Ame a realidade
De Byron Katie
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Ame a realidade - Byron Katie
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Como ler este livro
O OBJETIVO DESTE LIVRO É SUA felicidade. O Trabalho funcionou para milhares de pessoas, e Ame a realidade irá lhe mostrar exatamente como usá-lo em sua própria vida.
Comece com os problemas que o(a) irritam ou deprimem. O livro vai lhe mostrar como escrevê-los de uma maneira que facilite a investigação. A seguir serão apresentadas as quatro perguntas, mostrando-lhe como aplicá-las a seus problemas individuais. A essa altura você poderá perceber como O Trabalho pode revelar soluções que são simples, radicais e que podem transformar sua vida.
Além disso, o livro contém exercícios que lhe ensinarão como usar O Trabalho com uma profundidade e precisão cada vez maiores, e que demonstrarão como o processo pode operar em todas as situações. Após realizar O Trabalho com as pessoas em sua vida, você aprenderá a utilizá-lo nas questões que lhe causam mais dor — dinheiro, por exemplo, doença, injustiça, desprezo por você mesmo(a) ou medo da morte. Você aprenderá, também, a reconhecer as crenças subjacentes que impedem que seus olhos vejam a realidade e como lidar com aqueles juízos que você faz de si mesmo e que o(a) perturbam.
Em todo o livro haverá muitos exemplos de pessoas exatamente como você realizando O Trabalho — pessoas que creem que seus problemas são insolúveis, que estão certas de que terão que sofrer pelo resto de suas vidas porque um filho adorado morreu ou porque vivem com alguém a quem já não amam. Você conhecerá uma mulher desesperada com o choro de um bebê, outra, que vive com medo por causa do mercado de ações, pessoas aterrorizadas pelos pensamentos sobre algum trauma de infância ou apenas tentando conviver com um colega de trabalho com quem é difícil lidar. Você verá como elas conseguiram encontrar uma saída para seu sofrimento; e talvez por meio deles e das ideias práticas nas páginas que se seguem você encontrará sua própria saída.
Cada pessoa aprende O Trabalho de seu próprio jeito. Algumas aprendem o processo principalmente observando como os diálogos se desenvolvem. (Eu as encorajo a lê-los de uma maneira pró-ativa — buscando, em seu interior, suas próprias respostas enquanto lê.) Outras aprendem O Trabalho unicamente pela prática: investigando o que for que está lhes perturbando naquele momento, com um papel e uma caneta à mão. Sugiro que você leia o capítulo 2, e possivelmente o capítulo 5 também, para absorver as instruções básicas. Depois disso, pode, por exemplo, ler cada um dos diálogos, um após outro — mas só se sentir que isso o(a) ajuda. Se preferir selecionar e ler os diálogos cujos temas lhe interessam especificamente, nenhum problema. Ou você pode preferir seguir as instruções conforme elas são apresentadas em todo o livro e ler algum diálogo só de vez em quando. Estou certa de que você fará aquilo que funciona melhor para você.
Estamos entrando na dimensão que podemos controlar — nosso interior.
1
Alguns princípios básicos
O QUE EU GOSTO EM O Trabalho é que ele lhe permite entrar em seu interior e encontrar sua própria felicidade, sentir aquilo que já existe dentro de você, permanente, imutável, sempre presente, sempre à espera. Não há necessidade de um professor. Você é o professor pelo qual vinha esperando. Você é a pessoa que pode pôr um fim a seu próprio sofrimento.
Costumo dizer: não acredite em nada do que digo. Quero que você descubra o que é verdadeiro para você, não para mim. Apesar disso, quando iniciaram O Trabalho, muitas pessoas acharam os princípios úteis.
Percebendo quando seus pensamentos contradizem a realidade
Só sofremos quando acreditamos em uma ideia que contradiz a realidade. Quando a mente está perfeitamente clara, queremos aquilo que é real.
Querer que a realidade seja diferente é mais difícil do que tentar ensinar um gato a latir. Você pode ficar tentando durante horas e no final o gato vai olhar para você e dizer: miau.
Querer que a realidade seja diferente do que é não é viável. Podemos passar o resto da vida tentando ensinar um gato a latir.
Se você prestar atenção, no entanto, perceberá que pensamentos como esses lhe vêm à mente dezenas de vezes ao dia: As pessoas deveriam ser mais bondosas
, As crianças deveriam se comportar melhor
, Meus vizinhos deveriam cuidar melhor da grama do jardim
, A fila do supermercado deveria andar mais rápido
, Meu marido (ou minha esposa) deveria concordar comigo
, Eu deveria ser mais magra (ou mais bonita, ou ter mais sucesso)
. Esses pensamentos são maneiras de querer que a realidade seja diferente do que é. Se você acha que isso parece deprimente, tem toda razão. Todo o estresse que sentimos advém de nossas tentativas de discutir com aquilo que é.
Depois que despertei para a realidade, em 1986, as pessoas, muitas vezes, se referiam a mim como a mulher que ficou amiga do vento. Barstow é uma cidade no deserto, onde o vento sopra a maior parte do tempo, e todos o detestam; as pessoas chegam a se mudar porque não podem suportar o vento. A razão que me levou a fazer amizade com o vento — com a realidade — é que descobri que não tinha escolha. Compreendi que é quase uma loucura se opor a ela. Quando discuto com a realidade, perco — só 100 por cento das vezes. Como é que sei que o vento deve soprar? Porque está soprando!
As pessoas que ainda não conhecem O Trabalho às vezes me dizem: Mas deixar de discutir com a realidade é perder o poder. Se eu simplesmente aceitar a realidade, passarei a ser passiva. Posso até perder a vontade de agir.
Eu lhes respondo com uma pergunta: Você pode ter certeza de que isso é verdade? O que é que lhe dá mais poder: ‘Gostaria de não ter perdido meu emprego’ ou ‘perdi meu emprego; o que posso fazer agora?’
O Trabalho revela que aquilo que você acha que não deveria ter ocorrido, deveria ter ocorrido. E deveria ter ocorrido simplesmente porque ocorreu e nenhum pensamento no mundo pode modificar essa situação. Isso não significa que você tolera o que ocorreu ou está de acordo com ele. Apenas significa que pode ver as coisas sem a resistência e sem a confusão de sua luta interna. Ninguém quer que os filhos fiquem doentes, ninguém quer se envolver em um acidente de carro; mas quando essas coisas acontecem, de que vale discutir mentalmente com elas? Embora seja evidente que fazer isso é uma tolice, o fazemos, porque não sabemos deixar de fazê-lo.
Sou amante da realidade não porque seja uma pessoa espiritual, mas porque, quando discuto com ela, sofro. Podemos ver que a realidade é boa exatamente como é porque, quando discutimos com ela, nos sentimos tensos e frustrados. Não nos sentimos naturais ou equilibrados. Quando paramos de nos opor à realidade, a ação se torna mais simples, fluida, generosa e destemida.
Permanecendo naquilo que é de nossa conta
Posso apontar apenas três tipos de assuntos no universo: os meus, os seus e os de Deus. (Para mim, a palavra Deus quer dizer realidade
. Realidade é Deus, porque ela governa. Tudo aquilo que está fora do meu controle, ou do seu controle, ou do controle de todos os demais, eu chamo de assuntos de Deus.)
Muito de nosso estresse surge por vivermos mentalmente conectados com o que não é de nossa conta. Quando penso: Você precisa arranjar um emprego, quero que você seja feliz
, estou entrando nos assuntos que são de sua conta. Quando me preocupo com terremotos, enchentes, guerra ou com a data da minha morte, estou me envolvendo nos assuntos de Deus. Se, mentalmente, envolvo-me com os seus assuntos ou com os assuntos de Deus, o resultado é a separação. Percebi isso no início de 1986. Quando, mentalmente, interferia nos assuntos de minha mãe com pensamentos como, por exemplo: Minha mãe deveria me compreender
, imediatamente tinha uma sensação de solidão. E compreendi que todas as vezes na minha vida em que me sentira magoada ou solitária é porque estava envolvida no que era da conta de outra pessoa.
Se você está vivendo sua vida e eu estou mentalmente também vivendo sua vida, quem está aqui vivendo a minha? Estamos ambos lá longe. Estar mentalmente em seus assuntos evita que eu esteja presente nos meus próprios. Fico separada de mim mesma, perguntando-me por que minha vida não dá certo.
Achar que sei o que é melhor para qualquer outra pessoa é estar fora daquilo que é da minha conta. Mesmo em nome do amor, tal atitude é pura arrogância, e o resultado é tensão, ansiedade e medo. Sei o que é certo para mim mesma? Isso, sim, faz parte dos meus assuntos. Portanto, preciso lidar com isso primeiro, antes de tentar solucionar seus problemas para você.
Se você entender os três tipos de assuntos o suficiente para permanecer em seus próprios, poderá libertar sua vida de uma maneira que nem você próprio(a) pode imaginar. Na próxima vez que estiver se sentindo estressado(a) ou desconfortável, pergunte a si mesmo(a) em que assuntos você está mentalmente, e é possível que dê uma boa risada. A pergunta pode trazer você de volta para si mesmo(a). E você pode chegar a perceber que, na verdade, nunca esteve presente, que tem estado vivendo mentalmente nos assuntos de outras pessoas a vida toda. Só perceber que você está envolvido nas coisas que são da conta de outras pessoas pode trazê-lo(a) de volta para seu próprio e maravilhoso eu.
E praticando isso por algum tempo, pode vir a descobrir que também não tem preocupações específicas e que sua vida está correndo perfeitamente bem por conta própria.
Enfrentando seus pensamentos com compreensão
Um pensamento é inofensivo a não ser que acreditemos nele. Não são nossos pensamentos, mas o vínculo com nossos pensamentos que nos faz sofrer. O vínculo com um pensamento significa acreditar que ele é verdadeiro, sem um questionamento mais profundo. Uma crença é um pensamento ao qual nos vinculamos, muitas vezes durante anos.
A maior parte das pessoas acham que são aquilo que seus pensamentos dizem que são. Um dia percebi que não estava respirando — eu estava sendo respirada
. E depois também percebi, para minha surpresa, que não estava pensando — que eu estava sendo pensada
e que aquele pensamento não era meu. Você por acaso acorda de manhã e diz para si mesmo(a): Acho que não vou pensar hoje
? Tarde demais. Você já está pensando! Os pensamentos simplesmente aparecem. Surgem do nada e voltam para o nada, como nuvens deslocando-se em um céu vazio. Eles vêm para passar, não para ficar. Não oferecem nenhum perigo até o momento em que nos vinculamos a eles como se fossem verdade.
Ninguém é capaz de controlar seu pensamento, embora algumas pessoas possam contar histórias sobre como o fizeram. Não me desfaço de meus pensamentos — eu os enfrento com compreensão. E com isso eles é que me abandonam.
Pensamentos são como a brisa ou as folhas nas árvores ou as gotas da chuva que cai. Aparecem da mesma forma, e por meio da investigação podemos ficar amigos deles. Você discutiria com uma gota de chuva? As gotas de chuva não são pessoais, e os pensamentos também não. Se enfrentarmos com compreensão um conceito que nos causa sofrimento, na próxima vez que ele surgir podemos até achá-lo interessante. Aquilo que antes era um pesadelo agora é apenas interessante. Na próxima vez que ele aparecer, você pode achá-lo cômico. E, na próxima, é possível que nem o note. Esse é o poder de amar a realidade.
Ficando conscientes de nossas histórias
Muitas vezes uso a palavra história para falar sobre pensamentos — ou uma sequência de pensamentos — de cuja veracidade nos convencemos. A história pode ser sobre o passado, sobre o presente ou sobre o futuro; pode ser sobre como as coisas deveriam ser, como poderiam ser ou por que são assim. Histórias surgem em nossas mentes centenas de vezes por dia — quando alguém se levanta sem dizer uma palavra e sai da sala, quando alguém não sorri ou não retorna uma chamada telefônica, ou até quando um estranho nos sorri; antes ou depois de abrir uma carta importante, você sente uma sensação estranha no peito; quando seu chefe sugere que você vá até sua sala, ou quando seu companheiro (ou companheira) fala com você em certo tom de voz. Histórias são as teorias não testadas, não investigadas, que nos dizem o que todas essas coisas significam. Nós nem chegamos a perceber que elas são apenas teorias.
Uma vez, indo ao toalete de senhoras em um restaurante perto de minha casa, encontrei-me com uma mulher que saía do único compartimento. Sorrimos uma para a outra e, quando fechei a porta, ela começou a cantar enquanto lavava as mãos. Que linda voz!, pensei. Mas aí, ao ouvi-la sair, notei que o assento do vaso sanitário estava todo molhado. Como é que as pessoas podem ser tão grosseiras?, pensei. E como será que ela conseguiu urinar no assento inteiro? Será que ela ficou em pé sobre ele? Então, veio-me a ideia de que ela era um homem — um travesti, cantando em falsete no banheiro das mulheres. Passou pela minha mente segui-la (segui-lo) e dar-lhe uma lição sobre a sujeira que tinha feito. Enquanto limpava o assento, fiquei pensando em tudo o que diria. A seguir, puxei a descarga. A água encheu o vaso até em cima e encharcou o assento. E eu fiquei ali parada rindo.
Nesse caso, o curso natural dos eventos foi bastante generoso para expor minha história antes que ela prosseguisse ainda mais. Mas, normalmente, isso não acontece. Antes de descobrir a investigação, eu não tinha nenhum meio de parar esse tipo de pensamento. Histórias pequenas geram histórias grandes; histórias grandes geram teorias importantes sobre a vida, como as coisas foram terríveis e como o mundo é um lugar perigoso. Com isso, acabei sentindo-me apavorada demais e deprimida demais até para sair de meu quarto.
Quando você está agindo de acordo com teorias não investigadas a respeito daquilo que está acontecendo e não está sequer consciente disso, encontra-se naquilo que eu chamo de o sonho
. Muitas vezes, o sonho é perturbador; às vezes, transforma-se em um pesadelo. Em momentos como esses, é uma boa ideia testar a veracidade de suas teorias executando O Trabalho sobre elas. O Trabalho sempre elimina um pouco de sua história desconfortável. Quem seria você sem ela? Que proporção do seu mundo é composta de histórias não investigadas? Você nunca saberá, até que investigue.
Procurando o pensamento por trás do sofrimento
Nunca tive uma sensação de estresse que não tenha sido provocada pelo vínculo com um pensamento falso. Por trás de todos os sentimentos desconfortáveis há sempre um pensamento que não é verdadeiro para nós. O vento não deveria estar soprando
, Meu marido deveria concordar comigo
. Temos aquele pensamento que contradiz a realidade, depois uma sensação de estresse e, a seguir, atuamos com base naquela sensação, o que cria ainda mais estresse para nós. Em vez de entender a causa original — um pensamento —, tentamos mudar as sensações estressantes procurando sua fonte fora de nós mesmos(as). Tentamos mudar alguma outra pessoa, ou procuramos sexo, comida, álcool, drogas ou dinheiro a fim de encontrar um consolo temporário e a ilusão de controle.
É fácil ser levado de roldão por um sentimento incontrolável; portanto, é uma boa ideia lembrar que qualquer sensação de estresse é como um despertador piedoso que diz: Você está preso(a) no sonho.
Depressão, dor e medo são dons que dizem: Meu bem, dê uma olhada nos seus pensamentos neste momento. Você está vivendo uma história que não é verdadeira para você.
Viver uma inverdade é sempre estressante. Mas se nós não respeitarmos o despertador, tentaremos alterar e manipular o sentimento buscando suas causas fora de nós mesmos(as). Normalmente, a consciência da sensação surge antes da consciência do pensamento. É por isso que digo que há um despertador que lhe avisa que você está em um pensamento e que investigá-lo lhe faria bem. E investigar um pensamento falso por meio de O Trabalho sempre o(a) leva de volta a quem você é realmente. Porque é penoso acreditar que você é diferente daquilo que é realmente para viver qualquer história que não seja a da felicidade.
Se você colocar a mão no fogo, é preciso que alguém lhe diga para retirá-la? Você tem de tomar uma decisão? Não. Quando sua mão começa a queimar, ela se retrai. Você não precisa direcioná-la; ela se move sozinha. Da mesma forma, quando você compreender, através da investigação, que um pensamento falso causa sofrimento, você vai se afastar dele. Antes do pensamento, você não estava sofrendo. Com o pensamento, você começa a sofrer; quando você reconhece que o pensamento não é verdadeiro, uma vez mais não há sofrimento. E é assim que O Trabalho funciona. Qual é minha reação quando tenho aquele pensamento?
Mão no fogo. Como eu seria sem ele?
Mão fora das chamas. Examinamos o pensamento, sentimos nossa mão no fogo e naturalmente recuamos para a posição original; não é preciso que nos digam nada. E na próxima vez que o pensamento surgir, a mente automaticamente se distancia do fogo. O Trabalho nos convida a ter a consciência da causa e do efeito internos. Quando reconhecemos isso, todo nosso sofrimento começa a se desemaranhar por conta própria.
Investigação
Uso a palavra investigação como sinônimo de O Trabalho. Investigar ou inquirir é colocar um pensamento ou uma história diante das quatro perguntas e das inversões (o que será explicado no capítulo seguinte). A investigação é uma forma de pôr fim à confusão e de sentir paz interna, mesmo em um mundo de caos aparente. Mais que tudo, é sobre a compreensão de que todas as respostas de que sempre necessitaremos estão sempre disponíveis dentro de