Notas de Aula - Juros Simples
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3. Matemática Financeira
A. Introdução
O conhecimento de matemática financeira é de vital importância para a gestão financeira, quer ela
seja pessoal, de estabelecimentos comerciais, de grandes empresas ou de instituições sem fins
lucrativos.
20 30 ?
Segundo a aritmética básica a resposta correta é 50. Entretanto no mundo da matemática financeira
precisamos considerar a dimensão tempo, portanto necessitamos saber se estes valores estão na
mesma data. Esta informação é relevante porque devemos reconhecer o valor do dinheiro no tempo.
Imagine que José e Maria tenham rendas de $ 5.000, porém neste mês Maria necessita apenas de $
4.000 para fazer frente as suas necessidades e planos. Enquanto que José necessita de $ 6.000 para
cobrir gastos inesperados.
É possível que ambos façam um acordo, no qual Maria ceda seu excedente de $ 1.000 a José com o
compromisso que este pague na data combinada o valor de $ 1.050.
O acréscimo de $ 50 se refere aos juros recebidos, ou seja, a remuneração pelo empréstimo. Este
acréscimo foi estipulado em uma taxa de juros de 5% ao período.
Utilizando a dimensão tempo, podemos ajustar a nomenclatura de Valor Final para Valor Futuro
(VF), Valor Inicial para Valor Presente (VP) e a variação para taxa de juros (i), em porcentagem. De
tal forma que temos:
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O capital (dinheiro), como muitas outras coisas, pode ser negociado, e o juro pago pode ser entendido
como uma remuneração pelo capital emprestado. Assim, tomadores de crédito, pessoas e empresas,
podem ter acesso a recursos que não dispunham, com o objetivo de gerar benefícios para si hoje
através da antecipação de recursos que só estariam efetivamente disponíveis em algum momento no
futuro. Enquanto que aqueles que dispõem de recursos hoje, mas pretendem utilizá-los em algum
momento do futuro recebem uma remuneração sobre o capital cedido a terceiros.
Suponha que Marcos tenha um excedente de $ 10.000 em seu orçamento neste ano, enquanto que
João tenha um déficit equivalente neste ano, mas a expectativa de obter um superávit no próximo
ano.
João pode propor a Marcos que ele lhe empreste o valor de $ 10.000 hoje com a promessa de um
pagamento de $ 11.000 no ano seguinte. Em aceitando a proposta de João, Marcos receberia um
adicional de $ 1.000 sobre o valor cedido a título de juros. Esta operação tem o potencial de beneficiar
ambos e seria concretizada uma taxa de 10% ao ano de juros.
Vf Vp(1 i )
11.000 10.000(1 i )
11.000
1 i
10.000
i 1,1 1
i 10%
B. Linha de tempo
Uma forma de representarmos as entradas de saídas de caixa (dinheiro), os chamados fluxos de caixa,
é através de uma representação gráfica. A linha horizontal representa as unidades de tempo onde
indicamos o número de períodos, os quais podem ser dias, meses, trimestres, anos, etc.
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Utilizamos setas para indicar o valor do fluxo de caixa, recebido (entrada, encaixe ou embolso) ou
pago (saída, desencaixe ou desembolso) naquela data. Sendo que utilizamos valores positivos (setas
para cima) para indicar recebimentos e valores negativos (setas para baixo) para indicar pagamentos.
$ 4 mil
0 3 5
Meses
$ 1 mil
Note que sob o ponto de vista do banco, as entradas e saídas de fluxo de caixa seriam exatamente
invertidas, ou seja, seria simétrico em relação ao eixo do tempo.
Conforme dissemos, o dinheiro tem valor no tempo, porém existem duas modalidades de
capitalização de juros: simples e compostos.
C. Juros Simples
Os juros simples são aqueles que incidem somente sobre o valor incial ou principal, podendo tratar-
se, por exemplo, tanto de valor recebido a título de empréstimo ou de valor depositado em uma
aplicação financeira.
0 1.000,00 - - -
Nota: Saldo Devedor Atual = Saldo Devedor Anterior acrescido de juro do período
Como pode ser visto, os juros são constantes no valor de $ 40,00 e calculados da seguinte forma em
cada período:
J C i
J 1.000, 00 0, 04
J 40, 00
Onde:
J Juros simples a serem pagos ou recebidos em cada período;
C Capital emprestado ou aplicado;
i Taxa de juros ao período.
Como os juros pagos a cada período são de $ 40, durante um período de 5 meses serão pagos $ 200 a
título de juros. O cálculo dos juros totais devidos em um período pode ser feito da seguinte forma:
J C i n
J 1.000, 00 0, 04 5
J 200, 00
Onde:
J Juros totais a serem pagos ou recebido por todo o período;
n Número total de períodos.
Se quisermos saber o valor total ou montante a ser pago ou recebido ao final da operação basta
somarmos o capital inicial ao total de juros:
M CJ
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M 1.000, 00 200, 00
M 1.200, 00
M CJ
M C C i n
M C 1 i n
M 1.000, 00 (1 0, 04 5)
M 1.000, 00 1, 2
M 1.200, 00
A partir da fórmula básica do cálculo do montante podemos isolar as outras três variáveis:
M
C
1 i n
M
1
M C 1 i n i C
n
M
1
n C
i
Assim pode-se, por exemplo, calcular a taxa de juros sobre uma dívida de R$ 4.000,00, paga com R$
4.060,00 quinze dias após o recebimento do empréstimo:
M 4.060
1 1
i C 4.000
n 15
i 0, 001 0,1% a.d .
A taxa encontrada é ao dia (a.d.) porque o período está em dias. Podemos refazer os cálculos
considerando o período como metade de um mês:
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M 4.060
1 1
i C 4.000
n 12
i 0, 03 3,0% a.m.
Desta forma a taxa encontrada é de 3% a.m., estas taxas são consideradas equivalentes.
Taxas equivalentes são aquelas que aplicadas sobre o mesmo capital durante o mesmo tempo
produzem o mesmo montante.
D. Descontos
Uma operação de desconto é caracterizada pelo recebimento antecipado de uma quantia que só estaria
disponível em algum momento no futuro, sendo que o pagamento desta quantia é garantida por uma
duplicata, nota promissória, letra de câmbio ou qualquer título que assegure ao portador o direito de
recebimento de valor especificado em uma data futura.
i. Desconto Racional
O desconto racional é calculado da seguinte forma:
M i n
Dr
1 i n
Trata-se exatamente do desconto do juro que seria apropriado no período, ou seja o valor recebido
(Vr) é o capital que aplicado pelo período n e a taxa de juros i produziria o montante M.
M C J J M C
Ajustando a nomenclatura :
Dr M Vr
M M (1 i n) M
Dr M
1 i n 1 i n
M i n
Dr
1 i n
Assim, se uma empresa desconta uma duplicata no valor de R$ 8.000,00, sessenta dias antes do seu
vencimento e com uma taxa de 3% a.m. O valor do desconto é:
24
8.000, 00 2 0, 03
Dr
1 2 0, 03
Dr 452,83
Dc M i n
Assim, se uma empresa desconta uma duplicata no valor de R$ 8.000,00, sessenta dias antes do seu
vencimento e com uma taxa de 3% a.m. O valor do desconto é:
Dc 8.000,00 2 0, 03
Dc 480,00
Note que a a taxa de juros efetiva (“aquela que doí no bolso”) não é necessariamente a taxa de juros
nominal (“aquela anunciada”):
M 8000
1 1
ief C 7520 0, 0319 3,19% a.m.
n 2
A taxa de juros efetiva da operação é 3,19% a.m., representa a taxa praticada para a quitação de um
empréstimo de R$ 7.520,00 com o pagamento de R$ 8.000,00 depois de dois meses.
Considerando as definições de desconto racional e comercial, é possível constatar que a relação entre
eles é dada por:
M i n
Dr Dc
1 i n Dr
1 i n
Dc M i n
Dc Dr (1 i n)
Dc Dr (1 i n)
Dc 452,83(1 0, 03.2)
Dc 480, 00
Db M i n M h M (i n h)
Neste caso, o agente financeiro realiza o desconto comercial e cobra um percentual (h) sobre o
montante a título de tarifa.
Assim, se uma empresa desconta uma duplicata no valor de R$ 8.000,00, sessenta dias antes do seu
vencimento, com uma taxa de 3% a.m. e o agente financeiro estipula uma tarifa de 0,5% sobre o
montante. O valor do desconto é:
Desta forma, o desconto será de R$ 520,00 (note que se trata do desconto comercial acrescido de uma
tarifa de R$ 40,00) e a empresa receberá R$ 7.480,00.
Perceba que a a taxa de juros efetiva (“aquela que doí no bolso”) não é necessariamente a taxa de
juros nominal (“aquela anunciada”):
M 8000
1 1
ief C 7480 0, 0348 3, 48% a.m.
n 2
A taxa de juros efetiva da operação é 3,48% a.m., representa a taxa praticada para a quitação de um
empréstimo de R$ 7.480,00 com o pagamento de R$ 8.000,00 depois de dois meses.
Considerando que o agente financeiro cobrará uma tarifa (h > 0) pela prestação de serviço, pode-se
estabelecer a seguinte relação entre os valores de desconto:
Db Dc Dr
No caso de cobrança de uma tarifa fixa (H) independentemente do valor descontado, temos que:
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Db M i n H
Suponha que no caso anterior, o agente financeiro cobre uma tarifa de R$ 60,00 independente do
montante para realizar operações de desconto.
Db M i n H
Db 8000 0,03 2 60
Db 540
É possível ainda que os dois modelos de cobrança de tarifas sejam adotados simultaneamente:
Db M (i n h) H
Investiguemos a relação entre os números 80 e 120, se considerarmos 80 como base de cálculo, pode-
se afirmar que 120 é 50% maior, mas se considerarmos 120 como base de cálculo, pode-se afirmar
que 80 é um terço (33,33%) menor. Percebe-se que as variações percentuais são diferentes apesar da
variação absoluta ser de 40.
No caso de descontos, a taxa de juros é a mesma (variação percentual fixa), mas aplicada sobre valores
diferentes. No desconto racional aplica-se a taxa sobre o valor presente (ou capital), enquanto que no
desconto comercial aplica-se a taxa sobre o valor futuro (ou montante).
Outro exemplo, suponha seja cobrada uma alíquota de 25% a título de imposto sobre o preço de venda
de um produto que custe R$ 120,00. Há duas possibilidades para aplicação desta alíquota: por fora e
por dentro.
Sendo o preço final ao consumidor de R$ 150,00, o que significa que o imposto representaria 20%
do preço final.
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Preço
Imposto Alíquota
1 Alíquota
120
Imposto 0, 25 160 0, 25
1 0, 25
Imposto 40
Agora o preço final ao consumidor é de R$ 160,00, o que significa que o imposto representa 25% do
preço final.
Como dissemos, a diferença entre os dois métodos reside na base de cálculo de aplicação da alíquota.
No primeiro caso, a base é o preço sem impostos, enquanto que na segunda é o preço final ao
consumidor. Adivinhe qual o método preferido pelos agentes públicos responsáveis pela arrecadação
de impostos?