Paulo Freire E A Conscientização
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Paulo Freire E A Conscientização - Andrea Rodrigues Barbosa Marinho
Paulo Freire e a Conscientização
Andrea Rodrigues Barbosa Marinho
PAULO FREIRE E A CONSCIENTIZAÇÃO
São Paulo
2017
1
Paulo Freire e a Conscientização
FICHA CATALOGRÁFICA
M338p Marinho, Andrea Rodrigues Barbosa.
Paulo Freire e a conscientização. / Andrea Rodrigues Barbosa
Marinho – São Paulo: Editora Dialogar, 2017. (Série Teses).
174 p.
Inclui bibliografia
1. Educação. 2. Pedagogia critica. 3. Pensamento
crítico. 4. Paulo Freire – 1921-1997. I. Título. II. Série
CDD 370.11
Catalogação elaborada por Karina Ramos CRB 14/1056
2
Paulo Freire e a Conscientização
Andrea Rodrigues Barbosa Marinho
PAULO FREIRE E A CONSCIENTIZAÇÃO
Os autores e as autoras são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos e dados
contidos neste livro. Esta obra não possui direito autoral, sua veiculação é gratuita, pode ser
compartilhada e utilizada sem ônus, desde que citada a fonte.
Conhecimento não é mercadoria!
3
Paulo Freire e a Conscientização
4
Paulo Freire e a Conscientização
CONSELHO EDITORIAL DIALOGAR
Ivanio Dickmann - Editor Chefe - Brasil
Aline Mendonça dos Santos - Brasil
Fausto Franco Martinez - Espanha
Jorge Alejandro Santos - Argentina
Miguel Escobar Guerrero - México
Carla Luciane Blum Vestena - Brasil
Ivo Dickmann - Brasil
José Eustáquio Romão - Brasil
Enise Barth Teixeira - Brasil
5
Paulo Freire e a Conscientização
SUMÁRIO
Prefácio: José Eustáquio Romão ..........................................................................
12
Introdução: olhares ................................................................................................
16
1. Meu olhar sobre a conscientização em Paulo Freire ..................................
17
2. Olhando Freire a partir de Lucien Goldmann ...............................................
25
3. Olhar para todo este universo é escovar
palavras ...................................
38
4. Olhar estruturado em texto ...........................................................................
40
Capítulo I - Consciência e Conscientização .........................................................
44
1. Tomada de Consciência: Uma Estrutura Imanente .....................................
48
2. Consciência: Uma Visão Epistemológica Freiriana .....................................
55
3. Conceito de Sociedade: Tempos de Mudanças ..........................................
67
4. Corpo-Consciente: Essência do Ser e da Sociedade...................................
73
5. Visão de Mundo: o Início de uma História-Sociológica da Conscientização..........
75
6. Consciência Necrófila: A Psicopatia da Opressão ......................................
79
7. Consciências: Tipologias em Movimento.....................................................
82
Capítulo II – Conscientização: Sim ou Não? ........................................................
83
1. Conscientização: Contexto e Gênese Histórica............................................
83
2. Consciências: Categorias de Análise............................................................
88
3. O que não é Conscientização .......................................................................
97
4. Usos, Abusos e Desusos do Termo Conscientização
..............................
102
5. Termos e Conceitos Correlatos de Conscientização ..................................
105
Capítulo III – Conscientização nas Perspectivas Freirianistas ........................... 125
1. Os Freirianistas nos Grupos de Estudos do CNPq.......................................
132
2. Cátedras Paulo Freire e Trabalhos Freirianos .............................................
135
Considerações Finais: História-Sociológica da Conscientização ......................
153
Bibliografia..............................................................................................................
165
6
Paulo Freire e a Conscientização
DEDICATÓRIAS
A Deus, pela possibilidade da vida cheia de alegrias, pela fé, pelo
amor ao próximo, ao mundo e à simplicidade.
Ao Prof. José Eustáquio Romão pelas cuidadosas leituras e
orientações durante a construção da tese e pelo presente de prefaciar
esta obra, ato que muito me honra!
A minha família, que é minha estrutura, minha base, meus
sonhos e emoções, que me impulsiona para a concretização de utopias.
Em especial, ao meu marido, Alexandre, que apoia, incentiva, subsidia e,
muitas vezes, cuida de tudo em meu lugar para que eu possa ‘subir ao
andar de cima’ para escrever e estudar.
A meu filho, Rodrigo, que cresceu vendo sua mãe nas cadeiras
universitária e cujo apoio em todos os momentos foi fundamental. Amo
seus abraços!
A minha filha, Ana Carolina que contesta minhas certezas, lê
meus textos, duvida das minhas constatações, forçando-me ao exercício
de reler o texto e de reler o mundo.
A meus pais, José e Elza (in memoriam), que me ensinaram o
quanto a disciplina é necessária para que os sonhos se tornem realidade;
a eles, que me incentivaram sempre a estudar, trabalhar, amar e ver que o
mundo é um quintal em que somos felizes e plantamos sementes.
A meus irmãos, cunhada, cunhado, sobrinhas e sobrinhos, pelos
incentivos e responsabilidade ao dizerem: me espelho em você
.
A Ana Maria e Amandio, por colocarem no mundo a minha
metade, o meu amor. Por incentivarem meus estudos e entenderem
minhas ausências, quando passo a escrever.
7
Paulo Freire e a Conscientização
AGRADECIMENTOS
Uma escrita nunca é um exercício que se faz só. É uma polifonia
de vozes que nasce a partir dos encontros acadêmicos, seja nas aulas,
seja nos seminários, pesquisas e estudos. Uma escrita é fruto de um
trabalho coletivo tácito, com significações explícitas e implícitas de
inúmeros profissionais que conosco trabalham, conosco estudam,
conosco compartilham o existir no mundo. Este livro, resultante de uma
tese, não poderia ser diferente.
Registro meu agradecimento a tod@s que participaram ao longo
dos quatro anos da caminhada do doutoramento (2011-2015), em
especial às professoras e professores, às alunas e alunos, às funcionárias
e funcionários do Programa de Pós-Graduação de Mestrado e Doutorado
em Educação da UNINOVE.
Agradeço profundamente ao meu orientador, Prof. Dr. José
Eustáquio Romão, que, com sua sabedoria, firmeza e competência soube
descristalizar meus discursos, ampliar meus horizontes acadêmicos,
afinar a minha escrita, revisar o meu trabalho, mostrando-me que
escrever sobre o fenômeno da consciência se faz no próprio ato de ser e
estar no mundo. Minha sincera gratidão por permitir meu
desenvolvimento pessoal e profissional.
Aos professores Jason Mafra, Margarita, Adriano, Severino e
Eduardo, que propiciaram, em suas aulas, efetivos Círculos de Cultura,
ampliando o diálogo e nosso processo de conscientização. A vocês, meu
profundo agradecimento.
À Universidade Nove de Julho, meu canto acadêmico, por
permitir excelentes oportunidades de diálogos, estudos fundamentados,
bem dirigidos e a realização desta pesquisa, concedendo a mim uma
bolsa integral de estudos.
Aos professores Adriano S. Nogueira, Luci Bonini, Nilson J.
Machado, Edgar Coelho, Jason e Romão membros da banca examinadora
do doutorado meus agradecimentos e minha admiração pelas
contribuições e considerações feitas tanto na qualificação quanto na
8
Paulo Freire e a Conscientização
defesa sobre as escritas e resultados da pesquisa de que emergiu esta
obra.
Às colegas de disciplina, Fernanda, Neide, Cinthya, com quem
muito dialoguei, ri e estudei, a fim de aprofundar minha visão acadêmica.
A tod@s colegas de classes, pelas contribuições oportunas, indicações de
leituras e seminários apresentados.
Aos amigos Romildo Campello e Luci pelo constante incentivo
acadêmico e profissional, por apoiar as ideias que não cabem só na minha
cabeça e precisam ganhar vida em nosso Alto Tietê, por estarem sempre
por perto tornando este percurso um ato de força, foco e fé.
Aos faceamig@s
que curtiram minhas postagens-desabafos
,
toda vez que eu entrava no modo doutorado hard extreme
, e lançaram
comentários de apoio e incentivo constantes, ao longo desses quatro
anos. Em especial a Dulce, Renata, Denise Mara e Inês Araújo.
Às amigas Eunice, Ana Silvia e ao amigo Caio Cunha pelos
constantes auxílios, conversas, apoios e incentivos tantos acadêmicos
quanto profissionais e pessoais. Muito obrigada.
Às pessoas que incentivaram transpor a tese ao livro dando
materialidade às ideias, sejam de forma presencial ou virtual, agradeço o
apoio.
À equipe da Editora Dialogar, obrigada pela confiança e
materialidade possível.
A tod@s da Episteme Paulo Friere: muito obrigada!!
9
Paulo Freire e a Conscientização
O mundo não é. O mundo está sendo.
Paulo Freire
10
Paulo Freire e a Conscientização
SINOPSE
Este livro investigou o conceito de conscientização
no universo
de Paulo Freire à luz do Materialismo Dialético, particularmente a partir do
pensamento de Lucien Goldmann. Sua questão mais geral de partida foi:
Paulo Freire abandonou realmente a palavra conscientização
, bem como
as concepções e implicações nela potencializadas, após a realização, em
1974, do Seminário Internacional no México, no qual declarou que não
mais usaria o termo?
Esta problemática se desdobrou em outras, porque ele pode ter
abandonado o termo, mas, não, o conceito. Neste caso, de que termo(s)
ou perífrases lançou mão para manter-se fiel ao conceito? E se
abandonou ambos, termo e conceito, como ficaria sua concepção?
Indagou-se, também, por que não abandonou o termo, tendo
afirmado publicamente que o faria? Constatou-se que Freire deixou de
usar o termo entre 1974 e 1992. Nesse período, lançou mão de termos e
expressões correlatos, como descolonização das mentes
, que
demonstraram atender a algo mais que a uma mera necessidade poética.
Posteriormente, conferiu ao termo uma maior precisão sintático-
semântica, bem como aprofundou seu significado ontológico-
epistemológico e político. Relacionou a essência
(entre aspas porque
Freire não era essencialista) do ser humano a partir de sua consciência
sobre o próprio inacabamento, inconclusão e incompletude.
Para o desenvolvimento deste trabalho foram analisadas 18
(dezoito) obras de Paulo Freire, treze dissertações mestrado e teses de
doutorado de frerianistas. Constatou-se que o termo conscientização
é
um conceito estruturante do pensamento freiriano e que, por isso, ele não
poderia abandoná-lo, sob pena de negar-se. A obra demonstra ainda
como a teoria da libertação e da autonomia por meio da conscientização,
é o caminho para a extinção das relações de opressão e que, como as
formulações e ações são contextualmente determinadas, só faz sentido
falar uma História-Sociológica da Conscientização, possibilitando
repensar, inclusive, os conceitos de ontologia e de epistemologia.
11
Paulo Freire e a Conscientização
PREFÁCIO
J.E. ROMÃO1
Prefaciar uma obra parece tarefa fácil, mas, efetivamente, não é.
Há, no caso, pelo menos duas categorias de destinatários: um é o próprio
autor e o outro são os potenciais leitores do livro prefaciado. Os últimos
pensam que, em geral, o prefaciador é amigo da autora ou do autor e, por
isso, desconfiam dos destaques positivos e das recomendações, quase
sempre interpretadas como benevolências de compadrio.
Não é o caso deste prefácio, porque, nele, não serão feitas
concessões, mas a tentativa de ser o mais objetivo possível,
principalmente porque conheço, em detalhes, o texto da obra que se lança
ao lume. É que fui o orientador da tese de Andrea Rodrigues Barbosa
Marinho, de que resultou este livro. Depois das inúmeras idas e vindas de
textos da orientanda para o orientador, e do orientador para a orientanda,
como é de praxe em qualquer orientação acadêmica que se pode chamar
como tal. No fechar das cortinas de seu apertado prazo – sempre é bom
lembrar que os prazos da ciência nem sempre coincidem com os prazos
das agências avaliadoras, Andrea teve de concluir a tese às carreiras para
submetê-la ao exame de qualificação e, logo em seguida, ao de defesa.
O foco do trabalho de Andrea foi o termo e o conceito de
conscientização.
Segundo o próprio Freire, o vocábulo teria sido criado pelos
intelectuais do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB):
Acredita-se geralmente que sou o autor deste estranho vocábulo conscientização
,
por ser este o conceito central em minhas ideias sobre a educação. Na realidade, foi
criado por uma equipe de professores do INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS
BRASILEIROS por volta de 1964. Pode-se citar entre eles o filósofo Álvaro Vieira
Pinto e o professor Guerreiro. Ao ouvir a primeira vez a palavra conscientização,
percebi imediatamente a profundidade de seu significado porque estou
1 Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo; Diretor Fundador do Instituto Paulo Freire;
Presidente do Conselhos Mundial dos Institutos Paulo Freire e Professor e Diretor da Universidade Nove de
Julho (Uninove). E-mail: jer@terra.com.br
12
Paulo Freire e a Conscientização
absolutamente convencido de que a educação, como prática da liberdade, é um ato
de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade (FREIRE, 1979, p. 13).
Depois de uma paciente e exaustiva busca, em todas as obras de
Paulo Freire, pelo termo conscientização
e seus derivados, ou por
termos correlatos que remetiam ao mesmo significado ou a significados
próximos, a autora da tese procurou responder a uma dúvida que vem se
tornando recorrente nos estudos sobre o Patrono da Educação Brasileira2:
teria Freire abandonado, de fato, o termo conscientização
, conforme
prometera em 1974? E se o abandonou, deixou de considerar o conceito a
que ele se refere como tão importante como o considerara quando o
ouvira pela primeira vez? Ou apenas abandonou o vocábulo, substituindo-
o por outros de significado igual, próximo ou correlato, mas mantendo-se
fiel ao sentido original do conceito?
É o próprio Freire quem declara ter incorporado definitivamente o
termo conscientização
em seu repertório vocabular e, ao perceber a
profundidade de seu significado, tê-lo transformado em eixo axiológico do
processo de alfabetização e de educação que propunha.
Andrea busca pistas do vocábulo em todas as obras publicadas
posteriormente à promessa que Freire fizera no seminário realizado no
México, em 1994, quando declarou textualmente:
And after 1987, you will no longer find the word conscientization; I participated in a
seminar with Ivan Illich in Geneva, during which he once again used the concept of
descholarization and I the concept of conscientization. It was there that I used the
word for the last time. Naturally, I never abandoned the comprehension of the
process which I had called conscientization, but I gave up the word (FREIRE in
ESCOBAR; FERNÁNDEZ; GUEVARA-NIEBLA, 1994, p. 46)3.
Portanto, é Paulo Freire mesmo quem responde a parte das
indagações da tese de Andrea. Ele proclamara ter abandonado o termo,
2 A Presidente Dilma Rousseff promulgou a lei n.º 12.612, de 13 de abril de 2012, que declarou Paulo
Freire Patrono da Educação Brasileira.
3 "E, depois de 1987, não encontrarão mais a palavra conscientização; participei de um seminário com Ivan
Illich em Genebra, durante o qual ele usou mais uma vez o conceito de desescolarização e eu o de conscientização. Foi lá que usei o a palavra pela última vez. Naturalmente, nunca abandonei a
compreensão do processo que chamara conscientização, mas eu desisti da palavra" (Tradução de J. E.
Romão).
13
Paulo Freire e a Conscientização
mas não o significado que com ele exprimira a compreensão do processo
de conscientização, aliás, axial para a concepção freiriana de educação.
Curiosamente, porém, Andrea constatou que o autor de Educação
como prática da liberdade não abandonou o termo, embora tenha, por um
curto lapso de tempo, recorrido a outros vocábulos para exprimir o
mesmo conceito.
Por que Paulo Freire, tendo proclamado publicamente o abandono
do termo conscientização
, não conseguiu cumprir a promessa no
período posterior a tal proclamação?
Primeiramente, as razões do abandono do termo podem ser
encontradas na explicação do próprio Freire, quando indagado por E.
Margolis, que lhe revelou a manipulação e a institucionalização dos
conceitos freirianos pela direita
mexicana, dentre os quais se destacava
a verdadeira domesticação de conscientização. Em segundo lugar,
consciente ou inconscientemente, Paulo Freire lança mão do termo
conscientização
, mesmo tendo prometido abandoná-lo, assim evitando
a domesticação
da radicalidade de seu legado como um todo.
Andrea revela, na tese, agora transformada neste livro, o,
felizmente, descumprimento da promessa de abandono do termo, bem
como de outras contribuições de Freire aos fenômenos da consciência e
da educação.
Este livro, cobre uma lacuna no universo do pensamento
freirianista4, ratificando que os grandes pensadores como Paulo Freire
não conseguem se libertar, eles próprios, dos referenciais que
genialmente criaram e disseminaram.
São Paulo, outono de 2017, nas recordações dos
20 anos do passamento de Freire.
4 Denominamos freirianas
as obras da autoria de Freire e de freirianistas
as escritas e publicadas por
autores que se referenciam em seu legado.
14
Paulo Freire e a Conscientização
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma
introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes,
1979.
ESCOBAR, Miguel; FERNÁNDEZ, Alfredo L.; GUEVARA-NIEBLA, Gilberto.
Paulo Freire on higher education: a dialogue at the National University of
México. New York: State University of New York Press, 1994.
15
Paulo Freire e a Conscientização
INTRODUÇÃO: olhares
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:
porque unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,
e acaba por unir a própria vida
no seu peito partida