Papers by Jonathan Menezes
Esta apresentação é uma tentativa de reunir e refletir sobre dois temas que, na minha opinião, es... more Esta apresentação é uma tentativa de reunir e refletir sobre dois temas que, na minha opinião, estão interrelacionados, embora não tenham a intenção de estar em primeira instância a "experiência histórica sublime", tal como esposada pelo filósofo da história holandês Frank Ankersmit, e a experiência religiosa. A experiência histórica é um dos temas mais importantes da obra de Ankersmite foi um dos tópicos de minha pesquisa de doutorado em história. A experiência histórica no sentido ankersmiteano é um tipo raro e complexo de experiência, totalmente diferente das experiências que temos em nosso cotidiano, mais como vivências, ou da experiência no sentido empirista; pois pressupõe a possibilidade de o historiador estar em contato direto com um passado que já se foi há muito tempo. Por outro lado, há a experiência religiosa, que é um tipo muito mais comum, pelo menos porque ouvimos mais frequentemente sobre experiências dessa natureza. Estou pensando aqui no tipo de experiência que, como a experiência histórica, tem a ver com coisas sublimes e extraordinárias, como milagres ou epifanias, que podem acontecer na vida daqueles seres humanos que estão em busca de uma vida espiritual, e se veem, repentinamente, assombrados pelo Sagrado. Esse "assombro" é algo que místicos de diferentes eras, como João da Cruz e Teresa de Ávila, garantem ter experimentado. Contudo, mesmo os místicosque estão mais próximos da tradição apofática que da catafáticatentaram encontrar palavras para expressar sua experiência ou o caminho de sua relação com o divino de modo didático a seu público. Pode, porém, uma experiência sublime ser expressa em linguagem? Inversamente falando, há uma experiência que já não seja, em si mesma, linguisticamente constituída? Enquanto proponentes da virada-linguística no século XX disseram que não há experiência fora da linguagem-que, por sua vez, "percorre todo o caminho" (goes all the way down), como diria Richard Rorty-, Ankersmit defende que "a experiência está onde a linguagem não está". Para ele, ter uma experiência histórica significa ir além da "prisão da linguagem" (nas famosas palavras de Nietzsche). Então, a perspectiva ankersmiteana sobre a experiência está claramente em desacordo com a chamada virada linguísticaembora ela mesma não consiga escapar dos confins da linguagem, como argumentarei. Mas seria o mesmo com a experiência em um sentido religioso ou espiritual? O que os interessados em entender as possibilidades e os limites da experiência religiosa podem aprender com a experiência histórica sublime? Esta última pode ser considerada a questão principal desta apresentação.
Resumo
Este artigo tem como tema a democracia enquanto fundamentalismo, ou o fundamentalismo dem... more Resumo
Este artigo tem como tema a democracia enquanto fundamentalismo, ou o fundamentalismo democrático. Seu objetivo principal é o reconhecimento de que o pensamento sobre a democracia pode ser, ele mesmo, fundamentalista, de modo que não só os fundamentalismos religiosos são uma ameaça à democracia contemporânea. Trata-se de uma interpretação de textos de dois filósofos contemporâneos que não costumam dialogar entre si, o italiano Gianni Vattimo e o francês Jean-Luc Nancy. A tese do ensaio é a afirmação do pensamento democrático enquanto uma forma de fundamentalismo, na medida em que ele cumpre certas condições estabelecidas pelos dois pensadores analisados. Estas condições são, na linguagem dos filósofos citados, o enquadramento da democracia sob o pensamento forte, ou a sua subsunção a um modo metafísico de pensar, de modo que se torna incapaz de autocrítica e de sua necessária reinvenção. Assim, espera-se contribuir para a construção de uma visão autocrítica da democracia mediante o diálogo com aspectos do pensamento pouco conhecidos de importantes filósofos da atualidade e também mediante o diálogo entre filosofia e teologia enquanto modos emancipatórios de saber. Palavras-chave: Jean-Luc Nancy. Gianni Vattimo. Democracia. Fundamentalismo. Teológico-político.
Abstract
This article has as its theme the democracy as fundamentalism, or the democratic fundamentalism. Its main objective is the recognition that the thinking about democracy can itself be fundamentalist, implying that not only religious fundamentalisms are a threat to contemporary democracy. Its method and object are the interpretation of texts by two contemporary philosophers who do not usually talk to each other, the Italian Gianni Vattimo and the French Jean-Luc Nancy. The essay's thesis is the affirmation of democratic thinking as a form of fundamentalism, insofar as it fulfills certain conditions established by the two thinkers analyzed. These conditions are, in the language of the aforementioned philosophers, the framing of democracy under the so-called strong thought, or its subsumption to a metaphysical way of thought, so that it becomes incapable of self-criticism and its necessary reinvention. Thus, it is expected to contribute to the construction of a self-critical vision of democracy through dialogue with aspects of thought little known of important philosophers and also through the dialogue between philosophy and theology as emancipatory ways of knowing.
O que o leitor encontrará nas páginas seguintes é o relato
de uma conversa que jamais existiu de ... more O que o leitor encontrará nas páginas seguintes é o relato
de uma conversa que jamais existiu de modo prático (e nem poderia),
excetuando os momentos em que Halík trava um diálogo mais direto
com Paulo em seus escritos (que também me servirão de fonte logo no
começo desse imaginado encontro). O restante nasce da imaginação
própria desse leitor fascinado pela figura desses dois personagens tão
distantes na história, mas que se fazem próximos pelo desejo ardente de cooperar, sem atrapalhar, com a proclamação da boa nova no mundo de Deus e dos humanos.
Começo salientando que tenho consciência de que o assunto desse ensaio é complexo, e que não tenh... more Começo salientando que tenho consciência de que o assunto desse ensaio é complexo, e que não tenho condições de cobrir todas as espécies de chão possíveis de ser trilhados nesse tema. Além disso, estou de acordo com Thomas M. Scanlon (2009, p. 36) quando ele diz que "a tolerância é para todos nós matéria de risco, uma prática com altos valores em jogo". Tratar da "crise de tolerância nos tempos atuais" é o que a ementa dessa mesa diz que devemos fazer aqui hoje. Minha pergunta central é: "Será a tolerância nossa última palavra?". O primeiro a fazer essa pergunta foi o filósofo tcheco Tomáš Halík no livro Quero que tu sejas! (2015), que trata sobre o amor. É de se supor, portanto, que o amor seja uma palavra mais forte que a tolerância. Em que medida, porém, podemos falar em amor em meio a tempos conflituosos, nos quais até o amigo e o membro da família entram em choque por causa de opiniões divergentes? Voltarei a este ponto adiante.
Journal of the Philosophy of History, 2021
For some contemporary historical theorists, the postmodernist movement in history and its nearly ... more For some contemporary historical theorists, the postmodernist movement in history and its nearly unilateral orientation towards language or discourse recently became subject to 'the law of diminishing returns', due to philosophers' and theorists' of history shifts in interests at this time. Nevertheless, the contributions left by postmodernism in the Western historical thought are too noticeable to be denied, even by those who have criticized it in the past. Frank Ankersmit is one of the few theorists that has been on both sides; firstly, he swiftly tied his case with postmodernism, and secondly, joined those who, then and now, think that postmodernism was/is just an irresponsible and irretrievable trend. Hence, the aim of this paper is to explore some of the particularities of Ankersmit's affair with postmodernism, taking his metaphor of 'the autumn of historiography' as an example of the limits of this relationship, and its eventual end.
Čuhová, P. S. (ed.). Podoby faktuálneho naratívu. Bratislava: Chronos, 2017, 71-83. [Transl. Euge... more Čuhová, P. S. (ed.). Podoby faktuálneho naratívu. Bratislava: Chronos, 2017, 71-83. [Transl. Eugen Zelenak]
This paper aims to reflect upon the role that postmodernism has played in the contemporary theory and philosophy of history, taking the work of the Dutch philosopher of history Frank Ankersmit as my case study. The curious fact about Ankersmit's affair with postmodernism is that, back in the 1980's, he was among those theorists who identified themselves with postmodernism, while some years later he joined with those who think that postmodernism was/is just an irresponsible and outmoded trend. My attempt here is to find a reason for that 'Gestalt-switch'. His article of 1989 'Historiography and Postmodernism' , along with the following discussion with Perez Zagorin in the journal History and Theory, was called a 'semi-nal moment' by the British theorist of history Keith Jenkins. Nevertheless, my claim in this paper is that, if we read that article more carefully (as I intend to do here), we will realize that his previous engagement with the postmodernist theory of history was not of a full-blooded type, and if we look further in his intellectual journey, we will see that it lasted just a moment.
Historical experience is one of the most important topics of Frank Ankersmit's work. As we shall ... more Historical experience is one of the most important topics of Frank Ankersmit's work. As we shall see in this article, 'historical experience' in the Ankersmitean sense is a rare and complex kind of experience, entirely different from the experiences we have in our daily lives, because it presupposes that a historian can be in direct contact with a past that is long gone. But can we really experience the past? How could a historian perform this? As Ankersmit has admitted, this impractical and unusual choice of experience as one of his theoretical guides is controversial, to say the least, especially among scholars strongly oriented by the linguistic turn, narrativism, postmodernism, and so on, because he claims that experience should have priority over language. In this article, the aim is to investigate some of the effects or the aftermaths of what I term 'the dawn of experience' in current theory and philosophy of history. The aim is also to question whether this dawn of experience necessarily means banishing language or representation. In my view, it does not, and experience presupposes a suspension of language, not a complete abandonment of it.
Versão rascunho do capítulo a ser futuramente publicado no livro "A História, essa cortesã", orga... more Versão rascunho do capítulo a ser futuramente publicado no livro "A História, essa cortesã", organizado por Gabriel Giannattasio (no prelo, 2017).
Journal of the Philosophy of History, 2017
In this interview, Jonathan Menezes asks Frank Ankersmit about various aspects of his theory of h... more In this interview, Jonathan Menezes asks Frank Ankersmit about various aspects of his theory of historical experience, focusing especially on his main book on the subject, Sublime Historical Experience (2005), but also on other writings in which he accounted for historical experience, like History and Tropology (1994) and Meaning, Truth and Reference in Historical Representation (2012). The subjects addressed in the conversation include some of the existent criticism and polemic about this ‘experiential’ part of Ankersmit’s work; a new analysis of the relationship between Huizinga’s ‘historical sensation’ and Ankersmit’s ‘historical experience’; Ankersmit’s criticism of and attempt to go beyond Rorty and the so-called ‘linguistic transcendentalism’; and Ankersmit’s point of view on the connection between historical experience and the German historicist tradition.
Neste artigo procuro lidar com uma questão delicada e importante: a ética da vida intelectual, mo... more Neste artigo procuro lidar com uma questão delicada e importante: a ética da vida intelectual, mormente aplicada ao contexto de formação de novos teólogos e teólogas cristãos/cristãs. Utilizo como mote principal o famoso dito atribuído ao filósofo Sócrates " só sei que nada sei " , tanto para dizer que esta é uma assunção necessária, quanto para contestar a apropriação apenas formal, no contexto acadêmico, da sabedoria nela explícita. Lidarei com os temas da arrogância, orgulho intelectual e a disputa por poder como os principais descaminhos do saber e da vida intelectual. Defenderei que a humanização (e humilhação) do intelectual torna-se uma via mais que necessária em tempos de violência simbólica e exclusão. Através dos pequenos ensaios que a seguir apresento, desejo fomentar a construção e vivência de uma teologia humilhada, isto é, o tipo de teologia que emerge do seguimento radical de Jesus, o que pressupõe o esvaziamento do anseio por poder para tentar permanecer na casa do amor.
This article aims to deal with a delicate and important issue: the ethics of intellectual life, mostly applied in the context of formation of new Christian theologians. I take as a point of departure the famous dictum attributed to Socrates, in which he said " I know that I know nothing ". Not only to say that this is a necessary assumption, but also to contest the appropriation (only in a formal level) of the wisdom implicated by it in the academic field. I will deal with topics like arrogance, intellectual pride and the dispute for power as the major detours of knowledge and of intellectual life. I will defend that a humanization (and humiliation) of the intellectual is a necessary path in times of symbolic violence and exclusion. Through the short essays that I will present in the following, I wish to foment the construction and living of a humiliated theology, i.e., the kind of theology that could emerge from the radical following of Jesus, which presupposes the deflation of the demand for power trying to stay in the house of love.
As questões da (in)tolerância entre as religiões e da liberdade de crença e de pensamento não são... more As questões da (in)tolerância entre as religiões e da liberdade de crença e de pensamento não são novas para a história, ou melhor, não são exclusivas desta época. Basta lembrar, para os propósitos aqui arrolados, uma obra do período iluminista, o Tratado sobre a tolerância de Voltaire, que tratava precisamente disto. Em contrapartida, mesmo vivendo numa era de consolidação de fenômenos de secularização, como Gianni Vattimo entende ser a nossa -e que tem a ver com liberdade, celebração e respeito às diferenças -, ainda se vislumbra a intolerância para com diferentes crenças religiosas, e o não respeito, especialmente por parte de setores de religiões majoritárias como o cristianismo, ao princípio de laicidade do Estado. Em diálogo com o pensiero debole (pensamento fraco) de Vattimo, analisarei a proposta deste autor de migração da ideia de tolerância para a de caridade, como meio de mover-se para além de uma relação metafísica com a verdade nas religiões para a noção pouco comum às práticas e discursos religiosos de uma verdade kenótica, isto é, esvaziada de pretensões de correspondência e, por conseguinte, de imposição sobre outras.
Para levar a termo o desafio de analisar alguns aspectos do pensamento de um dos maiores expoente... more Para levar a termo o desafio de analisar alguns aspectos do pensamento de um dos maiores expoentes da teoria da história da atualidade, o holandês Frank Ankersmit, começamos nossa exposição com uma breve descrição de sua trajetória intelectual. Em seguida; identificamos, de forma ainda muito panorâmica, os temas mais recorrentes em seus escritos. Por fim, colocamos o foco em um conceito que consideramos fundamental para a compreensão de seus escritos, o de representação histórica. A este conceito estariam atrelados tantos outros, mas, por uma questão de economia de espaço, não vamos analisá-los de forma detalhada. Afinal, este é apenas um convite introdutório à leitura de textos de um pensador de extrema riqueza e complexidade na formulação de suas ideias.
Texto de comunicação de trabalho publicado nos Anais do II Congresso Internacional de História UE... more Texto de comunicação de trabalho publicado nos Anais do II Congresso Internacional de História UEPG-Unicentro
World-history (not to be confused with global history) enjoys a great deal of popularity nowadays... more World-history (not to be confused with global history) enjoys a great deal of popularity nowadays. We are no longer interested now in the history of the nation-state, of social class or of some cultural movement – or at least less so than before. What now fascinates us is how mankind, as we presently know it, came into being when " it broke with the cake of custom " (as Toynbee put it), and no less what did precede that moment. How emancipated man from the domain of nature, how did it succeed in creating a domain that we now unproblematically oppose to that of nature? And then we cannot fail to ask the question: if men came from nature, will he return to it again, 'in the end', and how to conceive of such a return to nature? We might think here of Hegel's speculations of the absolute mind suggesting a final reconciliation of Mind and Nature. Nevertheless, Hegel was not very specific about this reconciliation of mankind and nature. So at the end of my paper I turn to Science Fiction literature in an attempt to give some substance to Hegel's intuitions.
O estudo do protestantismo é algo que tem fascinado a muitos pesquisadores nos últimos anos. A mu... more O estudo do protestantismo é algo que tem fascinado a muitos pesquisadores nos últimos anos. A multiplicidade que o constitui, as combinações que ele engloba e as metamorfoses pelas quais têm passado são o cerne temático desse artigo. Como amostra de uma parcela dessa realidade, esse estudo envolve tanto um diálogo com alguns teóricos da história e da s0ciologia que se ocuparam desse campo, como uma abordagem a histórias e experiências de praticantes de uma comunidade religiosa em Londrina, no Paraná. A partir dessa fusão de olhares, postulou-se que o sagrado que se manifesta nesse âmbito não é fruto de mera repetição de modelos, mas de recriações, reinvenções da tradição, a partir da experiência singular de fé das pessoas em seus contextos particulares de vida. Em virtude disso, tanto nos discursos como nas práticas religiosas ocorreram rupturas, que ora penderam para uma flexibilização, ora para um reforço de trincheiras religiosas. PALAVRAS-CHAVE: metamorfoses do sagrado; experiência; tradição; Protestantismo; Londrina/Pr; Brasil.
A religiosidade está na matriz da existência humana. Como analisar cientificamente aquilo que é p... more A religiosidade está na matriz da existência humana. Como analisar cientificamente aquilo que é produto de subjetividades ou de pura abstração? O trabalho do historiador está em analisar as "regras de funcionamentos sociais", contidas nas práticas religiosas. Meu interesse particular aqui está nos mitos: o que são? Que tipo de práticas eles engendram ou regras de funcionamento social que ajudam a gerir? Que crenças comuns gravitam em torno do mito? Como se dá sua aceitação ou rechaço no mundo contemporâneo? Essas são algumas das questões que neste ensaio se pretende abordar como parâmetros de análise para uma história das religiões e religiosidades.
A palavra espiritualidade tem se tornado cada vez mais polissêmica e pluralista. Segundo Harvey C... more A palavra espiritualidade tem se tornado cada vez mais polissêmica e pluralista. Segundo Harvey Cox, essa pluralização da espiritualidade se deve: (a) porque ainda é uma forma de protesto, representando uma moção que cresce por todos os lugares contra as pressões e abusos da " religião " ; (b) porque representa uma tentativa de muitos em dar voz à reverência e maravilhamento diante da complexidade da natureza; (c) porque reconhece as cada vez mais finas camadas de separação entre as diferentes tradições, e se fixa mais no presente e no futuro que no passado. Logo, é possível falar de vários discursos e práticas de espiritualidade. Meu interesse nesse ensaio é fazer uma análise da espiritualidade do que aqui chamo de novo ateísmo, que Michael Onfray chamou de " Ateísmo Cristão " , e Alain de Botton, por sua vez, o cunhou como " Ateísmo 2.0 ". Uma das marcas desse ateísmo é seu apreço pela vida, pela humanidade, pelo natural, e a possibilidade de viver uma espiritualidade a partir desse plano mais horizontal e secular, uma " espiritualidade sem Deus ". Porém, ao mesmo tempo em que afirmam a descrença em Deus, os neoateístas não querem perder de vista valores éticos, humanistas, bem como a riqueza cultural do ocidente cristão. Em que medida ele se aproxima e em que medida quer se emancipar do cristianismo? Essa é a questão principal desse ensaio.
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Papers by Jonathan Menezes
Este artigo tem como tema a democracia enquanto fundamentalismo, ou o fundamentalismo democrático. Seu objetivo principal é o reconhecimento de que o pensamento sobre a democracia pode ser, ele mesmo, fundamentalista, de modo que não só os fundamentalismos religiosos são uma ameaça à democracia contemporânea. Trata-se de uma interpretação de textos de dois filósofos contemporâneos que não costumam dialogar entre si, o italiano Gianni Vattimo e o francês Jean-Luc Nancy. A tese do ensaio é a afirmação do pensamento democrático enquanto uma forma de fundamentalismo, na medida em que ele cumpre certas condições estabelecidas pelos dois pensadores analisados. Estas condições são, na linguagem dos filósofos citados, o enquadramento da democracia sob o pensamento forte, ou a sua subsunção a um modo metafísico de pensar, de modo que se torna incapaz de autocrítica e de sua necessária reinvenção. Assim, espera-se contribuir para a construção de uma visão autocrítica da democracia mediante o diálogo com aspectos do pensamento pouco conhecidos de importantes filósofos da atualidade e também mediante o diálogo entre filosofia e teologia enquanto modos emancipatórios de saber. Palavras-chave: Jean-Luc Nancy. Gianni Vattimo. Democracia. Fundamentalismo. Teológico-político.
Abstract
This article has as its theme the democracy as fundamentalism, or the democratic fundamentalism. Its main objective is the recognition that the thinking about democracy can itself be fundamentalist, implying that not only religious fundamentalisms are a threat to contemporary democracy. Its method and object are the interpretation of texts by two contemporary philosophers who do not usually talk to each other, the Italian Gianni Vattimo and the French Jean-Luc Nancy. The essay's thesis is the affirmation of democratic thinking as a form of fundamentalism, insofar as it fulfills certain conditions established by the two thinkers analyzed. These conditions are, in the language of the aforementioned philosophers, the framing of democracy under the so-called strong thought, or its subsumption to a metaphysical way of thought, so that it becomes incapable of self-criticism and its necessary reinvention. Thus, it is expected to contribute to the construction of a self-critical vision of democracy through dialogue with aspects of thought little known of important philosophers and also through the dialogue between philosophy and theology as emancipatory ways of knowing.
de uma conversa que jamais existiu de modo prático (e nem poderia),
excetuando os momentos em que Halík trava um diálogo mais direto
com Paulo em seus escritos (que também me servirão de fonte logo no
começo desse imaginado encontro). O restante nasce da imaginação
própria desse leitor fascinado pela figura desses dois personagens tão
distantes na história, mas que se fazem próximos pelo desejo ardente de cooperar, sem atrapalhar, com a proclamação da boa nova no mundo de Deus e dos humanos.
This paper aims to reflect upon the role that postmodernism has played in the contemporary theory and philosophy of history, taking the work of the Dutch philosopher of history Frank Ankersmit as my case study. The curious fact about Ankersmit's affair with postmodernism is that, back in the 1980's, he was among those theorists who identified themselves with postmodernism, while some years later he joined with those who think that postmodernism was/is just an irresponsible and outmoded trend. My attempt here is to find a reason for that 'Gestalt-switch'. His article of 1989 'Historiography and Postmodernism' , along with the following discussion with Perez Zagorin in the journal History and Theory, was called a 'semi-nal moment' by the British theorist of history Keith Jenkins. Nevertheless, my claim in this paper is that, if we read that article more carefully (as I intend to do here), we will realize that his previous engagement with the postmodernist theory of history was not of a full-blooded type, and if we look further in his intellectual journey, we will see that it lasted just a moment.
This article aims to deal with a delicate and important issue: the ethics of intellectual life, mostly applied in the context of formation of new Christian theologians. I take as a point of departure the famous dictum attributed to Socrates, in which he said " I know that I know nothing ". Not only to say that this is a necessary assumption, but also to contest the appropriation (only in a formal level) of the wisdom implicated by it in the academic field. I will deal with topics like arrogance, intellectual pride and the dispute for power as the major detours of knowledge and of intellectual life. I will defend that a humanization (and humiliation) of the intellectual is a necessary path in times of symbolic violence and exclusion. Through the short essays that I will present in the following, I wish to foment the construction and living of a humiliated theology, i.e., the kind of theology that could emerge from the radical following of Jesus, which presupposes the deflation of the demand for power trying to stay in the house of love.
Este artigo tem como tema a democracia enquanto fundamentalismo, ou o fundamentalismo democrático. Seu objetivo principal é o reconhecimento de que o pensamento sobre a democracia pode ser, ele mesmo, fundamentalista, de modo que não só os fundamentalismos religiosos são uma ameaça à democracia contemporânea. Trata-se de uma interpretação de textos de dois filósofos contemporâneos que não costumam dialogar entre si, o italiano Gianni Vattimo e o francês Jean-Luc Nancy. A tese do ensaio é a afirmação do pensamento democrático enquanto uma forma de fundamentalismo, na medida em que ele cumpre certas condições estabelecidas pelos dois pensadores analisados. Estas condições são, na linguagem dos filósofos citados, o enquadramento da democracia sob o pensamento forte, ou a sua subsunção a um modo metafísico de pensar, de modo que se torna incapaz de autocrítica e de sua necessária reinvenção. Assim, espera-se contribuir para a construção de uma visão autocrítica da democracia mediante o diálogo com aspectos do pensamento pouco conhecidos de importantes filósofos da atualidade e também mediante o diálogo entre filosofia e teologia enquanto modos emancipatórios de saber. Palavras-chave: Jean-Luc Nancy. Gianni Vattimo. Democracia. Fundamentalismo. Teológico-político.
Abstract
This article has as its theme the democracy as fundamentalism, or the democratic fundamentalism. Its main objective is the recognition that the thinking about democracy can itself be fundamentalist, implying that not only religious fundamentalisms are a threat to contemporary democracy. Its method and object are the interpretation of texts by two contemporary philosophers who do not usually talk to each other, the Italian Gianni Vattimo and the French Jean-Luc Nancy. The essay's thesis is the affirmation of democratic thinking as a form of fundamentalism, insofar as it fulfills certain conditions established by the two thinkers analyzed. These conditions are, in the language of the aforementioned philosophers, the framing of democracy under the so-called strong thought, or its subsumption to a metaphysical way of thought, so that it becomes incapable of self-criticism and its necessary reinvention. Thus, it is expected to contribute to the construction of a self-critical vision of democracy through dialogue with aspects of thought little known of important philosophers and also through the dialogue between philosophy and theology as emancipatory ways of knowing.
de uma conversa que jamais existiu de modo prático (e nem poderia),
excetuando os momentos em que Halík trava um diálogo mais direto
com Paulo em seus escritos (que também me servirão de fonte logo no
começo desse imaginado encontro). O restante nasce da imaginação
própria desse leitor fascinado pela figura desses dois personagens tão
distantes na história, mas que se fazem próximos pelo desejo ardente de cooperar, sem atrapalhar, com a proclamação da boa nova no mundo de Deus e dos humanos.
This paper aims to reflect upon the role that postmodernism has played in the contemporary theory and philosophy of history, taking the work of the Dutch philosopher of history Frank Ankersmit as my case study. The curious fact about Ankersmit's affair with postmodernism is that, back in the 1980's, he was among those theorists who identified themselves with postmodernism, while some years later he joined with those who think that postmodernism was/is just an irresponsible and outmoded trend. My attempt here is to find a reason for that 'Gestalt-switch'. His article of 1989 'Historiography and Postmodernism' , along with the following discussion with Perez Zagorin in the journal History and Theory, was called a 'semi-nal moment' by the British theorist of history Keith Jenkins. Nevertheless, my claim in this paper is that, if we read that article more carefully (as I intend to do here), we will realize that his previous engagement with the postmodernist theory of history was not of a full-blooded type, and if we look further in his intellectual journey, we will see that it lasted just a moment.
This article aims to deal with a delicate and important issue: the ethics of intellectual life, mostly applied in the context of formation of new Christian theologians. I take as a point of departure the famous dictum attributed to Socrates, in which he said " I know that I know nothing ". Not only to say that this is a necessary assumption, but also to contest the appropriation (only in a formal level) of the wisdom implicated by it in the academic field. I will deal with topics like arrogance, intellectual pride and the dispute for power as the major detours of knowledge and of intellectual life. I will defend that a humanization (and humiliation) of the intellectual is a necessary path in times of symbolic violence and exclusion. Through the short essays that I will present in the following, I wish to foment the construction and living of a humiliated theology, i.e., the kind of theology that could emerge from the radical following of Jesus, which presupposes the deflation of the demand for power trying to stay in the house of love.