
Amara Moira
Address: Brazil
less
Related Authors
Revista COR LGBTQIA+
Universidade Federal do Paraná
Thiago Tavares das Neves
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Silvana de Souza Nascimento
Universidade de São Paulo
Yuri Fraccaroli
University of California, Santa Barbara
InterestsView All (7)
Uploads
Papers by Amara Moira
skirting the Jordan River. Cisplatin, Uruguay’s ancient name,
region occupying one of the banks of the Prata River. Trans-
Amazonian, that which crosses the Amazon; transatlantic,
that which crosses the Atlantic. Cisalpine, transalpine. The
geometric isomerism of Organic Chemistry, where “cis” are
atoms that, when molecules are divided in half, remain on
the same side, and “trans” those remaining on opposite sides.
Even the Houaiss dictionary, presenting the cis etymology as
“from the Latin preposition cis ‘below, on this side’ (in
opposition to trans)”. And many other examples. Metaphors,
always metaphors. Something that crosses, trespasses, goes
through and something that remains always on the same
side, skirting, not crossing, that avoids crossing, all in relation
to a given line. Can we imagine the use of one of these terms
without, immediately, referring to the other? From this rhetorical
question, I dare to claim that medical discourse, by naming
as “trans” our peculiar way of living, of claiming existence,
has automatically named the other way, its way, non-trans,
as “cis”, leaving to us only the task of thinking ways of making
the two images proposed, something-that-crosses and
something-that-avoids-crossing, translate themselves into
more tangible meanings.
que margeia o Rio Jordão. Cisplatina, antigo nome do
Uruguai, região que ocupa um dos lados do Rio da Prata.
Transamazônica, o que cruza a Amazônia; transatlântico, o
que atravessa o Atlântico. Cisalpino, transalpino. A isomeria
geométrica da Química Orgânica, onde “cis” são os átomos
que, ao dividirmos a molécula ao meio, permanecem de um
mesmo lado do plano e “trans” os que permanecem em lados
opostos. O próprio dicionário Houaiss, trazendo a etimologia
de cis como “da preposição latina de acusativo cis ‘aquém,
da parte de cá de’ (por oposição a trans)”. E inúmeros outros
exemplos. Metáforas, sempre metáforas. Aquilo que cruza,
que transpassa, que atravessa e aquilo que permanece
sempre dum mesmo lado, que margeia, que não cruza, que
deixa de cruzar, tudo em função duma dada linha. É possível
imaginarmos a utilização de um desses termos sem, de pronto,
nos referirmos ao outro? É partindo dessa pergunta retórica
que ouso afirmar que o discurso médico, ao nomear como
“trans” a nossa maneira peculiar de existir, de reivindicar
existência, automaticamente nomeou a outra maneira, a sua
maneira, não-trans, como “cis”, cabendo-nos apenas pensar
formas de fazer com que as duas imagens propostas nessa
metáfora, aquilo-que-cruza e aquilo-que-deixa-de-cruzar, se
traduzam em sentidos mais palpáveis.
skirting the Jordan River. Cisplatin, Uruguay’s ancient name,
region occupying one of the banks of the Prata River. Trans-
Amazonian, that which crosses the Amazon; transatlantic,
that which crosses the Atlantic. Cisalpine, transalpine. The
geometric isomerism of Organic Chemistry, where “cis” are
atoms that, when molecules are divided in half, remain on
the same side, and “trans” those remaining on opposite sides.
Even the Houaiss dictionary, presenting the cis etymology as
“from the Latin preposition cis ‘below, on this side’ (in
opposition to trans)”. And many other examples. Metaphors,
always metaphors. Something that crosses, trespasses, goes
through and something that remains always on the same
side, skirting, not crossing, that avoids crossing, all in relation
to a given line. Can we imagine the use of one of these terms
without, immediately, referring to the other? From this rhetorical
question, I dare to claim that medical discourse, by naming
as “trans” our peculiar way of living, of claiming existence,
has automatically named the other way, its way, non-trans,
as “cis”, leaving to us only the task of thinking ways of making
the two images proposed, something-that-crosses and
something-that-avoids-crossing, translate themselves into
more tangible meanings.
que margeia o Rio Jordão. Cisplatina, antigo nome do
Uruguai, região que ocupa um dos lados do Rio da Prata.
Transamazônica, o que cruza a Amazônia; transatlântico, o
que atravessa o Atlântico. Cisalpino, transalpino. A isomeria
geométrica da Química Orgânica, onde “cis” são os átomos
que, ao dividirmos a molécula ao meio, permanecem de um
mesmo lado do plano e “trans” os que permanecem em lados
opostos. O próprio dicionário Houaiss, trazendo a etimologia
de cis como “da preposição latina de acusativo cis ‘aquém,
da parte de cá de’ (por oposição a trans)”. E inúmeros outros
exemplos. Metáforas, sempre metáforas. Aquilo que cruza,
que transpassa, que atravessa e aquilo que permanece
sempre dum mesmo lado, que margeia, que não cruza, que
deixa de cruzar, tudo em função duma dada linha. É possível
imaginarmos a utilização de um desses termos sem, de pronto,
nos referirmos ao outro? É partindo dessa pergunta retórica
que ouso afirmar que o discurso médico, ao nomear como
“trans” a nossa maneira peculiar de existir, de reivindicar
existência, automaticamente nomeou a outra maneira, a sua
maneira, não-trans, como “cis”, cabendo-nos apenas pensar
formas de fazer com que as duas imagens propostas nessa
metáfora, aquilo-que-cruza e aquilo-que-deixa-de-cruzar, se
traduzam em sentidos mais palpáveis.