Coelenterata
- Para informação sobre os cnidários (alforrecas, pólipos de coral, anémonas e similares) veja Cnidaria.
Coelenterata, frequentemente aportuguesado para celenterados, é a denominação de um grupo taxonómico actualmente obsoleto, mas que embora sem uso nas classificações modernas continua a ser frequentemente utilizado na linguagem corrente. O taxon inicialmente compreendia os grupos Cnidaria e Ctenophora,[1][2][3][4][5] que se consideravam diblásticos e radiados. Depois, os Ctenophora foram separados e o termo passou a utilizar-se como sinónimo de Cnidaria,[6][7] mas nas clasificações modernas o termo foi abandonado em favor de Cnidaria.[8] O nome procede do grego koilos, "oco", referindo-se à sua cavidade interna, e de enteron, "intestino". Esta cavidade interna é o celêntero ou cavidade gastrovascular.
celenterados Coelenterata | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Os Ctenophora (acima), como Beroe spp., e os Cnidaria (abaixo), como Aequorea, foram considerados celenterados. Celenterado e cnidário foram considerados sinónimos quando o grupo foi separado dos ctenóforos. | |||||||
Classificação científica | |||||||
| |||||||
Filos | |||||||
Filogenética
editarA partir de 1866 foi proposto que Cnidaria e Ctenophora estavam mais relacionados entre si que com os animais bilaterais (Bilateria) e formou-se com eles o grupo dos Coelenterata. Em 1881 foi proposto que Ctenophora e Bilateria eram grupos próximos, mas as análises recentes não confirmam essa ideia e pelo contrário indicam que são os Cnidaria os que estavam mais próximos aos bilaterais.[9][10] A estrutura diblástica e a presença de uma única abertura corporal e cavidade levou a acreditar que os cnidários e os ctenóforos estavam relacionados. Sabe-se agora que a estrutura embrionária de ctenóforos e cnidários não está relacionada e não existem outros dados que demostrem que ambos os grupos partilham um antepassado comum único. O consenso actual explica as óbvias semelhanças entre Ctenophora e Cnidaria (a forma medusóide) por convergência evolutiva resultante da adaptação dos dois grupos à vida pelágica. Os ctenóforos bentónicos não apresentam qualquer semelhança com os pólipos. Os ctenóforos não apresentam o ciclo de vida metagénico nem os cnidoblastos característicos dos cnidários, mas têm coloblastos. Face a essas diferenças, as análises filogenéticas indicam que Ctenophora e Cnidaria são grupos separados.[11]
Por outro lado, a posição dos Ctenophora dentro do reino animal foi debatida durante longo tempo e ainda não está de todo clara, tendo sido proposto que são um ramo paralelo aos Bilateria[12][13] e aos Cnidaria,[14][15][16][17] paralelo aos Cnidaria, Placozoa e Bilateria[18][19][20] ou paralelo a todos os restantes filos animais.[21][22][23]
Em consequência, Cnidaria e Ctenophora consideram-se filos separados, e o termo Coelenterata englobando ambos considera-se parafilético e taxonomicamente inválido. Celenterado como sinónimo de cnidário ainda continua a ser utilizado na literatura, mas como termo taxonómico deve usar-se exclusivamente Cnidaria.
Para complicar esta questão, um trabalho de 1997 de Lynn Margulis (revendo um modelo prévio de Thomas Cavalier-Smith) situa Cnidaria e Ctenophora isolados no ramo dos Radiata do sub-reino Eumetazoa.[24] Os Eumetazoa incluem todos os animais excepto os Porifera (esponjas), Trichoplax e os ainda pouco compreendidos Mesozoa. Nenhum agrupamento é universalmente aceite para estes animais.[8]
Notas
- ↑ «coelenterate - definition of coelenterate in English | Oxford Dictionaries». Oxford Dictionaries | English. Consultado em 25 de fevereiro de 2017
- ↑ «Definition of COELENTERATE» (em inglês). Merriam-Webster. Consultado em 25 de fevereiro de 2017
- ↑ Encyclopædia Britannica (ver Classification) Ctenophore Citação: "Os ctenóforos e cnidários eram antes situados conjuntamente no filo Coelenterata. As autoridades modernas, porém, separaram os cnidários dos ctenóforos..."
- ↑ Tree of Life web project (ver a secção Discussion of Phylogenetic Relationships) Cnidaria Citação: "A sua estrutura diploblástica e a sua única abertura corporal e cavidade levaram a que fossem associados os cnidários com os ctenóforos. De facto, até tempos relativamente recentes o filo Coelenterata considerava-se como incluindo os animais hoje situados em Cnidaria e Ctenophora."
- ↑ Steven H.D. Haddock. A golden age of gelata: past and future research on planktonic ctenophores and cnidarians. (2004). Hydrobiologia 530/531: 549–556, 2004. Gelata Arquivado em 26 de outubro de 2005, no Wayback Machine.. Citação: "O nome 'coelenterata' foi utilizado durante longo tempo como uma forma conveniente de descrever os organismos dos filos Ctenophora e Cnidaria. Como isso implica um grau de parentesco que se considera hoje inexacto, este termo é normalmente evitado em contexto taxonómico ou filogenético rigoroso".
- ↑ P. A. Meglitsch. Zoología de Invertebrados. (1986). Pirámide. Páxina 117. ISBN 84-368-0316-7.
- ↑ Ruppert, E.E., Fox, R.S., and Barnes, R.D. (2004). Invertebrate Zoology (7 ed.). Brooks / Cole. ISBN 0-03-025982-7.
- ↑ a b NCBI Taxonomy Browser
- ↑ Wallberg, A., Thollesson, M., , Farris, J.S., and Jondelius, U. (2004). "The phylogenetic position of the comb jellies (Ctenophora) and the importance of taxonomic sampling". Cladistics 20 (6): 558–578. doi:10.1111/j.1096-0031.2004.00041.x.
- ↑ Philippe, H. (April 2009). "Phylogenomics Revives Traditional Views on Deep Animal Relationships". Current Biology 19: 706–712. doi:10.1016/j.cub.2009.02.052. PMID 19345102. http://www.cell.com/current-biology/retrieve/pii/S0960982209008057. Retrieved 9 setembro 2012
- ↑ Collins, A.G. (2002). «Phylogeny of Medusozoa and the Evolution of Cnidarian Life Cycles» (PDF). Journal of Evolutionary Biology. 15 (3): 418–432. doi:10.1046/j.1420-9101.2002.00403.x. Consultado em 27 de novembro de 2008. Arquivado do original (PDF) em 22 de setembro de 2006
- ↑ Simon Conway Morris, Alberto M. Simonetta, ed. (1991). The Early Evolution of Metazoa and the Significance of Problematic Taxa. Estados Unidos: Cambridge University Press. 308 páginas. ISBN 0-521-11158-7
- ↑ Nielsen, C.; Scharff, N.; Eibye‐Jacobsen, D. (1996). "Cladistic analyses of the animal kingdom". Biological Journal of the Linnean Society 57 (4): 385. doi|10.1006/bijl.1996.0023
- ↑ Leuckart, Rudolf (1923). Ueber die Morphologie und die Verwandtschaftsverhältnisse der wirbellosen thiere. Ein Beitrag zur Charakteristik und Classification der thierischen Formen. Alemanha: F. Vieweg und Sohn. ISBN 1-245-56027-1 – via Amazon
- ↑ Haeckel, Ernst Heinrich Philipp August (1896). Systematische Phylogenie Der Wirbellosen Thiere, Invertebrata, Part 2: Des Entwurfs Einer Systematischen Stammesgeschichte. Estados Unidos: Kessinger Publishing. ISBN 1-120-86850-5 – via Amazon
- ↑ Hyman, Libbie Henrietta (1940). The Invertebrates: Volume I, Protozoa Through Ctenophra. Estados Unidos: McGraw Hill. ISBN 0-07-031660-0
- ↑ Philippe, H.; Derelle, R.; Lopez, P.; Pick, K.; Borchiellini, C.; Boury-Esnault, N.; Vacelet, J.; Renard, E. et al. (2009). "Phylogenomics Revives Traditional Views on Deep Animal Relationships". Current Biology 19 (8): 706–712. doi:10.1016/j.cub.2009.02.052. PMID 19345102.
- ↑ Collins, A. G. (30 de abril de 2002). «Phylogeny of Medusozoa and the evolution of cnidarian life cycles: Phylogeny of Medusozoa». Journal of Evolutionary Biology (em inglês) (3): 418–432. doi:10.1046/j.1420-9101.2002.00403.x. Consultado em 16 de setembro de 2022
- ↑ Wallberg, A.; Thollesson, M.; Farris, J. S.; Jondelius, U. (2004). "The phylogenetic position of the comb jellies (Ctenophora) and the importance of taxonomic sampling". Cladistics 20 (6): 558. doi:10.1111/j.1096-0031.2004.00041.x.
- ↑ Pick, K. S.; Philippe, H.; Schreiber, F.; Erpenbeck, D.; Jackson, D. J.; Wrede, P.; Wiens, M.; Alie, A. et al. (2010). "Improved Phylogenomic Taxon Sampling Noticeably Affects Nonbilaterian Relationships". Molecular Biology and Evolution 27 (9): 1983–1987. doi:10.1093/molbev/msq089. PMC 2922619. PMID 20378579. //www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2922619/.
- ↑ Dunn, C. W.; Hejnol, A.; Matus, D. Q.; Pang, K.; Browne, W. E.; Smith, S. A.; Seaver, E.; Rouse, G. W. et al. (2008). "Broad phylogenomic sampling improves resolution of the animal tree of life". Nature 452 (7188): 745–749. doi:10.1038/nature06614. PMID 18322464.
- ↑ Hejnol, A.; Obst, M.; Stamatakis, A.; Ott, M.; Rouse, G. W.; Edgecombe, G. D.; Martinez, P.; Baguna, J. et al. (2009). "Assessing the root of bilaterian animals with scalable phylogenomic methods". Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences 276 (1677): 4261–4270. doi:10.1098/rspb.2009.0896. PMC 2817096. PMID 19759036. //www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2817096/.
- ↑ Ryan, J. F.; Pang, K.; Comparative Sequencing Program, N.; Mullikin, J. C.; Martindale, M. Q.; Baxevanis, A. D. (2010). "The homeodomain complement of the ctenophore Mnemiopsis leidyi suggests that Ctenophora and Porifera diverged prior to the ParaHoxozoa". EvoDevo 1 (1): 9. doi:10.1186/2041-9139-1-9. PMC 2959044. PMID 20920347. //www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2959044/.
- ↑ Margulis, Lynn and Karlene V. Schwartz, 1997, Five Kingdoms: An Illustrated Guide to the Phyla of Life on Earth, W.H. Freeman & Company, ISBN 0-613-92338-3