Trabalho Jurisidição Proc. Civil Rascunho
Trabalho Jurisidição Proc. Civil Rascunho
Trabalho Jurisidição Proc. Civil Rascunho
TURMA 82/2000
LONDRINA, PR
2017
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TURMA 82/2000
LONDRINA, PR
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1. INTRODUÇÃO
No Corpus Iuris Civilis, mais de mil anos atrás, já escrevia Ulpiano: “ubi
societas, ibi jus”, isto é, onde há sociedade, há direito. Tal frase é utilizada até os
dias atuais por representar uma verdade amplamente aceita na sociedade, visto que
aos homens é inerente a relação social, e é intrínseco desta relação que se realize
conforme as normas vigentes. É função do Direito, entendida pela maioria dos
doutrinadores, ordenar e organizar a sociedade e as manifestações sociais, e o
docente Miguel Reale expõe, em toda sua teoria tridimensional do Direito, que este
se compõe do fato, da norma e do valor.
2. DESENVOLVIMENTO
equivale a ser neutro: para que fosse neutro, o juiz ou quaisquer outros auxiliares da
Justiça não poderiam ser dotados de nenhum valor, porém é consenso que,
culturalmente, ao longo da vida, estamos cercados por valores que nos são
propagados e influenciam diretamente em como interpretamos o que nos cercam –
como por exemplo, as leis.
Outro importante critério utilizado pelo jurista Chiovenda, no qual se baseia
grande parte de sua teorização, é o escopo jurídico de atuação do direito: “através
do exercício da função jurisdicional, o que busca o Estado é fazer com que se
atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito substancial”
(CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p. 149). Para esse autor, a norma
concreta é independente do processo e surge anteriormente a este; em
contraposição estão as ideias de Carnelutti, que propõe que as normas são somente
estabelecidas em face ao caso concreto e por causa deste. Observando as ideias de
Chiovenda, Cintra, Dinamarco e Grinover concluem que o escopo jurídico “trata-se
de garantir que o direito objetivo material seja cumprido, o ordenamento jurídico
preservado em sua autoridade e a paz e a ordem na sociedade favorecidas pela
imposição de vontade do Estado” (2009, p. 149), isto é, a jurisdição existe e
encontra fundamento lógico e válido pois serve aos interesses da sociedade. Assim,
diante de um conflito, as partes que não se encontram satisfeitas se manifestam
perante ao Poder Judiciário e demandam do Estado uma solução, provocando a
instauração de um processo e o deferimento de uma tutela jurisdicional.
Para Carnelutti, como já foi dito, a jurisdição é sempre exercida em referência
à uma lide. Ainda que se discorde quanto ao “sempre”, pode-se afirmar que, na
maioria das vezes, a jurisdição pressupõe a lide. O conceito de lide é justamente um
conflito, uma contraposição de interesses, que faz com que uma das partes recorra
ao juiz para que este seja resolvido. Pode haver lide em que uma das partes é o
Estado enquanto órgão administrativo: nesses casos, ensinam Cintra, Dinamarco e
Grinover, “o Estado-juiz substitui com atividades suas as atividades dos sujeitos da
lide – inclusive a do administrador” (2009, p. 150).
A inércia é entendida como mais uma das características jurisdicionais,
conforme o enunciado nemo judex sine actore, ne procedat judex ex officio (não há
juízo sem autor, nem pode o juiz proceder de ofício). Assim, o exercício da jurisdição
não será, em momento algum, espontâneo, já que seu escopo é pacificar e não
inflamar conflitos. O Estado só intervirá mediante provocação, isto é, uma petição da
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parte interessada que demonstre sua vontade em obter tutela. Se o próprio juiz
fosse autor do processo, sem que houvesse provocação, dificilmente este seria
imparcial, já que a própria instauração processual aconteceria mediante um
posicionamento. Contudo, cabe a ressalva dos processos penais, em que o titular da
pretensão punitiva, no caso, o Ministério Público, não pode de ela dispor
voluntariamente se verificadas as condições delitivas necessárias para que haja uma
queixa-crime. O legislador, em concordância com tal característica, estabelece no
artigo 2º do Código do Processo Civil que “o processo começa por iniciativa da parte
e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” (BRASIL,
2015), enquanto o Código do Processo Penal explicita que “Art. 24. Nos crimes de
ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de
representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. ”
(BRASIL, 1941). Um bom exemplo de exceção à regra é a declaração de falência,
que pode ser feita ex officio.
A última característica trazida pelos autores é a definitividade, conforme o art.
5º, XXXVI, da Constituição Federal, que prevê “a lei não prejudicará o direito
adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (BRASIL, 1988), sendo que coisa
julgada é a sentença que já transitou em julgado e possui, portanto, caráter
definitivo, não podendo ser novamente questionado ou reproposto nem mesmo pelo
juiz ou legislador; esse efeito ocorre única e especialmente nas decisões
jurisdicionais, que possuem a capacidade de se tornarem imutáveis. Pontua-se, no
entanto, que a jurisdição somente poderá ser controlada pela própria jurisdição,
ficando a seu encargo a solução final a um conflito – não haverá, então, controle
externo no que diz respeito à atividade jurisdicional.
Importante também tratar dos princípios que regem a jurisdição. O primeiro
deles é o princípio da investidura, que regulamenta que a atividade jurisdicional
poderá somente ser exercido por aqueles investidos para tal função pelo Estado.
São pessoas físicas de Direito, concursadas na magistratura e agentes do Tribunal
de Justiça. Ademais, verifica-se também o princípio da aderência ao território, que
limita a atividade jurisdicional ao território do país. “Além disso, como os juízes são
muitos no mesmo país, distribuídos em comarcas ou seções judiciárias, também se
infere daí que cada juiz só exerce a sua autoridade nos limites do território sujeito
por lei à sua jurisdição” (CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p. 154). Diante
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desse princípio, entende-se que os magistrados devem cooperar para que, quando
necessário, o processo atinja partes de jurisdições diversas da sua. Isso ocorre
através da expedição de uma carta precatória, conforme artigo 201ss do Código de
Processo Civil e artigo 353ss do Código do Processo Penal, quando de jurisdição
diversa em território nacional, ou ainda através de carta rogatória, quando
necessária cooperação com jurisdição de outro país. O terceiro princípio tratado por
Cintra, Dinamarco e Grinover é a indelegabilidade, isto é, as funções jurisdicionais
são estabelecidas na própria Constituição enquanto lei suprema e não podem ser
delegadas por outras leis para órgãos diversos ou mesmo pelos juízes a outrem.
Apesar disso, verificam-se duas exceções a esse princípio, previstas
constitucionalmente, sendo uma delas as cartas de ordem e a outra, a delegação,
pelo Supremo Tribunal, de competência para execução forçada. Outro deles é o
princípio da inércia, que, para os autores, além de característica é também princípio
no qual deve a jurisdição se fundamentar, não podendo nem devendo, em qualquer
momento, se instaurar um processo sem que haja provocação dos interessados.
Além desses, três outros princípios são expostos como fundamentais: a
inevitabilidade, a inafastabilidade e o juiz natural. A jurisdição deve ser inevitável
pois impõe-se por si mesma, e, uma vez provocada, independe da vontade das
partes, que estão sujeitas às decisões do magistrado enquanto autoridade estatal. O
princípio da inafastabilidade se fundamenta no inciso XXXV, do artigo 5º, da
Constituição Federal, que declara: “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988), exposto também no artigo 3º
do Código de Processo Civil, e se complementa com o artigo 140, do mesmo códex,
onde se expõe que “o juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico” (BRASIL, 2015). O último dos princípios que,
para Cintra, Dinamarco e Grinover, dão base à jurisdição é o do juiz natural, que
“assegura que ninguém pode ser privado do julgamento por juiz independente e
imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais” (2009, p. 156). Além disso,
não haverá tribunal de exceção, isto é, criado especifica e posteriormente ao fato,
para que se julgue determinado crime praticado por determinada pessoa, conforme
o inciso XXXVII do artigo 5º da Carta Magna.
Em síntese adequada, defronte ao questionamento “o que é jurisdição?”,
temos o pensamento de Fredie Didier Jr., que expressa e conceitua a jurisdição
como “a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo
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Arbitragem -, a produtividade tenderia a diminuir cada vez mais, e com ela diminuiria
a eficácia do sistema. Paulo Carneiro reflete que
Parece bastante óbvio que a solução consensual dos litígios é,
de longe, a melhor forma de pacificação social, ao tempo em
que assegura uma rápida solução do conflito, com o menor
custo e a satisfação para ambas as partes. Por que não
empregar os melhores esforços e investimentos nesta área?
Qualquer administrador, minimamente competente, que tivesse
a responsabilidade, inclusive financeira, de administrar a
justiça, elegeria o conciliador ou o mediador como um dos mais
importantes de seus colaboradores ou funcionários.
(CARNEIRO apud DIDIER JR., 2015, p. 65-66)
Um dos métodos a serem discutidos é a autotutela, no qual se satisfaria com
a solução apenas o mais forte, sendo, por isso, considero método bastante primitivo.
Apesar disso, em casos excepcionais a lei, que proíbe esse método, abre algumas
exceções. Como expõe Cintra, Dinamarco e Grinover
São duas as razoes pelas quais se admite a conduta unilateral
invasora da esfera jurídica alheia nesses casos excepcionais: a
impossibilidade de estar o Estado-juiz presente sempre que um
direito esteja sendo violado ou prestes a sê-lo; b) a ausência de
confiança de cada um no altruísmo alheio, inspirador de uma
possível autocomposição (2009, p. 35)
A conciliação é provavelmente o mais antigo destes, da qual tratava já a
Constituição Imperial de 1824. Cesar Fiuza expõe que ““a conciliação é processo
pelo qual o conciliador tenta fazer que as partes evitem ou desistam da jurisdição”
(1995, p. 56). Dinamarco e Lopes explicam: “A conciliação consiste na intercessão
de um sujeito entre os litigantes com vista a persuadi-los à autocomposição
sugerindo-lhes soluções e induzindo-os a se comportem amigavelmente” (2015, p.
43), isto é, o conciliador pode (e deve) intervir na negociação das partes em busca
da melhor proposta possível. “O conciliador procura obter uma transação entre as
partes (mútuas concessões), ou a submissão de um à pretensão do outro ou a
desistência da pretensão (renúncia)” (CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p.
34). Pode ocorrer de maneira extraprocessual, isto é, sem que seja instaurado um
processo, ou endoprocessual, sendo que será utilizado preferencialmente nos casos
em que não houver vínculo anterior entre as partes – geralmente indicado para
casos de responsabilidade civil por ilícito extracontratual -, conforme o parágrafo 2º
do artigo 165, do Código de Processo Civil. O códex dispõe ainda que é dever do
juiz, em qualquer tempo, promover a autocomposição, preferencialmente com auxílio
de conciliadores e mediadores judiciais, conforme o inciso V do artigo 139. O Novo
Código procura enquadrar tanto mediadores quanto conciliadores enquanto
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3. CONCLUSÃO
As noções até aqui expostas foram reunidas enquanto fruto de pesquisa e
leitura, buscando apresentar aos discentes de Direito, assim como a qualquer leigo,
um bom entendimento sobre o conceito de jurisdição, que, em suma, é, segundo
Dinamarco e outros, poder, função e atividade. Além disso, ainda foi dedicado um
estudo sobre as características que garantem a jurisdição enquanto reflexo do
monopólio do jus punitionis do Estado, e os princípios que a norteiam para que
cumpra seus escopos.
Quanto aos demais métodos de solução de litígios, foi possível perceber que
estes tomaram maior proporção nos últimos anos, especialmente desde 2015,
especialmente na tentativa de melhorar o acesso à justiça, diminuir a formalidade,
custo e tempo empenhados em cada processo e ainda descarregar a Justiça,
possibilitando resoluções mais rápidas e, ás vezes, muito mais agradáveis, já que é
intuito desses métodos buscar um desfecho consensual, que, se não agradar, ao
menos não desagrade nenhuma das partes, melhorando os índices de confiança
pública no Poder Judiciário e no sistema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 19º. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009.
FIÚZA, César. Teoria geral da arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. São Paulo: 25ª. ed.
Revista dos Tribunais, 2000.