um amigo, fosse por algum motivo ou por motivo
algum.
“Bem, bem,” disse o Rato, “Acho que devemos ir
andando. Quem de nós vai arrumar a cesta de
piquenique?” Ele não falou como se estivesse
particularmente ansioso para a tarefa.
“Ah, por favor, deixe-me fazer isso!” pediu o
Toupeira. E, claro, o Rato deixou.
Empacotar a cesta não era tão agradável quanto
havia sido desembrulhá-la. Nunca é. Mas o Toupeira
estava determinado a aproveitar tudo, e embora,
assim que ele terminou de arrumar a cesta bem
apertada, ele viu um prato olhando para ele sob a
grama; e depois de refazer a tarefa, o Rato apontou
um garfo, que qualquer um deveria ter notado antes;
e por último, lá estava ele! O pote de mostarda, que
o Toupeira havia estado sentado em cima o tempo
todo, sem perceber—porém, de alguma forma, tudo
foi nalmente concluído, sem muita perda de humor.
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O sol da tarde estava baixando quando o Rato
começou a remar tranquilamente de volta para casa,
em um estado sonhador, recitando murmúrios
poéticos para si mesmo e prestando pouca atenção
ao Toupeira. Mas o Toupeira estava muito satisfeito,
empanturrado de comida e auto-satisfação, e
orgulhoso de si mesmo, e já sentindo-se “em casa”
em um barco (ou assim ele pensava), começou a se
mexer um pouco inquieto: e, logo, ele disse: “Ratinho!
Por favor, quero remar agora!”.
O Rato balançou a cabeça com um sorriso. "Ainda
não, meu jovem amigo," ele disse. "Espere até ter
algumas lições. Não é tão fácil quanto parece.”
O Toupeira cou quieto por um ou dois minutos, mas
começou a se sentir mais e mais invejoso do Ratinho,
remando tão rmemente e com tanta facilidade, e
seu orgulho começou a sussurrar que ele poderia
fazer o mesmo. Ele se levantou de repente, pegou
nos remos com uma pressa inesperada, que o Rato,
que estava olhando por cima da água, murmurando
mais versos poéticos para si mesmo, foi surpreendido
e caiu de costas no barco, com as pernas para o ar
pela segunda vez, enquanto o triunfante Toupeira
tomou seu lugar e agarrou os remos com total
con ança.
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“Pare com isso! Que tolice!” gritou o Rato, do fundo
do barco. “Você não sabe o que está fazendo! Vai
virar a gente!”
O Toupeira jogou os remos para trás com um oreio
e deu uma grande puxada na água. Mas ele errou a
superfície completamente, suas pernas voaram acima
de sua cabeça, e ele se viu deitado sobre o prostrado
Ratinho. Desesperado, ele fez um movimento brusco
para segurar a lateral do barco, e no instante
seguinte—Splash!
O barco virou e ele se encontrou lutando na água do
rio.
Ai, como a água era fria! E como era muito molhada!
Como ela sibilava em seus ouvidos enquanto ele
afundava, afundava, afundava! Como o sol parecia
brilhante e acolhedor quando ele emergiu à
superfície, tossindo e cuspindo! E como sua
desesperança foi grande quando ele sentiu-se
afundar novamente! Mas então uma pata rme
agarrou a nuca dele. Era o Rato, que estava
claramente rindo—o Toupeira podia sentir o riso
percorrer o braço dele, pela pata e chegar até sua
nuca.
O Rato conseguiu colocar os remos debaixo dos
braços do Toupeira; depois fez o mesmo do outro
lado e, nadando por trás, impulsionou o animal
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atônito até a margem, puxou-o para fora e o
acomodou na grama, uma massa encharcada e
deprimida.
Quando o Rato o esfregou um pouco para secá-lo e
retirou parte da água de seu pelo, disse: “Agora,
velho amigo! Corra pela margem até aquecer e secar
completamente, enquanto eu mergulho para
recuperar a cesta de piquenique.”
Então o desanimado Toupeira, molhado por fora e
envergonhado por dentro, trotou de um lado para o
outro até secar completamente, enquanto o Ratinho
mergulhava novamente no rio, recuperava o barco, o
colocava de volta no lugar, recolhia seus pertences
conforme eles utuavam e nalmente, com muito
sucesso, resgatava a cesta de piquenique e a trazia
para a margem.
Quando tudo estava pronto para recomeçar a
viagem, o Toupeira, agora abatido e desanimado,
tomou seu lugar novamente na popa do barco.
Quando partiram, ele disse com a voz baixa, cheia
de emoção: “Ratinho, meu generoso amigo! Estou
muito arrependido pelo meu comportamento tolo e
ingrato. Meu coração se parte quando penso que eu
poderia ter perdido aquela linda cesta de piquenique.
Na verdade, eu fui um completo tolo, e sei disso.
Você me perdoa?”
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“Está tudo bem, que tranquilo!" respondeu o
Ratinho com alegria. “O que é um pouco de água
para um Rato-d'água? Eu passo mais tempo na água
do que fora dela na maioria dos dias. Não pense mais
nisso; e olhe: Acho que você deveria vir passar um
tempo comigo. Não é nada luxuoso, você sabe—nada
comparado à casa do Sapo, mas você ainda não viu;
mesmo assim, eu posso te deixar confortável. Eu te
ensino a remar e a nadar e, em breve, você vai estar
tão à vontade na água quanto qualquer um de nós.”
O Toupeira, tocado pelas palavras gentis de seu
amigo, não encontrou voz para responder e precisou
enxugar algumas lágrimas com as costas da pata.
Mas o Ratinho, bondosamente, desviou o olhar para
outra direção, e logo o espírito do Toupeira se
levantou novamente. Ele até conseguiu retorquir para
um par das galinholas que estavam rindo entre si da
gura ensopada e desgrenhada que ele fazia.
Quando chegaram de volta à casa do Ratinho, ele
acendeu uma lareira acolhedora na sala de estar e
instalou o Toupeira em uma poltrona em frente ao
fogo, depois de ter trazido um roupão de banho e
chinelos para ele. Contou, então, histórias sobre o rio
até a hora do jantar. Essas histórias foram
extremamente emocionantes para um animal
acostumado a viver em tocas, como o Toupeira:
histórias sobre represas, enchentes repentinas, sobre
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grandes peixes saltando, vapores que jogavam
garrafas (pelo menos as garrafas vinham dos
vapores, então quem mais jogaria?). E sobre garças,
que são muito seletivas sobre quem elas falam; e
aventuras em bueiros, pescarias noturnas com a
Lontra, ou excursões a lugares distantes com o
Texugo.
O jantar foi uma refeição agradável, mas logo
depois, um Toupeira terrivelmente sonolento teve de
ser escoltado por seu atencioso an trião até o
melhor quarto da casa, onde logo repousou sua
cabeça sobre o travesseiro com grande paz e
contentamento, sabendo que seu novo amigo, o Rio,
estava lambendo suavemente o parapeito da sua
janela.
Esse foi apenas o primeiro de muitos dias
semelhantes para o recém-libertado Toupeira, cada
um deles mais longo e cheio de interesse conforme o
amadurecimento do verão avançava. Ele aprendeu a
nadar e a remar, e foi gradualmente descobrindo a
alegria das águas correntes; e, ao escutar ao pé dos
caules de junco, conseguiu ouvir, de vez em quando,
algo do que o vento sussurrava tão constantemente
entre eles.

Capítulo 2: A Estrada Aberta


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"Rato," disse o Toupeira de repente, em uma clara
manhã de verão, "por favor, quero lhe pedir um
favor."
O Rato estava sentado na margem do rio, cantando
uma pequena canção. Ele tinha acabado de compô-la,
então estava muito concentrado nisso e não prestava
a devida atenção ao Toupeira ou a qualquer outra
coisa. Desde cedo pela manhã, ele estava nadando no
rio, em companhia de seus amigos, os patos. Quando
os patos se viravam de cabeça para baixo, como
costumam fazer, o Rato mergulhava e lhes fazia
cócegas no pescoço, bem embaixo de onde cariam
os queixos, se os patos tivessem queixos, até que
eles se viam forçados a voltar à superfície
apressadamente, respingando água e balançando
suas penas de forma irritada — pois é impossível
expressar todos os sentimentos enquanto sua cabeça
está debaixo d’água. Por m, os patos imploraram
para que ele os deixasse em paz para cuidar de seus
próprios assuntos. Então o Rato foi embora, sentou-
se na margem do rio ao sol e compôs uma canção
sobre eles, que batizou de “CANÇÃO DOS PATOS”.
Ao longo do antigo canal
Por entre juncos altos
Os patos estão nadando,
fi
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Caudas eretas!
Caudas de patos, caudas de patos,
Pés amarelos a tremer,
Bicos amarelos fora de vista,
Atarefados no rio!
Debaixo do verde lamacento
Onde nadam as tainhas –
Aqui guardamos nossa despensa,
Fresca, cheia e sombria.
Cada um faz o que gosta!
Nós gostamos de estar
De cabeça para baixo, cauda erguida,
Remexendo à vontade!
Bem lá no azul acima
Andorinhões voam e gritam –
Nós estamos aqui, remexendo,
Caudas para o alto!
"Não sei se acho essa canção tão boa assim, Rato,"
disse o Toupeira cautelosamente. Ele não era poeta e
não se importava que soubessem disso; tinha uma
natureza bastante franca.
"Nem os patos," respondeu o Rato alegremente. "Eles
dizem: ‘Por que as pessoas não podem ser deixadas
em paz para fazer o que gostam, quando querem e
como querem, ao invés de outros sentarem-se nas
margens, carem observando e fazendo comentários,
poesias e coisas desse tipo sobre eles? Que besteira
é tudo isso!’ Isso é o que os patos dizem."
"E é mesmo, é mesmo," disse o Toupeira, com grande
entusiasmo.
"Não, não é!" exclamou o Rato indignado.
"Bem então, não é, não é," respondeu o Toupeira de
forma conciliadora. “Mas o que eu queria lhe pedir
era: você não me levaria para fazer uma visita ao Sr.
Sapo? Já ouvi tanto falar dele e quero muito
conhecê-lo.”
"Mas claro," disse o Rato, se levantando
imediatamente e afastando a poesia da sua cabeça
por aquele dia. "Pegue o barco e vamos remar até lá
agora mesmo. Nunca é um mau momento para visitar
o Sapo. Seja cedo ou tarde, ele é sempre o mesmo:
sempre de bom humor, sempre feliz em nos ver, e
sempre triste quando vamos embora!"
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"Ele deve ser um animal muito simpático," observou o
Toupeira, enquanto subia no barco e pegava os
remos, enquanto o Rato se acomodava
confortavelmente na popa.
"Ele é realmente o melhor dos animais," respondeu o
Rato. "Tão simples, tão afetuoso e tão bondoso.
Talvez ele não seja muito inteligente — todos temos
nossos limites; e pode ser que ele seja meio
orgulhoso e vaidoso. Mas ele tem grandes qualidades,
isso sim."
Ao virar uma curva do rio, avistaram uma casa velha
e elegante, de tijolos vermelhos envelhecidos, com
gramados bem cuidados, que desciam até a margem
da água.
"Lá está o Vila do Sapo," disse o Rato; "e aquele
riacho à esquerda, onde a placa diz: ‘Propriedade
privada. Proibido desembarcar,’ leva ao galpão de
barcos dele, onde vamos deixar o nosso barco. Os
estábulos cam ali, à direita. Aquele é o salão para
banquetes que você está vendo agora — muito antigo.
O Sapo é bem rico, sabe, e essa é realmente uma
das casas mais bonitas da região, embora nunca
admitamos isso para ele."
fi
Eles deslizaram pelo riacho e o Toupeira guardou os
remos enquanto passavam pela sombra de um grande
galpão de barcos. Lá, viram muitos barcos bonitos,
pendurados nas vigas ou puxados para uma rampa,
mas nenhum na água; e o local tinha um ar de
abandono.
O Rato olhou ao redor. "Entendi," disse ele. "Ele
cansou de andar de barco. Me pergunto qual será o
novo passatempo que ele pegou agora? Vamos
procurá-lo e logo saberemos."
Desembarcaram e caminharam pelos gramados
enfeitados por ores à procura do Sapo, que acabou
por ser encontrado descansando em uma cadeira de
vime, com uma expressão pensativa no rosto e um
grande mapa estendido em seu colo.
"Uau!" ele exclamou, pulando ao vê-los, "que
maravilha!" Apertou as patas dos dois calorosamente,
sem esperar uma apresentação ao Toupeira. "Que
gentileza a sua de virem!", continuou, rodopiando ao
redor deles. "Eu estava prestes a enviar um barco rio
abaixo para chamá-lo, Rato, com ordens estritas de
que você deveria ser trazido para cá, seja lá o que
estivesse fazendo. Estou precisando muito de você —
dos dois. Agora, o que vocês querem tomar? Venham
para dentro e peguem alguma coisa! Vocês nem
sabem como é sorte encontrá-los aqui agora!"
"Vamos nos sentar um pouco, Sapo!" disse o Rato,
jogando-se em uma poltrona confortável, enquanto o
Toupeira pegava outra ao lado dele e fazia um
comentário educado sobre a "deliciosa residência" do
Sapo.
"A melhor casa de todo o rio," exclamou o Sapo,
exagerando. "Ou de qualquer outro lugar, se querem
saber," não pôde deixar de adicionar.
fl
Aqui o Rato deu uma cutucada no Toupeira.
Infelizmente, o Sapo viu isso e cou muito vermelho.
Houve um momento de silêncio constrangedor. Então,
o Sapo caiu na gargalhada. “Tudo bem, Rato,” ele
disse. “É só meu jeito, você sabe. E não é uma casa
tão ruim assim, é? Você sabe que até gosta dela.
Agora, vamos ser práticos. Vocês são os animais que
eu precisava. Vocês têm que me ajudar. É muito
importante!”
"É sobre o seu remo, presumo," disse o Rato, com um
ar inocente. "Você está se saindo razoavelmente
bem, embora ainda faça muitos respingos. Com
bastante paciência e muito treino, você pode——"
"Ah, bobagem! Remar!" interrompeu o Sapo, com
grande desgosto. "Diversão boba e infantil. Já desisti
disso faz tempo. Puro desperdício de tempo, é o que
é. Fico verdadeiramente triste em ver vocês, que
deveriam saber mais, gastarem suas energias de
forma tão inútil. Não, descobri a verdadeira diversão,
a única ocupação genuína para uma vida inteira. Eu
pretendo dedicar o resto da minha vida a isso e só
lamento os anos perdidos que caram para trás,
desperdiçados com trivialidades."
Ele os levou ao pátio do estábulo e ali, puxada para
fora da cocheira, viram uma caravana de ciganos
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novíssima, pintada de amarelo-canário com detalhes
em verde e rodas vermelhas.
"Olhem só!" exclamou o Sapo, abrindo os braços.
"Essa é a verdadeira vida! A estrada aberta, o
caminho empoeirado, charnecas, vilarejos, cidades!
Hoje aqui, amanhã em outro lugar! O mundo inteiro
diante de você e o horizonte sempre mudando! E
esta é a melhor caravana que já foi construída, sem
exceção!"
Toupeira cou extremamente interessado e subiu
animadamente as escadas da caravana, enquanto o
Rato bufava, metendo as mãos nos bolsos.
Já dentro, era compacto e confortável, com beliches,
uma pequena mesa dobrável, um fogão para
cozinhar, prateleiras, gaiola de passarinho, potes,
panelas e todo tipo de utensílios.
Tudo completamente equipado!"
"Tudo completo!", disse o Sapo triunfante, abrindo
um dos armários. "Veja só—bolachas, lagosta
enlatada, sardinhas—tudo o que você possivelmente
pode precisar. Água com gás aqui—tabaco ali—papel
de carta, bacon, geleia, cartas de baralho e dominó...
Nada foi esquecido! Quando partirmos esta tarde,
tudo estará pronto, vocês verão!"
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"Desculpe," disse o Rato, mastigando um pedaço de
palha lentamente, "mas você mencionou algo sobre
'nós', e 'partir', e 'esta tarde?'"
"Meu querido e bom Rato," implorou o Sapo, de
forma suplicante, "por favor, não comece falando
com esse tom rígido e desagradável, porque você
sabe que terá que vir. Eu não posso fazer isso sem
você, então por favor, aceite logo e não discuta—
simplesmente não aguento discussões. Não me diga
que você pretende passar a vida inteira no seu velho
rio empoeirado, morando em um buraco na margem?
Eu quero te mostrar o mundo! Vou te transformar
num verdadeiro aventureiro!"
"Não quero saber," disse o Rato, teimosamente. "Não
vou, e ponto nal. E vou car no meu velho rio,
morando em um buraco e navegando de barco, como
sempre z. E além do mais, o Toupeira vai car
comigo e fazer o mesmo, não é, Toupeira?"
“Claro que sim,” disse o Toupeira, lealmente. “Eu
sempre estarei com você, Rato, e o que você disser
será o que faremos—tem que ser.” Ele, no entanto,
acrescentou, com um tom de leve curiosidade: “Mas…
ainda assim, parece que isso até poderia ser… bem,
meio divertido, você sabe!”
Pobre Toupeira! A Vida Aventureira ainda era algo
tão novo e emocionante para ele; e essa nova faceta
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era tão tentadora! Ele tinha se apaixonado à
primeira vista pela caravana amarela-canário e por
todas as suas conveniências adoráveis.
O Rato percebeu o que estava se passando na
cabeça do Toupeira e hesitou. Ele odiava decepcionar
os outros, e gostava muito do Toupeira. Ele faria
quase qualquer coisa para agradá-lo.
O Sapo observava os dois atentamente.
“Venham almoçar,” disse diplomático, “e conversamos
sobre isso. Não precisamos decidir nada com pressa.
Claro que não me importo de verdade. Só quero dar
prazer aos meus amigos. ‘Viver para os outros!’ Esse
é o meu lema na vida."
Durante o almoço—que foi, como sempre no Salão de
Sapo, excelente—o Sapo deixou-se levar
completamente. Ignorando o Rato, ele passou a
trabalhar a imaginação do inexperiente Toupeira
como se estivesse tocando uma harpa. Naturalmente
um animal tagarela e sempre dominado pela sua
imaginação, o Sapo descreveu os prazeres da vida na
estrada com cores tão vibrantes que o Toupeira mal
conseguia se manter na cadeira de tanta excitação.
De algum modo, logo parecia que a viagem era uma
coisa decidida entre os três. O Rato, ainda sem estar
convencido de verdade, permitiu que sua gentileza
superasse suas objeções pessoais. Ele não suportava
desapontar seus dois amigos, que já estavam
profundamente envolvidos nos planos, pensando em
cada atividade dos dias e várias semanas à frente.
Quando estavam prontos, o agora vitorioso Sapo
levou seus companheiros ao pasto e os fez capturar
o velho cavalo cinzento—que, na ausência de qualquer
consulta, e para seu grande aborrecimento, tinha
sido designado pela autoridade do Sapo para a mais
tediosa tarefa dessa expedição empoeirada. O cavalo
preferia francamente o pasto e deu bastante
trabalho para ser pego. Enquanto isso, o Sapo
apertava ainda mais os armários com necessidades,
pendurava sacos de ração, redes de cebolas, fardos
de feno e cestas na parte de baixo da caravana.
Por m, o cavalo foi pego e o Sapo o atrelou, e eles
partiram, falando todos de uma só vez. Cada animal
caminhava ao lado da caravana ou sentava-se nos
braços do eixo, de acordo com seu humor. Era uma
tarde dourada. O cheiro da poeira que erguiam ao
caminhar era agradável e saciante; os pássaros, nas
grossas sebes ao longo da estrada, chamavam e
assoviavam alegremente para eles. Os viajantes que
passavam lhes desejavam "Bom dia," ou paravam para
elogiar a beleza de sua caravana, e os coelhos,
sentados às suas portas nas cercanias, erguiam as
patinhas dianteiras e diziam: "Oh, céus! Oh, céus! Oh,
céus!"
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Já tarde da noite, cansados e felizes, a muitas
milhas de casa, eles pararam em um descampado
remoto, longe de qualquer habitação, soltaram o
cavalo para pastar e jantaram uma refeição simples
ao lado da caravana, sentados no gramado. O Sapo
falou bastante sobre tudo o que ele faria nos dias
que viriam, enquanto as estrelas cresciam ao redor
deles e uma lua amarelo-ouro, silenciosa, surgia de
lugar algum para lhes fazer companhia e escutar
suas conversas.
Finalmente, eles foram para suas camas na caravana.
O Sapo, esticando as pernas, disse sonolento: "Bem,
boa noite, pessoal! Esta é a vida de um verdadeiro
cavalheiro! Falar sobre o seu velho rio!"
"Eu não falo sobre meu rio," respondeu o paciente
Rato. “Você sabe que eu não falo, Sapo. Mas eu
penso nele," ele acrescentou pateticamente, em um
tom mais baixo: "Eu penso nele o tempo todo!"
O Toupeira esticou a pata debaixo de seu cobertor,
tateou até alcançar a pata do Rato na escuridão e a
apertou. "Vou fazer o que você quiser, Ratinho,"
sussurrou ele. "Vamos fugir amanhã de manhã, bem
cedo—muito cedo—e voltar ao nosso querido amigo
buraco no rio?"
“Não, não. Vamos aguentar,” sussurrou de volta o Rato.
“Obrigado, mas eu devo car com o Sapo até esta
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viagem acabar. Não seria seguro deixá-lo sozinho.
Não vai demorar muito. As manias dele nunca duram.
Boa noite!”
Mas o m estava mais próximo do que o próprio Rato
suspeitava.
Depois de tanto ar fresco e tanta excitação o Sapo
dormiu profundamente, e nenhuma quantidade de
sacudidas poderia tirá-lo da cama na manhã
seguinte. Assim, o Toupeira e o Rato encararam a
tarefa com disciplina. O Rato cuidou do cavalo,
acendeu a fogueira, limpou as xícaras e pratos da
noite anterior e preparou o café da manhã, enquanto
o Toupeira foi caminhando até a aldeia mais próxima
—bem distante—para buscar leite, ovos e outras
coisas que o Sapo, obviamente, tinha esquecido de
providenciar.
O duro trabalho já estava feito, e os dois animais
estavam descansando, completamente exaustos,
quando o Sapo nalmente apareceu, todo fresco e
animado, comentando sobre como a vida era fácil e
agradável, agora que haviam deixado para trás as
preocupações e fadigas da vida doméstica.
Aquele dia foi passado em outro passeio agradável
por colinas e estradas de terra, com repouso ao ar
livre como antes. Contudo, dessa vez, seus
companheiros tomaram cuidado para que Sapo
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zesse sua justa parte no trabalho cotidiano.
Consequentemente, quando chegou o momento de
partir na manhã seguinte, o entusiasmo de Sapo pela
simplicidade da vida primitiva já não era o mesmo.
Na verdade, ele tentou retomar seu lugar no beliche,
de onde foi tirado à força.
Seu caminho os levou, como antes, por estradas
estreitas, e foi só na tarde do segundo dia que eles
nalmente encontraram a estrada principal. Foi lá
que o desastre, repentino e inesperado, os encontrou
—um desastre de proporções momentosas para a
expedição e extraordinário nas consequências para a
carreira futura do Sapo.
Eles estavam caminhando descontraidamente pela
estrada principal, com o Toupeira ao lado do cavalo,
conversando com ele — já que o cavalo, num
momento de queixa solene, tinha reclamado de estar
sendo terrivelmente deixado de fora da conversa —
enquanto o Sapo e o Rato caminhavam atrás da
caravana, conversando, ou melhor, o Sapo falava, e o
Rato, de vez em quando, murmurava algo como "Sim,
exatamente; e o que você respondeu a ele?",
enquanto na verdade pensava em algo completamente
diferente.
Foi então que, ao longe, atrás deles, ouviram um leve
zumbido que soava como o ronco distante de uma
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abelha. Ao olharem para trás, viram uma pequena
nuvem de poeira se aproximando a uma velocidade
incrível, com um sombrio e energizado núcleo no
centro, enquanto um fraco “Poop-poop!” se fez ouvir,
como o lamento distante de um animal a ito.
Inicialmente, eles não prestaram muita atenção e
voltaram à sua conversa, mas num instante (ou pelo
menos pareceu assim), a cena tranquila transformou-
se completamente. Com um estrondo de vento e um
redemoinho de sons, a causa daquele “Poop-poop!”
estava em cima deles! O barulho metálico zunia em
seus ouvidos, forçando-os a pular para o lado da
estrada, enquanto eram engolfados numa nuvem de
poeira muito espessa. O brilho do sol re etindo no
vidro e no couro ricamente bordado lhes roubou o
fôlego; e em questão de segundos, o carro passou
por eles como um furacão.
O cavalo velho, que caminhava lentamente enquanto
sonhava com seu pássaro cinza e o sossego do pasto,
simplesmente entregou-se aos seus instintos mais
primitivos nessa nova e surpreendente situação. Ele
pulou, revirou-se, e apesar de todos os esforços do
Toupeira para controlá-lo, começou a dar ré,
empurrando a caravana em direção à valeta ao lado
da estrada. O carro oscilou por um instante e, com
um som estridente de rachadura, a bela caravana
fl
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amarela-canário virou e caiu na valeta,
completamente destruída.
O Rato, tomado por uma fúria incontida, começou a
pular no meio da estrada. "Seus bandidos!" ele
gritou, sacudindo os punhos no ar. "Seus canalhas,
salteadores de estrada, roedores de asfalto! Eu vou
processá-los! Vou levá-los a todos os tribunais!"
A saudade do seu rio já se dissipara de sua mente, e
agora ele agia como o capitão de um navio
naufragado por rivais piratas no mar, tentando
lembrar todas as frases mordazes que ele costumava
proferir contra os mestres dos barcos a vapor
quando eles passavam muito perto de sua amada
margem, inundando sua sala de estar.
O Sapo, entretanto, sentou-se imediatamente no meio
da estrada, suas pernas esticadas para frente, com
um olhar vago e enlevado no rosto, murmurando
repetidamente para si mesmo: "Poop-poop!"
O Toupeira estava ocupado tentando acalmar o
cavalo, e após algum tempo conseguiu. Ele então foi
até a caravana caída na valeta e olhou para o
desastre. Era uma visão desoladora: painéis
quebrados, janelas estilhaçadas, eixos dobrados sem
possibilidade de conserto, uma roda completamente
destruída, e as latinhas de sardinha espalhadas por
todo lugar. O passarinho na gaiola choramingava,
pedindo para ser solto.
O Rato juntou-se a ele e, apesar de unirem forças,
seus esforços foram inúteis para endireitar a
caravana caída. "Sapo!" gritaram juntos. "Venha nos
ajudar, não pode?"
O Sapo não respondeu nada, nem fez o menor
movimento. Então, eles se aproximaram para ver o
que havia de errado. Encontraram-no em um tipo de
transe, com um sorriso sonhador no rosto, os olhos
ainda xos na poeira deixada pelo carro que já
desaparecera. De tempos em tempos, ainda
murmurava "Poop-poop!"
O Rato o sacudiu pelos ombros. "Você vem nos
ajudar, Sapo?" perguntou ele, severamente.
"Glorioso, emocionante espetáculo!" murmurou o
Sapo, sem se mexer. "A poesia do movimento! A
verdadeira maneira de viajar! Hoje aqui—amanhã em
outro lugar! Terras e vilas voando pra trás, sempre o
horizonte de outro alguém! Ah, que maravilha! Poop-
poop! Meu Deus! Meu Deus!"
"Ah, pare de ser um idiota, Sapo!" gritou o Toupeira,
desesperadamente.
"Eu nunca soube!" continuou o Sapo, no mesmo tom
sonhador, "Todos esses anos desperdiçados, eu nunca
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soube, nem mesmo sonhei! Mas agora—agora que eu
sei! Agora que eu entendo por completo! Oh, que
caminho orido se abre diante de mim! Que nuvens
de poeira vou deixar para trás ao avançar! Que
carrinhos eu jogarei descuidadamente nas valetas
com meu avanço magní co! Carrinhos horríveis—
carrinhos comuns—carrinhos amarelo-canário!"
"O que fazemos com ele?" perguntou o Toupeira ao
Rato.
"Nada," respondeu o Rato, rmemente. "Porque
realmente não há nada a ser feito. Eu o conheço há
muito tempo. Ele está de novo tomado por uma de
suas manias. E sempre o afeta assim, no estágio
inicial. Ele cará assim por dias, como um animal
sonhando acordado, completamente inútil para
qualquer m prático. Deixe-o aí. Vamos ver o que
pode ser feito em relação à caravana."
Após inspecionar cuidadosamente, perceberam que,
mesmo se conseguissem colocá-la de pé, a caravana
não poderia mais ser puxada. Os eixos estavam
irremediavelmente dani cados, e a roda quebrada
estava em pedaços.
O Rato amarrou as rédeas do cavalo nas suas costas,
pegou a gaiola com o inquieto pássaro em uma das
mãos e disse, rmemente ao Toupeira: "Vamos
embora! A cidade mais próxima ca a cinco ou seis
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milhas, e teremos que ir a pé. Quanto mais cedo
começarmos, melhor."
"Mas, e o Sapo?" perguntou o Toupeira, ansioso,
enquanto começaram a caminhar. "Não podemos
deixá-lo aqui, sentado no meio da estrada nesse
estado de distração! Não é seguro. E se outro veículo
aparecer?"
"Ah, esqueça o Sapo," disse o Rato, furioso. "Eu já
cansei dele!"
Contudo, não tinham andado muito quando ouviram
passos rápidos atrás deles, e o Sapo os alcançou,
pegando o braço de ambos, com o olhar ainda
distante e respiração ofegante.
"Agora, escute aqui, Sapo!" começou o Rato,
severamente. "Assim que chegarmos à cidade, você
vai ter de ir direto à delegacia de polícia, ver se
sabem algo sobre aquele carro e a quem pertence, e
registrar uma queixa contra ele. E então terá que ir
ao ferreiro ou ao carpinteiro arranjar o conserto da
caravana. Levará algum tempo, mas o estrago não é
totalmente irreparável. Enquanto isso, o Toupeira e eu
vamos procurar um hotel e arranjar quartos
confortáveis até que tudo esteja resolvido e suas
emoções tenham se acalmado."
"Delegacia de polícia! Queixa!" murmurou o Sapo,
sonhadoramente. "Eu? Queixar-me daquela visão
maravilhosa, daquela visão celestial que me foi
concedida! Consertar a caravana? Acabei com as
caravanas para sempre. Eu nunca mais quero ver,
nem ouvir falar de caravanas. Oh, Rato! Não sabe o
quanto sou grato por você ter aceito vir nesta
viagem! Eu não teria vindo sem você, e então, talvez
nunca teria visto aquele... aquele cisne, aquele raio
de sol, aquele trovão! Eu devo tudo a você, meu
melhor amigo!"
O Rato virou o rosto, em desespero. "Viu só?" ele
disse ao Toupeira, falando por cima da cabeça do
Sapo. "Ele está completamente fora de si. Desisto.
Quando chegarmos à cidade, vamos direto à estação
de trem, e, com alguma sorte, pegaremos um trem
de volta para casa ainda esta noite. E se algum dia
me vir novamente em uma aventura com este animal
provocador..." Ele parou de falar, bufando, e pelo
resto da caminhada falou apenas com o Toupeira.
Quando chegaram à cidade, foram direto à estação e
deixaram o Sapo na sala de espera de segunda
classe, pagando ao porteiro dois centavos para
manter um olho atento nele. Em seguida, deixaram o
cavalo em uma estrebaria de uma pousada e deram
as instruções sobre a caravana e seus pertences da
melhor forma que puderam.
Por m, um trem lento os deixou em uma estação
não muito longe do Vila do Sapo, e eles escoltaram o
enfeitiçado e sonâmbulo Sapo até sua porta,
colocaram-no para dentro e instruíram a governanta
que o alimentasse, o despisse e o colocasse na cama.
Então, tiraram seu barco do local de guarda,
navegaram pelo rio de volta para casa, e, já bem
tarde da noite, sentaram-se para jantar no seu
aconchegante salão à beira-rio, para grande alegria
e contentamento do Rato.
Na noite seguinte, o Toupeira, que acordou tarde e
passou o dia relaxando, estava sentado na margem,
pescando, quando o Rato apareceu, já tendo visitado
os amigos e trocado fofocas. “Já ouviu as
novidades?” ele disse. "Não se fala de outra coisa em
toda a margem do rio. O Sapo foi bem cedo hoje até
a cidade. E ele encomendou um carro—grande e
muito caro."

Capítulo 3: O Bosque Selvagem

O Toupeira há muito tempo queria conhecer o Texugo.


Ele parecia, por todas as contas, ser um animal
muito importante e, embora raramente visível, fazer
com que sua in uência invisível fosse sentida por
todos ao seu redor. Mas sempre que o Toupeira
mencionava seu desejo ao Rato do Rio, ele sempre
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encontrava uma desculpa. "Está tudo bem," diria o
rato. "O Texugo vai aparecer algum dia - ele sempre
aparece - e então eu vou apresentá-lo a você. O
melhor dos caras! Mas você não pode apenas levá-lo
como você o encontra, mas quando você o encontra."
"Você não pode convidá-lo para jantar ou algo
assim?" perguntou o Toupeira.
"Ele não viria," respondeu o rato simplesmente. "O
Texugo odeia a sociedade, e convites, e jantares, e
todas essas coisas."
"Bem, então, supondo que vamos visitá-lo?" sugeriu o
Toupeira.
"Oh, estou seguro de que ele não gostaria disso de
jeito nenhum," disse o rato, alarmado. "Ele é muito
tímido, ele certamente se ofenderia. Eu nunca me
atrevi a visitá-lo em sua própria casa, embora eu o
conheça tão bem. Além disso, não podemos. É
completamente fora de questão, porque ele mora no
meio da Floresta Selvagem."
"Bem, supondo que ele faça isso," disse o Toupeira.
"Você me disse que a Floresta Selvagem era tudo
bem, você sabe."
"Oh, eu sei, eu sei, é assim," respondeu o rato de
forma evasiva. "Mas acho que não vamos lá agora.
Não agora. É um longo caminho, e ele não estaria em
casa nesta época do ano de qualquer forma, e ele
virá algum dia, se você esperar pacientemente."
O Toupeira teve que se contentar com isso. Mas o
Texugo nunca veio, e todos os dias traziam seus
próprios prazeres, e não foi até que o verão passou
há muito tempo, e o frio e a geada e os caminhos
lamacentos os mantiveram muito dentro de casa, e o
rio inchado corria rápido fora das janelas com uma
velocidade que zombava de qualquer tipo de
navegação, que ele encontrou seus pensamentos
voltando com muita persistência para o Texugo
cinzento solitário, que vivia sua própria vida sozinho,
em seu buraco no meio da Floresta Selvagem.
No inverno, o rato dormia muito, se retirando cedo e
se levantando tarde. Durante seu curto dia, ele às
vezes escrevia poesia ou fazia outros pequenos
trabalhos domésticos em casa; e, claro, sempre havia
animais que apareciam para conversar, e
consequentemente havia muita troca de histórias e
comparação de notas sobre o verão passado e todas
as suas atividades.
Que capítulo rico havia sido, quando se olhava para
trás! Com ilustrações tão numerosas e tão coloridas!
A procissão da margem do rio havia marchado
rmemente, desdobrando-se em cenas que se
sucediam em procissão majestosa. A erva-roxa
fi
chegou cedo, sacudindo mechas luxuriantes e
emaranhadas ao longo da borda do espelho de onde
seu próprio rosto ria de volta para ele. A erva-de-
São-João, terna e saudosa, como uma nuvem rosa no
pôr do sol, não demorou a seguir. A consolda, a roxa
de mãos dadas com a branca, rastejou para tomar
seu lugar na linha; e nalmente, uma manhã, a rosa
silvestre tímida e atrasada pisou delicadamente no
palco, e sabia-se, como se a música de cordas tivesse
anunciado em acordes majestosos que vagavam em
uma gavota, que junho nalmente havia chegado. Um
membro da companhia ainda era esperado; o
pastorzinho para as ninfas cortejarem, o cavaleiro
para quem as senhoras esperavam na janela, o
príncipe que iria beijar o verão adormecido de volta
à vida e ao amor. Mas quando a rainha-dos-prados,
deslumbrante e perfumada em jaqueta de âmbar, se
moveu graciosamente para seu lugar no grupo, então
a peça estava pronta para começar.
E que peça havia sido! Animais sonolentos,
confortáveis em seus buracos enquanto o vento e a
chuva batiam em suas portas, ainda lembravam das
manhãs claras, uma hora antes do nascer do sol,
quando a névoa branca, ainda não dispersa, se
agarrava ao longo da superfície da água; então o
choque do mergulho cedo, a corrida ao longo da
margem, e a transformação radiante da terra, do ar
fi
fi
e da água, quando de repente o sol estava com eles
novamente, e o cinzento era ouro e a cor nascia e
saltava da terra mais uma vez. Eles lembravam da
sesta langorosa do meio-dia quente, profunda na
vegetação verde, o sol atingindo em pequenos feixes
de ouro e manchas; a navegação e o banho da tarde,
as caminhadas ao longo de estradas poeirentas e
através de campos de milho amarelos; e a longa noite
fresca, nalmente, quando tantos os eram reunidos,
tantas amizades arredondadas, e tantas aventuras
planejadas para o amanhã. Havia muito o que
conversar naqueles curtos dias de inverno, quando os
animais se encontravam ao redor do fogo; ainda
assim, o Toupeira tinha muito tempo livre em suas
mãos, e assim, certa tarde, quando o rato em sua
poltrona diante do fogo estava alternadamente
cochilando e tentando rimas que não funcionavam,
ele formou a resolução de sair sozinho e explorar a
Floresta Selvagem, e talvez fazer amizade com o Sr.
Texugo.
Era uma tarde fria e silenciosa, com um céu duro
como aço acima, quando ele saiu do aconchegante
salão para o ar livre. O país estava nu e
completamente sem folhas ao seu redor, e ele pensou
que nunca havia visto tão longe e tão intimamente o
interior das coisas como naquele dia de inverno,
quando a natureza estava profundamente
fi
fi
adormecida e parecia ter chutado as roupas para
fora. Bosques, vales, pedreiras e todos os lugares
escondidos, que haviam sido minas misteriosas para
exploração no verão folhoso, agora se expunham e
seus segredos se mostravam pateticamente, e
pareciam pedir-lhe que desse uma olhada em sua
pobreza maltrapilha por um tempo, até que
pudessem se rebelar em um rico disfarce como antes,
e enganar e seduzir com as velhas ilusões. Era
lamentável de certa forma, e no entanto animador -
até mesmo estimulante. Ele estava feliz por gostar do
país sem enfeites, duro e despojado de sua
elegância. Ele havia chegado aos ossos nus dele, e
eles eram nos e fortes e simples. Ele não queria o
trevo quente e o jogo das gramíneas que lançavam
sementes; as telas de sebe, a tapeçaria ondulante de
faia e olmo pareciam melhores longe; e com grande
alegria de espírito, ele avançou em direção à Floresta
Selvagem, que jazia diante dele, baixa e ameaçadora,
como um recife negro em algum mar meridional
tranquilo.
Não havia nada para alarmá-lo na primeira entrada.
Galhos estalavam sob seus pés, troncos o
tropeçavam, fungos em tocos pareciam caricaturas, e
o assustaram por um momento por sua semelhança
com algo familiar e distante; mas isso era tudo
diversão, e emocionante. Isso o levou a continuar, e
fi
ele penetrou até onde a luz era menor, e as árvores
se agachavam mais e mais perto, e buracos faziam
bocas feias para ele de ambos os lados.
Tudo estava muito parado agora. O crepúsculo
avançava sobre ele rmemente, rapidamente,
reunindo-se atrás e à frente; e a luz parecia estar
drenando como água de inundação.
Então os rostos começaram.
Foi por cima do ombro, e de forma indistinta, que ele
primeiro pensou que viu um rosto; um pequeno rosto
em forma de cunha, com olhos duros, olhando para
ele de um buraco. Quando ele se virou e o
confrontou, a coisa havia desaparecido.
Ele acelerou o passo, dizendo a si mesmo
alegremente para não começar a imaginar coisas, ou
não haveria m para isso. Ele passou por outro
buraco, e outro, e outro; e então - sim! - não! - sim!
- certamente um pequeno rosto estreito, com olhos
duros, havia piscado para ele por um instante de um
buraco, e havia desaparecido. Ele hesitou - se
recompôs para um esforço e prosseguiu. Então, de
repente, e como se tivesse sido assim o tempo todo,
cada buraco, longe e perto, e havia centenas deles,
parecia possuir um rosto, indo e vindo rapidamente,
todos xando nele olhares de malícia e ódio: todos
de olhos duros e maus e a ados.
fi
fi
fi
fi
Se ele pudesse apenas se afastar dos buracos nas
margens, pensou, não haveria mais rostos. Ele saiu do
caminho e mergulhou nos lugares não trilhados da
oresta.

Então o assobio começou.


fl
Era muito fraco e agudo, e estava muito atrás dele,
quando ele o ouviu pela primeira vez; mas de alguma
forma isso o fez apressar o passo. Então, ainda muito
fraco e agudo, soou muito à frente dele, e o fez
hesitar e querer voltar. Enquanto ele parou em
indecisão, ele explodiu de ambos os lados, e parecia
ser pego e passado por toda a extensão da oresta
até seu limite mais distante. Eles estavam alertas e
prontos, evidentemente, quem quer que fossem! E ele
- ele estava sozinho, e desarmado, e longe de
qualquer ajuda; e a noite estava fechando.
Então a pancada começou.
Ele pensou que era apenas folhas caindo no início,
tão leve e delicada era a pancada. Então, à medida
que crescia, ela tomava um ritmo regular, e ele sabia
que não era nada mais do que a pancada de pés
pequenos, ainda muito longe. Estava na frente ou
atrás? Parecia ser primeiro uma coisa, e depois a
outra, então ambas. Cresceu e se multiplicou, até que
de todos os lados, conforme ele ouvia ansiosamente,
inclinando-se para um lado e para o outro, parecia
estar fechando-se em torno dele. Enquanto ele
estava parado para ouvir, um coelho veio correndo
em sua direção através das árvores. Ele esperou,
esperando que ele reduzisse a velocidade, ou que
desviasse dele para um curso diferente. Em vez disso,
o animal quase o escovou ao passar, seu rosto
fl
de nido e duro, seus olhos xos. "Sai daqui, seu tolo,
sai!" o Toupeira ouviu-o murmurar enquanto ele
girava em torno de um toco e desaparecia em uma
toca amigável.
A pancada aumentou até que soou como granizo
repentino no tapete de folhas secas espalhado ao
seu redor. Toda a oresta parecia estar correndo
agora, correndo forte, caçando, perseguindo,
fechando-se em torno de algo ou - alguém? Em
pânico, ele começou a correr também, sem rumo, ele
não sabia para onde. Ele correu contra coisas, caiu
sobre coisas e em coisas, mergulhou sob coisas e
desviou-se de coisas. Por m, ele se refugiou na
caverna profunda e escura de uma velha árvore de
faia, que oferecia abrigo, esconderijo - talvez até
segurança, mas quem poderia dizer? De qualquer
forma, ele estava cansado demais para correr mais, e
só podia se aconchegar nas folhas secas que haviam
caído na caverna e esperar que estivesse seguro por
um tempo. E enquanto ele jazia ali, ofegante e
tremendo, e ouvia os assobios e as pancadas do lado
de fora, ele sabia en m, em toda a sua plenitude,
aquela coisa terrível que outros pequenos moradores
de campo e sebes haviam encontrado ali, e conhecido
como seu momento mais sombrio - aquela coisa que o
rato havia tentado em vão protegê-lo - o Terror da
Floresta Selvagem!
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fl
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fi
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Enquanto isso, o rato, quente e confortável, cochilava
ao lado do fogo. Seu papel de versos inacabados
escorregou de seu joelho, sua cabeça caiu para trás,
sua boca se abriu, e ele vagou pelas margens
verdejantes de rios de sonho. Então um carvão
escorregou, o fogo estalou e mandou uma chama
para cima, e ele acordou com um sobressalto.
Lembrou-se do que estava fazendo, estendeu a mão
para o chão para seus versos, examinou-os por um
minuto, e então olhou em volta para o Toupeira para
perguntar se ele sabia uma boa rima para algo ou
outro.
Mas o Toupeira não estava lá.
Ele ouviu por um tempo. A casa parecia muito quieta.
Então ele chamou "Moly!" várias vezes, e, não
recebendo resposta, levantou-se e saiu para o
saguão.
O chapéu do Toupeira estava faltando de seu gancho
habitual. Suas galochas, que sempre estavam ao lado
do suporte de guarda-chuva, também haviam
desaparecido.
O rato saiu da casa e examinou cuidadosamente a
superfície lamacenta do solo do lado de fora,
esperando encontrar as pegadas do Toupeira. Lá
estavam elas, com certeza. As galochas eram novas,
compradas para o inverno, e os calombos em suas
solas eram frescos e a ados. Ele podia ver as
impressões deles na lama, seguindo em linha reta e
determinada, levando diretamente à Floresta
Selvagem.
O rato parecia muito grave, e cou em profunda
re exão por um ou dois minutos. Então ele voltou
para a casa, prendeu um cinto ao redor da cintura,
en ou um par de pistolas nele, pegou um porrete
grosso que estava em um canto do saguão, e partiu
em direção à Floresta Selvagem em um ritmo rápido.
Já estava escurecendo quando ele alcançou a
primeira franja de árvores e mergulhou sem hesitar
na oresta, olhando ansiosamente para ambos os
lados para algum sinal de seu amigo. Aqui e ali,
rostos malvados e pequenos surgiram de buracos, mas
desapareceram imediatamente à vista do animal
valente, suas pistolas e o grande porrete feio em seu
punho; e o assobio e a pancada, que ele havia ouvido
muito claramente em sua primeira entrada, morreram
e cessaram, e tudo cou muito quieto. Ele fez seu
caminho corajosamente através da extensão da
oresta, até sua borda mais distante; então,
abandonando todos os caminhos, ele se dispôs a
atravessá-la, trabalhando laboriosamente sobre todo
o solo, e o tempo todo chamando alegremente, "Moly,
fl
fl
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fl
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Moly, Moly! Onde você está? Sou eu - sou o velho
Rato!"
Ele havia caçado pacientemente através da oresta
por uma hora ou mais, quando nalmente, para sua
alegria, ouviu um pequeno grito de resposta.
Guiando-se pelo som, ele fez seu caminho através da
escuridão crescente até o pé de uma velha árvore
de faia, com um buraco nela, e de dentro do buraco
veio uma voz fraca, dizendo "Rato! É você mesmo?"
O rato rastejou para a caverna, e lá encontrou o
Toupeira, exausto e ainda tremendo. "Oh, Rato!" ele
gritou, "Eu estou tão assustado, você não pode
imaginar!"
"Oh, eu entendo perfeitamente," disse o rato de
forma tranquilizadora. "Você não deveria ter ido e
feito isso, Mole. Eu z o meu melhor para mantê-lo
longe disso. Nós, os moradores da margem do rio,
raramente vamos lá sozinhos. Se tivermos que ir,
vamos em pares, pelo menos; então estamos
geralmente bem. Além disso, há cem coisas que você
precisa saber, que entendemos e você não, ainda.
Quero dizer, senhas, e sinais, e ditados que têm
poder e efeito, e plantas que você carrega no bolso,
e versos que você repete, e truques e artifícios que
você pratica; todos simples o su ciente quando você
os conhece, mas eles precisam ser conhecidos se
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você for pequeno, ou você encontrará problemas.
Claro que se você fosse o Sr. Texugo ou o Sr. Lontra,
seria outra coisa."
"Certamente o corajoso Sr. Sapo não se importaria
em ir lá sozinho, não é?" perguntou o Toupeira.
"O velho Sapo?" disse o rato, rindo cordialmente. "Ele
não mostraria sua cara lá sozinho, não por um
chapéu cheio de guinéus de ouro, o Sapo não
mostraria."
O Toupeira foi muito animado pelo som da risada
despreocupada do rato, bem como pela visão de seu
porrete e suas pistolas brilhantes, e ele parou de
tremer e começou a se sentir mais corajoso e mais
ele mesmo novamente.
"Agora então," disse o rato, "nós realmente devemos
nos reunir e fazer um começo para casa enquanto
ainda há um pouco de luz. Não será bom passar a
noite aqui, você entende. Muito frio, por um lado."
"Querido Rato," disse o pobre Toupeira, "eu estou
terrivelmente arrependido, mas estou simplesmente
exausto e é um fato sólido. Você deve me deixar
descansar aqui por um tempo mais, e recuperar
minhas forças, se eu for para casa de todo."
"Oh, tudo bem," disse o rato de bom coração,
"descanse. Está quase completamente escuro agora,
de qualquer forma; e deve haver um pouco de lua
mais tarde."
Então o Toupeira se aconchegou nas folhas secas e
se esticou, e logo caiu no sono, embora de um tipo
quebrado e perturbado; enquanto o rato se cobria
também, tanto quanto possível, para se aquecer, e
esperava pacientemente, com uma pistola em sua
pata.
Quando o Toupeira nalmente acordou, muito
revigorado e em seu estado de espírito habitual, o
rato disse, "Agora então! Vou apenas dar uma olhada
lá fora e ver se tudo está quieto, e então nós
realmente devemos partir."
Ele foi até a entrada de seu refúgio e colocou a
cabeça para fora. Então o Toupeira o ouviu dizendo
baixinho para si mesmo, "Olá! olá! aqui - é - um -
vá!"
"O que é, Rato?" perguntou o Toupeira.
"A neve está caindo," respondeu o rato brevemente;
"ou melhor, está descendo. Está nevando forte."
O Toupeira veio e se agachou ao lado dele, e,
olhando para fora, viu a oresta que havia sido tão
terrível para ele em um aspecto completamente
mudado. Buracos, cavidades, poças, armadilhas e
outros perigos negros para o viajante estavam
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fl
desaparecendo rapidamente, e um tapete de fantasia
brilhante estava surgindo em todos os lugares, que
parecia delicado demais para ser pisoteado por pés
rudes. Um pó no enchia o ar e acariciava a
bochecha com um toque picante, e os troncos negros
das árvores se mostravam em uma luz que parecia
vir de baixo.
"Bem, bem, não há nada a fazer," disse o rato, depois
de ponderar. "Nós devemos começar e correr o risco,
suponho. O pior é que eu não sei exatamente onde
estamos. E agora essa neve faz com que tudo pareça
tão diferente."
Realmente fazia. O Toupeira não saberia que era a
mesma oresta. No entanto, eles partiram
corajosamente, e tomaram a linha que parecia mais
promissora, segurando um ao outro e ngindo com
alegria invencível que reconheciam um velho amigo
em cada árvore fresca que os saudava
silenciosamente, ou viam aberturas, lacunas ou
caminhos com uma curva familiar neles, na monotonia
do espaço branco e dos troncos negros das árvores
que se recusavam a variar.
Uma hora ou duas depois - eles haviam perdido toda
a noção de tempo - eles pararam, desanimados,
cansados e sem esperança, e sentaram-se em um
tronco de árvore caído para recuperar o fôlego e
fl
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considerar o que fazer. Estavam doendo de fadiga e
machucados com tombos; eles haviam caído em vários
buracos e se molhado; a neve estava cando tão
profunda que eles mal podiam arrastar suas pernas
através dela, e as árvores estavam mais grossas e
mais parecidas umas com as outras do que nunca.
Parecia não haver m para essa oresta, e nenhum
começo, e nenhuma diferença nela, e, pior de tudo,
nenhuma saída.
"Não podemos sentar aqui por muito tempo," disse o
rato. "Nós teremos que fazer outro esforço e fazer
algo ou outro. O frio é muito terrível para qualquer
coisa, e a neve logo estará muito profunda para nós
atravessarmos." Ele olhou em volta e considerou.
"Olhe aqui," ele prosseguiu, "isso é o que me ocorre.
Há uma espécie de vale lá embaixo na nossa frente,
onde o solo parece todo montanhoso e irregular. Nós
faremos nosso caminho até lá, e tentaremos
encontrar algum tipo de abrigo, uma caverna ou
buraco com um chão seco, fora da neve e do vento, e
lá nós teremos um bom descanso antes de tentarmos
novamente, pois estamos ambos muito cansados. Além
disso, a neve pode parar, ou algo pode aparecer."
Então, mais uma vez, eles se levantaram, e lutaram
para descer até o vale, onde caçaram por uma
caverna ou algum canto que fosse seco e uma
proteção contra o vento cortante e a neve que
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girava. Estavam investigando um dos pedaços
montanhosos que o rato havia mencionado, quando de
repente o Toupeira tropeçou e caiu para a frente em
seu rosto com um guincho.
"Oh, minha perna!" ele gritou. "Oh, minha pobre
canela!" e ele sentou-se na neve e segurou sua
perna com ambas as patas da frente.
"Pobre velho Mole!" disse o rato gentilmente.
"Você não parece estar tendo muita sorte hoje, não
é? Vamos dar uma olhada na perna. Sim," ele
prosseguiu, ajoelhando-se para olhar, "você cortou
sua canela, certamente. Espere até que eu pegue
meu lenço, e eu vou amarrá-lo para você."
"Eu devo ter tropeçado em um galho escondido ou
um toco," disse o Toupeira miseravelmente. "Oh, meu!
Oh, meu!"
"É um corte muito limpo," disse o rato, examinando-o
novamente com atenção. "Isso nunca foi feito por um
galho ou um toco. Parece como se tivesse sido feito
por uma aresta a ada de algo de metal. Engraçado!"
Ele ponderou por um momento, e examinou os montes
e encostas que os cercavam.
"Bem, não importa o que fez isso," disse o Toupeira,
esquecendo sua gramática em sua dor. "Isso dói do
mesmo jeito, seja o que for que fez isso."
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Mas o rato, depois de amarrar cuidadosamente a
perna com seu lenço, havia deixado o Toupeira e
estava ocupado raspando na neve. Ele arranhou e
cavou e explorou, todas as quatro patas trabalhando
diligentemente, enquanto o Toupeira esperava
impacientemente, comentando em intervalos, "Oh,
vamos, Rato!"
De repente, o rato gritou "Hurra!" e depois "Hurra-
uu-uu-uu-uu!" e começou a dançar na neve.
"O que você encontrou, Rato?" perguntou o Toupeira,
ainda cuidando de sua perna.
"Venha e veja!" disse o rato deliciado, enquanto
dançava.
O Toupeira mancou até o local e deu uma boa
olhada.
"Bem," ele disse nalmente, lentamente, "EU VEJO
isso bem o su ciente. Vi a mesma coisa antes, muitas
vezes. Objeto familiar, eu o chamo. Uma raspadeira
de porta! Bem, o que isso é? Por que dançar ao
redor de uma raspadeira de porta?"
"Mas você não vê o que isso signi ca, você - você
animal de cabeça dura?" gritou o rato
impacientemente.
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"Claro que eu vejo o que isso signi ca," respondeu o
Toupeira. "Isso simplesmente signi ca que alguma
pessoa muito descuidada e esquecida deixou sua
raspadeira de porta espalhada no meio da Floresta
Selvagem, exatamente onde é certo que tropece em
todos. Muito desatento da parte dele, eu o chamo.
Quando eu chegar em casa, vou reclamar sobre isso
para - para alguém ou outro, veja se eu não faço!"
"Oh, querido! Oh, querido!" gritou o rato,
desesperado com sua obtusidade. "Isso deve parar.
Nem mais uma palavra, mas raspe - raspe e arranhe
e cave e cave em volta, especialmente nos lados dos
montes, se você quiser dormir seco e quente esta
noite, pois é nossa última chance!"
O rato atacou um banco de neve ao lado deles com
ardor, sondando com seu porrete em todos os lugares
e então cavando com fúria; e o Toupeira raspou
diligentemente também, mais para agradar o rato do
que por qualquer outra razão, pois sua opinião era
que seu amigo estava cando leve demais.
Cerca de dez minutos de trabalho duro, e a ponta do
porrete do rato atingiu algo que soou oco. Ele
trabalhou até que pudesse colocar uma pata através
e sentir; então chamou o Toupeira para vir e ajudá-
lo. Duro no trabalho foram os dois animais, até que
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nalmente o resultado de seus esforços cou em
plena vista do Toupeira atônito e até então incrédulo.
No lado do que parecia ser um banco de neve, estava
uma porta pequena e sólida, pintada de verde
escuro. Um puxador de sino de ferro pendia ao lado,
e abaixo dele, em uma placa de latão pequena,
gravada em letras maiúsculas quadradas, eles podiam
ler com a ajuda da luz da lua
SR. TEXUGO.
O Toupeira caiu para trás na neve por pura surpresa
e deleite. "Rato!" ele gritou em penitência, "você é
um prodígio! Um verdadeiro prodígio, é o que você é.
Eu vejo tudo agora! Você argumentou isso passo a
passo, em sua cabeça sábia, desde o momento em
que eu caí e cortei minha canela, e você olhou para
o corte, e imediatamente sua mente majestosa disse
a si mesma, 'Raspadeira de porta!' E então você se
virou e encontrou a própria raspadeira de porta que
fez isso! Você não parou por aí? Não. Algumas
pessoas teriam cado satisfeitas; mas não você. Sua
inteligência continuou trabalhando. 'Deixe-me apenas
encontrar um capacho,' diz você para si mesmo, 'e
minha teoria está provada!' E claro que você
encontrou seu capacho. Você é tão inteligente,
acredito que você possa encontrar qualquer coisa
que queira. 'Agora,' diz você, 'essa porta existe, tão
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claramente quanto se eu a visse. Não há mais nada a
fazer senão encontrá-la!' Bem, eu li sobre esse tipo
de coisa em livros, mas nunca encontrei isso antes na
vida real. Você deveria ir para onde será
devidamente apreciado. Você é simplesmente
desperdiçado aqui, entre nós."
"Mas como você não tem," interrompeu o rato, de
forma um pouco desagradável, "suponho que você vai
sentar-se na neve a noite toda e conversar?
Levante-se imediatamente e segure aquele puxador
de sino que você vê ali, e toque com força, tão forte
quanto puder, enquanto eu bato!"
Enquanto o rato atacava a porta com seu porrete, o
Toupeira se levantou até o puxador de sino, agarrou-
o e balançou, ambos os pés bem fora do chão, e de
muito longe eles podiam ouvir vagamente um sino
profundo responder.

Capítulo 4: Sr. Texugo

Eles esperaram pacientemente por um tempo que


parecia muito longo, batendo os pés na neve para
manter os pés aquecidos. Finalmente, ouviram o som
de passos lentos e arrastados se aproximando da
porta por dentro. Parecia, como o Toupeira observou
para o Rato, como alguém andando de chinelos que
eram grandes demais para ele e estavam gastos nos
calcanhares; o que era inteligente do Toupeira,
porque era exatamente o que era.
Houve o barulho de uma trava sendo aberta, e a
porta se abriu alguns centímetros, o su ciente para
mostrar um focinho longo e um par de olhos
sonolentos e piscando.
"Agora, na próxima vez que isso acontecer", disse
uma voz rouca e descon ada, "eu estarei muito
zangado. Quem é desta vez, perturbando as pessoas
em uma noite dessas? Fale!"
"Oh, Texugo", gritou o Rato, "deixe-nos entrar, por
favor. É eu, Rato, e meu amigo Toupeira, e nos
perdemos na neve."
"O que, Ratinho, meu querido homenzinho!",
exclamou o Texugo, em uma voz completamente
diferente. "Venham, entrem, ambos, imediatamente.
Vocês devem estar congelados. Bem, eu nunca!
Perdidos na neve! E na Selva Selvagem, também, e a
esta hora da noite! Mas entrem, entrem."
Os dois animais tropeçaram um no outro em sua
ansiedade para entrar, e ouviram a porta se fechar
atrás deles com grande alegria e alívio.
O Texugo, que usava um roupão longo, e cujos
chinelos estavam realmente muito gastos nos
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calcanhares, carregava um castiçal achatado em sua
pata e provavelmente estava a caminho da cama
quando sua chamada soou. Ele olhou bondosamente
para eles e acariciou as cabeças de ambos. "Esta não
é a noite para pequenos animais estarem fora", disse
ele paternalmente. "Eu acho que vocês estiveram
fazendo alguma das suas travessuras novamente,
Ratinho. Mas venham, venham para a cozinha. Há um
fogo excelente lá, e jantar e tudo."
Ele os levou para uma cozinha grande e
aconchegante, com um chão de tijolos vermelhos e
uma lareira larga, onde ardia um fogo de lenha.
Havia dois cantos de lareira atraentes, encaixados na
parede, bem longe de qualquer suspeita de corrente
de ar. Um par de assentos altos e confortáveis, de
frente um para o outro, em cada lado do fogo, davam
mais espaço para sentar-se. No meio da sala, havia
uma longa mesa de madeira simples, colocada sobre
cavaletes, com bancos em cada lado. Em uma das
extremidades, onde uma cadeira de braços estava
empurrada para trás, estavam espalhados os restos
do jantar simples, mas abundante, do Texugo. Fileiras
de pratos limpos brilhavam nas prateleiras do
guarda-louça, no nal da sala, e dos caibros acima
pendiam presuntos, feixes de ervas secas, redes de
cebolas e cestas de ovos.
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O Texugo os empurrou para um assento para se
aquecerem no fogo, e mandou que removessem seus
casacos e botas molhados. Então, ele lhes trouxe
roupões e chinelos, e ele mesmo banhou a perna do
Toupeira com água quente e remendou o corte com
esparadrapo até que a coisa toda cou tão boa
quanto nova, se não melhor.
Quando nalmente estavam bem aquecidos, o Texugo
os chamou para a mesa, onde havia preparado um
banquete. Eles estavam com fome antes, mas quando
realmente viram o jantar que estava preparado para
eles, parecia apenas uma questão de o que eles
deveriam atacar primeiro, onde tudo era tão
atraente, e se as outras coisas esperariam
gentilmente por eles até que tivessem tempo de dar
atenção a elas.
A conversa foi impossível por um longo tempo; e
quando foi lentamente retomada, foi aquele tipo
lamentável de conversa que resulta de falar com a
boca cheia. O Texugo não se importou com esse tipo
de coisa, nem notou os cotovelos na mesa ou todos
falando ao mesmo tempo. Como ele não frequentava
a sociedade, ele tinha a ideia de que essas coisas
não importavam. (Sabemos, é claro, que ele estava
errado, e que ele teve uma visão estreita demais;
porque elas importam muito, embora demorasse muito
para explicar por quê.)
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Ele sentou-se em sua cadeira de braços na cabeceira
da mesa, e assentiu gravemente em intervalos
enquanto os animais contavam sua história; e ele não
parecia surpreso ou chocado com nada, e nunca
disse "Eu disse isso", ou "Exatamente o que eu
sempre disse", ou comentou que eles deveriam ter
feito isso ou aquilo, ou não deveriam ter feito outra
coisa.
Quando o jantar nalmente terminou, e cada animal
sentiu que sua pele estava agora tão apertada
quanto era decentemente seguro, e que, a essa
altura, eles não se importavam com ninguém ou nada,
eles se reuniram em torno das brasas brilhantes do
grande fogo de lenha, e pensaram em como era
agradável estar sentado tão tarde, e tão
independente, e tão cheio; e após terem conversado
por um tempo sobre coisas em geral, o Texugo disse
cordialmente: "Agora, então! conte-nos as notícias do
seu lado do mundo. Como vai o velho Sapo?"
"Ah, de mal a pior", disse o Rato gravemente,
enquanto o Toupeira, empoleirado em um assento e se
aquecendo à luz do fogo, com os calcanhares mais
altos que a cabeça, tentava parecer adequadamente
triste. "Outro desastre apenas na semana passada, e
um ruim. Você vê, ele insistirá em dirigir sozinho, e
ele é completamente incapaz. Se ele apenas
empregasse um animal decente, rme e bem
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treinado, pagasse um bom salário e deixasse tudo
para ele, ele se sairia bem. Mas não; ele está
convencido de que é um motorista nato, e ninguém
pode ensinar-lhe nada; e tudo o mais segue."
"Quantos ele teve?", perguntou o Texugo
sombriamente.
"Desastres, ou máquinas?", perguntou o Rato. "Ah,
bem, é a mesma coisa - com o Sapo. Este é o sétimo.
Quanto aos outros - você sabe aquela garagem dele?
Bem, está cheia - literalmente cheia até o teto - de
fragmentos de carros, nenhum deles maior que o seu
chapéu! Isso explica os outros seis - até onde podem
ser explicados."
"Ele esteve no hospital três vezes", acrescentou o
Toupeira; "e quanto às multas que ele teve de pagar,
é simplesmente terrível pensar nisso."
"Sim, e essa é parte do problema", continuou o Rato.
"O Sapo é rico, todos sabemos; mas ele não é um
milionário. E ele é um motorista terrível, e sem
consideração pela lei e pela ordem. Morto ou
arruinado - é uma das duas coisas, mais cedo ou
mais tarde. Texugo! somos amigos dele - não
deveríamos fazer algo?"
O Texugo pensou profundamente por um momento.
"Agora, vejam!", disse ele nalmente, um pouco
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severamente; "vocês sabem que eu não posso fazer
nada agora?"
Seus dois amigos assentiram, entendendo
perfeitamente o seu ponto. Nenhum animal, de acordo
com as regras da etiqueta animal, é esperado que
faça algo estrenuo, ou heroico, ou mesmo
moderadamente ativo durante a temporada de
inverno. Todos estão sonolentos - alguns realmente
dormindo. Todos estão presos pelo clima, mais ou
menos; e todos estão descansando de dias e noites
árduos, durante os quais cada músculo neles foi
severamente testado, e cada energia foi mantida no
limite máximo.
"Muito bem, então!", continuou o Texugo. "Mas,
quando o ano realmente começar, e as noites forem
mais curtas, e na metade delas você se sentirá
inquieto e querendo estar de pé e fazendo algo ao
nascer do sol, se não antes - vocês sabem! -"
Ambos os animais assentiram gravemente. Eles
sabiam!
"Bem, então", prosseguiu o Texugo, "nós - isto é,
você e eu e nosso amigo Toupeira aqui - nós vamos
levar o Sapo a sério em mãos. Nós não vamos tolerar
bobagens. Nós vamos trazê-lo de volta à razão, à
força se necessário. Nós vamos fazer com que ele
seja um Sapo sensato. Nós vamos - você está
dormindo, Rato!"
"Não eu!", disse o Rato, acordando com um
sobressalto.
"Ele esteve dormindo duas ou três vezes desde o
jantar", disse o Toupeira, rindo. Ele próprio estava se
sentindo bastante desperto e até animado, embora
não soubesse por quê. A razão era, é claro, que ele,
sendo naturalmente um animal subterrâneo por
nascimento e criação, a situação da casa do Texugo
exatamente lhe convinha e o fazia se sentir em casa;
enquanto o Rato, que dormia todas as noites em um
quarto cujas janelas se abriam para um rio ventoso,
naturalmente sentia a atmosfera ainda e opressiva.
"Bem, é hora de todos irmos para a cama", disse o
Texugo, levantando-se e pegando castiçais achatados.
"Venham, vocês dois, e eu vou mostrar-lhes seus
aposentos. E não se apressem amanhã de manhã - o
café da manhã será servido a qualquer hora que
vocês quiserem!"
Ele os conduziu a um quarto longo que parecia
metade quarto de dormir e metade sótão. As
provisões de inverno do Texugo, que de fato eram
visíveis em todos os lugares, ocupavam metade do
quarto - pilhas de maçãs, nabos e batatas, cestas
cheias de nozes e frascos de mel; mas as duas
camas brancas no resto do chão pareciam macias e
convidativas, e a roupa de cama nelas, embora
grosseira, estava limpa e cheirava deliciosamente a
lavanda; e o Toupeira e o Rato, sacudindo suas roupas
em trinta segundos, caíram na cama com grande
alegria e contentamento.
De acordo com as instruções gentis do Texugo, os
dois animais cansados desceram para o café da
manhã muito tarde na manhã seguinte, e encontraram
um fogo brilhante queimando na cozinha, e dois
jovens ouriços sentados em um banco à mesa,
comendo mingau de aveia em tigelas de madeira. Os
ouriços largaram suas colheres, levantaram-se e
abaixaram suas cabeças respeitosamente quando os
dois entraram.
"Ah, sentem-se, sentem-se", disse o Rato
agradavelmente, "e continuem com seu mingau. Onde
vocês dois vieram? Perderam-se na neve, suponho?"
"Sim, por favor, senhor", disse o mais velho dos dois
ouriços respeitosamente. "Meu irmão Billy e eu
estávamos tentando encontrar nosso caminho para a
escola - nossa mãe queria que fôssemos,
independentemente do tempo - e, é claro, nos
perdemos, senhor, e Billy cou assustado e começou
a chorar, sendo jovem e medroso. E, nalmente,
chegamos à porta dos fundos do Sr. Texugo e nos
atrevemos a bater, senhor, porque o Sr. Texugo é um
cavalheiro bondoso, como todos sabem -"
"Entendo", disse o Rato, cortando algumas fatias de
bacon, enquanto o Toupeira colocava alguns ovos em
uma panela. "E como está o tempo lá fora? Você não
precisa me chamar de 'senhor' tanto assim",
acrescentou.
"Oh, terrível, senhor, terrível", disse o ouriço.
"Nenhuma chance de sair para cavalheiros como
vocês hoje."
fi
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"Onde está o Sr. Texugo?", perguntou o Toupeira,
enquanto aquecia a cafeteira diante do fogo.
"O patrão foi para o seu estúdio, senhor", respondeu
o ouriço, "e disse que estaria particularmente
ocupado esta manhã, e que não deveria ser
perturbado de forma alguma."
Essa explicação, é claro, foi completamente
compreendida por todos presentes. O fato é que,
como já foi dito, quando você vive uma vida de
intensa atividade por seis meses do ano, e de sono
comparativo ou real por outros seis, durante este
último período você não pode estar sempre alegando
sono quando há pessoas por perto ou coisas para
fazer. A desculpa ca monótona. Os animais sabiam
muito bem que o Texugo, tendo comido um café da
manhã farto, havia se retirado para seu estúdio e se
acomodado em uma poltrona com as pernas sobre
outra e um lenço de algodão vermelho sobre o rosto,
e estava sendo "ocupado" da maneira usual nesta
época do ano.
A campainha da porta da frente tocou alto, e o Rato,
que estava muito sujo de manteiga de torrada,
mandou Billy, o ouriço menor, ver quem poderia ser.
Houve um som de muita batida no corredor, e logo
Billy voltou na frente do Lontra, que se atirou sobre
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o Rato com um abraço e um grito de saudação
alegre.
"Tire isso!", gaguejou o Rato, com a boca cheia.
"Pensei que fosse encontrar você aqui, sem dúvida",
disse o Lontra alegremente. "Eles estavam todos em
um estado de grande alarme ao longo do banco do
rio quando cheguei esta manhã. Rato nunca esteve
em casa a noite toda - nem o Toupeira também -
algo terrível deve ter acontecido, disseram; e a neve
havia coberto todos os seus rastros, é claro. Mas eu
sabia que quando as pessoas estavam em uma
enrascada, elas geralmente iam ao Texugo, ou então
o Texugo descobria de alguma forma, então vim
direto para cá, através da Selva Selvagem e da neve!
Meu! Foi bom, vindo através da neve enquanto o sol
vermelho estava nascendo e mostrando-se contra os
troncos das árvores negras! Enquanto você
caminhava na quietude, de vez em quando grandes
quantidades de neve deslizavam dos galhos de
repente, com um baque! fazendo você pular e correr
para se abrigar. Castelos e cavernas de neve haviam
surgido do nada durante a noite - e pontes, terraços,
muralhas - eu poderia ter cado e brincado com
elas por horas. Aqui e ali, grandes galhos haviam sido
arrancados pelo peso da neve, e melros pousavam e
saltavam sobre eles de maneira convencida e
presunçosa, como se tivessem feito isso eles mesmos.
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Uma corda desgrenhada de gansos selvagens passou
voando, alto no céu cinzento, e alguns corvos giraram
sobre as árvores, inspecionaram e bateram as asas
para casa com uma expressão de desgosto; mas eu
não encontrei nenhum ser sensato para perguntar as
notícias. Cerca da metade do caminho, encontrei um
coelho sentado em um toco, limpando seu rosto tolo
com as patas. Ele era um animal bastante assustado
quando eu me aproximei por trás e coloquei uma
pata pesada em seu ombro. Eu tive que dar um tapa
na cabeça dele uma ou duas vezes para tirar algum
sentido dele. Finalmente, consegui extrair dele que o
Toupeira havia sido visto na Selva Selvagem na noite
anterior por um deles. Era o assunto das tocas, disse
ele, como o Toupeira, o amigo particular do Sr. Rato,
estava em uma enrascada; como ele havia perdido o
caminho e "Eles" estavam caçando, e estavam
fazendo com que ele corresse em círculos. 'Então,
por que nenhum de vocês fez alguma coisa?'
perguntei. 'Vocês podem não ser abençoados com
cérebros, mas há centenas e centenas de vocês,
grandes, gordos e fortes, e suas tocas correndo em
todas as direções, e vocês poderiam ter levado ele
para dentro e feito com que ele estivesse seguro e
confortável, ou pelo menos tentado.' 'O que, nós?' ele
apenas disse: 'fazer alguma coisa? nós, coelhos?'
Então, eu dei um tapa nele novamente e o deixei.
Não havia mais nada a ser feito. De qualquer forma,
eu havia aprendido algo; e se eu tivesse tido a sorte
de encontrar algum de "Eles", eu teria aprendido
mais - ou eles."
"Você não estava - ah - nervoso?", perguntou o
Toupeira, com um pouco do terror de ontem voltando
a ele com a menção da Selva Selvagem.
"Nervoso?", o Lontra mostrou um conjunto de dentes
brancos e fortes enquanto ria. "Eu daria a eles
nervos se algum deles tentasse algo comigo. Aqui,
Toupeira, frite-me algumas fatias de presunto, como
o bom menino que você é. Estou com uma fome
terrível, e tenho muito a dizer ao Ratinho aqui. Não
o vejo há uma idade."
Então, o bom Toupeira, tendo cortado algumas fatias
de presunto, mandou os ouriços fritá-las, e voltou
para o seu próprio café da manhã, enquanto o Lontra
e o Rato, com as cabeças juntas, conversavam
animadamente sobre o rio, que é um assunto longo e
interminável, como o próprio rio.
Um prato de presunto frito havia acabado de ser
limpo e mandado de volta para mais, quando o Texugo
entrou, bocejando e esfregando os olhos, e
cumprimentou todos em sua maneira quieta e
simples, com perguntas gentis para todos. "Deve
estar quase na hora do almoço", observou ele para o
Lontra. "Melhor parar e almoçar conosco. Você deve
estar com fome, nesta manhã fria."
"Com certeza!", respondeu o Lontra, piscando para o
Toupeira. "A visão desses jovens ouriços gordos se
empanturrando de presunto frito me faz sentir
positivamente faminto."
Os ouriços, que estavam apenas começando a se
sentir com fome novamente após o mingau, e depois
de trabalhar tão duro na fritura, olharam
timidamente para o Sr. Texugo, mas eram tímidos
demais para dizer qualquer coisa.
"Aqui, vocês dois jovens, voltem para casa para sua
mãe", disse o Texugo bondosamente. "Vou mandar
alguém com vocês para mostrar o caminho. Vocês não
precisarão de jantar hoje, eu aposto."
Ele lhes deu seis pence cada um e um tapa na
cabeça, e eles foram embora com muita reverência,
balançando seus chapéus e tocando suas testas.
Logo, todos se sentaram para almoçar juntos. O
Toupeira se viu sentado ao lado do Sr. Texugo, e,
como os outros dois ainda estavam mergulhados em
conversas sobre o rio, das quais nada podia desviá-
los, ele aproveitou a oportunidade para dizer ao
Texugo como tudo se sentia confortável e caseiro
para ele. "Uma vez bem subterrâneo", disse ele,
"você sabe exatamente onde está. Nada pode
acontecer com você, e nada pode chegar até você.
Você é completamente seu próprio mestre, e você
não precisa consultar ninguém ou se importar com o
que dizem. As coisas acontecem todas da mesma
maneira acima, e você as deixa, e não se preocupa
com elas. Quando você quer, você sobe, e lá estão as
coisas, esperando por você."
O Texugo simplesmente sorriu para ele. "Isso é
exatamente o que eu digo", respondeu. "Não há
segurança, ou paz e tranquilidade, exceto no subsolo.
E então, se suas ideias carem maiores e você quiser
expandir - por que, um escava e um raspa, e lá está
você! Se você sente que sua casa é um pouco grande
demais, você fecha um ou dois buracos, e lá está
você novamente! Nenhum construtor, nenhum
comerciante, nenhum comentário passado sobre você
por colegas olhando sobre seu muro, e, acima de
tudo, nenhum clima. Olhe para o Rato, agora. Dois
pés de água de enchente, e ele tem que se mudar
para alojamentos alugados; desconfortável, mal
situado e horrivelmente caro. Pegue o Sapo. Eu não
digo nada contra a casa do Sapo; é a melhor casa
nestas partes, como uma casa. Mas suponha que um
incêndio comece - onde está o Sapo? Suponha que
telhas sejam sopradas, ou paredes afundem ou
rachem, ou janelas sejam quebradas - onde está o
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Sapo? Suponha que os quartos sejam ventosos - eu
odeio uma corrente de ar - onde está o Sapo? Não,
para cima e para fora é bom o su ciente para vagar
e ganhar a vida; mas no subsolo para voltar para
casa - essa é a minha ideia de lar!"
O Toupeira concordou cordialmente; e o Texugo, em
consequência, cou muito amigável com ele. "Quando
o almoço terminar", disse ele, "vou mostrar a todos
vocês este pequeno lugar meu. Posso ver que você
vai apreciá-lo. Você entende o que a arquitetura
doméstica deve ser, você faz."
Depois do almoço, de acordo, quando os outros dois
haviam se acomodado na esquina da lareira e haviam
começado uma discussão acalorada sobre o assunto
de enguias, o Texugo acendeu uma lanterna e pediu
ao Toupeira que o seguisse. Cruzando o corredor, eles
passaram por um dos principais túneis, e a luz
tremeluzente da lanterna deu vislumbres de cada
lado de quartos grandes e pequenos, alguns meros
armários, outros quase tão amplos e imponentes
quanto a sala de jantar do Sapo. Uma passagem
estreita em ângulo reto os levou a outro corredor, e
aqui a mesma coisa foi repetida. O Toupeira cou
espantado com o tamanho, a extensão e as
rami cações de tudo; com o comprimento dos
corredores sombrios, a abóbada sólida das câmaras
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de armazenamento cheias, a alvenaria em todos os
lugares, os pilares, os arcos e os pavimentos.
"Como, em nome de tudo, Texugo", disse ele
nalmente, "você encontrou tempo e força para
fazer tudo isso? É espantoso!"
"Seria espantoso, de fato", disse o Texugo
simplesmente, "se eu tivesse feito isso. Mas, como um
fato, eu não z nada disso - apenas limpei os
corredores e câmaras, até onde eu precisava deles.
Há muito mais disso, tudo ao redor. Eu vejo que você
não entende, e devo explicar a você. Bem, muito
tempo atrás, no local onde a Selva Selvagem agora
ondula, antes de ela ter se plantado e crescido para
o que é agora, havia uma cidade - uma cidade de
pessoas, você sabe. Aqui, onde estamos parados, eles
viviam, e caminhavam, e falavam, e dormiam, e
faziam negócios. Aqui eles estabeleceram seus
cavalos e se banquetaram, daqui eles cavalgaram
para lutar ou dirigiram para comerciar. Eles eram um
povo poderoso e rico, e grandes construtores. Eles
construíram para durar, pois pensavam que sua
cidade duraria para sempre."
"Mas o que aconteceu com todos eles?", perguntou o
Toupeira.
"Quem pode dizer?", disse o Texugo. "As pessoas vêm
- elas cam por um tempo, elas orescem, elas
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constroem - e elas vão. É o jeito delas. Mas nós
permanecemos. Havia Texugos aqui, eu fui informado,
muito antes de aquela cidade vir a ser. E agora há
Texugos aqui novamente. Nós somos um povo
duradouro, e podemos nos mudar por um tempo, mas
esperamos e somos pacientes, e voltamos. E assim
será sempre."
"Bem, e quando eles foram embora, aquelas
pessoas?", disse o Toupeira.
"Quando eles foram", continuou o Texugo, "os ventos
fortes e as chuvas persistentes tomaram o assunto
em mãos, pacientemente, incessantemente, ano após
ano. Talvez nós, Texugos, também, à nossa maneira,
tenhamos ajudado um pouco - quem sabe? Era tudo
para baixo, para baixo, gradualmente - ruína e
aplainamento e desaparecimento. Então era tudo
para cima, para cima, gradualmente, à medida que as
sementes cresciam em árvores jovens, e as árvores
jovens em árvores da oresta, e os espinheiros e os
fetos vinham se insinuando para ajudar. O manto de
folhas subiu e obliterou, os riachos em suas cheias
de inverno trouxeram areia e solo para entupir e
cobrir, e com o tempo nossa casa estava pronta para
nós novamente, e nos mudamos para dentro. Acima
de nós, na superfície, a mesma coisa aconteceu. Os
animais chegaram, gostaram do lugar, se
estabeleceram, se espalharam e oresceram. Eles
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não se preocuparam com o passado - eles nunca
fazem; eles estão ocupados demais. O lugar era um
pouco irregular e cheio de buracos; mas isso era
mais uma vantagem. E eles não se preocupam com o
futuro, tampouco - o futuro quando, talvez, as
pessoas se mudarão novamente por um tempo -
como pode muito bem ser. A Selva Selvagem está
bastante povoada agora; com todo o lote usual, bom,
ruim e indiferente - não cito nomes. É preciso todo
tipo de animal para fazer um mundo. Mas eu imagino
que você saiba algo sobre eles agora."
"Eu sei, de fato", disse o Toupeira, com um leve
arrepio.
"Bem, bem", disse o Texugo, dando um tapinha no
ombro do Toupeira, "foi sua primeira experiência com
eles, você vê. Eles não são tão ruins, realmente; e
todos devemos viver e deixar viver. Mas eu vou
passar a palavra amanhã, e acho que você não terá
mais problemas. Qualquer amigo meu caminha onde
quiser neste país, ou eu saberei o motivo!"
Quando voltaram para a cozinha novamente,
encontraram o Rato andando de um lado para o
outro, muito inquieto. A atmosfera subterrânea
estava oprimindo-o e afetando seus nervos, e ele
parecia realmente temer que o rio fugisse se ele não
estivesse lá para cuidar dele. Então, ele vestiu seu
casaco, e suas pistolas foram empurradas para o
cinto novamente. "Venha, Toupeira", disse ele
ansiosamente, assim que viu os dois. "Temos que sair
enquanto ainda é dia. Não queremos passar outra
noite na Selva Selvagem novamente."
"Está tudo bem, meu caro companheiro", disse o
Lontra. "Estou vindo com você, e eu conheço todos os
caminhos de olhos fechados; e se houver uma cabeça
que precise ser socada, você pode con ar em mim
para socá-la."
"Você realmente não precisa se preocupar, Ratinho",
acrescentou o Texugo placidamente. "Meus túneis
vão mais longe do que você pensa, e eu tenho
buracos de saída para a borda da oresta em várias
direções, embora eu não queira que todos saibam
sobre eles. Quando você realmente tiver que ir, você
sairá por um dos meus atalhos. Enquanto isso, que à
vontade, e sente-se novamente."
O Rato, no entanto, ainda estava ansioso para sair e
cuidar do seu rio, então o Texugo, pegando a
lanterna novamente, os levou por um túnel úmido e
sem ar que se curvava e mergulhava, parte
abobadado, parte cortado na rocha sólida, por uma
distância cansativa que parecia ser de milhas.
Finalmente, a luz do dia começou a aparecer
confusamente através do crescimento emaranhado
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sobre a boca do túnel; e o Texugo, despedindo-se
apressadamente deles, os empurrou para fora pela
abertura, fez com que tudo parecesse natural
novamente, com videiras, arbustos e folhas mortas, e
recuou.
Eles se encontraram parados na borda da Selva
Selvagem. Rochas e espinheiros e raízes de árvores
atrás deles, confusamente empilhados e
emaranhados; à frente, um grande espaço de campos
silenciosos, cercados por leiras de sebes negras na
neve, e, ao longe, um vislumbre do velho rio familiar,
enquanto o sol de inverno pendia vermelho e baixo
no horizonte. O Lontra, sabendo todos os caminhos,
assumiu o comando do grupo, e eles seguiram em
uma linha reta para um portão distante. Parando lá
por um momento e olhando para trás, eles viram a
massa inteira da Selva Selvagem, densa, ameaçadora,
compacta, severamente xada em vastos arredores
brancos; simultaneamente, eles se voltaram e foram
rapidamente para casa, para a luz do fogo e as
coisas familiares que ela iluminava, para a voz,
soando alegremente fora de sua janela, do rio que
eles conheciam e con avam em todos os seus
humores, que nunca os fazia temer com qualquer
espanto.
Enquanto se apressava, ansiosamente antecipando o
momento em que estaria em casa novamente entre
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as coisas que conhecia e gostava, o Toupeira viu
claramente que ele era um animal de campo
cultivado e cerca viva, ligado ao sulco arado, ao
pasto frequentado, à estrada de tardes de verão, ao
jardim cultivado. Para os outros, as asperezas, a
resistência obstinada, ou o choque do con ito real,
que acompanhava a natureza bruta; ele devia ser
sábio, devia manter os lugares agradáveis em que
suas linhas estavam traçadas e que continham
aventura su ciente, à sua maneira, para durar uma
vida.

Capítulo 5: Dulce Domum

As ovelhas corriam amontoadas contra os obstáculos,


soltando baforadas pelas nas narinas e batendo os
delicados cascos dianteiros, com as cabeças jogadas
para trás e um leve vapor subindo do curral lotado
para o ar gelado, enquanto os dois animais passavam
apressadamente, animados, conversando e rindo
muito. Eles retornavam pelo campo após um longo dia
de passeio com a Lontra, caçando e explorando os
amplos planaltos onde certos riachos a uentes de
seu próprio Rio tinham seus primeiros e pequenos
começos; e as sombras do curto dia de inverno se
fechavam sobre eles, e ainda tinham alguma
distância a percorrer. Caminhando a esmo pelo arado,
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ouviram as ovelhas e foram até elas; e agora, saindo
do curral, encontraram um caminho batido que
tornava a caminhada mais leve, e correspondia, além
disso, àquela pequena curiosidade que todos os
animais carregam dentro de si, dizendo
inequivocamente: "Sim, certo; isto leva para casa!"
"Parece que estamos chegando a uma vila", disse a
Toupeira um tanto duvidosa, diminuindo o passo,
enquanto a trilha, que com o tempo se tornara um
caminho e depois se transformara em uma viela,
agora os entregava aos cuidados de uma estrada
bem pavimentada. Os animais não se importavam com
vilas, e suas próprias estradas, por mais
frequentadas que fossem, seguiam um curso
independente, sem levar em conta igreja, correio ou
pub.
"Ah, não importa!" disse o Rato. "Nesta época do ano,
todos estão seguros dentro de casa a essa hora,
sentados ao redor da lareira; homens, mulheres e
crianças, cães e gatos e todos os outros. Vamos
passar direto, sem nenhum incômodo ou problema, e
podemos dar uma olhada neles pelas janelas, se
quiser, e ver o que estão fazendo."
O rápido anoitecer de meados de dezembro já havia
envolvido a pequena vila quando eles se aproximaram
dela com passos suaves sobre uma primeira camada
na de neve pulverulenta. Pouco era visível além de
quadrados de um laranja-avermelhado escuro em
ambos os lados da rua, onde a luz do fogo ou do
lampião de cada chalé transbordava pelas janelas
para o mundo escuro lá fora. A maioria das janelas
baixas com treliças não tinha cortinas, e para quem
olhava de fora, os moradores, reunidos ao redor da
mesa de chá, absortos em trabalhos manuais ou
conversando com risos e gestos, tinham aquela graça
feliz que é a última coisa que o ator habilidoso
consegue capturar - a graça natural que acompanha
a perfeita inconsciência de ser observado. Movendo-
se à vontade de um teatro para outro, os dois
espectadores, tão longe de casa, tinham um quê de
melancolia nos olhos enquanto observavam um gato
sendo acariciado, uma criança sonolenta sendo pega
no colo e levada para a cama, ou um homem cansado
se espreguiçar e bater o cachimbo na ponta de uma
tora fumegante.
Mas foi de uma janelinha, com a cortina fechada,
uma mera transparência em branco na noite, que a
sensação de lar e o pequeno mundo protegido por
paredes - o mundo estressante maior da natureza
exterior excluído e esquecido - mais pulsava. Bem
perto da cortina branca, pendia uma gaiola de
pássaros, claramente silhuetada, cada arame, poleiro
e acessório distintos e reconhecíveis, até mesmo o
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pedaço de açúcar sem graça de ontem. No poleiro do
meio, o ocupante felpudo, com a cabeça bem en ada
nas penas, parecia tão perto deles que poderia ser
facilmente acariciado, se tivessem tentado; até
mesmo as pontas delicadas de sua plumagem fofa
desenhadas claramente na tela iluminada. Enquanto
olhavam, o bichinho sonolento se mexeu inquieto,
acordou, se sacudiu e levantou a cabeça. Eles
puderam ver a abertura de seu pequeno bico
enquanto ele bocejava de maneira entediada, olhava
ao redor e então acomodava a cabeça nas costas
novamente, enquanto as penas eriçadas
gradualmente voltavam à perfeita imobilidade. Então,
uma rajada de vento cortante os atingiu na nuca,
uma pequena picada de granizo congelado na pele os
acordou como de um sonho, e eles perceberam que
seus dedos estavam frios e suas pernas cansadas, e
sua própria casa distante a uma distância cansativa.
Uma vez que passaram pela vila, onde as casas
terminavam abruptamente, em ambos os lados da
estrada, eles puderam sentir o cheiro dos campos
amigáveis novamente através da escuridão; e se
prepararam para o último longo trecho, o trecho
nal, o trecho que sabemos que está destinado a
terminar, em algum momento, com o ruído da
maçaneta da porta, a repentina luz do fogo e a visão
de coisas familiares nos cumprimentando como
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viajantes ausentes há muito tempo, vindos de muito
além do mar. Caminhavam de forma constante e
silenciosa, cada um pensando em seus próprios
pensamentos. Os pensamentos da Toupeira giravam
bastante em torno do jantar, já que estava escuro
como breu, e era tudo um país estranho para ele,
até onde sabia, e ele estava seguindo
obedientemente o Rato, deixando a orientação
inteiramente por conta dele. Quanto ao Rato, ele
caminhava um pouco à frente, como era seu costume,
com os ombros curvados, os olhos xos na estrada
reta e cinzenta à sua frente; então ele não notou a
pobre Toupeira quando de repente o chamado o
alcançou e o atingiu como um choque elétrico.
Nós, outros, que há muito perdemos os sentidos
físicos mais sutis, não temos nem mesmo termos
adequados para expressar as intercomunicações de
um animal com o ambiente, vivo ou não, e temos
apenas a palavra "cheiro", por exemplo, para incluir
toda a gama de vibrações delicadas que murmuram
no nariz do animal noite e dia, chamando, avisando,
incitando, repelindo. Foi um desses misteriosos
chamados de fadas vindos do vazio que de repente
alcançou a Toupeira na escuridão, fazendo-o vibrar
por inteiro com seu apelo tão familiar, mesmo quando
ainda não conseguia se lembrar claramente o que
era. Ele parou imediatamente, seu nariz procurando
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de um lado para o outro em seus esforços para
recapturar o no lamento, a corrente telegrá ca,
que o havia comovido tão fortemente. Um momento, e
ele o capturou novamente; e com ele, desta vez, veio
a lembrança em plena torrente.
Lar! Era isso que signi cavam aqueles apelos
carinhosos, aqueles toques suaves transportados pelo
ar, aquelas mãozinhas invisíveis puxando e
arrastando, todas na mesma direção! Ora, devia estar
bem perto dele naquele momento, sua antiga casa
que ele havia abandonado às pressas e nunca mais
procurado, naquele dia em que encontrou o rio pela
primeira vez! E agora ela estava enviando seus
batedores e mensageiros para capturá-lo e trazê-lo
de volta. Desde sua fuga naquela manhã brilhante,
ele mal havia pensado nisso, tão absorto estava em
sua nova vida, em todos os seus prazeres, suas
surpresas, suas experiências novas e cativantes.
Agora, com uma onda de velhas memórias, como se
erguia claramente diante dele, na escuridão!
Decrépita, de fato, pequena e pobremente mobiliada,
e ainda assim sua, a casa que ele havia construído
para si mesmo, a casa para a qual cava tão feliz em
voltar após o trabalho do dia. E a casa havia sido
feliz com ele também, evidentemente, e estava
sentindo sua falta, e o queria de volta, e estava lhe
dizendo isso, pelo nariz, tristemente, com reprovação,
fi
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mas sem amargura ou raiva; apenas com um lembrete
melancólico de que estava lá, e o queria.
O chamado era claro, o convite era evidente. Ele
devia obedecê-lo instantaneamente e ir. "Ratinho!"
ele chamou, cheio de alegria e entusiasmo, "espere!
Volte! Preciso de você, rápido!"
"Ah, vamos lá, Toupeira, vamos!" respondeu o Rato
alegremente, ainda caminhando.
"Por favor, pare, Ratinho!" implorou a pobre Toupeira,
com angústia no coração. "Você não entende! É
minha casa, minha antiga casa! Acabei de sentir o
cheiro dela, e está perto daqui, muito perto mesmo.
E eu preciso ir até lá, preciso, preciso! Ah, volte,
Ratinho! Por favor, por favor, volte!"
O Rato já estava muito à frente, longe demais para
ouvir claramente o que a Toupeira estava chamando,
longe demais para captar o tom agudo de apelo
doloroso em sua voz. E ele estava muito preocupado
com o clima, pois ele também podia sentir o cheiro
de algo - algo suspeitosamente parecido com neve se
aproximando.
"Toupeira, não podemos parar agora, sério!" ele
respondeu. "Viremos buscá-la amanhã, seja o que
for que você encontrou. Mas não me atrevo a parar
agora - está tarde, e a neve está vindo de novo, e
não tenho certeza do caminho! E eu preciso do seu
nariz, Toupeira, então venha rápido, seja um bom
sujeito!" E o Rato continuou seu caminho sem
esperar por uma resposta.
A pobre Toupeira cou sozinha na estrada, com o
coração dilacerado, e um grande soluço se formando,
se formando, em algum lugar no fundo de seu ser,
para subir à superfície em breve, ele sabia, em uma
fuga apaixonada. Mas mesmo sob um teste como
este, sua lealdade ao amigo se manteve rme. Nem
por um momento ele sonhou em abandoná-lo.
Enquanto isso, as lufadas de sua antiga casa
imploravam, sussurravam, conjuravam e nalmente o
reivindicavam imperiosamente. Ele não ousava mais
demorar dentro de seu círculo mágico. Com um puxão
que rasgou as cordas de seu coração, ele voltou-se
para a estrada e seguiu submisso nos rastros do
Rato, enquanto cheiros fracos e tênues, ainda
perseguindo seu nariz que se afastava, o
repreendiam por sua nova amizade e seu
esquecimento insensível.
Com um esforço, ele alcançou o Rato, que começou a
tagarelar alegremente sobre o que fariam quando
voltassem, como seria agradável uma fogueira na
sala de estar e que jantar ele pretendia comer, sem
nunca notar o silêncio de seu companheiro e seu
estado mental angustiado. Finalmente, no entanto,
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quando haviam percorrido um caminho considerável e
estavam passando por alguns tocos de árvores na
beira de um bosque que margeia a estrada, ele
parou e disse gentilmente, "Olha aqui, Toupeira,
velho amigo, você parece extremamente cansado.
Sem conversa sobrando em você, e arrastando os pés
como chumbo. Vamos sentar aqui por um minuto e
descansar. A neve se conteve até agora, e a melhor
parte da nossa jornada acabou."
A Toupeira arriou-se desolada em um toco de árvore
e tentou se controlar, pois sentiu que estava por vir.
O soluço contra o qual ele havia lutado por tanto
tempo se recusou a ser derrotado. Para cima e para
cima, ele abriu caminho para respirar, e então outro,
e outro, e outros grossos e rápidos, até que a pobre
Toupeira nalmente desistiu da luta, e chorou livre e
desamparada e abertamente, agora que sabia que
tudo havia acabado e que havia perdido o que mal
podia dizer que havia encontrado.
O Rato, surpreso e consternado com a violência do
paroxismo de dor da Toupeira, não se atreveu a falar
por um tempo. Finalmente, ele disse, muito calma e
simpaticamente, "O que foi, meu velho? O que pode
estar acontecendo? Conte-me seu problema, e deixe-
me ver o que posso fazer".
fi
A pobre Toupeira teve di culdades para pronunciar
as palavras entre os espasmos do peito, que vinham
um após o outro tão rapidamente, e retinham e
sufocavam sua fala quando ela a orava. "Eu sei que
é um lugar pequeno, sombrio e dilapidado", ele
soluçou por m, aos pedaços, "não como seus
aposentos aconchegantes - ou o lindo Vila do Sapo -
ou a grande casa do Texugo - mas era minha casinha
própria - e eu gostava dela - e fui embora e me
esqueci de tudo - e de repente senti o cheiro dela -
na estrada, quando liguei e você não quis me ouvir,
Ratinho - e tudo me voltou à lembrança de repente
- e eu queria ela! - Oh, céus, oh, céus! - e quando
você não quis voltar, Ratinho - e eu tive que deixá-
la, embora eu pudesse senti-la o tempo todo -
pensei que meu coração fosse partir em pedaços. -
Podíamos ter ido até lá e dado uma olhada nela,
Ratinho - só uma olhada - era ali perto - mas você
não quis voltar, Ratinho, você não quis voltar! Oh,
céus, oh, céus!"
A lembrança trouxe novas ondas de tristeza, e os
soluços novamente assumiram o controle total dele,
impedindo-o de falar mais.
O Rato olhou xamente para a frente, sem dizer
nada, apenas dando tapinhas suaves no ombro da
Toupeira. Depois de um tempo, ele murmurou,
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sombriamente, "Eu entendo tudo agora! Que porco
eu tenho sido! Um porco - eu sou isso! Um porco!"
Ele esperou até que os soluços da Toupeira se
tornassem gradualmente menos tempestuosos e mais
rítmicos, esperou até que nalmente fungadas
fossem mais frequentes e mais espaçadas. Então se
levantou de seu assento e, observando
displicentemente, "Bem, agora é melhor irmos
andando, velho amigo!", partiu novamente pela
estrada, pelo caminho trabalhoso que haviam
percorrido.
"Onde (hic) você (hic) está indo (hic), Ratinho?"
gritou a chorosa Toupeira, olhando para cima
assustada.
"Estamos indo encontrar sua casa, meu caro",
respondeu o Rato amavelmente, "então é melhor
você vir também, pois vai dar trabalho encontrá-la, e
precisaremos de seu nariz".
"Oh, volte, Ratinho, volte!" gritou a Toupeira,
levantando-se e correndo atrás dele. "Não adianta,
eu te digo! É muito tarde, muito escuro, e o lugar é
muito longe, e a neve está vindo! E - e eu nunca tive
a intenção de deixar você saber que eu estava me
sentindo assim - foi tudo um acidente e um erro! E
pense na Margem do Rio, e no seu jantar!"
fi
"Dane-se a Margem do Rio, e o jantar também!"
disse o Rato de coração. "Eu te digo, vou encontrar
esse lugar agora, mesmo que eu que fora a noite
toda. Então anime-se, meu velho, e pegue meu braço,
e logo voltaremos lá de novo."
Ainda fungando, implorando e relutante, a Toupeira se
deixou arrastar de volta pela estrada por seu
companheiro imperioso, que com um uxo de
conversa alegre e anedotas se esforçava para
reanimá-lo e fazer com que o caminho cansativo
parecesse mais curto. Quando nalmente pareceu ao
Rato que eles deviam estar se aproximando da parte
da estrada onde a Toupeira havia sido "parada", ele
disse: "Agora, chega de conversa. A trabalho! Use
seu nariz e concentre-se".
Eles continuaram em silêncio por um pequeno trecho,
quando de repente o Rato sentiu, através de seu
braço que estava ligado ao da Toupeira, uma espécie
de vibração elétrica fraca que passava pelo corpo do
animal. Instantaneamente ele se soltou, recuou um
passo e esperou, com toda a atenção.
Os sinais estavam chegando!
A Toupeira cou rígida por um momento, enquanto
seu nariz erguido, tremendo ligeiramente, sentia o
ar.
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Então, uma curta e rápida corrida para a frente -
uma falha - uma pausa - uma tentativa de voltar; e
então um avanço lento, constante e con ante.
O Rato, muito animado, seguiu de perto seus
calcanhares enquanto a Toupeira, com um ar de
sonâmbulo, cruzava uma vala seca, lutava por uma
cerca viva e farejava seu caminho por um campo
aberto, sem trilhas e vazio sob a fraca luz das
estrelas.
De repente, sem avisar, ele mergulhou; mas o Rato
estava alerta e prontamente o seguiu pelo túnel para
o qual seu nariz infalível o havia conduzido
elmente.
Era fechado e sem ar, e o cheiro de terra era forte,
e pareceu muito tempo para o Rato até que a
passagem terminasse e ele pudesse car ereto, se
esticar e se sacudir. A Toupeira acendeu um fósforo,
e à sua luz o Rato viu que eles estavam em um
espaço aberto, bem varrido e com areia sob os pés, e
diretamente à sua frente estava a pequena porta da
frente da Toupeira, com "Toca da Toupeira" pintado,
em letras góticas, sobre a campainha ao lado.
A Toupeira pegou uma lanterna de um prego na
parede e a acendeu... e o Rato, olhando ao redor, viu
que eles estavam em uma espécie de pátio dianteiro.
Um banco de jardim cava de um lado da porta, e do
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outro um rolo; pois a Toupeira, que era um animal
arrumado quando em casa, não suportava ter seu
terreno pisoteado por outros animais em pequenas
trilhas que terminavam em montes de terra. Nas
paredes, cestos de arame com samambaias
pendurados, alternados com suportes com estatuária
de gesso - Garibaldi, o menino Samuel, a Rainha
Vitória e outros heróis da Itália moderna. Em um
lado do pátio, havia uma pista de boliche, com bancos
e mesinhas de madeira marcadas com argolas que
sugeriam canecas de cerveja. No meio, havia um
pequeno lago redondo com peixes dourados e
rodeado por uma borda de conchas. Do centro do
lago, erguia-se uma construção fantasiosa coberta
com mais conchas e encimada por uma grande bola
de vidro prateada que re etia tudo errado e tinha
um efeito muito agradável.
O rosto da Toupeira se iluminou ao ver todos aqueles
objetos tão queridos para ele, e ele apressou o Rato
pela porta, acendeu uma lâmpada no corredor e deu
uma olhada em sua antiga casa. Ele viu a poeira
espessa sobre tudo, viu o aspecto sombrio e deserto
da casa há muito negligenciada, e suas dimensões
estreitas e exíguas, seu conteúdo gasto e surrado -
e desabou novamente em uma cadeira no corredor,
com o nariz nas patas. "Ó, Ratinho!" ele chorou
desanimado, "por que eu z isso? Por que eu o
fl
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trouxe para este lugar pobre, frio e pequeno, em
uma noite como esta, quando você poderia estar na
Margem do Rio a esta hora, aquecendo os pés diante
de uma lareira, com todas as suas coisas bonitas ao
seu redor?"
O Rato não deu atenção às suas auto-recriminações
tristes. Ele corria de um lado para o outro, abrindo
portas, inspecionando quartos e armários, acendendo
lâmpadas e velas e colocando-as em todos os
lugares. "Que casinha capital é esta!" ele exclamou
alegremente. "Tão compacta! Tão bem planejada!
Tudo aqui e tudo em seu lugar! Vamos ter uma noite
alegre. A primeira coisa que precisamos é de uma
boa lareira; eu cuidarei disso - eu sempre sei onde
encontrar as coisas. Então esta é a sala de estar?
Esplêndido! Ideia sua, aqueles pequenos beliches na
parede? Capital! Agora, vou buscar a lenha e o
carvão, e você pega um espanador, Toupeira - você
encontrará um na gaveta da mesa da cozinha - e
tente dar uma animada nas coisas. Mexa-se, meu
velho!"
Incentivado por seu companheiro inspirador, a
Toupeira se animou e espanou e poliu com energia e
entusiasmo, enquanto o Rato, correndo de um lado
para o outro com braçadas de combustível, logo teve
um fogo alegre rugindo na chaminé. Ele chamou a
Toupeira para se aquecer; mas a Toupeira
prontamente teve outro ataque de tristeza, caindo
em um sofá em desespero sombrio e enterrando o
rosto no espanador. "Ratinho", ele gemeu, "e o seu
jantar, seu pobre animal frio, faminto e cansado?
Não tenho nada para lhe dar - nada - nem uma
migalha!"
"Como você é desistente!" disse o Rato em tom de
reprovação. "Ora, agora mesmo eu vi um abridor de
latas de sardinha na cômoda da cozinha, bem
distintamente; e todo mundo sabe que isso signi ca
que há sardinhas em algum lugar por aqui. Anime-se!
Recomponha-se e venha comigo procurar comida."
Eles foram e procuraram de acordo, vasculhando
todos os armários e esvaziando todas as gavetas. O
resultado não foi tão deprimente, a nal, embora
pudesse ter sido melhor; uma lata de sardinhas -
uma caixa de biscoitos do capitão, quase cheia - e
uma linguiça alemã envolta em papel alumínio.
"Aí está um banquete para você!" observou o Rato,
enquanto arrumava a mesa. "Conheço alguns animais
que dariam tudo para jantar conosco esta noite!"
"Sem pão!" gemeu a Toupeira dolorosamente; "sem
manteiga, sem..."
"Sem patê de foie gras, sem champanhe!" continuou
o Rato, sorrindo. "E isso me lembra - o que é aquela
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portinha no nal do corredor? Sua adega, claro! Todo
o luxo nesta casa! Espere um minuto."
Ele foi até a porta da adega e logo reapareceu, um
tanto empoeirado, com uma garrafa de cerveja em
cada pata e outra debaixo de cada braço. "Você
parece ser um mendigo autoindulgente, Toupeira", ele
observou. "Não se nega nada. Este é realmente o
lugarzinho mais alegre em que já estive. Agora, onde
você conseguiu essas gravuras? Elas deixam o lugar
com um ar tão caseiro. Não é à toa que você gosta
tanto daqui, Toupeira. Conte-me tudo sobre isso, e
como você chegou a torná-lo o que é."
Então, enquanto o Rato se ocupava em buscar pratos,
facas e garfos e mostarda que ele misturava em um
copo de ovo, a Toupeira, com o peito ainda
arquejando com o estresse de sua recente emoção,
relatou - um tanto timidamente no início, mas com
mais liberdade à medida que se entusiasmava com o
assunto - como isso foi planejado, e como aquilo foi
pensado, e como isso foi conseguido com um golpe de
sorte de uma tia, e aquilo foi um achado maravilhoso
e uma pechincha, e aquela outra coisa foi comprada
com economias trabalhosas e uma certa quantidade
de "privações". Com o ânimo nalmente restaurado,
ele precisava acariciar suas posses, pegar uma
lâmpada e exibir seus pontos fortes ao visitante e
discorrer sobre eles, completamente esquecido do
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jantar de que ambos tanto precisavam; o Rato, que
estava desesperadamente faminto, mas se esforçava
para esconder isso, assentia seriamente, examinando
com a testa franzida e dizendo "maravilhoso" e
"muito notável" em intervalos, quando lhe era dada a
chance de fazer uma observação.
Finalmente, o Rato conseguiu atraí-lo para a mesa, e
tinha acabado de começar a trabalhar seriamente
com o abridor de latas de sardinha quando sons
foram ouvidos do lado de fora do pátio - sons como o
arrastar de pezinhos no cascalho e um murmúrio
confuso de vozes nas, enquanto frases
interrompidas chegavam até eles - "Agora, todos em
la - segure a lanterna um pouco mais alto, Tommy -
limpem a garganta primeiro - nada de tossir depois
que eu disser um, dois, três. - Onde está o jovem
Bill? - Aqui, venha, vamos, estamos todos
esperando..."
"O que está acontecendo?" perguntou o Rato,
parando em seu trabalho.
"Acho que devem ser os ratos do campo", respondeu
a Toupeira, com um toque de orgulho em suas
maneiras. "Eles saem cantando canções de Natal
regularmente nesta época do ano. São uma
verdadeira instituição nessas bandas. E nunca me
deixam de fora - eles vêm à Toca da Toupeira por
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último; e eu costumava dar-lhes bebidas quentes, e
jantar também às vezes, quando podia pagar. Vai ser
como nos velhos tempos ouvi-los novamente."
"Vamos dar uma olhada neles!" gritou o Rato,
pulando e correndo para a porta.

Era uma visão bonita, e oportuna, que encontrou


seus olhos quando abriram a porta. No pátio,
iluminados pelos raios fracos de uma lanterna de
chifre, cerca de oito ou dez pequenos ratos do campo
estavam em semicírculo, com cachecóis vermelhos de
lã em volta do pescoço, as patas dianteiras en adas
fundo nos bolsos, os pés batendo de frio. Com olhos
brilhantes e miúdos, eles olhavam timidamente uns
para os outros, rindo um pouco, fungando e usando
bastante as mangas dos casacos. Quando a porta se
abriu, um dos mais velhos que carregava a lanterna
estava dizendo: "Agora então, um, dois, três!" e
imediatamente suas vozes agudas se elevaram no ar,
cantando uma das canções de Natal antigas que seus
ancestrais compuseram em campos que estavam em
pousio e cobertos pela geada, ou quando presos pela
neve nos cantos das chaminés, e passadas para
serem cantadas na rua lamacenta para janelas
iluminadas por lâmpadas na época do Natal.
CANÇÃO DE NATAL
Moradores, nesta maré gelada,
Deixem suas portas abertas de par em par,
Embora o vento possa seguir, e a neve também,
Puxem-nos para dentro, para nos abrigarmos perto
do fogo;
Alegria será sua pela manhã!
Aqui estamos no frio e no granizo,
Assoprando os dedos e batendo os pés,
Viemos de longe para saudá-los -
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Vocês perto do fogo e nós na rua -
Desejando-lhes alegria pela manhã!
Pois antes que metade da noite se fosse,
De repente, uma estrela nos guiou,
Chovendo bênçãos e felicidade -
Felicidade amanhã e mais ainda depois,
Alegria para todas as manhãs!
O bom José labutou pela neve -
Viu a estrela sobre um estábulo baixo;
Maria não podia ir mais longe -
Bem-vindos, palha e cama abaixo!
Alegria foi dela pela manhã!
E então eles ouviram os anjos dizerem
"Quem foram os primeiros a gritar Noite Feliz?
Todos os animais, como aconteceu,
No estábulo onde eles moravam!
Alegria será deles pela manhã!"
As vozes cessaram, os cantores, tímidos mas
sorridentes, trocaram olhares de soslaio, e o silêncio
se seguiu - mas apenas por um momento. Então, de
lá de cima e de longe, pelo túnel que eles haviam
percorrido recentemente, chegou aos seus ouvidos
em um leve zumbido musical o som de sinos distantes
tocando um repique alegre e clangoroso.
"Muito bem cantado, meninos!" gritou o Rato de
coração. "E agora entrem, todos vocês, e se aqueçam
perto do fogo e tomem algo quente!"
"Sim, entrem, ratos do campo", gritou a Toupeira
ansiosamente. "Isso é como nos velhos tempos!
Fechem a porta atrás de vocês. Puxem aquele banco
para perto do fogo. Agora, esperem um minuto,
enquanto nós... Ó, Ratinho!" ele gritou em desespero,
caindo em um assento, com lágrimas iminentes. "O
que estamos fazendo? Não temos nada para dar a
eles!"
"Deixe tudo isso por minha conta", disse o
autoritário Rato. "Ei, você com a lanterna! Venha até
aqui. Quero falar com você. Agora, diga-me, há
alguma loja aberta a esta hora da noite?"
"Bem, certamente, senhor", respondeu o rato do
campo respeitosamente. "Nesta época do ano, nossas
lojas cam abertas até tarde."
"Então, veja!" disse o Rato. "Vá embora
imediatamente, você e sua lanterna, e traga-me..."
Aqui, muitas conversas sussurradas se seguiram, e a
Toupeira só ouviu trechos, como - "Frescos, está
bem? - não, meio quilo daquilo será su ciente - veja
se você pega os do Buggins, pois não quero nenhum
outro - não, só os melhores - se você não conseguir
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lá, tente em outro lugar - sim, claro, caseiros, nada
de coisas enlatadas - então, faça o seu melhor!"
Finalmente, houve um tilintar de moedas passando de
pata em pata, o rato do campo foi provido de uma
cesta ampla para suas compras, e ele saiu apressado,
ele e sua lanterna.
O resto dos ratos do campo, empoleirados em la no
banco, com suas perninhas balançando, se
entregaram ao prazer do fogo e torraram suas
frieiras até formigarem; enquanto a Toupeira, não
conseguindo envolvê-los em uma conversa
descontraída, mergulhou na história da família e fez
cada um deles recitar os nomes de seus numerosos
irmãos, que eram muito jovens, ao que parecia, para
ter permissão para sair cantando canções de Natal
este ano, mas esperavam em breve conquistar o
consentimento dos pais.
O Rato, enquanto isso, estava ocupado examinando o
rótulo de uma das garrafas de cerveja. "Percebo
que esta é Old Burton", ele comentou com aprovação.
"Toupeira sensata! Exatamente o que precisamos!
Agora poderemos fazer um pouco de cerveja quente!
Prepare as coisas, Toupeira, enquanto eu tiro as
rolhas."
Não demorou muito para preparar a bebida e en ar
o aquecedor de lata bem no coração vermelho do
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fogo; e logo todos os ratos do campo estavam
bebendo, tossindo e engasgando (pois um pouco de
cerveja quente dá para muita gente) e enxugando os
olhos, rindo e esquecendo que alguma vez tinham
sentido frio em toda a sua vida.
"Eles também encenam peças, esses caras", explicou
a Toupeira ao Rato. "Eles as criam sozinhos e as
encenam depois. E fazem isso muito bem! Eles nos
deram uma ótima no ano passado, sobre um rato do
campo que foi capturado no mar por um corsário
bárbaro e obrigado a remar em uma galé; e quando
ele escapou e voltou para casa, sua amada havia
entrado em um convento. Ei, você! Você estava nela,
eu me lembro. Levante-se e recite um pedaço."
O rato do campo abordado se levantou, riu
timidamente, olhou ao redor da sala e permaneceu
absolutamente sem palavras. Seus camaradas o
incentivaram, a Toupeira o persuadiu e encorajou, e o
Rato chegou a pegá-lo pelos ombros e sacudi-lo; mas
nada conseguia superar seu medo do palco. Todos
estavam ocupados com ele como barqueiros aplicando
os regulamentos da Sociedade Humana Real a um
caso de longa submersão, quando a trava clicou, a
porta se abriu e o rato do campo com a lanterna
reapareceu, cambaleando sob o peso de sua cesta.
Não se falou mais em encenação depois que o
conteúdo muito real e sólido da cesta foi jogado na
mesa. Sob o comando do Rato, todos foram
designados para fazer algo ou buscar algo. Em
poucos minutos, o jantar estava pronto, e a Toupeira,
ao se sentar à cabeceira da mesa como em um
sonho, viu uma mesa antes vazia repleta de iguarias
saborosas; viu os rostos de seus amiguinhos se
iluminarem ao se servirem sem demora; e então se
soltou - pois estava realmente faminto - na comida
tão magicamente providenciada, pensando em como
esta volta para casa havia se tornado feliz, a nal.
Enquanto comiam, eles conversaram sobre os velhos
tempos, e os ratos do campo lhe contaram as fofocas
locais, e responderam o melhor que puderam às
centenas de perguntas que ele tinha a fazer. O Rato
disse pouco ou nada, apenas cuidando para que cada
convidado tivesse o que queria, e em abundância, e
que a Toupeira não tivesse problemas ou ansiedades
com nada.
Eles nalmente saíram, muito gratos e cheios de
votos de felicitações da época, com os bolsos dos
casacos cheios de lembranças para os irmãozinhos e
irmãs em casa. Quando a porta se fechou atrás do
último deles e o tilintar das lanternas se extinguiu, a
Toupeira e o Rato reacenderam o fogo, aproximaram
suas cadeiras, prepararam uma última bebida quente
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de cerveja com especiarias e discutiram os eventos
do longo dia. Finalmente, o Rato, com um tremendo
bocejo, disse: "Toupeira, meu velho, estou caindo de
sono. Sono não é a palavra certa. Aquele é o seu
beliche, daquele lado? Muito bem, então, eu co com
este. Que casinha incrível! Tudo tão prático!"
Ele subiu em seu beliche e se enrolou nos
cobertores, e o sono o envolveu imediatamente, como
uma faixa de cevada é envolvida pelos braços da
máquina de colheita.
A Toupeira cansada também cou feliz em se deitar
sem demora, e logo estava com a cabeça no
travesseiro, com grande alegria e contentamento.
Mas antes de fechar os olhos, ele os deixou vagar
pelo seu antigo quarto, suave sob o brilho do fogo
que brincava ou repousava sobre coisas familiares e
amigáveis que há muito tempo eram
inconscientemente parte dele, e agora o recebiam de
volta sorrindo, sem rancor. Ele estava agora
exatamente no estado de espírito que o Rato, com
tato, havia trabalhado silenciosamente para provocar
nele. Ele viu claramente como tudo era simples e
singelo - como era estreito, até; mas também viu
claramente o quanto tudo aquilo signi cava para ele,
e o valor especial de ter uma âncora como aquela
em sua existência. Ele não queria de forma alguma
abandonar a nova vida e seus espaços esplêndidos,
fi
fi
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virar as costas para o sol e o ar e tudo o que eles
lhe ofereciam, e rastejar para casa e car lá; o
mundo superior era forte demais, ainda o chamava,
mesmo lá embaixo, e ele sabia que precisava
retornar ao palco maior. Mas era bom pensar que ele
tinha isso para onde voltar; este lugar que era todo
seu, essas coisas que estavam tão felizes em vê-lo
novamente e com as quais ele sempre podia contar
para a mesma recepção simples.

Capítulo 6: Sr. Sapo

Era uma manhã brilhante no início do verão; o rio


havia retomado suas margens e seu ritmo costumeiro,
e um sol quente parecia estar puxando tudo o que
era verde, arbustivo e pontiagudo para fora da terra
em sua direção, como se por cordas. O Toupeira e o
Rato haviam acordado desde o amanhecer, muito
ocupados com assuntos relacionados a barcos e à
abertura da temporada de navegação; pintando e
envernizando, consertando remos, reparando
almofadas, procurando por ganchos de barco
perdidos, e assim por diante; e estavam terminando o
café da manhã em sua pequena sala de estar e
discutindo ansiosamente seus planos para o dia,
quando um pesado golpe soou na porta.
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"Que aborrecimento!" disse o Rato, todo coberto de
ovos. "Veja quem é, Toupeira, como um bom rapaz, já
que você terminou."
O Toupeira foi atender ao chamado, e o Rato ouviu-o
proferir um grito de surpresa. Então ele abriu a
porta da sala de estar e anunciou com muita
importância: "Sr. Texugo!"
Isso era uma coisa maravilhosa, de fato, que o
Texugo deveria fazer uma visita formal a eles, ou a
qualquer pessoa. Ele geralmente tinha que ser pego,
se você o queria muito, enquanto ele se esgueirava
silenciosamente ao longo de uma sebe de uma manhã
cedo ou de uma noite tardia, ou então caçado em
sua própria casa no meio da Floresta, o que era uma
tarefa séria.
O Texugo entrou pesadamente na sala e cou
olhando para os dois animais com uma expressão
cheia de seriedade. O Rato deixou cair sua colher de
ovo na toalha de mesa e sentou-se com a boca
aberta.
"A hora chegou!" disse o Texugo por m, com grande
solenidade.
"Que hora?" perguntou o Rato, nervoso, olhando para
o relógio na lareira.
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"De quem é a hora, você deveria perguntar",
respondeu o Texugo. "Por que, é a hora do Sapo! A
hora do Sapo! Eu disse que iria tomar conta dele
assim que o inverno estivesse bem acabado, e vou
tomar conta dele hoje!"
"A hora do Sapo, claro!" gritou o Toupeira, deliciado.
"Hooray! Eu me lembro agora! Vamos ensinar-lhe a
ser um Sapo sensato!"
"Esta manhã mesmo", continuou o Texugo, sentando-
se em uma poltrona, "como eu soube ontem à noite
de uma fonte con ável, outro carro novo e
extremamente poderoso chegará ao Vila do Sapo
para aprovação ou devolução. Neste exato momento,
talvez, o Sapo esteja ocupado vestindo-se com
aqueles trajes singularmente hediondos que são tão
queridos para ele, que o transformam de um Sapo
(comparativamente) bonito em um Objeto que joga
qualquer animal decente que o encontra em um
ataque violento. Nós devemos estar prontos e agir,
antes que seja tarde demais. Vocês dois animais irão
me acompanhar imediatamente ao Vila do Sapo, e a
obra de resgate será realizada."
"Certo, você está!" gritou o Rato, levantando-se.
"Vamos resgatar o pobre animal infeliz! Vamos
convertê-lo! Ele será o Sapo mais convertido que já
existiu antes de termos terminado com ele!"
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Eles partiram pela estrada em sua missão de
misericórdia, com o Texugo liderando o caminho. Os
animais, quando estão juntos, andam de uma maneira
apropriada e sensata, em la única, em vez de se
espalharem por toda a estrada e não serem de
nenhuma utilidade ou apoio uns aos outros em caso
de problemas ou perigos repentinos.
Eles chegaram ao acesso do Vila do Sapo e
encontraram, como o Texugo havia previsto, um carro
novo brilhante, de grande tamanho, pintado de
vermelho brilhante (a cor favorita do Sapo), parado
em frente à casa. Quando eles se aproximaram da
porta, ela foi aberta, e o Sr. Sapo, vestido com
óculos, boné, perneiras e um enorme casaco, desceu
as escadas, puxando suas luvas de couro.
"Uhuuu! Venham, vocês, camaradas!" ele gritou
alegremente ao avistar-os. "Vocês estão justamente
a tempo de vir comigo para um passeio divertido—
para vir para um passeio divertido—para um—er—
passeio divertido——"
Sua voz alegre falhou e caiu quando ele notou o
olhar sério e in exível nos rostos de seus amigos
silenciosos, e seu convite cou sem terminar.
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O Texugo subiu as escadas. "Levem-no para dentro",
disse ele severamente para seus companheiros. Então,
enquanto o Sapo era empurrado pela porta, lutando e
protestando, ele se virou para o motorista
encarregado do carro novo.
"Temo que você não será necessário hoje", disse ele.
"O Sr. Sapo mudou de ideia. Ele não precisará do
carro. Por favor, entenda que isso é de nitivo. Você
não precisa esperar." Então ele seguiu os outros para
dentro e fechou a porta.
"Agora então!" ele disse ao Sapo, quando os quatro
estavam juntos no hall, "em primeiro lugar, tire essas
coisas ridículas!"
"Não!" respondeu o Sapo, com grande espírito. "Qual
é o signi cado desta ultrajante grosseria? Eu exijo
uma explicação imediata."
"Então tire-as dele", ordenou o Texugo brevemente.
Eles tiveram que deitar o Sapo no chão, chutando e
chamando todos os tipos de nomes, antes de
poderem trabalhar adequadamente. Então o Rato
sentou-se sobre ele, e o Toupeira tirou suas roupas
de motorista dele, pedaço por pedaço, e eles o
levantaram novamente sobre suas pernas. Uma boa
parte de seu espírito fanfarrão parecia ter
evaporado com a remoção de sua bela armadura.
Agora que ele era apenas o Sapo, e não mais o
Terror da Estrada, ele riu fracamente e olhou de um
para o outro com um olhar suplicante, parecendo
entender completamente a situação.
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"Você sabia que isso teria que acontecer mais cedo
ou mais tarde, Sapo", explicou o Texugo severamente.
Você desprezou todos os avisos que lhe demos, você
continuou desperdiçando o dinheiro que seu pai lhe
deixou, e você está nos dando uma má reputação no
distrito com sua condução furiosa e seus acidentes e
suas discussões com a polícia. A independência é
muito boa, mas nós, os animais, nunca permitimos
que nossos amigos se tornem tolos além de um certo
limite; e você alcançou esse limite. Agora, você é um
bom sujeito em muitos aspectos, e eu não quero ser
muito duro com você. Vou fazer mais um esforço
para trazê-lo à razão. Você virá comigo para a sala
de fumar, e lá você ouvirá alguns fatos sobre si
mesmo; e veremos se você sai daquela sala o mesmo
Sapo que entrou."
Ele pegou o Sapo rmemente pelo braço, levou-o
para a sala de fumar e fechou a porta atrás deles.
"Isso não vai funcionar!" disse o Rato com desprezo.
"Falar com o Sapo nunca vai curá-lo. Ele dirá
qualquer coisa."
Eles se sentaram em poltronas e esperaram
pacientemente. Através da porta fechada, eles
podiam ouvir o som contínuo e monótono da voz do
Texugo, subindo e descendo em ondas de oratória; e
logo eles notaram que o sermão começou a ser
fi
pontuado por soluços prolongados, evidentemente
provenientes do peito do Sapo, que era um sujeito
mole e afetuoso, muito facilmente convertido—por
enquanto—para qualquer ponto de vista.
Depois de cerca de três quartos de hora, a porta se
abriu, e o Texugo reapareceu, levando solenemente
pelo braço um Sapo muito abatido e deprimido. Sua
pele pendia frouxamente ao redor dele, suas pernas
tremiam, e suas bochechas estavam sulcadas pelas
lágrimas tão abundantemente provocadas pelo
discurso comovente do Texugo.
"Sente-se aí, Sapo", disse o Texugo gentilmente,
apontando para uma cadeira. "Meus amigos", ele
continuou, "eu estou satisfeito em informar que o
Sapo nalmente viu o erro de seus caminhos. Ele
está verdadeiramente arrependido por sua conduta
equivocada no passado, e ele se comprometeu a
abandonar os carros motorizados inteiramente e para
sempre. Eu tenho sua promessa solene nesse
sentido."
"Essa é uma ótima notícia", disse o Toupeira
gravemente.
"Ótima notícia, de fato", observou o Rato com
ceticismo, "se apenas—se apenas——"
fi
Ele estava olhando muito atentamente para o Sapo
enquanto dizia isso, e não pôde deixar de pensar que
percebia algo vagamente semelhante a um brilho no
olho ainda triste daquele animal.
"Há apenas mais uma coisa a ser feita", continuou o
Texugo satisfeito. "Sapo, eu quero que você repita
solenemente, diante de seus amigos aqui, o que você
admitiu plenamente para mim na sala de fumar agora
mesmo. Em primeiro lugar, você está arrependido
pelo que fez, e você vê a tolice de tudo isso?"
Houve uma longa, longa pausa. O Sapo olhou
desesperadamente para um lado e para o outro,
enquanto os outros animais esperavam em silêncio
grave. Por m, ele falou.
"Não!" ele disse, um pouco mal-humorado, mas com
rmeza; "eu não estou arrependido. E não foi tolice
nenhuma! Foi simplesmente glorioso!"
"O quê?" gritou o Texugo, indignado. "Você, animal
que não se arrepende, não me disse agora mesmo, lá
dentro——"
"Oh, sim, sim, lá dentro", disse o Sapo impaciente.
"Eu teria dito qualquer coisa lá dentro. Você é tão
eloquente, caro Texugo, e tão convincente, e você
coloca todos os seus pontos tão terrivelmente bem—
você pode fazer o que quiser comigo lá dentro, e
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você sabe disso. Mas eu estive procurando minha
mente desde então, e repassando as coisas nela, e
eu descubro que não estou nem um pouco
arrependido ou cheio de remorsos realmente, então
não adianta dizer que estou; agora, é?"
"Então você não promete", disse o Texugo, "nunca
mais tocar em um carro motorizado?"
"Certeza que não!" respondeu o Sapo enfaticamente.
"Ao contrário, eu prometo elmente que o primeiro
carro motorizado que eu ver, poop-poop! Eu vou
nele!"
"Eu disse a você, não disse?" observou o Rato para o
Toupeira.
"Muito bem, então", disse o Texugo rmemente,
levantando-se. "Já que você não vai se render à
persuasão, vamos tentar o que a força pode fazer.
Eu temia que isso fosse acontecer o tempo todo.
Você frequentemente nos pediu para vir e car com
você, Sapo, nesta casa bonita sua; bem, agora nós
vamos. Quando tivermos convertido você a um ponto
de vista apropriado, podemos sair, mas não antes.
Levem-no para cima, vocês dois, e o tranca am em
seu quarto, enquanto nós arranjamos as coisas entre
nós."
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fi
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"É para o seu próprio bem, Sapo", disse o Rato
gentilmente, enquanto o Sapo, chutando e lutando,
era arrastado para cima pelas escadas por seus dois
amigos éis. "Pense no quanto vamos nos divertir
juntos, assim como costumávamos, quando você tiver
superado completamente esse—esse ataque doloroso
seu!"
"Nós vamos cuidar de tudo para você até que você
esteja bem, Sapo", disse o Toupeira; "e vamos ver
que seu dinheiro não seja desperdiçado, como tem
sido."
"Não mais daqueles incidentes lamentáveis com a
polícia, Sapo", disse o Rato, enquanto o empurravam
para dentro de seu quarto.
"E não mais semanas no hospital, sendo ordenado por
enfermeiras, Sapo", acrescentou o Toupeira, virando
a chave na fechadura.
Eles desceram as escadas, o Sapo gritando insultos
para eles pelo buraco da fechadura; e os três amigos
então se encontraram em conferência sobre a
situação.
"Vai ser um negócio tedioso", disse o Texugo,
suspirando. "Eu nunca vi o Sapo tão determinado. No
entanto, vamos aguentar. Ele nunca deve ser deixado
um instante sem vigilância. Nós teremos que fazer
fi
turnos para car com ele, até que o veneno tenha
saído de seu sistema."
Eles arranjaram os turnos de acordo. Cada animal
tomou seu turno para dormir no quarto do Sapo à
noite, e eles dividiram o dia entre si. No início, o Sapo
foi sem dúvida muito difícil para seus guardiões
cuidadosos. Quando seus ataques violentos o
possuíam, ele arranjaria cadeiras do quarto em uma
grosseira semelhança de um carro motorizado e se
agacharia na frente delas, inclinado para a frente e
olhando xamente em frente, fazendo barulhos
desagradáveis e terríveis, até que o clímax fosse
alcançado, quando, dando uma cambalhota completa,
ele se deitaria prostrado entre as ruínas das
cadeiras, aparentemente completamente satisfeito
por enquanto. Com o passar do tempo, no entanto,
esses ataques dolorosos se tornaram gradualmente
menos frequentes, e seus amigos se esforçaram para
desviar sua mente para novos canais. Mas seu
interesse por outras coisas não parecia reviver, e ele
cresceu aparentemente lânguido e deprimido.
Uma bela manhã, o Rato, cuja vez era de entrar em
serviço, subiu para aliviar o Texugo, que ele
encontrou inquieto para sair e esticar as pernas em
uma longa caminhada ao redor de sua oresta e
para baixo de suas tocas e buracos. "O Sapo ainda
está na cama", ele disse ao Rato, fora da porta. "Não
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consigo tirar muito dele, exceto, 'O deixem em paz,
ele não quer nada, talvez ele esteja melhor logo,
pode passar com o tempo, não sejam ansiosos
demais', e assim por diante. Agora, você olhe por ele,
Rato! Quando o Sapo está quieto e submisso e
jogando no papel de herói de um prêmio escolar
dominical, então ele está em seu melhor. Há certeza
de que algo está acontecendo. Eu o conheço. Bem,
agora, eu preciso ir."
"Como você está hoje, velho camarada?" perguntou o
Rato alegremente, quando se aproximou da cama do
Sapo.
Ele teve que esperar alguns minutos por uma
resposta. Por m, uma voz fraca respondeu,
"Obrigado por perguntar, querido Rato! É tão bom de
sua parte perguntar! Mas primeiro me diga como
você está, e o excelente Toupeira?"
"Ah, estamos todos bem", respondeu o Rato. "O
Toupeira", ele acrescentou descuidadamente, "vai
sair para uma corrida com o Texugo. Eles estarão
fora até a hora do almoço, então você e eu vamos
passar uma manhã agradável juntos, e farei o meu
melhor para divertir você. Agora, salte da cama, há
um bom sujeito, e não que deitado aí em uma
manhã tão bonita como esta!"
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"Querido, gentil Rato", murmurou o Sapo, "como você
pouco percebe minha condição, e como estou longe
de 'saltar da cama' agora—se é que algum dia! Mas
não se preocupe comigo. Eu odeio ser um fardo para
meus amigos, e não espero ser um por muito mais
tempo. De fato, eu quase espero que não."
"Bem, eu também espero que não", disse o Rato
cordialmente. "Você tem sido um grande incômodo
para todos nós esse tempo todo, e estou feliz em
ouvir que isso vai parar. E em um clima como este, e
a temporada de navegação apenas começando! É
muito ruim de sua parte, Sapo! É um aborrecimento
que você está nos fazendo perder tanto!"
"Eu tenho medo de que seja o incômodo que você
mente", respondeu o Sapo languidamente. "Eu posso
entender muito bem. É natural o su ciente. Você está
cansado de se preocupar comigo. Eu não devo pedir
que você faça mais nada. Eu sou um incômodo, eu
sei."
"Você é, de fato", disse o Rato. "Mas eu digo a você,
eu tomaria qualquer problema na terra por você, se
apenas você fosse um animal sensato."
"Se eu pensasse isso, Rato", murmurou o Sapo, mais
fracamente do que nunca, "então eu pediria—pela
última vez, provavelmente—que você desse uma volta
até a vila o mais rápido possível—mesmo agora pode
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ser tarde demais—e buscasse o médico. Mas não se
preocupe. É apenas um incômodo, e talvez possamos
deixar as coisas seguirem seu curso."
"Por que você quer um médico?" perguntou o Rato,
aproximando-se e examinando-o. Ele certamente
estava muito quieto e plano, e sua voz estava mais
fraca e seu modo muito mudado.
"Certamente você notou ultimamente——" murmurou o
Sapo. "Mas, não—por que você deveria? Notar coisas
é apenas um incômodo. Amanhã, de fato, você pode
estar dizendo a si mesmo, 'Oh, se apenas eu tivesse
notado mais cedo! Se apenas eu tivesse feito algo!'
Mas não; é um incômodo. Nunca mente—esqueça que
eu pedi."
"Olhe aqui, velho amigo", disse o Rato, começando a
car um pouco alarmado, "claro que eu vou buscar
um médico para você, se você realmente acha que
precisa dele. Mas você di cilmente pode estar mal o
su ciente para isso ainda. Vamos falar sobre outra
coisa."
"Eu temo, querido amigo", disse o Sapo, com um
sorriso triste, "que 'falar' pode fazer pouco em um
caso como este—ou médicos também, aliás; ainda
assim, a gente deve agarrar o menor palito. E, a
propósito—enquanto você está por isso—eu odeio dar-
lhe mais incômodo, mas eu aconteço de me lembrar
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que você vai passar pela porta—você se importaria
em perguntar ao advogado para subir ao mesmo
tempo? Seria um conforto para mim, e há momentos
—talvez eu deva dizer há um momento—quando a
gente deve enfrentar tarefas desagradáveis, a
qualquer custo para a natureza exausta!"
"Um advogado! Oh, ele deve estar realmente mal!"
disse o Rato assustado para si mesmo, enquanto se
apressava para fora do quarto, não se esquecendo, no
entanto, de trancar a porta cuidadosamente atrás de
si.
Fora, ele parou para pensar. Os outros dois estavam
longe, e ele não tinha ninguém para consultar.
"É melhor estar do lado seguro", disse ele, re etindo.
"Eu conheço o Sapo imaginando-se terrivelmente mal
antes, sem a menor razão; mas nunca o ouvi pedir
um advogado! Se não houver realmente nada de
errado, o médico lhe dirá que ele é um velho tolo, e
o animará; e isso será algo ganho. É melhor eu ir;
não vai levar muito tempo." Então ele correu para a
vila em sua missão de misericórdia.
O Sapo, que havia saltado levemente da cama assim
que ouviu a chave virar na fechadura, observou-o
ansiosamente pela janela até que ele desaparecesse
na entrada da carruagem. Então, rindo alto, ele se
vestiu o mais rápido que pôde com o terno mais
fl
elegante que pôde encontrar no momento, encheu
seus bolsos com dinheiro que tirou de uma gaveta
pequena na mesa de cabeceira, e em seguida,
amarrando os lençóis de sua cama juntos e
amarrando uma extremidade da corda improvisada
ao redor do mullion central da janela Tudor bonita
que formava uma característica tão notável de seu
quarto, ele desceu, deslizou levemente para o chão,
e, tomando a direção oposta ao Rato, marchou
embora alegremente, assobiando uma melodia alegre.
Era um almoço sombrio para o Rato quando o Texugo
e o Toupeira nalmente voltaram, e ele teve que
enfrentá-los à mesa com sua história lamentável e
pouco convincente. Os comentários cáusticos, para
não dizer brutais, do Texugo podem ser imaginados, e
portanto passados por alto; mas foi doloroso para o
Rato que mesmo o Toupeira, embora tenha tomado o
lado do amigo tanto quanto possível, não pudesse
deixar de dizer, "Você foi um pouco bobo desta vez,
Rato! O Sapo, também, de todos os animais!"
"Ele fez isso muito bem", disse o Rato abatido.
"Ele fez você muito bem!" respondeu o Texugo com
raiva. "No entanto, falar não vai consertar as coisas.
Ele conseguiu escapar por enquanto, isso é certo; e o
pior é que ele vai estar tão convencido de sua
própria inteligência que pode cometer qualquer
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loucura. Um conforto é que estamos livres agora, e
não precisamos desperdiçar mais do nosso precioso
tempo fazendo guarda. Mas é melhor continuarmos a
dormir no Vila do Sapo por mais um tempo. O Sapo
pode ser trazido de volta a qualquer momento—em
uma maca, ou entre dois policiais."
Assim falou o Texugo, sem saber o que o futuro
reservava, ou quanto de água, e de que tipo, iria
correr sob as pontes antes que o Sapo se sentasse
novamente em seu Salão ancestral.
Enquanto isso, o Sapo, alegre e irresponsável,
caminhava rapidamente pela estrada principal, a
algumas milhas de casa. No início, ele havia tomado
atalhos e cruzado muitos campos e mudado de
direção várias vezes, caso fosse perseguido; mas
agora, sentindo-se seguro de não ser recapturado, e
o sol sorrindo brilhantemente para ele, e toda a
natureza se juntando a um coro de aprovação à
canção de auto-elogio que seu próprio coração
estava cantando para ele, ele quase dançou pela
estrada em sua satisfação e vaidade.
"Um trabalho inteligente!" ele observou para si
mesmo, rindo. "Cérebro contra força bruta—e o
cérebro saiu por cima—como sempre faz. Pobre Rato!
Meu! Ele não vai aguentar quando o Texugo voltar!
Um camarada digno, Rato, com muitas boas
qualidades, mas muito pouca inteligência e
absolutamente nenhuma educação. Eu preciso levá-lo
em mãos um dia e ver se posso fazer algo dele."
Cheio de pensamentos vaidosos como esses, ele
marchou ao longo, sua cabeça erguida, até chegar a
uma pequena cidade, onde o letreiro do "Leão
Vermelho", balançando sobre a estrada no meio da
rua principal, o lembrou de que ele não havia tomado
café da manhã naquele dia e que estava com muita
fome após sua longa caminhada. Ele entrou no
estabelecimento, pediu o melhor almoço que poderia
ser fornecido em tão curto prazo e sentou-se para
comê-lo no salão de café.
Ele estava mais ou menos na metade de sua refeição
quando um som muito familiar, aproximando-se pela
rua, o fez saltar e tremer todo. O barulho do carro
aproximou-se mais e mais, o carro pôde ser ouvido
entrando no quintal e parando, e o Sapo teve que se
segurar à perna da mesa para ocultar sua emoção
avassaladora. Logo a partida entrou no salão de
café, famintos, tagarelas e alegres, loquazes sobre
suas experiências da manhã e os méritos do carro
que os havia trazido tão bem. O Sapo ouviu
ansiosamente por um tempo; por m, não pôde mais
aguentar. Ele saiu silenciosamente do salão, pagou
sua conta no bar e, assim que saiu, deu uma volta
silenciosa pelo quintal. "Não pode haver mal
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nenhum", disse ele para si mesmo, "em eu apenas dar
uma olhada nele!"
O carro estava no meio do quintal, completamente
desacompanhado, os ajudantes de estábulo e outros
agregados estavam todos almoçando. O Sapo
caminhou lentamente ao redor dele, inspecionando,
criticando, meditando profundamente.
"Eu me pergunto", disse ele para si mesmo logo
depois, "eu me pergunto se este tipo de carro
começa facilmente?"
No momento seguinte, mal sabendo como isso
aconteceu, ele se viu segurando a alavanca e a
girando. Quando o som familiar estourou, a velha
paixão tomou conta do Sapo e o dominou
completamente, corpo e alma. Como se em um sonho,
ele se viu, de alguma forma, sentado no banco do
motorista; como se em um sonho, ele puxou a
alavanca e fez o carro dar uma volta pelo quintal e
sair pelo arco; e como se em um sonho, todo o senso
de certo e errado, todo o medo de consequências
óbvias, parecia temporariamente suspenso. Ele
aumentou sua velocidade e, enquanto o carro engolia
a rua e saltava para a estrada aberta pelo campo,
ele estava apenas consciente de que era o Sapo mais
uma vez, o Sapo em seu melhor e mais alto, o Sapo,
o terror, o controlador do tráfego, o Senhor da
trilha solitária, diante do qual todos devem dar lugar
ou ser atingidos e reduzidos a nada e noite eterna.
Ele cantou enquanto voava e o carro respondeu com
um zumbido sonoro; as milhas foram devoradas sob
ele enquanto ele corria, não sabia para onde,
cumprindo seus instintos, vivendo sua hora, sem
temor de consequências.
"A meu ver", observou o Presidente do Tribunal de
Magistrados alegremente, "a única di culdade que se
apresenta neste caso, de outra forma muito claro, é
como podemos possivelmente torná-lo
su cientemente quente para o patife incorrigível e
ru ão endurecido que vemos encolhido no banco dos
réus diante de nós. Vamos ver: ele foi considerado
culpado, com a evidência mais clara, em primeiro
lugar, de roubar um carro valioso; em segundo lugar,
de dirigir de forma perigosa; e, em terceiro lugar, de
impertinência grosseira para a polícia rural. Sr.
Escrivão, por favor, diga-nos, qual é a pena mais
dura que podemos impor por cada uma dessas
ofensas? Sem, claro, dar ao prisioneiro o benefício de
qualquer dúvida, porque não há nenhuma."
O Escrivão coçou o nariz com sua caneta. "Algumas
pessoas considerariam", ele observou, "que roubar o
carro era a pior ofensa; e assim é. Mas insultar a
polícia sem dúvida carrega a pena mais severa; e
assim deve ser. Supondo que você dissesse doze
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meses pelo roubo, o que é brando; e três anos pela
direção perigosa, o que é leniente; e quinze anos
pelo insulto, o que foi um tipo muito ruim de insulto,
julgando pelo que ouvimos da testemunha, mesmo
que você acredite em apenas um décimo do que você
ouviu, e eu nunca acredito em mais—esses números,
se somados corretamente, totalizam dezenove anos
——"
"De primeira ordem!" disse o Presidente.
"—Então é melhor você fazer vinte anos e car do
lado seguro", concluiu o Escrivão.
"Uma sugestão excelente!" disse o Presidente,
aprovando. "Prisioneiro! Levante-se e tente car reto.
Vai ser vinte anos para você desta vez. E lembre-se,
se você aparecer diante de nós novamente, sob
qualquer acusação, teremos que lidar com você de
forma muito séria!"
Então os brutais capangas da lei caíram sobre o
infeliz Sapo; o carregaram com correntes e o
arrastaram para fora do Tribunal, gritando, rezando e
protestando; através do mercado, onde o povo
brincalhão, sempre severo com o crime detectado,
como é solidário e prestativo quando alguém está
apenas "procurado", o assediou com zombarias,
cenouras e refrões populares; passando por crianças
em idade escolar, suas caras inocentes iluminadas
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com o prazer que sempre derivam da visão de um
cavalheiro em di culdades; através da ponte oca, sob
a ponte levadiça, sob o arco carrancudo do castelo
antigo, cujas torres antigas se erguiam altas acima;
passando por salas de guarda cheias de soldados
sorridentes de folga, passando por sentinelas que
tossiam de uma forma horrível e sarcástica, porque
é o máximo que uma sentinela em seu posto ousa
fazer para mostrar seu desprezo e abominação pelo
crime; subindo escadas sinuosas desgastadas pelo
tempo, passando por homens de armas em casquetes
e couraças de aço, disparando olhares ameaçadores
através de suas viseiras; através de pátios, onde
cães de guarda se esforçavam em suas coleiras e
arranhavam o ar para chegar até ele; passando por
guardas antigos, suas alabardas encostadas na
parede, cochilando sobre um pastel e um jarro de
cerveja marrom; e assim por diante, passando pela
câmara de tortura e a sala do tronco, passando pela
virada que levava ao cadafalso privado, até que
nalmente pararam na porta da masmorra mais
sombria que cava no coração da torre mais interna
do castelo mais forte em todo o comprimento e
largura da Inglaterra alegre.
"Aí está!", disse o sargento de polícia, tirando seu
capacete e limpando a testa. "Acorda, velho maluco,
e assuma a responsabilidade por esse vilão do Sapo,
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um criminoso de culpa profunda e arte sem par.
Vigie e guarde-o com todo o seu talento; e lembre-
se bem, barba branca, se algo de ruim acontecer, sua
velha cabeça responderá por isso—e uma praga
sobre os dois!"
O carcereiro fez um gesto de cabeça, colocando sua
mão mirrada no ombro do infeliz Sapo. A chave
enferrujada rangeu na fechadura, a porta pesada
bateu atrás deles; e o Sapo era um prisioneiro
indefeso na masmorra mais remota do castelo mais
guardado em todo o comprimento e largura da
Inglaterra alegre.

Capítulo 7: O Flautista às portas do amanhecer

O trinador do pintarroxo soava sua canção na e


pequena, escondido na margem escura do rio. Embora
fosse mais de dez horas da noite, o céu ainda
retinha alguns vestígios de luz do dia que havia
partido; e o calor abafado da tarde tórrida se
dissipava ao toque fresco da noite de verão. O
Toupeira estava estendido na margem, ainda arfando
com o estresse do dia quente que havia sido sem
nuvens desde o amanhecer até o pôr do sol tardio, e
esperava que seu amigo voltasse.
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Ele havia estado no rio com alguns companheiros,
deixando o Rato Livre para manter um compromisso
antigo com a Lontra; e ele havia voltado para
encontrar a casa escura e deserta, e nenhum sinal
de Rato, que provavelmente estava mantendo a noite
com seu velho camarada. Ainda estava muito quente
para pensar em car em casa, então ele se deitou
em algumas folhas frescas de bardana e pensou
sobre o dia passado e seus acontecimentos, e como
todos haviam sido muito bons.
O som dos passos leves do Rato foi ouvido se
aproximando sobre a grama seca. "Oh, a bendita
frescura!" ele disse, e sentou-se, olhando
pensativamente para o rio, silencioso e absorto.
"Você cou para o jantar, claro?" disse o Toupeira.
"Simplesmente tive", disse o Rato. "Eles não me
deixariam ir antes. Você sabe como são sempre
gentis. E eles zeram as coisas tão alegres para mim
quanto possível, até o momento em que eu parti. Mas
eu me senti um bruto o tempo todo, pois estava claro
para mim que eles estavam muito infelizes, embora
tentassem esconder. Toupeira, estou com medo de
que eles estejam em apuros. O pequeno Portly está
desaparecido novamente; e você sabe o quanto seu
pai gosta dele, embora nunca diga muito sobre isso."
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"O que, aquela criança?" disse o Toupeira levemente.
"Bem, suponha que ele esteja; por que se preocupar
com isso? Ele está sempre se desviando e se
perdendo, e reaparecendo novamente; ele é tão
aventureiro. Mas nenhum mal nunca lhe acontece.
Todo mundo aqui sabe dele e gosta dele, assim como
gostam da velha Lontra, e você pode ter certeza de
que algum animal ou outro irá encontrá-lo e trazê-lo
de volta novamente, tudo bem."
"Sim; mas desta vez é mais sério", disse o Rato
gravemente. "Ele está desaparecido há alguns dias
agora, e os Lutras procuraram por toda parte, alto e
baixo, sem encontrar o menor vestígio. E eles
perguntaram a todos os animais, também, por milhas
ao redor, e ninguém sabe nada sobre ele. A Lontra
está evidentemente mais ansiosa do que admite. Eu
consegui que ele me contasse que o jovem Portly
ainda não aprendeu a nadar muito bem, e posso ver
que ele está pensando na represa. Há muita água
descendo ainda, considerando a época do ano, e o
lugar sempre teve um fascínio para a criança. E
então há... bem, armadilhas e coisas... você sabe. A
Lontra não é o tipo de sujeito que se preocupa com
algum lho seu antes do tempo. E agora ele está
nervoso. Quando eu parti, ele veio comigo... disse que
queria um pouco de ar, e falou sobre esticar as
pernas. Mas eu pude ver que não era isso, então eu
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o tirei e o bombeei, e consegui tudo dele no nal. Ele
ia passar a noite vigiando a represa. Você sabe o
lugar onde a antiga represa costumava ser, nos dias
de outrora, antes de construírem a ponte?"
"Eu conheço bem", disse o Toupeira. "Mas por que a
Lontra escolheria vigiar lá?"
"Bem, parece que foi lá que ele deu ao Portly sua
primeira aula de natação", continuou o Rato.
"Daquela pequena praia rasa e pedregosa perto da
margem. E foi lá que ele costumava ensinar-lhe a
pescar, e lá que o jovem Portly pegou seu primeiro
peixe, do qual ele estava tão orgulhoso. A criança
amava o local, e a Lontra acha que se ele vier
vagando de volta de onde quer que esteja... se ele
estiver em algum lugar agora, coitadinho... ele pode
ir para a represa de que gostava tanto; ou se ele a
encontrar, ele se lembrará bem e parará lá e
brincará, talvez. Então a Lontra vai lá toda noite e
vigia... por acaso, você sabe, apenas por acaso!"
Eles caram em silêncio por um tempo, ambos
pensando na mesma coisa: o animal solitário e
desolado, agachado na represa, vigiando e esperando,
a longa noite inteira... por acaso.
"Bem, bem", disse o Rato depois de um tempo, "acho
que devemos estar pensando em ir para a cama."
Mas ele nunca ofereceu se mover.
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"Toupeira", disse o Rato, "eu simplesmente não posso
ir para a cama, e dormir, e não fazer nada, mesmo
que não pareça haver nada a ser feito. Vamos tirar o
barco, e remar rio acima. A lua estará alta em uma
hora ou mais, e então podemos procurar tão bem
quanto pudermos... de qualquer maneira, será melhor
do que ir para a cama e não fazer nada."
"Exatamente o que eu estava pensando", disse o
Rato. "Não é a noite certa para a cama, de qualquer
maneira; e o amanhecer não está tão longe, e então
podemos pegar algumas notícias dele de
madrugadores enquanto vamos."
Eles tiraram o barco, e o Rato pegou os remos,
remando com cautela. No meio do rio, havia uma
trilha clara e estreita que re etia o céu; mas onde
quer que as sombras caíssem sobre a água da
margem, arbusto ou árvore, elas eram tão sólidas em
aparência quanto as margens em si, e o Toupeira
teve que guiar com juízo de acordo. Escuro e deserto
como estava, a noite estava cheia de pequenos
ruídos, canções e conversas e farfalhadas, contando
a população ocupada que estava acordada e por aí,
exercendo seus ofícios e pro ssões durante a noite
até que a luz do sol caísse sobre eles e os mandasse
para seu merecido repouso. Os próprios ruídos da
água também eram mais aparentes do que durante o
dia, seus gorgolejos e "cloops" mais inesperados e
fi
fl
próximos; e constantemente eles se sobressaltavam
com o que parecia um chamado claro e repentino de
uma voz articulada real.
A linha do horizonte estava clara e dura contra o
céu, e em um quarto particular mostrava preto
contra uma fosforescência prateada crescente que
crescia e crescia. Por m, sobre a borda da terra à
espera, a lua se levantou com majestade lenta até
que balançou limpa do horizonte e cavalgou, livre de
amarras; e mais uma vez eles começaram a ver
superfícies... prados espalhados, e jardins tranquilos,
e o rio em si, de margem a margem, tudo
suavemente revelado, tudo lavado limpo de mistério e
terror, tudo radiante novamente como durante o dia,
mas com uma diferença que era tremenda. Seus
velhos haunts os saudaram novamente em outras
vestes, como se tivessem escorregado e colocado
essa roupa pura e nova e voltado silenciosamente,
sorrindo enquanto esperavam timidamente para ver
se seriam reconhecidos novamente sob ela.
Amarrando seu barco a uma salgueira, os amigos
desembarcaram nesse reino silencioso e prateado, e
exploraram pacientemente as sebes, as árvores ocas,
os regos e seus pequenos canais, as valas e os leitos
de água secos. Embarcando novamente e
atravessando, eles trabalharam seu caminho rio
acima dessa maneira, enquanto a lua, serena e
fi
separada em um céu sem nuvens, fazia o que podia,
embora tão longe, para ajudá-los em sua busca; até
que sua hora chegou e ela afundou relutantemente
em direção à terra, e os deixou, e o mistério mais
uma vez segurou o campo e o rio.
Então uma mudança começou lentamente a se
declarar. O horizonte cou mais claro, campo e
árvore vieram mais à vista, e de alguma forma com
um aspecto diferente; o mistério começou a cair
deles. Um pássaro piou de repente, e silenciou; e uma
brisa leve saltou e fez os juncos e as taboas
farfalharem. Rato, que estava na popa do barco,
enquanto o Toupeira remava, sentou-se subitamente e
ouviu com uma intensidade apaixonada. O Toupeira,
que com golpes gentis estava apenas mantendo o
barco em movimento enquanto examinava as margens
com cuidado, olhou para ele com curiosidade.
"Acabou!" suspirou o Rato, afundando-se novamente
em seu assento. "Tão bonito e estranho e novo. Como
era para terminar tão cedo, eu quase desejaria
nunca ter ouvido. Pois despertou um anseio em mim
que é dor, e nada parece valer a pena, mas apenas
ouvir esse som mais uma vez e continuar ouvindo
para sempre. Não! Lá está novamente!" ele gritou,
alerta mais uma vez. Encantado, ele cou em silêncio
por um longo tempo, enfeitiçado.
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"Agora passa e começo a perdê-lo", disse ele depois
de um tempo. "Oh, Toupeira! a beleza disso! A bolha
alegre e a alegria, o chamado tênue e claro da
auta distante! Tal música eu nunca sonhei, e o
chamado nela é mais forte ainda do que a música é
doce! Rema, Toupeira, rema! Pois a música e o
chamado devem ser para nós."
O Toupeira, muito admirado, obedeceu. "Eu não ouço
nada", disse ele, "mas o vento tocando nos juncos e
nas taboas e nos amieiros."
O Rato nunca respondeu, se é que ouviu. Arrebatado,
transportado, tremendo, ele foi possuído em todos os
seus sentidos por essa coisa divina nova que pegou
sua alma indefesa e a balançou e a embalou, um
bebê impotente mas feliz em um forte braço
sustentador.
Em silêncio, o Toupeira remou rmemente, e logo eles
chegaram a um ponto onde o rio se dividia, um longo
braço de água parada se rami cando para um lado.
Com um leve movimento de cabeça, o Rato, que havia
largado as linhas do leme há muito tempo, dirigiu o
remador para pegar o braço de água parada. A maré
de luz se in ltrou e ganhou, e agora eles podiam ver
a cor das ores que enfeitavam a margem da água.
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"Mais claro e mais perto ainda", gritou o Rato
alegremente. "Agora você certamente ouve! Ah...
en m... eu vejo que você ouve!"
Sem fôlego e trans xo, o Toupeira parou de remar
quando a corrida líquida daquele autear alegre o
atingiu como uma onda, o pegou e o possuiu
completamente. Ele viu lágrimas nos olhos de seu
companheiro, e abaixou a cabeça e entendeu. Por um
tempo, eles caram ali, escovados pelo lírio roxo que
franjava a margem; então o claro e imperioso
chamado que marchava lado a lado com a melodia
intoxicante impôs sua vontade ao Toupeira, e
mecanicamente ele se curvou para os remos
novamente. E a luz cresceu rmemente, mas nenhum
pássaro cantou como costumavam fazer na
aproximação do amanhecer; e a não ser pela música
celestial, tudo estava maravilhosamente quieto.
Em ambos os lados deles, enquanto deslizavam para a
frente, a rica grama do prado parecia naquela manhã
de uma frescura e um verdejante insuperáveis.
Nunca haviam notado as rosas tão vívidas, a erva-
de-São-João tão desenfreada, a doçura do prado tão
perfumada e penetrante. Então o murmúrio da
represa se aproximando começou a preencher o ar, e
eles sentiram uma consciência de que estavam se
aproximando do m, qualquer que fosse, que
certamente aguardava sua expedição.
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Um amplo semicírculo de espuma e luzes cintilantes
e ombros verdes de água, a grande represa fechou o
braço de água parada de margem a margem,
perturbou toda a superfície quieta com redemoinhos
e listras utuantes de espuma, e abafou todos os
outros sons com seu rugido solene e suave. No meio
da corrente, abraçado pelo braço cintilante da
represa, uma pequena ilha estava ancorada, franjada
de perto com salgueiros e bétulas prateadas e
amieiros. Reservada, tímida, mas cheia de signi cado,
ela escondia o que quer que pudesse segurar atrás
de um véu, mantendo-o até que a hora chegasse, e,
com a hora, aqueles que eram chamados e
escolhidos.
Lentamente, mas sem dúvida ou hesitação, os dois
animais passaram pela água quebrada e tumultuada
e amarraram seu barco na margem orida da ilha.
Em silêncio, eles desembarcaram, e empurraram
através da or e do mato perfumado e do sub-
bosque que levava até o terreno plano, até que eles
caram em um pequeno gramado de um verde
maravilhoso, cercado pelas próprias árvores do
pomar da Natureza... macieiras silvestres, cerejeiras
silvestres e espinheiros.
"Este é o lugar do meu sonho de canção", sussurrou
o Rato, como em um transe. "Aqui, neste lugar santo,
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aqui, se em algum lugar, certamente encontraremos
Ele!"
Então, de repente, o Toupeira sentiu um grande
temor cair sobre ele, um temor que transformou
seus músculos em água, abaixou sua cabeça e
enraizou seus pés no chão. Não era um terror de
pânico... na verdade, ele se sentia maravilhosamente
em paz e feliz... mas era um temor que o atingiu e o
segurou, e, sem ver, ele sabia que só podia signi car
que alguma Presença augusta estava muito, muito
perto. Com di culdade, ele se virou para olhar para
seu amigo e o viu ao seu lado, acovardado, atingido e
tremendo violentamente. E ainda havia silêncio total
nos ramos povoados de pássaros ao seu redor; e
ainda a luz crescia e crescia.
Talvez ele nunca tivesse ousado levantar os olhos,
mas que, embora a auta agora estivesse em
silêncio, o chamado e a convocação pareciam ainda
dominantes e imperiosos. Ele não podia recusar,
mesmo que a Morte em pessoa estivesse esperando
para atingi-lo instantaneamente, uma vez que ele
tivesse olhado com olhos mortais para as coisas que
eram mantidas escondidas. Tremendo, ele obedeceu, e
levantou sua cabeça humilde; e então, naquela
clareza total do amanhecer iminente, enquanto a
Natureza, enrubescida com a plenitude de uma cor
incrível, parecia segurar a respiração para o evento,
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ele olhou nos próprios olhos do Amigo e do Ajudante;
viu a varredura para trás dos chifres curvos,
brilhando na luz crescente do dia; viu o nariz severo
e adunco entre os olhos bondosos que estavam
olhando para baixo neles com humor, enquanto a
boca barbada se abria em um meio-sorriso nos
cantos; viu os músculos ondulantes no braço que
estava estendido sobre o peito largo, a mão longa e
exível ainda segurando as autas que haviam caído
dos lábios separados; viu as curvas esplêndidas dos
membros peludos dispostos em majestade fácil no
gramado; viu, por último, aninhada entre seus cascos,
dormindo profundamente em paz e contentamento
total, a pequena forma redonda e rechonchuda do
bebê lontra. Tudo isso ele viu, por um momento sem
fôlego e intenso, vívido no céu da manhã; e ainda,
enquanto olhava, ele vivia; e ainda, enquanto vivia,
ele se perguntava.
"Rato!" ele encontrou fôlego para sussurrar,
tremendo. "Você está com medo?"
"Com medo?" murmurou o Rato, seus olhos brilhando
com amor inexprimível. "Com medo! Dele? Oh, nunca,
nunca! E ainda... e ainda... Oh, Toupeira, estou com
medo!"
Então os dois animais, agachados no chão, abaixaram
suas cabeças e zeram uma reverência.
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Súbito e magni cente, o disco dourado do sol se
mostrou sobre o horizonte diante deles; e os
primeiros raios, atirando-se sobre os prados
nivelados, atingiram os animais cheios nos olhos e os
ofuscaram. Quando eles puderam olhar novamente, a
Visão havia desaparecido, e o ar estava cheio do
canto dos pássaros que saudavam o amanhecer.
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Enquanto eles olhavam xamente em miséria muda,
profunda, à medida que lentamente percebiam tudo
o que haviam visto e tudo o que haviam perdido, uma
brisa caprichosa, dançando da superfície da água,
sacudiu os álamos, sacudiu as rosas orvalhadas e
soprou suavemente e acariciando seus rostos; e com
seu toque suave veio o esquecimento instantâneo.
Pois este é o último e melhor presente que o demi-
deus bondoso tem cuidado em conferir àqueles a
quem ele se revelou em sua ajuda: o presente do
esquecimento. Para que a lembrança terrível não
permaneça e cresça, e eclipse a alegria e o prazer,
e a grande memória assombrosa não estrague todas
as vidas posteriores dos pequenos animais ajudados
a sair das di culdades, para que eles sejam felizes e
leves como antes.
O Toupeira esfregou os olhos e olhou xamente para
o Rato, que estava olhando em volta de uma maneira
confusa. "Peço desculpas; o que você disse, Rato?"
ele perguntou.
"Acho que eu estava apenas observando", disse o
Rato lentamente, "que este era o tipo certo de lugar,
e que aqui, se em algum lugar, deveríamos encontrá-
lo. E olhe! Porque, lá está ele, o pequeno sujeito!" E
com um grito de deleite, ele correu em direção ao
Portly adormecido.
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Mas o Toupeira cou parado por um momento, preso
em pensamento. Como alguém acordado subitamente
de um sonho lindo, que luta para recordá-lo, e não
pode recapturar nada além de uma sensação vaga da
beleza dele, a beleza! Até que isso também
desaparece por sua vez, e o sonhador aceita
amargamente o despertar duro e frio e todas as
suas penalidades; assim o Toupeira, depois de lutar
com sua memória por um breve espaço, sacudiu a
cabeça tristemente e seguiu o Rato.
Portly acordou com um guincho alegre, e se
contorceu com prazer à vista dos amigos de seu pai,
que haviam brincado com ele tantas vezes nos dias
passados. Em um momento, no entanto, seu rosto
cou em branco, e ele começou a caçar em um
círculo com um gemido suplicante. Como uma criança
que adormeceu feliz nos braços de sua ama, e
acorda para encontrar-se sozinha e posta em um
lugar estranho, e procura cantos e armários, e corre
de quarto em quarto, o desespero crescendo
silenciosamente em seu coração, assim Portly
procurou a ilha e procurou, obstinado e incansável,
até que nalmente chegou o momento negro de
desistir, e sentar-se e chorar amargamente.
O Toupeira correu rapidamente para confortar o
pequeno animal; mas o Rato, demorando-se, olhou
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longamente e com dúvida para certas marcas de
casco profundas na grama.
"Algum... grande... animal... esteve aqui", murmurou
ele lentamente e pensativamente; e cou meditando,
meditando; sua mente estranhamente agitada.
"Vamos, Rato!" chamou o Toupeira. "Pense no pobre
Lontra, esperando lá em cima na represa!"
Portly logo foi confortado pela promessa de um
agrado... uma viagem no rio no barco real do Sr.
Rato; e os dois animais o conduziram até a margem
da água, o colocaram seguramente entre eles no
fundo do barco, e remaram para baixo do braço de
água parada. O sol estava totalmente alto agora, e
quente sobre eles, os pássaros cantavam com alegria
e sem restrição, e as ores sorriam e acenavam de
ambas as margens, mas de algum modo... assim
pensaram os animais... com menos riqueza e brilho de
cor do que pareciam recordar ter visto recentemente
em algum lugar... eles se perguntaram onde.
O rio principal alcançado novamente, eles viraram a
proa do barco para cima, em direção ao ponto onde
sabiam que seu amigo estava mantendo sua vigília
solitária. À medida que se aproximavam da represa
familiar, o Toupeira levou o barco para a margem, e
eles levantaram Portly e o puseram sobre as pernas
no caminho de sirga, deram-lhe suas ordens de
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marcha e um tapa amigável nas costas, e
empurraram para o meio da corrente. Eles
observaram o pequeno animal enquanto ele
caminhava ao longo do caminho contente e com
importância; observaram-no até que viram seu
focinho levantar-se subitamente e sua marcha
quebrar-se em um trote desajeitado à medida que
ele apressava o passo com guinchos agudos e
contorções de reconhecimento. Olhando rio acima,
eles podiam ver a Lontra se levantar, tensa e rígida,
das águas rasas onde estava agachada em paciência
muda, e podiam ouvir seu latido atônito e alegre à
medida que ele saltava para cima através dos
amieiros para o caminho. Então o Toupeira, com um
forte puxão em um remo, virou o barco e deixou a
corrente completa levá-los para baixo novamente
para onde quer que fosse, sua busca agora
felizmente terminada.
"Eu me sinto estranhamente cansado, Rato", disse o
Toupeira, inclinando-se sobre os remos enquanto o
barco derivava. "É por estar acordado a noite toda,
você dirá, talvez; mas isso não é nada. Nós fazemos
tanto a metade das noites da semana, nesta época
do ano. Não; eu me sinto como se tivesse passado
por algo muito emocionante e bastante terrível, e
que acabou de passar; e ainda nada de particular
aconteceu."
"Ou algo muito surpreendente e esplêndido e lindo",
murmurou o Rato, inclinando-se para trás e
fechando os olhos. "Eu me sinto exatamente como
você, Toupeira; simplesmente morto de cansaço,
embora não cansado de corpo. É sorte termos a
corrente conosco, para nos levar para casa. Não é
alegre sentir o sol novamente, penetrando em nossos
ossos! E ouça o vento tocando nos juncos!"
"É como música... música distante", disse o Toupeira,
acenando sonolentamente.
"Assim eu estava pensando", murmurou o Rato,
sonhador e languidamente. "Música de dança... do
tipo saltitante que corre sem parar... mas com
palavras nela, também... ela passa para as palavras e
para fora delas novamente... eu as pego em
intervalos... então é música de dança mais uma vez, e
então nada além do sussurro suave e no dos
juncos."
"Você ouve melhor do que eu", disse o Toupeira
tristemente. "Eu não posso pegar as palavras."
"Deixe-me tentar e dá-las a você", disse o Rato
suavemente, seus olhos ainda fechados. "Agora está
se transformando em palavras novamente... tênue,
mas claro... Para que o temor não morra... E
transforme seu jogo em preocupação... Você deve
olhar para o meu poder na hora de ajudar... Mas
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então você deve esquecer! Agora os juncos a
tomam... esquecer, esquecer, eles suspiram, e ela
morre em um farfalhar e um sussurro. Então a voz
retorna... Para que os membros não sejam
avermelhados e rasgados... Eu solto a armadilha que
está montada... Como eu solto a armadilha, você
pode me ver lá... Pois certamente você deve
esquecer! Rema mais perto, Toupeira, mais perto dos
juncos! É difícil de pegar, e ca cada minuto mais
fraco.
"Ajudante e curador, eu alegro... Pequenos
desamparados na oresta molhada... Desgarrados eu
encontro nela, ferimentos eu ligo nela... Mandando-os
todos esquecer! Mais perto, Toupeira, mais perto!
Não, não é bom; a canção morreu para o sussurro
dos juncos."
"Mas o que signi cam as palavras?" perguntou o
Toupeira admirado.
"Isso eu não sei", disse o Rato simplesmente. "Eu as
passei para você como elas me alcançaram. Ah! agora
elas retornam novamente, e desta vez cheias e
claras! Desta vez, en m, é a coisa real, a coisa
inconfundível, simples... apaixonada... perfeita..."
"Bem, vamos ter isso, então", disse o Toupeira, depois
que ele havia esperado pacientemente por alguns
minutos, meio adormecido no sol quente.
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Mas nenhuma resposta veio. Ele olhou e entendeu o
silêncio. Com um sorriso de muita felicidade no rosto,
e algo de um olhar de escuta ainda pairando ali, o
Rato cansado estava profundamente adormecido.

Capítulo 8: As Aventuras do Sapo

Quando Sapo se viu imurado em um calabouço


sombrio e fedorento, e sabia que toda a escuridão
sombria de uma fortaleza medieval se estendia entre
ele e o mundo exterior de sol e estradas bem
pavimentadas, onde ele havia estado tão feliz
recentemente, se divertindo como se tivesse
comprado todas as estradas da Inglaterra, ele se
jogou no chão, de comprido, e derramou lágrimas
amargas, e se abandonou ao desespero sombrio.
"Este é o m de tudo" (disse ele), "pelo menos é o
m da carreira de Sapo, o que é a mesma coisa; o
popular e bonito Sapo, o rico e hospitaleiro Sapo, o
Sapo tão livre e descuidado e cavalheiresco! Como
posso esperar ser libertado novamente" (disse ele),
"quem foi preso tão justamente por roubar um carro
tão bonito de maneira tão audaciosa, e por tamanha
falta de vergonha e imaginação, concedida a tantos
policiais gordos e de cara vermelha!" (Aqui seus
soluços o sufocaram.) "Animal estúpido que eu
era" (disse ele), "agora devo de nhar neste
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calabouço, até que as pessoas que se orgulhavam de
dizer que me conheciam tenham esquecido o nome
de Sapo! Oh, sábio velho Texugo!" (disse ele), "Oh,
inteligente e sensato Rato e Mole! Que julgamentos
sensatos, que conhecimento de homens e assuntos
vocês possuem! Oh, infeliz e abandonado Sapo!"
Com lamentações como essas, ele passou seus dias e
noites por várias semanas, recusando suas refeições
ou lanches leves, embora o carcereiro sombrio e
antigo, sabendo que os bolsos de Sapo estavam bem
cheios, frequentemente apontasse que muitos
confortos e luxos poderiam ser enviados, mediante
arranjo, de fora.
Agora o carcereiro tinha uma lha, uma moça
agradável e de bom coração, que ajudava seu pai nos
deveres mais leves de seu cargo. Ela era
particularmente apaixonada por animais e, além de
seu canário, cuja gaiola pendia em uma parede do
calabouço durante o dia, para grande aborrecimento
dos prisioneiros que gostavam de uma soneca após o
jantar, e era coberta com um antimacassar na mesa
da sala de estar à noite, ela mantinha vários ratos
malhados e um esquilo inquieto e giratório. Essa
moça de bom coração, lamentando a miséria de Sapo,
disse a seu pai um dia: "Pai! Não posso suportar ver
esse pobre animal tão infeliz e emagrecendo! Deixe-
me cuidar dele. Você sabe como sou apaixonada por
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animais. Farei com que ele coma da minha mão e se
sente e faça todo tipo de coisas."
Seu pai respondeu que ela podia fazer o que
quisesse com ele. Ele estava cansado de Sapo e seus
amuos e ares e mesquinhez. Então, naquele dia, ela
foi em sua missão de misericórdia e bateu na porta
da cela de Sapo.
"Agora, anime-se, Sapo", disse ela, de forma
sedutora, ao entrar, "e sente-se e seque seus olhos e
seja um animal sensato. E tente comer um pouco de
jantar. Veja, eu trouxe um pouco do meu, quente do
forno!"
Era um prato de couve- or e batata, entre dois
pratos, e seu aroma encheu a cela estreita. O cheiro
penetrante da couve- or alcançou o nariz de Sapo
enquanto ele jazia prostrado em sua miséria no chão
e lhe deu a ideia, por um momento, de que talvez a
vida não fosse tão vazia e desesperada como ele
havia imaginado. Mas ele ainda chorou e chutou com
as pernas e se recusou a ser consolado. Então a
moça sábia se retirou por um tempo, mas, é claro,
um pouco do cheiro de couve- or quente
permaneceu, como sempre acontece, e Sapo, entre
seus soluços, cheirou e re etiu e gradualmente
começou a pensar em novas e inspiradoras coisas: de
cavalheirismo, poesia e feitos ainda a serem feitos;
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de prados amplos e gado pastando neles, varridos
pelo sol e pelo vento; de jardins de cozinha e bordas
de ervas retas e besouros quentes cercados por
abelhas; e do som reconfortante de pratos sendo
colocados na mesa em Vila do Sapo e do arranhar de
pernas de cadeiras no chão enquanto todos se
sentavam para trabalhar. O ar da cela estreita
adquiriu um tom rosado; ele começou a pensar em
seus amigos e como eles certamente poderiam fazer
algo; em advogados e como eles teriam gostado de
seu caso e que tolo ele havia sido por não contratar
alguns; e, por m, ele pensou em sua própria grande
inteligência e recursos e tudo que ele era capaz de
fazer se apenas desse sua grande mente para isso; e
a cura estava quase completa.
Quando a moça retornou, algumas horas depois, ela
carregava uma bandeja com uma xícara de chá
fragrante fumegando nela; e um prato empilhado com
torradas quentes e manteigadas, cortadas grossas,
muito marrons de ambos os lados, com a manteiga
escorrendo pelos buracos em grandes gotas
douradas, como mel do favo. O cheiro daquela
torrada amanteigada simplesmente falou com Sapo e
com uma voz não incerta; falou de cozinhas quentes,
de café da manhã em manhãs frescas e brilhantes,
de lareiras aconchegantes em noites de inverno,
quando a caminhada estava terminada e os pés
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calçados estavam apoiados no guarda-fogo; do
ronronar de gatos contentes e do canto de canários
sonolentos. Sapo sentou-se novamente, secou os
olhos, bebeu seu chá e comeu sua torrada e logo
começou a falar livremente sobre si mesmo e a casa
em que vivia e suas ações lá e como ele era
importante e o que seus amigos pensavam dele.
A lha do carcereiro viu que o tópico estava fazendo
tanto bem a ele quanto o chá, e de fato era, e o
encorajou a continuar.
"Conte-me sobre a Vila do Sapo", disse ela. "Parece
lindo."
"A Vila do Sapo", disse Sapo orgulhosamente, "é uma
residência elegível e autossu ciente de um cavalheiro
muito única; datando em parte do século XIV, mas
repleta de todas as conveniências modernas.
Sanitários atualizados. Cinco minutos da igreja, do
correio e dos links de golfe. Adequado para -"
"Abençoe o animal", disse a moça, rindo, "não quero
comprá-lo. Conte-me algo real sobre isso. Mas
primeiro espere até que eu pegue mais chá e
torrada para você."
Ela saiu correndo e logo retornou com uma bandeja
fresca; e Sapo, atacando a torrada com avidez, seu
espírito completamente restaurado ao seu nível
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habitual, contou-lhe sobre a casa do barco e o lago
de peixes e o jardim de cozinha murado antigo; e
sobre os chiqueiros e os estábulos e a casa dos
pombos e o galinheiro; e sobre a leiteria e a
lavanderia e os armários de porcelana e as prensas
de linho (ela gostou especialmente dessa parte); e
sobre o salão de banquetes e a diversão que eles
tinham lá quando os outros animais estavam reunidos
em torno da mesa e Sapo estava no seu melhor,
cantando canções, contando histórias, fazendo piadas
em geral. Então ela quis saber sobre seus amigos
animais e estava muito interessada em tudo o que
ele tinha a dizer sobre eles e como viviam e o que
faziam para passar o tempo. É claro que ela não
disse que gostava de animais como pets, porque ela
tinha o senso de ver que Sapo caria extremamente
ofendido. Quando ela disse boa noite, tendo enchido
sua garrafa de água e sacudido sua palha para ele,
Sapo estava muito parecido com o animal sanguíneo
e auto-satisfeito que ele havia sido antigamente. Ele
cantou uma ou duas canções, do tipo que costumava
cantar em seus jantares, encolheu-se na palha e
teve uma excelente noite de sono e os sonhos mais
agradáveis.
Eles tiveram muitas conversas interessantes juntos,
depois disso, enquanto os dias sombrios passavam; e
a lha do carcereiro cou muito arrependida por
fi
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Sapo e pensou que era uma grande vergonha que um
pobre animalzinho estivesse preso na prisão por o
que parecia ser uma ofensa muito trivial. Sapo, é
claro, em sua vaidade, pensou que o interesse dela
por ele procedia de uma ternura crescente; e ele
não podia deixar de meio arrepender-se de que o
abismo social entre eles fosse tão amplo, pois ela era
uma linda moça e evidentemente o admirava muito.
Uma manhã, a moça estava muito pensativa e
respondia ao acaso e não parecia estar prestando
atenção adequada às frases espirituosas e
comentários brilhantes de Sapo.
"Sapo", disse ela, por m, "apenas ouça, por favor.
Tenho uma tia que é uma lavadeira."
"Lá, lá", disse Sapo, graciosa e afavelmente, "não se
preocupe; não pense mais nisso. Tenho várias tias que
deveriam ser lavadeiras."
"Seja quieto por um minuto, Sapo", disse a moça.
"Você fala demais, essa é sua principal falha, e
estou tentando pensar, e você está me machucando a
cabeça. Como eu disse, tenho uma tia que é uma
lavadeira; ela faz a lavagem para todos os
prisioneiros neste castelo - nós tentamos manter
qualquer negócio pago desse tipo na família, você
entende. Ela tira a lavagem na segunda-feira de
manhã e a traz de volta na sexta-feira à noite. Hoje
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é quinta-feira. Agora, o que me ocorre é isso: você é
muito rico - pelo menos você está sempre me
dizendo isso - e ela é muito pobre. Alguns pounds
não fariam diferença para você e signi cariam muito
para ela. Agora, acho que se ela fosse devidamente
abordada - subornada, acredito que seja a palavra
que vocês animais usam - você poderia chegar a
algum acordo pelo qual ela o deixaria ter seu vestido
e touca e assim por diante, e você poderia escapar
do castelo como a lavadeira o cial. Você é muito
parecido com ela em muitos aspectos -
particularmente na gura."
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"Não somos", disse Sapo em um acesso de raiva.
"Tenho uma gura muito elegante - para o que sou."
"Minha tia também tem", respondeu a moça, "para o
que ela é. Mas faça como quiser. Você é um animal
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horrível, orgulhoso e ingrato, quando estou
arrependida por você e tentando ajudá-lo!"
"Sim, sim, tudo bem; muito obrigado, de fato", disse
Sapo rapidamente. "Mas olhe aqui! Você não teria Sr.
Sapo de Vila do Sapo andando pelo país disfarçado
de lavadeira!"
"Então você pode parar aqui como um Sapo",
respondeu a moça com muito espírito. "Suponho que
você queira ir embora em uma carruagem e quatro
cavalos!"
Sapo honesto estava sempre pronto para admitir que
estava errado. "Você é uma boa, gentil e inteligente
moça", disse ele, "e eu sou de fato um Sapo
orgulhoso e estúpido. Apresente-me à sua tia digna,
se você for tão gentil, e não tenho dúvida de que a
excelente senhora e eu poderemos chegar a um
acordo satisfatório para ambas as partes."
Naquela noite, a moça levou sua tia até a cela de
Sapo, carregando sua lavagem semanal presa em
uma toalha. A velha senhora havia sido preparada
com antecedência para a entrevista e a visão de
certas soberanas de ouro que Sapo havia colocado
pensativamente sobre a mesa em plena vista
praticamente concluiu o assunto e deixou pouco mais
a discutir. Em troca de seu dinheiro, Sapo recebeu
um vestido de algodão impresso, um avental, um xale
e um chapéu preto enferrujado; a única estipulação
que a velha senhora fez foi que ela deveria ser
amordaçada e amarrada e jogada em um canto. Por
esse artifício não muito convincente, ela explicou,
auxiliada por uma cção pitoresca que ela mesma
poderia fornecer, ela esperava manter sua situação,
apesar da aparência suspeita das coisas.
Sapo cou encantado com a sugestão. Isso permitiria
que ele deixasse a prisão com algum estilo e com
sua reputação de ser um sujeito desesperado e
perigoso intacta; e ele prontamente ajudou a lha do
carcereiro a fazer com que sua tia parecesse tanto
quanto possível a vítima de circunstâncias sobre as
quais ela não tinha controle.
"Agora é sua vez, Sapo", disse a moça. "Tire aquele
casaco e colete; você está gordo o su ciente como
está."
Tremendo de riso, ela começou a "enganchar e
olhar" para ele no vestido de algodão impresso,
arrumou o xale com um dobra pro ssional e amarrou
as cordas do chapéu preto enferrujado sob o queixo
dele.
"Você é a própria imagem dela", ela gargalhou, "só
que estou certa de que você nunca pareceu tão
respeitável em toda a sua vida antes. Agora, adeus,
Sapo, e boa sorte. Vá direto para baixo pelo caminho
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que você veio; e se alguém disser alguma coisa para
você, como provavelmente farão, sendo apenas
homens, você pode responder um pouco, é claro, mas
lembre-se de que você é uma mulher viúva,
completamente sozinha no mundo, com um caráter a
perder."
Com um coração trêmulo, mas com um passo rme
quanto possível, Sapo partiu cautelosamente em uma
empreitada que parecia ser a mais temerária e
arriscada; mas ele logo cou agradavelmente
surpreso ao descobrir como tudo era fácil para ele e
um pouco humilde ao pensar que tanto sua
popularidade quanto o sexo que parecia inspirá-la
eram realmente de outra pessoa. A gura atarracada
da lavadeira em seu vestido de algodão impresso
familiar parecia ser um passaporte para cada porta
trancada e portão sombrio; mesmo quando ele
hesitou, incerto sobre a direção certa a tomar, ele
descobriu que era ajudado em sua di culdade pelo
guarda no próximo portão, ansioso para ir tomar seu
chá, chamando-o para vir rapidamente e não o
manter esperando ali a noite toda. As brincadeiras e
as saudações humorísticas às quais ele foi submetido
e às quais, é claro, ele teve que responder
prontamente e de forma e caz, formaram, de fato,
seu principal perigo; pois Sapo era um animal com
um forte senso de sua própria dignidade e as
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brincadeiras eram na maioria (ele pensou) pobres e
desajeitadas e o humor das saudações
completamente ausente. No entanto, ele manteve a
calma, embora com grande di culdade, adequou suas
respostas à sua companhia e ao seu suposto
personagem e fez o melhor que pôde para não
ultrapassar os limites do bom gosto.
Parecia horas antes que ele cruzasse o último pátio,
rejeitasse os convites insistente do último guarda e
evitasse os braços estendidos do último guarda,
implorando com paixão simulada por apenas um
abraço de despedida. Mas nalmente ele ouviu o
portão da guilhotina na grande porta externa clicar
atrás dele, sentiu o ar fresco do mundo exterior em
sua testa ansiosa e soube que estava livre!
Tonto com o sucesso fácil de sua ousada façanha, ele
caminhou rapidamente em direção às luzes da
cidade, sem saber ao menos o que fazer em seguida,
apenas certo de uma coisa, que ele devia se afastar
o mais rápido possível do bairro onde a senhora que
ele foi forçado a representar era tão conhecida e
popular.
Enquanto caminhava, considerando, sua atenção foi
capturada por algumas luzes vermelhas e verdes a
uma curta distância, para um lado da cidade, e o
som do bufar e resfolegar de motores e o barulho de
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vagões de carga desviados caiu em seu ouvido. "Aha!"
ele pensou, "isso é uma peça de sorte! Uma estação
de trem é a coisa que eu mais quero no mundo neste
momento; e o que é mais, eu não preciso ir através
da cidade para chegar lá, e não terei que sustentar
este personagem humilhante com réplicas que,
embora e cazes, não ajudam o meu senso de auto-
respeito."
Ele fez seu caminho para a estação de acordo,
consultou um horário e descobriu que um trem, mais
ou menos na direção de sua casa, estava programado
para partir em meia hora. "Mais sorte!" disse Sapo,
seu espírito subindo rapidamente, e foi até o
escritório de reservas para comprar seu bilhete.
Ele deu o nome da estação que sabia ser a mais
próxima da aldeia da qual Vila do Sapo era a
principal característica e mecanicamente colocou
seus dedos, em busca do dinheiro necessário, onde o
bolso de seu colete deveria estar. Mas aqui o vestido
de algodão, que havia nobremente cado ao seu lado
até agora e que ele havia esquecido, interveio e
frustrou seus esforços. Em uma espécie de pesadelo,
ele lutou com a estranha coisa desconhecida que
parecia segurar suas mãos, transformar todos os
esforços musculares em água e rir dele o tempo
todo; enquanto outros viajantes, formando uma la
atrás dele, esperavam com impaciência, fazendo
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sugestões de mais ou menos valor e comentários de
mais ou menos estringência e ponto. Por m - de
alguma forma - ele nunca entendeu exatamente
como - ele rompeu as barreiras, alcançou o objetivo,
chegou aonde todos os bolsos de colete estão
eternamente situados e descobriu - não apenas
dinheiro, mas não havia bolso para segurá-lo e
nenhum colete para segurar o bolso!
Para seu horror, ele se lembrou de que havia deixado
tanto o casaco quanto o colete para trás, em sua
cela, e com eles sua carteira, dinheiro, chaves,
relógio, fósforos, caneta e tudo o que faz a vida
valer a pena viver, tudo o que distingue o animal de
muitos bolsos, o senhor da criação, das produções
inferiores de um bolso ou sem bolso que pulam ou
tropeçam permissivamente, desequipadas para o
verdadeiro concurso.
Em sua miséria, ele fez um esforço desesperado
para levar a coisa adiante e, com um retorno ao seu
velho estilo - uma mistura do Esquire e do Reitor da
Faculdade - ele disse: "Olhe aqui! Descobri que
deixei minha bolsa para trás. Apenas me dê aquele
bilhete, sim, e eu mandarei o dinheiro amanhã? Sou
bem conhecido nestas partes."
O funcionário olhou para ele e para o chapéu preto
enferrujado por um momento e então riu. "Eu
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deveria pensar que você é muito conhecido nestas
partes", disse ele, "se você já tentou esse jogo
muitas vezes. Aqui, afaste-se da janela, por favor,
madame; você está obstruindo os outros
passageiros!"
Um velho cavalheiro que havia estado cutucando-o
nas costas por alguns momentos o empurrou para
longe e, o que era pior, dirigiu-se a ele como sua boa
mulher, o que enfureceu Sapo mais do que qualquer
coisa que havia ocorrido naquela noite.
Derrotado e cheio de desespero, ele vagou
cegamente pela plataforma onde o trem estava
parado e lágrimas escorreram por ambos os lados de
seu nariz. Era difícil, ele pensou, estar à vista da
segurança e quase em casa e ser detido pela falta
de alguns xelins miseráveis e pela descon ança
mesquinha de funcionários pagos. Muito em breve,
sua fuga seria descoberta, a caça estaria em
andamento, ele seria pego, insultado, carregado com
correntes, arrastado de volta à prisão e pão e água e
palha; seus guardas e penalidades seriam duplicados;
e oh, que comentários sarcásticos a moça faria! O
que poderia ser feito? Ele não era rápido nos pés;
sua gura era infelizmente reconhecível. Não poderia
ele se esgueirar sob o banco de um vagão? Ele havia
visto esse método adotado por escolares, quando o
dinheiro da viagem fornecido por pais previdentes
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havia sido desviado para outros e melhores ns.
Enquanto ponderava, ele se viu diante da locomotiva,
que estava sendo lubri cada, limpa e geralmente
acariciada por seu motorista afeiçoado, um homem
corpulento com um recipiente de óleo em uma mão e
um pedaço de algodão em outra.
"Olá, mãe!" disse o maquinista, "qual é o problema?
Você não parece particularmente alegre."
"Oh, senhor!" disse Sapo, chorando novamente, "sou
uma pobre lavadeira infeliz e perdi todo o meu
dinheiro e não posso pagar por um bilhete e devo
chegar em casa esta noite de alguma forma e não
sei o que fazer, oh, querido, oh, querido!"
"Isso é um mau negócio, de fato", disse o maquinista
re etindo. "Perdeu seu dinheiro - e não pode chegar
em casa - e tem alguns lhos esperando por você,
eu suponho?"
"Qualquer quantidade deles", soluçou Sapo. "E eles
estarão com fome - e brincando com fósforos - e
derrubando lampiões, os pequenos inocentes! - e
brigando e seguindo em frente, em geral. Oh,
querido, oh, querido!"
"Bem, eu vou dizer o que farei", disse o bom
maquinista. "Você é uma lavadeira de pro ssão, diz
você. Muito bem, isso é isso. E eu sou um maquinista,
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como você bem pode ver, e não há como negar que é
um trabalho muito sujo. Usa uma quantidade de
camisas, faz, até que minha esposa esteja cansada
de lavá-las. Se você lavar algumas camisas para mim
quando chegar em casa e as enviar, eu darei a você
uma carona no meu trem. É contra os regulamentos
da Companhia, mas não somos tão particulares
nestas partes afastadas."
A miséria de Sapo se transformou em êxtase
enquanto ele se apressava a subir na cabine da
locomotiva. É claro que ele nunca havia lavado uma
camisa em sua vida e não poderia se tentasse, e de
qualquer forma, ele não iria começar; mas ele
pensou: "Quando eu chegar em casa em Vila do Sapo
e tiver dinheiro novamente e bolsos para colocá-lo,
eu enviarei ao maquinista o su ciente para pagar por
uma boa quantidade de lavagem, e isso será a
mesma coisa ou melhor."
O guarda acenou com sua bandeira de boas-vindas, o
maquinista assobiou em resposta alegre e o trem
saiu da estação. À medida que a velocidade
aumentava e Sapo podia ver em ambos os lados dele
campos reais, árvores e sebes, vacas e cavalos, todos
voando rapidamente, e à medida que pensava que
cada minuto estava trazendo-o mais perto de Vila do
Sapo, de amigos simpáticos, de dinheiro para tilintar
em seu bolso, de uma cama macia para dormir e de
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coisas boas para comer, e de elogios e admiração ao
relatar suas aventuras e sua habilidade
surpreendente, ele começou a pular para cima e para
baixo e a gritar e a cantar trechos de canções, para
o grande espanto do maquinista, que havia
encontrado lavadeiras antes, em longos intervalos,
mas nunca uma como essa.
Eles haviam coberto muitas milhas e Sapo estava
considerando o que teria para o jantar assim que
chegasse em casa, quando ele notou que o
maquinista, com uma expressão intrigada no rosto,
estava se inclinando sobre o lado da locomotiva e
ouvindo atentamente. Então ele o viu subir nas
brasas e olhar para fora sobre o topo do trem; então
ele voltou e disse a Sapo: "É muito estranho; somos o
último trem que funciona nesta direção esta noite,
mas eu poderia jurar que ouvi outro trem nos
seguindo!"
Sapo parou suas travessuras frívolas imediatamente.
Ele cou sério e deprimido e uma dor surda na parte
inferior de sua espinha, comunicando-se às suas
pernas, o fez querer se sentar e tentar
desesperadamente não pensar em todas as
possibilidades.
Nesse momento, a lua estava brilhando intensamente
e o maquinista, equilibrando-se nas brasas, podia
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comandar uma visão da linha atrás deles por uma
longa distância.
Logo ele gritou: "Posso vê-lo claramente agora! É
uma locomotiva, em nossos trilhos, vindo em uma
grande velocidade! Parece que estamos sendo
perseguidos!"
O infeliz Sapo, agachado na poeira das brasas,
tentou pensar em algo para fazer, com um sucesso
desanimador.
"Eles estão nos alcançando rapidamente!" gritou o
maquinista. E a locomotiva está cheia de pessoas
estranhas! Homens como guardas antigos, acenando
com alabardas; policiais em seus capacetes, acenando
com cassetetes; e homens mal vestidos em chapéus
de pano, detetives à paisana óbvios e inconfundíveis
mesmo a esta distância, acenando com revólveres e
bengalas; todos acenando e gritando a mesma coisa
- 'Pare, pare, pare!'"
Então Sapo caiu de joelhos entre as brasas e,
erguendo suas patas juntas em súplica, gritou:
"Salve-me, apenas me salve, querido e gentil Sr.
Maquinista, e eu confessarei tudo! Não sou a simples
lavadeira que pareço ser! Não tenho lhos esperando
por mim, inocentes ou não! Sou um sapo - o
conhecido e popular Sr. Sapo, um proprietário de
terras; acabei de escapar, por minha grande ousadia
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e habilidade, de um calabouço nojento no qual meus
inimigos me jogaram; e se aqueles sujeitos naquela
locomotiva me recapturarem, serão correntes e pão e
água e palha e miséria uma vez mais para o pobre,
infeliz e inocente Sapo!"
O maquinista olhou para ele muito severamente e
disse: "Agora diga a verdade; por que você foi
colocado na prisão?"
"Não foi nada muito grande", disse o pobre Sapo,
corando profundamente. "Eu apenas peguei
emprestado um carro enquanto os proprietários
estavam almoçando; eles não precisavam dele naquele
momento. Eu não pretendia roubá-lo, realmente; mas
as pessoas - especialmente os magistrados - têm
visões tão duras de ações imprudentes e de alto
espírito!"
O maquinista parecia muito grave e disse: "Temo que
você tenha sido de fato um sapo muito mau e que,
por direito, eu deveria entregá-lo à justiça ofendida.
Mas você está evidentemente em uma situação difícil
e angustiada, então não o abandonarei. Não concordo
com carros, por um lado; e não concordo em ser
ordenado por policiais quando estou no meu próprio
trem, por outro. E a visão de um animal em lágrimas
sempre me faz sentir estranho e com o coração mole.
Então, anime-se, Sapo! Farei o meu melhor e
podemos derrotá-los ainda!"
Eles jogaram mais brasas, cavando furiosamente; a
fornalha rugiu, as faíscas voaram, a locomotiva
saltou e balançou, mas seus perseguidores ainda os
alcançavam lentamente. O maquinista, com um
suspiro, limpou a testa com um punhado de algodão e
disse: "Temo que não seja bom, Sapo. Você vê, eles
estão correndo com pouca carga e têm a melhor
locomotiva. Há apenas uma coisa a ser feita e é sua
única chance, então preste atenção ao que eu digo.
Um pouco à frente de nós há um longo túnel e, do
outro lado, a linha passa por uma oresta densa.
Agora, vou colocar toda a velocidade que posso
enquanto estamos no túnel, mas os outros sujeitos
vão diminuir um pouco, naturalmente, por medo de
um acidente. Quando sairmos do túnel, vou desligar
o vapor e aplicar os freios com toda a força que
posso e, no momento em que for seguro fazê-lo, você
deve saltar e se esconder na oresta antes que eles
saiam do túnel e o vejam. Então, vou seguir em
frente a toda velocidade novamente e eles podem
me perseguir se quiserem, por tanto tempo quanto
quiserem e tão longe quanto quiserem. Agora, preste
atenção e esteja pronto para saltar quando eu
disser!"
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Eles jogaram mais brasas e o trem entrou no túnel e
a locomotiva rugiu e resfolegou e sacudiu até que
nalmente saíram do outro lado, no ar fresco e na
luz tranquila da lua e viram a oresta deitada escura
e útil de ambos os lados da linha. O maquinista
desligou o vapor e aplicou os freios, Sapo desceu
para o degrau e, quando o trem diminuiu a
velocidade para quase um passo, ele ouviu o
maquinista gritar: "Agora, salte!"
Sapo saltou, rolou por uma pequena encosta, se
levantou ileso, subiu a oresta e se escondeu.
Olhando para fora, ele viu seu trem ganhar
velocidade novamente e desaparecer em uma grande
velocidade. Então, do túnel, irrompeu a locomotiva
perseguidora, rugindo e apitando, sua tripulação
variada acenando com suas várias armas e gritando:
"Pare, pare, pare!" Quando passaram, Sapo teve uma
boa risada - pela primeira vez desde que foi jogado
na prisão.
Mas logo ele parou de rir quando ele veio a
considerar que agora era muito tarde e escuro e frio
e ele estava em uma oresta desconhecida, sem
dinheiro e sem chance de jantar e ainda longe de
amigos e casa; e o silêncio morto de tudo, após o
rugido e o estrondo do trem, foi uma espécie de
choque. Ele não ousou deixar o abrigo das árvores,
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então ele entrou na oresta, com a ideia de deixar a
ferrovia o mais longe possível atrás dele.
Depois de tantas semanas dentro de muros, ele
achou a oresta estranha e inamistosa e inclinada,
ele pensou, a zombar dele. Noitibó, soando seu
matraquear mecânico, o fez pensar que a oresta
estava cheia de guardas de prisão, fechando-se
sobre ele. Uma coruja, descendo silenciosamente em
sua direção, roçou seu ombro com sua asa, fazendo-
o saltar com a certeza horrível de que era uma mão;
então voou, como uma mariposa, rindo seu "hu-hu-
hu" baixo, o que Sapo achou de muito mau gosto.
Uma vez ele encontrou uma raposa, que parou,
olhou-o de cima a baixo de uma maneira sarcástica e
disse: "Olá, lavadeira! Meia dúzia de meias e um
travesseiro curto esta semana! Cuide para que isso
não aconteça novamente!" e saiu andando, rindo.
Sapo procurou uma pedra para jogar nela, mas não
conseguiu encontrar uma, o que o enfureceu mais do
que qualquer coisa. Por m, frio, com fome e
cansado, ele buscou o abrigo de uma árvore oca,
onde, com galhos e folhas mortas, ele se fez uma
cama tão confortável quanto possível e dormiu
profundamente até a manhã.

Capítulo 9: Todos os Viajantes


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O Rato do Rio estava inquieto e não sabia
exatamente por quê. Ao que parecia, o verão ainda
estava no auge, e embora os campos cultivados
estivessem começando a dourar, as sorveiras
estivessem se tornando vermelhas e as orestas
estivessem pontilhadas com uma ferocidade
alaranjada, a luz, o calor e a cor ainda estavam
presentes em medida plena, sem qualquer sinal de
declínio. Mas o coro constante dos pomares e sebes
havia diminuído para um canto casual de alguns
poucos artistas ainda não cansados; o rouxinol estava
começando a se a rmar novamente; e havia um
sentimento no ar de mudança e partida.
O cuco, é claro, havia silenciado há muito tempo; mas
muitos outros amigos emplumados, que por meses
haviam feito parte da paisagem familiar e da sua
pequena sociedade, também estavam desaparecendo,
e parecia que as leiras estavam se esvaziando dia a
dia. O Rato, sempre observador de todos os
movimentos alados, viu que estava tomando uma
tendência ao sul diariamente; e mesmo quando ele
estava deitado na cama à noite, ele pensou que podia
ouvir, passando na escuridão acima dele, o bater e
tremer de asas impacientes, obedecendo ao chamado
imperioso.
O Grande Hotel da Natureza tem sua Estação, como
os outros. Quando os hóspedes, um a um, fazem as
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malas, pagam e partem, e os assentos na mesa do
hotel diminuem miseravelmente a cada refeição;
quando os conjuntos de quartos são fechados, os
tapetes são levados e os garçons são mandados
embora; aqueles que estão cando, em pensão, até a
reabertura do ano seguinte, não podem deixar de ser
afetados por todas essas partidas e despedidas, essa
discussão ansiosa de planos, rotas e novos
alojamentos, essa diminuição diária no uxo de
companheirismo. A pessoa se sente inquieta,
deprimida e inclinada a ser queixosa. Por que essa
ânsia por mudança? Por que não car aqui
quietamente, como nós, e ser feliz? Você não sabe
como é este hotel fora da estação, e o quanto nos
divertimos entre nós, nós que camos e vemos o ano
interessante passar. Tudo muito verdadeiro, sem
dúvida, os outros sempre respondem; nós invejamos
vocês - e talvez algum outro ano - mas agora temos
compromissos - e há o ônibus na porta - nosso
tempo está acabando!
Então, eles partem, com um sorriso e um aceno, e
nós sentimos falta, e nos sentimos ressentidos. O
Rato era um tipo de animal autossu ciente,
enraizado na terra, e, quem quer que partisse, ele
cava; ainda assim, ele não podia deixar de notar o
que estava no ar, e sentir alguma de sua in uência
nos seus ossos.
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Era difícil se estabelecer em qualquer coisa
seriamente, com toda essa agitação acontecendo.
Deixando a margem do rio, onde as taboas estavam
espessas e altas em um riacho que estava se
tornando lento e baixo, ele vagou em direção ao
campo, cruzou um ou dois campos de pastagem já
parecendo empoeirados e ressequidos, e entrou no
grande mar de trigo, amarelo, ondulante e
murmurante, cheio de movimento silencioso e
sussurros pequenos. Aqui, ele costumava amar vagar,
através da oresta de caules fortes e rígidos que
carregavam seu próprio céu dourado para longe
sobre sua cabeça - um céu que estava sempre
dançando, cintilando, falando suavemente; ou
balançando fortemente para o vento que passava e
se recuperando com um sacudir e uma risada alegre.
Aqui, também, ele tinha muitos amigos pequenos,
uma sociedade completa em si mesma, levando vidas
cheias e ocupadas, mas sempre com um momento
sobrando para fofocar e trocar notícias com um
visitante. Hoje, no entanto, embora eles fossem
educados o su ciente, os ratos do campo e os ratos
da colheita pareciam preocupados. Muitos estavam
cavando e túneis ocupados; outros, reunidos em
pequenos grupos, examinavam planos e desenhos de
pequenos apartamentos, considerados desejáveis e
compactos, e localizados convenientemente perto das
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Lojas. Alguns estavam arrastando trunks e cestas de
roupas empoeiradas, outros estavam já cotovelos-
deep empacotando suas posses; enquanto em todos
os lugares pilhas e feixes de trigo, aveia, cevada,
mastros de faia e nozes, estavam prontos para o
transporte.
"Aqui está o velho Rato!", eles gritaram assim que o
viram. "Venha e dê uma mão, Rato, e não que
parado ociosamente!"
"Que tipo de jogos você está fazendo?", perguntou o
Rato do Rio severamente. "Você sabe que ainda não
é hora de pensar em quartos de inverno, de jeito
nenhum!"
"Ah, sim, sabemos", explicou um rato do campo um
pouco envergonhado; "mas é sempre bom estar
preparado, não é? Nós realmente precisamos tirar
todos os móveis e bagagens e estoques daqui antes
que aquelas máquinas horríveis comecem a clicar em
torno dos campos; e então, você sabe, os melhores
apartamentos são escolhidos tão rapidamente nos
dias de hoje, e se você é atrasado, você tem que se
contentar com qualquer coisa; e eles precisam de
tanto trabalho para car prontos para se mudar.
Claro, estamos cedo, sabemos disso; mas estamos
apenas começando."
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"O, que se dane os inícios", disse o Rato. "É um dia
esplêndido. Vamos remar, ou dar um passeio ao longo
das sebes, ou fazer um piquenique na oresta, ou
algo assim."
"Bem, eu acho que não hoje, obrigado", respondeu o
rato do campo apressadamente. "Talvez outro dia -
quando tivermos mais tempo -"
O Rato, com um resmungo de desprezo, girou em
torno para ir, tropeçou em uma caixa de chapéu, e
caiu, com comentários indignos.
"Se as pessoas fossem mais cuidadosas", disse um
rato do campo um pouco rigidamente, "e olhassem
para onde estão indo, as pessoas não se
machucariam - e se esqueceriam de si mesmas.
Cuidado com essa mala, Rato! Você melhor se sentar
em algum lugar. Em uma hora ou duas, podemos
estar mais livres para atendê-lo."
"Você não estará 'livre' como você chama isso por
muito tempo deste lado do Natal, posso ver isso",
retorquiu o Rato mal-humorado, enquanto ele
escolhia seu caminho para fora do campo.
Ele retornou um pouco desanimado para o seu rio
novamente - seu el, constante e antigo rio, que
nunca fazia as malas, fugia ou entrava em quartos
de inverno.
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Nos salgueiros que marginavam o banco, ele espionou
um andorinha sentado. Logo foi acompanhado por
outro, e depois por um terceiro; e os pássaros,
inquietos em seus galhos, conversaram entre si com
seriedade e baixinho.
"O que, já", disse o Rato, aproximando-se deles.
"Qual é a pressa? Eu chamo isso de simplesmente
ridículo."
"Ah, não estamos indo embora ainda, se é isso que
você quer dizer", respondeu a primeira andorinha.
"Estamos apenas fazendo planos e arranjando coisas.
Conversando sobre isso, sabe - que rota vamos pegar
este ano, e onde vamos parar, e assim por diante.
Essa é metade da diversão!"
"Diversão?", disse o Rato; "agora é justamente o que
eu não entendo. Se você tem que deixar este lugar
agradável, e os amigos que sentirão sua falta, e os
lares aconchegantes que você acabou de se
estabelecer, por que, quando a hora chegar, eu não
tenho dúvida de que você irá corajosamente, e
enfrentará todos os problemas e desconfortos e
mudanças e novidades, e fará de conta que não está
muito infeliz. Mas querer falar sobre isso, ou mesmo
pensar sobre isso, até que você realmente precise -"
"Não, você não entende, naturalmente", disse a
segunda andorinha. "Primeiro, sentimos isso agitando
dentro de nós, uma doce inquietude; então voltam as
lembranças uma a uma, como pombos retornando
para casa. Eles voam através dos nossos sonhos à
noite, eles voam conosco em nossos giros e círculos
durante o dia. Nós anelamos para perguntar uns aos
outros, para comparar notas e nos assegurarmos de
que tudo isso era realmente verdade, enquanto um a
um os cheiros e sons e nomes de lugares esquecidos
há muito tempo voltam gradualmente e nos chamam."
"Você não poderia car este ano?", sugeriu o Rato
do Rio, com nostalgia. "Nós faremos o nosso melhor
para fazê-lo se sentir em casa. Você não tem ideia
dos bons momentos que temos aqui, enquanto você
está longe."
"Eu tentei ' car' um ano", disse a terceira andorinha.
"Eu havia crescido tão afeiçoado ao lugar que,
quando chegou a hora, eu hesitei e deixei os outros
irem sem mim. Por algumas semanas, tudo estava
bem; mas depois, oh, as noites eram tão compridas!
Os dias sem sol! O ar tão frio e úmido, e nem um
inseto em um acre dele! Não, não foi bom; minha
coragem se quebrou, e em uma noite fria e
tempestuosa, eu abri asas e voei, voando bem para o
interior por causa dos fortes ventos leste. Estava
nevando forte quando eu atravessei os des ladeiros
das grandes montanhas, e eu tive uma luta dura para
vencer; mas nunca vou esquecer a sensação de
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felicidade do sol quente nas minhas costas
novamente quando eu desci em direção aos lagos que
jaziam tão azuis e tranquilos abaixo de mim, e o
sabor do meu primeiro inseto gordo! O passado era
como um mau sonho; o futuro era todo um feriado
feliz enquanto eu me movia para o sul, semana após
semana, facilmente, preguiçosamente, demorando-me
tanto quanto eu ousava, mas sempre atendendo ao
chamado!"
"Ah, sim, o chamado do Sul, do Sul!", gorjearam as
outras duas andorinhas sonhadoramente. "Suas
canções, suas cores, seu ar radiante! Oh, você se
lembra -" e, esquecendo o Rato, elas deslizaram para
reminiscências apaixonadas, enquanto ele ouvia
fascinado, e seu coração ardia dentro dele.
Em si mesmo, também, ele sabia que estava vibrando
nalmente, que acorde até então adormecido e
insuspeito. A mera conversa desses pássaros que se
dirigiam para o sul, seus relatos pálidos e de
segunda mão, ainda tinham o poder de despertar
essa nova sensação selvagem e emocioná-lo por
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completo; o que faria um momento da coisa real -
um toque apaixonado do sol real do sul, uma lufada
do odor autêntico?
Com olhos fechados, ele ousou sonhar por um
momento em total abandono, e quando ele olhou
novamente, o rio parecia frio e gelado, os campos
verdes cinzentos e sem luz. Então, seu coração leal
parecia gritar por sua fraqueza.
"Por que você volta, então, a nal?", ele exigiu das
andorinhas ciumentamente. "O que você encontra
para atrair você neste país pobre e triste?"
"E você acha", disse a primeira andorinha, "que o
outro chamado não é para nós também, na sua
estação? O chamado da grama do prado exuberante,
das plantações molhadas, dos lagos quentes e cheios
de insetos, do gado pastando, da fenação, e de todos
os prédios da fazenda agrupados em torno da Casa
dos Beirais perfeitos?"
"Você supõe", perguntou a segunda, "que você é o
único ser vivo que anseia com um anseio faminto
para ouvir a nota do cuco novamente?"
"No momento certo", disse a terceira, "nós estaremos
com saudades de casa novamente por causa das
plantas aquáticas tranquilas balançando na
superfície de um riacho inglês. Mas hoje, tudo isso
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parece pálido e tênue e muito distante. Agora, nosso
sangue dança para outra música."
Eles caíram novamente em uma conversa animada
entre si, e desta vez seu bate-papo embriagador era
de mares violetas, areias alaranjadas e paredes
infestadas de lagartos.
Inquieto, o Rato vagou novamente, subiu a encosta
que se erguia suavemente da margem norte do rio e
se deitou olhando para o grande anel de colinas que
barrava sua visão mais ao sul - seu horizonte simples
até agora, suas Montanhas da Lua, seu limite atrás
do qual não havia nada que ele tivesse se importado
de ver ou saber. Hoje, para ele, olhando para o sul
com uma necessidade recém-nascida agitando em
seu coração, o céu claro sobre o contorno longo e
baixo das colinas parecia pulsar com promessas;
hoje, o desconhecido era tudo, o desconhecido era o
único fato real da vida.
Neste lado das colinas, agora estava o vazio real, no
outro lado estava o panorama colorido e cheio que
seu olho interior estava vendo tão claramente. Quais
mares jaziam além, verdes, saltando e crestados!
Quais costas banhadas pelo sol, ao longo das quais
as vilas brancas cintilavam contra as orestas de
oliveiras! Quais portos tranquilos, cheios de navios
elegantes destinados a ilhas purpúreas de vinho e
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especiarias, ilhas localizadas baixas em águas
languidas!
Ele se levantou e desceu novamente em direção ao
rio; então mudou de ideia e procurou o lado da
estrada poeirenta. Lá, deitado meio enterrado na
confusão fresca e espessa que a marginava, ele
podia meditar sobre a estrada de metal e todo o
mundo maravilhoso que ela levava a; sobre todos os
viajantes, também, que poderiam ter pisado nela, e
as fortunas e aventuras que eles haviam ido buscar
ou encontrado sem procurar - lá fora, além - além!
Passos caíram em seus ouvidos, e a gura de alguém
que caminhava um pouco cansado entrou em vista; e
ele viu que era um Rato, e um muito empoeirado. O
viajante, ao alcançá-lo, o saudou com um gesto de
cortesia que tinha algo de estrangeiro - hesitou por
um momento - então, com um sorriso agradável,
virou-se da trilha e sentou-se ao seu lado na
vegetação fresca. Ele parecia cansado, e o Rato o
deixou descansar sem ser questionado, entendendo
algo do que estava em seus pensamentos; sabendo,
também, o valor que todos os animais atribuem, às
vezes, à simples companhia silenciosa, quando os
músculos cansados relaxam e a mente marca o
tempo.
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O viajante era magro e de traços a ados, e um
pouco curvado nos ombros; suas patas eram nas e
longas, seus olhos muito enrugados nos cantos, e ele
usava pequenos brincos de ouro nas orelhas bem
de nidas e bem colocadas. Seu suéter tricotado era
de um azul desbotado, suas calças, remendadas e
manchadas, eram baseadas em uma fundação azul, e
seus pequenos pertences que ele carregava estavam
amarrados em um lenço azul de algodão.
Quando ele havia descansado por algum tempo, o
estranho suspirou, cheirou o ar e olhou em volta.
"Aquilo era trevo, aquele cheiro quente na brisa", ele
comentou; "e aqueles são vacas que ouvimos
pastando atrás de nós e soprando suavemente entre
as bocadas. Há um som de ceifeiros distantes, e lá se
ergue uma linha azul de fumaça de chaminé contra
a oresta. O rio corre em algum lugar perto, pois
ouço o chamado de uma galinha-d'água, e vejo pela
sua construção que você é um marinheiro de água
doce. Tudo parece adormecido, e ainda assim está
acontecendo o tempo todo. É uma boa vida que você
leva, amigo; sem dúvida, a melhor do mundo, se você
for forte o su ciente para levá-la!"
"Sim, é a vida, a única vida, para viver", respondeu o
Rato do Rio sonhadoramente, e sem sua convicção
habitual.
fl
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fi
fi
fi
"Eu não disse exatamente isso", respondeu o
estranho com cautela; "mas sem dúvida é a melhor.
Eu tentei, e eu sei. E porque eu apenas tentei - seis
meses disso - e sei que é a melhor, aqui estou eu,
com os pés doloridos e com fome, trampando para
longe disso, trampando para o sul, seguindo o velho
chamado, de volta à velha vida, a vida que é minha e
que não me deixará ir."
"Este é, então, mais um deles?", ponderou o Rato. "E
de onde você acabou de vir?" ele perguntou. Ele mal
se atrevia a perguntar para onde ele estava indo; ele
parecia saber a resposta muito bem.
"Uma fazenda agradável", respondeu o viajante,
brevemente. "Lá para cima, naquela direção" - ele
acenou com a cabeça para o norte. "Não se preocupe
com isso. Eu tinha tudo o que eu poderia querer -
tudo o que eu tinha o direito de esperar da vida, e
mais; e aqui estou eu! Feliz em estar aqui, no
entanto, feliz em estar aqui! Tantos quilômetros mais
na estrada, tantas horas mais perto do meu desejo
do coração!"
Seus olhos brilhantes se xaram no horizonte, e ele
parecia estar ouvindo algum som que faltava naquela
área de terra, vocal como era com a música alegre
da pastagem e do pátio da fazenda.
fi
"Você não é um de nós", disse o Rato do Rio, "nem
um fazendeiro; nem mesmo, eu diria, deste país."
"Certo", respondeu o estranho. "Eu sou um rato
marinheiro, eu sou, e o porto de onde eu
originalmente venho é Constantinopla, embora eu
seja uma espécie de estrangeiro lá também, de certa
forma. Você terá ouvido falar de Constantinopla,
amigo? Uma cidade justa e antiga e gloriosa. E você
pode ter ouvido, também, de Sigurd, Rei da Noruega,
e como ele navegou para lá com sessenta navios, e
como ele e seus homens cavalgaram pelas ruas,
todas cobertas em sua honra com púrpura e ouro; e
como o Imperador e a Imperatriz desceram e
banquetearam com ele a bordo de seu navio. Quando
Sigurd voltou para casa, muitos de seus homens do
norte permaneceram e entraram na guarda-costas do
Imperador, e meu ancestral, um norueguês nascido,
cou para trás também, com os navios que Sigurd
deu ao Imperador. Nós sempre fomos marinheiros, e
não é de se admirar; quanto a mim, a cidade do meu
nascimento não é mais minha casa do que qualquer
porto agradável entre lá e o Rio de Londres. Eu os
conheço todos, e eles me conhecem. Coloque-me em
qualquer um de seus cais ou praias, e eu estou em
casa novamente."
"Eu suponho que você faça grandes viagens", disse o
Rato do Rio com interesse crescente. "Meses e
fi
meses fora da vista da terra, e provisões
escasseando, e racionamento de água, e sua mente
em comunhão com o grande oceano, e tudo isso?"
"De forma alguma", disse o Rato do Mar
francamente. "Tal vida como você descreve não me
serviria de forma alguma. Estou no comércio
costeiro, e raramente fora da vista da terra. São os
momentos alegres em terra que me atraem, tanto
quanto qualquer navegação. Oh, aqueles portos do
sul! O cheiro deles, as luzes de navegação à noite, o
glamour!"
"Bem, talvez você tenha escolhido o melhor
caminho", disse o Rato do Rio, mas de forma um
pouco duvidosa. "Conte-me algo sobre sua navegação
costeira, então, se você tiver vontade, e que tipo de
colheita um animal de espírito pode esperar trazer
para casa dela para aquecer seus dias posteriores
com memórias galantes pelo fogo; pois minha vida,
eu confesso a você, parece-me hoje um pouco
estreita e circunscrita."
"Minha última viagem", começou o Rato do Mar, "que
me levou eventualmente a este país, ligada a
esperanças altas para minha fazenda no interior,
servirá como um bom exemplo de qualquer uma
delas, e, de fato, como um resumo da minha vida
altamente colorida. Problemas familiares, como de
costume, começaram isso. O cone de tempestade
doméstico foi içado, e eu embarquei em um pequeno
navio mercante que ia de Constantinopla, pelos mares
clássicos, cuja onda lateja com uma lembrança
imorredoura, para as Ilhas Gregas e o Levante.
Aqueles foram dias dourados e noites amenas! Dentro
e fora do porto o tempo todo - velhos amigos em
todos os lugares - dormindo em algum templo fresco
ou cisterna em ruínas durante o calor do dia - festas
e canções após o pôr do sol, sob estrelas grandes
postas em um céu de veludo! Dali, viramos e subimos
a costa do Adriático, suas praias nadando em uma
atmosfera de âmbar, rosa e aquamarina; deitamos em
portos amplos e fechados, vagamos por cidades
antigas e nobres, até que nalmente, em uma manhã,
quando o sol nasceu majestosamente atrás de nós,
entramos em Veneza por um caminho de ouro. Oh,
Veneza é uma cidade justa, na qual um rato pode
vaguear à vontade e se divertir! Ou, quando cansado
de vaguear, pode se sentar na borda do Grande
Canal à noite, fazendo festa com amigos, quando o
ar está cheio de música e o céu cheio de estrelas, e
as luzes piscam e brilham nos bicos polidos de aço
das gôndolas balançando, tão lotadas que você pode
andar sobre elas de lado a lado! E então, a comida -
você gosta de frutos do mar? Bem, bem, não vamos
demorar nisso agora."
fi
Ele cou em silêncio por um tempo; e o Rato do Rio,
também silencioso e encantado, utuou em canais de
sonho e ouviu uma canção fantasma soando alto
entre paredes cinzentas e onduladas.
"Para o sul, navegamos novamente por m",
continuou o Rato do Mar, "descendo a costa italiana,
até que nalmente zemos Palermo, e lá eu
desembarquei para um longo e feliz período em
terra. Eu nunca co muito tempo em um navio; a
pessoa se torna estreita e preconceituosa. Além
disso, a Sicília é um dos meus campos de caça
felizes. Eu conheço todo mundo lá, e seus modos me
agradam. Passei muitas semanas alegres na ilha,
hospedado com amigos no interior. Quando eu me
tornei inquieto novamente, eu aproveitei um navio
que estava indo para a Sardenha e Córsega; e quei
muito feliz em sentir a brisa fresca e a espuma do
mar no meu rosto novamente."
"Mas não é muito quente e abafado, lá embaixo no -
porão, acho que você chama?", perguntou o Rato do
Rio.
O marinheiro olhou para ele com a suspeita de um
piscar de olho. "Eu sou um velho marinheiro", ele
comentou com muita simplicidade. "A cabine do
capitão é boa o su ciente para mim."
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"É uma vida dura, segundo todos os relatos",
murmurou o Rato, mergulhado em pensamentos
profundos.
"Para a tripulação, é", respondeu o marinheiro
gravemente, novamente com o fantasma de um piscar
de olho.
"Da Córsega", ele continuou, "eu aproveitei um navio
que estava levando vinho para o continente. Fizemos
Alassio no nal da tarde, deitamos, içamos nossos
barris de vinho, e os jogamos ao mar, amarrados uns
aos outros por uma longa corda. Então, a tripulação
entrou nos barcos e remou em direção à praia,
cantando enquanto remavam, e puxando atrás deles a
longa procissão de barris, como uma milha de botos.
Na praia, tinham cavalos esperando, que arrastaram
os barris pela rua íngreme da pequena cidade com
um belo ímpeto e barulho e confusão. Quando o
último barril estava dentro, fomos e nos refrescamos
e descansamos, e sentamos até tarde da noite,
bebendo com nossos amigos, e na manhã seguinte, eu
me dirigi para os grandes bosques de oliveiras para
um período de descanso e lazer. Pois agora eu havia
terminado com as ilhas por um tempo, e portos e
navios eram abundantes; então eu levei uma vida
preguiçosa entre os camponeses, deitado e
observando-os trabalhar, ou esticado no alto da
encosta com o Mediterrâneo azul muito abaixo de
fi
mim. E assim, por m, em estágios fáceis, e em parte
a pé, em parte de barco, para Marselha, e o
encontro com velhos companheiros de navio, e a
visita a grandes navios oceânicos, e festas mais uma
vez. Falar de frutos do mar! Por que, às vezes eu
sonho com os frutos do mar de Marselha, e acordo
chorando!"
"Isso me lembra", disse o Rato do Rio polidamente;
"você aconteceu de mencionar que estava com fome,
e eu deveria ter falado antes. Claro que você vai
parar e fazer sua refeição do meio-dia comigo? Meu
buraco está perto; é algum tempo após o meio-dia, e
você é muito bem-vindo ao que há."
"Agora, eu chamo isso de gentil e fraternal de você",
disse o Rato do Mar. "Eu estava com fome quando me
sentei, e desde que eu mencionei frutos do mar,
minhas dores têm sido extremas. Mas você não
poderia trazê-lo aqui para fora? Eu não sou muito fã
de ir sob o convés, a menos que eu seja obrigado a
isso; e então, enquanto comemos, eu poderia contar
mais sobre minhas viagens e a vida agradável que
levo - pelo menos, é muito agradável para mim, e
pelo seu interesse, eu julgo que ela se recomenda a
você; enquanto se formos para dentro, é cem para
um que eu logo caia no sono."
fi
"Essa é uma sugestão excelente", disse o Rato do
Rio, e se apressou para casa. Lá, ele tirou o cesto de
lanche e embalou uma refeição simples, na qual,
lembrando-se da origem e das preferências do
estranho, ele se certi cou de incluir uma jarda de
pão francês comprido, uma salsicha da qual o alho
cantava, um queijo que chorava, e uma garrafa de
gargalo longo coberta de palha, na qual estava o sol
de garrafas derramado e coletado em encostas do sul
distantes. Assim carregado, ele voltou com toda a
pressa, e corou de prazer com os elogios do velho
marinheiro ao seu gosto e julgamento, enquanto eles
desembalavam o cesto e dispunham o conteúdo na
grama à beira da estrada.
O Rato do Mar, assim que sua fome foi um pouco
saciada, continuou a história de sua última viagem,
conduzindo seu ouvinte simples de porto em porto da
Espanha, desembarcando-o em Lisboa, Porto e
Bordeaux, apresentando-o aos portos agradáveis da
Cornualha e Devon, e assim subindo o Canal para
aquele cais nal, onde, desembarcando após ventos
contrários, tempestades e intempéries, ele havia
capturado os primeiros sinais mágicos e prenúncios
de outra Primavera, e, inspirado por esses, havia
corrido em uma longa caminhada pelo interior,
faminto pelo experimento da vida em alguma
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fazenda tranquila, muito longe do cansativo bater de
qualquer mar.
Encantado e tremendo de emoção, o Rato do Rio
seguiu o Aventureiro liga por liga, sobre baías
tempestuosas, através de enseadas lotadas, cruzando
barras de porto em uma maré crescente, subindo
rios sinuosos que escondiam suas cidades ocupadas
em torno de uma curva repentina; e o deixou com
um suspiro de arrependimento plantado em sua
fazenda monótona no interior, sobre a qual ele não
desejava ouvir nada.
Nessa época, sua refeição havia terminado, e o
Marinheiro, revigorado e fortalecido, sua voz mais
vibrante, seus olhos acesos com um brilho que
parecia capturado de algum farol distante no mar,
encheu seu copo com o vinho vermelho e brilhante
do Sul, e, inclinando-se em direção ao Rato do Rio,
prendeu seu olhar e o manteve, corpo e alma,
enquanto falava. Aqueles olhos eram da espuma
cambiante cinza-esverdeada dos mares do norte; no
copo brilhava um rubi quente que parecia o próprio
coração do Sul, batendo para ele que tivesse a
coragem de responder à sua pulsação. As luzes
gêmeas, o cinza cambiante e o vermelho constante,
dominaram o Rato do Rio e o mantiveram preso,
fascinado, impotente. O mundo tranquilo fora de seus
raios recuou para longe e cessou de ser. E a fala, a
fala maravilhosa uía - ou era ela inteiramente fala,
ou passava às vezes para a canção - o canto dos
marinheiros pesando a âncora gotejante, o zumbido
sonoro das cordas em um vento norte-este rasgador,
a balada do pescador puxando suas redes ao pôr do
sol contra um céu de damasco? Ela mudava para o
grito do vento, plangente a princípio, zangadamente
agudo à medida que se tornava mais forte, subindo
para um assobio rasgador, afundando para um
murmúrio musical de ar vindo da orla da vela
inchada? Todos esses sons o ouvinte encantado
parecia ouvir, e com eles a reclamação faminta das
gaivotas e das aves marinhas, o trovão suave da
onda quebrando, o protesto da areia. De volta à fala
novamente, ela passou, e com batimentos cardíacos,
ele estava seguindo as aventuras de uma dúzia de
portos, as lutas, as fugas, os reagrupamentos, as
camaradagens, as empresas galantes; ou ele
procurava ilhas por tesouros, pescava em lagunas
tranquilas e cochilava durante o dia inteiro em areia
branca e quente. De pescarias em alto mar, ele ouviu
falar, e de grandes reuniões prateadas da rede de
uma milha de comprimento; de perigos repentinos,
barulho de ondas em uma noite sem lua, ou os arcos
altos do grande navio tomando forma acima através
da neblina; da alegre volta para casa, a enseada
contornada, as luzes do porto abertas; os grupos
vistos vagamente no cais, o chamado alegre, o
fl
barulho da corda; a caminhada pela rua íngreme em
direção ao brilho reconfortante das janelas com
cortinas vermelhas.
Por m, em seu sonho acordado, pareceu-lhe que o
Aventureiro havia se levantado, mas ainda estava
falando, ainda o mantinha preso com seus olhos cinza
do mar.
"E agora", ele estava dizendo suavemente, "eu tomo
a estrada novamente, seguindo para o sudoeste por
muitos dias longos e empoeirados; até que, por m,
eu chegue à pequena cidade cinzenta do mar que
conheço tão bem, que se agarra ao longo de um lado
íngreme do porto. Lá, através de portas escuras,
você olha para baixo para voos de degraus de pedra,
cobertos por grandes tufos cor-de-rosa de valeriana
e terminando em um remendo de água azul
cintilante. Os pequenos barcos que jazem amarrados
aos anéis e suportes da antiga parede do mar estão
pintados de forma alegre como aqueles em que eu
subi e desci na minha própria infância; os salmões
saltam na maré cheia, cardumes de cavala brilham e
jogam ao longo de cais e praias, e pelas janelas os
grandes navios deslizam, noite e dia, até suas
amarras ou para o mar aberto. Lá, mais cedo ou mais
tarde, os navios de todas as nações marinhas
chegam; e lá, na hora certa, o navio da minha
escolha soltará sua âncora. Eu vou levar meu tempo,
fi
fi
vou demorar e esperar, até que, por m, o navio
certo esteja esperando por mim, levado para o meio
do rio, carregado baixo, seu gurupés apontando para
baixo do porto. Eu vou subir a bordo, de barco ou ao
longo da corda; e então, em uma manhã, eu vou
acordar para a canção e o barulho dos marinheiros, o
tilintar do cabrestante e o barulho da corrente da
âncora vindo alegremente para dentro. Nós vamos
içar a bujarrona e a vela de proa, as casas brancas
na margem do porto vão deslizar lentamente para
trás à medida que o navio ganha caminho, e a
viagem terá começado! À medida que ela se dirige
para o promontório, ela se cobrirá de lona; e então,
uma vez fora, o som da grande onda verde ao se
inclinar para o vento, apontando para o sul!
"E você, você virá também, jovem irmão; pois os dias
passam e nunca retornam, e o Sul ainda espera por
você. Aproveite a Aventura, atenda ao chamado,
agora antes que o momento irreversível passe! É
apenas uma batida da porta atrás de você, um passo
alegre para a frente, e você está fora da vida velha
e na nova! Então, algum dia, algum dia no futuro,
volte para casa aqui, se você quiser, quando a taça
tiver sido esvaziada e a peça tiver sido jogada, e
sente-se ao lado do seu rio tranquilo com uma loja
de boas memórias para companhia. Você pode
facilmente me alcançar na estrada, pois você é
fi
jovem e eu estou envelhecendo e vou suavemente.
Eu vou demorar e olhar para trás; e, por m, eu
certamente verei você vindo, ansioso e leve, com todo
o Sul no seu rosto!"
A voz morreu e cessou como a trombeta minúscula
de um inseto diminui rapidamente para o silêncio; e o
Rato do Rio, paralisado e olhando xamente, viu, por
m, apenas uma mancha distante na superfície
branca da estrada.
Mecanicamente, ele se levantou e se pôs a reembalar
o cesto de lanche, cuidadosa e sem pressa.
Mecanicamente, ele voltou para casa, reuniu algumas
pequenas coisas necessárias e tesouros especiais de
que gostava, e os colocou em uma bolsa; agindo com
deliberação lenta, movendo-se pelo quarto como um
sonâmbulo; ouvindo sempre com os lábios separados.
Ele pendurou a bolsa sobre o ombro, escolheu uma
vara robusta para sua jornada, e sem pressa, mas
sem hesitação alguma, ele atravessou o limiar justo
quando o Toupeira apareceu na porta.
"Onde você está indo, Rato?", perguntou o Toupeira
com grande surpresa, agarrando-o pelo braço.
"Indo para o Sul, com o resto deles", murmurou o
Rato em um tom monótono de sonho, nunca olhando
para ele. "Para o mar primeiro, e então a bordo de
fi
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fi
um navio, e assim para as praias que estão me
chamando!"
Ele pressionou resolutamente para a frente, ainda
sem pressa, mas com xidez de propósito; mas o
Toupeira, agora alarmado, colocou-se à frente dele, e
olhando em seus olhos, viu que eles estavam vidrados
e xos e viraram um cinza estriado e cambiante -
não os olhos do seu amigo, mas os olhos de algum
outro animal! Agarrando-o fortemente, ele o arrastou
para dentro, jogou-o no chão e o segurou.
O Rato lutou desesperadamente por alguns
momentos, e então sua força pareceu deixá-lo de
repente, e ele cou deitado, exausto, com os olhos
fechados, tremendo. Logo o Toupeira o ajudou a se
levantar e o colocou em uma cadeira, onde ele se
sentou desmoronado e encolhido em si mesmo, seu
corpo sacudido por um violento tremor, passando no
tempo para um ataque histérico de soluços secos. O
Toupeira fechou a porta, jogou a bolsa em uma
gaveta e a trancou, e sentou-se silenciosamente na
mesa ao lado do seu amigo, esperando que o
estranho ataque passasse. Gradualmente, o Rato
afundou em um sono agitado, quebrado por
sobressaltos e murmúrios confusos de coisas
estranhas e selvagens e estrangeiras ao Toupeira não
esclarecido; e disso ele passou para um sono
profundo.
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fi
Muito ansioso em mente, o Toupeira o deixou por um
tempo e se ocupou com questões domésticas; e
estava escurecendo quando ele voltou para a sala e
encontrou o Rato onde o havia deixado, bem
acordado, de fato, mas desanimado, silencioso e
deprimido. Ele deu uma olhada rápida em seus olhos;
encontrou-os, para sua grande satisfação, claros e
escuros e castanhos novamente como antes; e então
sentou-se e tentou animá-lo e ajudá-lo a relatar o
que havia acontecido com ele.
Pobre Rato fez o seu melhor, gradualmente, para
explicar as coisas; mas como poderia colocar em
palavras frias o que havia sido principalmente
sugestão? Como recordar, para o benefício de outro,
as vozes do mar assombradas que haviam cantado
para ele, como reproduzir a magia das cem
reminiscências do Marinheiro? Mesmo para si mesmo,
agora que o feitiço estava quebrado e o glamour
havia partido, ele achou difícil explicar o que havia
parecido, algumas horas antes, a coisa inevitável e
única. Não é surpreendente, então, que ele não tenha
conseguido transmitir ao Toupeira qualquer ideia
clara do que ele havia passado naquele dia.
Para o Toupeira, isso estava claro: o ataque, ou
acesso, havia passado, e o havia deixado são
novamente, embora abalado e deprimido pela reação.
Mas ele parecia ter perdido todo o interesse, por
enquanto, nas coisas que faziam parte de sua vida
diária, bem como em todas as previsões agradáveis
dos dias e acontecimentos alterados que a estação
em mudança estava certamente trazendo.
Casualmente, então, e com aparente indiferença, o
Toupeira virou sua conversa para a colheita que
estava sendo reunida, os vagões altos e suas equipes
tensas, os montes de feno crescendo, e a grande lua
se erguendo sobre acres nus pontilhados de feixes.
Ele falou das maçãs avermelhadas ao redor, das
nozes castanhas, de geleias e conservas e da
destilação de licores; até que, por estágios fáceis,
ele alcançou o inverno, seus prazeres cordiais e sua
vida caseira aconchegante, e então ele se tornou
simplesmente lírico.
Gradualmente, o Rato começou a se sentar e a se
juntar. Seu olho opaco se iluminou, e ele perdeu um
pouco de seu ar de quem ouvia.
Logo, o Toupeira astuto se afastou e voltou com um
lápis e algumas folhas de papel, que ele colocou na
mesa ao lado do seu amigo.
"Já faz algum tempo desde que você fez alguma
poesia", ele observou. "Você pode tentar esta noite,
em vez de - bem, re etir sobre as coisas tanto. Eu
tenho uma ideia de que você se sentirá muito melhor
fl
quando tiver algo anotado - mesmo que sejam
apenas as rimas."
O Rato empurrou o papel para longe dele com
desânimo, mas o Toupeira discreto saiu da sala, e
quando ele espiou de novo algum tempo depois, o
Rato estava absorvido e surdo para o mundo;
alternadamente rabiscando e chupando a ponta do
lápis. É verdade que ele chupou muito mais do que
rabiscou; mas era uma alegria para o Toupeira saber
que a cura havia pelo menos começado.

Capítulo 10: As novas aventuras do Sapo

A porta da frente da árvore oca dava para o leste,


então o Sapo foi acordado bem cedo; em parte pela
forte luz do sol que entrava sobre ele, em parte pelo
extremo frio de seus dedos dos pés, o que o fez
sonhar que estava em casa, em sua cama, no seu
belo quarto com janelas estilo Tudor, em uma noite
fria de inverno, e que suas cobertas haviam se
levantado, resmungando e protestando que não
aguentavam mais o frio, e haviam descido correndo
para o fogo da cozinha para se aquecerem; e ele as
seguiu, descalço, por quilômetros e quilômetros de
corredores pavimentados com pedras geladas,
argumentando e implorando para que elas fossem
razoáveis. Provavelmente teria sido despertado muito
antes, se não tivesse dormido por algumas semanas
em palha sobre lajes de pedra, e quase esquecido a
sensação amigável de grossos cobertores puxados
confortavelmente em volta do queixo.
Sentando-se, ele esfregou os olhos primeiro e os
dedos dos pés doloridos em seguida, pensando por
um momento onde estava, procurando ao redor pelas
paredes de pedra familiares e pela pequena janela
com grades; então, com um salto no coração,
lembrou-se de tudo—sua fuga, sua corrida, sua
perseguição; lembrou-se, primeiro e melhor de tudo,
que estava livre!
Livre! Só a palavra e o pensamento já valiam
cinquenta cobertores. Ele se aqueceu de ponta a
ponta ao pensar no alegre mundo lá fora, esperando
ansiosamente sua entrada triunfal, pronto para
servi-lo e agradá-lo, querendo ajudá-lo e fazer-lhe
companhia, como sempre havia sido antigamente,
antes que a má sorte caísse sobre ele. Ele sacudiu-
se e tirou as folhas secas de seu cabelo com os
dedos; e, uma vez concluída sua higiene matinal,
marchou para o confortável sol da manhã, frio, mas
con ante, faminto, mas esperançoso, todos os
terrores nervosos do dia anterior dissipados pelo
descanso, pelo sono e pelo sol franco e encorajador.
fi
Naquela manhã de início de verão, ele tinha o mundo
todo só para ele. A oresta orvalhada, enquanto ele
a percorria, estava solitária e tranquila: os campos
verdes que sucediam as árvores eram seus, para
fazer o que bem quisesse; a própria estrada, quando
ele a alcançou, naquela solidão que estava em toda
parte, parecia, como um cachorro vadio, estar
ansiosamente procurando companhia. No entanto, o
Sapo estava procurando por algo que pudesse falar,
e lhe dizer claramente para onde deveria ir. Tudo
seria muito bem, se você tivesse o coração leve, uma
consciência limpa, dinheiro no bolso e ninguém
vasculhando o campo para arrastá-lo de volta à
prisão, para seguir onde a estrada parecia chamar e
apontar, sem se importar para onde. O prático Sapo,
no entanto, se importava muito com isso, e ele teria
chutado a estrada por seu silêncio impotente, quando
a cada minuto algo era de suma importância para
ele.
A estrada rústica e reservada foi logo acompanhada
por um irmãozinho tímido na forma de um canal, que
pegou em sua mão e seguiu ao lado em perfeita
con ança, mas com a mesma atitude calada e pouco
comunicativa em relação a estranhos. “Raios!” disse o
Sapo para si mesmo. “Mas, de qualquer forma, uma
coisa é clara. Eles devem estar vindo de algum lugar
e indo para algum lugar. Não dá pra fugir disso. Sapo,
fi
fl
meu garoto!” Assim, ele marchou pacientemente à
beira da água.
Ao virar uma curva no canal, veio andando
pesadamente um cavalo solitário, curvado para frente
como se perdido em pensamentos ansiosos. Do arreio
preso ao seu pescoço, estendia-se uma longa corda,
esticada, mas inclinando-se com seu passo, com a
ponta mais distante pingando gotas de pérolas. O
Sapo deixou o cavalo passar e parou, esperando o
que o destino lhe enviava.
Com um giro suave da água calma em sua proa
arredondada, a barcaça deslizou ao lado dele, sua
borda alegremente pintada no nível do caminho de
reboque. Sua única ocupante era uma grande mulher
corpulenta usando um chapéu de linho para o sol,
com um dos braços musculosos apoiado no leme.
“Bom dia, senhora!” ela comentou para o Sapo,
enquanto emparelhava com ele.
“Eu diria que é, senhora!” respondeu o Sapo
educadamente, enquanto andava ao longo do caminho
de reboque ao lado dela. “Diria que é uma bela
manhã para aqueles que não estão em grandes
apuros, como eu estou. Veja, minha lha casada, ela
me envia uma mensagem urgente para que eu vá até
ela imediatamente; então aqui estou eu, sem saber o
que pode estar acontecendo ou vai acontecer, mas
fi
temendo o pior, como você pode entender, senhora,
se você também é mãe. E deixei meu negócio se
cuidar sozinho — eu estou no ramo de lavar e passar
roupa, você deve saber, senhora — e deixei meus
lhos pequenos cuidarem de si mesmos, e um grupo
mais travesso e problemático de diabinhos não existe,
senhora; e perdi todo o meu dinheiro, e perdi o
caminho, e quanto ao que pode estar acontecendo
com minha lha casada, bem, eu nem gosto de
pensar nisso, senhora!”
“Onde mora sua lha casada, senhora?” perguntou a
mulher da barcaça.
“Ela mora perto do rio, senhora,” respondeu o Sapo.
“Perto de uma bela casa chamada Vila do Sapo, que
ca por aqui nas redondezas. Talvez você tenha
ouvido falar.”
“Vila do Sapo? Ora, estou indo para lá também,”
respondeu a mulher da barcaça. “Este canal se junta
ao rio alguns quilômetros adiante, um pouco acima
de Vila do Sapo; e depois é uma caminhada fácil.
Venha comigo na barcaça, e eu lhe dou uma carona.”
Ela manobrou a barcaça para mais perto da margem,
e o Sapo, com muitos agradecimentos humildes e
gratos, subiu a bordo levemente e sentou-se com
grande satisfação. “Mais uma vez, a sorte do Sapo!”
pensou ele. “Eu sempre acabo por cima!”
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“Então, você está no ramo de lavar roupa, senhora?”
disse a mulher da barcaça educadamente, enquanto
deslizavam. "Aposto que é um ótimo negócio que
você tem, se me permite dizer.”
“O melhor negócio do país,” disse o Sapo com
despreocupação. “Toda a nobreza vem até mim—não
iriam a outro, mesmo que fossem pagos, pois me
conhecem tão bem. Veja, eu entendo completamente
meu trabalho, e cuido de tudo pessoalmente.
Lavagem, passar roupa, engomar no, fazer camisas
elegantes para os cavalheiros usarem à noite — tudo
é feito sob meus próprios olhos!”
"Mas com certeza você não faz todo esse trabalho
sozinha, senhora?" perguntou respeitosamente a
mulher da barcaça.
“Oh, tenho garotas,” disse o Sapo
despreocupadamente: "cerca de vinte garotas,
sempre trabalhando. Mas você sabe como são as
garotas, senhora! Pequenas atrevidas, é como eu as
chamo!”
"Eu também, sem dúvida," disse a mulher da barcaça
com grande entusiasmo. “Mas eu imagino que você
mantém as suas sob controle, as preguiçosas
rebeldes! E você gosta muito de lavar roupa?”
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“Adoro,” disse o Sapo. “Eu simplesmente venero isso.
Nunca sou tão feliz quanto quando estou com ambos
os braços na tina de lavar. Mas, então, é tão fácil
para mim! Nenhuma di culdade! Um verdadeiro
prazer, garanto a você, senhora!”
“Que sorte a minha ter te encontrado!” observou a
mulher da barcaça, pensativa. “Uma verdadeira peça
de boa sorte para ambos!”
“Por que, o que você quer dizer?” perguntou o Sapo,
nervosamente.
“Bem, olhe para mim agora,” respondeu a mulher da
barcaça. “Eu gosto de lavar roupa, assim como você;
e, para ser honesta, gostando ou não, tenho que
fazer toda a minha própria, naturalmente, estando
em movimento como estou. Agora, meu marido, ele é
um sujeito que adora fugir do trabalho e deixar a
barcaça para mim, que nunca tenho um momento
para cuidar dos meus próprios assuntos. Por direito,
ele deveria estar aqui agora, ou pilotando ou
cuidando do cavalo, embora felizmente o cavalo tenha
bom senso o su ciente para cuidar de si mesmo. Em
vez disso, ele saiu com o cachorro, para ver se
conseguem pegar um coelho para o jantar em algum
lugar. Disse que me encontraria na próxima eclusa.
Bem, pode ser que sim — eu não con o nele, uma vez
que ele sai com aquele cachorro, que é pior que ele.
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Mas, enquanto isso, como vou continuar com minha
lavagem?"
"Ah, não se preocupe com a lavagem," disse o Sapo,
não gostando do assunto. "Tente concentrar-se nesse
coelho. Um belo coelho gordo e jovem, aposto. Você
tem cebolas?"
"Não consigo me concentrar em nada além da minha
lavagem," disse a mulher da barcaça, "e me
surpreende que você possa falar sobre coelhos, com
uma perspectiva tão alegre à sua frente. Há um
monte de coisas minhas que você vai encontrar em
um canto da cabine. Se você pegar uma ou duas das
mais necessárias — não me atrevo a descrevê-las
para uma dama como você, mas você as reconhecerá
de imediato — e colocá-las na tina de lavar enquanto
seguimos nosso caminho, será um prazer para você,
como disse corretamente, e uma verdadeira ajuda
para mim. Você encontrará uma tina à mão, e sabão,
e um bule no fogão, e um balde para puxar água do
canal. Assim, saberei que você está se divertindo, em
vez de car aqui ociosa, olhando a paisagem e
bocejando."
"Aqui, me deixe pilotar!" disse o Sapo, agora
completamente assustado, "e então você pode
continuar sua lavagem do seu jeito. Eu posso
estragar suas coisas ou não fazer como você gosta.
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Estou mais acostumado às coisas dos cavalheiros.
Essa é a minha especialidade."
"Deixar você pilotar?" respondeu a mulher da
barcaça, rindo. “Leva um pouco de prática para
pilotar uma barcaça corretamente. Além disso, é um
trabalho monótono, e eu quero que você seja feliz.
Não, você fará a lavagem que tanto gosta, e eu me
aterei à pilotagem que entendo. Não tente me privar
do prazer de lhe dar esse agrado!”
O Sapo estava encurralado. Ele procurou por uma
fuga de várias maneiras, viu que estava longe demais
da margem para um salto em movimento, e resignou-
se sombrio ao seu destino. “Se chegar a esse ponto,”
ele pensou, em desespero, “acho que qualquer idiota
pode lavar roupa!”
Ele foi buscar a tina, o sabão e outros utensílios
necessários na cabine, selecionou algumas peças de
roupas aleatoriamente, tentou se lembrar do que
tinha visto em olhares passageiros pelas janelas de
lavanderia e começou a trabalhar.
Meia hora longa se passou, e em cada minuto dela o
Sapo cava cada vez mais irritado. Nada do que ele
conseguia fazer parecia agradar as roupas ou fazer
bem a elas. Ele tentou acariciar, tentou bater, tentou
socar; elas sorriam de volta para ele da tina, não
convertidas, felizes em seu pecado original. Uma ou
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duas vezes ele olhou nervosamente para trás para a
mulher da barcaça, mas ela parecia estar olhando
para frente, absorvida em sua pilotagem. Suas costas
doíam muito, e ele notou, com consternação, que suas
patas estavam começando a car todas enrugadas.
Agora, o Sapo tinha muito orgulho de suas patas. Ele
murmurou entre os dentes palavras que não
deveriam jamais passar pelos lábios de lavadeiras ou
de sapos; e perdeu o sabão pela quinquagésima vez.
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Uma explosão de risos fez ele se endireitar e olhar
ao redor. A mulher da barcaça estava recostada,
rindo sem parar, até que lágrimas correram por suas
bochechas.
"Eu estive te observando o tempo todo," ela disse,
ofegante. "Pensei que você devia ser um impostor
desde o início, pelo jeito convencido com que falou.
Que bela lavadeira você é! Nunca lavou nem um pano
de prato na vida, aposto!”
O temperamento do Sapo, que vinha fervendo
furiosamente por algum tempo, agora transbordou de
verdade, e ele perdeu completamente o controle de
si mesmo.
“Você, mulher comum, baixa, gorda, barqueira!” ele
gritou; “não se atreva a falar assim com seus
superiores! Lavadeira, hein! Quero que você saiba
que eu sou um Sapo, um sapo muito conhecido,
respeitável, distinto! Eu posso estar passando por um
mau momento agora, mas não serei ridicularizado
por uma barqueira!”
A mulher chegou mais perto e espiou debaixo de seu
chapéu atentamente. “Ora, então você é mesmo!” ela
gritou. “Bem, nunca vi! Um sapo horrível, nojento,
rastejante! E na minha barcaça tão limpa, também!
Agora, isto é algo que eu não vou tolerar.”
Ela largou o leme por um momento. Um braço grande
e manchado lançou-se para frente e agarrou o Sapo
por uma pata dianteira, enquanto o outro o segurava
rmemente por uma pata traseira. Então, o mundo
virou de cabeça para baixo de repente, a barcaça
parecia ter voado pelo céu, o vento assobiou em seus
ouvidos, e o Sapo se viu voando pelo ar, girando
rapidamente.
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A água, quando nalmente o alcançou com um
barulho de espirro, estava bastante fria para seu
gosto, embora seu frio não fosse su ciente para
apagar seu orgulho fervente, nem apagar o calor de
sua fúria. Ele emergiu à superfície, cuspindo, e
quando limpou as algas de seus olhos, a primeira
coisa que viu foi a mulher gorda olhando para ele
sobre a popa da barcaça em retirada e rindo; e ele
jurou, enquanto tossia e engasgava, vingar-se dela.
Ele nadou em direção à margem, mas o vestido de
algodão atrapalhava muito seus esforços, e quando
nalmente conseguiu tocar terra ele teve di culdade
em subir a íngreme margem sem ajuda. Ele teve que
descansar um ou dois minutos para recuperar o
fôlego; então, reunindo suas saias molhadas bem
altos nos braços, começou a correr atrás da barcaça
o mais rápido que suas pernas o podiam carregar,
tomado de indignação, sedento por vingança.
A mulher barqueira ainda estava rindo quando ele a
alcançou. “Passe-se pela sua mangueira, lavadeira,”
ela gritou, "e passe a ferro no seu rosto e frise-o,
assim você poderá ser um Sapo de aparência
decente!”
O Sapo nem parou para responder. O que ele queria
era vingança sólida, não triunfos verbais baratos,
efêmeros, embora tivesse uma ou duas coisas na
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cabeça que com certeza ele gostaria de ter dito. Ele
viu o que queria adiante. Correndo rapidamente, ele
desatrelou o cavalo, soltou a corda de reboque, pulou
levemente nas costas do cavalo e o incitou a galopar
dando-lhe vigorosos chutes nos ancos. Ele guiou o
cavalo para o campo aberto, abandonando o caminho
da margem e descendo por uma estrada de terra
cheia de buracos. Uma vez ele olhou para trás e viu
que a barcaça havia encalhado na outra margem do
canal, e a mulher barqueira estava gesticulando
loucamente e gritando “Pare! Pare! Pare!” “Já ouvi
essa música antes,” disse o Sapo, rindo, enquanto
continuava a esporear seu cavalo em sua selvagem
carreira.
O cavalo da barcaça não era capaz de sustentar
qualquer esforço por muito tempo, e seu galope logo
se transformou em um trote, e o trote em um passo
fácil; mas o Sapo estava bastante satisfeito com isso,
sabendo que ele, pelo menos, estava em movimento e
que a barcaça não estava. Ele havia recuperado
completamente o seu mau humor, agora que tinha
feito algo que realmente considerava esperto; e ele
cou contente em apenas trotar tranquilamente ao
sol, guiando seu cavalo por caminhos secundários e
trilhas, tentando esquecer há quanto tempo ele não
tinha uma refeição decente, até o canal ter cado
muito para trás.
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Ele tinha viajado alguns quilômetros, seu cavalo e
ele, e estava sentindo-se sonolento no sol quente,
quando o cavalo parou, abaixou a cabeça e começou
a beliscar a grama; e o Sapo, despertando, se salvou
de cair por um triz. Ele olhou ao seu redor e
descobriu que estava em um vasto campo comum,
pontilhado de touceiras de tojo e silvas, tanto
quanto ele podia ver. Perto de onde estava, havia um
trailer cigano velho e sujo, e ao lado dele um homem
estava sentado em um balde virado de cabeça para
baixo, muito ocupado fumando e olhando para o
amplo e aberto mundo. Um fogo de gravetos
queimava próximo, e sobre o fogo pendia uma panela
de ferro, da qual emanavam borbulhas e chiados, e
uma sugestiva leve neblina de vapor. Também havia
cheiros—quentes, ricos e variados—que se torciam e
se entrelaçavam e, por m, formavam um cheiro
completo, voluptuoso, perfeito, que parecia a própria
alma da Natureza ganhando forma e aparecendo
para seus lhos, uma verdadeira Deusa, uma mãe de
consolo e conforto. O Sapo agora sabia que ele não
tinha estado realmente com fome antes. O que ele
havia sentido mais cedo era apenas um leve mal-
estar. Agora, era a coisa real, e não havia dúvida; e
teria de ser resolvido logo também, ou haveria
problemas para alguém. Ele olhou o cigano
atentamente, perguntando-se vagamente se seria
mais fácil lutar com ele ou encantá-lo. Então ali ele
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cou, a cheirar e cheirar, olhando para o cigano; e o
cigano, por sua vez, fumava e olhava para ele.
Depois de algum tempo, o cigano tirou o cachimbo da
boca e comentou displicentemente: “Vai querer
vender esse cavalo aí seu?”
O Sapo foi completamente pego de surpresa. Ele não
sabia que os ciganos eram apaixonados por negócios
com cavalos, e nunca perdiam uma oportunidade, e
não havia pensado que trailers estavam sempre em
movimento e requeriam muito esforço para serem
puxados. Não ocorrerá a ele transformar o cavalo em
dinheiro, mas a sugestão do cigano parecia abrir o
caminho para as duas coisas que ele queria
desesperadamente—dinheiro na mão e um café da
manhã robusto.
“O quê?” disse ele, “eu vender esse meu lindo cavalo
jovem? Ah, não; isso está fora de questão. Quem vai
levar as roupas lavadas para meus clientes todas as
semanas? Além disso, sou muito apegado a ele, e ele
simplesmente adora a minha companhia.”
“Tente amar um burro,” sugeriu o cigano. "Algumas
pessoas amam.”
“Você parece não entender,” continuou o Sapo, "que
este meu belo cavalo está muito acima de você. Ele é
um cavalo de raça, ele é, em parte; não a parte que
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você vê, claro—outra parte. E ele já foi um Hackney
premiado também, em seu tempo—um tempo antes de
você o conhecer, mas você ainda pode ver isso nele à
primeira vista, se entender algo sobre cavalos. Não,
não dá nem para pensar por um momento. Mesmo
assim, quão disposto você estaria em me oferecer
por este belo cavalo?”
O cigano olhou o cavalo, e então ele olhou para o
Sapo com o mesmo cuidado, e voltou a olhar para o
cavalo. “Um xelim por pata,” ele disse brevemente, e
virou-se, continuando a fumar e olhar o vasto mundo
como se quisesse desa á-lo.
"Um xelim por pata?" gritou o Sapo. "Com licença,
preciso de um tempinho para calcular isso e ver
quanto dá."
Ele desceu do cavalo, e o deixou pastando, sentou-se
ao lado do cigano e fez contas com os dedos, para
nalmente dizer: “Um xelim por pata? Ora, isso dá
exatamente quatro xelins e nada mais. Ah, não; eu
não aceitaria quatro xelins por este meu belo cavalo
jovem.”
"Bem," disse o cigano, "eu te digo o que vou fazer.
Vou fazer cinco xelins, e isso é três xelins e seis
pence a mais do que o animal vale. E esta é a minha
última palavra."
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Então, Sapo sentou-se e pensou longamente e
profundamente. Pois ele estava com fome e
completamente sem dinheiro, ainda a um bom
caminho — ele não sabia exatamente quanto — de
casa, e poderia haver inimigos ainda procurando por
ele. Para alguém nessa situação, cinco xelins podem
muito bem parecer uma grande soma de dinheiro. Por
outro lado, não parecia ser muito em troca de um
cavalo. Mas, novamente, o cavalo não lhe custou
nada; então o que ele ganhasse seria puro lucro. Por
m, ele disse rmemente: “Escute aqui, cigano! Vamos
fazer assim; e esta é minha última palavra. Você me
entrega seis xelins e seis pence, em dinheiro; e além
disso, me dá tanto café da manhã quanto eu puder
comer, de uma vez só, dessa sua panela de ferro
que continua emanando cheiros tão deliciosos e
excitantes. Em troca, eu entrego a você meu vibrante
cavalo jovem, com todas as peias e arreios bonitos
que ele tem, tudo incluído de graça. Se isso não for
su ciente para você, diga, e eu vou embora. Eu
conheço um homem aqui perto que anda querendo
este cavalo meu há anos.”
O cigano resmungou terrivelmente e declarou que,
se zesse mais alguns negócios desse tipo, iria à
falência. Mas no nal, ele puxou uma sacola de lona
suja do fundo da sua calça e contou seis xelins e
seis pence na mão do sapo. Depois, desapareceu no
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trailer por um instante e voltou com um grande prato
de ferro e uma faca, garfo e colher. Ele inclinou a
panela, e uma gloriosa torrente de ensopado
abundante e quente preencheu o prato. Na verdade,
era o mais belo ensopado do mundo, feito de
perdizes, faisões, galinhas, lebres, coelhos, galinhas-
d'angola, e mais uma ou outra coisa. O Sapo pegou o
prato no colo, quase chorando, e comeu, comeu,
comeu e continuou pedindo mais, e o cigano não
cou incomodado. Ele achou que nunca tinha comido
um café da manhã tão bom em toda a sua vida.
Quando o Sapo já tinha comido tanto ensopado
quanto pensava que poderia aguentar, ele se levantou
e disse adeus ao cigano, e se despediu
carinhosamente do cavalo; e o cigano, que conhecia
bem a margem do rio, deu-lhe indicações de qual
caminho seguir. E assim ele partiu em suas aventuras
novamente, no melhor dos espíritos possíveis. Ele era,
de fato, um Sapo muito diferente daquele animal de
uma hora atrás. O sol brilhava intensamente, suas
roupas molhadas já estavam bem secas novamente,
ele tinha dinheiro no bolso mais uma vez, estava se
aproximando de casa, de amigos e da segurança, e,
acima de tudo, ele havia feito uma refeição
substancial, quente, nutritiva, e se sentia grande,
forte, despreocupado e autocon ante.
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Enquanto ele trilhava alegremente o caminho,
pensava em suas aventuras e fugas, e como, quando
as coisas pareciam estar no pior, ele sempre
conseguia encontrar um jeito de sair; e seu orgulho e
vaidade começaram a in ar dentro dele. “Ho, ho!” ele
murmurou para si mesmo, marchando com o queixo
erguido, “como eu sou esperto! Certamente não há
um animal igual a mim em inteligência no mundo
inteiro! Meus inimigos me trancaram na prisão,
cercado por guardas, vigiado dia e noite pelos
carcereiros; eu caminho por todos eles, apenas por
pura habilidade, aliada ao meu destemor. Eles me
perseguiram com motores, policiais, pistolas; eu estalo
os dedos para eles e desapareço, rindo, no nada. Sou,
infelizmente, jogado em um canal por uma mulher
gorda e de espírito maligno. E daí? Nado de volta à
margem, tomo seu cavalo, cavalguei em triunfo, e
vendo o cavalo por um bolso cheio de dinheiro e um
excelente café da manhã! Ho, ho! Eu sou O Sapo, o
bonito, o popular, o bem-sucedido Sapo!” Ele cou
tão cheio de vaidade que compôs uma canção
enquanto caminhava, em louvor a si mesmo, e a
cantou em voz alta, embora não houvesse ninguém
para ouvi-la, exceto ele mesmo. Talvez tenha sido a
música mais convencida que qualquer animal já
tenha composto.
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“O mundo teve grandes heróis,
Como os livros de história têm mostrado;
Mas nunca um nome para descer à fama
Comparável ao do Sapo!
“Os homens inteligentes de Oxford
Sabem tudo o que há para saber.
Mas nenhum deles sabe metade do que sabe
O inteligente Sr. Sapo!
“Os animais choraram na Arca,
Suas lágrimas caíram em torrentes.
Quem foi que disse, 'Há terra à frente?'
O encorajador Sr. Sapo!
“O exército todo saudou
Enquanto marchavam pela estrada.
Foi o Rei? Ou Kitchener?
Não. Foi o Sr. Sapo.
“A Rainha e suas Damas de Companhia
Sentaram-se à janela e costuraram.
Ela gritou, 'Olhem! Quem é aquele homem bonito?'
Elas responderam, 'Sr. Sapo.'”
Havia muito mais do mesmo tipo, mas coleguismo
excessivo demais para ser colocado no papel. Esses
são alguns dos versos mais leves.
Ele cantou enquanto caminhava, e caminhou enquanto
cantava, cando mais e mais in ado a cada minuto.
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Mas seu orgulho estava prestes a sofrer uma queda
severa.
Depois de alguns quilômetros de estradas rurais, ele
chegou à estrada principal, e quando virou nela e
olhou ao longo de sua extensão, viu que se
aproximava um ponto que virou uma mancha e depois
uma mancha maior, e então em algo muito familiar; e
um som duplo de aviso, que ele conhecia muito bem,
chegou aos seus ouvidos com alegria.
“Isso é algo real!” disse o empolgado Sapo. “Isto é a
verdadeira vida novamente, este é mais uma vez o
grande mundo do qual eu estive ausente por tanto
tempo! Vou saudá-los, meus irmãos da roda, e lhes
contar uma história, do tipo que foi tão bem-
sucedida até agora; e eles certamente me darão uma
carona, claro, e depois eu poderei falar mais para
eles; e, quem sabe com sorte, pode até acabar com
eu dirigindo até o Vila do Sapo em um carro
motorizado! Isso será uma bofetada na cara do
Texugo!”
Ele pisou con antemente na estrada para saudar o
carro que se aproximava, que vinha em um ritmo
suave, desacelerando à medida que chegava perto da
estrada; quando, de repente, ele cou muito pálido,
seu coração virou água, seus joelhos tremeram e
cederam sob ele, e ele se dobrou e caiu com uma dor
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terrível no estômago. E bem podería, o infeliz
animal; pois o carro que se aproximava era
exatamente o que ele havia roubado do pátio do Red
Lion Hotel naquele fatídico dia em que todos os seus
problemas começaram! E as pessoas nele eram
exatamente as mesmas que ele tinha visto almoçando
na sala de café!
Ele afundou em um montinho lamentável e miserável
na estrada, murmurando para si mesmo em
desespero, “Acabou! Tudo acabou agora! Correntes e
policiais de novo! Prisão de novo! Pão seco e água de
novo! Oh, que tolo eu fui! O que eu queria andando
pelo campo, cantando músicas convencidas e
saudando pessoas em plena luz do dia na estrada
principal, em vez de me esconder até anoitecer e
voltar para casa discretamente por caminhos
secundários! Oh, infeliz Sapo! Oh, animal azarado!”
O terrível carro motorizado aproximava-se lenta,
mas certamente, até que ele ouviu o som parando
pouco antes de alcançá-lo. Dois cavalheiros desceram
e circularam ao redor do monte trêmulo de miséria
enrolada na estrada, e um deles comentou, “Oh, meu
Deus! Isso é muito triste! Aqui está uma pobre
criatura velha—uma lavadeira, ao que parece—que
desmaiou na estrada! Talvez tenha sido vencida pelo
calor, pobre criatura; ou, possivelmente, ela não
comeu nada hoje. Vamos levantá-la e levá-la ao
vilarejo mais próximo, onde sem dúvida ela tem
amigos.”
Eles gentilmente levantaram o Sapo e o colocaram no
carro, apoiando-o com almofadas macias, e
prosseguiram em sua jornada.
Quando o Sapo ouviu-os falar de uma maneira tão
gentil e simpática, e percebeu que ele não foi
reconhecido, sua coragem começou a se recuperar, e
ele cautelosamente abriu primeiro um olho e depois
o outro.
“Olhem!” disse um dos cavalheiros, “ela já está
melhor. O ar fresco está fazendo-lhe bem. Como
você se sente agora, senhora?”
“Muito obrigada, senhor,” disse o Sapo com uma voz
fraca, “Estou me sentindo muito melhor!”
"Isso mesmo," disse o gentleman. "Agora que bem
quieta, e, acima de tudo, não tente falar."
“Não vou,” disse o Sapo. "Eu estava apenas pensando,
se eu pudesse me sentar ali na frente, ao lado do
motorista, onde eu poderia sentir o ar fresco
batendo no meu rosto, logo estaria completamente
bem de novo."
“Que mulher sensata!” disse o cavalheiro. “Claro que
você pode.” Então, eles cuidadosamente ajudaram o
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Sapo a se acomodar na frente, ao lado do motorista,
e seguiram em frente novamente.
O Sapo já estava quase ele mesmo agora. Ele se
sentou, olhou ao seu redor, e tentou suprimir os
tremores, os anseios, os antigos desejos que
brotavam e o assediavam, tomando totalmente conta
dele.
“É destino!” ele disse para si mesmo. “Por que lutar?
Por que resistir?” E ele se virou para o motorista ao
seu lado.
“Por favor, senhor,” ele disse, “Gostaria muito que me
deixasse tentar dirigir o carro um pouco. Eu observei
cuidadosamente o que você fez e parece tão fácil e
interessante, e eu gostaria de poder contar aos meus
amigos que dirigi um carro motorizado uma vez!”
O motorista riu da proposta com tanta força que o
cavalheiro perguntou o que havia de engraçado.
Quando ouviu, disse, para deleite do Sapo, “Bravo,
senhora! Gosto do seu espírito. Deixe ela tentar, e
cuide dela bem. Ela não causará nenhum mal.”
Sapo rapidamente subiu no assento deixado pelo
motorista, segurou o volante nas mãos, ouviu com
humildade afetada as instruções passadas para ele,
e colocou o carro em movimento, primeiro muito
devagar e com cuidado, pois ele estava determinado
a ser prudente.
Os cavalheiros aplaudiam atrás, batendo palmas, e o
Sapo os ouviu dizer: “Como ela está indo bem!
Imagine uma lavadeira dirigindo um carro tão bem,
logo na primeira vez!”
O Sapo foi acelerando um pouco mais; depois mais
rápido, e ainda mais rápido.
Ele ouviu os cavalheiros gritarem, alertando:
“Cuidado, lavadeira!” Isso o irritou, e ele começou a
perder a cabeça.
O motorista tentou interferir, mas ele o imobilizou no
assento com um cotovelo, e acelerou a toda
velocidade. O vento batendo em seu rosto, o barulho
dos motores e os saltos leves do carro sob ele
intoxicavam seu frágil cérebro. “Lavadeira, hein!” ele
gritou imprudentemente. “Ho! ho! Eu sou o Sapo, o
ladrão de carros motorizados, o fugitivo de prisões, o
Sapo que sempre escapa! Sentem-se, e vocês verão o
que realmente é dirigir, pois vocês estão nas mãos
do famoso, habilidoso, totalmente destemido Sapo!”
Com um grito de horror, todo o grupo se levantou e
se lançou sobre ele. “Agarrá-lo!” eles gritaram,
“segurem o Sapo, o animal malvado que roubou nosso
carro motorizado! Amarre-o, acorrente-o, arrastem-
no até a delegacia de polícia mais próxima! Abaixo o
Sapo perigoso e desesperado!”
Ai! Eles deveriam ter pensado nisso antes, deveriam
ter sido mais prudentes, deveriam ter lembrado de
parar o carro motorizado de alguma forma antes de
começar a pregar peças. Com uma meia-volta do
volante, o Sapo lançou o carro em alta velocidade
através da cerca baixa que margeava a estrada. Um
salto poderoso, um choque violento, e as rodas do
carro estavam chafurdando no fundo lamacento de
um lago de cavalos.
O Sapo se viu voando pelo ar com a força
ascendente e o giro delicado de uma andorinha. Ele
gostou do movimento, e estava começando a se
perguntar se continuaria até desenvolver asas e se
transformar em um Sapo-pássaro, quando aterrissou
de costas em um campo de grama macia. Sentando-
se, ele conseguiu ver o carro motorizado no lago,
quase submerso; os cavalheiros e o motorista,
atrapalhados por seus longos casacos, estavam se
debatendo desajeitadamente na água.
Ele se levantou rapidamente e começou a correr
através dos campos o mais rápido que podia,
escalando cercas vivas, saltando sobre valas,
passando pelos campos a galope, até car sem fôlego
e exausto, e teve que se contentar com uma
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caminhada leve. Quando recuperou o fôlego um
pouco, e foi capaz de pensar com clareza, ele
começou a rir baixinho, e de rir baixinho ele passou
a gargalhar, e riu tanto que teve que se sentar
embaixo de uma cerca viva. "Ho, ho!" ele chorou, em
êxtase de autoestima, “De novo, o Sapo! O Sapo,
como sempre, sai por cima! Quem foi que conseguiu
que eles lhe dessem uma carona? Quem conseguiu
um lugar na frente pelo ar fresco? Quem os
convenceu a deixar ele tentar dirigir? Quem afundou
o carro em um lago de cavalos? Quem escapou,
voando alegremente e intacto pelo ar, deixando os
excursionistas cautelosos e mesquinhos atolados na
lama, exatamente onde deveriam estar? Ora, o Sapo,
claro; o esperto Sapo, o grande Sapo, o bom Sapo!”
Então ele começou a cantar novamente e gritou com
voz exaltada—
"O carro motorizado fez Poop-poop-poop,
Enquanto corria pela estrada.
Quem foi que o pilotou até o lago?
O engenhoso Sr. Sapo!
O quão esperto eu sou! Quão esperto, quão esperto,
como muito inte—”
Um barulho leve, ao longe atrás dele, o fez virar a
cabeça e olhar. Oh horror! Oh miséria! Oh
desespero!
A cerca de dois campos de distância, um motorista
com suas polainas de couro e dois grandes policiais
rurais eram visíveis, correndo em sua direção a todo
vapor!
Pobre Sapo! Ele saltou de pé e fugiu novamente, com
o coração na boca. “Oh, meu Deus!” ele ofegou,
enquanto corria, “que asno eu sou! Que asno
convencido e imprudente! Me gabando de novo!
Gritando e cantando músicas de novo! Sentado aqui,
conversando de novo! Oh meu Deus! Oh meu Deus!
Oh meu Deus!”
Ele olhou para trás, e viu, para seu desespero, que
eles estavam se aproximando rapidamente. Ele correu
o mais rápido que pôde, mas continuou olhando para
trás, e viu que ainda estavam ganhando terreno
lentamente. Ele fez o melhor que pôde, mas ele era
um animal gordo, e suas pernas eram curtas, e
mesmo assim eles continuavam se aproximando. Ele
já podia ouvi-los bem próximos. Sem prestar mais
atenção para onde estava indo, ele correu às cegas e
com desespero, olhando para trás, sobre seu ombro,
para os agora vitoriosos inimigos, quando, de repente,
o chão falhou sob seus pés, ele agarrou o ar e,
splash! ele se viu mergulhando de cabeça em água
profunda, rápida, água que o arrastava com uma
força que ele não conseguia enfrentar; e ele soube
que, em seu pânico cego, ele tinha corrido direto
para o rio!
Ele subiu à superfície e tentou agarrar os juncos e
prímulas que cresciam ao longo da beira do rio, bem
debaixo da margem, mas a corrente estava tão forte
que os arrancava de suas mãos. "Oh meu Deus!"
ofegou o pobre Sapo, "se eu alguma vez roubar
outro carro... se eu cantar outra música vaidosa de
novo..." Então ele afundou de novo, e voltou à
superfície sem fôlego, arrotando e tossindo. Pouco
depois, ele viu que estava se aproximando de um
grande buraco escuro na margem, logo acima de sua
cabeça, e enquanto o rio o arrastava para frente, ele
estendeu uma pata e agarrou-se na borda e
segurou-se. Então, lentamente e com di culdade, ele
se levantou, até nalmente conseguir apoiar os
cotovelos na borda do buraco. Lá ele cou por alguns
minutos, ofegante, pois estava completamente
exausto.
Enquanto suspirava e bufava e olhava para dentro do
buraco escuro, algo brilhante pequeno brilhava e
cintilava em suas profundezas, movendo-se em sua
direção. À medida que se aproximava, um rosto foi
surgindo gradualmente ao redor dele, e era um rosto
familiar!
Marrom e pequeno, com bigodes.
fi
fi
fi
Sério e redondo, com orelhas limpas e pelos sedosos.
Era o Rato do Rio!

Capítulo 11: Como as Tempestades de Verão Vieram


suas Lágrimas

O Rato estendeu uma pequena pata marrom bem


arrumada, segurou o Sapo rmemente pela nuca e
deu um grande puxão; e o encharcado Sapo subiu
devagar, mas seguramente, sobre a borda do buraco,
até que, nalmente, ele estava são e salvo no salão,
coberto de lama e erva daninha, e com a água
escorrendo dele, mas feliz e animado como sempre,
agora que se via novamente na casa de um amigo,
sem mais fugas ou disfarces, podendo deixar de lado
um disfarce que não condizia com sua posição e
exigia tanto esforço para manter.
"Ah, Ratinho!" exclamou ele. "Eu passei por coisas
tão terríveis desde a última vez que te vi, você nem
imagina! Tantas provações, tanto sofrimento, e eu
suportei tudo de maneira tão nobre! E depois, fugas
incríveis, disfarces engenhosos, truques e
artimanhas, todos tão bem planejados e executados!
Estive na prisão—e, claro, escapei! Fui jogado em um
canal—nadei até a margem! Roubei um cavalo—vendi-
o por uma boa quantia! Enganei todo mundo— z com
fi
fi
fi
que todos zessem exatamente o que eu queria! Oh,
sou um sapo esperto, sem dúvida! Quer saber qual
foi minha última façanha? Espere até eu te contar
——"
"Sapo," disse o Rato do Rio, gravemente e com
rmeza, "você sobe agora mesmo e tira esse trapo
de algodão velho que parece ter pertencido a uma
lavadeira qualquer, se limpa direito, veste algumas
das minhas roupas e tenta descer parecendo um
cavalheiro, se puder; porque um objeto mais
maltrapilho, sujo e desonroso do que você, eu nunca
vi na minha vida! Agora, pare com a fanfarronice e
vá logo! Depois, terei algo a dizer a você!"
No começo, o Sapo quis rebater as palavras do amigo.
Ele já tinha tido o bastante de ser mandado quando
estava na prisão e parecia que tudo iria começar de
novo; e por um rato, ainda por cima! No entanto, ele
se olhou no espelho sobre o porta-chapéus, com um
chapéu preto enferrujado inclinado sobre um olho, e
mudou de ideia, subindo rapidamente as escadas,
humildemente, para o camarim do Rato. Lá, ele tomou
um bom banho, trocou de roupa e cou por muito
tempo diante do espelho, contemplando-se com
orgulho e prazer, pensando em como era possível as
pessoas terem acreditado que ele fosse uma
lavadeira, mesmo que por um momento.
fi
fi
fi
Quando desceu novamente, o almoço já estava na
mesa e o Sapo cou bastante contente em vê-lo, pois
havia passado por algumas experiências árduas e
feito muito exercício desde o excelente café da
manhã que lhe fora preparado pelos ciganos.
Enquanto comiam, o Sapo contou ao Rato todas as
suas aventuras, destacando principalmente sua
própria esperteza, presença de espírito em situações
de emergência e sagacidade em momentos difíceis,
transmitindo a ideia de que havia se divertido muito.
Mas quanto mais ele falava e se gabava, mais o Rato
se tornava sério e silencioso.
Quando o Sapo nalmente parou de falar, houve um
silêncio por um momento; e então o Rato disse:
"Agora, Sapo, não quero causar-lhe mais sofrimento,
depois de tudo pelo que você já passou; mas, falando
sério, você não percebe que fez papel de tolo? Você
mesmo admitiu que esteve algemado, preso, faminto,
perseguido, aterrorizado, insultado, zombado e
jogado vergonhosamente na água—e por uma mulher,
ainda! Onde está a diversão nisso? E tudo isso
porque você tinha que roubar um carro! Você sabe
que nunca teve nada além de problemas com carros
desde o momento em que pôs os olhos num. Mas se
você insiste em se envolver com eles—como
geralmente faz cinco minutos depois de começar—por
que roubar? Seja um inválido, se acha isso
fi
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emocionante; seja falido, para variar, se quer isso;
mas por que escolher ser um condenado? Quando vai
ser sensato, pensar nos seus amigos, e tentar ser um
crédito para eles? Você acha que me dá algum prazer
ouvir os animais dizerem por aí que sou o sujeito que
anda com bandidos de prisão?"
Agora, um ponto positivo no caráter do Sapo é que
ele era um animal de bom coração e nunca se
importava de ser advertido por seus verdadeiros
amigos. Mesmo quando estava determinado a fazer
algo, ele sempre conseguia ver o outro lado da
questão. Então, embora, enquanto o Rato falava
seriamente, ele continuasse dizendo para si mesmo,
de forma mutinosa, "Mas foi divertido! Muito
divertido!" e fazendo sons estranhos e reprimidos,
ainda assim, quando o Rato terminou de falar, ele
suspirou profundamente e disse, muito educadamente
e humildemente: “Muito certo, Ratinho! Como você
sempre tem razão! Sim, eu fui um tolo vaidoso, posso
ver isso claramente; mas agora vou ser um bom Sapo
e não farei isso de novo. Quanto aos carros, não
estou mais tão entusiasmado desde minha última
queda no rio. O fato é, enquanto eu estava me
recuperando à beira do seu buraco, tive uma ideia
repentina—realmente brilhante—relacionada a barcos
a motor—! Mas espere, calma, não se preocupe, foi
só uma ideia, e não vamos falar mais sobre isso
agora. Vamos tomar nosso café, fumar um charuto e
bater um papo tranquilo, e então vou caminhar
calmamente até a Vila do Sapo, vestir minhas
próprias roupas e colocar as coisas de volta nos
trilhos. Já tive aventuras o su ciente. Vou levar uma
vida tranquila, respeitável, cuidar da minha
propriedade e fazer um pouco de jardinagem
paisagística de vez em quando. E sempre haverá um
jantar pronto para meus amigos quando eles vierem
me ver; e vou manter uma charrete para passear
pelo campo, como nos bons velhos tempos, antes de
eu car inquieto e querer fazer coisas.”
“Andar calmamente até a Vila do Sapo?” gritou o
Rato, muito animado. “O que está dizendo? Quer
dizer que você não ouviu nada?”
"O quê?" disse o Sapo, cando pálido. "Vamos, rápido,
Ratinho! Não me poupe! O que eu não ouvi?"
"Você está querendo me dizer", gritou o Rato,
batendo com o punho pequeno na mesa, "que você
não ouviu nada sobre os Furtivos e Furões?"
"O quê, os animais da Floresta Selvagem?" gritou o
Sapo, tremendo. "Não, nem uma palavra! O que eles
zeram?"
"E como eles tomaram a Vila do Sapo?" continuou o
Rato.
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fi
fi
O Sapo apoiou os cotovelos na mesa, o queixo nas
mãos, e grandes lágrimas surgiram em seus olhos,
transbordando e caindo na mesa, plop! plop!
"Vai em frente, Ratinho," murmurou depois de um
tempo; "me conte tudo. O pior já passou. Sou um
animal novamente. Posso suportar."
“Quando você… se meteu naquele… problema,” disse
o Rato, lentamente e com ênfase; “Quero dizer,
quando você… desapareceu da sociedade por um
tempo, por causa daquele mal-entendido sobre uma…
uma máquina, sabe...”
O Sapo apenas assentiu com a cabeça.
“Bem, naturalmente, isso foi muito discutido por
aqui,” continuou o Rato, “não só ao longo da margem
do rio, mas até mesmo na Floresta Selvagem. Os
animais tomaram partido, como sempre acontece. Os
amigos do rio caram do seu lado e disseram que
você foi tratado de maneira infame, e que não havia
mais justiça no país. Mas os animais da Floresta
Selvagem disseram coisas duras, que você teve o que
merecia e que já era hora de esse tipo de
comportamento acabar. Então, eles caram muito
orgulhosos e começaram a dizer por aí que você
estava acabado dessa vez! Que nunca mais voltaria,
nunca, nunca!”
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O Sapo assentiu mais uma vez, ainda em silêncio.
"É assim que esses pequenos animais são," o Rato
prosseguiu. "Mas o Toupeira e o Texugo caram
rmes, por bem ou por mal, insistindo que você
voltaria de alguma forma. Não sabiam exatamente
como, mas acreditavam que, de algum jeito, você
voltaria!"
O Sapo começou a se ajeitar na cadeira e esboçou
um pequeno sorriso.
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“Eles argumentaram com base na história,” continuou
o Rato. “Disseram que nunca houve leis criminais que
prevalecessem contra a sua cara de pau e a sua
simpatia, combinadas com o poder de uma longa
bolsa de dinheiro. Então, eles decidiram mudar-se
para a Vila do Sapo, morar lá e mantê-la arejada,
para tê-la pronta para quando você aparecesse de
novo. Claro, não imaginavam o que iria acontecer, mas
tinham suas suspeitas sobre os animais da Floresta
Selvagem. Agora, chego à parte mais dolorosa e
trágica da minha história. Uma noite escura — era
uma noite muito escura, com ventania forte e
chovendo como nunca — uma quadrilha de furões,
armados até os dentes, rastejou silenciosamente pelo
caminho da carruagem até a entrada principal.
Simultaneamente, um grupo de furões desesperados,
avançando pelo jardim da cozinha, tomou controle do
quintal e dos anexos; enquanto uma companhia de
doninhas insinuantes, que não se importavam com
nada, ocuparam o conservatório e a sala de bilhar,
controlando as portas que abriam para o gramado.”
“O Toupeira e o Texugo estavam sentados ao lado do
fogo na sala de fumar, contando histórias e não
suspeitando de nada, porque não era uma noite em
que qualquer animal deveria estar fora, quando
aqueles vilões sanguinários arrombaram as portas e
invadiram o local de todos os lados. Eles lutaram o
melhor que puderam, mas o que adiantava? Estavam
desarmados, pegos de surpresa! O que dois animais
poderiam fazer contra centenas? Eles os espancaram
brutalmente com bastões, esses dois éis e pobres
amigos, e os jogaram para fora, no frio e na chuva,
com muitos insultos e observações desnecessárias!”
Aqui, o insensível Sapo deu uma risadinha, mas logo
se recompôs e tentou parecer particularmente sério.
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“E desde então, os animais da Floresta Selvagem
estão morando na Vila do Sapo,” prosseguiu o Rato, “e
estão se comportando de qualquer maneira!
Dormindo até metade do dia, tomando café da manhã
a qualquer hora, com a casa numa bagunça tão
grande (segundo me contaram) que não dá nem para
olhar! Comendo sua comida, bebendo suas bebidas e
fazendo piadas de mau gosto sobre você; cantando
músicas vulgares, sobre—bem, sobre prisões, juízes,
policiais; músicas horríveis e pessoais, sem nenhuma
graça. E estão dizendo para os comerciantes e para
todos que vieram para car de nitivamente.”
"Ah, é mesmo?" disse o Sapo, levantando-se e
pegando um bastão. "Eu logo irei resolver isso!"
"Não adianta, Sapo!" gritou o Rato atrás dele. "Você
deveria voltar e se sentar; só vai arrumar mais
problemas."
Mas o Sapo já estava fora de si, e não havia como
segurá-lo. Ele marchou rapidamente pela estrada,
com o bastão sobre o ombro, bufando e resmungando
de raiva, até que chegou perto do portão de sua
propriedade, quando, de repente, surgiu de trás das
cercas um furão amarelo comprido, com uma
espingarda.
"Quem vem lá?" disse o furão, com voz rígida.
fi
fi
"Besteira e bobagem!" disse o Sapo, irritado. "O que
você quer dizer com falar assim comigo? Saia daí
agora, ou eu vou——"
O furão não disse uma palavra, mas ergueu sua
arma e a levou ao ombro. O Sapo sabiamente se
jogou no chão da estrada, e Bang! uma bala passou
assobiando por cima de sua cabeça.
O aterrorizado Sapo se pôs de pé rapidamente e
correu o mais rápido que pôde; e enquanto corria,
ouviu o furão rindo e outras risadas horríveis
acompanhando o som.
Ele voltou, muito abatido, e contou ao Rato do Rio o
que ocorrera.
"O que eu te disse?" disse o Rato. "Não adianta. Eles
colocaram sentinelas armadas. Só nos resta esperar."
O Sapo, ainda assim, não estava disposto a desistir
tão fácil. Ele pegou o barco e começou a remar rio
acima, até onde o jardim da Vila do Sapo descia até
a beira d'água.
Chegando à vista de sua velha casa, ele descansou
nos remos e observou a paisagem cautelosamente.
Tudo parecia muito pací co e calmo. Ele podia ver
toda a frente da Vila do Sapo, brilhando no sol da
tarde, com os pombos se aninhando, em duplas e
trios, ao longo da linha reta do telhado; o jardim,
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uma explosão de ores; o riacho que levava ao barco,
a pequena ponte de madeira que o cruzava; tudo
tranquilo, aparentemente esperando por seu retorno.
Ele pensou em tentar o casarão primeiro. Muito
cuidadosamente, remou até a boca do riacho e
estava passando sob a ponte, quando... Crash!
Uma grande pedra, lançada de cima, estourou o
fundo do barco. Ele afundou e o Sapo se viu lutando
em águas profundas. Quando olhou para cima, viu
duas doninhas se inclinando sobre o parapeito da
ponte, assistindo-o com grande alegria. “Será a sua
cabeça da próxima vez, Sapo!” gritaram para ele. O
Sapo indignado nadou para a margem, enquanto as
doninhas riram e riram, apoiando-se mutuamente, até
quase terem dois ataques — isto é, um para cada um,
naturalmente.
O Sapo voltou pelo caminho, a pé, e contou mais uma
vez suas decepcionantes experiências ao Rato.
"Bem, o que eu te disse?" falou o Rato, muito
irritado. "E agora olhe o que você fez! Perdi o meu
barco, pelo qual eu tinha tanto carinho, isso é o que
você fez! E simplesmente destruiu o belo terno que
emprestei a você! Realmente, Sapo, de todos os
animais difíceis — me admiro que você consiga ter
algum amigo!"
fl
O Sapo percebeu imediatamente como havia agido de
maneira errada e tola. Admitiu seus erros e cabeça-
dura e pediu desculpas ao Rato por perder seu
barco e estragar suas roupas. E ele concluiu dizendo,
com uma rendição sincera que sempre desarmava a
crítica de seus amigos e os trazia de volta ao seu
lado: “Ratinho! Vejo que fui um sapo teimoso e
voluntarioso! Daqui em diante, acredite em mim, serei
humilde e submisso, e não tomarei nenhuma iniciativa
sem os seus conselhos e total aprovação!”
“Se isso é realmente verdade,” disse o bondoso Rato,
agora já apaziguado, “então meu conselho é,
considerando o avançado da hora, que sente-se e
tome seu jantar, que já será servido em um minuto,
e seja muito paciente. Pois estou convencido de que
não podemos fazer nada até falarmos com o Toupeira
e o Texugo, ouvir as últimas notícias deles, realizar
uma conferência e buscar os conselhos deles para
resolver essa difícil questão.”
“Oh, sim, claro, o Toupeira e o Texugo,” respondeu o
Sapo, despreocupadamente. “O que aconteceu com
eles, os queridos companheiros? Eu tinha até me
esquecido deles.”
"Muito conveniente da sua parte perguntar!" disse o
Rato, um tanto reprovador. "Enquanto você andava
pelo país em caros automóveis e galopava
orgulhosamente em cavalos de raça, tomando
deliciosos cafés da manhã, aqueles dois animais
dedicados estavam acampando ao ar livre, em todo
tipo de clima, vivendo de forma rude durante o dia e
dormindo de forma desconfortável à noite; cuidando
de sua casa, patrulhando seus limites, cando de
olho nas doninhas e furões, tramando e planejando
como recuperar sua propriedade para você. Você
realmente não merece ter amigos tão leais e
verdadeiros, Sapo, não merece mesmo. Um dia,
quando for tarde demais, você vai se arrepender por
não ter valorizado mais seus amigos enquanto os
tinha por perto!"
“Eu sou uma criatura ingrata, eu sei,” choramingou o
Sapo, derramando lágrimas amargas. "Deixe-me sair
e encontrá-los, sair na fria e escura noite,
compartilhar suas di culdades e tentar provar a
vocês... Ei, espere um instante! Com certeza acabei
de ouvir o tinido de pratos numa bandeja! O jantar
chegou, viva! Vamos, Ratinho!"
O Rato lembrou-se de que o pobre Sapo tinha se
alimentado de comida de prisão durante um bom
tempo, e que grandes concessões deviam ser feitas.
Ele o seguiu até a mesa, encorajando-o gentilmente
em seus esforços heróicos para compensar as
privações do passado.
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fi
Quando terminaram a refeição e voltaram para suas
poltronas, ouviu-se uma batida pesada na porta.
O Sapo estava nervoso, mas o Rato, acenando
misteriosamente para ele, foi diretamente até a
porta, a abriu e lá estava o Sr. Texugo.
Ele tinha todo o aspecto de quem havia passado
algumas noites longe de casa, privado de seus
pequenos confortos e conveniências. Seus sapatos
estavam cobertos de lama, e ele parecia muito
desleixado; mas então, o Texugo nunca fora muito
elegante, mesmo nos seus melhores momentos.
Traversou o salão solenemente, apertou a pata do
Sapo e disse: "Bem-vindo de volta, Sapo! Mas, ai! O
que estou dizendo? Bem-vindo de volta ao seu lar, de
fato! Que triste retorno! Pobre Sapo!" Então ele se
virou, sentou-se à mesa, puxou uma cadeira e
começou a se servir de uma grande fatia de torta
fria.
O Sapo cou bastante alarmado com aquele estilo
sério e agourento de cumprimento; mas o Rato
sussurrou-lhe: “Não se preocupe; não ligue para ele;
não diga nada ainda. Ele normalmente ca muito
abatido e desanimado quando está com fome. Espere
meia hora, ele será um animal completamente
diferente.”
fi
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Então eles esperaram em silêncio, e logo depois
houve outra batida, mais leve, na porta. O Rato, com
um aceno de cabeça para o Sapo, foi até a porta e
conduziu para dentro o Toupeira, que estava muito
mal vestido e sujo, com pedaços de palha grudados
em sua pelagem.
"Hurrah! Aqui está o velho Sapo!" exclamou o
Toupeira, com o rosto radiante. "Que surpresa
encontrar você de volta!" E ele começou a dançar ao
redor dele. “Nunca imaginamos que você apareceria
tão cedo! Ora, você deve ter escapado, seu sapo
esperto, engenhoso e inteligente!”
O Rato, alarmado, puxou-o pelo cotovelo; mas já era
tarde. O Sapo já estava se enchendo de orgulho e
in ando o peito.
“Esperto? Oh, não!” disse ele. “Eu não sou realmente
esperto, de acordo com meus amigos. Apenas fugi da
prisão mais forte da Inglaterra, só isso! Capturei um
trem e fugi nele, isso também! E me disfarcei e
andei pelo país enganando todo mundo, isso também!
Não, eu sou só um pateta, um asno! Vou contar
algumas das minhas pequenas aventuras, Toupeira, e
você poderá julgar por si mesmo!"
"Bem, bem," disse o Toupeira, dirigindo-se à mesa de
jantar; "suponho que você possa falar enquanto eu
como. Ainda não dei uma mordida desde o café da
fl
manhã! Oh céus! Oh céus!” E ele se sentou e ajudou-
se fartamente com carne fria e picles.
O Sapo plantou-se de frente para a lareira, en ou a
mão no bolso da calça e tirou um punhado de
moedas de prata. “Olhe para isso!” ele exclamou,
exibindo-as. "Nada mal, não é, para poucos minutos
de trabalho? E como você acha que consegui,
Toupeira? Comércio de cavalos! Foi assim que eu
consegui!"
“Continue, Sapo,” disse o Toupeira, imensamente
interessado.
"Sapo, por favor, cale-se!" disse o Rato. "E você não
o incentive, Toupeira, quando sabe como ele é; mas
diga-nos o mais rápido possível qual é a situação e o
que deve ser feito, agora que o Sapo está de volta
nalmente."
“A situação está tão ruim quanto pode ser,”
respondeu o Toupeira, rabugento. "E quanto ao que
deve ser feito, abençoado seja se eu souber! O
Texugo e eu temos rondado o lugar por noite e dia;
sempre a mesma coisa. Sentinelas em toda parte,
armas apontadas para nós, pedras jogadas em nós;
sempre um animal de guarda. E quando nos veem,
caramba! Como eles riem! Isso é o que mais me
irrita!"
fi
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"É uma situação muito difícil," disse o Rato,
re etindo profundamente.
"Mas acho que agora consigo ver, no fundo da minha
mente, o que o Sapo realmente deveria fazer. Vou te
contar. Ele deveria——"
"Não, ele não deveria!" gritou o Toupeira, com a boca
cheia. "Nada disso! Você não entende. O que ele
deveria fazer é——"
"Bem, eu não vou fazer isso, de qualquer maneira!"
gritou o Sapo, cando excitado. "Não vou ser
mandado por vocês dois! Estamos falando da minha
casa e eu sei exatamente o que fazer, e vou te
contar. Vou——"
A essa altura, os três estavam falando ao mesmo
tempo, no topo de suas vozes, e o barulho era
ensurdecedor, quando uma voz na e seca se fez
ouvir, dizendo: "Calem-se todos de uma vez!" E todos
caram instantaneamente em silêncio.
Era o Texugo, que, tendo terminado sua torta, girou
em sua cadeira e os olhava severamente. Quando
percebeu que havia conquistado a atenção de todos e
que claramente esperavam que ele se dirigisse a
eles, virou-se de volta para a mesa novamente e
estendeu a mão para o queijo. E tão grande era o
respeito que suas qualidades sólidas impunham a
fi
fl
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todos, que não se ouviu mais uma palavra até que ele
houvesse concluído completamente sua refeição e
sacudido as migalhas dos joelhos. O Sapo se agitava
bastante, mas o Rato o segurava rmemente.
Quando o Texugo terminou por completo, ele se
levantou de seu assento e foi até a lareira, re etindo
profundamente. Finalmente, ele falou:
"Sapo!" disse ele, severamente. "Você, bicho travesso
e problemático! Não tem vergonha de si mesmo? O
que você acha que seu pai, meu velho amigo, diria se
ele estivesse aqui hoje à noite e soubesse de todas
as suas confusões?"
O Sapo, que naquele momento estava deitado no
sofá, com as pernas para cima, virou-se de bruços,
sacudido por soluços de contrição.
"Pronto, pronto," continuou o Texugo, mais
gentilmente. "Não se preocupe. Pare de chorar.
Vamos esquecer o passado e tentar começar de novo,
virar a página. Mas o que o Toupeira disse é verdade.
As doninhas estão em guarda em toda parte e são os
melhores sentinelas do mundo. É absolutamente inútil
pensar em atacar o lugar. Eles são muito fortes para
nós."
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"Então está tudo acabado," soluçou o Sapo, chorando
nas almofadas do sofá. "Vou me alistar como soldado
e nunca mais verei minha querida Vila do Sapo!"
"Vamos lá, anime-se, Sapo!" disse o Texugo. "Existem
mais formas de recuperar um lugar do que tomar à
força. Eu ainda não disse minha última palavra.
Agora vou te contar um grande segredo."
O Sapo se sentou lentamente e enxugou os olhos.
Segredos tinham uma enorme atração para ele, pois
nunca conseguia guardá-los, e curtia a emoção
proibida de ir contar para outro animal, depois de
prometer elmente que não diria nada.
"Existe—uma—passagem subterrânea," disse o Texugo,
de forma impressionante, "que leva da margem do
rio, bem perto daqui, direto para o meio da Vila do
Sapo."
"Ah, besteira, Texugo!" disse o Sapo, num tom
desdenhoso. "Você andou ouvindo algumas das
histórias que contam nas tavernas por aqui. Eu
conheço cada centímetro da Vila do Sapo, por dentro
e por fora. Nada disso, te garanto!"
"Meu jovem amigo," disse o Texugo, com grande
severidade, "seu pai, que era um animal digno—muito
mais do que alguns outros que conheço—era um
amigo íntimo meu e me contou muitas coisas que
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jamais sonharia em contar a você. Ele descobriu essa
passagem—claro, ele não a fez, isso foi feito há
centenas de anos, antes que ele sequer viesse a
morar lá—mas ele a reparou e limpou, porque achou
que poderia ser útil um dia, em caso de problemas
ou perigo; e ele me mostrou. 'Não deixe meu lho
saber sobre isso,' ele disse. 'Ele é um bom garoto,
mas muito leve e volátil de caráter, e simplesmente
não consegue guardar um segredo. Se algum dia ele
estiver em uma enrascada de verdade e precisar
dessa passagem, você pode contar a ele, mas não
antes disso.'"
Os outros animais olharam xamente para o Sapo,
tentando perceber como ele reagiria. No começo, o
Sapo cou mal-humorado; mas logo se animou, como
o bom sujeito que sempre foi.
"Bem, bem," disse ele. "Talvez eu seja um pouco
falador. Um sujeito popular como eu—meus amigos se
juntam à minha volta—nós brincamos, contamos
histórias engraçadas—e, de alguma forma, minha
língua acaba escapando. Tenho o dom da
conversação! Já me disseram que eu deveria ter um
salon, o que quer que isso seja. Mas não importa.
Continue, Texugo. Como essa passagem vai nos
ajudar?"
fi
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"Descobri algumas coisas recentemente," continuou o
Texugo. "Fiz o Lontra se disfarçar de limpador de
chaminés e ir até a porta dos fundos, com escovas
no ombro, pedindo um trabalho. Vai acontecer um
grande banquete amanhã à noite. É o aniversário de
alguém—acho que do Chefe das Doninhas—e todos as
doninhas estarão reunidos no salão de banquete,
comendo, bebendo, rindo e se divertindo, sem
suspeitar de nada. Sem armas, sem espadas, sem
bastões, sem qualquer tipo de coisa!"
"Mas os sentinelas estarão de vigia como sempre,"
observou o Rato.
"Exatamente," disse o Texugo. “Esse é o meu ponto.
As doninhas con arão completamente em seus
excelentes sentinelas. E aí entra a passagem. Esse
túnel muito útil leva direto ao depósito do mordomo,
ao lado da sala de jantar!"
"Aha! Aquela tábua barulhenta no depósito do
mordomo!" exclamou o Sapo. "Agora eu entendo!"
"Nós vamos sair silenciosamente no depósito do
mordomo—" gritou o Toupeira.
“—com nossas pistolas e espadas e bastões—” berrou
o Rato.
“—e invadimos eles!” disse o Texugo.
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“—e os vamos bater, bater, bater!” gritou o Sapo em
êxtase, correndo ao redor da sala e pulando sobre
as cadeiras.
"Muito bem, então," disse o Texugo, retomando seu
tom seco habitual, "nosso plano está de nido, e não
há mais nadinha para vocês discutirem ou brigarem.
Então, como já está cando tarde, todos podem ir
direto para a cama. Faremos todos os arranjos
necessários amanhã de manhã."
O Sapo, claro, foi obedientemente para a cama, junto
com os outros—ele sabia muito bem que seria tolice
recusar—, embora estivesse excitado demais para
dormir. Mas ele tinha tido um dia longo, com muitos
acontecimentos apinhados nele; e lençóis e
cobertores eram coisas muito amigáveis e
reconfortantes, depois da palha comum, e não muita,
espalhada no chão de pedra de uma cela fria; e sua
cabeça não cou muitos segundos no travesseiro
antes que ele felizmente estivesse roncando.
Naturalmente, ele sonhou muito; com estradas que
fugiam dele quando ele queria segui-las, com canais
que o perseguiam e o pegavam, com uma barcaça
entrando no salão de banquete com a sua roupa
semanal, exatamente quando ele estava oferecendo
um jantar; e ele estava sozinho na passagem secreta,
avançando, mas ela se torcia e se virava, e se
sacudia, e cava em pé; ainda assim, de alguma
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forma, no nal, ele se encontrava novamente na Vila
do Sapo, seguro e triunfante, com todos os seus
amigos ao seu redor, assegurando-lhe sinceramente
que ele era realmente um sapo esperto.
Ele dormiu até tarde na manhã seguinte, e, quando
desceu, descobriu que os outros animais já haviam
terminado o café da manhã há algum tempo. O
Toupeira tinha saído de repente, sem dizer a
ninguém aonde ia. O Texugo estava sentado na
poltrona, lendo o jornal e não se preocupando
minimamente com o que aconteceria naquela noite. O
Rato, por outro lado, estava correndo pela sala
freneticamente, com os braços cheios de armas de
todos os tipos, distribuindo-as em quatro pilhas
organizadas no chão, murmurando animadamente
para si mesmo enquanto corria: "Aqui vai uma espada
para o Rato, aqui vai uma espada para o Toupeira,
aqui vai uma espada para o Sapo, aqui vai uma
espada para o Texugo! Aqui vai uma pistola para o
Rato, aqui vai uma pistola para o Toupeira, aqui vai
uma pistola para o Sapo, aqui vai uma pistola para o
Texugo!” E assim por diante, de forma regular e
rítmica, enquanto as quatro pilhas cresciam e
cresciam.
"Isso é muito bom, Rato," disse o Texugo, dali a
pouco, olhando o pequeno animal agitado por sobre a
borda do jornal; "não estou te culpando. Mas, assim
fi
que superarmos as doninhas, com essas armas
horríveis, te garanto que não vamos precisar de
espadas ou pistolas. Nós quatro, com nossos bastões,
uma vez dentro da sala de jantar, conseguiremos
limpar o chão de todos aqueles sujeitos em cinco
minutos. Eu poderia ter feito tudo sozinho, mas não
quis tirar de vocês a diversão!"
"É melhor jogar pelo seguro," disse o Rato, re exivo,
polindo o cano de uma pistola na manga e olhando ao
longo dele.
O Sapo, tendo terminado o café da manhã, pegou um
bastão forte e o balançou vigorosamente,
espancando animais imaginários. "Vou ensiná-los a
roubar minha casa!" gritou ele. "Vou aprender eles,
vou aprender eles!"
"Não diga 'aprender eles', Sapo," disse o Rato, muito
chocado. "Isso não é bom inglês."
"O que você está sempre reclamando do Sapo, hein?"
inquiriu o Texugo, um tanto irritado. "Qual é o
problema com o inglês dele? É o mesmo que eu uso, e
se é bom para mim, deveria ser bom para você!"
"Desculpe," disse o Rato, humilde. "Só acho que
deveria ser 'ensinar eles', não 'aprender eles'."
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"Mas não queremos ensiná-los," retrucou o Texugo.
"Queremos aprender eles—aprender eles, aprender
eles! E mais, vamos fazer isso também!"
"Ah, muito bem, faça do seu jeito," murmurou o Rato.
Ele já estava um pouco confuso sobre o assunto, e
logo se retirou para um canto, onde pôde ser ouvido
murmurando: "Aprender eles, ensinar eles, ensinar
eles, aprender eles!" Até que o Texugo lhe disse um
tanto rudemente que parasse.
Logo o Toupeira voltou à sala, evidentemente muito
satisfeito consigo mesmo. "Eu tive tanta diversão!"
ele começou a dizer imediatamente. “Estive
provocando as doninhas!"
"Espero que você tenha sido muito cuidadoso,
Toupeira?" disse o Rato, ansioso.
"Eu também espero!" a rmou o Toupeira com
con ança. "A ideia me ocorreu quando fui até a
cozinha para ver se o café da manhã do Sapo estava
sendo mantido quente para ele. Eu encontrei aquele
velho vestido de lavadeira em que ele voltou ontem,
pendurado para secar perto do fogo. Então, vesti-o e
coloquei o chapéu e o xale também, e saí direto para
a Vila do Sapo, o mais ousado possível. Claro, os
sentinelas estavam alertas, com suas armas e o
'Quem vem lá?' e todo o resto de suas bobagens.
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'Bom dia, senhores!' disse eu, muito respeitoso. 'Algum
serviço de lavagem para hoje?'"
"Eles me olharam muito orgulhosos e rígidos, e
disseram: 'Vá embora, lavadeira! Não fazemos
lavagem enquanto estamos de serviço.' 'Nem em
qualquer outro momento?' repliquei eu. Ho ho ho! Fui
ou não fui engraçado, Sapo?"
"Pobre animal leviano!" disse o Sapo com ar
enfatuado. A verdade é que ele se sentia
extremamente enciumado pelo que o Toupeira havia
feito. Era exatamente o tipo de coisa que ele gostaria
de ter feito, se tivesse pensado nisso antes, em vez
de dormir demais.
"Algumas das doninhas caram vermelhas," continuou
o Toupeira, "e o sargento, que estava no comando,
falou comigo de forma bastante curta: 'Agora saia
daqui, minha boa mulher, saia! Não que
perturbando meus homens enquanto estão de vigília.'
'Sair daqui?' eu disse; 'Esperem e vocês vão ver quem
vai sair daqui muito em breve!'"
"Oh, Toupeira, como você pôde?" lamentou o Rato,
incrédulo.
O Texugo abaixou seu jornal.
“Eu conseguia ver eles cando nervosos, se
entreolhando,” prosseguiu o Toupeira, “e o sargento
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disse a eles: 'Não liguem para ela; ela não sabe o que
está falando.'”
“'Ah! Não sei, é?' disse eu. 'Bem, deixe-me te contar
isso: minha lha trabalha como lavadeira para o Sr.
Texugo, se é que isso te diz algo! E você saberá
muito bem em breve! Cem Texugos sanguinários,
armados com ri es, vão atacar a Vila do Sapo esta
noite, pelo paddock. Seis barcos de Ratos, com
pistolas e espadas, virão pelo rio e desembarcarão no
jardim; enquanto um destacamento selecionado de
Sapos, conhecidos como Desesperados, ou Sapos da
Glória ou Morte, vão invadir o pomar e esmagar
qualquer resistência, gritando por vingança. Não
restará muito de vocês para lavar, quando
terminarmos com vocês, a menos que saiam enquanto
têm chance!’ Então eu corri para longe, e quando
estava fora da vista, me escondi; e logo depois eu me
esgueirei de volta pelo fosso e espreitei por trás da
cerca viva. Eles estavam todos completamente
nervosos e agitados, correndo para todos os lados ao
mesmo tempo, se atropelando, e cada um dando
ordens aos outros sem ninguém ouvir; e o sargento
continuava enviando grupos de doninhas para partes
distantes dos terrenos, e depois mandava outros para
buscá-los de volta; e eu ouvi eles dizendo uns aos
outros, ‘Isso é típico das doninhas; eles vão car
confortáveis no salão de banquetes, se entupindo de
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comida e brindando com canções e toda sorte de
diversão, enquanto nós devemos car de guarda no
frio e no escuro, e, no m, vamos ser retalhados em
pedaços por Texugos sanguinários!'"
“Ah, seu bobo, Toupeira!” gritou o Sapo. “Você
estragou tudo!”
"Toupeira," disse o Texugo, em um tom quieto e sério,
"eu percebo que você tem mais senso em seu
dedinho do que alguns outros animais têm em seus
corpos inteiros. Você fez um excelente trabalho, e
começo a ter grandes esperanças em você. Bom
vizinho! Inteligente vizinho!"
O Sapo cou simplesmente furioso de ciúmes, ainda
mais por ser incapaz de entender o motivo pelo qual
o Toupeira havia feito algo tão inteligente; mas,
felizmente para ele, antes que pudesse demonstrar
seu descontentamento ou se expor ao sarcasmo do
Texugo, o sino tocou para o almoço.
Foi uma refeição simples, mas substancial—bacon com
feijões largos e um pudim de macarrão; e quando
eles terminaram, o Texugo se acomodou em uma
poltrona e disse: "Bem, temos trabalho a fazer esta
noite e provavelmente vai demorar bastante até
terminarmos tudo; então, vou tirar uma soneca
enquanto posso." E ele cobriu o rosto com um lenço e
logo estava roncando.
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O Rato, sempre diligente, imediatamente retomou
seus preparativos, correndo entre suas quatro pilhas
de equipamento, murmurando: "Aqui está um cinto
para o Rato, aqui está um cinto para o Toupeira, aqui
está um cinto para o Sapo, e aqui está um cinto para
o Texugo!" E assim por diante, com toda nova peça
de equipamento que ele pegava, enquanto as pilhas
cresciam in nitamente; então, o Toupeira passou o
braço ao redor do Sapo, conduziu-o para fora da
casa e o empurrou para uma cadeira de vime,
insistindo para que o Sapo contasse-lhe todas as
suas aventuras do começo ao m. O Sapo, é claro,
estava mais do que disposto a ir em frente. O
Toupeira era um bom ouvinte, e o Sapo, sem a
interrupção ou crítica de amigos exigentes, deixou-
se levar. Na verdade, muito do que ele relatou se
enquadrava mais na categoria de "o que poderia ter
acontecido se eu tivesse pensado nisso na hora
certa, em vez de dez minutos depois." Essas são
sempre as aventuras mais emocionantes e vibrantes;
e por que não deveriam ser tão autênticas quanto os
eventos que realmente ocorreram, mesmo que de
forma inadequada?

Capítulo 12: O Retorno de Ulisses


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À medida que anoitecia, o Rato, com um ar de
excitação e mistério, chamou-os de volta para a sala
de estar, colocou cada um ao lado de sua pequena
pilha e começou a vesti-los para a expedição que
estava por vir. Ele levava a coisa muito a sério e era
minucioso, e a preparação demorou bastante.
Primeiro, havia um cinto para colocar em volta de
cada animal, depois uma espada a ser inserida no
cinto e um cutelo do outro lado para equilibrar. Em
seguida, um par de pistolas, um cassetete de policial,
vários pares de algemas, ataduras, esparadrapo, um
cantil e uma lancheirinha. O Texugo riu de bom
grado e disse: "Tudo bem, Ratinho! Isso te diverte e
não me machuca. Vou fazer o que tenho que fazer
com este bastão aqui." Mas o Rato apenas
respondeu: “Por favor, Texugo. Você sabe que eu não
gostaria que depois você me culpasse, dizendo que
esqueci alguma coisa!”
Quando tudo estava pronto, o Texugo pegou uma
lanterna de mão em uma pata, segurou seu grande
bastão com a outra e disse: “Agora, me sigam!
Toupeira primeiro, porque estou muito satisfeito com
ele; depois o Rato; o Sapo por último. E olhe aqui,
Sapinho! Não fale tanto como de costume, ou será
mandado de volta, com toda certeza, viu!”
O Sapo estava tão ansioso para não ser deixado para
trás que aceitou a posição inferior que lhe foi
atribuída sem murmurar, e os animais partiram. O
Texugo os guiou ao longo do rio por um pequeno
trecho e, então, subitamente jogou-se pela borda em
um buraco na margem do rio, um pouco acima da
água. A Toupeira e o Rato o seguiram em silêncio, se
lançando no buraco da mesma forma que tinham
visto o Texugo fazer; mas quando chegou a vez do
Sapo, claro que ele conseguiu escorregar e cair na
água com um grande estrondo e um grito de alarme.
Ele foi puxado para fora por seus amigos, esfregado,
torcido apressadamente, consolado e posto de pé;
mas o Texugo cou seriamente irritado e disse a ele
que, se zesse papel de bobo mais uma vez, sem
dúvida seria deixado para trás.
Finalmente, estavam no túnel secreto e a expedição
de resgate realmente tinha começado!
Era frio, escuro, úmido, estreito e baixo, e o pobre
Sapo começou a tremer, em parte por medo do que
o aguardava, em parte por estar completamente
molhado. A lanterna estava longe à frente, e ele não
conseguia evitar car um pouco para trás na
escuridão. Foi então que ele ouviu o Rato chamá-lo,
avisando: "Vamos, Sapo!", e um terror o tomou
diante da possibilidade de ser deixado para trás,
sozinho na escuridão, e ele avançou com tal pressa
que derrubou o Rato em cima da Toupeira, e a
Toupeira em cima do Texugo, causando momentânea
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confusão. O Texugo achou que estavam sendo
atacados por trás e, como não havia espaço para
usar o bastão ou o cutelo, sacou uma pistola, pronto
para dar um tiro no Sapo. Quando percebeu o que
realmente havia acontecido, cou muito irritado e
disse: “Desta vez, esse Sapo irritante será deixado
para trás!”
Mas o Sapo choramingou, e os outros dois
prometeram que garantiriam o bom comportamento
dele, e nalmente o Texugo se acalmou, e o grupo
seguiu em frente; só que desta vez o Rato cou na
retaguarda, com uma rme mão no ombro do Sapo.
Eles rastejaram e se arrastaram, com os ouvidos
atentos e as patas nas pistolas, até que nalmente o
Texugo disse: “Agora devemos estar quase embaixo
da Mansão.”
De repente, eles ouviram, bem longe, embora
parecesse que o som vinha quase de cima de suas
cabeças, um murmúrio confuso, como se alguém
estivesse gritando, saudando e batendo no chão e
nas mesas. Os medos nervosos do Sapo voltaram
todos de uma vez, mas o Texugo apenas comentou
com calma: “Eles estão se divertindo, esses Furões!”
O túnel começou a inclinar para cima; eles
continuaram adiante um pouco mais, e então o
barulho irrompeu novamente, desta vez bem mais
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claro e muito próximo deles. “Viva! Viva! Viva!” eles
ouviram, junto com o som de pezinhos correndo no
chão e o tilintar de copos conforme punhos batiam
na mesa. “Estão se divertindo mesmo!” disse o
Texugo. “Vamos!” Eles apressaram o passo pelo túnel
até ele parar diante de uma escotilha que dava na
despensa do mordomo.
O barulho na sala de banquete era tão ensurdecedor
que não havia muito risco de serem ouvidos. O Texugo
disse: “Agora, rapazes, todos juntos!” E os quatro
empurraram com força a escotilha e a abriram.
Ajudando uns aos outros a subir, encontraram-se na
despensa, com apenas uma porta entre eles e o
salão de banquete, onde seus inimigos, que nada
descon avam, estavam festejando.
O barulho enquanto emergiam do túnel era
simplesmente ensurdecedor. Por m, à medida que os
aplausos e as batidas diminuíram lentamente, uma
voz podia ser ouvida dizendo: “Bem, não pretendo
detê-los por muito mais tempo”—(grandes aplausos)—
“mas antes de retomar meu lugar”—(novos aplausos)—
“gostaria de dizer uma palavra sobre nosso gentil
an trião, Sr. Sapo. Todos nós conhecemos o Sapo!”—
(grandes risadas)—“O bom Sapo, o modesto Sapo, o
honesto Sapo!” (gargalhadas de alegria).
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"Deixem-me chegar bem perto dele!" resmungou o
Sapo, rangendo os dentes.
"Calma aí um minuto!" disse o Texugo, segurando-o
com di culdade. “Preparem-se, todos vocês!”
“—Deixem-me cantar uma pequena canção,” continuou
a voz, “que compus sobre o Sapo”—(prolongados
aplausos).
Então o Chefe dos Furões—pois era ele—começou em
uma voz aguda e estridente—
“O Sapo saiu para se divertir
Alegremente pela rua—”
O Texugo se ergueu, segurou rmemente seu bastão
com ambas as patas, olhou ao redor para os
camaradas e gritou—
“A hora chegou! Sigam-me!”
E escancarou a porta.
Nossa!
Que agitação de guinchos e berros encheu o ar!
Era de espantar que os furões aterrorizados se
jogassem sob as mesas e corressem freneticamente
em direção às janelas! Era de esperar que as
doninhas corressem em direção à lareira e cassem
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presas na chaminé! Era de se prever que mesas e
cadeiras fossem derrubadas e copos e pratos caíssem
no chão, em pânico absoluto, quando os quatro Heróis
entraram imponentemente na sala! O poderoso
Texugo, com os bigodes eriçados, seu enorme bastão
zumbindo no ar; a Toupeira, sombria e feroz,
brandindo seu bastão e gritando seu terrível grito de
guerra, "Uma Toupeira! Uma Toupeira!”; o Rato,
desesperado e determinado, com seu cinto cheio de
armas de todas as épocas e variedades; o Sapo,
enlouquecido de excitação e orgulho ferido, inchado
até o dobro do tamanho normal, saltando no ar e
soltando gritos de guerra de Sapo que os arrepiavam
até os ossos! “O Sapo saiu para se divertir!” ele
berrava. “Vou me divertir com eles!”, e foi direto
para o Chefe dos Furões. Eram apenas quatro no
total, mas para os furões apavorados a sala parecia
cheia de animais monstruosos, cinzentos, negros,
marrons e amarelos, gritando e brandindo enormes
bastões; e eles romperam em fuga com guinchos de
terror e desespero, pelas janelas, pela chaminé,
qualquer lugar para sair do alcance daqueles
terríveis bastões!
A batalha acabou rapidamente. Por todo o salão, de
ponta a ponta, os quatro Amigos marcharam,
golpeando com seus bastões qualquer cabeça que
aparecesse; e em cinco minutos a sala estava limpa.
Pelas janelas quebradas, os gritos dos furões
aterrorizados escapando pelo gramado chegavam
fracamente aos seus ouvidos; no chão, jaziam
prostrados uma dúzia ou mais de inimigos, e a
Toupeira estava ocupada algemando cada um deles.
O Texugo, descansando de suas labutas, apoiou-se em
seu bastão e limpou suor de sua testa honesta.
“Toupeira,” disse ele, “você é o melhor dos
camaradas! Apenas dê uma olhada lá fora e veja o
que seus sentinelas, as doninhas, estão fazendo.
Tenho a impressão de que, graças a você, não
teremos muito mais trabalho com eles esta noite!”
A Toupeira desapareceu prontamente por uma janela;
e o Texugo pediu aos outros dois que colocassem uma
mesa nos eixos novamente, pegassem facas, garfos,
pratos e copos dos escombros no chão, e vissem se
conseguiam encontrar algo para o jantar. “Estou
precisando de comida,” disse ele, em seu jeito meio
rude de falar. “Andem logo, Sapo, e mexam-se! Nós
recuperamos sua casa, e você não nos oferece nem
um sanduíche.” O Sapo cou um pouco magoado pelo
Texugo não ter dito coisas agradáveis a ele, como
tinha dito à Toupeira, e não ter lhe dito como ele era
um camarada formidável e como tinha lutado
esplendidamente; pois ele estava particularmente
satisfeito consigo mesmo e com o modo como foi em
direção ao Chefe dos Furões e o jogou para o outro
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lado da mesa com um único golpe de bastão. Mas ele
se apressou em ajudar, assim como o Rato, e logo
encontraram geleia de goiaba em uma travessa de
vidro, um frango frio, uma língua que mal havia sido
tocada, um pudim, e uma grande salada de lagosta; e
na despensa encontraram uma cesta cheia de
pãezinhos franceses e uma quantidade considerável
de queijos, manteiga e aipo. Eles estavam prestes a
se sentar quando a Toupeira voltou para dentro pela
janela, rindo, com um braço cheio de ri es.
“Está tudo acabado,” ele relatou. “Pelo que consegui
entender, assim que as doninhas, que já estavam
muito nervosas e inquietas, ouviram os gritos e a
algazarra dentro do salão, algumas jogaram seus
ri es no chão e fugiram. As outras resistiram um
pouco, mas quando os furões saíram correndo em
direção a elas, pensaram que tinham sido traídas; e
as doninhas agarraram os furões, e os furões
lutaram para escapar, e lutaram e se debateram e se
socaram, e rolaram e rolaram, até que a maioria
acabou caindo no rio! Todos desapareceram agora, de
uma forma ou de outra; e eu co com os ri es.
Então está tudo certo!”
“Excelente e merecido camarada!” disse o Texugo,
com a boca cheia de frango e pudim. “Agora, há mais
uma coisa que quero que você faça, Toupeira, antes
de você se sentar para o jantar com a gente; e eu
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não te incomodaria com isso se não soubesse que
posso con ar em você para fazer direito, e queria
poder dizer o mesmo de todos que conheço. Eu
mandaria o Rato, se ele não fosse poeta. Quero que
você leve aqueles camaradas ali no chão para os
aposentos de cima com você, e arrume alguns
quartos bem limpos e confortáveis. Certi que-se de
que varram debaixo das camas, coloquem lençóis e
fronha novos, e dobrem um canto dos cobertores, do
jeito que você sabe que deve ser feito; e deixe uma
lata de água quente, toalhas limpas e sabonetes
novos em cada quarto. E então você pode dar uma
surra em cada um, se te der prazer, e mande-os sair
pela porta dos fundos, e aposto que não veremos
mais nenhum deles por aqui!"
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A boa Toupeira pegou um bastão, formou os
prisioneiros em la no chão, ordenou “Marcha
rápido!” e conduziu o grupo para o andar superior.
Depois de um tempo, apareceu novamente, sorrindo,
e disse que cada quarto estava pronto e tão limpo
quanto novo. "E nem precisei bater neles,"
acrescentou. "Pensei, no geral, que eles já tinham
apanhado o su ciente por uma noite, e os furões,
quando mencionei isso a eles, concordaram
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totalmente comigo, e disseram que nem sonhariam em
me causar problemas. Eles estavam muito
arrependidos, e disseram que estavam extremamente
arrependidos pelo que haviam feito, mas que a culpa
era toda do Chefe dos Furões e das doninhas, e que,
se um dia pudessem fazer algo por nós, bastaria
pedir. Então, dei a cada um deles um pãozinho e os
mandei sair pelas portas dos fundos, e eles correram
o mais rápido que puderam!"
Então a Toupeira puxou a cadeira para a mesa e
começou a comer a língua fria; e o Sapo, como o
cavalheiro que era, deixou de lado seu ciúme e disse
sinceramente: “Muito obrigado, querida Toupeira, por
todo o esforço e trabalho desta noite, e
especialmente pela sua esperteza esta manhã!” O
Texugo cou satisfeito com isso e disse: “Esse é o
meu bravo Sapo!” Então eles terminaram o jantar
com grande alegria e contentamento, e logo se
recolheram para descansar entre lençóis limpos,
seguros na casa ancestral do Sapo, reconquistada
graças a bravura incomparável, estratégia consumada
e uma boa utilização dos bastões.
Na manhã seguinte, o Sapo, que dormiu demais, como
de costume, desceu para o café da manhã
vergonhosamente tarde, e encontrou na mesa apenas
algumas cascas de ovo, fragmentos de torradas frias
e duras, uma cafeteira três quartos vazia e muito
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pouco mais; o que não melhorou seu humor,
considerando que, a nal de contas, era sua própria
casa. Pelas janelas francesas da sala de café da
manhã, ele podia ver a Toupeira e o Rato do Rio
sentados em cadeiras de vime no gramado, contando
histórias entre si, gargalhando e chutando as pernas
curtas para o ar. O Texugo, que estava em uma
poltrona mergulhado no jornal da manhã, apenas
olhou e acenou com a cabeça quando o Sapo entrou
na sala. Mas o Sapo sabia com quem estava lidando,
então sentou-se e fez o melhor café da manhã que
pôde, observando consigo mesmo que um dia se
vingaria dos outros. Quando estava quase
terminando, o Texugo levantou os olhos e comentou,
um tanto bruscamente: “Sinto muito, Sapo, mas temo
que você tenha um trabalho pesado pela frente esta
manhã. Veja bem, deveríamos realizar um Banquete
imediatamente, para comemorarmos este
acontecimento. É o que se espera de você—na
verdade, é a regra.”
“Ah, tudo bem!” disse o Sapo prontamente. “Qualquer
coisa para agradá-los. Embora por que diabos vocês
queiram um Banquete pela manhã, eu não consigo
entender. Mas você sabe que eu não vivo para
agradar a mim mesmo, apenas para descobrir o que
meus amigos querem e depois tentar providenciar
para eles, meu querido e velho Texugo!”
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“Não nja ser mais estúpido do que realmente é,”
respondeu o Texugo, mal-humorado; “e não ria e
espirre no café enquanto fala; isso não é maneira de
se portar. O que quero dizer é que o Banquete será
à noite, obviamente, mas os convites terão que ser
escritos e enviados de imediato, e você vai escrevê-
los. Agora, sente-se nessa mesa—tem pilhas de papel
de carta nela, com ‘Mansão do Sapo’ no topo, em
azul e dourado—e escreva os convites para todos os
nossos amigos, e se você se dedicar, conseguiremos
enviar tudo antes do almoço. E eu também vou
ajudar, e assumir minha parte do fardo. Eu vou
encomendar o Banquete.”
“O quê!” gritou o Sapo, com horror. “Eu, car dentro
de casa e escrever um monte de cartas chatas em
uma bela manhã como esta, quando quero andar pela
minha propriedade, ajeitar tudo e todos, e ostentar e
me divertir! De jeito nenhum! Eu vou... eu vou ver
você…” Ele parou um minuto, então mudou
bruscamente: "Mas claro, querido Texugo! Qual é o
meu prazer ou conveniência em comparação com o
dos outros! Você deseja que seja feito, e será feito.
Vá, Texugo, encomende o Banquete, peça o que
quiser; depois se junte aos nossos jovens amigos lá
fora, desfrutando de inocentes risadas, sem se
preocupar comigo e com minhas tarefas e
fi
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tribulações. Eu sacri co esta bela manhã no altar do
dever e da amizade!”
O Texugo olhou para ele de maneira muito suspeita,
mas a expressão franca e aberta do Sapo tornou
difícil sugerir qualquer motivo indigno para essa
mudança de atitude. Ele saiu da sala em direção à
cozinha, e assim que a porta se fechou atrás dele, o
Sapo correu para a escrivaninha. Uma ideia brilhante
ocorreu a ele enquanto falava. Ele escreveria os
convites; e tomaria o cuidado de mencionar o papel
de destaque que desempenhou na batalha, e como
derrubou o Chefe dos Furões; e ele insinuaria suas
aventuras, e quão triunfante foi sua trajetória de
conquistas; e na folha de rosto, ele elaboraria um
tipo de programação de entretenimento noturno—algo
dessa forma, conforme rabiscava mentalmente:
DISCURSO. . . . PELO SAPO.
(Haverá outros discursos PELO SAPO ao longo da
noite.)
PALESTRA. . . PELO SAPO
SINOPSE—Nosso Sistema Prisional—Os Canais da
Velha Inglaterra—Comércio de Cavalos, e Como se
Lida—Propriedade, seus direitos e deveres—Volta à
Terra—Um Típico Esquire Inglês.
CANÇÃO. . . . PELO SAPO.
fi
(Composta por ele mesmo.)
OUTRAS COMPOSIÇÕES. PELO SAPO
Serão cantadas ao longo da noite pelo. . .
COMPOSITOR.
A ideia o agradou enormemente, e ele trabalhou com
a nco e terminou todas as cartas até o meio-dia,
quando foi informado de que havia uma pequena e
muito molhada doninha à porta, perguntando
timidamente se poderia prestar algum serviço aos
cavalheiros. O Sapo saiu arrotando importância e
descobriu que era um dos prisioneiros da noite
anterior, muito respeitoso e ansioso por agradar. Ele
deu-lhe um tapinha na cabeça, en ou o pacote de
convites na pata dele e disse-lhe para correr rápido
e entregá-los o mais rápido possível; e, se gostasse
de voltar à noite, talvez houvesse uma moeda para
ele, ou, quem sabe, talvez não; e o pobre doninha
parecia realmente muito grato, e apressou-se
ansiosamente a cumprir sua missão.
Quando os outros animais voltaram para o almoço,
muito barulhentos e alegres após uma manhã no rio,
a Toupeira, cuja consciência estava pesando, olhou
com dúvida para o Sapo, esperando vê-lo mal-
humorado ou deprimido. Em vez disso, ele estava tão
convencido de si mesmo e in ado que a Toupeira
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começou a suspeitar de algo; enquanto o Rato e o
Texugo trocavam olhares signi cativos.
Assim que a refeição terminou, o Sapo en ou as
patas fundo nos bolsos das calças, comentou
casualmente: “Bem, cuidem de si mesmos, pessoal!
Peçam o que quiserem!” e estava prestes a sair em
direção ao jardim, onde queria pensar em algumas
ideias para seus próximos discursos, quando o Rato o
agarrou pelo braço.
O Sapo meio que suspeitava o que ele queria, e fez
o possível para se desvencilhar; mas quando o Texugo
o segurou rmemente pelo outro braço, ele começou
a perceber que o jogo havia acabado. Os dois
animais o conduziram entre eles para uma pequena
sala de fumantes que se abria para o corredor de
entrada, fecharam a porta e o colocaram em uma
cadeira. Então ambos caram na frente dele,
enquanto o Sapo permaneceu em silêncio e os
encarou com muita suspeita e mal-humor.
“Agora, veja bem, Sapo,” disse o Rato. “É sobre este
Banquete, e sinto muito ter que falar com você assim.
Mas queremos que você entenda claramente, de uma
vez por todas, que não haverá discursos nem
canções. Tente entender que, desta vez, não estamos
discutindo com você; estamos apenas informando.”
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O Sapo percebeu que estava encurralado. Eles o
compreenderam, viram através dele, estavam
adiantados demais para ele. Seu sonho agradável foi
destruído.
“Eu não posso ao menos cantar uma única pequena
canção?” ele implorou penosamente.
“Não, nem uma única canção,” respondeu rmemente
o Rato, embora seu coração sangrasse ao notar o
lábio tremendo do pobre Sapo desapontado. “Não
adianta, Sapinho; você sabe bem que suas canções
são todas convencimento e vanglória; e seus
discursos são todos autoelogio e... e... bem, e grossa
exageração e... e..."
"E conversa ada," acrescentou o Texugo, de sua
maneira rude.
“É para o seu próprio bem, Sapinho,” continuou o
Rato. “Você sabe que precisa mudar de postura mais
cedo ou mais tarde, e agora parece uma
oportunidade excelente para começar; um tipo de
ponto de virada na sua carreira. Por favor, não pense
que dizer tudo isso não me dói mais do que dói em
você.”
O Sapo cou muito tempo imerso em pensamentos.
Por m, ele levantou a cabeça e os traços de forte
emoção eram visíveis em seu rosto. “Vocês venceram,
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meus amigos,” disse com a voz entrecortada de
emoção. “Era só uma coisinha que eu pedia—
simplesmente a chance de orescer e me expandir
por mais uma noite, me soltar e ouvir a tumultuosa
ovação que sempre, de algum jeito, parece trazer à
tona minhas melhores qualidades. No entanto, vocês
estão certos, eu sei, e eu estou errado. Daqui em
diante, serei um Sapo muito diferente. Meus amigos,
vocês nunca mais terão motivo para se envergonhar
de mim. Mas, oh céus, que mundo cruel é este!”
E, pressionando o lenço contra o rosto, ele saiu da
sala, com passos vacilantes.
“Texugo,” disse o Rato, “Eu me sinto como um bruto;
eu me pergunto como você se sente.”
“Oh, eu sei, eu sei,” disse o Texugo, melancólico. "Mas
as coisas precisavam ser ditas. Esse bom rapaz tem
que viver aqui, ser respeitado e defender sua
posição. Você o deixaria se tornar motivo de chacota,
zombado por doninhas e furões?”
“Claro que não,” disse o Rato. “E, falando em furões,
foi sorte termos encontrado aquela pequena doninha,
justo quando ele estava saindo para entregar os
convites do Sapo. Suspeitei de algo pelo que você me
contou e olhei em alguns; eram simplesmente
vergonhosos. Con squei todos, e o bom Toupeira está
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agora no boudoir azul, preenchendo cartões de
convite simples e diretos.”
A hora do banquete nalmente começou a se
aproximar, e o Sapo, que ao sair dos outros se
retirou para seu quarto, ainda estava sentado lá,
melancólico e pensativo. Com a testa apoiada na
pata, ponderou por muito tempo e profundamente.
Gradualmente seu rosto foi se iluminando e ele
começou a sorrir, devagar e demoradamente. Então,
ele começou a rir timidamente, de maneira
autossu ciente. Por m, levantou-se, trancou a porta,
puxou as cortinas sobre as janelas, organizou todas
as cadeiras do quarto formando um semicírculo e se
postou diante delas, inchando visivelmente. Então fez
uma reverência, tossiu duas vezes, e, soltando a voz,
cantou para o público encantado que sua imaginação
tanto podia ver.
A ÚLTIMA CANÇÃO DO SAPO!
O Sapo—voltou!
Havia pânico nas salas e gritos nos corredores,
Havia choros nos currais e gritos nas cocheiras,
Quando o Sapo—voltou!
Quando o Sapo—voltou!
Janelas quebrando, portas arrebentando,
Doninhas desfalecendo e no chão rolando,
Quando o Sapo—voltou!
fi
fi
fi
Bang! vão os tambores!
Os trombeteiros saudando e os soldados acenando,
Os canhões disparando e os carros buzinando,
Enquanto o—Herói—chega!
Gritem — Viva!
E que cada um grite muito alto,
Em honra do animal que você tanto respeita,
Pois hoje é o—grande—dia do Sapo!
Ele cantou isso bem alto, com grande devoção e
expressão; e quando terminou, cantou tudo de novo.
Então ele soltou um longo, longo suspiro.
Depois, ele molhou a escova de cabelo no jarro
d’água, repartiu o cabelo ao meio e penteou para
baixo, bem liso, de cada lado do rosto; e,
destrancando a porta, desceu as escadas em silêncio
para saudar os convidados, que sabia que já deviam
estar se reunindo na sala de visitas.
Quando entrou, todos os animais o aplaudiram e se
agruparam ao redor para parabenizá-lo e dizer
coisas agradáveis sobre sua coragem, sua inteligência
e suas qualidades como lutador; mas o Sapo apenas
sorria levemente e murmurava: “De jeito nenhum!”
Ou, às vezes, para variar, “Pelo contrário!” A Lontra,
que estava em pé sobre o tapete da lareira,
descrevendo a um círculo de amigos admirados
exatamente como teria lidado com as coisas se
estivesse lá, avançou com um grito, jogou o braço em
volta do pescoço do Sapo, e tentou levá-lo pela sala
em uma procissão triunfal; mas o Sapo, de maneira
gentil, foi um tanto ríspido com ele, observando
calmamente, enquanto se soltava, “A mente-mestre
foi o Texugo; a Toupeira e o Rato do Rio arcaram com
o peso da luta; eu apenas servi nas leiras e z
pouco ou quase nada.” Os animais claramente caram
perplexos e surpresos com essa atitude inesperada
dele; e o Sapo sentiu, conforme passava de um
convidado a outro, fazendo respostas modestas, que
era o centro de atenção de todos.
O Texugo havia encomendado apenas o melhor, e o
banquete foi um grande sucesso. Houve muita
conversa e risadas entre os animais, mas, no meio de
tudo isso, o Sapo, que, é claro, estava à cabeceira da
mesa, cava cabisbaixo, murmurando amenidades aos
animais ao seu lado. De vez em quando ele dava uma
olhada no Texugo e no Rato, e sempre que olhava,
eles estavam boquiabertos, se encarando; e isso o
satisfazia profundamente. Alguns dos animais mais
jovens e mais animados, à medida que a noite
avança, começaram a cochichar entre si que as
coisas não estavam tão divertidas quanto
costumavam ser nos bons velhos tempos; e houve
algumas batidas na mesa e gritos de “Sapo! Discurso!
fi
fi
fi
fi
Discurso do Sapo! Canção! A Canção do Sr. Sapo!”
Mas o Sapo apenas balançava a cabeça gentilmente,
levantava uma pata em protesto suave e, oferecendo
iguarias aos convidados, trocando amenidades da
moda e fazendo perguntas atenciosas sobre os
familiares de cada um, principalmente os pequenos
que ainda não podiam comparecer a eventos sociais,
conseguia transmitir a todos que aquele jantar
estava acontecendo de acordo com convenções
estritas.
De fato, ele era um Sapo mudado!
Depois deste grand nale, os quatro animais
passaram a viver suas vidas, tão abruptamente
interrompidas pela guerra civil, com grande alegria e
contentamento, sem mais distúrbios ou invasões. O
Sapo, após confabular com seus amigos, escolheu
uma bela corrente de ouro e um medalhão adornado
com pérolas, que despachou para a lha do
carcereiro com uma carta que até o Texugo admitiu
ser modesta, agradecida e apreciativa; e o
maquinista, por sua vez, foi devidamente agradecido
e recompensado por todo o seu esforço e trabalho.
Sob severa pressão do Texugo, até a barqueira foi,
com certa di culdade, encontrada e o valor de seu
cavalo prudentemente ressarcido; embora o Sapo
tenha protestado terrivelmente, achando que era um
agente do Destino, enviado para punir mulheres
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gordas de braços manchados, que não reconheciam
um autêntico cavalheiro quando viam um. O valor, de
fato, não era muito pesado, já que a avaliação dos
ciganos foi admitida por avaliadores locais como
aproximadamente correta.
Às vezes, durante longas noites de verão, os amigos
saíam passeando juntos pelo Bosque Selvagem, agora
devidamente domado no que dizia respeito a eles; e
era agradável ver como eram respeitosamente
cumprimentados pelos habitantes, e como as furonas
mães traziam seus lhotes até as bocas das tocas e
diziam, apontando: “Olhe, querido! Lá vai o grande Sr.
Sapo! E aquele é o valente Rato do Rio, um terrível
lutador, caminhando ao lado dele! E ali vem o famoso
Sr. Toupeira, de quem você ouve seu pai contar
tantas vezes!” Mas quando os bebês cavam inquietos
e fora de controle, elas os acalmavam dizendo: "Se
não car quietinho, o terrível Texugo cinza vai pegar
você!" Isso era uma calúnia desonesta contra o
Texugo, que, embora não fosse muito sociável, gostava
bastante de crianças; mas sempre surtia efeito pleno.
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