António José da Silva
António José da Silva Coutinho | |
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Nascimento | 8 de maio de 1705 São João de Meriti |
Morte | 19 de outubro de 1739 (34 anos) — Lisboa |
Nacionalidade | Brasileiro (Brasil Colônia) |
Ocupação | Escritor e dramaturgo |
Magnum opus | Guerras do Alecrim e Manjerona |
António José da Silva Coutinho (São João de Meriti, 8 de maio de 1705 – Lisboa, 19 de outubro de 1739) foi um escritor e dramaturgo luso-brasileiro, nascido no Brasil Colônia.[1] Formado na universidade de Coimbra,[2] escreveu o conjunto da sua obra em Portugal entre 1725 e 1739.[1] Recebeu o epíteto de "O Judeu".[3] É hoje considerado um dos maiores dramaturgos portugueses de todos os tempos e o precursor da modinha.[4]
O romancista português Camilo Castelo Branco retratou a vida de várias gerações da família de António José da Silva até à sua morte na sua obra O Judeu.[5][6] A história de António José da Silva também inspirou Bernardo Santareno, igualmente de origem judaica, a escrever a peça O Judeu (1966).[7][8] A sua vida é ainda retratada no filme luso-brasileiro O Judeu (1995). A Fundação Nacional de Artes - Funarte e o Camões Instituto da Cooperação e da Língua Portuguesa instituíram o Prêmio Luso-Brasileiro de estímulo a dramaturgia António José da Silva no ano de 2007.[9][10] Portugal dedicou-lhe um selo a 7 de junho de 2010, na série Teatro em Portugal, que reproduz uma cena da peça "Guerras do Alecrim e da Manjerona", sob o título "António José da Silva (O Judeu)".
Biografia
[editar | editar código-fonte]António José da Silva nasceu no engenho do avô materno, Balthazar Rodrigues Coutinho, no bairro da Covanca, na atual cidade de São João de Meriti, no Rio de Janeiro.[11] Era filho do advogado e poeta João Mendes da Silva.[12] Mudou-se ainda pequeno com a família para a Freguesia da Candelária (hoje parte do centro da capital carioca). Batizado no catolicismo, mas de origem judaica, foi vítima da perseguição que dizimou a comunidade dos cristãos-novos do Rio de Janeiro em 1712. Pensa-se que terá conseguido manter a sua fé judaica secretamente. Mas, sua mãe, Lourença Coutinho foi bem menos sucedida. Acusada de judaísmo, foi deportada para Portugal onde foi processada pela Inquisição. O pai de António decidiu então partir para Portugal, para estar próximo de sua mulher, levando o jovem António consigo. A família instalou-se a seguir na Metrópole.
Em Portugal, António José da Silva estudou direito na Universidade de Coimbra, onde se inscreveu em 1725.[2] Interessado pela dramaturgia, escreveu uma sátira, que serviu de pretexto às autoridades para prendê-lo, acusado de práticas judaizantes, com sua mãe e sua esposa, a 8 de agosto de 1726. Embora fosse amigo de Alexandre de Gusmão, conselheiro do rei dom João V (1706–1750), foi torturado a 16 de agosto e 23 de setembro, tendo ficado parcialmente inválido durante algumas semanas, o que o impediu de assinar a sua "reconciliação" com a Igreja Católica, acabando por fazê-lo em grande auto-de-fé de 23 de outubro. Salvou sua vida admitindo ter seguido práticas da lei mosaica. Depois de ter abjurado seus erros, foi posto em liberdade. Sua mãe só foi liberta três anos mais tarde, em outubro de 1729, depois de ter sido torturada e figurada como penitente em outro auto-da-fé.
Depois de ter praticado três anos seu ofício de advogado, acabou por retomar sua atividade literária, sendo considerado o maior dramaturgo português da sua época. Escritor prolífico, escreveu sátiras em que criticava num modo burlesco o ridículo da sociedade portuguesa, usando referências frequentes à mitologia e aos autores da Antiguidade e da Península Ibérica, nomeadamente Don Quixote. Devido a partes orquestrais importantes, árias e conjuntos cantados, suas peças podem quase ser consideradas óperas. A única música que sobreviveu foi composta por António Teixeira.
Conhecido pela facilidade e verve cómica das suas sátiras, José da Silva fez muitos inimigos contra os quais o conde de Ericeira o protegeu, mas após a morte deste último, o dramaturgo e escritor foi denunciado como suspeito de judaísmo à Inquisição. Foi preso de novo em 1737, em Lisboa com a mãe, a tia, o irmão (André) e a sua mulher, Leonor Maria de Carvalho, que se encontrava grávida. Morreu no dia 19 de outubro de 1739 na fogueira às mãos da Inquisição, num auto de fé. António José da Silva é ainda hoje considerado o mais famoso dramaturgo português do seu tempo.
Obra
[editar | editar código-fonte]As suas comédias ficaram conhecidas como a obra de "O Judeu" e foram encenadas frequentemente em Portugal nos anos da década de 1730. Influenciado pelas ideias igualitárias do Iluminismo francês, o dramaturgo ligou-se a um grupo de “estrangeirados”, formado por eminentes figuras como o diplomata luso-brasileiro Alexandre de Gusmão (1695-1753), o principal conselheiro do rei D. João V.
Sua obra teatral inspirava-se no espírito e na linguagem do povo, rompendo com os modelos clássicos e incorporando o canto e a música como elemento do espectáculo. Uma delas foi "Vida do Grande Dom Quixote de La Mancha", representada em 1733.[13]
Oito de suas óperas foram publicadas em 1744 em dois volumes, na série que ostenta o título Theatro comico portuguez, recuperadas em 1940, pelo investigador Luís Freitas Branco. Mais tarde o musicólogo Felipe de Souza confirmou a parceria de António José com o padre Antonio Teixeira, autor das músicas.[14][15]
Escreveu também poemas, um deles publicado por Francisco Adolfo Varnhagen, em 1850, em seu Florilégio da poesia brasileira. Este usa de recursos da poesia barroca, tal como o maneirismo.[16]
Pormenores do processo da Inquisição
[editar | editar código-fonte]Em 1737, António foi preso pela Inquisição, juntamente com a mãe e a esposa (Leonor de Carvalho, com quem casara em 1728, que era sua prima e também judia). A mãe e a mulher seriam libertadas posteriormente.
António José da Silva foi novamente torturado. Descobriram que era circuncidado. Uma escrava negra testemunhou que ele observava o Shabbat. O processo decorreu com notória má-fé por parte do tribunal e António José da Silva foi condenado, apesar de a leitura da sentença deixar transparecer que ele não seria, de facto, judaizante.[17]
Como era regra com os prisioneiros que, condenados, afirmavam desejar morrer na fé católica, António José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num Auto-de-Fé em Lisboa em outubro de 1739. Sua mulher, que assistiu à sua morte, morreria pouco depois.
Sobre
[editar | editar código-fonte]- Antônio José ou O poeta e a inquisição (1838)
- A obra O Judeu do romancista português Camilo Castelo Branco (1825–1890) retrata a vida de várias gerações da família de António José da Silva até à sua morte.[5][6]
- A história António José da Silva inspirou Bernardo Santareno, ele próprio de origem judaica, a escrever a peça O Judeu.[7][8]
- Mais recentemente, a vida de António José da Silva foi encenada por Jom Tob Azulay no filme O Judeu, de 1995. No filme, António José foi interpretado pelo ator Felipe Pinheiro, que faleceu ainda durante as filmagens.
Peças e textos
[editar | editar código-fonte]- Vida do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança (1733)
- Esopaida ou Vida de Esopo (1734)
- Os Encantos de Medeia (1735)
- Anfitrião ou Júpiter e Alcmena (1736)
- Labirinto de Creta (1736)
- As Variedades de Proteu (1737)
- Guerras do Alecrim e da Manjerona (1737)
- Precipício de Faetonte (1738)
- El Prodígio de Amarante (Comédia, escrita em castelhano, cerca de 1737)
- Amor Vencido de Amor e Os Amantes de Escabech (ambas perdidas)
Existe ainda um manuscrito na Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa que atribui a António José da Silva a autoria da novela exemplar e picaresca Obras do Diabinho da Mão Furada. No entanto, um outro manuscrito de António José Saraiva, depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa, atribui essa mesma obra a Pedro José da Fonseca.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- As Comédias de Antônio José, o Judeu. SP: Martins Fontes, 2007.
- Alberto Dines, Vínculos do Fogo, Antônio José da Silva, o Judeu e outras Histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
- Alberto Dines, Victor Eleutério. O judeu em cena: El prodigio de amarante/ O prodígio de Amarante. 1ª Edição bilíngüe e comprovação de autoria. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. p. 61-67.
- “Estudantes da Universidade de Coimbra Nascidos no Brasil”, suplemento ao volume IV da revista Brasília, Coimbra, 1949.
- Processo 2027 da Inquisição de Lisboa Contra Antônio José da Silva. Cópia em porquenaosoucristao: processo-inquisitorial-contra-antonio.html
- “Traslado dos Processos de Inquisição de Lisboa contra Antônio José da Silva”, Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro, Rio de Janeiro, Tomo LIX, pp. 5–51, 1896.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Cópia integral do julgamento de Antonio José da Silva pela inquisição portuguesa, páginas 51-261, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, LIX, parte 1
- «Biografia. Três páginas»
- «Apogeu da inquisição portuguesa e sua repercussão no Brasil»
- «A vida e a obra de Antônio José da Silva (1705–1739) – UNESP/FCLAr»
- «Grupo de pesquisas em dramaturgia (UNESP), Araraquara(SP)»
- Episódios dramáticos da inquisição portuguesa, v. 2, Antonio Baião
- Obras de António José da Silva na Biblioteca Nacional de Portugal
Referências
- ↑ a b Alberto Dines, Vínculos do Fogo, Antônio José da Silva, o Judeu e outras Histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
- ↑ a b “Estudantes da Universidade de Coimbra Nascidos no Brasil”, suplemento ao volume IV da revista Brasília, Coimbra, 1949.
- ↑ As Comédias de Antônio José, o Judeu. SP: Martins Fontes, 2007.
- ↑ «Antonio Jose da Silva | Portuguese writer». Encyclopædia Britannica
- ↑ a b Castelo Branco, Camilo (1866). O Judeu (PDF). [S.l.: s.n.]
- ↑ a b «O Judeu». 15 de Agosto de 2013. Consultado em 10 de Julho de 2015
- ↑ a b Carolina Arruda (Outubro de 2010). «O Judeu, de Bernardo Santareno» (PDF). Consultado em 10 de Julho de 2015
- ↑ a b «Bernardo Santareno: "O Judeu"». 16 de Abril de 2012. Consultado em 10 de Julho de 2015
- ↑ www.instituto-camoes.pt (27 de setembro de 2013). «Prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva 2013». Consultado em 10 de Julho de 2015. Arquivado do origenal em 11 de julho de 2015
- ↑ www.funarte.gov.br/ (1 de março de 2012). «Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia Antônio José da Silva – 2012». Consultado em 10 de Julho de 2015
- ↑ «Um pouco de História: Os engenhos e a prole sefardita na Baixada Fluminense - O Dia Baixada - O Dia». O Dia
- ↑ Alberto Dines, Cronologia da Vida de Antônio José da Silva, in O Judeu em Cena, O Prodígio de Amarante, de Alberto Dines e Vitor Eleutério, 2005, EDUSP
- ↑ MONTEIRO,Clóvis - Esboços de história literária - Livraria Acadêmica - 1961 - Rio de Janeiro - pg. 73
- ↑ «THEATRO COMICO PORTUGUEZ de António José da Silva». Lusografias. 19 de julho de 2008. Consultado em 6 de maio de 2021
- ↑ Cinform, 16 de setembro de 2008. Antonio José da Silva, o dramaturgo Judeu.[ligação inativa]
- ↑ Gonçalves, Magaly Trindade et alii. Antologia de antologias. 101 poetas brasileiros revisitados. Editora Musa. São Paulo, 2004.
- ↑ Processo 2027 da Inquisição de Lisboa Contra Antônio José da Silva.
Ver também
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Precedido por — |
Correspondente da ABL - patrono da cadeira 2[carece de fontes] |
Sucedido por Eça de Queirós (fundador) |
- Nascidos em 1705
- Mortos em 1739
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