Alguma poesia
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Sobre este e-book
"No meio do caminho", "Poema de sete faces" e "Quadrilha" estão entre os poemas mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade, e todos fazem parte de Alguma poesia, seu livro de estreia, publicado em 1930, quando o poeta tinha 28 anos. Aqui, mais inequivocamente do que em qualquer outra de suas obras, transparece a influência da Semana de Arte Moderna de 1922 e, sobretudo, de Mário de Andrade, com quem Drummond manteve uma farta correspondência literária.
O ideário e a estética modernistas estão presentes na maneira como o poeta se coloca no mundo – recusando antigas idealizações e inserindo-se no cotidiano, "como qualquer homem da Terra". Estão também no delicioso senso de humor que caracteriza muitos dos poemas aqui reunidos – "Cidadezinha qualquer", "Papai Noel às avessas", "Cota zero" e "Balada do amor através das idades" são bons exemplos. E, por fim, estão no enfrentamento do nacionalismo como tema, caso de "Europa, França, Bahia" e "Fuga", entre outros.
A rebeldia alegre da modernidade surge acompanhada de uma lucidez inquieta, que traz questionamentos éticos, políticos e existenciais, pondo em dúvida o avanço técnico e o progresso – "Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples", escreve o poeta. Em meio a poemas marcados pela juventude e o frescor, já se revelava, com traços firmes, a típica inteligência drummondiana.
As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Alguma poesia, o posfácio é do estilista Ronaldo Fraga. O leitor encontrará também bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada "Na época do lançamento", uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.
Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.
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Pré-visualização do livro
Alguma poesia - Carlos Drummond de Andrade
POSFÁCIO DE
RONALDO FRAGA
nova edição
Editora Record. Rio de Janeiro, São Paulo.2022
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A566a
Andrade, Carlos Drummond de, 1902-1987
Alguma poesia [recurso eletrônico] / Carlos Drummond de Andrade; posfácio Ronaldo Fraga. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2022.
recurso digital; epub
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5587-501-0 (recurso eletrônico)
1. Poesia brasileira. 2. Livros eletrônicos. I. Fraga, Ronaldo. II. Título.
22-76606
CDD: 869.1
CDU: 82-1(81)
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
www.carlosdrummond.com.br
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Direitos exclusivos desta edição reservados pela
EDITORA RECORD LTDA.
Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000.
Produzido no Brasil
Cópia não autorizada é crime. Respeite o direito autora. ABDR Associação brasileira de direitos reprográficos. Editora filiada.ISBN 978-65-5587-501-0
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SUMÁRIO
Poema de sete faces
Infância
Casamento do céu e do inferno
Também já fui brasileiro
Construção
Toada do amor
Europa, França e Bahia
Lanterna mágica
A rua diferente
Lagoa
Cantiga de viúvo
O que fizeram do Natal
Política literária
Sentimental
No meio do caminho
Igreja
Poema que aconteceu
Esperteza
Política
Poema do jornal
Sweet Home
Nota social
Coração numeroso
Poesia
Festa no brejo
Jardim da Praça da Liberdade
Cidadezinha qualquer
Fuga
Sinal de apito
Papai Noel às avessas
Quadrilha
Família
O sobrevivente
Moça e soldado
Anedota búlgara
Música
Cota zero
Iniciação amorosa
Balada do amor através das idades
Cabaré mineiro
Quero me casar
Epigrama para Emílio Moura
Sociedade
Elegia do rei de Sião
Sesta
Outubro 1930
Explicação
Romaria
Poema da purificação
Posfácio, por Ronaldo Fraga
Cronologia: Na época do lançamento (1927-1933)
Bibliografia de Carlos Drummond de Andrade
Bibliografia sobre Carlos Drummond de Andrade (seleta)
Índice de primeiros versos
ALGUMA POESIA
A Mário de Andrade, meu amigo
POEMA DE SETE FACES
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
INFÂNCIA
A Abgar Renault
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha