Tutela Coletiva de Direitos
Tutela Coletiva de Direitos
Tutela Coletiva de Direitos
DE DIREITOS
GRADUAO
2014.2
Sumrio
1) INTRODUO
Desde os primrdios, a busca pela proteo do Estado diante de um determinado conflito sempre teve como base a proteo de um interesse ou direito
individual. Tal direito embasava e servia de lastro para a prestao de uma
tutela oficial estatal.
Assim, os estudiosos concluam que para a obteno da tutela jurisdicional era imprescindvel a existncia de um direito material que a justificasse.
Entretanto, em dado momento histrico, tal paradigma foi quebrado e a partir da se tornou possvel pleitear a tutela jurisdicional ainda que no existisse
direito material que, em tese, o fundamentasse.
Conforme a sociedade liberal, pautada por valores individualistas, evoluiu
para uma sociedade de massa, o paradigma de tutela jurisdicional individual
teve que ser revisto, uma vez que o advento do novo modelo trouxe consigo
leses em massa, atingindo diversas coletividades.
Portanto, para uma sociedade de massa, h de existir, igualmente um processo de massa.1
O processo, que at ento era eminentemente individualista, comeou a
conceber repercusses sociais e transindividuais decorrentes de seus resultados. Tais repercusses foram necessrias para a absoro da nova realidade
emergente, a da tutela da coletividade.
Consoante assevera Mancuso:
O limiar do terceiro milnio exibe uma sociedade massificada, competitiva, espraiada por um mundo globalizado, o que acarreta alteraes
profundas no trip do Direito Processual ao, jurisdio e processo
e, de outro lado, vai tornando defasadas antigas concepes ligadas a outro
tempo, que se diria de um processo civil romntico, simbolizado no clssico embate entre Tcio e Caio, podendo, no mximo estender-se a alguns
Tcios em face de alguns Caios, nas figuras litisconsorciais. significativo
tenha o legislador autorizado o juiz a limitar, em nmero de sujeitos, o
litisconsrcio facultativo (CPC, pargrafo nico do art. 46): que, no
raro, a expressiva disperso dos indivduos concernentes ao litgio um
forte indicativo de que a espcie seria melhor manejada no plano da jurisdio coletiva, na modalidade dos interesses individuais homogneos (Lei
8078/90, art. 81, III). Esse melhor caminho conduz prolao de sentena
de condenao genrica (art. 95 da Lei 8078/90), assim prevenindo os efeitos deletrios da pulverizao do conflito coletivo em mltiplas e repetitivas
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DIDIER Jr. e ZANETTI Jr. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 4. Editora Jus
Podivm: Salvador, 2009. p. 54.
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artigo 16 da Lei 7347/85); lei 9868/99 (Ao Direta de Inconstitucionalidade e Ao Declaratria de Constitucionalidade); lei 9870/99 (valor das
anuidades escolares, artigo 7); lei 9882/99 (Arguio de Descumprimento
de Preceito Fundamental); lei 10671/03 (Estatuto de Defesa do Torcedor,
artigo 40); lei 10741/03 (Estatuto do Idoso, artigos 78-92); lei 11340/06
(Maria da Penha, artigo 37); e lei 12016/09 (regulamentou o mandado de
segurana coletivo, artigos 21 e 22).
O modelo brasileiro, apesar de ser influenciado pelo sistema norte-americano, possui caractersticas prprias: a coisa julgada no Brasil ter extenso
erga omnes ou ultra partes apenas para beneficiar o ru, diferentemente do
sistema da class action, conforme visto acima.
No sistema brasileiro, outrossim, tambm no se admite a adequada representao de um nico cidado para a tutela coletiva de direitos. O ordenamento jurdico ptrio prev um rol de legitimados para a tutela desses
direitos: associaes, Ministrio Pblico, Defensoria Pblica etc. Somente
a ao popular permite a tutela por um nico cidado de direitos coletivos,
contudo, no h anlise, pelo Poder Judicirio, sobre a adequao da representao, nos moldes do direito americano.
O conceito de cada um dos interesses que integra o que a doutrina denomina de interesse coletivo lato sensu questo bastante turbulenta na nossa
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doutrina processual civil27. A primeira distino, defendida pela quase totalidade de estudiosos sobre o assunto, encontra-se na relao jurdica em
litgio, bem como nos destinatrios do interesse em jogo e, finalmente, na
divisibilidade ou no do bem da vida tutelado. Atualmente a matria encontra respaldo no Artigo 81 do Cdigo de Defesa do Consumidor, para onde
remetemos o leitor.
Interesses difusos so aqueles em que uma parcela indeterminada de pessoas, ligadas por uma mesma circunstncia de fato, esto sendo atingidas nos
seus direitos de natureza indivisvel, conforme preceitua o artigo 81, nico, I
do Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC). So interesses indivisveis, isto
, apenas admitem uma fruio, um aproveitamento coletivo, sendo seus interessados absolutamente dispersos, ou seja, no se exige entre eles nenhuma
condio especial ou relao jurdica prpria. A indivisibilidade e a disperso
alcanam propores extremas, sendo impossvel identificar quantos ou quais
sejam os interessados. Os interessados so, portanto, indeterminveis. Ex: A
defesa do meio-ambiente ecologicamente equilibrado ou do patrimnio histrico e artstico de uma comunidade.
Diversamente dos interesses referidos anteriormente, os direitos individuais homogneos so interesses divisveis, que podem ser atribuveis aos seus
Importante mencionar que o legislador infraconstitucional utiliza-se indistintamente dos institutos interesse
e direito, valendo aqui traar uma
bsica diferenciao. Interesse tudo
aquilo que reflete uma necessidade,
seja de que ordem for, inerente a uma
pessoa. O interesse precede o direito. J
o direito posterior ao surgimento de
um interesse, sendo, mais precisamente, o interesse juridicamente protegido.
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titulares. So interesses plenamente quantificveis, sendo, portanto, seus titulares identificados e identificveis. So em suma, interesses individuais, que
possuem, uma caracterstica peculiar, derivam de uma origem comum (artigo
81, nico, III do CDC).
Percebe-se que esses direitos possuem pontos comuns e divergentes entre si. Os interesses difusos e os interesses coletivos tm natureza indivisvel,
diferem pela origem da leso (circunstncia de fato e relao jurdica base)
e pela abrangncia do grupo (indeterminveis e determinveis). Os direitos
coletivos e os individuais homogneos, por sua vez, se igualam no que diz respeito ao grupo lesado, sendo ambos determinveis, porm, diferem quanto
divisibilidade do interesse (indivisveis e divisveis) e pela origem da leso
(relao jurdica bsica e origem comum).
Oportuno se faz aqui, portanto, trazer colao entendimento exarado
pelo Professor CARNEIRO28, que com clareza, trouxe a distino que tantas
vezes confunde os estudiosos do Direito, acerca do direito individual homogneo e do direito coletivo:
Quando o resultado do processo igual para todos, para todo aquele
grupo, sem distino, sem um plus qualquer de um em relao ao outro,
estamos no campo do direito coletivo. Por exemplo, na medida em que um
determinado percentual de uma mensalidade escolar estabelecido, este
percentual se aplica a todos os alunos, sem qualquer diferena de um para
outro. Mas, se a discusso versa sobre a devoluo do dinheiro pago passamos para o campo do direito individual, cada um ir pleitear o seu nos
limites de seus prprios valores. Assim, na defesa dos direitos individuais
homogneo h um plus, que justamente a identificao, em cada caso, do
valor ou da leso, enquanto que no direito coletivo a situao jurdica
genrica e portanto, indivisvel.
Afere-se, portanto, que a classificao do interesse lesado depender de
uma anlise dos fatos concretos e do pedido que foi formulado na ao coletiva, o qual poder fragmentar uma srie de interesses atingidos pela mesma
situao ftica.
Segundo DIDIER, com base na doutrina de BARBOSA MOREIRA29, o
direito coletivo pode ser esquematizado da seguinte forma30:
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DIDIER JR., Fredie e ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil.
Processo Coletivo. Vol. 4. Salvador: JusPODIVM, 2007, p. 73.
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Direitos coletivos
lato sensu
Essencialmente coletivos
Acidentalmente coletivos
Difusos
Coletivos em sentido estrito
Individuais homogneos
Objeto Tutelado
Ao Civil Pblica
Ao Popular
Ao de Improbidade Administrativa
Ao Civil Coletiva
Direitos individuais
tutelados coletivamente
Mandado de Segurana
Natureza
Titularidade
Difuso
Indivisvel
Indeterminvel
Coletivo
Indivisvel
Determinvel
Individual Homogneo
Divisvel
Determinvel
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DIDIER JR., Fredie e ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil.
Processo Coletivo. Vol. 4. Salvador: JusPODIVM, 2007, p. 79.
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sensu, que pressupem, por lei e por sua prpria natureza, a indivisibilidade do objeto do interesse e a consequente transindividualidade33.
Em contrapartida, o Supremo Tribunal Federal se posicionou pela admisso dos direitos individuais homogneos como subespcies integrantes dos
direitos coletivos, in verbis:
(...) Direitos ou interesses homogneos so os que tm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei 8.078, de 11.09.1990), constituindo-se em subespcie de direitos coletivos (...)34
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dessas aes pseudocoletivas, alertando-se que da frequentemente haveria litispendncia entre as aes pseudocoletivas e as aes individuais, na proporo
em que seriam idnticos os pedidos e as causas de pedir, sem falar na discutvel
sujeio dos particulares coisa julgada da falsa ao coletiva, falta de normas
prprias, j que as regras do CDC apenas cuidam das genunas aes coletivas,
ou na irremissvel probabilidade de decises praticamente contraditrias.36
J as aes pseudoindividuais, expresso cunhada por Kazuo Watanabe,
seriam aquelas demandas individuais cujo resultado gera efeitos sobre toda
uma comunidade, tal como a ao individual para derrubada de um muro ou
para cessar a poluio de uma fbrica37.
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DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes, op. cit., pg. 95.
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Idem.
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Idem.Ibidem.
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7. CONFUSO JURISPRUDENCIAL
O fato de existirem situaes heterogneas traz como consequncia a
constante confuso jurisprudencial na classificao casustica dos interesses
em disputa em um litgio. Exemplo evidente da confuso jurisprudencial
a proteo do meio ambiente do trabalho (prevista no artigo 200, inciso VIII,
da Constituio Federal). Em seu excelente manual sobre o assunto, Rodolfo
de Camargo Mancuso indica deciso de Tribunal Paulista, que considera o
cumprimento das normas de segurana do trabalho um interesse difuso, pois
a preveno de acidentes do trabalho interessaria a sociedade como um todo,
no apenas ao grupo de trabalhadores de uma empresa especfica. Tal deciso pode ser contrastada com julgamento em que o STF considerou o meio
ambiente do trabalho como direito coletivo indisponvel dos empregados decorrente da relao jurdica empregatcia.42 Caso ocorra um acidente do trabalho, qual seria a classe do interesse das vtimas a ser judicialmente tutelado?
8. CASO
A quebra de uma barragem mantida por uma mineradora em Minas Gerais gerou o alagamento de diversas casas na cidade de Bicas, alm de afetar
trecho da Mata Atlntica do local, o que ocasionou a morte de diversos animais. Qual ou quais os direitos coletivos afetados por esse fato?
9. QUESTIONRIO
1) Quais os princpios conectados tutela coletiva dos direitos?
2) Qual o conceito de Direito Coletivo?
3) Qual o seu objeto?
4) Quais so os seus objetivos?
5) O que molecularizao de demandas atomizadas?
6) O que diferencia o sistema brasileiro das aes coletivas do sistema
norte-americano?
10. JURISPRUDNCIA
1) STJ. PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. AO
COLETIVA AJUIZADA POR ASSOCIAO CIVIL EM DEFESA DE
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGNEOS. EXPURGOS INFLACIONRIOS DEVIDOS EM CADERNETA DE POUPANA EM JANEIRO
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Complementar:
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1) O INQURITO CIVIL
O inqurito civil procedimento administrativo preparatrio, previsto
no artigo 8 e seguintes da Lei 7347/85, de cunho inquisitorial e que tem
por objetivo dotar o Ministrio Pblico de instrumento investigatrio para
a apurao de fatos tidos como infracionais a interesses metaindividuais e,
consequentemente, embasar a Ao Civil Pblica.
Trata-se de procedimento prescindvel, assim como o inqurito policial,
sendo dispensvel se for possvel a produo do lastro probatrio atravs de
peas de informao43.
Tambm entende a jurisprudncia no ser possvel obstaculizar a tramitao do inqurito civil mediante Habeas Corpus, eis que o procedimento,
por si s, no tem o condo de tolher a liberdade individual ou constranger
fisicamente algum44.
Diferentemente da Ao Civil Pblica, que tem diversos colegitimados, o Inqurito Civil exclusivo do Ministrio Pblico, somente podendo ser instaurado,
no mbito Estadual, pelos Promotores de Justia de Tutela Coletiva (Cidadania,
Meio Ambiente, Sade, Educao, Consumidor, etc); de Infncia e Juventude e
pelo Procurador-Geral de Justia, nas hipteses de sua atribuio originria (artigo 29, VIII da LONMP, quando a autoridade reclamada for Presidente de Tribunal de Justia, Presidente da Assembleia Legislativa ou Governador do Estado).
Atualmente, o procedimento regulado, alm do dispositivo legal acima citado, qpelos artigos 6 e 7 da LC 75/93 (Lei Orgnica do Ministrio Pblico da
Unio); pelos artigos 25 e 26 da Lei 8625/93 (Lei Orgnica Nacional do Ministrio Pblico) e pela Resoluo CNMP n 23/2017, que regula a sua tramitao em
carter nacional, no mbito de todas as Unidades do Ministrio Pblico Brasileiro.
No Rio de Janeiro, respeitadas as peculiaridades locais, foi editada a Resoluo
GPGJ n 1769/2012 152, disciplinando a tramitao do inqurito civil no MPRJ.
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HABEAS CORPUS - OBJETO - INQURITO E AO CIVIL PBLICA. O habeas corpus no meio hbil para questionar-se aspectos ligados quer ao inqurito
civil pblico, quer ao civil pblica,
porquanto, nesses procedimentos, no
se faz em jogo, sequer na via indireta, a
liberdade de ir e vir. (STF HC 90378/
RJ, Rel. Marco Aurlio, julgado em
13/10/2009).
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B) Atribuio de outro rgo de execuo do Ministrio Pblico Fluminense hipteses mais comuns:
a) Em favor da Promotoria de Justia de Infncia e Juventude (ou da Promotoria Cvel ou de Famlia com tal atribuio):
Matria de tutela coletiva envolvendo crianas e adolescentes, observando-se que pode haver pontos de tangenciamento com a atribuio
das Promotorias de Justia de Tutela Coletiva, sendo recomendada a
atuao em conjunto, evitando o fracionamento da tutela metaindividual;
Em relao ao FUNDEB (mesmo raciocnio para o extinto FUNDEF), bem como a outros fundos, prevalece o entendimento de que
a fiscalizao da aplicao das verbas do FUNDEB e a eventual propositura de ao civil pblica para forar a aplicao ou vedar transferncias ilcitas das Promotorias de Justia de Infncia e Juventude. A
atribuio das Promotorias de Justia de Tutela Coletiva restringe-se
persecuo de eventuais atos de improbidade administrativa envolvendo irregularidades em tais fundos. Devem-se evitar investigaes
concomitantes, devendo a Promotoria de Justia aguardar o desfecho
das investigaes da Promotoria de Justia de Infncia e Juventude. O
mesmo raciocnio vale para o funcionamento de conselhos envolvendo a matria da infncia e juventude.
b) Promotorias de Justia de Tutela Coletiva da Capital, em casos de danos regionais ou nacionais (v. Lei n. 8.078/90, art. 93), quando esta tambm
atinge a comarca da capital.
c) Promotorias de Justia de Investigaes Criminais, junto Juizados Especiais Criminais etc, observando-se que o mesmo fato pode gerar consequncias tambm na esfera cvel (e.g. ato de improbidade administrativa; danos
ambientais etc).
d) Promotorias de Famlia (ou cveis com tal atribuio): casos envolvendo
registro civil ou pessoas que necessitam ser interditadas.
e) Promotorias de Justia de Defesa do Idoso e do Deficiente Fsico: direitos coletivos lato sensu dos idosos e dos deficientes fsicos, e direitos individuais sem natureza homognea de idosos. Observe-se que nos municpios
no abrangidos pela atribuio territorial de Promotoria de Justia de Defesa
do Idoso e do Deficiente Fsico, a atribuio para a defesa dos interesses transindividuais envolvendo tais categorias da Promotoria de Justia de Tutela
Coletiva local, e a defesa dos direitos individuais no homogneos dos idosos
de atribuio das Promotorias de Justia Cveis.
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4) ENCERRAMENTO DA INVESTIGAO
Finda a investigao, trs providncias podem ser tomadas pelo representante do Parquet:
A Ajuizamento da Ao Civil Pblica no foro competente, que dever
ser acompanhada pelo prprio Promotor de Tutela Coletiva;
B Celebrao de Termo ou Compromisso de Ajustamento de Conduta,
estipulando clusula penal em caso de descumprimento de suas obrigaes;
C Promoo de arquivamento do inqurito Civil, fundamentadamente, submetendo no prazo de trs dias (artigo 9, 1 da Lei 7347/85), sob
pena de falta grave, sua deciso ao reexame necessrio do Conselho Superior
do Ministrio Pblico.
Aps arquivado o Inqurito Civil, este poder ser desarquivado por provocao do Promotor de Justia com atribuio ao Conselho Superior do
Ministrio Pblico, havendo uma grande celeuma no que concerne necessidade de novas provas para a promoo do desarquivamento.
Uma primeira corrente, defendida pelo professor MAZZILLI46 sustenta a
possibilidade de desarquivamento de inqurito civil, com ou sem novas provas, face ao Princpio da Autotutela ou Reviso pela prpria Administrao
de seus atos, baseado na Smula 473 do STF.
Outra corrente, no entanto, a nosso entender com melhor razo, entende
ser necessria para o desarquivamento a existncia de novas provas. Tal posicionamento foi abraado pelo Artigo 12 da Res. 23/2007 do CNMP, que
fixou um prazo de seis meses para sua ocorrncia. Findo este prazo, se novos
fatos surgirem, um novo inqurito civil deve ser instaurado.
Confira-se:
Art. 12. O desarquivamento do inqurito civil, diante de novas provas ou
para investigar fato novo relevante, poder ocorrer no prazo mximo de seis meses aps o arquivamento. Transcorrido esse lapso, ser instaurado novo inqurito
civil, sem prejuzo das provas j colhidas.
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Entendemos que no h possisbilidade jurdica para tanto. Tendo antecipado sua opinio sobre o mrito da causa, no poder manifestar-se, desvinculadamente, na lide, devendo o processo ser remetido ao Promotor tabelar/
substituto.
No Ministrio Pblico do Rio de Janeiro, visando a criao de uma identidade institucional prpria, o Conselho Superior do Ministrio Pblico
estabeleceu enunciados de entendimento institucional, norteando seu posicionamento acerca das mltiplas questes que o Promotor de Tutela Coletiva enfrenta no seu dia a dia. Estes enunciados funcionam como espcie
de jurisprudncia pacificada e so decididos, em sua quase maioria, por
intermdio de votos monocrticos do Conselheiro relator no Colegiado, no
sendo submetidos ao plenrio, a fim de tornar mais clere o procedimento na
segunda instncia institucional.
Abaixo, transcrevemos os enunciados, a fim de demonstrar as mltiplas
questes submetidas ao Ministrio Pblico no mbito do Inqurito Civil.
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ENUNCIADO N 04/07: INFNCIA E JUVENTUDE. MAIORIDADE. Alcanada a maioridade civil, cessa a atribuio do Ministrio Pblico
para postular medida protetiva prevista no ECA, merecendo homologao a
promoo de arquivamento do procedimento instaurado para tanto. (Aprovado na sesso de 02 de maio de 2007)
ENUNCIADO N 05/07: MEIO AMBIENTE. INEXISTNCIA DE
DANO AMBIENTAL. Se a notcia de dano ao meio ambiente no ratificada por meio de prova idnea, produzida no curso da investigao, merece
homologao o arquivamento promovido pela Promotoria de Justia oficiante. (Aprovado na sesso de 02 de maio de 2007)
ENUNCIADO N 06/07: IDOSO. INEXISTNCIA DE SITUAO
DE RISCO. Merece homologao a promoo de arquivamento de procedimento instaurado em virtude de notcia de situao de risco a idoso se, no
curso da investigao, ficar evidenciada a inexistncia de situao prevista no
Estatuto do Idoso. (Aprovado na sesso de 02 de maio de 2007)
ENUNCIADO N 07/07: CONSUMIDOR. INTERESSE INDIVIDUAL DISPONVEL. AUSNCIA DE LEGITIMIDADE DO MINISTRIO PBLICO. Merece homologao a promoo de arquivamento de
procedimento instaurado em virtude de notcia de leso a direitos consumeristas se, no curso da investigao, ficar evidenciada leso de carter meramente individual e disponvel a consumidor. (Aprovado na sesso de 02 de
maio de 2007)
ENUNCIADO N 08/07: IDOSO. CESSAO DA SITUAO DE
RISCO: Merece homologao a promoo de arquivamento de procedimento administrativo instaurado para apurar notcia de risco a idoso se, no curso
da investigao, ficar comprovada a cessao do risco ou a adoo pelo Ministrio Pblico das medidas cabveis previstas no Estatuto do Idoso. (Aprovado
na sesso de 29 de maio de 2007)
ENUNCIADO N 09/07: INFNCIA E JUVENTUDE. CESSAO
DA SITUAO DE RISCO: Merece homologao a promoo de arquivamento do procedimento administrativo instaurado para apurar notcia de risco a criana e/ou adolescente se, no curso da investigao, ficar comprovada a
cessao do risco ou a adoo pelo Ministrio Pblico das medidas protetivas
previstas no ECA. (Aprovado na sesso de 29 de maio de 2007)
ENUNCIADO N 10/07: MEIO AMBIENTE. POLUIO ATMOSFRICA. CESSAO DAS EMISSES ILEGAIS: Merece homologao o
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PETENTES E/OU EM DESACORDO COM O ZONEAMENTO URBANO. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES ILEGAIS: Merece
homologao a promoo de arquivamento de inqurito civil ou de procedimento preparatrio para apurar danos ao meio ambiente artificial se ficar
comprovado nos autos o encerramento das atividades da obra ou do estabelecimento sem autorizao dos rgos competentes e/ou em desacordo com o
zoneamento urbano do local. (Aprovado na sesso de 12 de agosto de 2008).
ENUNCIADO N 23/2008 DO CSMP: CIDADANIA. RECLAMAO DE USURIO CONTRA RGO PBLICO OU CONCESSIONRIA. REGULARIZAO DOS SERVIOS PBLICOS: Merece
homologao a promoo de arquivamento de inqurito civil ou de procedimento preparatrio para apurar reclamao de cidado contra rgo pblico
ou concessionria se ficar comprovada nos autos a regularizao da prestao
dos servios pblicos pela entidade responsvel. (Aprovado na sesso de 12
de agosto de 2008).
ENUNCIADO 24/2008 DO CSMP: PATRIMNIO CULTURAL.
INEXISTNCIA DE DANOS AOS BENS PROTEGIDOS ADMINISTRATIVAMENTE, LEGALMENTE E/OU JUDICIALMENTE: Merece
homologao a promoo de arquivamento de inqurito civil ou de procedimento preparatrio para apurar danos ao patrimnio cultural, se ficar
comprovada nos autos a inexistncia de prejuzos ao bem ou ao conjunto de
bens protegidos por atos administrativos, por legislao especfica e/ou por
deciso judicial, devido ao seu valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico ou cientfico. (Aprovado na sesso de 25 de
agosto de 2008).
ENUNCIADO N 25/08 DO CSMP: MEIO AMBIENTE. POLUIO HDRICA. LANAMENTO DE EFLUENTES LQUIDOS E/OU
DEJETOS EM RECURSO HDRICO SEM TRATAMENTO OU COM
TRATAMENTO INADEQUADO. INSTALAO DE EQUIPAMENTO
ANTIPOLUIO DE ACORDO COM OS PADRES DE QUALIDADE AMBIENTAL. CESSAO DA CONTAMINAO DAS GUAS:
Merece homologao a promoo de arquivamento de inqurito civil ou de
procedimento preparatrio para apurar poluio hdrica pelo lanamento em
recurso hdrico de efluentes lquidos e/ou dejetos provenientes de unidade ou
conjuntos residenciais, comerciais, de servios, agropecurios ou industriais,
se ficar comprovado nos autos a instalao de fossa, sumidouro, Estaes de
Tratamento de gua (ETA) ou de Esgotos (ETE), emissrio submarino ou
de outro equipamento antipoluio de acordo com os padres de qualidade
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ENUNCIADO CSMP N 28/2009: DIREITO EDUCAO. Merece homologao a promoo de arquivamento de Inqurito Civil ou de
procedimento instaurado para verificar a regularidade quanto ao funcionamento de unidade de ensino de qualquer natureza, no mbito deste Estado,
caso, no transcurso da investigao constate-se a efetiva adequao do referido estabelecimento educacional s exigncias das autoridades competentes
ou o encerramento de suas atividades, nos termos das normas definidoras das
Diretrizes e Bases da Educao e, quando a hiptese corresponda temtica
de interesse individual. (Aprovado na sesso de 26 de novembro de 2009 e
redao alterada na sesso de 31 de outubro de 2013)
ENUNCIADO N 29/10: IDOSO, DEFICIENTE, INFNCIA E JUVENTUDE. APURAO DAS CONDIES DE FUNCIONAMENTO DE ABRIGO. REGULARIZAO OU ENCERRAMENTO DAS
ATIVIDADES. Merece homologao a promoo de arquivamento de procedimento administrativo instaurado para apurar as condies de funcionamento de abrigo destinado a idoso, a deficiente, a criana ou a adolescente
se, no curso das investigaes, ficar comprovada a regularizao dos servios
prestados ou o encerramento definitivo das atividades dos estabelecimentos.
(Aprovado na sesso de 29 de abril de 2010)
ENUNCIADO CSMP N 30/10: PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS ELEITORAIS. FALTA DE COMPETNCIA REVISORA
DO CONSELHO SUPERIOR. REMESSA AO 5 CAO. O arquivamento
das peas de informao e/ou procedimentos administrativos eleitorais no
est inserido na competncia revisora do Conselho Superior do Ministrio
Pblico e deve ser remetido ao 5 Centro de Apoio Operacional visando
efetivao da baixa no protocolo geral. As questes relativas s medidas
judiciais eleitorais, acercada prestao de contas e da matria criminal sero
encaminhadas Justia Eleitoral e autoridade policial, respectivamente.
ENUNCIADO N 31/11 DO CSMP. DANOS A INTERESSES INDIVIDUAIS INDISPONVEIS OU HOMOGNEOS, COLETIVOS OU
DIFUSOS. NO CONHECIMENTO DA PROMOO DE ARQUIVAMENTO. No merece conhecimento a promoo de arquivamento de
Inqurito Civil, Procedimento Preparatrio ou procedimento administrativo, se a ausncia ou deficincia de fundamentao, ou ainda erro material
sobre o mrito da investigao tornar invivel o controle por parte do CSMP,
devendo os autos retornar ao rgo de execuo, para a devida complementao ou adequao da promoo de arquivamento.
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ENUNCIADO CSMP N 32/2012: IDOSO. AUSNCIA DO REQUISITO ETRIO. Merece homologao a promoo de arquivamento de
procedimento administrativo instaurado para tutelar direitos de idoso se, no
curso da investigao, ficar comprovada a ausncia do requisito etrio (idade
inferior a 60 anos) do suposto idoso.
ENUNCIADO CSMP N 33/2012: INFNCIA E JUVENTUDE.
FISCALIZAO DA ATUAO DOS MEMBROS DOS CONSELHOS
TUTELARES. Merece homologao a promoo de arquivamento do procedimento administrativo instaurado para apurar notcia de eventual falta
funcional dos Conselheiros Tutelares se, no curso da investigao, no restar
comprovada a notcia ou, sendo apurada a falta, forem adotadas as medidas
administrativas pertinentes, na forma da Resoluo n 139, de 17mar2010,
do Conselho Nacional da Criana e do Adolescente.
ENUNCIADO CSMP N 34/2012: DEFICIENTE. SADE MENTAL. COMPROVAO DA CAPACIDADE CIVIL. Merece homologao a promoo de arquivamento de procedimento administrativo instaurado para apurar a notcia de vulnerabilidade de pessoa, decorrente de suposta
enfermidade mental se, no curso da investigao, restar comprovada a inexistncia da referida patologia, evidenciando-se, na hiptese, a desnecessidade
de propositura de ao de interdio.
ENUNCIADO CSMP N 35/2012: DEFICIENTE. INEXISTNCIA
OU CESSAO DA SITUAO DE RISCO. Merece homologao a
promoo de arquivamento de procedimento administrativo instaurado para
apurar possvel situao de risco lesivo a direitos de deficientes, tutelados na
forma da Lei Federal n 7.853/89 se, no curso da investigao, restar comprovada a inexistncia ou a cessao da situao de risco.
ENUNCIADO CSMP N 36/2012: CONSUMIDOR. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DE ESTABELECIMENTO. Merece homologao a promoo de arquivamento de procedimento administrativo
instaurado para apurar reclamaes sobre o fornecimento de produtos ou de
servios por parte de estabelecimento, se no curso da investigao ocorrer o
encerramento das atividades do referido estabelecimento, e desde que inexistam outras medidas a serem tomadas no mbito da proteo aos direitos dos
consumidores.
ENUNCIADO CSMP N 37/2012: CONSUMIDOR OU MEIO AMBIENTE. CESSAO DA ATIVIDADE NOCIVA. Merece homologao
a promoo de arquivamento de procedimento administrativo instaurado
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1o Os autos do inqurito civil ou do procedimento preparatrio, juntamente com a promoo de arquivamento, devero ser remetidos ao rgo de
reviso competente, no prazo de trs dias, contado da comprovao da efetiva cientificao pessoal dos interessados, atravs de publicao na imprensa
oficial ou da lavratura de termo de afixao de aviso no rgo do Ministrio
Pblico, quando no localizados os que devem ser cientificados.
2o A promoo de arquivamento ser submetida a exame e deliberao
do rgo de reviso competente, na forma do seu Regimento Interno.
3o At a sesso do Conselho Superior do Ministrio Pblico ou da Cmara de Coordenao e Reviso respectiva, para que seja homologada ou
rejeitada a promoo de arquivamento, podero as pessoas co-legitimadas
apresentar razes escritas ou documentos, que sero juntados aos autos do
inqurito ou do procedimento preparatrio.
4o Deixando o rgo de reviso competente de homologar a promoo
de arquivamento, tomar uma das seguintes providncias:
I converter o julgamento em diligncia para a realizao de atos imprescindveis sua deciso, especificando-os e remetendo ao rgo competente para designar o membro do Ministrio Pblico que ir atuar;
II deliberar pelo prosseguimento do inqurito civil ou do procedimento preparatrio, indicando os fundamentos de fato e de direito de sua
deciso, adotando as providncias relativas designao, em qualquer hiptese, de outro membro do Ministrio Pblico para atuao.
5o Ser pblica a sesso do rgo revisor, salvo no caso de haver sido
decretado o sigilo.
Art. 11. No oficiar nos autos do inqurito civil, do procedimento preparatrio ou da ao civil pblica o rgo responsvel pela promoo de arquivamento no homologado pelo Conselho Superior do Ministrio Pblico
ou pela Cmara de Coordenao e Reviso.
Art. 12. O desarquivamento do inqurito civil, diante de novas provas ou
para investigar fato novo relevante, poder ocorrer no prazo mximo de seis
meses aps o arquivamento. Transcorrido esse lapso, ser instaurado novo
inqurito civil, sem prejuzo das provas j colhidas.
Pargrafo nico. O desarquivamento de inqurito civil para a investigao
de fato novo, no sendo caso de ajuizamento de ao civil pblica, implicar
novo arquivamento e remessa ao rgo competente, na forma do art. 10,
desta Resoluo.
Art. 13. O disposto acerca de arquivamento de inqurito civil ou procedimento preparatrio tambm se aplica hiptese em que estiver sendo
investigado mais de um fato lesivo e a ao civil pblica proposta somente se
relacionar a um ou a algum deles.
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Captulo VI
Do Compromisso de Ajustamento de Conduta
Art. 14. O Ministrio Pblico poder firmar compromisso de ajustamento
de conduta, nos casos previstos em lei, com o responsvel pela ameaa ou
leso aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1o desta Resoluo,
visando reparao do dano, adequao da conduta s exigncias legais ou
normativas e, ainda, compensao e/ou indenizao pelos danos que no
possam ser recuperados.
Captulo VII
Das Recomendaes
Art. 15. O Ministrio Pblico, nos autos do inqurito civil ou do procedimento preparatrio, poder expedir recomendaes devidamente fundamentadas, visando melhoria dos servios pblicos e de relevncia pblica, bem
como aos demais interesses, direitos e bens cuja defesa lhe caiba promover.
Pargrafo nico. vedada a expedio de recomendao como medida
substitutiva ao compromisso de ajustamento de conduta ou ao civil pblica.
Captulo VIII
Das Disposies Finais
Art. 16. Cada Ministrio Pblico dever adequar seus atos normativos referentes a inqurito civil e a procedimento preparatrio de investigao cvel
aos termos da presente Resoluo, no prazo de noventa dias, a contar de sua
entrada em vigor.
Art. 17. Esta Resoluo entrar em vigor na data de sua publicao.
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8) QUESTIONRIO
a) O que so peas de informao?
b) Como se inaugura e conduz um inqurito civil?
c) O inqurito civil semelhante a algum outro instrumento de investigao existente na legislao ptria?
d) Como feito o controle do arquivamento do inqurito civil?
e) Quais so os efeitos do arquivamento de um inqurito civil?
f ) possvel a alegao de excesso de prazo de tramitao de um de inqurito civil? Se possvel, quais seriam as suas consequncias?
9) JURISPRUDNCIA
Dispensabilidade do inqurito civil para a instruo de ao civil pblica
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Inqurito civil e mitigao do princpio da publicidade no caso concreto: preservao da intimidade e privacidade do investigado
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8) QUESTES DE CONCURSO
1. Em relao ao processo coletivo, correto afirmar que: (FUJB 2011
MPE-RJ Analista Processual)
(a) o inqurito civil imprescindvel para o ajuizamento da ao civil
pblica;
(b) o compromisso de ajustamento de conduta um instrumento exclusivo do Ministrio Pblico;
(c) na ao civil pblica, no h condenao em honorrios advocatcios
e custas judiciais;
(d) na ao civil pblica, a competncia absoluta e pode ser modificada
por conexo;
(e) a defesa dos direitos individuais homogneos vedada ao Ministrio
Pblico.
2. Assinale a alternativa CORRETA: O MINISTRIO PBLICO, quanto ao civil pblica [...] (TRT 24 REGIO/MS 2012 Juiz)
(a) Detm legitimidade para sua propositura em defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogneos.
(b) No detm legitimidade para a sua promoo em defesa de interesses
individuais homogneos por tratar-se de situaes particulares e no conexas.
(c) S detm legitimidade para instaur-la quando em defesa de interesses
difusos e coletivos.
(d) Na hiptese da alternativa b, clusula final (interesses homogneos)
somente atuar por deliberao da assembleia geral da associao de classe
dos interessados.
(e) S detm legitimidade para instaur-la quando em defesa de interesses
difusos e individuais homogneos.
3. Nos termos da Lei da Ao Civil Pblica, se o rgo do Ministrio Pblico, esgotadas todas as diligncias, se convencer da inexistncia de fundamento para a propositura da ao civil, promover o arquivamento dos autos
do inqurito civil ou das peas informativas, fazendo-o fundamentadamente.
Nesse caso, (FCC 2012 TRT 11 Regio (AM) Juiz do Trabalho
Tipo 5)
I. os autos do inqurito civil ou das peas de informao arquivadas sero
remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 dias, ao Conselho Superior do Ministrio Pblico.
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1. CONCEITO
O Termo de Ajustamento de Conduta ou Compromisso de Ajustamento
de Conduta foi uma inovao trazida pelo Estatuto da Criana e do Adolescente, Lei 8069/90, atravs de seu artigo 211 (os rgos pblicos legitimados
podero tomar dos interessados compromisso de ajustamento de conduta s
exigncias legais...). Naquele mesmo ano, o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei 8078) acrescentou o pargrafo 6 Lei da Ao Civil Pblica (Lei
7347/85), expandindo de vez a utilizao de to importante instrumento de
operosidade das demandas coletivas.
O Ministrio Pblico deve participar diretamente da atividade judicial ou
extrajudicial por ser, constitucionalmente, aquele que deve zelar pela ordem
jurdica. Deve, assim, pautar sua atuao focando as formas mais produtivas
possveis que assegurem o acesso a uma ordem jurdica justa. O Termo de
Ajustamento de Conduta uma dessas formas.
Como bem salientou CARNEIRO47,
[...] o compromisso de ajustamento de conduta funciona, semelhana
da conciliao e da transao, como verdadeiro equivalente jurisdicional,
permitindo a soluo rpida e amigvel do conflito, seja na fase pr-processual seja no curso do prprio processo.
A Resoluo n 23 do Conselho Nacional do Ministrio Pblico assim
dispe sobre o Compromisso de Ajustamento de Conduta:
Art. 14. O Ministrio Pblico poder firmar compromisso de ajustamento de conduta, nos casos previstos em lei, com o responsvel pela ameaa
ou leso aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1 desta Resoluo,
visando reparao do dano, adequao da conduta s exigncias legais
ou normativas e, ainda, compensao e/ou indenizao pelos danos que
no possam ser recuperados.
Atravs do Termo de Ajustamento de Conduta, o prprio interessado, atravs de uma declarao unilateral, se obriga a ajustar a sua conduta quilo que
a lei determina. O causador do dano assume uma obrigao que visa evitar
ou reparar leso a direito ou interesse pblico. Dada a grande aplicao que
ganhou o Termo de Ajustamento de Conduta, sua abrangncia ultrapassou a
mera obrigao de fazer ou no fazer, passando a alcanar, devido a seu carter
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2. LEITURA RECOMENDADA:
Ao Civil Pblica: Comentrios por artigo. Jos dos Santos Carvalho
Filho, Captulo XII. Compromisso de Ajustamento de Conduta, pgs. 219
a 239.
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4. QUESTIONRIO
a) possvel a transao no curso de uma ao civil pblica?
b) Em que consiste o termo de ajustamento de conduta?
c) Quem legitimado para tomar o compromisso de ajustamento de conduta?
d) Qual a natureza jurdica do TAC?
e) Uma vez celebrado o compromisso de ajustamento, dever ser submetido reviso?
f ) O Ministrio Pblico, verificando que a celebrao de TAC se deu de
forma fraudulenta, pode ajuizar ao para anular o termo? Esta ao anulatria tem natureza de ao coletiva?
g) possvel a formalizao de TAC no mbito das aes de improbidade
administrativa?
5. PODE A DEFENSORIA PBLICA TOMAR UM TERMO DE AJUSTAMENTO
DE CONDUTA?
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TTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. IMPOSIO PELO MINISTRIO PBLICO. CERCEAMENTO DE DEFESA. COAO MORAL. VIOLAO DO CONTRADITRIO E DA AMPLA DEFESA. EXCESSO DE COBRANA. MULTA MORATRIA. HOMOLOGAO
DE TERMO DE AJUSTAMENTO PELO CONSELHO SUPERIOR DO
MINISTRIO PBLICO. ART. 9, 2 E 3 DA LEI 7347/85.
1. A revogao da manifestao de vontade do compromitente, por ocasio da lavratura do Termo de Ajustamento de Conduta TAC junto a
rgo do Ministrio Pblico, no objeto de regulao pela Lei 7347/855.
2. O Termo de Ajustamento, por fora de lei, encerra transao para cuja
validade imprescindvel a presena dos elementos mnimos de existncia,
validade e eficcia caracterizao deste negcio jurdico.
3. Sob esse enfoque a abalizada doutrina sobre o tema assenta: (...) Como
todo negcio jurdico, o ajustamento de conduta pode ser compreendido
nos planos de existncia, validade e eficcia. Essa anlise pode resultar em
uma fragmentao artificial do fenmeno jurdico, posto que a existncia,
a validade e a eficcia so aspectos de uma mesmssima realidade. Todavia,
a utilidade da mesma supera esse inconveniente. (...) Para existir o ajuste
carece da presena dos agentes representando dois centros de interesses,
ou seja, um ou mais compromitentes e um ou mais compromissrios; tem
que possuir um objeto que se consubstancie em cumprimento de obrigaes
e deveres; deve existir o acordo de vontades e ser veiculado atravs de uma
forma perceptvel (...) (RODRIGUES, Geisa de Assis, Ao Civil Pblica e
Termo de Ajustamento de Conduta, Rio de Janeiro, Ed.). Forense, 2002, p.
198). (Grifamos).
4. Consectariamente nulo o ttulo subjacente ao termo de ajustamento de conduta cujas obrigaes no foram livremente pactuadas, consoante
adverte a doutrina, verbis: (...) Para ser celebrado, o TAC exige uma negociao prvia entre as partes interessadas com o intuito de definir o contedo
do compromisso, no podendo o Ministrio Pblico ou qualquer outro ente
outro rgo pblico legitimado impor sua aceitao. Caso a negociao no
chegue a termo, a matria certamente passar a ser discutida no mbito judicial. (FARIAS, Talden, Termo de Ajustamento e Conduta e acesso Justia,
in Revista Dialtica de Direito Processual, So Paulo, v. LII, p. 121).
5. O Tribunal a quo luz do contexto ftico-probatrio encartado nos
autos, insindicvel pelo Egrgio Superior Tribunal de Justia, consignou que:
(a) o Termo de Ajustamento de Conduta in foco no transpe a linde da existncia no mundo jurdico, em razo de o mesmo no refletir o pleno acordo
de vontade das partes, mas, ao revs, imposio do membro do Parquet Estadual, o qual oficiara no inqurito; (b) a prova constante dos autos revela de
forma inequvoca que a notificao da parte, ora Recorrida, para comparecer
Promotoria de Defesa Comunitria de Estrela-RS, para negociar o Termo
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de Ajustamento de Conduta, se deu guisa de incurso em crime de desobedincia; (c) a Requerida, naquela ocasio desprovida de representao por
advogado, firmou o Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministrio
Pblico Estadual no sentido de apresentar projeto de reflorestamento e doar
um microcomputador Agncia Florestal de Lajeado, rgo subordinado
ao Executivo Estadual do Rio Grande do Sul; (e) posteriormente, a parte,
ora Recorrida, sob patrocnio de advogado, manifestou sua inconformidade
quanto aos termos da avena celebrada com o Parquet Estadual, requerendo
a revogao da mesma, consoante se infere do excerto do voto condutor dos
Embargos Infringentes fl. 466.
6. A exegese do art. 3 da Lei 7.347/85 (A ao civil poder ter por objeto
a condenao em dinheiro ou o cumprimento de obrigao de fazer ou no
fazer), a conjuno ou deve ser considerada com o sentido de adio (permitindo, com a cumulao dos pedidos, a tutela integral do meio ambiente)
e no o de alternativa excludente (o que tornaria a ao civil pblica instrumento inadequado a seus fins). Precedente do STJ: REsp 625.249/PR, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJ 31/08/2006)
7. A reparao de danos, mediante indenizao de carter compensatrio,
deve se realizar com a entrega de dinheiro, o qual reverter para o fundo a que
alude o art. 13 da Lei 7345/85.
8. Destarte, no permitida em Ao Civil Pblica a condenao, a ttulo
de indenizao, entrega de bem mvel para uso de rgo da Administrao
Pblica.
9. Sob esse ngulo, sobressai nulo o Termo de Ajustamento de Conduta in
foco, por fora da incluso de obrigao de dar equipamento de informtica
Agncia de Florestal de Lajeado.
10. Nesse sentido direciona a notvel doutrina: (...) como o compromisso de ajustamento s exigncias legais substitui a fase de conhecimento da
ao civil pblica, contemplando o que nela poderia ser deduzido, so trs as
espcies de obrigaes que, pela ordem, nele podem figurar: (i) de no fazer,
que se traduz na cessao imediata de toda e qualquer ao ou atividade, atual
ou iminente, capaz de comprometer a qualidade ambiental; (ii) de fazer, que
diz com a recuperao do ambiente lesado; e (iii) de dar, que consiste na fixao de indenizao correspondente ao valor econmico dos danos ambientais
irreparveis (Edis Milar, Direito Ambiental, p. 823, 2004).
11. Consectariamente, nula a homologao de pedido de arquivamento
de inqurito civil pblico instaurado para a apurao de dano ambiental,
pelo Conselho Superior do Ministrio Pblico, mngua de anlise da inconformidade manifestada pelo compromitente quanto ao teor do ajuste.
12. A legislao faculta s associaes legitimadas o oferecimento de razes
escritas ou documentos, antes da homologao ou da rejeio do arquivamento (art. 5, V, a e b, da Lei 7347/85), sendo certo, ainda, que na via
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administrativa vigora o princpio da verdade real, o qual autoriza Administrao utilizar-se de qualquer prova ou dado novo, objetivando, em ltima
ratio, a aferio da existncia de leso a interesses sob sua tutela.
13. Mutatis mutandis, os demais interessados, desde que o arquivamento
no tenha sido reexaminado pelo Conselho Superior, podero oferecer razes escritas ou documentos, mxime porque a reapreciao de ato inerente
funo institucional do Ministrio Pblico Federal, como no caso em exame,
no pode se dar ao largo da anlise de eventual ilegalidade perpetrada pelo
rgo originrio, merc da inarredvel funo fiscalizadora do Parquet.
14. Sob esse enfoque no dissente a doutrina ao assentar: A homologao
a que se refere o dispositivo, contudo, no tem mero carter administrativo,
nela havendo tambm certo grau de institucionalidade. Note-se a diferena.
No trata a lei de mera operao na qual um ato administrativo subordinado apreciao de outra autoridade. Trata-se, isso sim, de reapreciao
de ato inerente funo institucional do Ministrio Pblico, qual seja, a de
defender os interesses difusos e coletivos, postulado que, como j anotamos,
tem fundamento constitucional. Por isso mesmo, no bastar dizer-se que o
Conselho Superior examina a legalidade da promoo de arquivamento. Vai
muito alm na reviso. Ao exame de inqurito ou das peas informativas, o
Conselho reaprecia todos os elementos que lhe foram remetidos, inclusive
e este ponto importante procede prpria reavaliao desses elementos.
Vale dizer: o que para o rgo responsvel pela promoo de arquivamento
conduzia impossibilidade de ser proposta a ao civil, para o Conselho Superior os elementos coligidos levariam viabilidade da propositura. O poder
de reviso, em consequncia, implica na possibilidade de o Conselho Superior substituir o juzo de valorao do rgo originrio pelo seu prprio (...)
Jos dos Santos Carvalho Filho, in Ao Civil Pblica, Comentrios por Artigo, 7 ed; Lmen Juris; Rio de Janeiro, 2009, p. 313-316) grifos no original.
15. A apelao que decide pela inexigibilidade do Termo de Ajustamento
de Conduta TAC, por maioria, malgrado aluda carncia, encerra deciso
de mrito, e, a fortiori, desafia Embargos Infringentes.
16. In casu, as razes de decidir do voto condutor dos Embargos Infringentes revelam que anlise recursal se deu nos limites do voto parcialmente
divergente de fls. 399/402, fato que afasta a nulidade do referido acrdo
suscitada pelo Ministrio Pblico Federal fl. 458.
17. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.
STJ AgRg no REsp 1175494/PR Rel. Min Arnaldo Esteves de
Lima 1 Turma, j. em 22.03.2011
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA
LIDE. MATERIAL PROBATRIO SUFICIENTE PARA JULGAMEN-
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MESMO TRIBUNAL NO ENSEJA RECURSO ESPECIAL VIOLAO DOS ARTS. 927, 884 E 944 DO CC IMPOSSIBILIDADE DE
REVISO DO VALOR DA CONDENAO.
1. Inexiste violao do art. 535 do CPC quando a prestao jurisdicional
dada na medida da pretenso deduzida.
2. O Termo de Ajustamento de Conduta entabulado aps pronunciamento jurisdicional no tem o condo de implicar em perda do interesse de agir
do recorrido, pois, como corretamente consignou o acrdo, o TAC firmado
entre as partes poder ser alterado, o que incompatvel com a proteo
intentada por meio de ao civil pblica. Com o provimento jurisdicional,
ser formado ttulo executivo judicial, o qual poder ser executado a qualquer
momento. Outrossim, o TAC no afasta a apreciao da matria pelo Poder
Judicirio. Nesse caso, a sentena apenas deixaria de subsistir se houvesse
pedido de desistncia do autor da ao ou se o acordo fosse homologado
judicialmente, o que implicaria em formao de ttulo executivo da mesma
forma, mas que no o caso dos autos. O Termo de Ajustamento de Conduta
no afasta provimento jurisdicional se j houver sido provocado.
3. No pode ser conhecido o recurso especial por violao dos arts. 186
do CC e 333 do CPC, pois, para verificar a ausncia de ato ilcito e de dano
e apreciar as razes do recurso especial, seria imprescindvel analisar as provas
dos autos, o que no possvel em sede de recurso especial, como prescreve o
enunciado 7 da Smula do STJ.
4. A recorrente trouxe a confronto julgados do mesmo Tribunal, o que no
configura a divergncia exigida no permissivo constitucional, nos termos do
verbete 13 da Smula do STJ.
5. Apenas pode ser revisto o valor de condenao por danos morais quanto
manifestamente exorbitante ou irrisrio, o que no o caso dos autos, por
implicar no revolvimento de provas, com incidncia do verbete 7 do STJ.
Recurso especial parcialmente conhecido e improvido.
STJ HC 82911/MG Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima 5 Turma, j. em 05.05.2009
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL.
POLUIO. TRANCAMENTO DA AO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA QUE NO IMPEDE A INSTAURAO DA AO PENAL. INDEPENDNCIA ENTRE
AS ESFERAS ADMINISTRATIVA E PENAL. ACEITAO DE SURSIS
PROCESSUAL. ORDEM DENEGADA.
1. A suspenso condicional do processo no obsta o exame da alegao de
trancamento da ao penal. Precedentes do STJ.
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2. O trancamento de ao penal em sede de habeas corpus reveste-se sempre de excepcionalidade, somente admitido nos casos de absoluta evidncia
de que, nem mesmo em tese, o fato imputado constitui crime.
3. A estreita via eleita no se presta como instrumento processual para
exame da procedncia ou improcedncia da acusao, com incurses em aspectos que demandam dilao probatria e valorao do conjunto de provas
produzidas, o que s poder ser feito aps o encerramento da instruo criminal, sob pena de violao ao princpio do devido processo legal.
4. A assinatura do termo de ajustamento de conduta no obsta a instaurao da ao penal, pois esse procedimento ocorre na esfera administrativa,
que independente da penal.
5. Ordem denegada.
8. EXERCCIOS DE FIXAO:
Nas questes abaixo descritas, identifique, de acordo com o artigo 81 do
Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90) c/c artigo 21 da Lei da
Ao Civil Publica (Lei 7.347/85):
(a) O(s) Legitimado(s) Ativo(s);
(b) O(s) Legitimado(s) Passivo(s);
(c) O(s) eventual(is) pedido(s) a ser(em) deduzido(s) em demanda ajuizada
(d) O(s) interesse(s) metaindividual(is) envolvido(s).
1) Um caminho de empresa privada, concessionria de determinado
Municpio, trafega com a caamba aberta em via pblica e derruba
uma passarela, causando a morte de transeuntes e danos ao patrimnio pblico e a diversos patrimnios privados.
2) Um hospital privado, visando conter custos, dilui o reagente do
vrus HIV em bolsas de sangue/hemoterpicos comprados de fornecedor ocasional, causando transmisso do vrus em transfuses
de sangue realizadas em seu centro cirrgico.
3) Prefeito do Municpio de Deus me Livre utiliza a verba da merenda
Escolar, oriunda do FUNDEB e repassada pela Unio Federal para
adquirir, para si prprio, 2 camionetes de ltima gerao, zero quilmetros.
4) Empresa concessionria do servio de trens urbanos transita reiteradamente com vages de porta aberta, causando perigo de vida aos
usurios do servio.
5) Manifestantes urbanos danificam obras de arte de imvel tombado
pelo Instituto do Patrimnio Histrico Nacional.
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2. CASO:
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O Ministrio Pblico do Rio de Janeiro ajuza ao civil pblica para pleitear a repetio aos contribuintes de taxa de iluminao pblica cobrada pelo
Municpio do Rio de Janeiro durante os anos de 2007 a 2009. Esse direito
dos contribuintes pode ser enquadrado como um direito coletivo lato sensu?
cabvel a ao?
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3. LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL:
Existe um verdadeiro microssistema de tutela coletiva de direitos no Brasil?
Neste caso, possvel afirmar que as regras da Lei de Ao Civil Pblica, da
Lei de Ao Popular, da Lei do Mandado de Segurana e do Cdigo de Defesa
do Consumidor so complementares e se interpenetram de maneira uniforme
para a tutela dos direitos transindividuais? Assim, seria possvel ajuizar uma
Ao Popular em defesa das relaes de consumo? semelhana da Ao Popular, o prazo para a impetrao do mandado de segurana coletivo seria de cinco
anos? A sentena em uma Ao Civil Pblica poderia ter o carter mandamental e eventual descumprimento, neste caso, importaria em crime de desobedincia ordem judicial? Na verdade, parece que, na prtica, a resposta a todas
estas questes negativa. A nica hiptese em que a jurisprudncia reconheceu
a tese do microssistema foi para estender Ao Civil Pblica o prazo prescricional da Ao Popular, por ocasio da extino pelo STJ das aes coletivas
para restituio das perdas decorrente de expurgos dos planos econmicos54.
As hipteses de cabimento da ao civil pblica esto descritas em uma
srie de leis, conforme se ver a seguir:
a) Lei n 7.347/85:
Art. 1. Regem-se pelas disposies desta lei, sem prejuzo da ao
popular, as aes de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados:
I ao meio ambiente;
II ao consumidor;
III a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico
e paisagstico;
IV a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
V por infrao da ordem econmica;
VI a ordem urbanstica;
VII honra e dignidade de grupos raciais, tnicos ou religiosos.
(Includo pela Lei n 12.966, de 2014)
Pargrafo nico. No ser cabvel ao civil pblica para veicular
pretenses que envolvam tributos, contribuies previdencirias, o
fundo de garantia por tempo de servio FGTS ou outros fundos
de natureza institucional cujos benefcios podem ser individualmente
determinados.
(...)
Art. 3. A ao civil poder ter por objeto a condenao em dinheiro
ou o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer.
Art. 4. Poder ser ajuizada ao cautelar para os fins desta lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor,
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70
i quando tiver por objeto pedido que envolva tributos, contribuies previdencirias, o Fundo de Garantia do Tempo de Servio FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios possam ser individualmente determinados;
ii quando tiver por objeto principal a anlise de constitucionalidade de lei ou ato normativo, uma vez que, neste caso, ela estaria sendo utilizada como sucedneo da ADI, o que resultaria em
indevida usurpao de competncia do STF.
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que no ser cabvel ao civil pblica para veicular pretenso que envolva
tributos, contribuies previdencirias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Servio FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios podem ser individualmente determinados.
No mbito da doutrina, h quem entenda que a Medida Provisria inconstitucional. Entre outros argumentos, sustenta-se que o pargrafo nico
do art. 1 da LACP exclui da apreciao do Poder Judicirio ameaa ou leso
a direito, afrontando o art. 5, XXXV da Constituio da Repblica.56
Aprofundaremos a questo no tpico 6, abaixo.
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Idem. Ibidem.
59
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61
RE 91.740-RS
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Tem-se de admitir a inidoneidade completa da ao civil pblica como instrumento de controle de constitucionalidade, seja porque ela acabaria por instaurar um controle direto e abstrato no
plano da jurisdio de primeiro grau, seja porque a deciso haveria
de ter, necessariamente, eficcia transcendente das partes formais.
Tambm este o magistrio de Alexandre de Moraes63, no sentido de que
deve ser vedada
a obteno de efeitos erga omnes nas declaraes de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em sede de ao civil pblica, no importa se tal declarao consta como pedido principal ou
como pedido incidenter tantum, pois, mesmo nesse, a declarao
de inconstitucionalidade poder no se restringir somente s partes
daquele processo, em virtude da previso dos efeitos nas decises em
sede de ao civil pblica, dada pela Lei n. 7.347 de 1985.
A razo principal de tal restrio a semelhana existente entre as duas
aes de matriz constitucional, que possuem natureza de processo sem partes
ou objetivo, apesar das diferenas que entre ela existem.
Neste sentido, o Min Gilmar Ferreira Mendes64:
a ao civil pblica aproxima-se muito de um tpico processo
sem partes ou de um processo objetivo, no qual a parte autora atua
na defesa de situaes subjetivas, agindo, fundamentalmente, com o
escopo de garantir a tutela do interesse pblico
Ocorre que, entre a ao civil pblica e a ao direta de inconstitucionalidade, tambm existem profundas diferenas que no podem deixar de ser
indicadas.
Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery65 lecionam:
O objeto da ACP a defesa de um dos direitos tutelados pela
CF, pelo CDC e pela LACP. A ACP pode ter como fundamento a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. O objeto da ADIn
a declarao, em abstrato, da inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo, com a conseqente retirada da lei declarada inconstitucional do mundo jurdico por intermdio da eficcia erga omnes da
coisa julgada. Assim, o pedido na ACP a proteo do bem da vida
tutelado pela CF, CDC ou LACP, que pode ter como causa de pedir
a inconstitucionalidade de lei, enquanto o pedido na ADIn ser a
prpria declarao da inconstitucionalidade da lei.
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DJU 14/02/2003
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ses individuais homogneos, que justamente o aspecto social. Estou lembrando de uma hiptese, que no diria mais ou menos favorvel do que a
retratada nestes autos, na qual o Plenrio concluiu no sentido de reconhecer
a legitimidade do Ministrio Pblico. Aludo ao problema das mensalidades
escolares. Caminhamos nesse sentido, dando uma interpretao, portanto,
teleolgica ao inciso III do art. 129 da Constituio Federal, considerada a
repercusso no tecido social, ou seja, o interesse abrangente dos cidados.....
Esperar-se que cada qual, residente no Municpio de Umuarama, ajuze
a ao para impugnar a majorao do tributo tida como ilegal simplesmente assentar-se que no teremos tal ajuizamento. E citando Mazzilli,
continua S.Exa No caso do ajuizamento visando a obter a devoluo dos
tributos ilegalmente retidos ou recolhidos de milhares ou milhes de contribuintes, negar o interesse da sociedade como um todo na soluo desses litgios e exigir que cada lesado comparecesse a juzo em defesa de seus interesses
individuais seria negar os fundamentos e os objetivos da ao coletiva ou da
ao civil pblicapara prosseguir H outro aspecto a respaldar a concluso sobre a legitimidade em foco. Viabiliza a desburocratizao do Judicirio, concentrando pretenses em um nico processo, alm de implicar freio
fria arrecadadora do Estado. Sob o ngulo negativo, no vejo qualquer
inconveniente na iniciativa do Ministrio Pblico. Por ltimo, atente-se
para a Lei Complementar regedora da atividade do Ministrio Pblico
Lei Complementar n 75/93. O art. 5, II, impe-lhe zelar pela observncia dos princpios constitucionais reltivos ao sistema tributrio.Cumpre ao
Judicirio agasalhar as iniciativas voltadas para o restabelecimento da paz
social, ao equilbrio das relaes Estado-Cidado, viabilizando, at mesmo,
o melhor funcionamento da grande mquina que encerra.(grifos nossos)
Ressalve-se, por oportuno, que o STF, ao julgar questo semelhante, em
que se discutia a tutela de interesses individuais homogneos socialmente
relevantes, na questo hoje j sumulada (Verbete 643)74 relativa s mensalidades escolares, teve posio diametralmente oposta.
Qual a sua posio a respeito da matria?
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MEIRELLES, Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Gilmar Ferreira, op. cit.,
pg. 238.
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como o Prof. SANTOS FILHO77, entendem que, como na ao penal pblica, tambm no pode o Ministrio Pblico desistir da Ao Civil Pblica.
Outros como MAZZILLI78 admitem tal possibilidade, visto que livre a
valorao do interesse pblico e da justa causa para prosseguir na ao. Comungamos da posio do administrativista fluminense.
9) QUESTIONRIO
a) A admissibilidade de ao civil pblica para a defesa de quaisquer interesses difusos causa insegurana jurdica ao Brasil. Voc concorda ou discorda?
b) Caso o Ministrio Pblico ajuze uma ao civil pblica com pedido
somente de fechamento de uma empresa poluidora sem licena de operaes
(L.O.), poderia o Juiz vir a condenar a r ao pagamento de indenizao e
recomposio dos danos ambientais causados pela empresa?
c) Pode o Poder Judicirio impor diretrizes, critrios ou prioridades de
ao ao administrador pblico?
d) cabvel ajuizar ao civil pblica em defesa do contribuinte?
e) Pode o Ministrio Pblico promover ao civil pblica para a defesa de
interesse individual e de uma nica pessoa? Em caso positivo, exemplifique.
e) Existe no direito Brasileiro o incidente de certificao de classe (class certification), idntico class action norte-americana?
f ) Existe no direito brasileiro a exigncia de que todos os membros de uma
classe sejam informados pelo autor sobre a existncia da demanda coletiva
para decidir se querem optar por permanecer (opt in) ou por deixar (opt out)
a ao coletiva?
g) possvel ajuizar uma Ao Civil Pblica com pedido de obrigao
de fazer quando, em tese, o ru est impossibilitado de fazer em virtude de
ausncia de norma regulamentadora de direito assegurado pela constituio?
h) Deve o poder judicirio ser ativista?
i) Sendo a legislao referente tutela coletiva omissa, pode o Cdigo de
Processo Civil ser utilizado para suprir a omisso? Responda a questo a partir da noo de microssistema de tutela coletiva.
j) O que significa o princpio do mximo benefcio da tutela jurisdicional
coletiva?
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10) JURISPRUDNCIA
STJ REsp 987280/SP, Rel. Min. Luiz Fux 1 Turma, j. em
16.04.2009
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AO CIVIL PBLICA. OBRAS DE ADEQUAO DO PRDIO DO FRUM DE SANTA
F DO SUL. ELIMINAO DE BARREIRAS DE ARQUITETNICAS.
ACESSIBILIDADE DE DEFICIENTES FSICOS. ANTECIPAO DE
TUTELA. COMINAO DE MULTA DIRIA. ASTREINTES. OBRIGAO DE FAZER. INCIDNCIA DO MEIO DE COERO. AUSNCIA DE VIOLAO DO ART. 461, 4, DO CPC. PREQUESTIONAMENTO. SMULAS 282 E 356/STF.
1. cabvel a cominao de multa diria (astreintes) em face da Fazenda
Pblica, como meio de vencer a obstinao quanto ao cumprimento da obrigao de fazer (fungvel ou infungvel) ou entregar coisa, incidindo a partir
da cincia do obrigado e da sua recalcitrncia. Precedentes do STJ: AgRg
no Ag 1025234/SP, DJ de 11/09/2008; AgRg no Ag 1040411/RS, DJ de
19/12/2008; REsp 1067211/RS, DJ de 23/10/2008; REsp 973.647/RS, DJ
de 29.10.2007; REsp 689.038/RJ, DJ de 03.08.2007: REsp 719.344/PE, DJ
de 05.12.2006; e REsp 869.106/RS, DJ de 30.11.2006.
2. Ao Civil Pblica promovida pelo Ministrio Pblico Estadual, objetivando a adequao do Prdio do Frum de Santa F do Sul, para garantir
acessibilidade aos portadores de deficincia fsica, no qual foi deferida a antecipao dos efeitos da tutela, para determinar que o demandado iniciasse as
obras de adequao do prdio, no prazo de trs meses, sob pena de pagamento de multa diria no valor de R$ 400,00, na hiptese de descumprimento.
3. A simples indicao dos dispositivos legais tidos por violados (art. 12,
2, da Lei 7.347/84; art. 84, 3, da Lei n 8.078/90; arts. 461, 4; 273,
3 e 644, do CPC), sem referncia com o disposto no acrdo confrontado,
obsta o conhecimento do recurso especial. Incidncia dos verbetes das Smula 282 e 356 do STF.
4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.
87
1) INTRODUO
O Ministrio Pblico pode atuar de vrias formas distintas no processo
civil (autor, por legitimao ordinria; autor, por substituio processual; interveniente em razo da natureza da lide; interveniente em razo da qualidade da
parte; ru)79. Mesmo quando atua como parte, o Ministrio Pblico no perde a condio de fiscal da lei (custos legis). A Constituio destinou o Ministrio Pblico defesa de interesses indisponveis do indivduo e da sociedade
e proteo dos interesses sociais, vedada a representao do estado e das
entidades pblicas em juzo (CF, artigos 127 e 129). Leciona a respeito do
assunto Hugo Nigro Mazzilli que o Ministrio Pblico pode tutelar interesses disponveis apenas quando sua ampla abrangncia ou grande repercusso
social justifique a atuao (hiptese que pode ocorrer na defesa de interesses
individuais homogneos em uma ao civil pblica)80.
Acerca das atribuies do MP, dispe a CF/88:
Art. 127. O Ministrio Pblico instituio permanente, essencial
funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais
indisponveis.
Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico: (...)
II zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Pblicos e dos servios
de relevncia pblica aos direitos assegurados nesta Constituio, promovendo as medidas necessrias sua garantia;
III promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos;
(...)
VI expedir notificaes nos procedimentos administrativos de
sua competncia, requisitando informaes e documentos para instru-los, na forma da lei complementar respectiva;
(...)
IX exercer outras funes que lhe forem conferidas, desde que
compatveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representao judicial e a consultoria de entidades pblicas.
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1. A legitimao do Ministrio Pblico para as aes civis previstas neste artigo no impede a de terceiros, nas mesmas hipteses,
segundo o disposto nesta Constituio e na lei.
De acordo com Hugo Nigro Mazzilli, de lege ferenda, a melhor maneira
de adequar o Ministrio Pblico ao seu atual perfil constitucional ser conferirlhe a lei, gradativamente, maior discricionariedade para identificar as hipteses
em que entenda necessrio agir ou intervir. Assim, poder concentrar esforos
nas questes em que se busque maior efetividade em sua atuao concreta. Mas,
naturalmente, essa discricionariedade dever ser muito bem controlada. Para
que o sistema proposto funcione adequadamente, ser necessrio estabelecer um
sistema de controle da inrcia, mediante o qual qualquer interessado possa reclamar aos rgos da administrao superior do Ministrio Pblico em decorrncia
da falta ou da insuficincia de atuao de um de seus rgos de execuo, num
caso concreto81.
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4) QUESTIONRIO
a) Em que consiste a obrigatoriedade e a indisponibilidade da ao civil
pblica pelo Ministrio Pblico?
b) A deciso de arquivamento de um inqurito civil viola a clusula constitucional da inafastabilidade do poder judicirio, uma vez que retira do juiz
o conhecimento da leso ao direito coletivo?
c) Existe diferena na atuao do Ministrio Pblico quando ela ocorre
no pela natureza da lide, mas em razo da qualidade da parte? Neste ltimo
caso, deve o Ministrio Pblico ser um defensor intransigente dos interesses
da parte que justifica sua atuao no processo?
d) De acordo com Mauro Cappelletti, O Ministrio Pblico no estaria
psicologicamente adequado para ajuizar aes coletivas. Voc discorda ou
concorda?
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90
e) Hugo Nigro Mazzilli afirma que no teria sentido, v. g., pr o Ministrio Pblico em defesa de meia dzia de importadores de carros de luxo
danificados no transporte (...). Coisa diversa, porm, seria negar a priori a
possibilidade a possibilidade da iniciativa da instituio para, p ex, propor
ao civil pblica cujo objeto fosse impedir a comercializao de medicamentos falsificados ou adulterados, que podem causar graves danos sade
de pessoas86. Qual seria, ento, o critrio para se admitir a legitimidade do
Ministrio Pblico na tutela de interesses individuais homogneos?
f ) O que ocorre se o autor de ao coletiva abandona a causa? O juiz deve
extinguir o processo sem exame do mrito ou deve ser utilizada soluo existente no microssistema de tutela coletiva?
g) Deve o Ministrio Pblico atuar sempre que uma lei infraconstitucional obrigue a atuao da instituio em uma determinao ao judicial?
h) Em caso de desistncia do autor, estar o Ministrio Pblico obrigado
a assumir o plo ativo da ao civil pblica?
i) Pode o Ministrio Pblico desistir da ao civil pblica?
j) Pode desistir ou renunciar ao direito de recurso?
5) JURISPRUDNCIA
REsp 821.395/PE, Rel. Min. Luiz Fux 1 Turma, j. em 23.03.2009
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AO CIVIL PBLICA. SERVIO DE TELEFONIA. SUJEITO PASSIVO DA COFINS E
PIS/PASEP. ILEGITIMIDADE DO MINISTRIO PBLICO. QUESTO DEBATIDA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA
CONCESSO DE LIMINAR (TUTELA ANTECIPADA). JULGAMENTO DO MRITO DA AO PRINCIPAL. PERDA DO OBJETO. INOCORRNCIA. JURISPRUDNCIA DA PRIMEIRA TURMA. RESSALVA DO ENTENDIMENTO DO RELATOR (LEGITIMIDADE ATIVA
DO MINISTRIO PBLICO. ARTIGO 129, III, DA CONSTITUIO
FEDERAL. LEI COMPLEMENTAR 75/93. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGNEOS. DIREITO DO CONSUMIDOR. ILEGALIDADE NO REPASSE DE TRIBUTOS A USURIOS DO SERVIO PBLICO DE TELECOMUNICAO).
1. Ao civil pblica, intentada pelo Ministrio Pblico Federal, que objetiva impedir que as empresas de telefonia fixa e mvel repassem, diretamente
aos consumidores dos servios, residentes no Estado de Pernambuco, os valores referentes ao recolhimento da COFINS e do PIS/PASEP.
2. O Tribunal de origem, em sede de agravo de instrumento, revogou a
tutela antecipada concedida pelo Juzo Singular, que determinara s concessionrias/autorizatrias demandadas que procedessem imediata suspenso
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6) EXERCCIOS DE FIXAO
Nas questes abaixo descritas, identifique a providncia a ser tomada pelo
Promotor de Justia de Tutela Coletiva, na forma do disposto na CF, artigos
127 e 129, III; na Lei 7.347/85; e na Resoluo n 23 do CNMP, redigindo
a pea cabvel.
1) O magistrado Titular da 1 Vara Cvel de Volta Redonda encaminha
ofcio ao PJTC local com cpias de petio inicial e documentos
instrutrios de ao de reparao de danos morais por propaganda enganosa movida por alguns cidados, em litisconsrcio ativo,
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1) CASO
O Sindicato Estadual de Profissionais da Educao ajuizou Ao Civil
Pblica em face do Estado do Rio de Janeiro com a pretenso de que fosse
proibido o pagamento de Gratificaes por Lotao Prioritria (GLPs) aos
professores da Rede Estadual de Ensino. De acordo com o Sindicato, o Estado do Rio de Janeiro estava pagando GLP a cerca de 15.000 professores,
em virtude de eles estarem trabalhando com a carga horria dobrada. Assim
agindo, o Estado deixava de contratar dezenas de milhares de professores
aprovados em concurso pblico, mas que no eram convocados em virtude do pagamento destas gratificaes. O sindicato argumentava que estava
defendendo a qualidade da educao no Estado e justificava sua legitimao
com base no fato de que, apesar de ainda no terem sido oficialmente contratados como professores, os concursados tinham licenciatura e eram profissionais da educao, apesar de ainda no estarem exercendo o magistrio para o
qual tinham se qualificado.
Na condio de juiz, voc consideraria que o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educao possui legitimidade ativa para ajuizar esta ao civil
pblica?
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3) LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL
a) Lei n 7347/85.
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4) REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA
Como visto, uma das inovaes pretendidas pelo Anteprojeto de Cdigo
Brasileiro de Processos Coletivos seria permitir que o juiz aferisse se o autor
da ao coletiva est representando adequadamente os interesses que deve defender em juzo. Regra semelhante existe no direito norteamericano e autores
brasileiros se referem a associaes legitimadas que no apresentariam credibilidade, seriedade, o conhecimento tcnico-cientfico, a capacidade econmica, a
possibilidade de produzir uma defesa processual vlida88.
lvaro Mirra defende a necessidade de aferio da representatividade adequada de tais entes intermedirios legitimados, entendida como a aptido,
que referidos titulares do direito de agir devem apresentar, para a defesa escrupulosa e eficiente em juzo do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, em perfeita sintonia com as expectativas da coletividade por eles representada. Nessa matria, portanto, ao contrrio do sustentado
88
MIRRA, lvaro Luiz Valery. A ao civil pblica em defesa do meio ambiente: a representatividade adequada dos
entes intermedirios legitimados para
a causa. In: MILAR, Edis (org). A ao
civil pblica aps 20 anos: efetividade e
desafios, 2005, pg. 49.
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Apesar de a prtica no ser realizada pela entidade sindical, trata-se de atividade-fim da categoria, de modo que, em tese, o sindicato estaria adequadamente capacitado para exercer o papel de substituto processual dos supostos
transgressores104. Antes do advento da Lei n 10.671/10, Rodolfo Camargo
Mancuso j cogitava da possibilidade de que uma torcida pudesse figurar
como representante adequado de seus membros: presente esse ambiente normativo, e considerando ainda que o futebol valor integrante do patrimnio
cultural brasileiro (CF, art. 216), pode-se figurar uma ao civil pblica movida
pelo Ministrio Pblico tendo como causa de pedir atos de vandalismo praticados em estdio municipal, atribudos a integrantes de certa torcida (des...)
organizada, e, como pedido, a condenao recomposio do status quo ante:
neste contexto, haver necessidade de saber se a citada torcida realmente pode ser
considerada uma adequada representante dos aderentes da agremiao desportiva
correspondente, como condio para sua regular imputao ao plo passivo, e,
tambm, para fins de eficcia prtica da futura coisa julgada.105
Esta possibilidade, com o advento dos artigos 37-A e 37-B do Estatuto do
Torcedor, agora se tornou uma realidade indiscutvel. que atualmente existe previso legal expressa de que, (i) enquanto coletividade, a torcida organizada pode figurar no plo passivo de uma ao civil pblica e (ii) a torcida
organizada deve ser considerada a representante adequada dos interesses de
seus membros, que podero ser responsabilizados pela transgresso de uma
parcela de seus associados.
A nova regra consolida uma tendncia doutrinria e jurisprudencial, definindo claramente a possibilidade de se ajuizar a ao coletiva passiva nestes
casos. Trata-se de uma prtica judicial adotada h sculos nos Estados Unidos
e na Inglaterra, conhecida como defendant class action, cuja utilidade bem
explicada por Antonio Gidi: a vantagem de uma defendant class action
manifesta nos casos em que h um padro de conduta ilegal entre um grupo
de rus semelhantes situados, como, por exemplo, vrias escolas, penitencirias, lojas, municpios, cartrios, planos de sade, franqueados, infratores
etc. Com uma
nica ao coletiva possvel obrig-los todos a cumprir a lei atravs de
um nico processo e uma nica deciso, que ter fora de coisa julgada em
face de todos os membros do grupo106. De acordo com o professor da Universidade de Houston, seria ideal que uma reforma legislativa delimitasse,
no direito brasileiro, tal tipo de ao.107 Conforme j salientado, a regra est
prevista no anteprojeto de Cdigo Brasileiro de Processos Coletivos, com a
seguinte redao:
Captulo III Da ao coletiva passiva
Art. 36. Aes contra o grupo, categoria ou classe Qualquer
espcie de ao pode ser proposta contra uma coletividade organizada,
104
Tal hiptese foi enfrentada pelo Tribunal de Justia do Rio de Janeiro
em Ao Civil Pblica ajuizada pelo
Ministrio Pblico fluminense em face
do Sindicato de Estabelecimentos de
Ensino do Rio de Janeiro, tendo a 20
Cmara Cvel superado as preliminares de ilegitimidade e enfrentado
o mrito, julgando improcedente os
pedidos formulados no Processo n
2008.001.40179.
105
DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes, op.cit., pgs. 172-173.
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105
mesmo sem personalidade jurdica, desde que apresente representatividade adequada (art. 19, I, a, b e c), se trate de tutela de interesses
ou direitos difusos e coletivos (art. 3) e a tutela se revista de interesse
social
Art. 37. Coisa julgada passiva A coisa julgada atuar erga omnes,
vinculando os membros do grupo, categoria ou classe e aplicando-se ao
caso, inversamente, as disposies do artigo 12, caput e pargrafos 5 e
6 deste Cdigo.
Comentando tais dispositivos, Ada Pellegrini Grinover esclareceu que o
captulo III introduz no ordenamento brasileiro a ao coletiva passiva, ou
seja, a ao promovida no pelo, mas contra o grupo, categoria ou classe de
pessoas. A jurisprudncia brasileira vem reconhecendo o cabimento dessa
ao (a defendant class action do sistema norte-americano), mas sem parmetros que rejam sua admissibilidade e o regime da coisa julgada108. Na verdade, tal inovao legal acaba de ser introduzida em nosso ordenamento atravs
da Lei n 10.671/10, atravs da adoo da ao coletiva passiva no mbito
do Estatuto do Torcedor, em que a torcida organizada citada como r, mas
a coisa julgada erga omnes abrange tambm todos os seus torcedores. Cabe,
portanto, aos legitimados o ajuizamento de aes civis pblicas em face das
torcidas organizadas para fins de responsabilizao civil da associao e de
seus associados.
10) QUESTIONRIO
a) Pode a Ordem dos Advogados do Brasil ajuizar aes civis pblicas?
b) Em que consiste a expresso pertinncia temtica? Qual a diferena
em relao ao instituto da representao adequada? Esta ltima exigvel no
ordenamento jurdico brasileiro?
c) O requisito da pr-constituio da associao indispensvel?
d) Pode uma associao defender interesses transindividuais que ultrapassem os seus prprios associados?
e) admissvel que uma associao defenda em juzo interesses de um
grupo de associados, mas que contrarie outro grupo de associados?
f ) A ao coletiva movida pela Defensoria Pblica pode tutelar direitos
difusos ou se restringe defesa dos hipossuficientes?
108
GRINOVER, Ada Pellegrini. Rumo
a um Cdigo Brasileiro de Processos
Coletivos Exposio de Motivos. In:
LUCON, Paulo Henrique dos Santos
(org.). Tutela Coletiva: 20 anos da
Lei de Ao Civil Pblica. So Paulo:
Atlas,2006, p. 4.
106
11) JURISPRUDNCIA
Legitimidade da Defensoria Pblica
107
STJ REsp 1.181.066/RS, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador Convocado do TJ/RS) 3 Turma, j. em 15.03.2011
DIREITO DO CONSUMIDOR. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ESPECIAL. AO CIVIL PBLICA. DIREITO BSICO DO CONSUMIDOR INFORMAO ADEQUADA. PROTEO SADE.
LEGITIMIDADE AD CAUSAM DE ASSOCIAO CIVIL. DIREITOS DIFUSOS. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAO ESPECFICA DOS ASSOCIADOS. AUSNCIA DE INTERESSE DA UNIO.
COMPETNCIA DA JUSTIA ESTADUAL. ARTS. 2. E 47 DO CPC.
NO PREQUESTIONAMENTO. ACRDO RECORRIDO SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. CERVEJA KRONENBIER.
UTILIZAO DA EXPRESSO SEM LCOOL NO RTULO DO
PRODUTO. IMPOSSIBILIDADE. BEBIDA QUE APRESENTA TEOR
ALCOLICO INFERIOR A 0,5% POR VOLUME. IRRELEVNCIA,
IN CASU, DA EXISTNCIA DE NORMA REGULAMENTAR QUE
DISPENSE A MENO DO TEOR ALCOLICO NA EMBALAGEM
DO PRODUTO. ARTS. 6. E 9. DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
1. A motivao contrria ao interesse da parte ou mesmo omissa em relao a pontos considerados irrelevantes pelo decisum no se traduz em insuficincia de fundamentao do julgado, sendo descabido, na hiptese, falar
em ofensa aos arts. 165, 458, II e III, e 515, do CPC.
2. So legitimados para sua propositura, alm do Ministrio Pblico, detentor da funo institucional de faz-lo no resguardo de interesses difusos e coletivos (CF/88, art. 129, III), a Unio, os Estados, os Municpios, as Autarquias, as
empresas pblicas, as sociedades de economia mista e as associaes civis.
108
109
1) INTRODUO
A competncia para o julgamento das aes civis pblicas preconizada:
a) Lei da Ao Civil Pblica (Lei n 7347/85)
Art. 2. As aes previstas nesta Lei sero propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juzo ter competncia funcional para processar
e julgar a causa.
Pargrafo nico. A propositura da ao prevenir a jurisdio do juzo
para todas as aes posteriormente intentadas que possuam a mesma causa
de pedir ou o mesmo objeto. (Includo pela Medida provisria n 2.18035, de 2001).
b) Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90).
Art. 93. Ressalvada a competncia da Justia Federal, competente para
a causa a justia local:
I no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de
mbito local;
II no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os
danos de mbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Cdigo de
Processo Civil aos casos de competncia concorrente.
Art. 94. Proposta a ao, ser publicado edital no rgo oficial, a fim
de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem
prejuzo de ampla divulgao pelos meios de comunicao social por parte
dos rgos de defesa do consumidor. (...)
Art. 101. Na ao de responsabilidade civil do fornecedor de produtos
e servios, sem prejuzo do disposto nos Captulos I e II deste ttulo, sero
observadas as seguintes normas:
I a ao pode ser proposta no domiclio do autor;
II o ru que houver contratado seguro de responsabilidade poder
chamar ao processo o segurador, vedada a integrao do contraditrio pelo
Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hiptese, a sentena que julgar procedente o pedido condenar o ru nos termos do art. 80 do Cdigo de Processo Civil. Se o ru houver sido declarado falido, o sndico ser intimado
a informar a existncia de seguro de responsabilidade, facultando-se, em
caso afirmativo, o ajuizamento de ao de indenizao diretamente contra
110
109
MAZZILLI, Hugo Nigro, op. cit.,
pg.278.
110
MAZZILLI, Hugo Nigro, op. cit.,
pg.279.
111
Critrio
Regra
Funcional
Material
Territorial
Compete justia do trabalho julgar aes coletivas que envolvam relao de trabalho, na forma do art. 114 da Constituio Federal.
Enunciado n 736 da Smula do STF: Compete Justia do Trabalho julgar as aes
que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas
segurana, higiene e sade dos trabalhadores.
Segundo a doutrina majoritria: interpretando o art. 2 da Lei 7347 com o art. 93 do
CDC, se o dano for local, a competncia ser do juzo do local onde o evento danoso ocorrer, ou onde possa ocorrer, caso se trate de tutela coletiva preventiva.
Art. 2 As aes previstas nesta Lei sero propostas no foro do local onde ocorrer o
dano, cujo juzo ter competncia funcional para processar e julgar a causa.
Pargrafo nico. A propositura da ao prevenir a jurisdio do juzo para todas as
aes posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo
objeto.
Se o dano for regional, o sistema estabelece que a competncia da capital de um dos
Estados atingidos.
Art. 93. Ressalvada a competncia da Justia Federal, competente para a causa a
justia local:
I no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de mbito local;
II no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de mbito
nacional ou regional, aplicando-se as regras do Cdigo de Processo Civil aos casos de
competncia concorrente.
Obs. 1: DANO REGIONAL Neste caso, o dano atinge mais de trs comarcas ou subsees judicirias. A competncia neste caso ser dada por preveno.
Obs. 2: DANO NACIONAL A regra que a ao coletiva poder ser ajuizada na capital de um dos Estados da Federao atingidos ou no Distrito Federal, de acordo com
entendimento do Superior Tribunal de Justia. Quando ocorrer o dano em mais de trs
estados, sugere a doutrina majoritria que estaria configurado o dano nacional.
Obs. 3: Em sede de aes coletivas, o critrio territorial em questo configura regra
sobre competncia absoluta de acordo com doutrina e jurisprudncia pacficas.
112
113
111
DIDIER JR., Fredie e ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil.
Processo Coletivo. Vol. 4. Salvador: JusPODIVM, 2007, p. 337.
114
Em sntese:
Efeitos
Objetos
Difusos
Procedente
Improcedente
NO
Improcedncia por
falta de provas
Coletivos
NO
Procedente
Improcedente
Improcedncia por
falta de provas
Ind. Homogneos
Procedente
NO
Improcedncia por
qualquer fundamento
No que diz respeito regra da coisa julgada in utillibus prevista no art. 103
da Lei 8.078/90 h que se destacar que existe uma exceo prevista no art. 94
do referido diploma legal:
Art. 94. Proposta a ao, ser publicado edital no rgo oficial, a fim
de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem
prejuzo de ampla divulgao pelos meios de comunicao social por parte
dos rgos de defesa do consumidor.
Destarte, se houver a interveno dos interessados como assistentes litisconsortes, em caso de improcedncia da pretenso no processo coletivo, os
intervenientes no podero mais interpor sua ao individual.
Para parte da doutrina, a regra do artigo 94 s se aplicaria aos interesses individuais homogneos e coletivos, no sendo aplicvel aos interesses difusos,
em razo da indeterminabilidade de seus sujeitos.
Outra importante observao com relao coisa julgada in utillibus: caso
a ao individual seja anterior coletiva, dever o autor, para se beneficiar da sentena no processo coletivo, requerer expressamente a suspenso
da ao individual nos trinta dias que se seguirem comunicao pelo ru
sobre a existncia da ao coletiva com identidade de objeto. Caso no faa
o requerimento de suspenso, no poder o autor da ao individual se valer
da sentena da ao coletiva, pois h exigncia expressa neste sentido, prevista
no art 104 da Lei 8.078/90.
Porm, para que a norma do art. 104 produza seus efeitos sobre as aes
individuais imprescindvel que o ru faa previamente a devida comunicao dos autores sobre a existncia da ao coletiva.
Se o autor de uma ao individual no for informado pelo ru da ao coletiva sobre sua existncia, tambm poder se valer da coisa julgada in utillibus, ou seja, de uma sentena procedente na ao coletiva, mesmo sem ter
115
112
DIDIER JR., Fredie e ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil.
Processo Coletivo. Vol. 4. Salvador: JusPODIVM, 2007, p. 163.
116
tando-se aos autores das aes extintas ingressarem como assistentes litisconsorciais na ao que permanecer em tramitao.
A segunda corrente (majoritria) entende que no haver extino das
aes repetidas, mas sim reunio das aes para julgamento conjunto, quando possvel, valendo a mesma regra para o caso de identidade parcial entre
duas ou mais aes coletivas. As aes extintas poderiam ser mais bem elaboradas do que a que sobrou, logo, a reunio de todos os argumentos propiciaria uma melhor tutela dos interesses coletivos.
Como bem destacado por DIDIER, com base na doutrina de LEONEL113
e GRINOVER114 que, segundo parte expressiva da doutrina, esta litispendncia no poderia gerar extino do segundo processo, pois assim, poder-se-ia,
se for o caso, tolher a iniciativa do cidado, o que seria inconstitucional115.
Todavia, ambas correntes concordam que, em havendo impossibilidade
de reunio dos processos quando tramitarem em fases diferentes, a soluo
dever ser, de lege ferenda, a suspenso do processo, com a aplicao do art.
265, IV do CPC.116
Por fim, registre-se que so critrios legais para a reunio das aes coletivas:
Art. 106. Correndo em separado aes conexas perante juzes que tm a
mesma competncia territorial, considera-se prevento aquele que despachou
em primeiro lugar.
Art. 219. A citao vlida torna prevento o juzo, induz litispendncia
e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente,
constitui em mora o devedor e interrompe a prescrio. (Redao dada pela
Lei n 5.925, de1973)
Art. 2 da LAC: As aes previstas nesta Lei sero propostas no foro do
local onde ocorrer o dano, cujo juzo ter competncia funcional para processar e julgar a causa.
Pargrafo nico. A propositura da ao prevenir a jurisdio do juzo
para todas as aes posteriormente intentadas que possuam a mesma causa
de pedir ou o mesmo objeto.
Pelo princpio da especialidade, a regra prevista no art. 2 da Lei de Ao
Civil Pblica dever preponderar sobre as demais regras do CPC, prevalecendo o critrio de preveno do juzo da propositura da ao para a reunio das
demandas posteriormente propostas.
113
LEONEL, Ricardo de Barros. Manual
do Processo Coletivo. So Paulo: RT,
2002, p. 253.
114
GRINOVER, Ada Pellegrini. Uma
nova modalidade de legitimao
ao popular. Possibilidade de conexo,
continncia e litispendncia. Ao Civil
Pblica. Edis Milar (coord.). So Paulo,
RT, 1995, p. 23.
115
DIDIER JR., Fredie e ZANETI JR., Hermes. Curso de Direito Processual Civil.
Processo Coletivo. Vol. 4. Salvador: JusPODIVM, 2007, p. 165.
116
GIDI, Antonio. Coisa julgada e litispen- dncia em aes coletivas. So
Paulo: Saraiva, 1995, p. 144.
117
117
MAZZILLI, Hugo Nigro, op. cit.,
pg.292-293.
118
8) QUESTIONRIO
a) A regra do art. 472 do Cdigo de Processo Civil compatvel com a
sistemtica das aes coletivas?
b) O que vem a ser o transporte in utilibus da coisa julgada coletiva para o
processo individual? Em que caso pode ocorrer?
c) Explique os conceitos de coisa julgada erga omnes, ultra partes, erga victimae, secundum eventum litis e secundum eventum probationis.
d) O art. 16 da Lei 7.347/85 coaduna-se com o sistema coletivo?
e) H litispendncia entre ao civil pblica/ao coletiva que objetiva a
anulao de ato lesivo ao patrimnio pblico movida pelo Ministrio Pblico
e ao civil pblica/ao coletiva com o mesmo pedido e causa de pedir movida por associao civil legitimada?
f ) Qual o fundamento constitucional existente por trs do art. 104 do
CDC com relao inexistncia de litispendncia entre uma ao individual
e ao coletiva/ACP para defesa de interesses difusos e coletivos?
g) possvel haver litispendncia entre uma ao popular e uma ao civil
pblica?
h) Qual o foro competente para julgar a ao coletiva inibitria, em que
no ocorreu dano algum, mas apenas um ilcito?
i) Qual o foro competente para julgar a ao coletiva diante de leso de
abrangncia nacional? Os efeitos territoriais da deciso, nestes casos, tambm
sero nacionais?
j) Qual ser a justia competente para o julgamento de uma ao coletiva
em que, dentre outras questes, se questiona tambm ato normativo emanado de agncia reguladora federal (eg. BACEN, ANVISA, ANATEL e ANS)?
118
DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes, op. cit., pgs. 183-184.
119
9) JURISPRUDNCIA
Ao civil pblica x aes individuais e Lei de Recursos Repetitivos
120
3. Ajuizadas seis aes civis pblicas e uma ao cautelar preparatria visando tutela coletiva de interesse de amplitude nacional, em que se pretende a alterao da norma (edital) que rege a relao jurdica do grupo de
participantes do Enem com a Unio e o Inep, autarquia federal vinculada
ao Ministrio da Educao, impe-se ordenar a reunio das aes conexas
propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente pelo
juzo federal prevento.
4. Conflito conhecido para determinar a reunio das aes civis pblicas
e da medida cautelar preparatria para julgamento conjunto perante o Juzo
Federal da 5 Vara da Seo Judiciria do Estado do Maranho, onde foi
ajuizada a primeira ao.
121
122
123
124
(a) I e II.
(b) I e III.
(c) II.
(d) II e III.
(e) III.
2. A respeito da ao civil pblica, INCORRETO afirmar que (FCC
2011 TCE-SE Analista de Controle Externo Coordenadoria
Jurdica)
(a) o juiz poder conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparvel parte.
(b) poder ter por objeto a condenao em dinheiro ou o cumprimento de
obrigao de fazer ou no fazer.
(c) pode ser proposta por autarquia, empresa pblica, fundao ou sociedade de economia mista.
(d) a petio inicial dever obrigatoriamente estar embasada em prvio
inqurito civil que fornea prova da ocorrncia do fato e indcios da autoria.
(e) poder o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificao prvia, em deciso sujeita a agravo.
3. Tem legitimidade para propor ao civil pblica: (VUNESP 2012
SPTrans Advogado Pleno Administrativo)
(a) o Ministrio Pblico e as associaes.
(b) a associao instituda para a defesa do meio ambiente e a Defensoria
Pblica.
(c) apenas as autarquias institudas para a defesa do meio ambiente.
(d) o partido poltico com representao no Congresso e a Defensoria
Pblica.
(e) a Unio e a empresa pblica.
125
1) CASO
Ajuizada uma ao civil pblica em face de uma empresa X, que teria
causado danos aos consumidores, o juiz condena a empresa ao pagamento de
indenizao. O valor de cada indenizao foi devidamente fixado na fase de
liquidao. Diante de tal fato, o MP tem legitimidade para promover a execuo coletiva da sentena condenatria proferida nessa ao civil pblica?
2) LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL
a) Lei de Ao Civil Pblica (Lei n. 7.343/85)
126
127
128
129
Por fim, a execuo nas aes coletivas que versem sobre interesses individuais homogneos poder ser processada de trs formas diferentes:
1) Da mesma forma que processada a execuo que verse sobre interesses
difusos e coletivos (art. 97 do CDC). A legitimidade das vtimas ou dos
sucessores. O juzo competente o da condenao ou do domiclio do lesado.
O dinheiro arrecadado reverte para a vtima ou seus sucessores.
Art. 97 do CDC: A liquidao e a execuo de sentena podero ser
promovidas pela vtima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de
que trata o art. 82.
2) Individual coletiva. bastante rara na prtica, mas vale mencionar a
sua previso no art. 98 do CDC. Os legitimados so os do art. 82 do CDC
ou do art. 5. da LACP. A competncia ser a do juzo da condenao (art.
98, 2., II do CDC). O dinheiro eventualmente arrecadado reverter para
as vtimas ou seus sucessores. Em suma, cuida-se de verdadeiro caso de representao processual.
Art. 98 do CDC: A execuo poder ser coletiva, sendo promovida pelos
legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vtimas cujas indenizaes j tiveram sido fixadas em sentena de liquidao, sem prejuzo do
ajuizamento de outras execues. (Redao dada pela Lei n 9.008, de
21.3.1995)
1 A execuo coletiva far-se- com base em certido das sentenas
de liquidao, da qual dever constar a ocorrncia ou no do trnsito em
julgado.
2 competente para a execuo o juzo:
I da liquidao da sentena ou da ao condenatria, no caso de
execuo individual;
II da ao condenatria, quando coletiva a execuo.
Art. 82 do CDC: Para os fins do art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente: (Redao dada pela Lei n 9.008, de 21.3.1995)
I o Ministrio Pblico,
II a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal;
III as entidades e rgos da Administrao Pblica, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados
defesa dos interesses e direitos protegidos por este cdigo;
IV as associaes legalmente constitudas h pelo menos um ano e
que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
protegidos por este cdigo, dispensada a autorizao assemblear.
130
131
4) QUESTIONRIO
a) Quem pode promover a execuo de ao coletiva que tutele interesses
difusos e coletivos stricto sensu? E de ao coletiva que tutele direitos individuais homogneos?
b) Qual o foro competente para a liquidao de sentena/execuo no
caso de ao coletiva que tutele interesses difusos e coletivos stricto sensu? E
de ao coletiva que tutele direitos individuais homogneos?
c) O Ministrio Pblico tem legitimidade para promover a liquidao ou
cumprimento de sentena nas aes coletivas?
5) JURISPRUDNCIA
Competncia para a execuo da sentena coletiva
132
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134
6) QUESTES DE CONCURSO
1) Promotor de Justia MPE/SE 2010 (organizao: CESPE)
135
136
1. CONCEITO E CARACTERSTICAS
A ao de improbidade administrativa disciplinada pela Lei 8.429/1992.
Tal norma foi criada com o fim de regulamentar o art. 37, 4, da Constituio Federal:
Art. 37.A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos
Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios
obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte: (Redao dada pela
Emenda Constitucional n 19, de 1998)
4 Os atos de improbidade administrativa importaro a
suspenso dos direitos polticos, a perda da funo pblica, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao errio, na forma e
gradao previstas em lei, sem prejuzo da ao penal cabvel.
Desta forma, a LGIA (Lei Geral de Improbidade Administrativa) trata das
seguintes modalidades de atos de improbidade: enriquecimento ilcito; dano
ao errio e violao a princpio da Administrao Pblica (art. 9, 10 e 11),
impondo as respectivas sanes aos agentes pblicos que os pratiquem.
De acordo com Jos dos Santos Carvalho Filho, a ao de improbidade
administrativa aquela em que se pretende o reconhecimento judicial de
condutas de improbidade na Administrao, perpetradas por administradores pblicos e terceiros, e a consequente aplicao das sanes legais, com o
escopo de preservar o princpio da moralidade administrativa119.
Quanto ao conceito de improbidade, segundo este mesmo autor, seria
uma leso ao princpio da moralidade administrativa (Art. 37, caput, CF).
Os atos de improbidade so praticados contra a administrao direta, indireta ou fundacional da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municpios e dos Territrios, alm das empresas incorporadas ao patrimnio pblico ou de entidade para cuja criao ou custeio o errio haja concorrido ou
concorra com mais de 50% do patrimnio ou da receita anual. Tambm so
includos como sujeitos passivos, ou seja, aqueles que sofrem o ato de improbidade, entidades que recebam subveno, benefcio ou incentivo, fiscal ou
creditcio, de rgo pblico, bem como aquelas entidades para cuja criao
ou custeio o errio haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimnio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sano patrimonial
repercusso do ilcito sobre a contribuio dos cofres pblicos.
119
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.
137
A partir deste artigo, verifica-se que os principais sujeitos passivos descritos no art. 1 da Lei 8429/92 podem ser divididos em trs grupos: 1) pessoas da administrao direta: entidades componentes da federao, Unio,
Estados, Distrito Federal e Municpios; 2) pessoas da administrao indireta: autarquias, fundaes governamentais, empresas pblicas e sociedades de
economia mista; 3) pessoa para cuja criao ou custeio o errio haja contribudo (criao) ou contribua (custeio) com mais de cinquenta por cento do
patrimnio ou da receita anual120.
J os sujeitos passivos secundrios seriam aquelas entidades descritas no
pargrafo nico do art. 1, as quais podem ser divididas em dois grupos 1)
entidades que recebam subveno, benefcio ou incentivo, fiscal ou creditcio, de rgo pblico; 2) entidades para cuja criao ou custeio o errio haja
concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimnio
ou da receita anual121. Nestas hipteses, a sano patrimonial prevista na
LGIA dever recair somente sobre a parcela oriunda do errio que tenha
sofrido o ilcito.
As OS e as OSCIPS tambm podem sofrer atos de improbidade, devendo ser enquadradas ou no caput ou no pargrafo nico do art. 1, da Lei
8429/92, de acordo com o tipo de vantagem que receba do errio122.
De acordo com a LGIA, qualquer agente pblico pode praticar o ato de
improbidade, seja ele servidor pblico ou no. Neste passo, cabe destacar
que a prpria norma, em seu art. 2, fez questo de explicar que, para fins de
aplicao da referida lei, considera-se agente pblico toda pessoa que exera
mandato, cargo, emprego ou funo nas entidades descritas acima, ainda que
transitoriamente ou sem remunerao, podendo ter sido eleita, nomeada,
designada, contratada ou recebido qualquer outro tipo de vnculo ou investidura.
A partir da, podemos dizer que podem praticar atos de improbidade e,
por conseguinte, so passveis de sofrer as sanes previstas na LGIA: os chefes do executivo, ministros, secretrios, senadores, deputados, vereadores,
magistrados, membros do Ministrio Pblico, servidores pblicos de qualquer regime, empregados de empresas pblicas e sociedades de economia
mista, bem como das entidades beneficiadas por auxlio ou subveno estatal.
Porm, no se sujeitam referida norma os empregados e dirigentes de concessionrias e permissionrias de servios pblicos, uma vez que, como regra,
o Estado no lhes destina benefcios, auxlios ou subvenes, na verdade, as
tarifas que auferem dos usurios so o preo pelo uso do servio123.
No que tange responsabilizao dos agentes polticos quanto prtica de
atos de improbidade administrativa, h grande discusso na doutrina e na jurisprudncia sobre a possibilidade ou no de aplicao da LGIA. Destacam-se
trs principais correntes124:
120
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.
121
Idem 12.
122
Idem 12.
123
Idem 12.
124
Idem 12.
138
a) Admite-se a concomitncia entre a ao de improbidade administrativa e a que prev crimes de responsabilidade (Lei 1.079/50), por
serem independentes.
b) No cabvel a aplicao da LGIA para os agentes aos quais a Constituio atribuiu a prtica de crimes de responsabilidade, aplicando-se-lhes a Lei 1.079/50 (posio adotada, por maioria, pelo STF na
Recl. 2138-DF).
c) As Leis 1079/50 e 8429/92 podem ser aplicadas concomitantemente, desde que no se formule pedido de aplicao de sanes de
natureza poltica na ao de improbidade, uma vez que tais sanes
so consequncias naturais da ao penal de apurao de crime de
responsabilidade (votos dos Min. Carlos Velloso e Joaquim Barbosa
na Recl. 2138-DF julgada pelo STF).
A Lei de Improbidade Administrativa tambm prev a responsabilidade
daquele que, mesmo no sendo agente pblico, induza ou concorra para a
prtica do ato mprobo ou que dele se beneficie direta ou indiretamente. Neste caso, o terceiro dever possuir algum vnculo com o agente pblico, caso
contrrio, no haver incidncia da lei de improbidade. Outra observao
importante que, em se tratando de terceiro, deve-se constatar a existncia de
dolo ou culpa, dependendo da exigncia do tipo especfico: dolo para os tipos
previstos nos arts. 9 e 11 e culpa, nas hipteses do art. 10 (AgRg no AREsp
81766/MG em 07.08.2012).
139
responsabilidade objetiva do agente. Isso significa que o agente deve ter agido
com dolo, nos casos previstos nos artigos 9 e 11, ou ao menos com culpa, nas
hipteses previstas no art. 10:
ADMINISTRATIVO. AO DE IMPROBIDADE. LEI
8.429/92. ELEMENTO SUBJETIVO DA CONDUTA. IMPRESCINDIBILIDADE. (...) 2. No se pode confundir ilegalidade com
improbidade. A improbidade ilegalidade tipificada e qualificada pelo
elemento subjetivo da conduta do agente. Por isso mesmo, a jurisprudncia dominante no STJ considera indispensvel, para a caracterizao
de improbidade, que a conduta do agente seja dolosa, para a tipificao
das condutas descritas nos artigos 9 e 11 da Lei 8.429/92, ou pelo
menos culposa, nas do artigo 10. (REsp 827445 / SP, T1 Primeira
Turma, Min. Rel. Luiz Fux, J. em 02/02/2010)
No art. 9, o bem jurdico tutelado a probidade e a moralidade administrativa. Sendo assim, configura-se ato de improbidade: auferir qualquer tipo
de vantagem patrimonial indevida em razo do exerccio de cargo, mandato,
funo, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1 desta
lei. No necessrio que tenha havido leso ao errio nas condutas previstas
neste artigo, basta que o agente tenha se utilizado do cargo pblico para obter
a vantagem ilcita.
Certo que, a ocorrncia deste tipo de improbidade levar prtica de
crimes como concusso, corrupo ativa ou peculato (respectivamente, arts.
316, 317 e 312 do CP).
Importante destacar que tratam-se de condutas comissivas cujo elemento
subjetivo o dolo, uma vez que o recebimento de vantagem indevida exige
o aceite do agente.
140
2.3. Dos atos de improbidade que atentam contra os princpios da administrao pblica
3. SANES
A partir da leitura dos trs artigos que descrevem os tipos de atos de improbidade, percebe-se que h uma hierarquia em relao gravidade e lesividade social. Vejamos: os atos do art. 9 so mais lesivos e juridicamente
reprovveis, uma vez que importam em enriquecimento ilcito; os do art.
10, so intermedirios e os do art. 11, por sua vez, so considerados menos
graves do que os demais127. Por consequncia, algumas das penas previstas no
art. 12 tambm so graduais, de acordo com o ato de improbidade praticado.
So elas:
a) Suspenso dos direitos polticos pode se dar de 8 a 10 anos nas
hipteses do art. 9; de 5 a 8 anos, nas do art. 10 e, por fim, de 3 a
5 anos nas condutas previstas no art. 11;
b) Multa civil nos casos do art. 9 a multa civil ser de at trs vezes
o valor do acrscimo patrimonial;nos do art. 10, at duas vezes o
126
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141
128
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,
p. 1035.
129
130
131
142
De acordo com o art. 21, a aplicao das sanes previstas na LGIA independe da aprovao ou rejeio das contas pelo rgo de controle interno
ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas, bem como da efetiva ocorrncia de
dano ao patrimnio pblico, salvo quanto pena de ressarcimento.
Tambm no se pode esquecer que o caput do art. 12 estabelece a independncia entre as instncias civil, penal e administrativa:
Art. 12. Independentemente das sanes penais, civis e administrativas
previstas na legislao especfica, est o responsvel pelo ato de improbidade
sujeito s seguintes cominaes, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato.
No obstante a independncia entre as referidas esferas, a absolvio na
esfera penal por inexistncia do fato ou negativa de autoria impede a condenao na esfera cvel.
132
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO,
Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 18 Ed. Rio de Janeiro: Mtodo,
2010, p. 868.
133
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,
p. 1039.
143
A LGIA veda a transao, o acordo ou a conciliao nas aes de improbidade administrativa (art. 17, 1). De igual forma, no possvel o
ajuizamento da referida ao nos Juizados Especiais Federais (art. 3, I, Lei
10.259/2001).
Para que o juiz receba a petio inicial e d prosseguimento fase instrutria, a ao dever conter documentos que comprovem indcios suficientes
da ocorrncia de um dos atos de improbidade previstos da Lei 8.429/92134. O
processo poder ser extinto sem julgamento do mrito caso o juiz reconhea,
em qualquer fase do processo, a inadequao da ao de improbidade.
No que diz respeito sentena, o art. 18 prev que, aquela que julgar
procedente a ao civil de reparao de dano ou decretar a perda dos bens
havidos ilicitamente, dever determinar o pagamento ou a reverso dos bens,
conforme o caso, em favor da pessoa jurdica prejudicada pelo ilcito.
Os prazos prescricionais tambm esto previstos no art. 23, incisos I e II
da prpria LGIA, sendo assim, a ao de improbidade poder ser proposta
at cinco anos aps o trmino do exerccio de mandato, de cargo em comisso ou de funo de confiana. Porm, quando se tratar de agente que seja
titular de cargo efetivo ou de emprego pblico, ela poder ser proposta dentro do prazo prescricional previsto em lei especfica para faltas disciplinares
punveis com demisso a bem do servio pblico.
Importante ressaltar que, quando se tratar de aes para ressarcimento ao
errio, no h que ser falar em prazo prescricional, uma vez que, nos termos
do art. 37, 5, da Constituio Federal, elas so imprescritveis.
QUESTIONRIO:
a) Em que medida a ao popular um instrumento para a tutela coletiva
de direitos?
b) possvel que um particular seja ru em uma ao de improbidade
administrativa? E quanto ao agente poltico?
c) A relao de atos de improbidade estabelecida atravs da Lei n.
8.429/92 exaustiva ou meramente exemplificativa?
d) possvel que um administrador pblico seja responsabilizado judicialmente atravs de uma ao de improbidade administrativa em razo de uma
conduta culposa?
e) As sanes previstas na Lei n. 8.429/92 esto de acordo com as disposies constitucionais? Qual a sua natureza e como devem ser aplicadas
concretamente?
f ) Quais devem ser os pedidos formulados pelo autor na ao de improbidade administrativa? Pode o juiz aplicar sano no postulada diretamente
na inicial?
134
144
5. JURISPRUDNCIA
STJ REsp 810.662/SP, Rel. Min. Luiz Fux Primeira Turma, j.
em 13.11.2007
PROCESSUAL CIVIL. AO CIVIL PBLICA, POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, CONTRA EX-PREFEITO. PRERROGATIVA DE FORO. PRONUNCIAMENTO DO STF SOBRE A CONSTITUCIONALIDADE DA NOVEL REDAO DO ART. 84 DO CPP
(LEI10.628/02).
1. Ao Civil Pblica de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministrio Pblico Estadual em face de ex-prefeito, posteriormente eleito Deputado Federal.
2. A questo concernente prerrogativa de foro de agentes polticos para
responder por crimes de responsabilidade, decorrente da novel redao conferida ao art. 84 do CPP pela Lei 10.628 de 24 de dezembro de 2002, resta
superada nesta Corte.
3. Com efeito, na sesso de julgamento do dia 15 de setembro de 2005, o
Pleno do Supremo Tribunal Federal, por maioria, julgou procedente a ADI
2797/DF, para declarar a nconstitucionalidade da Lei n. 10.628/2002, que
acresceu os 1 e 2 ao art. 84 do Cdigo de Processo Penal, conforme noticiado no Informativo STF n 401 de 12 a 16/9/05, in verbis: O Tribunal
concluiu julgamento de duas aes diretas ajuizadas pela Associao Nacional dos Membros do Ministrio Pblico CONAMP e pela Associao dos
Magistrados Brasileiros AMB para declarar, por maioria, a inconstitucionalidade dos 1 e 2 do art. 84 do Cdigo de Processo Penal, inseridos
pelo art. 1 da Lei 10.628/2002 v. Informativo 362. Entendeu-se que o
1 do art. 84 do CPP, alm de ter feito interpretao autntica da Carta
Magna, o que seria reservado norma de hierarquia constitucional, usurpou
a competncia do STF como guardio da Constituio Federal ao inverter a
leitura por ele j feita da norma constitucional, o que, se admitido, implicaria
submeter a interpretao constitucional do Supremo ao referendo do legislador ordinrio. [...]. ADIN 2797/DF e ADI 2860/DF, rel. Min. Seplveda
Pertence, 15.9.2005.
4. Deveras, a competncia do juzo singular para processar e julgar as
aes propostas contra prefeitos revela-se irretorquvel. Precedentes do STJ:
RESP718248/SC, Relator Ministro Jos Delgado, DJ de 06.02.2006 e
RESP712170/RS, desta relatoria, DJ de 28.11.2005.
5. In casu, o fato de o ora Requerente ser Deputado Federal, detentor de
foro especial, por prerrogativa de funo, perante o Supremo Tribunal Federal, por infrao penal comum (art. 102, I, b, CF), traz lume intrigante
indagao acerca da possibilidade de extenso desse foro especial s investiga-
145
146
147
6. QUESTES DE CONCURSO
1. Em matria de improbidade (Lei n 8.429/92), est incorreto: (MPE-PR 2012 MPE-PR Promotor de Justia)
(a) O Ministrio Pblico, se no intervir no processo como parte, atuar
obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade;
(b) A deciso que recebe a petio inicial irrecorrvel e somente pode ser
atacada, se for o caso, por mandado de segurana;
(c) A propositura da ao previne a jurisdio do juzo para todas as aes
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo
objeto;
(d) Se o juiz, depois de recebida a manifestao da parte, se convencer da
inexistncia do ato de improbidade, da improcedncia da ao ou da inadequao da via eleita, ele poder, no prazo de trinta dias, em deciso fundamentada, rejeitar a ao;
(e) Em qualquer fase do processo, o juiz poder extinguir o processo, sem
julgamento do mrito, se reconhecer a inadequao da ao de improbidade.
2. Determinada empresa privada recebeu subveno do Poder Pblico
para desenvolver e implantar programa de irrigao em reas carentes de municpio do nordeste atingido por estiagem. Dirigente dessa empresa aplicou
os recursos oriundos da subveno estatal em rea de sua propriedade e em
rea de propriedade do servidor pblico responsvel pela liberao da subveno, deixando de cumprir as obrigaes assumidas com o poder pblico.
De acordo com as disposies da Lei no 8.429/92, que trata dos atos de
improbidade administrativa, (FCC 2013 TRT 1 REGIO (RJ)
Analista Judicirio rea Administrativa)
(a) apenas a conduta do servidor passvel de caracterizao como ato de
improbidade.
(b) ambas as condutas, do servidor e do dirigente, so passveis de caracterizao como ato de improbidade desde que configurado enriquecimento
ilcito.
(c) apenas a conduta do dirigente passvel de caracterizao como ato de
improbidade, sendo a do servidor passvel de apurao disciplinar.
(d) apenas a conduta do servidor passvel de caracterizao como ato
de improbidade, desde que configurado enriquecimento ilcito e violao de
dever funcional.
(e) ambas as condutas, do servidor e do dirigente, so passveis de caracterizao como ato de improbidade, limitada a sano patrimonial repercusso do ilcito sobre o montante da subveno.
148
3. Determinado administrador pblico adquiriu, sem licitao, dois veculos para uso da repartio pblica que chefia. Em decorrncia dessa aquisio, obteve desconto considervel na aquisio de outro veculo, com recursos prprios, para sua utilizao. Em razo dessa conduta, (FCC 2013
TRT 1 REGIO (RJ) Analista Judicirio rea Judiciria)
(a) pode restar configurado ato de improbidade, desde que reste comprovado prejuzo pecunirio.
(b) no poder ser configurado ato de improbidade, salvo no que concerne aquisio do veculo com recursos prprios, pois se valeu de vantagem
obtida em razo do cargo.
(c) pode restar configurado ato de improbidade, independentemente da
ocorrncia de prejuzo pecunirio.
(d) no pode configurar ato de improbidade, mas pode configurar ilcito
penal, independentemente da ocorrncia de prejuzo pecunirio.
(e) fica configurado ato de improbidade, devendo ser responsabilizado o
agente estatal independentemente de dolo ou culpa, mas devendo ser comprovado prejuzo pecunirio.
149
1. ORIGEM
A previso constitucional da ao popular ocorre pela primeira vez na
Constituio de 1934, tendo permanecido nas constituies posteriores, com
exceo da Carta de 1937135.
Infraconstitucionalmente, ela foi regulamentada pela Lei 4.717/1965 que,
apesar de ser anterior Constituio Federal de 1988, foi por ela recepcionada e se encontra at hoje em vigor.
Na Constituio atual, a ao popular est prevista no art. 5, LXXIII,
CF/88: qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do
nus da sucumbncia.
Tal conceito se diferencia um pouco daquele previsto no art. 1 da Lei
4.717/65 no que tange ao seu objeto, uma vez que a CF/88 incluiu o meio
ambiente e a moralidade administrativa como bens tutelveis. Essa incluso,
segundo Teori Zavascki, reflexo natural da valorizao desses bens jurdicos pelo novo regime constitucional, que erigiu a moralidade como princpio
da administrao pblica (art. 37) e que alou o meio ambiente ecologicamente equilibrado condio de bem de uso comum do povo (art. 225)136.
2. CARACTERSTICAS
O objetivo da ao popular anular ato lesivo aos bens jurdicos tutelados.
Isso significa que necessrio que o ato esteja causando uma leso a esses bens
jurdicos para que ele possa ser questionado atravs da ao popular. So eles:
(a) o patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe;
(b) a moralidade administrativa;
(c) o meio ambiente e
(d) o patrimnio histrico e cultural.
Os artigos 2, 3 e 4 da Lei 4.717/65 descrevem os casos em que o ato
lesivo ser nulo ou anulvel. Embora apenas os artigos 2 e 3 mencionem
expressamente a necessidade da existncia de ato lesivo, a doutrina entende
que, nas hipteses do art. 4, a lesividade tambm dever estar presente, uma
vez que ela presumida.
Cabe ressalvar que, nestes casos do art. 4, onde h presuno, caber ao
ru provar que o seu ato no ocasionou nenhum tipo de leso. Nas demais
135
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo
Coletivo: Tutela de Direitos Coletivos e
Tutela Coletiva de Direitos. So Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006. p. 84.
136
ZAVASCKI, p. 85.
150
137
138
ZAVASCKI, p. 96.
139
VIGLIAR, Jos Marcelo. Aes Coletivas. Provas e Concursos. Salvador:
JusPodivm, 2007, p.
151
140
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,
pp. 992/993.
152
4) QUESTIONRIO
a) Em que medida a ao popular um instrumento para a tutela coletiva
de direitos?
b) Pessoa jurdica possui legitimidade para ajuizar ao popular?
c) Pode a pessoa jurdica de direito pblico, ao invs de contestar o pedido
formulado pelo autor, atuar ao lado deste na ao popular?
d) O autor da ao popular deve arcar com custas judiciais?
e) Em que consiste o binmio ilegalidade-lesividade? O ajuizamento de
ao popular restringe-se aos casos em que h ocorrncia de prejuzo de ordem material para as entidades pblicas?
f ) Qual a natureza do litisconsrcio formado no plo passivo da ao
popular?
5) JURISPRUDNCIA
Petio n 8.397 DF (2011/0048934-6), Rel. Min. Castro Meira,
deciso publicada em 24/03/11
PROCESSO CIVIL. AO POPULAR. ATO DO MINISTRO DA
FAZENDA. PRERROGATIVA DE FORO. INEXISTNCIA. INCOMPETNCIA DO STJ. RETORNO DOS AUTOS ORIGEM.
1. Diferentemente do mandado de segurana, a competncia na ao popular no se define pelo grau hierrquico da autoridade responsvel pelo ato
combatido, razo pela qual no se aplicam as regras do foro privilegiado.
Precedentes do STF.
2. Destarte, os autos devem retornar ao Juzo Federal de Primeira Instncia, a fim de serem adotadas as providncias pertinentes.
3. Incompetncia originria do Superior Tribunal de Justia.
141
DIDIER JR., Fredie & ZANETI JR.,
Hermes. Curso de Direito Processual
Civil. Processo Coletivo. Vol. 4. Salvador:
Juspodvm, 2007, p.
153
154
155
156
ao Ministrio Pblico, este requereu nova intimao do autor, sob pena de,
acaso no for atendido, implicar na extino do processo, nos termos do artigo 47, do Cdigo de Processo Civil. No entanto, nova vista ao autor no foi
ofertada, sobrevindo sentena terminativa. 3. A possibilidade de manifestao
nos autos deve ser propiciada ao autor da Ao Popular para sanar a questo
atinente citao, sendo que o descumprimento enseja a remessa dos autos ao
Ministrio Pblico para que exera seu papel constitucionalmente institudo.
4. Na Ao Popular, o Ministrio Pblico acompanhar a ao, cabendo-lhe
apressar a produo da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal,
dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hiptese, assumir a
defesa do ato impugnado ou dos seus autores (art. 6, 4). Cumpre-lhe,
ainda, promover o prosseguimento da ao e a execuo da sentena condenatria, sucessivamente, nas hipteses de desistncia ou inrcia do autor da ao
popular (arts. 9 e 16), bem como recorrer das decises contrrias ao autor
(art. 19, 2). 6. A funo ativadora e agilizadora do Ministrio Pblico na
colheita das provas no se reduzir ao contedo singelo desse dispositivo (art.
7, I, b, e 1, da Lei 4.717/65), mas, a partir das provas juntadas inicial,
mais as que o autor protesta produzir, cuidar o promotor de zelar para que
aquelas efetivamente pertinentes sejam produzidas de maneira mais rpida e
eficaz. Quanto aos pontos relevantes, em face dos quais o autor popular no
disponha de maiores elementos probatrios, cremos que poder tambm o
promotor auxiliar o autor nessa parte, requerendo a diligncia que se afigurar
cabvel (Rodolfo de Camargo Mancuso. Ao Popular, 5 ed., So Paulo:
Revista dos Tribunais, 2003, pp. 231/232). Recurso especial de RICARDO
JOS MAGALHES BARROS provido. (REsp 1172188/PR. Recurso Especial 2009/0246217-5. Relator(a) Ministro Humberto Martins. T2 SEGUNDA TURMA. Em 24/04/2012. Publicao em DJe 15/10/2012.)
6. QUESTES DE CONCURSO
1. A respeito da ao popular, assinale a opo correta. (CESPE 2012
TJ-CE Juiz)
(a) Esse tipo de ao no enseja ressarcimento do patrimnio pblico lesado.
(b) vedado ao MP defender o ato impugnado.
(c) Sentena que extingue o feito sem resoluo de mrito no se sujeita
ao reexame necessrio.
(d) essencial ao cabimento dessa ao o efetivo prejuzo econmico do
errio pblico.
(e) A declarao de constitucionalidade de lei no se inclui entre as possibilidades de causa de pedir.
157
158
2. CARACTERSTICAS
O mandado de segurana coletivo visa proteger o direito lquido e certo,
entendido este, pela maioria da doutrina, como aquele direito que pode
ser comprovado de plano, ou seja, aquela situao que permite ao autor da
ao exibir desde logo os elementos de prova que conduzam certeza e liquidez dos fatos que amparam o direito142. Tal direito dever estar sofrendo
uma violao ou na eminncia de sofr-la por parte de autoridade que esteja
agindo com ilegalidade. Ressalte-se, entretanto, que o mandado de segurana
possui natureza residual143, no cabendo nos casos de direito lquido e certo
amparados por habeas corpus e habeas data.
142
143
159
Segundo lio do Professor Jos dos Santos Carvalho Filho, os atos e condutas ilegais passveis de mandado de segurana coletivo podem ter sido cometidas por pessoas investidas diretamente em funo pblica, bem como
por agentes de pessoas jurdicas pblicas ou, at mesmo, privadas que exercem funes delegadas pelo Poder Pblico144.
O mandado de segurana coletivo pode ser repressivo ou preventivo. O
primeiro visa reparar uma leso j ocorrida, e o segundo tem o condo de
afastar a ameaa de leso ao direito lquido e certo do impetrante. Para que
este ltimo seja possvel, necessrio se faz que o impetrante comprove que o
ato do Poder Pblico realmente acarretar uma leso ao seu direito se praticado.
A Lei 12.016/2009 estabelece, em seu art. 5, algumas situaes em que
no ser possvel a impetrao de mandado de segurana, so elas: quando se
tratar de I) ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de cauo;II) deciso judicial da qual caiba recurso com
efeito suspensivo; III) deciso judicial transitada em julgado.
Na hiptese do inciso I, admite-se que o interessado deixe de recorrer
administrativamente para, aps o decurso do prazo, impetrar o mandado
de segurana. J no caso do inciso III, cabe mencionar que, para atacar uma
deciso transitada em julgada, deve-se usar a ao prpria, rescisria para
sentenas cveis e reviso criminal, na esfera penal145. Segundo a doutrina,
tambm no caber mandado de segurana contra lei em tese, contra atos
interna corporis e atos disciplinares146.
3. PROCEDIMENTO
O impetrante do mandado de segurana coletivo deve ter, desde o incio,
os elementos de prova que conduzam certeza e liquidez dos fatos que amparam seu direito, sob pena de no cabimento da referida ao. Tais provas,
contudo, devem ser relativas matria de fato e no de direito.
Para o caso de o impetrante no ter a posse dos documentos comprobatrios do seu direito por estarem esses em poder de autoridade que se recuse
a fornec-lo, o 1 do art. 6 da Lei 12.016/2009 previu uma exceo, qual
seja: o juiz ordenar, preliminarmente, por ofcio, a exibio desse documento em original ou em cpia autntica e marcar, para o cumprimento da
ordem, o prazo de 10 (dez) dias. A partir da sua juntada, o escrivo extrair
cpias do documento para junt-las segunda via da petio.
A competncia para processar e julgar o mandado de segurana coletivo
est previsto na Constituio Federal, bem como nas Constituies Estaduais, nos Regimentos Internos de Tribunais e nos Cdigos de Organizao
Judiciria. Cabendo destacar que, se o remdio constitucional impetrado
144
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,
p. 983.
145
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO,
Vicente, p. 828.
146
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,
p. 985/986.
160
147
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos.
Manual de Direito Administrativo. 21
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009,
p. 983.
148
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO,
Vicente, p. 839/840.
161
4. JURISPRUDNCIA
Informativo do STF n 376. MS Coletivo: Sindicato e Legitimidade Ativa. RE 284993. Sindicato possui legitimidade para, na qualidade de substituto processual, impetrar mandado de segurana coletivo para a defesa de
direitos subjetivos de parcela de seus associados, ainda que tais direitos no
estejam afetos necessariamente totalidade dos integrantes da categoria. Com
base nesse entendimento, a Turma deu provimento a recurso extraordinrio
interposto pelo Sindicato dos Servidores Policiais do Esprito Santo SINDIPOL contra acrdo do tribunal de justia local que, em sede de apelao,
julgara extinto, por ilegitimidade ativa, mandado de segurana impetrado
149
ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO,
Vicente, p. 840.
162
pelo recorrente, no qual se impugnava ato da Diretoria da Academia de Polcia Civil do referido Estado, que oferecera curso de especializao somente a
alguns policiais, com a instituio de gratificao aos escolhidos que viessem
a ser aprovados. Ressaltou-se, ainda, que a anulao de concurso, em tese
viciado, apesar de prejudicar os interesses de pequeno nmero de sindicalizados, diz respeito defesa dos direitos da categoria como um todo, razo pela
qual seria legtima a atuao do sindicato para pugnar pela sua legalidade, a
fim de assegurar a todos os eventuais benefcios dele decorrentes, dentro dos
princpios da moralidade, igualdade que, entre outros, devem reger os atos
da Administrao Pblica e de seus agentes. Precedentes citados: MS 21070/
DF (DJU de 22.2.91); MS 20936/DF (DJU de 11.9.92).
STJ. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. PARCELAMENTO TRIBUTRIO. REQUISITOS ADESO DISCIPLINADOS PELA LEGISLAO ESTADUAL. MANDADO DE SEGURANA COLETIVO
IMPETRADO POR ASSOCIAO. LEGITIMIDADE ATIVA. FALTA
DE PROVA PR-CONSTITUDA DE QUE A ENTIDADE EST REUNIDA COM O OBJETIVO SOCIAL PERTINENTE PRETENSO
JUDICIAL H, PELO MENOS, UM ANO. ART. 21 DA LEI 12.016/09.
IMPETRAO CONTRA LEI EM TESE. IMPOSSIBILIDADE. INADEQUAO DA VIA ELEITA. SMULA 266/STF. CARNCIA DE
AO RECONHECIDA. 1. Recurso ordinrio em mandado de segurana
coletivo pelo qual a associao pretende desobrigar seus associados de submisso de determinadas condies estabelecidas pela legislao estadual para
adeso a programa de parcelamento tributrio (Lei 16.675/09), quais sejam,
tempo mnimo de 2 anos do executivo fiscal que busca cobrar o dbito objeto
do parcelamento (art. 5) e a incluso de 10% sobre o valor da causa a ttulo
de honorrios advocatcios (art. 6, 2). 2. A associao impetrante no faz
prova pr-constituda de que est reunida h um ano com a finalidade social
pertinente pretenso deduzida judicialmente. Descumprimento do que dispe o art. 21 da Lei 12.016/2009. Reconhecida a ilegitimidade ativa para a
impetrao de mandado de segurana coletivo. 3. Da exordial retira-se que
a presente impetrao ataca lei em tese, pois busca combater em carter genrico e abstrato as disposies de lei estadual que estabelecem determinadas
condies para a adeso em programa de parcelamento tributrio. Reconhecida a inadequao da via eleita, nos termos da Smula 266/STF. 4. Recurso
ordinrio no provido. (RMS 34922/GO. Recurso Ordinrio Em Mandado
De Segurana 2011/0138715-9. Relator(a) Ministro Benedito Gonalves.
T1 Primeira Turma. Em 06/10/2011. Publicao em DJe 11/10/2011)
163
STJ. PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRIBUIO AO INCRA. ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 535 DO CPC. NO OCORRNCIA. MANDADO DE SEGURANA COLETIVO. INSTRUO DA
INICIAL COM A RELAO NOMINAL DOS FILIADOS. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. DESPROVIMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL. 1. Esta Corte de Justia, seguindo o posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, firmou entendimento no sentido de que
(...) as entidades elencadas no inciso LXX, b, do art. 5 da Carta Magna,
atuando na defesa de direito ou de interesses jurdicos de seus representados
substituio processual, ao impetrarem mandado de segurana coletivo,
no necessitam de autorizao expressa deles, nem tampouco de apresentarem relao nominativa nos autos (REsp 220.556/DF, 5 Turma, Rel. Min.
Jos Arnaldo da Fonseca, DJ de 5.3.2001). 2. Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1030488/PE. Agravo Regimental No Recurso Especial
2008/0029150-2. Relator(a) Ministra Denise Arruda. T1 Primeira Turma. Em 03/11/2009. Publicao DJe 25/11/2009).
STJ MS 14909/DF, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ-RJ) Terceira Seo, j. em 23.03.2011.
MANDADO DE SEGURANA. ADMINISTRATIVO. ANISTIA
POLTICA. LEI N. 10.559/2002. PORTARIA DO MINISTRO DA JUSTIA. INDUBITVEL OMISSO DO MINISTRO DE ESTADO DA
DEFESA NO SEU INTEGRAL CUMPRIMENTO. CABIMENTO DO
WRIT. DECADNCIA AFASTADA. COMPROVAO DA DISPONIBILIDADE ORAMENTRIA. INOBSERVNCIA DO PRAZO DE
SESSENTA DIAS. RECONHECIMENTO DO DIREITO LQUIDO
E CERTO DO IMPETRANTE AO INTEGRAL CUMPRIMENTO DA
PORTARIA. EFEITOS RETROATIVOS. SEGURANA CONCEDIDA.
PRECEDENTES.
1. Consoante entendimento pacificado nesta Terceira Seo, em sintonia
com o adotado pelo Supremo Tribunal Federal, restou sedimentada a tese
segundo a qual o mandado de segurana a via adequada para se pleitear
o cumprimento integral de portaria que reconhece a condio de anistiado
poltico. Precedentes.
2. O Superior Tribunal de Justia, por intermdio da sua remansosa jurisprudncia, assentou-se no sentido de que, em se tratando de mandado de
segurana contra ato omissivo de Ministro de Estado em cumprir, parcial ou
integralmente, o disposto em portaria concessiva de anistia poltica, deve ser
afastada a pretenso de decadncia do direito. Em verdade, v-se, de modo
insofismvel, que se trata de ato omissivo continuado, ou seja, que se renova
seguidamente. Precedentes.
164
3. No pairando dvidas quanto existncia de disponibilidade oramentria, aps a edio da Lei n 10.726/03 que forneceu crdito especial ao
Ministrio da Defesa, bem como em relao indubitvel omisso da autoridade impetrada em dar fiel cumprimento ao ato declaratrio de anistia
poltica ao impetrante, no prazo legal de sessenta dias, resta evidenciado o seu
direito lquido e certo ao recebimento dos efeitos financeiros retroativos da
reparao econmica. Precedentes.
4. Segurana concedida.
STJ REsp 1200324/MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques Segunda Turma, j. em 15.03.2011
ADMINISTRATIVO. REMUNERAO MENSAL PELO USO DAS
VIAS PBLICAS INSTITUDA POR LEI COMPLEMENTAR. MANDADO DE SEGURANA PREVENTIVO. CABIMENTO. DIFERENA COM IMPETRAO CONTRA LEI EM TESE. PRAZO DECADENCIAL. INEXISTNCIA.
1. Se a lei tem efeitos concretos e j nasce ferindo direito subjetivo, o mandado de segurana via adequada para a recomposio deste direito.
2. Tal raciocnio aplica-se ao presente conflito, pois o recorrente impetrou
a segurana no sentido de evitar uma futura leso, decorrente de um ato
administrativo de cobrana, estabelecida por meio da Lei Complementar n.
123/08, o qual disps sobre a permisso de uso de bens pblicos mediante
pagamento de importncia em dinheiro denominada preo pblico.
3. Tal comando traz efeitos concretos e imediatos para a Concessionria
de Servio Pblico.
4. A jurisprudncia deste Tribunal pacfica no sentido de que, em se
tratando de mandado de segurana preventivo, no se aplica o prazo decadencial de 120 dias previsto no art. 18 da Lei n. 1.533/51 (vigente poca
da impetrao).
5. Assim, impe-se a devoluo dos autos instncia de origem, para que
prossiga no exame do mandamus, afastada as premissas de que no so cabveis mandado de segurana no presente caso, e de que houve decadncia.
6. Recurso especial provido.
STJ MS 9.575/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki Corte Especial,
j. em 19.12.2007
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANA CONTRA
ACRDO DE TURMA DO STJ. IMPOSIO DE MULTA POR EMBARGOS DE DECLARAO CONSIDERADOS MANIFESTAMENTE PROTELATRIOS. INEXISTNCIA DE OFENSA A DIREITO LQUIDO E CERTO.
165
6. QUESTES DE CONCURSO
1. De acordo com a Lei n. 12.016, de 07 de agosto de 2009, correto afirmar que (VUNESP 2011 TJM-SP Escrevente Tcnico Judicirio)
(a) cabe mandado de segurana contra atos de gesto comercial praticados
pelos administradores de empresas pblicas.
(b) o pedido de mandado de segurana poder ser renovado dentro do
prazo decadencial, se a deciso denegatria no lhe houver apreciado o mrito.
(c) no permitido impetrar mandado de segurana por telegrama.
(d) ser concedido mandado de segurana quando se tratar de ato do qual
caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de
cauo.
(e) cabe no processo de mandado de segurana a interposio de embargos
infringentes.
2. O sindicato de determinada categoria de servidores pblicos impetrou
mandado de segurana coletivo para obstar a alterao da base de clculo de determinada gratificao funcional que beneficiava parte de seus associados. O juiz
concedeu a liminar e determinou a reunio de todos os processos de natureza individual na sua jurisdio, bem como determinou que o sindicato demonstrasse
funcionamento h mais de um ano e apresentasse a autorizao para o ajuizamento da ao. Nesse contexto, (FCC 2012 PGE-SP Procurador)
(a) o juiz, para conceder a liminar, no depende da oitiva prvia do representante judicial da pessoa jurdica de direito pblico.
(b) a reunio dos processos foi bem determinada diante da litispendncia
que se opera entre a ao coletiva e as aes individuais.
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169
170
Este Material didtico foi revisto, ampliado e atualizado por Carlos Roberto C. Jatahy em Junho de 2014.
CARLOS ROBERTO DE CASTRO JATAHY
Procurador de Justia do Ministrio Pblico do RJ. Graduado pela UERJ
e Mestre em Direito Pblico pela UNESA, foi Subprocurador Geral de
Justia (2003/2005; 2009/2013) e Conselheiro do CSMP (2005/2009).
Professor das disciplinas Organizao da Justia e Tutela Coletiva de
Direitos na FGV/Direito Rio.
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FICHA TCNICA
Rodrigo Vianna
VICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO
Marlia Arajo
COORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAO
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