As origens do Chassidismo1
The Origins of Hassidism
rachel elior
Professora da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Instituto Van Leer, Jerusalém
Tradução do inglês por Hedy Lorraine Hofmann
históricos que geraram a devastação da comunidade judaica
na Ucrânia na segunda metade do século XVII e o
surgimento do sabatianismo nesse período, que foi seguido
do início do chassidismo2 no segundo terço do século XVIII.
A evidência literária, que data de 1650 em diante até o final
do século XVIII, revela que os escritores judeus se
preocupavam em documentar a devastação trágica que se
seguiu à revolta de Chmielnizki, bem como expressavam
profundas esperanças pela vingança divina, e uma profunda
esperança pela redenção messiânica.
A discussão focaliza duas respostas espirituais para as
trágicas circunstâncias: o sabatianismo e o chassidismo,
descrevendo a singularidade de cada um dos dois principais
movimentos místico-messiânico-carismáticos na comunidade
judaica da era moderna. A discussão inclui uma análise da
realidade interna da comunidade judaica, cujos líderes eram,
com frequência, escolhidos entre os membros das famílias
mais ricas. A aliança econômico-intelectual criou uma
situação em que uma liderança carismática alternativa foi
escolhida por diversos membros da comunidade judaica,
que estavam desapontados com a liderança rabínica e sua
responsabilidade social.
O artigo apresenta, também, os 12 princípios do pensamento
chassídico e descreve as circunstâncias singulares que
afetaram a atividade do Baal Shem Tov em relação aos trinta
e cinco libelos de sangue que foram registrados durante a
sua vida na comunidade polaco-lituana.
abstract The present article reviews the historical
background that had generated the devastation of the
Jewish community in the Ukraine in the second half of the
17th century and the rising of Sabbatianism in the period that
was followed by the emergence of Hasidism in the second
third of the 18th century. The literary evidence, dating from
1650 onwards until the end of the 18th century, reveals that
the Jewish writers were concerned with the documentation
of the tragic devastation that followed the Chmielnizki revolt
as well as expressing profound hopes for divine vengeance
and a profound hope for messianic redemption.
The discussion is focused in two spiritual responses to the
tragic circumstances: Sabbatianism and Hasidism,
describing the uniqueness of each one of the major
mystical-messianic-charismatic movements in the Jewish
community of the modern era. The discussion includes an
analysis of the inner social reality of the Jewish community,
whose leaders were often chosen among the members of
the wealthiest families. The economic-intellectual alliance
created a situation where an alternative charismatic
leadership was chosen by many members of the Jewish
community, who where disappointed with the rabbinic
leadership and its social responsibility.
The article presents also the 12 principles of the Hasidic
thought and describes the unique circumstances that
affected the activity of the Baal Shem Tov in relation to the
thirty five blood libels that were recorded in his life time in
Polish-Lithuanian commonwealth.
palavras- chave Chassidismo; Sabatianismo; Comunidade
keywords Hasidism; Sabbatianism; Polish-Lithuan
polaco-lituana; Israel Baal Shem Tov.
commonwealth; Israel Baal Shem Tov.
resumo O presente artigo é uma revisão dos antecedentes
O chassidismO teve Origem cOmO uma nOva entidade espiritual e sOcial
no segundo terço do século XVIII na Podólia [Podole], Volínia [Wolyn], e Galícia oriental, as regiões históricas do sudeste da comunidade polaco-lituana, que são as partes ocidentais central e noroeste da atual Ucrânia. Israel Baal Shem Tov (1698-1760), o fundador do movimento, conhecido pelo acrônimo Besh’t, formulou sua visão mística do
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mundo ao ler livros e manuscritos cabalísticos em
meados da década de 1730. Essa visão do mundo,
que pressupunha que a entidade divina mais elevada oculta e o mundo inferior revelado seriam interligados e refletidos no pensamento e na linguagem, teve consequências sociais significativas em
todas as comunidades judaicas da Europa Oriental.
O Besh’t começou a ensinar suas novas ideias em
Medziboz [Miçdzybóz], na Podólia, onde, nas décadas de 1740 e 1750, ele foi convidado a residir
pela comunidade judaica como um “Doctor Kabba
lista”, isto é, como um curandeiro herbal do corpo
e da alma, e professor de textos cabalísticos associados com a tradição mística do século XVI, que afirmava que “Aquele que deseja aprender a Verdadeira
Sabedoria [hokhmat há’emet = Cabala] deve comportar-se à maneira dos piedosos [derekh hasidut].”3
Pode-se dizer que houve três fatores principais
que caracterizaram e influenciaram esse período
da história judaica, quando o estudo da ‘verdadeira sabedoria’, acompanhado por ‘viver de acordo
com a maneira dos piedosos’, tinha se disseminado: a instabilidade que confundia a vida judaica
naqueles anos, conforme sentida pelas comunidades judaicas da Podólia e do sudeste da Polônia,
que comemoraram os terríveis eventos da segunda
metade do século XVII, eventos que incluíram (a)
o massacre de comunidades judaicas inteiras, perpetrado pelos camponeses ucranianos escravizados
que se levantaram contra os seus senhores poloneses durante uma revolta em 1648-1668, encabeçada
por Bohdan Khmelnitsky (Chmielnizki) (15951675)
– os servos ucranianos grecoortodoxos analfabetos
perceberam o levante como parte da revolta nacional contra a opressão da nobreza polonesa católica
e dos seus agentes judeus que eram alfabetizados;
b) a guerra russo-sueca que foi travada para obter
controle do reino polacolituano – esse conflito
teve lugar em 1654-1656, na Polônia e na Lituânia,
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e resultou no assassinato em massa de milhares de
judeus que foram acusados de serem traidores pelos poloneses; c) as incursões contínuas de tártaros
muçulmanos na Ucrânia a fim de capturar escravos brancos para os mercados no mundo muçulmano (1660-1699); d) a invasão turca da Podólia
(16721699); e) a “Grande Guerra do Norte” (1700
1721), travada entre a Rússia e a Suécia em solo
polonês, sobre a coroação de Augusto II da Saxônia como Rei da Polônia, apoiada pelo Tzar da
Rússia e rejeitada pelo rei da Suécia. Essa guerra
foi seguida de uma guerra interna polonesa, a Guerra da Sucessão Polonesa, 17331738, entre Augusto
III (apoiado pelos russos) e Stanislaw Leszeczynski
(apoiado pelos suecos). A guerra interna polonesa
foi travada para estabelecer a dominância, dentro
do reino, entre dois candidatos rivais que eram
apoiados pelo rei da Suécia, que era protestante, e
o rei da França, que era católico (e cuja irmã era
casada com Leszczynski), apoiando uma facção, e
pelo Tsar da Rússia, os Habsburgos austríacos e
governantes da Prússia apoiando a outra. Essa situação instável gerada pelas guerras e invasões infindáveis resultou em um colapso econômico catastrófico e uma desordem social que geraram vandalismo disseminado e furtos por grupos de camponeses ucranianos, conhecidos como “Hydamakim”, ou Gydamaks, que atacaram bairros e assentamentos judaicos (1734-1744; 1750-1768) e assassinaram milhares dos seus habitantes. A perda de
vidas dentro da comunidade judaica na Ucrânia e
na comunidade polaco-lituana, nos anos de 16481768 foi avassaladora pelo grande número de pessoas envolvidas no decorrer da revolta ucraniana
(mais de cem mil judeus pereceram nas mãos dos
cossacos, segundo os historiadores poloneses. Grandes pogroms de judeus também irromperam nas
áreas das quais se tinham retirado as forças polonesas) e nas várias guerras e invasões que se segui-
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ram. Os servos ucranianos greco-ortodoxos analfabetos e escravizados se revoltaram novamente e
assassinaram não apenas a nobreza polonesa católica que os mantinha escravos e eram donos de toda a terra – governando segundo a ordem feudal,
tomando a maior parte da sua produção – mas
também contra os agentes, supervisores e administradores judeus desses nobres. Os camponeses em
revolta também atacaram e destruíram completamente sinagogas judaicas, escolas judaicas e casas
de estudo, aumentando ainda mais a devastação
econômica que era a consequência dessa horrenda
sequência de eventos. Os sobreviventes judeus comemoraram esses eventos trágicos em orações e
ritual e por meio de crônicas históricas, exegese
homilética e literatura mística. Evidências literárias
a partir de 1650 até o final do século XVIII revelam que os escritores judeus se preocupavam com
a documentação dessa devastação inconcebível e
trágica, bem como expressavam profundas esperanças de vingança divina, professando uma profunda esperança de redenção messiânica.
O segundo fenômeno que marcou esse período
da histórica judaica foi o surgimento do sabatianismo, um movimento messiânico profético fundado por Sabbatai Zevi (1626-1676) no último terço do século XVII. Sabbatai Zevi era ativamente
apoiado pelo “profeta” Natan de Gaza (16431680),
que afirmava que havia sido restaurado o dom da
profecia, e que ele tinha sido informado, divinamente, de que Sabbatai Zevi era o Messias. Sabatianismo, ou a crença na incepção de uma nova
era messiânica profética, consolidou-se na esteira
dos massacres judaicos de 1648-1649 do levante de
Chmielnizki na Ucrânia (OZER, 1978, p. 81). O
sabatianismo, formado por dois jovens – Natan de
Gaza, de 22 anos de idade em 1665, e Sabbatai Zevi, que ficou chocado com o massacre de 16481649, ocorrido quando ele tinha 22 anos de idade,
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e o grande número de pessoas que havia acompanhado a nova mensagem messiânica e seus proponentes – tornarase um fator dominante afetando
a comunidade judaica inteira, no decorrer do século XVIII (SCHOLEM, 1973). Os ensinamentos
sabatianistas levavam a esperanças messiânicas de
vingança meta-histórica contra aqueles que haviam
assassinado milhares de judeus indefesos (SCHOLEM, 1967, p. 522), bem como esperanças messiânicas de redenção entre os sobreviventes. O sabatianismo foi marcado por uma percepção dupla
da vida na qual seus seguidores viviam de maneira
judaica religiosa tradicional conforme todas as aparências externas, ao mesmo tempo em que por
dentro mantinham uma insurgência judaica messiânica. O sabatianismo enfocava as múltiplas indagações quanto à natureza da era messiânica –
pensamentos concernentes ao retorno a uma era
dourada primordial sem lei, ou a construção de
um novo mundo fundado sobre a graça. Os princípios incluíam a vida antes do pecado original e
a punição divina, a volta esperada ao paraíso, onde não haveria mal nem morte, e nenhuma proibição ou limitações, tudo isso ocorrendo após a
retificação do pecado original perpetrado por Adão
e Eva através dos ensinamentos de Sabbatai Zevi.
Também estavam envolvidos em outras especulações místicas, anárquicas e antinomianas em suas
futuras implicações. As novas indagações intelectuais foram muito afetadas pela literatura cabalística descrevendo a “Torá da Árvore da Vida” messiânica ideal, uma lei que não incluía proibições,
já que foi concedida antes do primeiro pecado e
dizia respeito ao futuro messiânico. Igualmente,
foi dada atenção à tradicional “Torá da Árvore do
Conhecimento Bom e Mau”, aquilo que diz respeito à lei do exílio. A primeira concepção foi adotada pelos sabatianos, enquanto que o costume
aceito, a tradicional Torá da comunidade judaica
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foi rejeitada internamente e observada externamente. O duplo movimento anárquico-messiânico-antinomiano foi especialmente ativo em Smirna e na
Tessalônica no Império Otomano, e seus discípulos ensinaram suas inovações na Podólia, conquistada pelos otomanos entre 1672-1699, nos assentamentos ucranianos de Lov (Lwow) e Brody, em
Praga, Altona na Dinamarca (atualmente dentro
da cidade de Hamburgo) e em muitas outras comunidades judaicas. A comunidade judaica no século XVIII estava dividida entre os círculos que
aderiam às esperanças messiânicas sabatianas em
toda a Europa, enquanto viviam externamente à
maneira tradicional, e os círculos rabínicos que
lutavam contra a disseminação da cabala e dos ensinamentos messiânicos ao público maior, e perseguiam aqueles que acreditavam, e Sabbatai Zevi
e seus seguidores, que aderiam à literatura cabalistamessiânica. Deve ser observado que o chassidismo começara a sua vida pública “formal” em 1772,
quando duras excomunhões contra os seus seguidores, que eram percebidos como heréticos sabatianos foram promulgadas na Polônia, Lituânia,
Galícia e Ucrânia por rabinos eminentes que haviam estado envolvidos na perseguição dos sabatianos nas décadas anteriores.
O terceiro fenômeno que afetou a vida judaica
no período da formação do chassidismo foi a “reação católica” dentro da Polônia, que ocorreu no
último terço do século XVII e na primeira metade
do século XVIII. A Igreja Católica na Polônia foi
ameaçada pela disseminação dos ideais da reforma
protestante em países vizinhos (Alemanha, Prússia,
Suécia, Países Baixos e Dinamarca) e iniciou uma
série de medidas para fortalecer a sua posição sagrada exclusiva no reino polaco-lituano. Esses passos incluíram instaurar novamente as restrições
antissemitas medievais, inclusive a conversão coagida de judeus ao catolicismo, a abdução de crian-
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ças judias a fim de batizá-las e criá-las como cristãs,
falsas acusações contra os judeus em todas as dimensões econômicas, sociais e religiosas, a publicação e disseminação de literatura antissemita e
frequentes orquestrações de libelos de sangue assassinos.4
No período em que viveu Israel Baal Shem Tov,
aproximadamente de 1698 até 1760, bem como
durante a vida dos seus pais no último terço do
século XVII, foram registrados mais libelos de sangue do que durante qualquer outro período da história. Segundo dois historiadores poloneses contemporâneos, Zenon Guldon e Jacek Wijaczka, foram registrados 66 libelos de sangue nos séculos
XVII e XVIII, na comunidade polaco-lituana (GULDON; WIJACZKA, 1977, p. 99140). Segundo o
artigo recente de Wijaczka, “Baseado em pesquisas
recentes podemos concluir que, durante o início
da era moderna, 89 acusações de assassinato e julgamentos tiveram lugar na Polônia (dentro das
fronteiras depois da União de Lublin)”. “Isso inclui 17 no século XVI, 37 no século XVII, e 35 no
século XVIII [...]. Pelo menos 11 acusações e julgamentos de assassinato ritual tiveram lugar na Lituânia, o que eleva o total a 100 julgamentos dentro dos territórios poloneses” (WIJACZKA, 2003,
p. 208-209). Houve muitos outros incidentes semelhantes que não foram mencionados nos documentos judiciais poloneses, mas foram claramente atestados na literatura judaica contemporânea.5 O primeiro testemunho místico sobre a atividade pública de Israel Baal Shem Tov trata dos libelos de sangue nos anos 1740 e 1750.
A fim de entender melhor o surgimento e a
propagação de dois movimentos místicos importantes que definiam a realidade de diversas maneiras – sabatianismo e chassidismo – é necessário
lembrar que a comunidade judaica indefesa na comunidade polaco-lituana sofreu das tragédias cumu-
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lativas de: a) a revolta ucraniana que devastou a
comunidade judaica na segunda metade do século
XVII; b) a vitória turca sobre a Polônia, que incorporou a Podólia ao Império Otomano Muçulmano no último terço do século XVII; c) a conquista
sueca do reino da Polônia, que custou milhares de
vidas judias, já que os poloneses católicos acusaram os judeus de apoiar o exército sueco protestante e matou-os como traidores; d) a guerra polonesa interna da coroação sueca nas primeiras décadas do século XVIII, que causou uma calamidade econômica e distúrbios sociais e gerou vandalismo e roubos; e) a reação católica iniciada contra
a heresia protestante e a intransigência judaica.
A comunidade judaica respondeu a essas duras
situações de três maneiras: a) por meio da heresia
sabatiana radical messiânico-profética, que era inspirada pela literatura cabalística do Zohar; b) fundando o movimento místico chassídico, que era
inspirado pela literatura cabalista de Safed no século XVI; c) criando o estabelecimento conservador rabínico ortodoxo que se opunha vigorosamente tanto ao sabatianismo como ao chassidismo,
e impôs severas proibições à disseminação da Cabala e à idade em que era permitido estudar a literatura mística. Essas respostas ocorreram num período durante o qual a comunidade judaica sofria,
com o resto da população lituano-polonesa e ucraniana, de graves condições socioeconômicas após
as invasões estrangeiras e guerras internas. Todavia,
devido aos desenvolvimentos místicos internos que
geraram o sabatianismo e o chassidismo, a comunidade judaica perseguida inesperadamente encontrou-se dividida internamente pela primeira vez no
período moderno. Esse foi um período no qual a
liderança rabínica tradicional estabelecida [conhecida como mitnagedim – opositores] perseguiu
aqueles que não aceitavam a autoridade normativa
que representava a aceitação da vida no exílio. Os
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perseguidos eram os que acreditavam no sabatianismo, que escolheram seguir as novas crenças messiânicas expressas na Cabala e que eram refletidas
em lideranças carismáticas que ofereciam um novo
mundo messiânico, bem como os seguidores de
Israel Baal Shem Tov, que escolheu as novas maneiras místicas e lideranças espirituais que ofereciam uma nova visão de mundo que negava as distinções comuns. Ambos os grupos foram constituídos informalmente por membros que se uniam
a eles livremente e que criaram pequenas comunidades alternativas que confiavam nessas novas fontes de inspiração para autoridade mística e novas
formas de liderança carismática. Os novos grupos,
encabeçados por místicos, pessoas que veem a vida
interior como da maior importância e que passam
a “conhecer Deus” através de uma experiência interna, não pediram permissão nem buscaram reconhecimento das lideranças rabínicas tradicionais
eleitas em suas comunidades. O historiador Israel
Halperin, editor do The Records of the Council
of the Four Lands [Pinkas va’ad arba artsot][Acta
congressus generalis Judaeorum regni Poloniae 15801764], Jerusalém 1945, que apresenta um delineamento maravilhoso da complexidade da vida judaica à época da disseminação do sabatianismo e
do crescimento do chassidismo, bem como autor
de Jews and Judaism in Eastern Europe, Jerusalem
(1969), observou que menos de 1% de todos os
membros da comunidade judaica eram elegíveis
para participar nas eleições ao conselho da comunidade, responsável pela nomeação dos seus líderes
religiosos e laicos. Esses líderes eram os membros
das famílias mais ricas e da elite educada que se
casavam entre si, que podiam pagar os mais altos
impostos, o que era uma condição prévia para participar na eleição.6 Assim que a liderança eleita tradicional deu-se conta de que novos círculos estavam buscando formas alternativas de organização
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relacionadas a ensinamentos místicos, e assim que
entenderam que uma liderança carismática paralela, nutrida por esperanças messiânicas estava sendo
formada nesses círculos, ela própria começou a
combatê-los agressivamente.
[A] Muitos judeus que seriam conhecidos como os seguidores de Sabbatai Zevi, ou sabatianos,
acreditavam que a única resposta à trágica situação
no duro período entre 1648 e 1768 era ver os eventos traumáticos como um período de dores do
parto messiânico que dera à luz Sabbatai Zevi como o messias que revelou tanto uma nova Torá
messiânica, mas também aquele que concedeu nova esperança messiânica para os sobreviventes desamparados. Após a morte de Sabbatai Zevi, a crença na nova era messiânica, bem como nas novas
leis implicadas em tal evento, foi disseminada por
seu cunhado Jacob Kerido (nos últimos 25 anos
do século XVII), o irmão mais moço da última esposa de Zevi, Yocheved Philosoph, por seu filho
Bruchia (nos últimos anos do século XVII e nas
primeiras duas ou três décadas do século XVIII).
A maioria dos crentes que disseminaram o sabatianismo eram rabinos e cabalistas. Eles incluíram
Nathan de Gaza, Rabino Shlomo Florentin e Rabino Joseph Philosop de Salônica, Rabino Hayim
Malakh de Kalish (Kalisz), Rabino Yehuda Hasid
de Shedlitz (Siedlce), Rabino Nehamia Hayon de
Sarajevo, Rabino Shlomo Ayilion de Amsterdam
e Rabino Shmuel Primo de Adrianópolis. Alguns
dos seus alunos formaram pequenos círculos sabatianos dentro da comunidade judaica ucraniana
na primeira metade do século XVIII, sob a liderança de Rabino Haym Malakh de Kalish ou Moshe
Meir de Kaminka, Yacob Vilna, Elisha Shor de
Rohatyn, Rabino Zeev Wolf de Nadvorna [Nadworna], Rabino Eliezer de Aziran [Jezierzany], Rabino Fischel de Zlotchov [Zloczow], Rabino Shlomo Krakower, R. Moshe David de Podhajce, R.
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Jacob de Galina, R. Nahman de Busk e Jacob Frank
(SCHOLEM, 1974, p. 68140). Alguns dos professores sabatianos acima mencionados, na Podólia,
eram antigos alunos de professores sabatianos distinguidos nas comunidades judaicas da Moravia.
Os professores sabatianos notáveis na Moravia, em
Prosnitz [Prosciejow] e Praga foram Rabino Nehemia Hyon, Rabino Yehudah Leib Prfosnitz e Rabino Jonathan Eibeschuetz.
[B] A resposta rabínica de dentro da sociedade
tradicional foi imediata e severa, ao confrontarem
e oprimirem os crentes messiânicos em todos os
lugares através da proscrição e excomunhão direta
a partir da segunda década do século XVIII. As excomunhões daqueles que acreditavam em Sabbatai
Zevi começaram em 1713, continuaram com a luta contra Rabino Jonathan Eibeschuetz (1690-1764),
um importante estudioso talmúdico que nasceu
na Polônia, foi criado em Prosnitz na Moravia e
ensinou na Yeshiva Central de Praga. Eibeschuetz
era um estudioso talmúdico distinguido e um líder rabínico notável. Serviu como o rabino de Metz
em 1740-1750, e foi rabino das três comunidades
alemãs unidas de Hamburgo, Altona e Wandzibeck
entre 1750 e 1764. Era tido como um importante
professor sabatiano por seus colegas e alunos na
Grande Yeshiva em Praga. Eibeschuetz foi perseguido pela liderança rabínica da geração de 17261764, já que os rabinos perceberam que muitos dos
seus alunos em Praga voltavam para a Podólia e
Galícia, onde ministravam ensinamentos sabatianos orais e escritos atribuídos a ele. Os livros que
foram atribuídos a Eibeschuetz foram banidos em
Praga em 1726, e em Brody na Galícia, na fronteira da Podólia, em 1751, e seu autor foi excomungado na última década da vida de Israel Baal Shem
Tov, que foi ativo na mesma região geográfica durante o mesmo período.7 Outras perseguições foram instigadas contra o Rabino Moshe Hayim Lu-
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[21]
zatto na Itália e na Alemanha, nas décadas de 1730
e 1740, mais uma vez retomando as perseguições
contra Eibeschuetz nas décadas de 1740 e 1750. As
perseguições aos crentes sabatianos na Podólia e
na Galícia haviam alcançado um pico sem precedentes, quando os líderes rabínicos do “conselho
das quatro terras,” a mais alta autoridade da comunidade judaica na comunidade polaco-lituana
decidiu recrutar a ajuda da Igreja Católica e do governo ucraniano contras os crentes sabatianos lituanoucranianos liderados por Jacob Frank (1726
1791), a partir de 1755, buscando matar ou converter os seguidores, conforme foi detalhado em
The Records of the Council of the Four Lands,
mencionado acima. A liderança rabínica que deu
início àquelas perseguições e hostilidades contra
os seguidores da ideologia sabatiana na segunda
década do século XVIII incluía Rabino Moshe Hagiz de Altoona; Rabino Zvi Ashkenazi (Hakham
Zevi) de Altoona; Rabino Avraham Broda de Praga; na terceira década incluía Rabino David Oppenheim de Praga, Rabino Jacob Joshua Falk de
Lvov e Frankfurt, e Rabino Arie Leib de Amsterdam (anteriormente de Rzeszow), Rabino Jacob
Popers de Frankfurt; na quarta década as perseguições foram encabeçadas por Rabino Hayim Rapoport de Lvov; na quinta década por Rabino Yehezkel Landau de Praga e Rabino Shmuel Hillman
Heilpern de Metz (nascido na Polônia), Rabino
Yaacov Horowitz de Brody, Rabino Nathan Neta
b. Arie de Brody; na sexta década Rabino Yaacov
Emden de Altoona, o filho do Hacham Zevi) e
seus dois cunhados: Rabino Arie Leib de Amsterdam e Rabino Yitzhak ben Meir de Biali (Biala)
que era filho adotivo de Eibeschuetz; bem como
os três genros de Emden: Rabino Avraham Yoskes
de Lisa (Leszno), Rabino Avraham haCohen de
Zamotz (Zamosc) e Rabino Baruch ben David de
Bialy [Biala]. É significativo que todos os quatro,
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parentes do Rabino Jacob Emden, que era o digno
adversário do Rabino Eibeschuetz, eram os quatro
líderes “do conselho dos quatro países”, em meados do século XVIII, no mesmo período em que
os sabatianos que eram os alunos de Eibeschuetz
e seus seguidores foram excomungados na década
de 1750, quando o chassidismo tinha alcançado
uma posição pública sob a influência de Israel Baal
Shem Tov. O único líder judaico em meados do
século XVIII que expressou um forte ressentimento em relação às perseguições rabínicas aos sabatianos em 1756-1759 foi Israel Baal Shem Tov.
[C] A terceira maneira foi o movimento chassídico, que foi fundado em meio às perseguições
contra os sabatianos. Israel Baal Shem Tov nasceu
de pais idosos que tinham sido prejudicados pelas
circunstâncias trágicas da segunda metade do século XVII, e ficou órfão cedo na vida, alcançando
a maturidade no início do século XVIII. Ele cresceu fora dos círculos normativos da comunidade
judaica local, e afirmava que nunca tinha estudado
em qualquer escola e não tinha tido um professor
formal. Sabe-se de documentos relacionados às duas
primeiras décadas do século XVIII que as catástrofes acumuladas do século anterior tinham causado
a devastação de escolas em toda a Ucrânia, e muitas crianças nascidas na virada do século não tiveram ensino segundo qualquer ordem tradicional
normal. O Baal Shem Tov foi singular no sentido
de afirmar que tudo que ele sabia lhe fora ensinado for um mentor celeste, o profeta bíblico Ahiya
HaShiloni (I Reis 11, 29-30), que foi descrito no
Talmud (BT Bava Batra 121a), no Zohar (Zohar
Hadash, Gen. 29b) e na introdução à Mishne Torá
de Maimônides, como uma pessoa que transcendera as fronteiras normais da vida e da morte, ao
mesmo tempo que fazia parte da cadeia de transmissão da Torá. Os primeiros alunos de Israel Baal
Shem Tov de fato relataram essa circunstância ex-
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traordinária das aulas místicas, nos seus escritos
posteriores sobre seu professor. Israel Baal Shem
Tov não escreveu livros e deixou apenas algumas
poucas cartas atestando a sua capacidade de transcender as fronteiras de tempo e lugar. Ele ensinou
uma nova visão mística do mundo, baseada em
parte em uma literatura mística judaica autobiográfica anterior, escrita no século XVI, depois da
expulsão da Espanha, mas posteriormente fundada
nas suas próprias percepções radicais originais, inspiradas por sonhos e experiências místicas. Autoridades rabínicas distinguidas e sábias, como Rabino Yaacov Yoseph de Polonnoye [Polonne] (17041782), que oficiara como rabino nas comunidades
importantes da Podólia, Rabino Meir Margaliot
(1713-1793), a maior autoridade rabínica na Volhynia e Rabino Dov Baer de Mezhirech (Mredzyrzec),
notável pregador na Volhynia, conheceram bem
Israel Baal Shem Tov no final da década de 1720
ou no início da década de 17308 e nas décadas de
1740 e 17509 aceitaram-no como seu mentor inspirador, professor espiritual, e registraram os seus
ensinamentos místicos nos seus livros, apesar do
fato de faltar-lhe qualquer educação formal e não
possuir qualquer autoridade reconhecida.
Israel Baal Shem Tov formulou uma série de
ensinamentos místicos e argumentos paradoxais
descrevendo as relações entre a realidade visível e
o mundo invisível, ou entre a experiência compartilhada revelada e a experiência interior oculta. O
pensamento místico pressupõe que os mundos mais
elevados e inferiores estejam interligados, e que
exista um significado oculto para todas as dimensões da realidade revelada. Ele ensinou que a presença divina invisível oculta por detrás do mundo
revelado, como a alma no corpo, está constantemente criando o mundo e precondiciona a própria
existência de cada momento de realidade. Ele discutiu ainda que a existência visível nada mais é do
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que uma ilusão quando percebida sem reconhecer
a fonte viva divina que a cria e a mantém constantemente. Ele afirmou que o mundo inteiro é um
meio da presença divina, ao mesmo tempo em que
acentuou a presença de Deus em cada letra do texto escrito sagrado, já que, de acordo com a doutrina mística judaica, a fonte da linguagem é divina.
Israel Baal Shem Tov afirmou que a terra toda está
universalmente repleta de glória divina infinita,
que todos os lugares estão igualmente repletos de
centelhas divinas, que cada letra está repleta de
conteúdo divino infinito ou luz divina iluminadora e sentido infinito, e que cada judeu que se
concentra nessas suposições pode encontrar Deus
em todos os lugares, em todos os momentos, em
todos os lugares, dentro de cada palavra e cada frase, através de cada pensamento e cada ato, sem
quaisquer precondições ou limitações. Esses ensinamentos foram ouvidos na segunda parte do século XVIII por seus alunos e seguidores, e foram
explicados detalhadamente em manuscritos, cartas
e livros impressos na terceira parte do século XVIII.
Os livros dos alunos diretos de Israel Baal Shem
Tov incluíram Jacob Joseph de Polonnoye, Toledot
Ya’akov yosef (Korets [Korzec], 1780); Dov Baer de
Mezhirech, Magid devarav leya’akov (Koretz, 1781);
Jacob Joseph de Polonnoye, Ben porat yosef (Korets, 1781); Aaron ben Tsevi Hirsch Kohen de Opatow [Opatow], Keter shem tov (Zolkiev [Zolkiew]
1784); [Anônimo] Tsava’at harivash vehanhagot ye
sharot (Zolkiev 1793) e outros escritos dos alunos
de seus alunos. Na mente dos seus seguidores chassídicos nos séculos XVIII e XIX, a reputação de Israel Baal Shem Tov elevou-se além dos limites da
realidade histórica e adquiriu um status mitológico, sem limitações de tempo, lugar, registro escrito
ou evidência biográfica. Pouco tempo após a sua
morte, os fatos históricos conhecidos da sua vida
– baseados em parte em testemunhos diretos e em
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The Origins of Hassidism
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parte em fontes escritas – entraram nas tradições
orais que circulavam nos anos 1760 e 1770, e se
fundiram com as tradições místicas chassídicas na
literatura homilética que começou a aparecer a partir de 1780. Continuaram a ser registrados por escrito nas décadas que se seguiram e foram publicados na literatura hagiográfica em louvor do Baal
Shem Tov que começou a aparecer após 1814.
À medida que se disseminava o chassidismo, as
dimensões míticas do Baal Shem Tov se expandiam
na forma de tradições registradas pelas primeiras
gerações dos seus discípulos, relacionadas com os
seus ensinamentos e sua perspectiva, sua personalidade carismática, suas práticas místicas, sua habilidade de iluminar o mundo oculto, e seu talento como “mestre do Nome”, com o poder de curar
através do seu contato com o sagrado, entraram
nas narrativas orais. Fontes escritas atestaram a
“nova maneira pela qual ele iniciava na adoração
a Deus”, seu legado direto e indireto como inovador religioso, e sua habilidade no uso de parábolas
para comunicar mensagens religiosas. As várias tradições a seu respeito rapidamente alimentaram umas
às outras, numa torrente que crescia continuamente e obscurecia a linha entre fantasia e realidade.
O fundador do chassidismo foi levado a aniquilar a experiência existencial dos seus contemporâneos e liberá-los das duras restrições da realidade. Contra a situação de desamparo deles, nessa
época e lugar, ele afirmava que “toda a pessoa deveria perceber-se como membro do mundo superior” e como associado da comunidade angelical
descrita na literatura mística, adotando a perspectiva divina e imitando o comportamento angelical.
Ele argumentou que “O Homem é uma escada
plantada sobre a terra, cuja cabeça alcança os céus
e os anjos de Deus sobem e descem nele” (JOSEPH,
1780 [1973, p. 50]. Ele afirmou ainda que todas as
coisas existem dentro de uma unidade de opostos:
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cada manifestação material é animada por uma
fonte divina invisível e possui uma manifestação
tangível que poderá revelar a raiz divina e assim a
divindade é transformada em uma entidade perceptível, e ainda mais, toda manifestação é ilusória, se não for iluminada pela única entidade verdadeira da presença divina. A presença divina infinita que anima a realidade é chamada de infinito
( אין סוףein sof; o que não tem fim), ou abreviadamente, ( איןayin) e a realidade corpórea tangível
que oculta a sua raiz divina é chamada de ser, ou
( ישyesh). Contudo, a afirmação hassídica é dialética: o único ser verdadeiro é o ser divino invisível,
enquanto que o mundo físico percebido exclusivamente pelos sentidos é nada. Ser e nada no chassidismo são conceitos dialéticos e transformativos;
do ponto de vista divino há apenas o ser divino
infinito ( איןayin) destituído de qualquer presença
tangível independente, enquanto que do ponto de
vista humano limitado (“os olhos da carne”) existe apenas o ser material corpóreo (yesh )ישsem
qualquer presença divina. Correspondente a essa
unidade de opostos de ser e nada, o esforço humano, segundo o ensinamento chassídico, é duplo:
“ha’alah” ( העלאהelevação) e hamshacha ( המשכהpuxar para baixo), isto é, elevação do ser para o nada
infinito, através dos “olhos do intelecto”, envolvido em contemplação e unificação com Deus; e puxar para baixo o nada infinito para o ser através
dos mandamentos assistidos pelos “olhos da carne”. Esperavase de todo seguidor do chassidismo
que tentasse vencer os “olhos da carne”, a fim de
transformar o ser corpóreo em nada através dos
“olhos do intelecto”, assim percebendo a presença
divina; e transformar o ser divino infinito conhecido como nada ( סוףou )איןAyin ou Ein Sof) em
um ser tangível ( ישyesh), através do seu trabalho
na Torah e Mitzvot que eleva a percepção dos “olhos
da carne”. A primeira fase, transformar um ser tan-
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The Origins of Hassidism
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gível em nada através do esforço espiritual, é chamada de “aniquilação do ser” e de “desvinculação da
corporalidade” (bittul hayesh hafshata migashmiut
)ביטול היש הפשטה םגשמיוח. Seguir esse ideal levou o
homem “a ver a si mesmo como se não fosse [...]
pensar que ele não faz parte desse mundo” (ANÔNIMO, 1793 [1975], p. 17), ou, como é dito em
uma formulação sem ambiguidade, “O Homem
deve ver-se como nada e esquecer a si mesmo inteiramente” (BAER, 1781 [1976, p. 186]). A segunda fase, transformar o infinito divino em uma presença física através da adoração corpórea humana,
é chamada de adoração divina através dos mandamentos, ou puxar para baixo a abundância divina,
(hamshachat hashefa )חמשכת השפעou abreviadamente, hamshacha.
Israel Baal Shem Tov, que foi descrito por seus
alunos como uma pessoa “que está acima deste
mundo e além da ordem do tempo”, era um místico que se interessava em borrar ou obscurecer as
fronteiras entre as dimensões espiritual e material
da existência, bem como em transcender as fronteiras entre a presença divina e a consciência humana. Ele tentou libertar seus seguidores da servidão
da realidade, colocando-os em uma situação de ver
as coisas de maneira nova, na qual o divino ilumina constantemente o profano, e o mundano anseia
constantemente pelo divino. Na consciência chassídica, a presença divina existe em todos os lugares,
cada vez, cada palavra e cada pensamento, e vice-versa, cada manifestação concreta é percebida como o ocultamento do ser divino que o sustenta. A
fim de consolidar essa nova consciência o Besht’t
afirmou repetidamente que “A terra toda está cheia
de sua glória, e não há lugar onde ele não exista [...]
a divindade está em todo lugar” (BAER, 1781 [1976],
p. 240). Essa afirmação radical de onipresença divina trouxe com ela a obrigação de uma ligação
com Deus em todos os momentos e de todas as
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formas, bem como uma exigência total de desvinculação da corporalidade e separação do ponto de
vista vantajoso existencial: “O homem íntegro, temente a Deus [...] lembra a todo o momento diante de Quem ele se encontra e se despe da corporalidade como se ele estivesse acima deste mundo e
além da ordem do tempo” (WOLF, 1798 [1968], p.
39b). Ao abandonar a distinção entre o nível superior e inferior da realidade, a suposição de onipresença divina fechou a lacuna entre Deus e o homem.
O Homem está ligado à realidade divina – concebida variavelmente como centelhas, letras, Shekhi
nah (presença divina), Sefirot (esferas divinas) e luzes – de uma série de maneiras, assim obscurecendo
a distinção entre o humano e o divino. A ideia de
que toda a existência física requer a presença divina
constante – que Deus é a essência que anima a forma física – exige reconhecimento da abundância
infinita da vitalidade divina que flui através de todas as dimensões do mundo físico. Deus está presente em tudo, em cada ato, em cada fala ou pensamento. Levado a extremos, essa posição destitui
de significado o conceito de realidade como separado de Deus: tudo é divindade. “Assim os mundos
não mantêm em Deus qualquer substância do aspecto de sua verdade, na medida em que não há
nada além dele” (HALEVI, 1821 [1970], vol. II, gate 2, chap. 22, p. 42b). A fim de esclarecer essas
ideias a respeito da totalidade da imanência divina
e a-cosmismo consequente, Israel Baal Shem Tov
introduziu doze conceitos relacionados e sobrepostos que buscavam criar uma mudança total na consciência humana. Alguns desses conceitos, formados
a fim de instruir os seus seguidores a respeito da
nova maneira contemplativa e adoração espiritual,
eram conhecidos a partir de escritos místicos anteriores que eram mantidos apenas entre os poucos
selecionados; outros eram de sua própria inspiração
original. Contudo, a inovação chassídica foi a in-
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trodução de um novo significado para o vocabulário místico existente, destinado pela primeira vez
a ser utilizado e praticado por todos os homens da
comunidade judaica sem qualquer precondição ou
restrição. O denominador comum desses novos ensinamentos, conforme inicialmente introduzidos
durante o período de 1735-1780, aqueles com os
quais o Baal Shem Tov, o Maggid the Mezhirech e
Rabino Jaco Joseph de Polonnoye lideraram, ensinaram e escreveram, mas não publicaram, bem como as tradições variadas que emanavam dos trabalhos publicados nos 35 anos que se seguiram (17801814) pelos professores de chassidismo, foi um senso de inspiração mística e despertar espiritual que
gerou uma expansão crucial do conceito de culto
religioso e responsabilidade social.
As ideias chassídicas eram influenciadas pela
literatura mística anterior, conforme será observado abaixo; contudo, enquanto que a cabala relegava as práticas místicas a uma pequena elite que se
separava da comunidade e seguia um modo de vida piedoso a fim de dedicar-se a questões sagradas,
o Baal Shem Tov via todo judeu como tendo o potencial místico de reconhecer a essência divina animadora que pervade tudo. Seus alunos disseram
repetidamente que, assim como Deus está presente
igualmente em todos os lugares, assim todos poderão igualmente aproximarse de Deus através dos
seus pensamentos e alcançar uma unidade com ele:
“Todo judeu que contempla [...] como Deus literalmente preenche os [níveis] superior e inferior,
e o céu e a terra, literalmente, o universo todo está
literalmente cheio de sua glória” (ZALMAN, 1797
[1980], p. 120). “Todo o mundo deve orar a Deus
em todas as Suas dimensões, pois tudo é por amor
ao Altíssimo, porque Deus quer ser servido de todos os modos [...] Deus pode ser servido em tudo”
(ANÔNIMO, 1781 [1976], p. 1c). Esse conceito,
que via em cada pessoa “uma porção divina de aci-
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ma” (BAER, 1781 [1976, p. 62]), que afirmava que
“tudo foi criado na terra abaixo para fazer coisas
grandiosas e maravilhosas [...] para dar a entender
que há um mundo superior” (HACOHEN, 1938/
1975, p. 24), e que não hesitava em dizer que “todo o mundo pode alcançar o nível do nosso professor Moisés de abençoada memória” (ANÔNIMO,
1781 [1976], p. 1c), refletia uma nova percepção
do homem e uma nova percepção de igualdade e
liberdade como parte de um ponto de vista que derrubou as hierarquias convencionais que discriminam entre diferentes pessoas”, com diferente acesso
ao estudo da cabala e a diferentes formas de culto.10
Israel Baal Shem Tov cunhou os doze seguintes
conceitos místicos que se destinavam a serem entendidos, praticados e compartilhados igualmente
por todos os homens da comunidade, e através de
todas as formas de culto, em virtude da afirmação
radical de que Deus, que enche o universo com Sua
glória está presente no pensamento humano e na
fala humana, assim “Deus quer ser servido de todas as formas [...] Deus pode ser servido em tudo.”
DEVEKUT (unidade com o Santificado, lit. apego ou adesão a Deus) é uma instrução que exige
total devoção a Deus, até o ponto de renunciar às
realidades do mundo material e transcender nosso
próprio Eu a fim de entrar no domínio do nada e
alcançar a verdadeira unificação com o divino através de níveis mais elevados de compreensão espiritual. A seguinte definição de adoração divina dada
pelo Maggid de Mezhirech, o principal aluno de
Israel Baal Shem Tov, consegue transmitir a reorientação desejada no reino da consciência religiosa: “Uma pessoa deve retirarse de toda corporalidade, até o ponto de ascender através de todos os
mundos e alcançar a união com o Santo, Bendito
seja Ele, até que seja transcendido e então é chamada de homem” (BAER, 1781 [1976, p. 38]). O autor explicou a possibilidade do apego humano ao
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divino devido à total presença divina em cada lugar, cada fala e cada pensamento: “Em verdade,
aonde vão nossos pensamentos é onde se está. Em
verdade, a Sua glória enche toda a terra e não há
lugar onde Ele não esteja. Em todos os lugares onde está o homem, é onde ele encontrará apego [atta
chment, devekut] ao criador no lugar onde ele está,
pois não há lugar vazio d’Ele [...] em todos os lugares está a divindade” (BAER, 1781 [1976, p. 38]).
Israel Baal Shem Tov e seus alunos fizeram da unidade mística uma orientação diária para seus seguidores quando proclamaram: “Devemos sempre
estar ligados a Deus com um maravilhoso devekut
[...] E devemos saber que a nossa adoração e apego
ao Criador, bendito seja o Seu nome, pode elevar
todos os mundos.” (BAER, 1781 [1976, p. 240]).
PENSAMENTO. Em virtude da sua fonte divina, o pensamento humano consegue vencer os
limites da percepção física e reconhecer o nada infinito essencial em ser. “Através do pensamento, o
homem pode alcançar grandes concepções sem limites, pois o pensamento também é infinito” (ELIMELEKH, 1788 [1952], p. 25a). O Baal Shem Tov
afirmava que “quando se pensa sobre o mundo
superior, está-se no mundo superior, pois onde estão os pensamentos da pessoa, é lá que está a pessoa” (ANÔNIMO, 1781 [1976], p. 224). De acordo
com esse ponto de vista, a habilidade de atingir a
perspectiva divina sobre o universo depende unicamente da mente humana. Como um poder divino, o pensamento consegue penetrar até a verdade sob e além das aparências: “O Homem deve
acreditar que a glória de Deus preenche a terra, e
todos os pensamentos humanos contêm o seu ser
e cada pensamento apresenta uma entidade divina” (JOSEPH, 1798 [1971, p 50a]). O pensamento
humano criativo, expresso linguisticamente, integrando a abstração e faculdades sensuais e imaginárias, é infinito e, em virtude de sua infinitude,
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é idêntico à infinita criatividade do divino.
LETRAS. O Baal Shem Tov afirmava que a infinitude da linguagem em geral e cada letra do
idioma sagrado, especificamente, são a localização
mais obvia da presença divina. Na sua famosa carta a seu cunhado, conhecida como “A Epístola Sagrada”, escreveu que “cada letra contém mundos
e almas e divindade” (JOSEPH, 1798 [1971, p 128a]).
Ele afirmou ainda que cada palavra é uma unidade de opostos contendo um sinal revelado [tevah
= letra/palavra e arca] e um significado misterioso
[janela]. Seus alunos explicaram: “Ouvi no nome
do Baal Shem Tov que fazer uma janela na arca [de
Noé] [tevah] significa fazer uma janela a partir da
palavra [tevah] de Torá e oração, para olhar através
dela do início do mundo até o seu fim” (WOLF,
1798 [1968], p. 57). Cada palavra pode ser uma
‘janela’ que permite que a luz da infinidade divina
que dá vida, brilhe através dela e revele que coisas
percebidas pelos sentidos como sendo discretas,
em realidade fazem parte da totalidade divina. A
luz infinita da vitalidade divina no universo, suas
centelhas representadas nas letras do idioma divino, é apreendida pelo homem através da linguagem. Linguagem, no pensamento chassídico, é a
unificação do abstrato e do concreto, o significado
infinito e o sinal finito da letra como unidade dos
opostos: “Afirmamos este princípio: não há lugar
vazio Dele e Sua glória enche toda a terra, e todas
as falas que são ditas ou ações empreendidas, por
necessidade contêm as letras da Torá e centelhas
sagradas que as animam” (WOLF, 1798 [1968], p.
126b). Rabino Ya’acov Yosef, o principal expoente
e escritor dos escritos do Baal Shem Tov, explicou
a ligação entre o poder divino de criar e o poder
humano de abstrair, que estão ligados através das
letras da linguagem divina que unem o oculto ao
revelado: “Pois assim como há vinte e duas letras
da fala e Torá e oração, assim em todas as questões
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materiais e físicas no mundo há vinte e duas letras
através das quais o mundo e tudo que está nele foi
criado. Dentro dessas letras habita o espírito divi
no, pois a Sua glória enche toda a terra e tudo que
contém, e não há lugar vazio Dele, apenas há ocultação, mas quando aqueles que sabem estão conscientes dessa ocultação, não é mais ocultação” (JOSEPH, 1781 [1971, p. 22b]).
A tradição chassídica muitas vezes cita as palavras do Baal Shem Tov a respeito da linguagem
criativa comum a Deus e ao homem, a fonte divina das letras e suas eternas forças vivificadoras. “É
das letras sagradas que derivam a raiz e a animação
do homem.” Pois aquilo que há na realidade obtém o seu ser e sua existência apenas das letras, a
partir das quais foram criados o céu e a terra, e
tudo que eles contêm. Como se sabe muito bem,
o Baal Shem Tov explicou o verso “Sempre, ó Deus,
a Sua Palavra está no céu” (Ps. 119) significando
que, mesmo agora, toda a vida da criação e toda a
existência nascem das letras sagradas que são a palavra de Deus sempre presente no céu para darlhes
vida. Pois, senão, tudo voltaria ao caos, já que não
teria sustento (HACOHEN, 1938/1975, p. 16).
O poder de criar a realidade através do fluxo
de letras do infinito para o finito, do nada para o
ser, do espiritual para o físico, do inconcebível para aquilo que pode ser apreendido, não é o domínio exclusivo da divindade. Deus criou e continua
a criar o mundo através da fala e da permutação
de letras, ao inscrever, talhar e combiná-las conforme registrado no Sefer Yetsirah; mas o homem
também combina letras para criar palavras através
da linguagem, gerando em sua mente novos significados e permutações que expandem os limites da
compreensão e as profundezas do espírito. As letras que compreendem a linguagem podem ser consideradas uma coincidência de opostos; espiritual
e físico, abstrato e concreto, oculto e visível, trans-
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bordam de significado e, contudo, são essencialmente limitados no seu poder de expressar o infinito ilimitado, sem o sinal comunicativo concreto.
BITUL HAYESH (lit. “negar o ser” ou “nulificação do ser”) é o esforço de transcender a realidade física a fim de descobrir o elemento divino que
o anima. Israel Baal Shem Tov formulou esta abordagem na sua famosa “parábola das barreiras”:
“Houve um rei sábio e grande que fazia tudo através de ilusões, paredes e torres e portões [...] quando o seu filho amoroso fez um grande esforço para chegar ao seu pai, o rei, e então viu que não ha
via barreira que o separava do seu pai, pois era
tudo ilusão. Pois quando se sabe que a glória de
Deus enche toda a terra, e que todo movimento e
pensamento vem Dele, então, com esse conhecimento todas as agências maléficas desmoronam,
pois não há barreira ou cortina que separa o ho
mem Dele [...] já que toda ocultação é apenas uma
ilusão. Em verdade, tudo vem da Sua substância.”
(JOSEPH, 1798 [1971, p 70c; ver p. 111]) O indivíduo deve esforçar-se para entender que a corporalidade que parece separálo de Deus é irrelevante.
O elemento físico manifesto é ilusório; apenas o
ser divino infinito oculto é autêntico; Deus é a essência do ser, a única existência autônoma. Donde
o chamamento chassídico a “distanciar[se] da fisicalidade e imaginar que se é apenas animação divina [...] e perceber a fonte superior de todas as
coisas” (BAER, 1781 [1976], prefácio, p. 6). Rabino
Schneur Zalman de Lyadi, um dos principais alunos do Maggid de Mezeritch, explicou isso claramente: “O principal elemento de culto (worship)
a ser desenraizado do lugar da gente, da apreensão
sensual humana, unicamente para entender a verdade desvestida [...], isto é, acostumar-se a contemplar a espiritualidade vivificante [...] A principal
apreensão [...] de que toda a realidade e sua apreen
são são nada, e que é a origem de todo o culto
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(worship).”11 Seu principal aluno, Rabino Aharon
Halevi de Staroselye, explicou essa posição mística
em maiores detalhes: “O principal motivo para alcançar a auto-aniquilação é que uma pessoa deve
realmente se tornar como nada, isto é, não deve
conhecer ou sentir qualquer essência dentro de si
mesma [...] pois a sua essência não tem nenhuma
significância para ela, e ela na verdade torna-se um
vaso preparado para a aceitação da revelação, em
si, de Sua substância abençoada” (HALEVI, 1842
[1972], p. 58b).
NEFESH ELOHIT (lit “alma divina”) ou “olho
do intelecto”. A alma divina, que todo judeu possui potencialmente, esforça-se para elevar tudo ao
nível espiritual, para remover a materialidade a fim
de revelar o elemento divino subjacente à manifestação concreta. Todo indivíduo também tem um
nefesh behmit (lit. “alma bestial”). A alma bestial,
também conhecida como “o olho da carne,” busca
a descida para o mundo material, para converter
o espiritual no físico, em uma tentativa de distanciarse de sua fonte. “Pois se sabe que há duas almas em cada homem, uma alma divina e uma alma bestial [...] A essência da alma é intelecto. Pois
a essência da alma divina é intelectual, e está constantemente contemplando e percebendo a luz do
Infinito abençoado; não tem outra percepção. Os
atributos de amor e medo nascem do intelecto e
daquela percepção, e são chamados de bom impulso. Semelhantemente, a essência da alma bestial é
que ela aplica o seu intelecto à percepção da corporalidade desse mundo e de sua matéria. Esse é
o oposto da alma divina, pois a alma que está vestida na sua preocupação corporal realmente é o
oposto do intelecto da alma divina, que é o equivalente da sabedoria mais elevada...” (ZALMAN,
1836 [1978], p. 75).
HAFSHATAT HAGASHMIYUT (lit. “desvinculação da materialidade”, “remoção da corpora-
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lidade”). Um processo que expressa o desejo da
alma divina de transcender a corporalidade por
meio da oração e contemplação e descobre o elemento divino que a anima. “O homem são, temente a Deus, [...] lembra a todo o momento diante
de Quem está, e se desveste da corporalidade como
se estivesse acima desse mundo e além da ordem
do tempo” (WOLF, 1798 [1968], p. 39b). A palavra
olam (mundo; corporalidade; materialidade) é derivada homileticamente de he’elem (ocultamento);
desse ponto de vista, o mundo é apenas um ocultamento da luz divina que torna possível a sua
manifestação. É o elemento divino oculto que anima a realidade revelada; o elemento físico é meramente uma manifestação material que permite a
percepção da realidade divina oculta. Essa consciência afetou a instrução hassídica comum: “Este
é o caminho que um homem deve escolher para
si; em qualquer lugar onde ele olhe ou escute, que
ele veja e ouça nada mais do que a divindade vestida lá dentro” (WOLF, 1798 [1968], p. 7b).
HISHTAV’UT (lit. equanimidade ou indiferença). A equanimidade é um estado ascético no qual
todos os valores e conceitos relacionados à existência concreta deverão ser considerados destituídos
de significado. A exigência chassídica é que todo
seguidor trate todas as dimensões da vida material
com equanimidade completa: “Equanimidade é
um grande princípio, significando que deve ser o
mesmo para ele se ele é considerado como ignorante ou como versado na Torá inteira. Isso é causado pelo devekut regular no Criador, abençoado
seja o Seu nome, de modo que, por causa de sua
preocupação com o devekut, ninguém tem tempo
de pensar sobre essas questões, na medida em que
sempre se está preocupado com ligar-se em nível
elevado a Ele” (ANÔNIMO, 1781 [1976], p. 32,
seção 10). Israel Baal Shem Tov instruiu os seus
seguidores a ligar essa prática constante a um ver-
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so bem conhecido que inclui a palavra sempre;
“Ele diz, ‘eu coloquei [shiviti] Deus diante de mim,
sempre’ [Ps. 26:8]. Shiviti implica equanimidade
[hishtav’ut]. Qualquer coisa que ocorrer deve ser
igual para Ele, que as pessoas O louvem ou desprezem, e assim também com todas as outras coisas [...], deixe o seu pensamento prender-se ao [mundo] mais elevado [...] e que não se considere de
nenhum modo os assuntos deste mundo, e que
não se pense nada a respeito deles, a fim de separar-se da corporalidade [...]. Pense-se que se é filho
do mundo superior, e não se deixe que todos aqueles seres humanos que habitam este mundo tenham
importância a seus olhos, pois todo esse mundo
não é mais do que uma semente de mostarda comparado ao mundo superior. Assim, ele não deve
importar-se que o amem ou odeiem, pois seu amor
e ódio não é nada” (ANÔNIMO, 1781 [1976], p.
2, seções 5-6).
HITBONENUT (lit. contemplação). A meditação sobre a presença divina que é subjacente a manifestações físicas a fim de ver em tudo “sua suprema raiz e fonte”. A fim de meditar é necessário
lembrar que nenhum aspecto da realidade pode ser
aceito por seu valor nominal, pois cada manifestação da realidade oculta a sua essência divina. A
existência física é tão somente algo que cobre a luz
infinita, um receptáculo contendo a luz divina. O
Rabino Zeev Wolf de Zhitomir, um dos alunos
mais distinguidos do Maggid, formulou a expectativa chassídica como foi apresentada pelo Besh’t:
“Não veja nada no mundo como aparece, e sim
levante os seus olhos para as alturas, significando
o aspecto de sua contemplação e estudo, para ver
apenas a divindade vestida em todas as coisas do
mundo. Pois não há nada além Dele, e deve haver
centelhas sagradas ocultas em todos os níveis do
ser, outorgandolhes vitalidade” (WOLF, 1798 [1968]),
pekudei, p. 85). Ele explicou ainda: “O princípio
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é aquele do homem sábio, cujos olhos estão em
sua cabeça (Ecles. 2:14), que fortalece o olho do seu
intelecto para despir-se da corporalidade [...] até
que ele adquira, dentro de si, uma clareza e pureza
de visão, de modo que sempre que ele olha e ouve,
vê apenas a espiritualidade vestida em corporalidade” (WOLF, 1798 [1968], pekudei, p. 84a).
AVODAH BEGASHMIYUT (lit. “Adoração através da corporalidade”). Esse conceito referese ao
nome para a busca da essência divina na natureza
multifacetada da realidade material ou a expansão
do culto religioso a todas as áreas da vida humana,
ao atribuir um significado religioso a todas as atividades profanas, em virtude do pensamento que
as ilumina e a intenção que as acompanha. A revelação da substância divina no ser requer o reconhecimento do seu nada essencial.
OLAM HADIBUR MEDABER BADAM (lit.
”O mundo da fala [= Shekhinah = presença divina
representando a comunidade eterna de Israel e a
lei oral] está falando através da boca de um ser humano”). O fundador do chassidismo afirmou, de
maneira sem precedentes, que todo ser humano
pode tornarse um vaso para a voz divina. Nos ensinamentos do Baal Shem Tov, as palavras faladas
do idioma sagrado da oração e da Torá se interseccionam com o plano divino do “mundo da fala’
(olam hadibur) conectado à Shekhinah; quando a
voz do homem é carregada do idioma sagrado, a
Shekhinah fala dentro dele. A fala divina e a fala
humana são intertecidas, pois o “mundo da fala”
é um tipo de caixa de ressonância através da qual
aquele mundo se comunica de dentro. Em outras
palavras, a fala humana manifesta recitando as Escrituras Sagradas ou textos sagrados é a revelação
concreta da voz divina oculta; a essência da luz
infinita dentro das letras é revelada na fala humana. A partir de outra perspectiva: quando uma pessoa anula a sua concepção independente e se trans-
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The Origins of Hassidism
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forma (yesh ou ani) em nada (ayin) então sua consciência é preenchida pelo espírito de Deus falando
nela; “Não está no céu” (Deut 30:12): Isto é sua
poderosa Shekhinah que o Santo transmitiu entre
nós, nas bocas do seu povo a casa de Israel, como
afirma o sagrado Zohar que a Shekhinah habita
na boca do homem” (ben DOV BER, 1851 [1973],
likutim, p. 52b).
KAVANOT (expressões de intenção mística) YIHUDIM (lit. “unificações”) são meditações místicas que buscam restaurar a unidade final do reino
divino que foi despedaçado no processo da criação
numa catástrofe cósmica conhecida como a “quebra dos vasos”, ou Shevirat ha’kelim. Esse conceito místico que transcende as fronteiras lógicas do
tempo e do lugar é relacionado à projeção cósmica
do exílio histórico no qual a comunidade de Israel
é banida do seu lugar no céu e igualmente na terra. O mundo divino é representado na imagem do
homem e da mulher separados, O santo abençoa
do seja e sua Shekhinah – a presença divina. O objetivo das unificações é de redimir a Shekhinah
cativa e exilada – a comunidade celeste de Israel,
com o Santo, abençoado seja. Yihudim são permutações de letras sem significado próprio – nomes
ou mnemônicos sem valor semântico, funcionando em linguagem ritual ou em amuletos, que foram recrutados para esse fim da redenção da Shekhi
nah. Ensinamentos chassídicos que exigiram de
todos os seus seguidores que pensassem constantemente sobre a presença divina cativa, a fim de
redimi-la através da sua contemplação e devoção,
tentam integrar a prática esotérica com o mundano: “Não há coisa grande ou pequena que esteja
separada Dele, pois Ele está presente em toda a
realidade. Portanto, a pessoa perfeita pode alcançar o Yihudim (unificações) supremo, mesmo nas
suas ações físicas, tais como comer e beber, e relações de negócios” (JOSEPH, 1781 [1971], p. 474).
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GADLUT (lit. grandeza de espírito) – uma mente aberta e visões expansivas geradas pelo distanciamento de preocupações mundanas e pela aproximação maior a Deus e senso de redenção; KATNUT (lit. irritabilidade), ou mesquinhez, gerada
por submissão às limitações da realidade que é
percebida quando se é um exilado. O fundador do
chassidismo discutiu que viver sem essa consciência mística da presença divina sempre-presente que
conclama o crente a viver conforme a resposta humana dupla descrita acima como Devekut (devoção total a Deus e à Shekhinah, até o ponto de renunciar às realidades do mundo material) com a
presença divina por um lado, e indiferença completa ao mundo corporal Hishtavut e bittul hayesh
(equanimidade e aniquilação do ser) por outro,
deixa-nos na obscuridade de uma realidade sombria do exílio governado por poderes diabólicos,
impondo lentes inferiores de percepção chamadas
katnut. O primeiro estado desejado de Devekut,
aquele que o Besh’t chamou de grandeza [gadlut],
é contradito com seu oposto, irritabilidade [kat
nut], imposta ao espectador que está aprisionado
dentro das limitações da realidade, refletida pela
tristeza e miséria relacionadas à servidão da existência. O Baal Shem Tov instruiu os seus seguidores a distanciar-se das fronteiras usuais da percepção governadas pelos sentidos e a afastar-se das
normas deste mundo, relacionando-se à realidade
percebida com total indiferença [hishtavut-] e concentrando-se sobre a presença divina iluminadora,
[gadlut], oculta dentro e além das restrições da realidade [katnut]. O novo mundo conceitual que ele
consolidara como resultado de sua percepção mística instruiu os seus seguidores a aderir ao ser divino e pensar sobre a Shekhinah, aniquilar o ser e
transformar a realidade em divindade, ignorar completamente a realidade material e preocupações normativas da vida no exílio e tirar da mente os cri-
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térios do mundo tangível, ao mesmo tempo em
que tentarem manter um estado exaltado de felicidade conhecido como hitlahavut e hitkashrut ou
entusiasmos e apego como expressão da sua indiferença em relação à servidão humana e às vãs restrições da realidade.
Israel Baal Shem Tov era admirado por seus
alunos como um ser humano singular que podia
transcender as fronteiras de tempo e lugar, ascender às esferas celestes, falar com o Messias e ouvir
a voz da Shekhinah; ele foi ainda descrito como
esperando que os seus seguidores ficassem em estado de felicidade exaltada, expressando sua libertação das preocupações terrenas. Todavia, nem sempre é lembrado que essas ideias místicas dirigidas
para a felicidade da libertação dos grilhões da vida
dura cotidiana foram ensinadas durante um dos
períodos mais sombrios da história judaica. Libelos de sangue eram iniciados contra as populações
judaicas da comunidade polaco-lituana, em números sem precedentes. Nos anos em que os pais do
Besh’t estavam vivos foram registrados seis libelos
de sangue: em 1675, 1680, 1683, 1689, 1694 e 1697.
Nos anos em que Israel Baal Shem Tov viveu (1698
1760), esses foram descritos pelo historiador Raphael Mahler, com uma frase incisiva: “O elemento político da reação católica trouxe imenso sofrimento e miséria aos judeus. Escravismo opressor,
libelos de sangue, perseguições e humilhações eram
o destino diário e a experiência comum dos judeus
na Polonia” (MAHLER, 1946, p. 329). Foram registrados 35 libelos de sangue, entre os quais; Sandomierz, 1698. 1710; Podhajce, 1699; Opatów 1706,
1713; Lovv 1710; Drohobyez 1718; Lub lin 1722;
Przemysl1722-1723; Lvov 1728; Posen 1736-1740;
Gniezno 1738; Zaslaw 1747; 1760 Swidowka 1748;
DonijGrad [Dunaugrod] 1748; Zytomierz 1751;
Sandz [Nowy Saez] 1751; Markowa WlicaZytomierz 1753; Jampol 17561760; (Stupnica) – Preze-
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mysl 1759; Grodno 1760; Wieclawice, 1761; Lutsk
[Luck] 1764.12
Janusz Tazbir, historiador polonês, que é um
destacado especialista em história polonesa antiga,
resumiu a situação trágica na esteira dos frequentes libelos de sangue no seu ensaio “Julgamentos
antijudaicos na velha Polônia”: “Pareceria que na
sociedade polonesa antiga o judeu era o que Leszek Kolakowski mais tarde chamaria de ‘um homem sem alternativa’. Ele podia ser trazido sumariamente ao tribunal como o alegado perpetrador
de assassinato ritual; na vida cotidiana ele era um
palhaço a quem todos, a começar com os moleques
de rua, podiam insultar e respingar de lama. O jesuíta Walenty Peski, respondendo à afirmação de
que a Comunidade de Nações dos Nobres era um
paraíso para os judeus, escreveu: “Eu fugiria de tal
paraíso se tivesse de vestir tais tapetes, pagar taxas
por qualquer trabalho pesado e sofresse perseguições até mesmo de crianças pequenas, como é o
seu destino na Polônia”. Na opinião de Peski, antes de comparar a Polônia com o Paraíso, os judeus
poderiam comparar a Polônia com o Egito Bíblico” (TAZBIR, 1998, p. 245).
Tazbir disse claramente: “No século XVIII, a
Polônia liderava as estatísticas de julgamentos de
assassinato ritual” (TAZBIR, 1998, p. 240); “Do
ponto de vista tanto da sociedade polonesa como
da população cristã em geral, os judeus pertenciam
a um grupo ao qual não se aplicavam as normas
da compaixão humana” (TAZBIR, 1998, p. 244).
Ele comentou ainda sobre os antecedentes religiosos da situação horrível e os libelos de sangue frequentes contra os judeus impotentes, que eram
rotulados como “os judeus cruéis”, no período da
“reação católica”; “A indignação contra ‘a nação
de matadores de Deus’ era inflamada pela crença
de que os judeus permaneciam cegos ao esplendor
da verdadeira fé em vez de fazer penitência por seu
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crime. Eles tinham cometido o pecado da ingratidão e, por isso, Deus, para quem ‘nada é mais feio
do que a ingratidão’, tinha se afastado deles e transferido a sua graça, entre outros, aos poloneses”
(TAZBIR, 1998, p. 235).
Israel Baal Shem Tov foi ativo, publicamente,
como aquele que curava o corpo e a alma, e como
um professor cabalístico e místico inspirador nas
décadas de 1740 e 1750, em um período que foi
definido pelos historiadores poloneses como “o
ápice da corrupção política e anarquia”, quando a
casa real de Vetten, a casa dos reis saxões da Polônia, que passavam a maior parte do seu tempo em
Dresden, estava perdendo a sua força, a nobreza
adquiriu direitos em nível sem precedentes, e fez
o que queria, e a Igreja Católica adquiriu poder
em nível sem precedentes, quando medidas antijudaicas severas tinham sido tomadas pelos bispos
da Igreja Católica na Comunidade Polaco-Lituana.
O vocabulário místico de Israel Baal Shem Tov,
discutido acima, foi muito afetado pela publicação
da autobiografia mística do Rabino Joseph Karo
(14881575), o famoso estudioso de Direito e místico de Safed, autor do Shulchan Aruch – O Có
digo da Lei Judaica. Karo manteve um diário pessoal entre os anos de 1533-1575, que ele nunca teve a intenção de publicar. O diário registra as palavras de uma voz divina que havia falado na consciência de Karo, introduzindose como a Shekhi
nah/Mishnah/neshama, unindo o nome místico
da presença divina, a lei oral e a alma de Karo. O
registro da sua voz interior fora publicado postumamente sob o título Maggid Meisharim, Lublin
1646, aludindo à palavra medieval Maggid, um
mentor angelical, e ao verso bíblico relacionado à
voz divina que tem a expressão Magid Meisharim
(Pregador da Justiça), Isaias 45: 19.
A voz divina ou o mentor angelical começou
a falar na consciência de Karo na véspera de Sha
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vuot de 1533, quando lhe chegou em Adrianópole,
na Turquia (WERBLOWSKY, 1965; ELIOR, 2007b,
pp. 267-319), a terrível notícia do martírio do seu
amigo Shlomo Molkho, queimado na fogueira em
Mantua, em novembro de 1532. A voz divina que
se apresentara simultaneamente como a voz da
Shekhinah, a presença divina de natureza feminina
na literatura cabalística, a comunidade eterna de
Israel e a representação celeste da lei oral, na consciência do maior aluno da lei em sua geração, delineou muito detalhadamente um mundo duplo
– por um lado havia um regime do mal represen
tando o exílio, o mal, o silêncio forçado e uma
existência absurda, governada pelo Diabo = Sitra
Ahra Samael, o príncipe da morte e da escuridão,
representando todos os poderes do mal conforme
expressos nas perseguições antissemitas da comunidade judaica europeia pela Igreja Cristã, isto é,
as frequentes deportações, banimentos e escravizações, conversões forçadas e silêncio forçado, cativeiro, discriminação, abdução de crianças, queima
de livros, e as humilhações diárias de uma minoria
religiosa perseguida. Por outro lado, a voz divina
introduziu o regime divino que representava a re
denção da comunidade eterna de Israel, conhecida
como a Shekhinah, a presença divina, “o mundo
da fala” e a lei oral, e seu consorte, o Santo, aben
çoado seja Ele, o criador, Deus da história, representando a eterna lei escrita. Essa dimensão foi associada com o Messias, o príncipe da vida, esperança e liberdade, representando a igualdade, o conhecimento, a dignidade humana, justiça e verdade, continuidade da vida, paz e tranquilidade. O
lado mau era a projeção da experiência histórica
trágica dos judeus na arena celeste que era apresentada como uma zona de combate entre os poderes
do mal e os poderes sagrados, ou entre o exílio e
a redenção. A guerra mística entre o lado mau e o
lado sagrado foi descrita como a experiência judai-
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ca trágica durante todo o decorrer do segundo milênio. A experiência histórica incluiu as tragédias
infligidas pelas Cruzadas, e expulsão dos judeus da
Áustria em 1420, a expulsão da Espanha em 1492,
a conversão de massa forçada em Portugal em 1497,
e a abdução de crianças judias que foram educadas
como sacerdotes cristãos em 1487, as perseguições
da Inquisição Espanhola no decorrer do século
XVI, o levante de Chmielnizky e a Revolução Ucraniana de 1648-1666, e o massacre de judeus e grandes números de cativos resultantes, o exílio de país
em país devido às expulsões e os horríveis e recorrentes libelos de sangue; a inovação da voz divina
de Karo que se apresentou como a Shekhinah, que
é aprisionada na servidão do exílio e perseguida
pelo Samael ou lado mau descrito acima, está na
sua afirmação dupla repetida de que a única maneira de apressar a redenção e vencer os poderes
do mal era (a) por devoção constante, Devekut,
oferecida pelos alunos da lei, que constantemente
aderem ao legislador e pensam sobre “a lei oral”,
a Shekhinah, – o Lado Sagrado, enquanto estudam
e tradição jurídica e mística e rezam com intenções
e unificações por sua redenção; (b) através da separação completa desse mundo mau governado por
Samael – o Outro Lado – o lado da impureza, através de equanimidade, asceticismo, desvinculação
da corporalidade e autoabnegação.
A distinção dualista entre o exílio representado
por Samael (acrônimo do lado do mal, impureza
e poluição “Sitra Mesavuta”) e redenção representada pelo lado sagrado, “Sitra de Kedusha”, e o
Messias, foi ainda expressa pela voz divina de Karo, que se apresentava como a Shekhinah, por dois
conceitos femininos tirados da obra magna judaica, composta no final do século XIII após as Cruzadas, Sefer HaZohar, o Livro do Esplendor, atribuído por um autor anônimo ao sábio Rabino
Simon bar Yohai. Os dois conceitos místicos femi-
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ninos eram a Shekhinah – “presença divina”, a comunidade eterna de Israel, o “mundo da fala” representado no céu identificado com a lei oral e
simbolizado pela mais baixa das dez esferas cabalísticas “reino” por um lado, e Kelipha – “uma casca vazia”, o poder eterno do mal, repressão, perseguição e escravidão, por outro lado. A Shekhinah
era percebida como sendo atormentada, perseguida
e aprisionada seis dias da semana sob a Kelipha.
A Shekhinah é redimida apenas no Shabat, enquanto que a Kelipha era descrita como reinando durante a semana e impotente no Shabat. A inovação
cabalística era enfocada na afirmação de que apenas a contemplação humana, a devoção humana
e a unificação, apego humano e pensamento humano, tanto espiritual como tangível, acompanhados por atos santos de caridade e responsabilidade
comunitária social podem liberar e libertar a Shekhi
nah da escravidão do exílio e, por outro lado, toda
preocupação excessiva com questões corporais além
das necessidades mínimas fortalece os poderes do
exílio, e todo pecado contribui para a intensificação dos poderes do mal e a dureza do exílio. Conforme visto acima, todos esses conceitos foram introduzidos como o vocabulário chassídico em relação à presença divina.
A instrução divina explícita ouvida pelo Rabino Joseph Karo era de separarse e distanciarse
tanto quanto possível da realidade corporal (Sa
mael/kelipha/mal/morte/reino do exílio/reino do
silêncio) [marcada durante sua vida pela dura perseguição da Inquisição Espanhola que seguiu os
conversos forçados e executou-os como hereges],
tratando-a com total indiferença, equanimidade,
autoabnegação e desvinculação da corporalidade,
e de aderir de todo o coração e constantemente ao
divino (messias/Shekhinah/cartas/centelhas/mundo da fala/poderes de vida/justiça e redenção) por
meio de uma adoração divina expressa através da
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contemplação, apego, unificação, intenções, comu
nhão com Deus e aderência à Shekhinah, através
do estudo constante da lei, bem como da tradição
mística que se concentra na elevação da Shekhinah
da escravidão do exílio. Segundo a voz divina registrada no diário de Karo, não há mais chão neutro ou algum tempo livre: todo esforço contemplativo e ação positiva, associados com o estudo
constante da lei oral e da tradição mística do Zohar
e os mandamentos bíblicos e as intenções e unificações no momento da oração associada com eles,
contribui para o equilíbrio da balança meta-histórica levando à redenção, enquanto que cada ação
negativa associada com pecados bíblicos e o enfoque sobre as limitações de preocupações mundanas
contribuem para inclinar a balança na direção dos
poderes de exílio e de catástrofe.
Israel Baal Shem Tov adotou essa visão conceitual dualista do mundo em relação a exílio e redenção, mal e bem, Samael e Messaiah, Kelipha e
Shekhinah, conforme expresso na autobiografia
mística de Karo, bem como o seu vocabulário ativo – a parte relacionada ao mundo divino, comunhão com Deus, contemplação, unificação, apego
elevando a Shekhinah; e a parte que é relacionada
à relação apropriada com o mundo mundano: indiferença, aniquilação do self, equanimidade, desvinculação da corporalidade, asceticismo – tudo
isso tirado do diário místico de Karo. Todavia, embora o diário de Karo, registrando a sua voz interior, nunca se destinara a ser publicado por seu
autor, conforme mencionado acima, já que era dirigido apenas para ele próprio como ouvinte inspirado das instruções da voz divina, representando
a lei oral sempre cultivada pelos estudantes da Ha
lakhah (lei rabínica) e a comunidade celeste de Israel comemorada na literatura mística conhecida
como Kabbalah, a voz da sua alma e a representação da tradição cabalística do “mundo da fala, “Is-
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rael Baal Shem Tov transformou o diálogo pessoal
da voz divina multivalente em uma instrução comum, dirigida a todos os judeus, cotidianamente.
As ideias chassídicas a respeito da presença abrangente de Deus que requeriam uma revolução social
relacionada à acessibilidade igual para todos os
homens da comunidade judaica à tradição mística
ganharam um grande número de seguidores no
último terço do século XVIII, quando o despertar
místico que alterou as concepções do relacionamento entre o homem e Deus foi disseminado por
meio de ensinamentos orais e textos escritos pelos
alunos do Maggid de Mezeritch, o principal aluno
de Israel Baal Shem Tov, que ensinou entre 1760 e
1772. Gradativamente, tornou-se óbvio que as exigências místicas dirigidas ao público pelos professores de chassidismo, como parte da luta constante entre o exílio e a redenção, que tinham passado
a depender inteiramente da unificação com Deus,
autoabnegação, desvinculação da corporalidade e
equanimidade, e os outros conceitos místicos descritos acima, eram exigentes demais para a maioria
das pessoas. Essa lacuna entre o ideal místico e a
prática cotidiana foi o pano de fundo da emergência da persona do tsadik (lit. “uma pessoa justa”).
O tsadik era uma pessoa que se tornou líder espiritual, pois era ele que conseguia refletir melhor as
duas dimensões conforme mencionadas acima – a
denúncia completa do mundo material, refletida
na autoabnegação pessoal e indiferença ao mundo,
juntamente com a devoção completa ao mundo
celeste ou a comunhão estática com Deus expressa
na concentração constante sobre a presença divina
em cada aspecto da realidade. O tsadik chassídico
é um líder carismático cuja legitimidade foi conferida por mundos mais elevados. Ele refletia na
sua mente e na sua conduta a unidade divina de
opostos que ligam Deus e o homem: a transformação entre o ser e o nada, ocultação e revelação, cria-
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ção e aniquilação, abundância e abnegação. Ele
assumia a responsabilidade dupla por duas comunidades: o bem estar material e espiritual da sua
comunidade chassídica, bem como a redenção da
comunidade celeste de Israel, a Shekhinah. O tsa
dik ligou o mundo terrestre dos seus seguidores
aos mundos sobrenaturais, e transmite a abundância divina do alto para eles. Desde as últimas duas
décadas do século XVIII, a característica mais marcante e provavelmente a mais famosa das comunidades chassídicas tem sido a liderança de um tsa
dik. Tsadikim (plural de tsadik), tais como Elimelekh de Lyzhansk (17171786), Jacob Isaac Horowitz, o vidente de Lublin (17451815), e Nahman
de Bratslav (1772-1810) estabeleceram as suas cortes comunitárias naquela época na Galícia, Ucrânia e Polônia, como o fez a dinastia Chabad liderada por Schneur Zalman de Lyady (1745-1813) na
Lituânia. Essa nova liderança que não tinha sido
eleita apresentava uma alternativa à liderança eleita tradicional e era o produto de uma erupção de
devoção religiosa carismática que obtinha sua legitimidade de uma consciência de contato com
reinos superiores que havia emergido das instruções acima mencionadas de devoção e autoabnegação fundamentadas na literatura mística. Esses
grupos atribuíam grande importância a experiências místicas que atestavam a comunhão com Deus
e reconheciam a autoridade de visionários que falavam dentro do vocabulário chassídico-cabalístico.
Surgiram como resultado da ampla disseminação
da literatura cabalística com a sua imagem paradoxal do cabalista como simultaneamente o conservador de uma tradição santificada antiga e um
inovador inspirado que recebe a revelação divina
quando a Shekhinah fala através de sua boca. A
doutrina do tsadik foi articulada pela primeira vez
no círculo do Maggid de Mezhirech, na década de
1760 e início da década de 1770, quando seus alu-
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nos deram testemunho sobre tais revelações. Nas
décadas de 1780 e 1790 foi desenvolvida por seus
discípulos através de escritos e da prática, e ainda
articulada nas obras publicadas por Jacob Joseph
de Polonnoye a partir de 1780 e depois. As implicações espirituais e sociais desses ensinamentos teriam um efeito profundo sobre os vários círculos
chassídicos. O tsadik representava todos os ideais
místicos formulados por Israel Baal Shem Tov, conforme descrito acima, através de sua pessoa. Todavia, os tsadikim acrescentaram dois elementos importantes a essas orientações gerais: a liderança
carismática ou um senso de missão divinamente
inspirado e um senso de contato imediato com
mundos mais elevados; uma nova forma de responsabilidade social abrangente; o relacionamento
entre o tsadik e seus seguidores – os chassidim –
era baseado num nexo abrangente de fraternidade
espiritual e responsabilidade social. O tsadik representava a dialética divina de ser e nada (nothing
ness), que foi mencionado acima. Mas agora era
ele que se tornava responsável pelas duas direções:
transformar o ser em nada em prol dos seus seguidores, por auto-abnegação e desvinculação da corporalidade, e transformar o nada divino infinito
em ser, como em abundância divina, em benefício
de seus seguidores. Rabino Abraham, conhecido
pelos seus seguidores como “o Anjo”, o filho do
Maggid de Mezhirech, resumiu a vocação dupla
do tsadik: “Sabese que Deus emanou mundos e
criou o ser do nada, primariamente a fim de que
o tsadik transformasse ser em nada e elevasse as
qualidades do corpóreo à sua fonte” (ben DOV
BER, 1851 [1973], p 52b). Seu colega R. Alimelekh
de Lyzahansk, que estudou com o Maggid, apresentou sucintamente a responsabilidade dupla sem
precedentes dos novos líderes como aqueles que
estão escutando em suas mentes a palavra de Deus,
sempre renovada. “O tsadik deve atrair Deus para
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este mundo, a fim de que Ele habite entre nós e
nos sustenha, e depois ele deve elevar a Shekhinah”
(ELIMELEKH, 1788 [1978], p. 8). Seu aluno Jacob
Isaac Horowitz, “o Vidente de Lublin”, escreveu
na primeira pessoa, fazendo uso de sua própria
experiência como tsadik, a respeito da inspiração
carismática que era a base da liderança Chassídica:
“A sua moradia deve ser conosco de uma maneira
realize milagres e maravilhas em benefício de Israel. Esse é um testemunho de que a Shekhinah
vive entre nós, a saber, Ele [Deus] responde quando chamamos” (HOROWITZ, 1942 [2003], p. 73).
Esperava-se dos chassidim que se ligassem ao tsa
dik enquanto ele estava se unindo às esferas celestes, e eles esperavam ser abençoados pela abundância divina trazida pelo tsadik do céu para a terra.
Esse mundo conceitual criou uma nova realidade
social que atraiu muitos seguidores, como sabemos
da reação dura dos opositores que excomungavam
os novos círculos chassídicos e seus líderes entre
os anos de 1772 e 1815. O movimento chassídico
cresceu rapidamente a cada década a partir da segunda metade do século XVIII. A partir de 1772,
a elite rabínica, aqueles membros da liderança conservadora da comunidade judaica na comunidade
polaco-lituana e na Ucrânia, eles que anteriormente estavam envolvidos na dura perseguição aos sabatianos – uma ação que culminara na conversão
em massa dos sabatianos ao cristianismo em 1760
– agora inauguraram uma luta agressiva contra a
comunidade chassídica. Os opositores temiam que
os novos círculos chassídicos fossem seguidores
secretos de Sabbatai Zevi, que justificariam “violar
a Torá em prol de Deus” ou que adotassem a ideia
da “santidade do pecado”, como estava explicitamente escrito no nome do seu líder, o Gaon Elias
de Vilna e seus seguidores.13 Os rabinos eram ameaçados por expressões sociais que não lhes eram familiares, formadas dentro das comunidades chas-
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sídicas, onde os tsadikim guiados por inspiração
divina assumiam todas as responsabilidades sociais
e espirituais dos seus seguidores de maneira sem
precedentes. A liderança tradicional prevalente deu
se conta de que a nova liderança carismática que
propagava ideias místicas e ensinava Cabala às massas e assumia responsabilidade social e espiritual
abrangente por seus seguidores, poderia muito bem
minar o status de sua autoridade existente e a justificativa do seu poder dentro da comunidade judaica tradicional. Essa elite – os Mitnaggedim (opo
sitores) – acusou os chassídicos de grandes e pequenas mudanças na tradição aceita, entre elas:
rejeição da tradição asquenasita prevalente no ritual; rejeição da tradição asquenasita prevalente
nas normas religiosas; rejeição das prioridades espirituais asquenasitas prevalentes; desprezo pela
Torá e seus estudiosos; e heresia sabatiana. 14 Os
chassídicos responderam às três primeiras acusações de que todas as suas mudanças eram realizada
de acordo com a tradição cabalística sagrada e recusaram completamente as ultimas duas acusações.
Sobre essas acusações, o Rabino Shneur Zalman
de Lyady, um discípulo do Maggid que era rabino
na Rússia Branca, célebre estudioso da Halakha e
líder chassídico imerso na Cabala, escreveu: “Quem
ouve isso simplesmente não pode conter o riso”
(ELIOR, 1997, pp. 135-177).
Apesar da grande tensão social entre os chassi
dim e seus opositores, no final do século XVIII e
durante as primeiras décadas do século XIX, a nova prática de uma comunidade chassídica liderada
por um tsadik disseminou-se para outras regiões
onde o chassidismo criara raízes: KarlinStolin,
Chernobyl, RuzhinSadgora [RuzynSadagora], Kotsk
[Kock], Izbica, Zhidacov [Zydaczow] e Komarna
[Komarno], Belz, Munkacs, Satmar [Satu Mare] e
Ger [Gora Kalwaria]. Na época do seu ápice, essas
cortes chassídicas demonstraram a inspiração es-
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piritual e o potencial social da comunidade liderada pelo tsadik; na época do seu declínio, durante a última parte do século XIX, quando dinastias
rivais estavam lutando entre si, demonstraram os
seus perigos imprevistos. Mas a liderança do tsadik
continuou a ser uma característica chave do chassidismo ainda no século XXI.
A tensão entre o compromisso com o mundo
da tradição e o desejo de libertar-se da dominação
de quadros aceitos determinou e continua a determinar o caráter do mundo chassídico. O chassidismo no século XVIII permaneceu dentro dos limites da norma, ao mesmo tempo em que ansiava
por transformar seu significado, e reconheceu o
potencial do indivíduo de estabelecer novos limites. Todos os mundos foram vistos à luz das vicissitudes do divino, e toda a existência era entendida
em termos de processos de mudança e mutabilidade. Isso é o que explica o mundo conceitual singular do chassidismo, a consciência mística sobre
a qual é fundada, e sua importância social abrangente. O chassidismo, na sua concepção ideal, ofereceu uma nova abordagem mística aos grandes
enigmas do relacionamento entre Deus e o homem
nas agruras da história, e ofereceu novas respostas
espirituais às tensões entre o plano religioso e o
plano social da existência. Na sua consciência da
constante presença divina e a palavra de Deus sempre renovada, os lideres chassídicos assumiram para si a tarefa de fazer uma releitura da história judaica em relação ao exílio e à redenção, reinterpretando a tradição judaica de acordo com a literatura cabalística que prometeu esperança de redenção
bem como a redefinição de Deus, humanidade e
o mundo, num profundo espírito de liberdade e
criatividade social.
notas
1 A versão em inglês deste artigo foi publicada
anteriormente em Scripta Judaica Cracoviensia, vol. 10,
2012, pp. 85-109. A tradução para o português e sua
publicação na revista WebMosaica foram autorizadas pela
autora.
2 Hassidismo ou Chassidismo – seita religiosa que surgiu
na Europa, no século XVIII. Sua filosofia foi formulada pelo
rabino místico Israel ben Eliezer, mais conhecido como o
Baal Shem Tov (o Mestre do Bom Nome) e tem como
característica a alegria de servir a Deus. (NT)
3 Ver a introdução do trabalho do Rabino Jacob Tsemah,
Shulhan arukh shel há’ari, Safed, 1587 [repr. Jerusalem
1961]. Sobre Israel Baal Shem Tov, ver Scholem, 1976, p.
287-342; Rosman 1996; Etkes, 2005; Elior, 2006.
4 Ver Dubnow, 1960, pp. 8-18; Rosman, 1996; Goldberg, 1999.
5 Ver R. Elior, Israel Baal Shem Tov and his
Contemporaries (em hebraico) (em impressão)
6 Ver Halperin, 1969, pp. 55-60.
7 Sobre as perseguições a Eibeschuetz, ver Leiman, 1989,
pp. 179-194; 2001, pp. 251-263; 2008, pp. 435-456;
Leiman;Schwarzfuchs, 2006, pp. 229-249.
8 R. Meir Margalyot, conhecido como o autor de Mair
Netivim, nascido em Jazlowiec na Podólia por volta de
1713, conheceu Israel Baal Shem Tov na sua juventude, no
final dos anos 1720 ou início dos anos de 1730, assim
como o fez o seu irmão mais velho, R. Isaac Dov Ber
Margalyot. Ambos os irmãos atestaram a singularidade do
professor que haviam conhecido na sua juventude e a
respeito de sua santidade. Ver M. Margalyot, Sod Yakhim
uvo’az, Ostrog 1794 [repr. Jerusalem 1990], 6a-b; J.
Margalyot, Kvutzat Ya’acov, Prezmizel 1897, 51b.
9 Seus outros alunos, Yaacov Yoseph de Polonnoye, R. Dov
Baer de Mezhirech, R. Michal de Zlotchov, R. Pinhas de
Koretz e outros que são mencionados em Shivchei haBesht,
Kopyst, 1814.
10 Sobre a relação entre a tradição mística e o conceito
variável de liberdade, ver Elior 2007a.
WebMosaica
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As origens do Chassidismo rachel elior
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11 Igerot Kodesh; Kuntres Miluim, ed. Dov Ber Levin,
Brooklyn 1982; inclui cartas de Shneur Zalman de Lyady e
Aaron Halevi de Staroselye, publicadas como um adendo a
Igerot Kodesh, ed. Dov Ber Levin, Brooklyn 1980, seção
anexa, p. 10.
12 Ver Mahler 1946, pp. 335-345; Balaban, 1940 (Cap.12);
Guldon/Wijaczka, 1997, pp.99-140; Tazbir, 1998, pp. 233245; Weinryb (1973, pp. 152-153) contou 53 pogroms de
judeus e 86 julgamentos por assassinato ritual e profanação
da hóstia na Polônia do século XVI-XVIII. Wijazcka (2003)
contou 100 julgamentos por libelo/assassinato ritual na
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13 Ver Wilensky, 1991, pp. 244-271. Para os documentos
originais, ver Wilensky, 1970 [1990].
14 Para detalhes sobre as acusações, ver Elior, 1997, pp.
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Recebido em 15/03/2013
Aceito em 18/06/2013
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