Síntese - Fides Et Ratio
Síntese - Fides Et Ratio
Síntese - Fides Et Ratio
JOÃO PAULO II, Papa. Carta Encíclica Fides et Ratio. São Paulo: Paulinas, 1998.
II. Credo ut Intellegam – Há elementos nas Escrituras que indicam a ligação entre fé e razão.
Para o autor sagrado o desejo de conhecer é uma característica de todos os homens os quais
analisam os fatos racionalmente e reconhecem a ação do Deus de Israel pela fé. Para não cair
na insensatez, o povo eleito compreendeu que para usar a razão deve ter em conta que o
conhecimento é um caminho que não permite descanso; não se pode percorrê-lo com orgulho
dos próprios méritos e deve-se temer a Deus reconhecendo sua transcendência e seu amor no
governo do mundo. Pela razão, o homem, alcança a verdade, porque, iluminado pela fé,
descobre o sentido de tudo.
São Paulo afirma que por meio da criação pode-se chegar ao conhecimento de Deus.
Segundo ele, por causa da desobediência, o homem perdeu a facilidade de acesso a Deus que
tinha no projeto originário. A vinda de Cristo redimiu a razão da sua fraqueza. O ponto chave
que desafia qualquer filosofia é a morte de Jesus Cristo na cruz, pois o homem não
compreende como pode a morte ser fonte de vida e amor, ao passo que Deus escolheu o que a
razão considera como “loucura” e “escândalo” para nos salvar, destruindo a mera lógica
PUC-GO – EFPH – Revelação e Fé – Murillo Cota Ferreira
III. Intellego ut credam – Todos os homens desejam saber e o objeto desse desejo é a
verdade real daquilo que vê. Se descobre que o que sabe é falso, rejeita-o, mas, se satisfaz,
quando atesta sua veracidade. A busca pela verdade é tão importante no âmbito do agir
(prático) quanto no teórico, pois é no agir ético, consciente e livre que a pessoa caminha para
a felicidade e perfeição. Num outro aspecto da verdade, a experiência do sofrimento e
observação de muitos fatos bastam para dramatizar a questão do sentido da vida. Da resposta
que se der a tal questão, deriva a orientação da sua vida. Para todos há a necessidade de
ancorar a existência a uma verdade que forneça uma certeza livre de qualquer dúvida.
O homem é aquele que busca a verdade, pois não poderia fundar a sua vida sobre a
dúvida, a incerteza ou a mentira sem estar ameaçado pelo medo e pela angústia. Essa verdade
que o homem busca pode ser científica, filosófica ou religiosa. O homem também é aquele
que vive de crenças, pois, em sua vida, são muito mais numerosas as verdades acreditadas
que as atestadas pessoalmente. Por mais imperfeita que seja, a crença é mais rica porque põe
em jogo a capacidade relacional do homem ao exigir sua confiança no outro. Posto isso, o
conhecimento que Deus revela em Cristo e o filosófico conduzem o homem à verdade na sua
plenitude.
VI. Interação da Teologia com a Filosofia – A teologia não pode deixar de recorrer às
filosofias que vão surgindo ao longo da história. A teologia está organizada à luz de dois
princípios: auditus fidei e intellectus fidei, o primeiro recolhe os conteúdos da Revelação e,
através do segundo, a teologia quer responder às exigências do pensamento através da
reflexão especulativa. Há diversos ramos da teologia: a teologia dogmática (sentido universal
do mistério de Deus e da economia da salvação), a teologia fundamental (relação entre a fé e
a reflexão filosófica) e a teologia moral (natureza humana, sociedade e princípios gerais para
uma decisão ética). Além disso, o tema da relação com as culturas merece uma reflexão
específica, uma vez que culturas radicadas na natureza humana contêm o testemunho da
abertura ao universal e à transcendência. Compete aos cristãos de hoje a tarefa de extrair, das
culturas não exploradas, os elementos compatíveis com sua fé levando em consideração a
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universalidade do espírito humano, não ignorando o que adquiriu pela inculturação greco-
latina e precavendo-se para não confundir a legítima reinvindicação de originalidade da
cultura com fechar-se na sua diferença. A teologia precisa da filosofia como interlocutora,
para verificar a inteligibilidade e a verdade de universal de suas afirmações. É neste contexto
que a filosofia foi chamada “ancilla theologiæ”.
VII. Exigências e tarefas atuais – As Sagradas Escrituras apresentam uma “filosofia” que
rejeita toda forma de relativismo, materialismo e panteísmo. A convicção fundamental dessa
“filosofia” é o fato de que a vida e o mundo têm um sentido e caminham para sua plenitude
em Jesus Cristo. Para estar em harmonia com a palavra de Deus, esta exige que a filosofia
volte à busca do sentido último e global da vida. Uma segunda exigência é verificar a
capacidade que o homem possui de alcançar o conhecimento da verdade da realidade. Dessas
duas surge deriva uma terceira que se refere a uma busca que seja capaz de transcender os
dados empíricos para chegar ao absoluto, a metafísica, pois é que permite dar o fundamento
do conceito de dignidade da pessoa humana. A importância da metafísica se sobressai ainda
mais diante da hermenêutica e das análises linguísticas, pois a fé pressupõe que a linguagem
humana seja capaz de exprimir de modo universal a realidade divina e transcendente. Se
assim não fosse a palavra de Deus, não seria capaz de exprimir nada sobre Deus.
Reivindica-se a capacidade que o homem possui de alcançar uma visão unitária e
orgânica do saber. A subdivisão do saber, como visão parcial da verdade e a fragmentação do
sentido desta, impede a unidade interior do homem hoje. Também há insistência da
continuidade da relação entre a reflexão filosófica atual e a reflexão elaborada na tradição
cristã com o intuito de prevenir dos perigos de correntes filosóficas como o ecletismo,
o historicismo, o cientificismo, o positivismo e neopositivismo, o pragmatismo e o niilismo e
diversas outras.
Hoje compete a teologia uma dupla tarefa: renovar as suas metodologias em vista de
um serviço mais eficaz à evangelização; manter o olhar fixo sobre a verdade última confiada
pela Revelação. O objetivo fundamental que a teologia persegue é apresentar uma
compreensão do dado revelado e o conteúdo da fé, sobretudo a kenosi de Deus, uma vez que
o mistério do sofrimento e da morte parecem insustentáveis como expressão de amor que se
dá incondicionalmente. Uma vez que a palavra de Deus não se destina somente a um povo ou
época, as formulações dogmáticas devem ser elaboradas de forma que sejam universais, uma
vez que a verdade não está limitada no tempo nem a uma cultura, é conhecida na história mas
a supera. O trabalho teológico na Igreja também se volta, principalmente, ao serviço do
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anúncio da fé e da catequese, uma vez que a doutrina ensina pretende forma a pessoa,
realizando uma união entre doutrina e vida.