Notas de Aula - Juros Simples

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

18

3. Matemática Financeira

A. Introdução

O conhecimento de matemática financeira é de vital importância para a gestão financeira, quer ela
seja pessoal, de estabelecimentos comerciais, de grandes empresas ou de instituições sem fins
lucrativos.

Qual a resposta para o problema abaixo?

20  30  ?

Segundo a aritmética básica a resposta correta é 50. Entretanto no mundo da matemática financeira
precisamos considerar a dimensão tempo, portanto necessitamos saber se estes valores estão na
mesma data. Esta informação é relevante porque devemos reconhecer o valor do dinheiro no tempo.

Imagine que José e Maria tenham rendas de $ 5.000, porém neste mês Maria necessita apenas de $
4.000 para fazer frente as suas necessidades e planos. Enquanto que José necessita de $ 6.000 para
cobrir gastos inesperados.

É possível que ambos façam um acordo, no qual Maria ceda seu excedente de $ 1.000 a José com o
compromisso que este pague na data combinada o valor de $ 1.050.

Vejamos qual o acréscimo percentual:

(Valor Final  Valor Inicial )


%   100
Valor Inicial
(1050  1000)
%   100  5%
1000

O acréscimo de $ 50 se refere aos juros recebidos, ou seja, a remuneração pelo empréstimo. Este
acréscimo foi estipulado em uma taxa de juros de 5% ao período.

Utilizando a dimensão tempo, podemos ajustar a nomenclatura de Valor Final para Valor Futuro
(VF), Valor Inicial para Valor Presente (VP) e a variação para taxa de juros (i), em porcentagem. De
tal forma que temos:
19

(Valor Final  Valor Inicial )


%   100%
Valor Inicial
(Valor Futuro  Valor Presente)
i
Valor Presente
(VF  VP)
i  VPi  (VF  VP)  VP  VPi  VF
VP
VF  VP  VPi
VF  VP (1  i )

O capital (dinheiro), como muitas outras coisas, pode ser negociado, e o juro pago pode ser entendido
como uma remuneração pelo capital emprestado. Assim, tomadores de crédito, pessoas e empresas,
podem ter acesso a recursos que não dispunham, com o objetivo de gerar benefícios para si hoje
através da antecipação de recursos que só estariam efetivamente disponíveis em algum momento no
futuro. Enquanto que aqueles que dispõem de recursos hoje, mas pretendem utilizá-los em algum
momento do futuro recebem uma remuneração sobre o capital cedido a terceiros.

Suponha que Marcos tenha um excedente de $ 10.000 em seu orçamento neste ano, enquanto que
João tenha um déficit equivalente neste ano, mas a expectativa de obter um superávit no próximo
ano.

João pode propor a Marcos que ele lhe empreste o valor de $ 10.000 hoje com a promessa de um
pagamento de $ 11.000 no ano seguinte. Em aceitando a proposta de João, Marcos receberia um
adicional de $ 1.000 sobre o valor cedido a título de juros. Esta operação tem o potencial de beneficiar
ambos e seria concretizada uma taxa de 10% ao ano de juros.

Vf  Vp(1  i )
11.000  10.000(1  i )
11.000
1 i 
10.000
i  1,1  1
i  10%

B. Linha de tempo

Uma forma de representarmos as entradas de saídas de caixa (dinheiro), os chamados fluxos de caixa,
é através de uma representação gráfica. A linha horizontal representa as unidades de tempo onde
indicamos o número de períodos, os quais podem ser dias, meses, trimestres, anos, etc.
20

Utilizamos setas para indicar o valor do fluxo de caixa, recebido (entrada, encaixe ou embolso) ou
pago (saída, desencaixe ou desembolso) naquela data. Sendo que utilizamos valores positivos (setas
para cima) para indicar recebimentos e valores negativos (setas para baixo) para indicar pagamentos.

Se um cliente de um banco realiza um empréstimo de $ 4 mil com a condição de quitá-lo através de


cinco prestações mensais de $ 1 mil, teremos a seguinte representação do ponto de vista do cliente:

$ 4 mil

0 3 5
Meses

$ 1 mil

Note que sob o ponto de vista do banco, as entradas e saídas de fluxo de caixa seriam exatamente
invertidas, ou seja, seria simétrico em relação ao eixo do tempo.

Conforme dissemos, o dinheiro tem valor no tempo, porém existem duas modalidades de
capitalização de juros: simples e compostos.

C. Juros Simples

Os juros simples são aqueles que incidem somente sobre o valor incial ou principal, podendo tratar-
se, por exemplo, tanto de valor recebido a título de empréstimo ou de valor depositado em uma
aplicação financeira.

Se tomássemos um empréstimo de um capital de $ 1.000,00 (principal), a uma taxa de 4% ao mês por


um período de 5 meses, teríamos as seguintes condições:
21

Saldo Devedor Cálculo do Saldo Cálculo do Juro


Mês Juro do Período
Atual Devedor

0 1.000,00 - - -

1 1.040,00 1.000, 00  40, 00 40,00 1.000  0, 04

2 1.080,00 1.040, 00  40, 00 40,00 1.000  0, 04

3 1.120,00 1.080, 00  40, 00 40,00 1.000  0, 04

4 1.160,00 1.120, 00  40, 00 40,00 1.000  0, 04

5 1.200,00 1.160, 00  40, 00 40,00 1.000  0, 04

Nota: Saldo Devedor Atual = Saldo Devedor Anterior acrescido de juro do período

Como pode ser visto, os juros são constantes no valor de $ 40,00 e calculados da seguinte forma em
cada período:

J  C i
J  1.000, 00  0, 04
J  40, 00
Onde:
J  Juros simples a serem pagos ou recebidos em cada período;
C  Capital emprestado ou aplicado;
i  Taxa de juros ao período.
Como os juros pagos a cada período são de $ 40, durante um período de 5 meses serão pagos $ 200 a
título de juros. O cálculo dos juros totais devidos em um período pode ser feito da seguinte forma:

J  C i  n
J  1.000, 00  0, 04  5
J  200, 00
Onde:
J  Juros totais a serem pagos ou recebido por todo o período;
n  Número total de períodos.
Se quisermos saber o valor total ou montante a ser pago ou recebido ao final da operação basta
somarmos o capital inicial ao total de juros:

M CJ
22

No caso do nosso exemplo:

M  1.000, 00  200, 00
M  1.200, 00

Podemos reescrever a fórmula do montante desta forma:

M CJ
M  C  C i n
M  C 1  i  n 

Refazendo nosso exemplo:

M  1.000, 00  (1  0, 04  5)
M  1.000, 00  1, 2
M  1.200, 00

A periodicidade da taxa de juros e o número de períodos devem estar obrigatoriamente


na mesma unidade de tempo. Por exemplo, se a taxa de juros é anual, o período deve
ser em anos.

A partir da fórmula básica do cálculo do montante podemos isolar as outras três variáveis:

 M
 C

1  i  n 
 M
 1
M  C 1  i  n    i C
 n
 M
 1
 n C
 i

Assim pode-se, por exemplo, calcular a taxa de juros sobre uma dívida de R$ 4.000,00, paga com R$
4.060,00 quinze dias após o recebimento do empréstimo:

M 4.060
1 1
i C  4.000
n 15
i  0, 001  0,1% a.d .

A taxa encontrada é ao dia (a.d.) porque o período está em dias. Podemos refazer os cálculos
considerando o período como metade de um mês:
23

M 4.060
1 1
i C  4.000
n 12
i  0, 03  3,0% a.m.

Desta forma a taxa encontrada é de 3% a.m., estas taxas são consideradas equivalentes.

Taxas equivalentes são aquelas que aplicadas sobre o mesmo capital durante o mesmo tempo
produzem o mesmo montante.

D. Descontos

Uma operação de desconto é caracterizada pelo recebimento antecipado de uma quantia que só estaria
disponível em algum momento no futuro, sendo que o pagamento desta quantia é garantida por uma
duplicata, nota promissória, letra de câmbio ou qualquer título que assegure ao portador o direito de
recebimento de valor especificado em uma data futura.

i. Desconto Racional
O desconto racional é calculado da seguinte forma:

M i  n
Dr 
1 i  n

Trata-se exatamente do desconto do juro que seria apropriado no período, ou seja o valor recebido
(Vr) é o capital que aplicado pelo período n e a taxa de juros i produziria o montante M.

M  C  J  J  M C
Ajustando a nomenclatura :
Dr  M  Vr
M M (1  i  n)  M
Dr  M  
1 i  n 1 i  n
M i  n
Dr 
1 i  n

Assim, se uma empresa desconta uma duplicata no valor de R$ 8.000,00, sessenta dias antes do seu
vencimento e com uma taxa de 3% a.m. O valor do desconto é:
24

8.000, 00  2  0, 03
Dr 
1  2  0, 03
Dr  452,83

Desta forma, o desconto será de R$ 452,83 e a empresa receberá R$ 7.547,17.

ii. Desconto Comercial


O desconto comercial é calculado da seguinte forma:

Dc  M  i  n

Assim, se uma empresa desconta uma duplicata no valor de R$ 8.000,00, sessenta dias antes do seu
vencimento e com uma taxa de 3% a.m. O valor do desconto é:

Dc  8.000,00  2  0, 03
Dc  480,00

Desta forma, o desconto será de R$ 480,00 e a empresa receberá R$ 7.520,00.

Note que a a taxa de juros efetiva (“aquela que doí no bolso”) não é necessariamente a taxa de juros
nominal (“aquela anunciada”):

M 8000
1 1
ief  C  7520  0, 0319  3,19% a.m.
n 2

A taxa de juros efetiva da operação é 3,19% a.m., representa a taxa praticada para a quitação de um
empréstimo de R$ 7.520,00 com o pagamento de R$ 8.000,00 depois de dois meses.

Considerando as definições de desconto racional e comercial, é possível constatar que a relação entre
eles é dada por:

M i  n 
Dr   Dc
1  i  n   Dr 
1 i  n
Dc  M  i  n 
Dc  Dr (1  i  n)

Segundo os exemplos anteriores:


25

Dc  Dr (1  i  n)
Dc  452,83(1  0, 03.2)
Dc  480, 00

iii. Desconto Bancário


O desconto bancário é o desconto comercial acrescido de tarifas administrativas ou operacionais
cobradas pelo agente financeiro, e é calculada da seguinte forma:

Db  M  i  n  M  h  M (i  n  h)

Neste caso, o agente financeiro realiza o desconto comercial e cobra um percentual (h) sobre o
montante a título de tarifa.

Assim, se uma empresa desconta uma duplicata no valor de R$ 8.000,00, sessenta dias antes do seu
vencimento, com uma taxa de 3% a.m. e o agente financeiro estipula uma tarifa de 0,5% sobre o
montante. O valor do desconto é:

Db  8.000, 00(2  0, 03  0, 005)


Db  480, 00  40, 00
Db  520, 00

Desta forma, o desconto será de R$ 520,00 (note que se trata do desconto comercial acrescido de uma
tarifa de R$ 40,00) e a empresa receberá R$ 7.480,00.

Perceba que a a taxa de juros efetiva (“aquela que doí no bolso”) não é necessariamente a taxa de
juros nominal (“aquela anunciada”):

M 8000
1 1
ief  C  7480  0, 0348  3, 48% a.m.
n 2

A taxa de juros efetiva da operação é 3,48% a.m., representa a taxa praticada para a quitação de um
empréstimo de R$ 7.480,00 com o pagamento de R$ 8.000,00 depois de dois meses.

Considerando que o agente financeiro cobrará uma tarifa (h > 0) pela prestação de serviço, pode-se
estabelecer a seguinte relação entre os valores de desconto:

Db  Dc  Dr

No caso de cobrança de uma tarifa fixa (H) independentemente do valor descontado, temos que:
26

Db  M  i  n  H

Suponha que no caso anterior, o agente financeiro cobre uma tarifa de R$ 60,00 independente do
montante para realizar operações de desconto.

Db  M  i  n  H
Db  8000  0,03  2  60
Db  540

Sugestão: Demonstre que a taxa efetiva desta operação é de 3,375% a.m.

É possível ainda que os dois modelos de cobrança de tarifas sejam adotados simultaneamente:

Db  M (i  n  h)  H

iv. Taxas “por fora” e “por dentro”


O desconto racional é considerado um desconto por dentro, enquanto que o desconto comercial é
considerado um desconto por fora. A diferença está na base de cálculo.

Investiguemos a relação entre os números 80 e 120, se considerarmos 80 como base de cálculo, pode-
se afirmar que 120 é 50% maior, mas se considerarmos 120 como base de cálculo, pode-se afirmar
que 80 é um terço (33,33%) menor. Percebe-se que as variações percentuais são diferentes apesar da
variação absoluta ser de 40.

No caso de descontos, a taxa de juros é a mesma (variação percentual fixa), mas aplicada sobre valores
diferentes. No desconto racional aplica-se a taxa sobre o valor presente (ou capital), enquanto que no
desconto comercial aplica-se a taxa sobre o valor futuro (ou montante).

Outro exemplo, suponha seja cobrada uma alíquota de 25% a título de imposto sobre o preço de venda
de um produto que custe R$ 120,00. Há duas possibilidades para aplicação desta alíquota: por fora e
por dentro.

Na aplicação por fora, o imposto devido é calculado da seguinte forma:

Imposto  Preço  Alíquota


Imposto  120, 00  0, 25
Imposto  30

Sendo o preço final ao consumidor de R$ 150,00, o que significa que o imposto representaria 20%
do preço final.
27

Na aplicação por dentro, o imposto devido é calculado da seguinte forma:

 Preço 
Imposto     Alíquota
 1  Alíquota 
 120 
Imposto     0, 25  160  0, 25
 1  0, 25 
Imposto  40

Agora o preço final ao consumidor é de R$ 160,00, o que significa que o imposto representa 25% do
preço final.

Como dissemos, a diferença entre os dois métodos reside na base de cálculo de aplicação da alíquota.
No primeiro caso, a base é o preço sem impostos, enquanto que na segunda é o preço final ao
consumidor. Adivinhe qual o método preferido pelos agentes públicos responsáveis pela arrecadação
de impostos?

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy