T.11 - Engrenagens de Parafuso Sem-Fim
T.11 - Engrenagens de Parafuso Sem-Fim
T.11 - Engrenagens de Parafuso Sem-Fim
ÓRGÃOS DE MÁQUINAS II
Licenciatura em Engenharia Mecânica
1
T.11 – ENGRENAGENS DE PARAFUSO SEM-FIM
2. Geração do Dente
4. Terminologia Específica
5. Relação de Transmissão
6. Relações Geométricas
7. Parâmetros de Desempenho
2
T.11 – ENGRENAGENS DE PARAFUSO SEM-FIM
1. Introdução
Generalidades
1. Introdução
A capacidade de transmissão de potência pode ser aumentada se o parafuso for modificado com o intuito
de envolver a roda. Assim, o contacto entre os dentes dá-se segundo uma superfície e não uma linha. Por
conseguinte, a capacidade de carga aumenta com a modificação do parafuso e/ou da roda.
A modificação do dentado requer um maior rigor na montagem das engrenagens, principalmente quando as
potências e velocidades em jogo são elevadas. As figuras abaixo ilustram duas engrenagens de parafuso
sem-fim, uma de envolvimento simples, e outra de envolvimento duplo, ou composto.
(a) (b)
Engrenagens de parafuso sem-fim: (a) Envolvimento simples; (b) Envolvimento duplo
1. Introdução
Aplicações
2. Geração do Dente
Nas figuras abaixo C1 e C2 denotam as superfícies cilíndricas primitivas de uma engrenagem torsa que se
pretende gerar. Os cilindros primitivos têm raios r1 e r2, também representados nas figuras abaixo. Deve
notar-se que os eixos dos cilindros primitivos são segmentos de reta enviesados, facto que decorre da
própria definição de engrenagem torsa.
As figuras incluem ainda dois planos, p1 e p2, coincidentes e paralelos aos eixos dos cilindros primitivos.
Estes planos são tangentes aos cilindros primitivos segundo os segmentos de reta g1 e g2, denominados
geratrizes de contacto. Da análise das figuras pode observar-se que as geratrizes de contacto se intersetam
no ponto I, sendo o ponto de contacto entre os cilindros primitivos.
Plano de engrenamento
u2
p2 p2
r1 r1 M
C1 C1
G u1
w1 O1 g2 w1 O1 F g2
I I Q y
g1 w2 g1 b2 w2
p1 r2 p1 b1 r2
E N S
O2 O2
C2 C2
Plano gerador
Análise Simplificada
Para o caso do parafuso é mais adequado falar-se em filetes do parafuso do que em dentes. Acresce o
facto de que os eixos do parafuso sem-fim e da roda helicoidal serem perpendiculares.
A análise descritiva das engrenagens de parafuso sem-fim roda helicoidal pode ser simplificada
sobremaneira quando se considera o sem-fim como sendo uma espécie de cremalheira, tal como se
esquematiza na figura abaixo.
Deste modo, quando o parafuso sem-fim roda em torno do próprio eixo, qualquer secção dos filetes do
parafuso descreve um movimento de translação retilínea paralela ao eixo do parafuso sem-fim, ou seja, a
cremalheira.
Roda
C2
I
L1
Análise Simplificada
Representando o passo helicoidal do parafuso sem-fim por pz, então, por definição, uma dada secção
desloca-se uma distância pz por cada rotação do parafuso sem-fim. Esta amplitude de movimento de
translação axial chama-se avanço, tal como se evidencia o diapositivo 3.
A figura do diapositivo seguinte diz respeito à secção de uma engrenagem de parafuso sem-fim roda
helicoidal que resulta quando aquela é intersetada pelo plano médio. Deste modo, obtém-se uma
cremalheira cujos perfis dos filetes são simétricos entre si, pelo que durante o engrenamento, os perfis da
cremalheira funcionam com os respetivos perfis conjugados da secção da roda helicoidal.
Os principais elementos que caraterizam este engrenamento são a circunferência primitiva, C2, da roda
helicoidal e a reta primitiva, L1, da cremalheira. Estes dois elementos são tangentes no ponto primitivo I.
Os perfis dos filetes dos parafusos sem-fim podem apresentar as seguintes formas geométricas:
▪ Filete trapezoidal,
▪ Filete gerado por um tronco de cone de revolução,
▪ Filete helicoidal.
Análise Simplificada
4. Terminologia Específica
A figura abaixo ilustra os principais elementos geométricos que caraterizam uma engrenagem sem-fim.
px1
pt1
b1
pz1 pn
A nomenclatura referente à roda helicoidal é em tudo semelhante à das engrenagens cilíndricas de dentes
inclinados, pois é utilizado um grande número de termos iguais num e noutro caso.
Há, todavia, um conjunto de parâmetros que merece aqui ser realçado, nomeadamente:
▪ pn – passo real ou normal, que é igual para o parafuso sem-fim e para a roda helicoidal,
▪ pt1 – passo aparente ou transverso do parafuso sem-fim, que diz respeito ao passo medido no
plano frontal perpendicular ao eixo,
▪ px1 – passo axial do parafuso sem-fim, que coincide com o passo aparente da roda helicoidal,
▪ pz1 – passo helicoidal do parafuso sem-fim, também denominado de avanço.
4. Terminologia Específica
Nomenclatura Fundamental
▪ mn – módulo normal ou real, que é igual para o parafuso sem-fim e para a roda helicoidal,
▪ mt1 – módulo aparente ou transverso do parafuso sem-fim,
▪ mx1 – módulo axial do parafuso sem-fim, que é igual ao módulo aparente da roda helicoidal,
▪ an – ângulo de pressão real, que é igual para o parafuso sem-fim e para a roda helicoidal,
▪ at1 – ângulo de pressão aparente ou transverso do parafuso sem-fim,
▪ ax1 – ângulo de pressão axial do parafuso sem-fim,
▪ z1 – número de entradas do parafuso sem-fim,
▪ z2 – número de dentes da roda helicoidal,
▪ b1 – ângulo de inclinação primitiva do filete do parafuso sem-fim em relação ao seu eixo,
▪ g1 – ângulo ascendente ou ângulo de passo, que é complementar do ângulo de inclinação primitiva,
▪ a – distância entre os eixos,
▪ w1 – velocidade angular do parafuso sem-fim,
▪ w2 – velocidade angular da roda helicoidal,
▪ i – relação de transmissão.
Para um parafuso sem-fim, o passo axial pode ser calculado do seguinte modo
pz1
px1 =
z1
1. Introdução 2. Geração 3. Perfis 4. Terminologia 5. Relação 6. Relações 7. Parâmetros 11
T.11 – ENGRENAGENS DE PARAFUSO SEM-FIM
5. Relação de Transmissão
A relação de transmissão não é expressa em função dos diâmetros primitivos, dada a existência de um
ângulo de inclinação do parafuso sem-fim.
w2
I v1 v2
w1
d1
Representação do engrenamento parafuso sem-fim roda helicoidal
Considere a representação simplificada de uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal, tal como
ilustra a figura acima.
A velocidade linear do ponto primitivo é a mesma, quer se considere o ponto primitivo pertencente ao
parafuso sem-fim, quer se considere pertencente à roda. Assim, neste caso último tem-se que
d2
v2 = w 2
2
5. Relação de Transmissão
Para a determinação da velocidade linear do ponto primitivo quando este pertence ao parafuso sem-fim
considere a representação da figura abaixo.
Hélice primitiva
b1
pd1
w1 Eixo do sem-fim
Hélice primitiva
pz1
(a) (b)
(a) Representação do passo num parafuso sem-fim; (b) Planificação do passo
Pela definição de passo, pode verificar-se que por cada rotação do parafuso sem-fim há um deslocamento
axial igual ao passo helicoidal, ou seja
1 rotação pz1
5. Relação de Transmissão
Observar-se, portanto, que a relação de transmissão é expressa em função dos diâmetros primitivos do
parafuso sem-fim e da roda helicoidal, bem como do ângulo de inclinação dos filetes.
1. Introdução 2. Geração 3. Perfis 4. Terminologia 5. Relação 6. Relações 7. Parâmetros 14
T.11 – ENGRENAGENS DE PARAFUSO SEM-FIM
6. Relações Geométricas
Considere a representação da figura abaixo, que diz respeito à planificação do cilindro primitivo de um
parafuso sem-fim de dupla entrada.
px1 pt1
pn
pz1
pz1
b1
px1
g1
d1 pd1
Com referência a esta figura podem estabelecer-se as seguintes relações entre o passo normal ou real e os
passos aparente e axial
pn = pt1 cos b1 pn = px1senb1
6. Relações Geométricas
O engrenamento entre o parafuso sem-fim e a roda efetua-se quando ambos os elementos apresentam o
mesmo ângulo de pressão normal ou real. Por conseguinte, os módulos e passos reais têm também o
mesmo valor no parafuso sem-fim e na roda helicoidal.
Em analogia com o que foi descrito para o parafuso sem-fim são válidas as seguintes relações para a roda
mn = mt 2 cos b 2 mn = mx 2senb 2
pn = pt 2 cos b 2 pn = px 2senb 2
6. Relações Geométricas
Atendendo a que os ângulos de hélice da roda e do parafuso são complementares, pode verificar-se que
πd1
mn = mx1senb1 = mt 2 cos b 2 tgb1 = tgb b1 = tgb1 cos a t1
pz1
mx1 = mt 2 senb b1 = senb1 cos a n
pz1
tgg 1 = cos b b1 cos a t1 = cos b1 cos a n
px1 = pt 2 πd1
d b1 tga n = tga x1 senb1
pt1 = pt 2 tgb1 tgb b1 = tgb1
d1
tga n = tga t1cosb1
mt1 = mt 2 tgb1 d b1 = d1 cos a t1 = mt1 z1 cos a t1 tga t1 = tga x1tgb1
6. Relações Geométricas
No presente contexto considera-se apenas o sistema normal, em que o ângulo de pressão normal é de 20º
e que é adotado pelo fabricante David Brown and Sons. Assim tem-se que
Para maximizar a capacidade de potência no projeto de engrenagens de parafuso sem-fim roda helicoidal
deve garantir-se que o diâmetro primitivo do parafuso sem-fim esteja dentro do seguinte intervalo
a 0,875 a 0,875
d1
2 1,7
1. Introdução 2. Geração 3. Perfis 4. Terminologia 5. Relação 6. Relações 7. Parâmetros 18
T.11 – ENGRENAGENS DE PARAFUSO SEM-FIM
7. Parâmetros de Desempenho
Relação de Condução
O estudo da continuidade de engrenamento em parafusos sem-fim requer uma análise geométrica (e.g.
computacional) cuidada das zonas de contacto entre os filetes do parafuso e os flancos dos dentes da roda.
Para o caso particular das engrenagens de parafuso sem-fim roda helicoidal, a relação de condução pode
obter-se recorrendo à seguinte expressão
2 2
da 2 d b2 d 2 ha1
- - sena x1 +
2 2 2 sena x1
e=
πmx1 cos a x1
Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim de entrada dupla e com uma roda helicoidal de 30
dentes. O parafuso, que é o órgão motor, tem 44 mm de diâmetro primitivo, um módulo axial de 3 mm e um
ângulo de pressão real igual a 20º. Assim, determine a relação de condução desta engrenagem.
Solução:
e = 1,81
7. Parâmetros de Desempenho
7. Parâmetros de Desempenho
d Ft2
Ft 2 2
2 w2 = Ft 2 d 2w2
Fr1
p = Parafuso: órgão motor w1
Ft1 1 w1 Ft1d1w1
d
2 Forças de engrenamento
em que o índice p diz respeito ao órgão motor na presente análise, ou seja, o parafuso sem-fim.
Considerando a definição de relação de transmissão para uma engrenagem de parafuso sem-fim dada pela
expressão do diapositivo 14 e também as equações acima apresentadas para as diferentes componentes
das forças de engrenamento tem-se que
cos a n cos g 1 - m seng 1
p = cotgb1
cosa n seng 1 + m cos g 1
7. Parâmetros de Desempenho
Sabendo que os ângulos b1 e g1 são complementares, então o rendimento teórico de uma engrenagem de
parafuso sem-fim roda helicoidal, em que o órgão motor é o parafuso, pode ser expressa do seguinte modo
cos a n - m tgg 1 cos a n - m cotgb1
p = =
cosa n + m cotgg 1 cosa n + m tgb1
em que an é o ângulo de pressão real ou normal, b1 representa o ângulo de inclinação primitiva do filete do
parafuso sem-fim e m é o coeficiente de atrito.
Quando o ângulo entre os eixos do parafuso sem-fim e da roda é igual a 90º verifica-se que as
componentes radiais da força que atua no engrenamento são iguais no parafuso e na roda.
Observa-se ainda que a componente tangencial da força que atua no elemento motor é igual à componente
axial que atua no elemento movido (cf. figura do diapositivo anterior).
Do mesmo modo, constata-se que a componente axial da força que atua no órgão motor é igual à
componente tangencial que atua no órgão movido (cf. figura do diapositivo anterior).
7. Parâmetros de Desempenho
Fr2
Efetuando a mesma análise para o caso em que a engrenagem de parafuso
sem-fim roda helicoidal é multiplicadora, isto é, a roda é o órgão motor, pode
obter-se a seguinte expressão
cos a n - m tgb1
r =
cosa n + m cotgb1 F2
Fa2 g1
mFn Ft2
Deve referir-se que uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal
é autoblocante quando for nula a componente tangencial que atua na roda,
isto é
Ft 2 = N (cos a n seng 1 - m cos g 1 ) = 0
ou seja
m cos a n tgg 1
7. Parâmetros de Desempenho
As engrenagens de parafuso sem-fim roda helicoidal nem sempre são reversíveis. Analisando as equações
relativas ao rendimento, e tendo em consideração que os numeradores devem ser sempre positivos, para
que haja transmissão de movimento, observa-se que
π
f b1 -f
0.08
Coeficiente de atrito, m
(engrenagens reversíveis) Parafuso: aço cementado; Roda: bronze fosforoso
2
π π 0.06
- f b1 (engrenagens irreversíveis)
2 2
0.04
em que f representa o ângulo de atrito, ou seja
m = tgf 0.02
0.00
0 2 4 6 8 10
A título de exemplo, a figura do lado mostra a variação Velocidade de deslizamento, vs [m/s]
do coeficiente de atrito para engrenagens de
parafuso sem-fim roda helicoidal lubrificadas. Variação do coeficiente de atrito