Tragédia do Brigue Palhaço
A tragédia ou massacre do Brigue Palhaço foi um acontecimento onde mais de 250 pessoas morreram à bordo da embarcação "São José Diligente" na cidade brasileira de Belém (Pará) em outubro de 1823, no contexto da Guerra da Independência do Brasil (1822-1825) e[1] da Adesão do Pará;[2] durante a anexação forçada da região ao Brasil, após ser coagida a aderir a independencia através da ameaça de bombardeio, assim a "adesão" aconteceu à revelia da vontade dos habitantes.[3]
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Em 1822, o Império do Brasil proclama independente no dia 7 de setembro deste ano, mas a Província do Grão Pará (1821–1889) não aceitou fazer parte do Brasil, tendo a burguesia comercial e os proprietários de terra mantendo-se fieis a Portugal.[2] Um ano depois, Dom Pedro I pressionou a Província a juntar-se ao Brasil, ocorrendo de forma dramática; sendo enviado um comandante de fragata inglês, John Grenfill, com a missão de incorporar o Pará ao Brasil, custe o que custar.[2]
Na época, a sede da colônia portuguesa era no Palácio Lauro Sodré (no bairro da Cidade Velha), local onde o documento de adesão foi assinado, no dia 15 de agosto de 1823.[2]
A população tinha a expectativa de que a independência representasse mudanças radicais na estrutura econômica e sócio-política da região.[2] Porém, a adesão manteve o mesmo grupo que já estava no poder, constituindo a maioria por portugueses, além da escravidão ainda permanecer forte.[2] Então três meses após a adesão ao Brasil, parte da população paraense se revoltou liderados pelo cônego Batista Campos, ocorrendo manifestação na atual Praça Frei Caetano Brandão (no Largo da Sé ou Feliz Lusitânia) reivindicando direitos iguais aos dos portugueses que viviam no Pará.[2]
História
[editar | editar código-fonte]Na noite do dia 16 de outubro de 1823, um grupo de soldados do 2º Regimento de Artilharia de Belém, e de desordeiros embriagados, voltaram a efetuar ataques a estabelecimentos comerciais portugueses na cidade, iniciados na noite anterior. As patrulhas, compostas por praças de segunda linha, sem conseguir coibir as desordens, informaram a força naval Imperial, sob o comando de John Pascoe Grenfell. Este determinou durante a madrugada, o desembarque de tropas, reforçadas por elementos dos navios mercantes surtos no porto, que detiveram e recolheram à cadeia todas as pessoas encontradas pelas ruas e casas suspeitas e denunciadas, indistintamente.[4]
No dia 17 de outubro, foram sumariamente fuzilados cinco indivíduos. Os soldados e cidadãos detidos na noite anterior, um total de 256 pessoas, foram recolhidos à cadeia pública até ao dia 20, quando foram transferidos e aprisionados à bordo do brigue São José Diligente (posteriormente denominado "brigue Palhaço"),[2] localizado no porto da Baía do Guajará,[2] sob o comando do primeiro-tenente Joaquim Lúcio de Araújo.[4][5]
Confinados no porão da embarcação, tendo sido fechadas as escotilhas e mantendo-se aberta apenas uma pequena fresta para a entrada de ar, devido à superlotação e ao calor a bordo, os prisioneiros começaram a gritar reclamando por água e mais ar, alguns chegando mesmo a ameaçar a guarnição, em seu desespero.[4][5]
Da narrativa dos sobreviventes, depreende-se que, tendo sido lançada água do rio aos prisioneiros numa tina existente no porão, agravou-se o tumulto pela disputa, renovando-se os protestos dos prisioneiros.
A guarnição decidida a acalmar os ânimos, disparou alguns tiros de fuzil para o interior do porão, em cujo interior, ato contínuo, espargiu quantidade de cal viva, cerrando a abertura do porão.[2][5]
No dia seguinte, às sete horas da manhã do dia 22, aberto o porão do navio na presença de seu comandante, contaram-se 252 corpos (com sinais de longa e penosa agonia) e quatro sobreviventes, dos quais, no dia seguinte, apenas um resistiu, de nome João Tapuia. No total pereceram 252 homens sufocados e asfixiados (com lábios e olhos arroxeados e o rosto esbranquiçado que lembravam palhaços).[2] Após a tragédia a embarcação foi apelidado de "brigue Palhaço".[2]
Grenfell não assumiu a culpa pelo incidente, argumentando que o ataque não foi executado sob suas ordens.[4][5]
Referências
- ↑ Raul Thadeu. «Tragédia do Brigue Palhaço sai das sombras». O Liberal, Editoria de Atualidades. Consultado em 22 de setembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2013
- ↑ a b c d e f g h i j k l «Feriado lembra a adesão do Pará à Independência do Brasil». G1 Pará. Consultado em 5 de setembro de 2022
- ↑ Amazonas, Julyan Machado Ramos, Universidade Federal do (17 de dezembro de 2019). «Integração da Amazônia: perpetuação da colonialidade». Amazônia Latitude. Consultado em 15 de agosto de 2024
- ↑ a b c d Magda Ricci (16 de setembro de 2009). «Dias trágicos, Massacre no Grão-Pará fez mais de 250 mortos entre os defensores da Independência». Revista de História. Consultado em 22 de setembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2013
- ↑ a b c d «Brigue São José Diligente, depois Palhaço». Navios de Guerra Brasileiros. Consultado em 22 de setembro de 2013
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Domingos Antônio Rayol. Motins Políticos (vol. I), Belém: Universidade Federal do Pará, 1970.
- Raul Tadheu. Jornal O Liberal, Outubro de 2003.
- João Lucio Mazzini da Costa, Rei Congo, 2004.
- Ademar da Silva Campos. Atos e Relatos da História do Pará. 2015