Transtorno Depressivo 2022
Transtorno Depressivo 2022
Transtorno Depressivo 2022
21. Humor deprimido:
• Tristeza
• Expressão facial carregada, rugas ao lado do nariz e da
boca, olhos lacrimejantes.
• Tudo sombrio : “aquela arvore sombria no alto do morro
num dia escuro sou eu”
• Anestesia afetiva (perda do amor) : “não sinto mais a
mesma coisa”
• Obcecado por circunstâncias dramáticas para si e próximos
• A dor costuma ser maior de manhã
22. Perda de interesse
• Sem vontade de fazer o que antes gostava
• Falta de ânimo
36. O item “perda de interesse” (“ ou prazer”, isto deixamos para
depois). Na realidade é uma imobilização
• Sobre isto, diz Widlocher, Les logiques... p.36: “Na realidade, o
sujeito confessa que continua a se interessar por sua atividades
habituais, aos seres e valores que o mobilizaram em tempo
normal. O que lhe falta é a incitação a agir. Podemos dizer que é
o apetite que lhe falta, não o gosto das coisas. “ (gosto de pizza,
olha para ela e vejo que é apetitosa, mas estou sem apetite)
• Do livro Depressão de Beck : “Uma mulher, que era incapaz de
responder às perguntas durante o pior período de sua depressão,
assinalou posteriormente que apesar de querer responder ela
não conseguia reunir “força de vontade” para isso” ( p 34-35)
37. Comparação com o luto: Widelocher , Le ralentissement
dépressif “Cada retomada de investimento de uma atividade
habitual desencadeia de novo a consciência da perda sofrida.
O trabalho de luto constitui portanto um bom exemplo, não
somente de uma dor moral sem lentidão, mas de uma dor
moral que é renovada pela retomada progressiva das
atividades. A depressão reativa se opõe precisamente ao luto
pela impossibilidade de realização de um tal trabalho. O
tempo imobilizado, a ação impossível, o desinteresse
impedem a elaboração mental da perda e o enfrentamento
do .....................................................................................
.....sentimento doloroso trazido por ela. Paradoxalmente, o
sofrimento depressivo da ruminação permanente impede a dor
repetida do trabalho do luto” p.14
No DSM-V: “A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao
longo de dias a semanas, ocorrendo em ondas, conhecidas
como "dores do luto". Essas ondas tendem a estar associadas a
pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de
um EDM é mais persistente e não está ligado a pensamentos ou
preocupações específicos. (...) O conteúdo do pensamento
associado ao luto geralmente apresenta preocupação com
pensamentos e lembranças do falecido, em vez das ruminações
autocríticas ou pessimistas encontradas no EDM. (...).....
..... No luto, a autoestima costuma estar preservada, ao passo que
no EDM os sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são
comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa costuma
envolver a percepção de falhas em relação ao falecido (p. ex., não
ter feito visitas com frequência suficiente, não dizer ao falecido o
quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa em morte e
em morrer, tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e
possivelmente “se unir" a ele, enquanto no EDM esses
pensamentos têm o foco em acabar com a própria vida por causa
dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da
incapacidade de enfrentar a dor da depressão” (P 161).
38. ..... Ou “perda de prazer”
Então fez!! Não havia perda de interesse! E nem imobilização. Reservem para mais
tarde: esta forma de depressão costuma preceder o aparecimento de doenças
físicas graves (psicossomática)
39. Suicídio
• 15% No Transtorno DM (DSM-IV. P
• Leve : “é melhor estar morto”; moderado: “gostaria de não acordar amanhã”,
minha família via ficar melhor sem mim; grave: Por que não me deixam morrer?
A única saída é me matar
• A pessoa pode reprimir e depois volta e se fixa
• Interesse por formas de se matar é alarmante
• Mas não devemos estar seguros nem nas formas leves.
• Risco com antidepressivos na depressões mais graves. Estimulantes, melhoram
mais a lentidão e não a tristeza
• “Existe as vezes um switch estranho quando a pessoa decide se
matar: um apaziguamento, as vezes enganoso para os próximos.
(...) Muitos estudos exploraram esta calma paradoxal ligada ao
alivio de se sentir próximo da libertação. A pessoa sente
parcialmente liberada do sofrimento. E paradoxalmente ela pode
então querer viver”(André, p209-210)
• E assim desistir de se matar
• Em todo caso, o desejo de se matar pode não ser tão estável e
acabar ficando um tanto ao acaso, apesar de não ser impulsivo
(na impulsividade não se pensou antes)
• Exemplo: “Ter simplesmente colocado barreiras anti-salto sobre
uma ponte suspensa na Inglaterra, ...........
.... onde muitos desesperados vinham por fim a vida, diminuiu
instantaneamente e nitidamente o numero de suicídios [não há
compensação nas outras formas de suicídio], pelo simples fato de
se ter complicado o salto” (André, idem, p211)
• Por isto deve-se evitar a facilidade de se matar com suicidas em
potencial. Uma medida é não deixá-los sós, e mesmo encarregar-
se de lhes dar a medicação nos casos onde se fala, ou já houve
tentativas , de suicídio
40. Na terapia não devemos evitar falar com o paciente de suicídio,
se há risco ou houve tentativa, ao contrário devemos nos deter
especialmente, senão ele sente que o terapeuta não quer saber
dele nos piores momentos e se sente abandonado.
40B. Em suma: “O contrário da depressão não é a felicidade
nem a alegria: é a vitalidade” (André, 2011,p 170)
41) Características melancólicas:
• “mesmo quando ocorrem eventos muito desejados, o
humor depressivo não melhora absolutamente, ou
melhora apenas em parte (p,ex, em até 20-40% do
normal, durante alguns minutos apenas” DSM-IV, 409
• Imobilização e acentuada lentidão
• Pode haver psicose
40. Voltando a história............
• As compreensão que temos hoje da depressão partiu de psiquiatras
fenomenológicos, principalmente Minkowski
• Há uma perda do futuro na vivencia do tempo : “Qual é então a noção
de tempo de nosso doente e no que difere da nossa? Ele sente os dias
se sucederem na sua uniformidade e na sua monotonia (....) Nenhuma
ação, nenhum desejo esboça que, partindo do presente , iria para o
futuro, para além da sucessão de dias cinzas e semelhantes. Estes
guardam deste fato uma independência maior que de costume, não se
esvai na sucessão da continuidade da vida (,,,,,,) o desejo de ir mais
longe parece não mais existir[ o dia de hoje prepara o de amanhã];
todos os dias são as mesmas queixas, as mesmas palavras, numa
monotonia exasperante, -----------
..... podemos dizer que o ser humano perdeu inteiramente a noção
de uma progressão necessária” (Minkowski, 1968, p.174-175)
• Em grande parte o sofrimento vem daí >>> Minkowiski , 1999,Traité
de psychopatologie,, p. 353: “É a inibição que constitui o fundo, ela
impede o élan, a tudo que neste élan quer se dar livre curso, e o faz
dolorosamente. O sofrimento vem daí; ele se refere a inibição em
primeiro lugar
42. Significado da depressão >>>>>>
43. Depressão anaclítica
• Primeira manifestação
• Bebês de 6 meses a 3 anos separados da mãe com quem tinham
boa relação ------------ Spitz
• Protesto 2 a 3 dias: choro, grita, recusa contato, agitação
desordenada
• Calmo, silencioso, apático, largado, pouco contato,indiferente,
lentidão: movimentos e reação a estímulos, parado
• “a sintomatologia e a expressão facial dessas crianças
lembravam muito o que se verifica com adultos que sofrem de
depressão” (Spitz. O primeiro ano da vida, p237)
• Macacos Rhesus de 3 a 6 meses >> separados por 3 semanas
>> podem ver e escutar os pares e a mãe >> protesto e esforça
para quebrar a jaula, gritos, agitação >> depressão
44. -------------------------
45. Comparemos com a depressão do adultos
• Depressão adulta: pessimismo, ruminação mental, culpa,
inferioridade, falta de concentração, idéias de suicídio
• Um bebê de 3 meses tem tudo isto? E um macaco!?
• Então a depressão prescinde de toda esta complicação
mental!!
46. Widlocher (les logiques ... p. 213-215) :
• “Podemos imaginar que o bebê sente dolorosamente a
situação, mas esta experiência subjetiva deve ser muito
diferente do que ....................................................
.....experimenta um adulto. Chamar de depressão esta reação
infantil precoce é por o acento no comportamento de
retraimento e de apatia e deixar em segundo plano a forma
que pode revestir a experiência subjetiva. Não podemos dizer
que a criança percebe a ausência, que ela reage pela tristeza e
que esta tristeza a leva a se desinteressar por tudo que está a
sua volta. Devemos admitir que de inicio é a experiência
confusa de uma falta que leva a resposta de apatia e de
desinteresse, e que esta resposta toma posse da criança e é
acompanhada de uma sensação penosa (...) A depressão não
aparece mais como uma tristeza patológica, mas como uma
resposta inata a,,,,,
....uma situação catastrófica que vem desorganizar o conjunto dos
esquemas de atividade e de trocas que se desenvolvem
normalmente a partir de interações precoces entre a mãe e a
criança (...) podemos deduzir que o núcleo da depressão não é a
construção mental complexa do adulto”
• “Enquanto houver um intercâmbio ativo entre nós e o mundo
exterior, seja em pensamento seja em ação, nossa experiência
subjetiva não é de depressão: medo, raiva, satisfação, frustração,
ou qualquer combinação delas, podem ser experimentados. É
quando o intercambio cessa que a depressão ocorre até o
momento em que novos padrões de intercambio se organizam
em direção a um novo objeto ou meta”(Bowlby, 1985, 280)
47. Outra evidência : “impotência apreendida” (Seligman)
• Com cão e depois vários outros animais
• Aprendizado normal: caixa dividida por uma porta >> choque na
primeira parte >> rapidamente o cão apreende a sair, até ficar
automático
• Imobiliza-se previamente o cão que leva choques >> depois na caixa
>> choque> para, deita-se e espera acabarem os choques, gemendo
> se por acaso descobre o caminho, não fixa o conhecimento
• O sistema aprendizado-ação fica desenvestido, não se consolida,
quando o cão “abaixa os braços” (entra na imobilização). Ele não
apreendeu porque ficou sem ação, de apreender justamente
• Os antidepressivos melhoram o cão!!
48. “A reação depressiva não está ligada apenas a uma
perda ou separação. Ela está ligada a impossibilidade de
se escapar de uma situação penosa, á incapacidade de
poder mudar esta situação (,,, ) Estes dados convergem
par algumas interpretações da depressão humana que a
compreendem como um estado no qual o sujeito não
percebe mais a eficiência de suas ações no meio ambiente
e não encontra mais nenhuma razão para agir e modificar
este meio. Nada mais vem incitar o sujeito a agir ou
pensar num direção determinada. Trata-se então de um
atitude ativa de retraimento...........................................
.....ligada a percepção de uma situação sem saída, O retraimento
depressivo consiste num atitude protetora de retirada, um forma
de hibernação que permite ao sujeito sobreviver quando não
dispõe mais de faculdade de luta “
49. E a tristeza?
• “A tristeza seria ligada por um lado às circunstâncias que deram
origem a esta situação sem saída e secundária à experiência da
impotência” (p.222). É a imobilização por falta de estimulo que
deprime
50. A lentidão supõe a imobilidade >> a ação perde o sentido (=sem
saída) >> me apressar... para que?. A lentidão faz parte de um
tempo sem futuro.
50 bis: “O contrário da depressão não é a
felicidade nem a alegria: é a vitalidade”
(André, 2011,p 170)
51. Melancolia>>>>>>>>>
52. Sintomas >>>>>
• Quanto ao humor : “mesmo quando ocorrem eventos muito
desejados, o humor depressivo não melhora absolutamente,
ou melhora apenas em parte (p,ex, em até 20-40% do
normal, durante alguns minutos apenas” DSM-IV, 409
• Costuma ter culpa excessiva (pegou uma moeda da bolsa da
mãe), mas nem sempre
• As vezes culpa delirante: contaminou o mundo com seus
erros a policia vai pegá-lo e esquartejá-lo
• Humor pior de manhã
• Lentidão psicomotora muito acentuada
• anorexia e perda de peso significativas
1. DSM-IV:
“A característica essencial do Transtorno Distímico é um humor
cronicamente deprimido que ocorre na maior parte do dia, na
maioria dos dias, por pelo menos 2 anos (Critério A). Os indivíduos
com Transtorno Distímico descrevem seu humor como triste ou
"na fossa". Em crianças, o humor pode ser irritável ao invés de
deprimido, e a duração mínima exigida é de apenas 1 ano.
Durante os períodos de humor deprimido, pelo menos dois dos
seguintes sintomas adicionais estão presentes:........
....apetite diminuído ou hiperfagia, insônia ou
hipersonia, baixa energia ou fadiga, baixa auto-estima,
fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões
e sentimentos de desesperança (Critério B).
• Notem: alterações psicomotoras (lentidão) e ideias de
suicídio ausentes
• Podem ocorrer episódios depressivos maiores, então
se especifica assim: “com episódios depressivos
maiores intermitentes”; se não for o caso: “com
síndrome distímica pura” (DSM-V p 171)
Os indivíduos podem notar a presença proeminente de baixo
interesse e de autocrítica, freqüentemente vendo a si mesmos
como desinteressantes ou incapazes. Como estes sintomas
tornaram-se uma parte tão presente na experiência cotidiana
do indivíduo (por ex., "Sempre fui deste jeito", "É assim que
sou"), eles em geral não são relatados, a menos que
diretamente investigados pelo entrevistador.
Durante o período de 2 anos (1 ano para crianças ou
adolescentes),
qualquer intervalo livre de sintomas não dura mais do que 2
meses (Critério C). (DSM-V p170)
.
2. O DSM vem deixando para melhor estudar uma
personalidade depressiva, que talvez viesse a substituir o
transtorno distímico. Muitos autores já se antecipam
sobre a existência desta personalidade, Millon entre eles.
Citamos suas palavras:
“Um invasivo pessimismo os leva a antecipar o pior,
esperando que a vida sempre vai dar errado em vez
de melhorar. (....) sem força para mudar seu destino”
(Millon, 2004, p539)
Comentando o bebê deprimido conforme a descrição de Bowlby:
“Depois dos protestos iniciais e esforços para procurar e recuperar o
objeto perdido, a criança desiste e se retrai, no que Bowlby chama de
perda de esperança e desorganização. . Retraídas e inativas estas
crianças apreendem a fazer poucos pedidos para seu meio ambiente,
ficam desapegadas em vez de apegadas(...) com este antecedente,
adolescentes que são propensos a depressão, sentem sérias dúvidas
em terem atrativos , como membros de um gênero. Antecipam
desinteresse (...) Desvalorizam a si mesmos e esperam serem
desvalorizados pelo meio social (idem, 546) [não vou conseguir, não
vou ter]
• “Os depressivos simplesmente desistem e aceitam
seu patético estado como inevitável e irreversível.
Eles se retraem porque sentem faltar-lhes energia
para interações sociais ou porque eles querem
ficar sós em sua miséria” ( idem , p548)
• O pensamento latente é “não adianta , não vou
conseguir”. A tônica da depressão é o pessimismo
• “Enquanto que o humor usual do transtorno de personalidade
depressiva é tipicamente sombrio ou desanimado , o estilo de
personalidade [estilo, significa dentro de uma normalidade] é
mais reflexivo sobre os aspectos negativos do self e da
situação, não é tão invadido por eles de forma que a alegria
se torna uma impossibilidade. Enquanto no transtorno o
indivíduo tem uma autoimagem de incompetência,
inutilidade ou inadequação , os indivíduos com o estilo são
simplesmente mais autoconscientes de sua posição em
relação a outros semelhantes, e são capazes de assumir
iniciativa construtiva quando necessário....................
• ........ Enquanto no transtorno o individuo é
excessivamente autocrítico , o estilo está ciente dos
aspectos positivos e negativos do self, mas tende a
se concentrar no negativo. Enquanto que no
transtorno o individuo rumina mentalmente e se
preocupa demais, o estilo despende tempo
pensando as coisas através de uma perspectiva
realista. Enquanto que aquele com o transtorno é
pessimista , o estilo é realista, dando ao negativo o
que lhe cabe. (Millon, 2004, p 541)
• Blatt, S. J., & Zuroff, D. C. (1992). Interpersonal relatedness
and self-definition: Two prototypes for depression. Clinical
psychology review, 12(5), 527-562.
• Minkowiski E, , 1999,Traité de psychopatologie,
• McWilliams N (2014) Diagnóstico Psicanalítico, Porto Alegre: Artmed
• Pedinielli J-L (2008) Les états dépressives, Paris: Armand Colin
• Racamier, P-C (1979) De psychanalyse en psychiatrie, Paris: Payot
• Tellenbach H (1976) Melancholy, Pittsburh: Duquesne University
Press
Widlöcher D (org) Le ralentissement dépressif, Paris:PUF
• Widlöcher D (1995) Les logiques de la dépression, Paris: Fayar