Revista de Finanças Aplicadas: Mônica Campos Da Silva
Revista de Finanças Aplicadas: Mônica Campos Da Silva
Revista de Finanças Aplicadas: Mônica Campos Da Silva
www.financasaplicadas.net
ISSN 2176-8854
Sandi Kutianski
Mestre em Contabilidade pela UFPR
skutianski@hotmail.com
Recebido em 01/02/2015
Aprovado em 06/03/2015
Disponibilizado em 29/01/2018
Avaliado pelo sistema double blind review
EXPLANATORY FACTORS OF EVIDENCE LEVELS OF INFORMATION ON FIXED
ASSETS: A STUDY IN THE INDUSTRIAL SECTOR COMPANIES LISTED ON THE BM & F
BOVESPA
OBJECTIVE
The objective of this study is to identify determinants factors of disclosure level of information about fixed
assets in Brazilian public companies, ranked in the industrial goods sector of the BM&FBovespa.
METHODOLOGY
The analysis was conducted in 33 Brazilian public companies listed on the industrial goods sector whose
financial statements were available for the periods between 2008 and 2013. Initially a content analysis
was conducted in order to construct a disclosure index about information required by CPC 27, which re-
sulted in 198 indices. After, using a random effects panel data regression, a set of independent variables,
proxies of companies’ intrinsic and extrinsic features, was regressed over the disclosure index previously
calculated.
PRACTICAL IMPLICATIONS
The main implication of the study is to strengthen the need to seek a de facto convergence of Brazilian
standards with international accounting standards in order to improve the quality of information disclosed
by the companies to the market
KEY WORDS
Determinants Factors, Disclosure, Fixed Assets.
Silva, M. C.; Kutianski, S; Scherer, Luciano Márcio. Fatores Explicativos do Nível de Evidenciação de Informações sobre o Ativo Imobilizado: Um
Estudo das Empresas do Setor de Bens Industriais Listadas na BM&FBovespa. Revista de Finanças Aplicadas. V. 9, n.2, 2017. pp.34-56. p. 2
FATORES EXPLICATIVOS DO NÍVEL DE EVIDENCIAÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE O
ATIVO IMOBILIZADO: UM ESTUDO DAS EMPRESAS DO SETOR DE BENS INDUSTRIAIS
LISTADAS NA BM&FBOVESPA
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é analisar as características do nível de evidenciação em notas explica-
tivas sobre o ativo imobilizado em empresas de capital aberto brasileiras, classificadas no setor
de bens industriais, conforme listagem disponível no site da BM&FBovespa. Em especifico
busca elaborar um índice de evidenciação no que se refere ao ativo imobilizado, investigando
sua relação com os fatores apontados pela literatura como seu determinante.
METODOLOGIA
Selecionou-se 33 empresas brasileiras de capital aberto listadas no setor de bens industriais cu-
jas demonstrações financeiras padronizadas estavam disponíveis para os períodos compreendi-
dos entre 2008 e 2013. Inicialmente realizou-se análise de conteúdo das 198 notas explicativas,
a fim de elaborar o índice de evidenciação à partir das informações requeridas pelo CPC 27 pa-
ra mensuração e evidenciação do ativo imobilizado. A seguir, utilizando regressão linear múlti-
pla com dados em painel de efeitos aleatórios, regrediu-se um conjunto de variáveis indepen-
dentes, proxies de características intrínsecas e extrínsecas às empresas em análise, sobre o índi-
ce de evidenciação anteriormente calculado a fim de se atingir o objetivo deste estudo.
RESULTADOS E CONCLUSÕES
Constatou-se um aumento nos índice mínimo, médio e máximo de evidenciação ao longo do
tempo, especialmente entre 2009 e 2010, em função da adoção obrigatória do Pronunciamento
Técnico CPC 27 – Ativo Imobilizado. Em relação à análise de regressão, as variáveis Tama-
nho, Endividamento, Aplicação do CPC 27 e Auditada por Big Four mostraram-se estatistica-
mente significativas e, conforme esperado, com coeficiente positivo. Esses achados permitem
inferir que empresas maiores, com maior grau de endividamento, auditadas pelas maiores em-
presas de auditoria, bem como a adoção obrigatória do CPC 27 impactaram positivamente na
quantidade de informações evidenciadas pelas empresas em estudo.
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
A principal implicação do estudo é o reforço da necessidade de se buscar uma convergência de
facto das normas brasileiras às normas internacionais de contabilidade a fim de se melhorar a
qualidade das informações evidenciadas pelas empresas ao mercado.
PALAVRAS CHAVE
Silva, M. C.; Kutianski, S; Scherer, Luciano Márcio. Fatores Explicativos do Nível de Evidenciação de Informações sobre o Ativo Imobilizado: Um
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INTRODUÇÃO
As práticas contábeis adotadas pelas empresas brasileiras vêm sofrendo
mudanças nos últimos anos, primordialmente em função da convergência das
Normas Brasileiras às Normas Internacionais de Contabilidade (conhecidas
atualmente no mercado pela expressão “normas IFRS”), emitidas pelo Interna-
tional Accounting Standards Board (IASB).
Martins, Gelbcke, Iudícibus e Santos (2013) destacam que desde a dé-
cada de 90 já se discutia no Brasil a necessidade de se harmonizar/convergir
as normas e práticas contábeis brasileiras a uma estrutura contábil de âmbi-
to internacional, porém, foi a partir da criação do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC) em 2005 que se alavancou o processo. O CPC, criado pela
Resolução CFC nº 1.055/2005, emitida pelo Conselho Federal de Contabili-
dade em setembro de 2005, tem como objetivo “o estudo, o preparo e a emis-
são de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade com
a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de nor-
mas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformiza-
ção do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da
Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais”.
Para Schroeder, Clark e Cahey (2001), entre as vantagens da conver-
gência de normas locais (como ocorre no caso brasileiro) às Normas Internaci-
onais de Contabilidade estão a provável redução do custo de captação de re-
cursos e uma maior valorização das ações no mercado de capitais.
Acredita-se que, com a convergência das normas brasileiras às Normas
Internacionais de Contabilidade, haverá uma maior qualidade dos relatórios
financeiros divulgados pelas empresas, especialmente em relação a uma me-
lhoria no nível de disclosure (evidenciação) das informações de natureza eco-
nômica e financeira, contribuindo assim para a redução de assimetria infor-
macional. E isso é especialmente relevante para os usuários externos da in-
formação contábil, notadamente os acionistas não controladores / minoritá-
rios das empresas.
Bushman, Piotroski e Smith (2004) definem disclosure como a ampla
disponibilidade de informações específicas da companhia para aqueles que es-
tão de fora da organização. Cruz e Lima (2010) observam que essa disponibi-
lidade de informações ocorre, dentre outras formas, através da evidenciação
de relatórios corporativos, que podem englobar tanto informações obrigatórias
por lei quanto informações voluntárias.
De acordo com Bushman e Smith (2003), a adequada evidenciação das
informações, observando normas contábeis de qualidade, permite ao investi-
dor verificar a criação de valor proporcionada pela empresa.
O Pronunciamento Técnico CPC 27 – Ativo Imobilizado foi emitido pelo
Comitê de Pronunciamentos Contábeis em junho de 2009, sendo convergente
à Norma Internacional de Contabilidade IAS 16 – Property, Plant and Equi-
pment, do IASB. Posteriormente, o CPC 27 foi aprovado pela Deliberação CVM
nº 583/09, da Comissão de Valores Mobiliários, e pela Resolução CFC nº
1.177/09, do Conselho Federal de Contabilidade. Este pronunciamento, a
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partir do item 73 elenca uma série de exigências relacionadas à divulgação de
informações, nos relatórios financeiros emitidos pelas empresas, acerca o re-
conhecimento, movimentações e baixa de ativos fixos.
Sabe-se que o ativo imobilizado exerce papel fundamental para a conti-
nuidade operacional de muitas entidades, especialmente as de capital intensi-
vo. Dada essa importância, torna-se imprescindível a divulgação de informa-
ções sobre o estado e a movimentação de tais ativos, principalmente para
subsidiar as decisões de investidores que não possuem acesso direto à gestão
da entidade.
Nesse contexto, considerando a adoção de novas normas e práticas con-
tábeis relacionadas ao reconhecimento, mensuração e divulgação de informa-
ções sobre os ativos imobilizados, e no intuito de contribuir com os avanços
dos estudos na área, o presente trabalho busca responder a seguinte questão:
Quais fatores explicam o nível de evidenciação de informações acerca o ativo
imobilizado em empresas de capital aberto listadas no setor de bens industri-
ais da BM&FBovespa?
Em decorrência deste questionamento, a presente pesquisa analisa as
características do nível de evidenciação em notas explicativas sobre o ativo
imobilizado em empresas de capital aberto brasileiras, classificadas no setor
de bens industriais, conforme listagem disponível no site da BM&FBovespa.
Em especifico busca elaborar um índice de evidenciação no que se refere ao
ativo imobilizado, investigando sua relação com os fatores apontados pela lite-
ratura como seu determinante.
Para atingir os objetivos, inicialmente realizou-se análise de conteúdo
de 198 notas explicativas constantes das demonstrações financeiras padroni-
zadas de um conjunto de 33 empresas analisadas para os períodos compre-
endidos entre 2008 e 2013, a fim de elaboração de do índice de evidenciação
das informações requeridas pelo CPC 27. A seguir, utilizando regressão linear
múltipla com dados em painel de efeitos aleatórios, regrediu-se um conjunto
de variáveis independentes, proxies de características intrínsecas e extrínse-
cas às empresas em análise, sobre o índice de evidenciação anteriormente
calculado.
De forma geral, constatou-se um aumento no índice de evidenciação
médio ao longo do tempo, bem como no índice máximo. O aumento mais sig-
nificativo ocorreu entre 2009 e 2010, e partir de 2010 apresentou-se certa es-
tabilidade nos valores médias, máximos e mínimos dos índices de evidencia-
ção. Em relação à análise de regressão, as variáveis Tamanho, Endividamen-
to, Aplicação do CPC 27 e Auditada por Big Four mostraram-se estatistica-
mente significativas e, conforme esperado, com coeficiente positivo. Esses
achados permitem inferior que empresas maiores, com maior grau de endivi-
damento, auditadas pelas maiores empresas de auditoria, bem como a adoção
obrigatória do CPC 27 impactam positivamente na quantidade de informações
evidenciadas pelas empresas da amostra em relação a seus ativos imobiliza-
dos.
A principal contribuição desta pesquisa é a obtenção de fatores caracte-
rizadores das empresas que impactam a quantidade de informações divulga-
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das pelas empresas em relação a seus ativos imobilizados, contribuindo as-
sim, para o estudo do processo de convergência de facto das Normas Brasilei-
ras às Normas Internacionais de Contabilidade.
O artigo está dividido em seções, além desta introdução; a seção seguin-
te apresenta uma breve revisão da literatura a respeito dos assuntos ligados
ao tema; a seguir são apresentados os procedimentos metodológicos, análises
dos resultados e por último, as considerações finais do estudo.
REVISÃO DA LITERATURA
ATIVO IMOBILIZADO
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possuem acesso direto à informação da gestão da entidade, espera-se encon-
trar crescimento no nível de disclosure dos itens do ativo imobilizado decor-
rente das exigências de divulgação constantes do CPC 27.
Para Murcia, Souza, Dill e Costa Jr. (2011) o disclosure, refere-se ao ato
de divulgar, evidenciar, tornar algo evidente e público. No campo corporativo o
termo disclosure está envolvido no preceito de transparência e relaciona-se à
evidenciação de informações, que pode ser voluntária ou obrigatória.
O disclosure obrigatório, caracterizado pela obrigatoriedade legal, é con-
siderado um meio de garantir uma maior confiabilidade e padronização das
informações divulgadas, assegurando assim, o provimento de informações
tempestivas e de qualidade aos usuários.
Quando voluntário, o disclosure se caracteriza pela divulgação de in-
formações complementares, por isso pode ser entendido como uma provável
vantagem competitiva para a empresa, reduzindo riscos e assimetria informa-
cional (Murcia et al., 2011).
Entre as diversas formas de disclosure, Hendriksen e Breda (1999) des-
tacam as demonstrações contábeis, as informações entre parênteses, as notas
explicativas, os quadros e as demonstrações suplementares, os comentários
do auditor e o relatório da administração.
Para Murcia (2009), a divulgação deve acatar a relevância das informa-
ções a ser evidenciadas, a fim de possibilitar aos usuários uma visão mais
ampla da situação da empresa e para que não haja custos desnecessários no
processo de disclosure. Ainda de acordo com o autor, o excesso de informa-
ções disponibilizadas pode confundir o usuário (Murcia, 2009).
A partir da classificação em disclosure obrigatório e voluntário, Verrec-
chia (2001), aponta três principais linhas de pesquisas envolvendo disclosure,
sendo elas: Association-basead disclosure, cujo objetivo principal consiste em
analisar a associação ou a relação entre o nível de divulgação das informações
contábeis e as mudanças comportamentais dos investidores; Efficiency-based
disclosure, que envolve estudos realizados sobre a divulgação preferida ou
mais eficiente para subsidiar decisões dos interessados na ausência de prévio
conhecimento das informações; e Discretionary-based disclosure, cujas pes-
quisas examinam a discricionariedade, ou seja, os motivos, dos gestores ou
da organização, para evidenciar determinadas informações.
Vários estudos empíricos vêm sendo realizados no Brasil, com o intuito
de verificar à aderência aos requisitos de disclosure presentes nos pronunci-
amentos técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
Loureiro, Gallon e De Luca (2011) verificaram, para uma amostra com-
posta por 88 empresas de capital aberto, o atendimento às exigências de di-
vulgação de informações constantes do Pronunciamento Técnico CPC 07 (R1)
- Subvenção e Assistência Governamentais, constatando, para os anos de
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2008 e 2009, que essa era baixa, com atendimento de 30,4% das exigências
em 2008 e 33,3% em 2009.
Ao analisarem se a divulgação de informações sobre remuneração vari-
ável em empresas listadas no ano de 2009 no ranking “As Melhores Empresas
Para se Trabalhar”, divulgado anualmente pelas revistas Exame e Você S/A
está em conformidade com os Pronunciamentos Técnicos CPC 10 – Pagamen-
to Baseado em Ações e CPC 33 – Benefícios a Empregados, Miranda, Tomé e
Gallon (2011) determinaram que o nível de aderência aos requisitos de divul-
gação do CPC 10 não foi completo para nenhuma empresa analisada no estu-
do, e comparativamente, houve uma maior divulgação de informações em re-
lação ao CPC 33. Adicionalmente, os autores concluíram que fatores tais co-
mo o tamanho das empresas, o setor de atuação e a quantidade de funcioná-
rios condicionaram a evidenciação de informações.
Souza, Borba, Zandonai (2011) tiveram como objetivo, a partir de uma
amostra de companhias de capital aberto não financeiras listadas no índice
Ibovespa referentes à carteira teórica do primeiro quadrimestre de 2009, veri-
ficar quais reconheceram perda no valor recuperável de ativos em 2008, e
partir daí o grau de atendimento às exigências de divulgação constantes do
Pronunciamento Técnico CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos.
Os achados da pesquisa indicaram que nenhuma empresa atendeu plena-
mente os requisitos de divulgação, sendo a taxa de desconto utilizada nas
projeções dos fluxos de caixa descontados a principal informação não eviden-
ciada pela maioria das empresas da amostra.
Ao analisar o impacto da adoção dos novos critérios de contabilização e
práticas de divulgação das operações de arrendamento mercantil em Compa-
nhias Aéreas Brasileiras listadas na BM&FBovespa no ano de 2009, Gallon,
Crippa, Gois e De Luca (2012) constataram que essas empresas apresentaram
lacunas em sua divulgação, em que pese à aderência aos requisitos de divul-
gação do Pronunciamento Técnico CPC 06 – Operações de Arrendamento
Mercantil ter sido próximo ao apresentado por empresas estrangeiras adotan-
tes da Norma Internacional de Contabilidade IAS 17 – Leases. Em um estudo
análogo, Krüger e Borba (2012) verificaram que o grau de atendimento à di-
vulgação de informações sobre operações de arrendamento mercantil foi de
11,6% para um conjunto de 42 empresas listadas no Novo Mercado da
BM&FBovespa que apresentaram operações dessa natureza em suas demons-
trações contábeis de 2009.
Ponte, De Luca, Oliveira, Aquino e Cavalcante (2012) investigaram, ten-
do como base as demonstrações contábeis de 2008 de um conjunto de 334
empresas não financeiras de capital aberto, o grau de cumprimento dos re-
quisitos de divulgação definidos pelo Pronunciamento Técnico CPC 13 – Ado-
ção Inicial da Lei nº. 11.638/07 e da medida Provisória nº. 449/08. O estudo
indicou que, em uma escala de 0 a 6, a nota média do atendimento às divul-
gações, obtida pelas empresas analisadas foi 2,90, sendo que para as empre-
sas listadas no Novo Mercado a nota média foi 3,74.
Com o objetivo de verificar o grau de observância aos requisitos de di-
vulgação constantes do Pronunciamento Técnico CPC 12 – Ajuste a Valor Pre-
sente, em um conjunto de 50 empresas componentes do índice IBrX-50 da
Silva, M. C.; Kutianski, S; Scherer, Luciano Márcio. Fatores Explicativos do Nível de Evidenciação de Informações sobre o Ativo Imobilizado: Um
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BM&FBovespa, Andrade, Fontana e Macagnan (2013) obtiveram resultados
que indicaram o atendimento médio de 70,9% dos requisitos.
Freri e Saloti (2013) analisaram a comparabilidade das informações e o
grau de aderência os requisitos de divulgação obrigatórios do Pronunciamento
Técnico CPC 28 – Propriedade para Investimento de empresas administrado-
ras de shopping centers de capital aberto para os anos de 2010 e 2011. Os
autores concluem seu estudo, afirmando que, em uma escala variando entre
0 e 2, em 2010 a nota média de divulgação das 6 empresas analisadas foi
1,57 e em 2011 1,53, o que representa cerca de 75% de cumprimento das exi-
gências de divulgação constantes no CPC 28.
Em um estudo relacionado ao objeto desta pesquisa, Reis e Nogueira
(2012), para uma amostra composta por 82 empresas dentre 106 listadas no
Novo Mercado, verificaram quantas adotaram taxas de depreciação contábil
diferentes das taxas previstas na legislação fiscal, em função da adoção do
CPC 27, bem como se havia relação entre as empresas que adotaram essas
novas taxas e o grau de imobilização. Os achados da pesquisa indicaram não
haver diferença estatisticamente significativa entre as empresas que adotaram
novas taxas de depreciação e seu grau de imobilização, em que pese essas
empresas terem apresentado um maior nível de disclosure dos requisitos de
divulgação do CPC 27.
Também em um estudo com objeto de pesquisa correlato, Reis, Anjos,
Sediyama e Lélis (2013) verificaram se as empresas do setor siderúrgico brasi-
leiro listadas na BM&FBovespa cumpriram os requisitos de divulgação acerca
o valor recuperável de ativos fixos nas demonstrações contábeis dos anos
2008 a 2010. Os autores destacam inadequabilidade das informações divul-
gadas frente às exigências do Pronunciamento Técnico CPC 01 – Redução ao
Valor Recuperável de Ativos.
Os estudos acima apresentam evidências de que ainda há espaço para
aprimorar a evidenciação das informações contábeis divulgadas pelas empre-
sas brasileiras. Por outro lado, não se localizou na literatura nacional estudo
semelhante a esta pesquisa, que, além de verificar a aderência aos requisitos
de divulgação do CPC 27 procurou determinar fatores explicativos dessa di-
vulgação.
METODOLOGIA
DADOS E METODOLOGIA
Nesta seção são apresentados os critérios de caracterização da pesqui-
sa, de seleção das empresas objeto de estudo e período de análise e o e o de-
senho da pesquisa, com a descrição da métrica elaborada, das proxies das va-
riáveis e a formulação das hipóteses de pesquisa.
CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Silva, M. C.; Kutianski, S; Scherer, Luciano Márcio. Fatores Explicativos do Nível de Evidenciação de Informações sobre o Ativo Imobilizado: Um
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Este estudo, em relação à sua abordagem metodológica, é classificado como quantitati-
vo, apesar de empregar técnica qualitativa de análise de conteúdo para construção da variável
dependente. Já em relação aos seus objetivos, trata-se de pesquisa descritiva, conforme definida
por Cooper e Schindler (2003), e para tanto, emprega a análise documental a fim de se obter os
subsídios que possibilitem a resolução da questão de pesquisa proposta.
Quadro 1 – Composição dos subsetores e segmentos do setor de bens industriais, conforme classifi-
cação setorial da BM&FBovespa
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falta de dados no período, reduzindo-se, portanto, a população de análise pa-
ra 33 empresas.
O período da análise compreende os anos de 2008 a 2013. O ano de
2008 é o primeiro sob a vigência da Lei n° 11.638/2007, que introduziu a
convergência das normas brasileiras às normas internacionais de contabili-
dade no ambiente contábil brasileiro. Entretanto, deve-se observar que a apli-
cação obrigatória do CPC 27 se deu a partir do exercício findo em
31/12/2010.
a) Tamanho
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cuja aquisição se justifica pelo seu caráter de uso operacional. Conforme des-
tacado por Carvalho, Kayo e Martins (2010), a tangibilidade dos recursos con-
tribuiu de forma significativa para a persistência do desempenho superior de
empresas de diversos setores da economia. Espera-se que empresas com mai-
or quantidade de ativos fixos em relação aos ativos totais possuam um disclo-
sure do seu ativo imobilizado de melhor qualidade. A proxy utilizada para me-
dir a tangibilidade dos ativos das empresas em estudo foi o quociente entre o
Imobilizado Líquido da Depreciação e o Ativo Total, semelhante ao tratamento
adotado nos estudos de Titman e Wessels (1988) e Demirgüç-Kunt e Maksi-
movic (1999).
c) Endividamento
d) Rentabilidade
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mente, referem-se a manipulações contábeis dentro dos limites legais (Marti-
nez, 2002; Burgstahler & Dichev, 2007; Rodrigues, Paulo & Carvalho, 2007).
O CPC 27 permite a empresa diversas escolhas no que se refere a mensuração
e evidenciação do ativo imobilizado e essas escolhas contábeis refletem na in-
formação divulgada, assim a existência de discricionariedade no tratamento
do ativo imobilizado, e ainda, a capacidade de influência das informações fi-
nanceiras divulgadas pelas empresas sobre os agentes econômicos, gestores
têm fortes incentivos para gerenciar os resultados financeiros reportados
(Baptista, 2008). Lapointe-Antunes, Cormier e Magnan (2008) verificaram re-
lação direta entre rentabilidade e escolhas contábeis gerenciais, haja vista que
grande parcela da remuneração dos gestores está vinculada ao desempenho
obtido. Assim espera-se que a rentabilidade possa ter relação positiva com o
disclosure do imobilizado. A proxy utilizada para operacionalização da variável
rentabilidade foi uma variante do ROA, medido através do quociente entre o
Lucro Antes de Juros, Impostos e Depreciação (EBITDA) e o Ativo Total, de
forma análoga aos estudos de Titman e Wessels (1988) e Ozkan (2001).
e) Aplicação do CPC
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uma das “Big Four” são mais exigentes no que compete à adequabilidade das
informações divulgadas com as normas de contabilidade pertinentes e por es-
ta razão o disclosure praticado por empresas auditadas por uma das “Big
Four” tende a ser melhor. Assim, espera-se que empresas auditadas pelas
“Big Four” tenha maior disclosure das políticas de controle e ajustes do imobi-
lizado. A operacionalização dessa variável foi feita atribuindo-se 1 para em-
presas auditadas pelas “Big Four” no ano e 0 para as não auditadas por essas
empresas no ano.
g) Governança Corporativa
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conteúdos por meio de procedimentos sistemáticos, sejam eles quantitativos
ou qualitativos objetivando inferências sobre a produção textual, a análise de
conteúdo nesse estudo utilizou-se das seguintes etapas pré-análise (leitura do
conteúdo da nota explicativa), a exploração do material e o tratamento e in-
terpretação dos dados (referenciação dos itens analisados para categorização).
Analisou-se o conteúdo das notas explicativas a fim de verificar o grau de ade-
rência aos requisitos de divulgação contidos no CPC 27 (anexo 01). Assim, pa-
ra cada uma das empresas em cada um dos anos de análise, atribuiu-se o va-
lor 1 (um) se o item foi evidenciado nas notas explicativas e 0 (zero) se não o
foi, de tal forma que o índice de Evidenciação, variável dependente neste es-
tudo, foi obtido comparando-se o total de itens evidenciados em relação ao to-
tal de itens de divulgação exigida pelo CPC 27, em uma escala variável entre
0% (nada foi evidenciado) e 100% (tudo foi evidenciado). Vale ressaltar que o
total de itens exigido foi considerado de forma específica para cada empresa,
já que existem requisitos de divulgação constantes do CPC 27 que não se
aplicam a alguns casos, como por exemplo a evidenciação da data efetiva da
reavaliação (Item 77, a, do CPC).
O quadro 1 resume as variáveis constantes no estudo e expõe o resulta-
do esperado para cada uma delas, tendo em vista a discussão apresentada
quando da formulação das hipóteses:
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Evid.it = β0 + β Tamit + β2 Tangit + β Endit + β 4 Rentit + β 5 CPCit +β 6 BigFourit +β GCit +𝑣𝑖𝑡 (1)
1 3 7
RESULTADOS
ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS
Com base nos dados acima, é possível verificar que houve um aumento
nominal no percentual médio de evidenciação dos requisitos de divulgação do
CPC 27, passando-se de 33,9% em 2008 para 51,6% em 2013. Deve-se obser-
var que houve um salto nesse índice a partir de 2010, e partir desse ano, apa-
rentemente obteve-se uma estabilidade do índice. Da mesma forma, também
chama a atenção para a elevação do percentual de divulgação, tanto para o
índice de evidenciação máximo, que passou de 53,3% em 2008 para 76,7%
em 2013, como para o índice de evidenciação mínimo, que passou de 16,7%
para 26,7% no mesmo período.
Importante ressaltar que não foram executados testes adicionais de di-
ferenças de médias, porém há uma clara ruptura no padrão de evidenciação,
especialmente no índice médio e máximo, entre 2009 e 2010 (e posterior ma-
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nutenção dos índices em um patamar razoavelmente constante a partir desse
ano). Isso pode ter relação com a obrigatoriedade do CPC 27 a partir do ano
de 2010.
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Verificando os resultados apresentados na Tabela 3, percebe-se que as
variáveis Tamanho, Endividamento, Rentabilidade, Aplicação do CPC e “Big
Four” se mostraram estatisticamente significativas a 1%, 5% e 10%, depen-
dendo da variável, em relação ao índice de evidenciação das informações re-
queridas pelo CPC 27. Contudo, foi constatado problema de multicolinearida-
de entre as variáveis Endividamento e Rentabilidade.
Para resolver o problema de multicolinearidade, optou-se pela exclusão
das variáveis. A regressão na qual se manteve a variável Endividamento e ex-
cluiu-se a variável Rentabilidade mostrou-se melhor, uma vez que a variável
Endividamento manteve-se estatisticamente significativa a 5%. Já na regres-
são em que se excluiu a variável Endividamento e manteve-se a variável Ren-
tabilidade, essa deixou de apresentar significância estatística.
Na tabela 4 são apresentados os resultados conforme descritos no pará-
grafo anterior, ou seja, com a exclusão da variável Rentabilidade.
Tabela 4 – Resultados da regressão com efeitos aleatórios, com exclusão da variável Rentabilidade
Variável dependente: Índice de Evidenciação
Observações: 198
Período: 2008-2013
Variável Coeficiente Erro Padrão T Valor-P
Tamanho 0.0458 0.0190 2.40 0.016**
Tangibilidade -0.0396 0.0752 -0.53 0.598
Endividamento 0.0004 0.0001 2.14 0.032**
Aplicação CPC 0.1648 0.0138 11.91 0.000*
“Big Four” 0.0452 0.0259 1.74 0.081***
Governança 0.0201 0.0347 0.58 0.562
Constante 0.0744 0.1141 0.65 0.514
Estat. F: 0.000
R²: 0.5099
*Significativa a 1%; ** Significativa a 5%; *** Significativa a 10%
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2009); Mapurunga, Pontes, Coelho, & Meneses, 2011; Rover, Tomazzia, Mur-
cia, & Borba, 2012) permite inferir que empresas maiores tendem a apresen-
tar um maior nível de evidenciação de suas informações contábeis / financei-
ras.
A variável Endividamento também se mostrou estatisticamente signifi-
cativa (valor p < 0,05), configurando-se assim em um fator explicativo do nível
de evidenciação das informações relacionadas ao ativo imobilizado. Confir-
mando a expectativa, o sinal apresentado pela variável foi positivo, o que sig-
nifica que empresas com maiores índices de dívida tendem a apresentar um
maior nível de evidenciação de suas informações, como forma de mitigar cus-
tos políticos, o que confirma achados de pesquisas anteriores (Kayo, Kimura,
Basso & Krauter, 2006; Lanzana, 2004)
A variável Aplicação do CPC 27 se mostrou estatisticamente significativa
(valor p < 0,01) o que confirma que a adoção das Normas Internacionais de
Contabilidade via convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade pro-
porcionou a elevação do nível de evidenciação das informações sobre o ativo
imobilizado das empresas analisadas neste estudo.
Em relação à variável “Big Four”, os resultados indicam significância es-
tatística apenas quando se considera valor p < 0,10. Apesar disso, o coeficien-
te da variável foi positivo, confirmando a expectativa e, portanto, é possível
confirmar a hipótese de que empresas auditadas por “Big Four” possuem um
maior nível de adequação às exigências de evidenciação dos itens do ativo
imobilizado do que empresas auditadas por outras empresas de auditoria in-
dependente, o que confirma o resultado de pesquisas anteriores na literatura
(Dechow, Ge, & Schrand, 2010). Porém, apesar desse achado, nenhuma das
empresas do estudo auditadas por “Big Four” divulgou plenamente todos os
requisitos exigidos pelo CPC 27.
Chama a atenção para o fato de a variável tangibilidade, medida pelo
quociente entre o ativo imobilizado e o ativo total não se apresentar como es-
tatisticamente significativa, além de seu coeficiente ser negativo. Consideran-
do especificamente o coeficiente negativo dessa variável, isso significa que
quanto maior a participação dos ativos imobilizados no ativo total, menor à
aderência aos requisitos de divulgação das informações sobre o ativo imobili-
zado, em que pese a não significância estatística da variável. Esses achados
surpreendem, pois espera-se que quanto mais representativo for um grupo de
contas do ativo ou passivo, maior/melhor será a evidenciação de informações
sobre ele.
CONCLUSÃO
Este artigo teve como objetivo analisar os fatores explicativos do nível de
evidenciação das informações requeridas pelo Pronunciamento Técnico CPC
27 em relação ao ativo imobilizado em empresas brasileiras de capital aberto.
De modo específico foram analisadas 33 empresas do setor de bens industri-
ais, conforme classificação setorial da BM&FBovespa cujas demonstrações
contábeis estavam disponíveis para os anos 2008 a 2013.
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O primeiro passo constituiu na elaboração de um índice de evidenciação
das informações acerca os ativos imobilizados, cuja evidenciação é requerida
pelo CPC 27. Em linha gerais, quando se analisou as estatísticas descritivas
desse índice de evidenciação para os anos 2008 a 2013 das empresas, detec-
tou-se um aumento significativo no nível médio de divulgação, que passou de
33,9% em 2008 para 51,6% em 2013, bem como no índice máximo, que pas-
sou de 53,3% em 2008 para 76,7% em 2013, porém, o mesmo não se pode
afirmar em relação ao índice mínimo, que passou de 16,7% em 2008 para
26,7% em 2013, isso pode ser explicado pela exigência de observação ao CPC
27 a partir do ano de 2010.
Este índice de evidenciação foi a variável dependente da análise de re-
gressão, que utilizou proxies de característica intrínsecas e extrínsecas às
empresas como variáveis independentes. Por meio de análise de dados em
painel de efeitos aleatórios, obteve-se relação estatisticamente significativa pa-
ra as variáveis Aplicação do CPC 27 (p-valor < 0,01), Tamanho, Endividamen-
to (p-valor <0,05), o que pode ser interpretado à luz da teoria dos custos polí-
ticos, e Auditada por Big Four (p-valor <0,1). Adicionalmente, os coeficientes
das variáveis estatisticamente significativas foram positivos, o que confirmou
as expectativas iniciais. Isso permite inferir que empresas maiores, mais endi-
vidadas e auditadas por uma das Big Four são empresas que melhor obser-
vam os requisitos do CPC 27, no que se refere a mensuração e evidenciação
de informações do ativo imobilizado. Esses achados corroboram com o resul-
tado esperado a partir dos aspectos teóricos utilizados.
As variáveis Tangibilidade e Governança Corporativa não foram estatis-
ticamente significantes para determinação do nível de evidenciação do ativo
imobilizado, o que leva à interpretação de que a proporção de ativos fixos no
patrimônio da entidade não estimula maiores preocupações com a evidencia-
ção das informações correlatas por parte da empresa, bem como que sua par-
ticipação em níveis diferenciados de governança corporativa não é atributo
para variação do nível de evidenciação dos ativos imobilizado para as empre-
sas em estudo.
A principal contribuição desta pesquisa foi a composição das variáveis
do modelo estatístico utilizado, uma vez que foram testadas variáveis que teo-
ricamente teriam influência na variação do nível de evidenciação das informa-
ções sobre o ativo imobilizado. Ressalte-se que o poder explicativo do modelo
materializado pelo coeficiente de determinação R2 foi de carca de 50%, com a
regressão como um todo sendo estatisticamente significativa (F = 0,0000).
Pesquisas como esta são importantes para verificar a efetividade do processo
de convergência de facto das Normas Brasileiras de Contabilidade às Normas
Internacionais de Contabilidade.
Vale ressaltar que os resultados da pesquisa não permitem sua genera-
lização, já que foi foram analisadas empresas de um setor em especifico. Uma
limitação apresentada para o estudo é a metodologia de elaboração de índice
que pode por vezes ser dependente de interpretação de pesquisador.
Sugere-se para futuras pesquisas que outros fatores abordados na lite-
ratura sejam incorporados ao modelo, buscando seu aprimoramento. Tam-
Silva, M. C.; Kutianski, S; Scherer, Luciano Márcio. Fatores Explicativos do Nível de Evidenciação de Informações sobre o Ativo Imobilizado: Um
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bém se sugere, a fim de se obter resultados de pesquisa generalizáveis, a am-
pliação da amostra analisadas, por meio da incorporação de outros setores da
economia em que ativos imobilizados possuem uma relação significativa em
relação aos ativos totais.
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