Trabalho Jurisidição Proc. Civil Rascunho

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LAURA GUIMARÃES BUZOLIN


LIVIAN SCHWARZ MENDES
LUISA BERTIN PEREIRA RIBEIRO
NATHALIA DE SOUZA WOLFF
VIVIANE PEREIRA DA SILVA

DO DIREITO AO ASILO, DA EXTRADIÇÃO E DAS PENAS


PERMITIDAS E PROIBIDAS CONFORME A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL BRASILEIRA DE 1988.

TURMA 82/2000
LONDRINA, PR
2017
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LAURA GUIMARÃES BUZOLIN


LIVIAN SCHWARZ MENDES
LUISA BERTIN PEREIRA RIBEIRO
NATHALIA DE SOUZA WOLFF
VIVIANE PEREIRA DA SILVA

DO DIREITO AO ASILO, DA EXTRADIÇÃO E DAS PENAS


PERMITIDAS E PROIBIDAS CONFORME A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL BRASILEIRA DE 1988.

Seminário a ser apresentado em data oportuna


sobre o tratamento oferecido pela Constituição
Federal de 1988 ao direito ao asilo e a extradição,
e o tratamento oferecido pelo mesmo “Códex”, e
também pelo Código Penal, às sanções penais
permitidas e proibidas por lei, apresentado pelos
alunos do primeiro ano de Direito da Universidade
Estadual de Londrina como requisito à nota do 4º
bimestre de 2017 da disciplina de Direito
Constitucional, ministrada pelo Prof. Dr. Zulmar
Fachin.

TURMA 82/2000
LONDRINA, PR
2017
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1. INTRODUÇÃO

No Corpus Iuris Civilis, mais de mil anos atrás, já escrevia Ulpiano: “ubi
societas, ibi jus”, isto é, onde há sociedade, há direito. Tal frase é utilizada até os
dias atuais por representar uma verdade amplamente aceita na sociedade, visto que
aos homens é inerente a relação social, e é intrínseco desta relação que se realize
conforme as normas vigentes. É função do Direito, entendida pela maioria dos
doutrinadores, ordenar e organizar a sociedade e as manifestações sociais, e o
docente Miguel Reale expõe, em toda sua teoria tridimensional do Direito, que este
se compõe do fato, da norma e do valor.

A jurisdição surge, então, como resultado histórico de sociedades em que


pessoas diferentes possuem interesses diferentes que convergem e resultam em um
litigio. Para que haja, efetivamente, ordenamento e organização da sociedade,
então, é buscada uma decisão sobre o conflito, e é a essa decisão que se presta a
jurisdição.

O presente trabalho tem por finalidade aprofundar os conhecimentos sobre a


temática da jurisdição e seus escopos, ainda que sem conseguir esgotar um tema
tão profundo, e se propõe ainda a analisar a conciliação, mediação e arbitragem
enquanto principais métodos alternativos de solução de conflitos.

2. DESENVOLVIMENTO

Ao organizar e padronizar as relações sociais através da norma, o Direito visa


solucionar os diversos conflitos que surgem da divergência das vontades nas
respectivas relações. Porém, é importante entender que este surge através de um
processo histórico, sendo que, nos tempos primordiais, o jus punitionis não cabia ao
Estado, já que este não possuía qualquer soberania. “Assim, quem pretendesse
alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e
na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo” (CINTRA, DINAMARCO,
GRINOVER, 2009, p. 27). Com o passar do tempo e a evolução dos métodos,
chegamos ao cenário atual que busca resolver impasses da forma mais coerente
possível, e é fundamentado essencialmente na titularidade estatal do jus punitionis e
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na jurisdição: o Estado, fortalecido, tem o poder de dirimir conflitos e pacificar


pessoas.
Para Cândido Dinamarco, Ada Grinover e Carlos Cintra, verificam-se duas
hipóteses de solução de conflitos: “na primeira hipótese, um dos sujeitos (envolvidos
no conflito) (ou cada um deles) consente no sacrifício total ou parcial do próprio
interesse (autocomposição) ou impõe o sacrifício do interesse alheio (autodefesa ou
autotutela). Na segunda hipótese, enquadram-se a defesa de terceiro, a conciliação,
a mediação e o processo (estatal ou arbitral) ” (2009, p. 26). O autor chama os
métodos da primeira hipótese de parciais, pois derivam de ato das próprias partes,
enquanto a segunda hipótese diz respeito à imparcialidade. Quando surgiu a
jurisdição e o juiz enquanto árbitro imparcial, este se baseava completamente na
convicção coletiva e costumes para dar solução ao problema – ou seja, o juiz surge
antes da lei e antes, portanto, do legislador.
A autotutela é o primeiro momento que se verifica nos métodos utilizados para
resolução de conflitos, e foi utilizada primordialmente antes de o Estado tornar-se
detentor do jus punitionis. Muitas vezes, porém, apresentava-se como uma vingança
privada onde se sobrepunha a vontade do mais forte e mais destemido sobre o mais
fraco e oprimido. Nessa categoria, fazem parte somente as partes e uma dessas
impõe seu desejo sobre a outra. Atualmente, a doutrina verifica que a autotutela,
apesar de ter funcionado durante o tempo que se fez necessária pela falta de melhor
opção, é um método bastante duvidoso e seletivo, que sujeita a parte mais fraca à
vontade da outra parte, que não se baseia na justiça nem em quaisquer direitos para
a impor, e se suporta unicamente na força.
Uma segunda possibilidade é a autocomposição, que, contrariamente, “limita-
se a fixar a existência ou inexistência de um direito” (CINTRA, DINAMARCO,
GRINOVER, 2009, p. 28). Assim, diferentemente de uma imposição, nesse caso
uma das partes efetivamente cede seu interesse, em todo ou em parte, para que se
possa sanar a discussão. Dinamarco, Cintra e Grinover elencam três tipos de
autocomposição: a desistência, a submissão e a transação. Todas essas, assim
como a autotutela, dependem de uma atitude ativa de uma das partes que, ou se
submetem, ou cedem, para possibilitar a solução do problema.
Por consequência, a evolução histórica possibilitou o surgimento de um
método imparcial, no qual um alguém alheio e preferencialmente desconhecido das
partes avaliariam criteriosamente cada situação através do diálogo para que se
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chegasse a uma resolução. Inicialmente, esse terceiro se tratava de uma autoridade


da comunidade, especialmente as autoridades religiosas. Temos nos pretores
romanos os primeiros reflexos do que viriam a se tornar os juízes dos tempos
modernos: ainda nessa época, a participação estatal na resolução de conflitos pouco
interessava aos cidadãos, porém aqueles que desejassem um terceiro que lhes
impusesse uma solução deveriam se apresentar dispostos a aceitarem o que lhes
fosse proposto, quer lhes agradasse ou não. Finalmente, o sistema evoluiu e passou
a impor a arbitragem enquanto obrigatória, impossibilitando e proibindo a autotutela.
O legislador surge como efeito dessa arbitragem. Não era fácil aceitar uma solução
proposta por um terceiro qualquer, ainda mais quando, diante de dois casos
concretos similares, verificavam-se possibilidades de decisões tão divergentes.
Destarte tal fato, surgiram “regras destinadas a servir de critério objetivo e
vinculativo para tais decisões, afastando os temores de julgamentos arbitrários e
subjetivos” (CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p. 29).
Com o passar dos séculos, a Justiça Pública se fortaleceu como força estatal
e detentora do monopólio da força, se tornando a maior e principal possibilidade de
uma solução justa e isenta. Surge então a jurisdição, que é reflexo do poder estatal
e deriva da capacidade de impor decisões, cuja motivação fundamental é a
pacificação de conflitos. Por sua vez, este órgão do ordenamento estatal-jurídico
reflete diretamente em todo o sistema processual, que é o exercício da resolução de
conflitos, e deve buscar também a pacificação. É o sistema processual que cria os
órgãos jurisdicionais e determina sua forma de atuação: os dois elementos são,
portanto, intimamente relacionados – ao mesmo tempo, possibilitando-nos diferir a
jurisdição enquanto atividade desenvolvida, e o Poder Judiciário, que é a estrutura
orgânica atribuída a tal atividade. E, ainda que não se deva confundir o Direito com
justiça, é cabível dizer que todas as propostas de pacificação, sejam elas
processuais ou extraprocessuais, devem ter como fim último a justiça. Assim, pode-
se afirmar que é função do Estado democrático de Direito dirimir conflitos e pacificar
pessoas (2009, p. 29), como ensinam Cintra, Dinamarco e Grinover.
Afirma-se, enfim, a jurisdição enquanto instituto responsável pela produção de
resultados concretos, no mundo exterior, que visa a pacificação dos conflitos
existentes na sociedade. Em conceituação de Dinamarco e Lopes, temos que “a
jurisdição estatal é a atividade pública com a qual o órgão jurisdicional substitui a
atividade das pessoas interessadas por uma atividade sua, buscando a pacificação
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de pessoas ou grupos em conflito, mediante a atuação da vontade do direito em


casos concretos” (2016, p. 60), a partir da qual se podem traçar as situações
processuais que se desenvolverão e ainda os limites dos poderes do juiz enquanto
capaz de decidir por outrem. A ação, por sua vez, é meio de possibilitar o exercício
da jurisdição, e é meio de provocação da parte para que se exerça o devido
processo lega, na acusação e defesa. A tutela jurisdicional, por outro lado, é, a
proteção exercida através da jurisdição a fim de trazer ao indivíduo uma situação
que lhe seja mais favorável do que aquele em que se encontrava anteriormente,
exercida pelo juiz na ação e oferecida a quem tiver direito a ela (DINAMARCO,
LOPES, 2016, p. 61). Finalmente, cabe ressaltar que jurisdição não se confunde
com legislação, pois a primeira lida diretamente com os casos concretos, produzindo
e executando resultados, enquanto a lei cria hipóteses que, realizadas, poderão
acarretar em uma perinorma positiva ou negativa, conforme pensamento de Carlos
Cóssio (apud Montoro, 2000, p. 145).
A jurisdição é, em resumo de tudo o que foi até então dito,
ao mesmo tempo poder, função e atividade. Como poder, é a
manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade
de decidir imperativamente e impor decisões. Como função,
expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a
pacificação de conflitos interindividuais, mediante a realização
do direito justo e através do processo. E como atividade, ela é
o complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e
cumprindo a função que a lei lhe comete. O poder, a função e a
atividade somente transparecem legitimamente através do
processo devidamente estruturado (CINTRA, DINAMARCO,
GRINOVER, 2009, p. 147, grifo dos autores).
São essenciais a jurisdição seu escopo social e político cujo fim máximo a ser
buscado é a pacificação e bom convívio em sociedade através da resolução de
conflitos. Quanto ao escopo jurídico da jurisdição, os autores supracitados se
baseiam na conceituação de Chiovenda e apresentam dois critérios de bastante
peso para tal indicativa: o caráter substitutivo e o escopo jurídico de atuação do
direito.
Eis que o caráter substitutivo se visualiza claramente na tutela estatal, isto é,
mister é que o Estado seja responsável pela “palavra final” do conflito, substituindo
as partes – ainda que hajam exceções (casos de autotutela ou autocomposição) em
processos cíveis. O Estado é ente representado por pessoas físicas, que são seus
agentes, e devem impreterivelmente serem dotados de imparcialidade para garantir
a boa atuação no processo. Cabe a consideração, porém, de que ser imparcial não
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equivale a ser neutro: para que fosse neutro, o juiz ou quaisquer outros auxiliares da
Justiça não poderiam ser dotados de nenhum valor, porém é consenso que,
culturalmente, ao longo da vida, estamos cercados por valores que nos são
propagados e influenciam diretamente em como interpretamos o que nos cercam –
como por exemplo, as leis.
Outro importante critério utilizado pelo jurista Chiovenda, no qual se baseia
grande parte de sua teorização, é o escopo jurídico de atuação do direito: “através
do exercício da função jurisdicional, o que busca o Estado é fazer com que se
atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito substancial”
(CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p. 149). Para esse autor, a norma
concreta é independente do processo e surge anteriormente a este; em
contraposição estão as ideias de Carnelutti, que propõe que as normas são somente
estabelecidas em face ao caso concreto e por causa deste. Observando as ideias de
Chiovenda, Cintra, Dinamarco e Grinover concluem que o escopo jurídico “trata-se
de garantir que o direito objetivo material seja cumprido, o ordenamento jurídico
preservado em sua autoridade e a paz e a ordem na sociedade favorecidas pela
imposição de vontade do Estado” (2009, p. 149), isto é, a jurisdição existe e
encontra fundamento lógico e válido pois serve aos interesses da sociedade. Assim,
diante de um conflito, as partes que não se encontram satisfeitas se manifestam
perante ao Poder Judiciário e demandam do Estado uma solução, provocando a
instauração de um processo e o deferimento de uma tutela jurisdicional.
Para Carnelutti, como já foi dito, a jurisdição é sempre exercida em referência
à uma lide. Ainda que se discorde quanto ao “sempre”, pode-se afirmar que, na
maioria das vezes, a jurisdição pressupõe a lide. O conceito de lide é justamente um
conflito, uma contraposição de interesses, que faz com que uma das partes recorra
ao juiz para que este seja resolvido. Pode haver lide em que uma das partes é o
Estado enquanto órgão administrativo: nesses casos, ensinam Cintra, Dinamarco e
Grinover, “o Estado-juiz substitui com atividades suas as atividades dos sujeitos da
lide – inclusive a do administrador” (2009, p. 150).
A inércia é entendida como mais uma das características jurisdicionais,
conforme o enunciado nemo judex sine actore, ne procedat judex ex officio (não há
juízo sem autor, nem pode o juiz proceder de ofício). Assim, o exercício da jurisdição
não será, em momento algum, espontâneo, já que seu escopo é pacificar e não
inflamar conflitos. O Estado só intervirá mediante provocação, isto é, uma petição da
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parte interessada que demonstre sua vontade em obter tutela. Se o próprio juiz
fosse autor do processo, sem que houvesse provocação, dificilmente este seria
imparcial, já que a própria instauração processual aconteceria mediante um
posicionamento. Contudo, cabe a ressalva dos processos penais, em que o titular da
pretensão punitiva, no caso, o Ministério Público, não pode de ela dispor
voluntariamente se verificadas as condições delitivas necessárias para que haja uma
queixa-crime. O legislador, em concordância com tal característica, estabelece no
artigo 2º do Código do Processo Civil que “o processo começa por iniciativa da parte
e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” (BRASIL,
2015), enquanto o Código do Processo Penal explicita que “Art. 24. Nos crimes de
ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de
representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. ”
(BRASIL, 1941). Um bom exemplo de exceção à regra é a declaração de falência,
que pode ser feita ex officio.
A última característica trazida pelos autores é a definitividade, conforme o art.
5º, XXXVI, da Constituição Federal, que prevê “a lei não prejudicará o direito
adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (BRASIL, 1988), sendo que coisa
julgada é a sentença que já transitou em julgado e possui, portanto, caráter
definitivo, não podendo ser novamente questionado ou reproposto nem mesmo pelo
juiz ou legislador; esse efeito ocorre única e especialmente nas decisões
jurisdicionais, que possuem a capacidade de se tornarem imutáveis. Pontua-se, no
entanto, que a jurisdição somente poderá ser controlada pela própria jurisdição,
ficando a seu encargo a solução final a um conflito – não haverá, então, controle
externo no que diz respeito à atividade jurisdicional.
Importante também tratar dos princípios que regem a jurisdição. O primeiro
deles é o princípio da investidura, que regulamenta que a atividade jurisdicional
poderá somente ser exercido por aqueles investidos para tal função pelo Estado.
São pessoas físicas de Direito, concursadas na magistratura e agentes do Tribunal
de Justiça. Ademais, verifica-se também o princípio da aderência ao território, que
limita a atividade jurisdicional ao território do país. “Além disso, como os juízes são
muitos no mesmo país, distribuídos em comarcas ou seções judiciárias, também se
infere daí que cada juiz só exerce a sua autoridade nos limites do território sujeito
por lei à sua jurisdição” (CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p. 154). Diante
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desse princípio, entende-se que os magistrados devem cooperar para que, quando
necessário, o processo atinja partes de jurisdições diversas da sua. Isso ocorre
através da expedição de uma carta precatória, conforme artigo 201ss do Código de
Processo Civil e artigo 353ss do Código do Processo Penal, quando de jurisdição
diversa em território nacional, ou ainda através de carta rogatória, quando
necessária cooperação com jurisdição de outro país. O terceiro princípio tratado por
Cintra, Dinamarco e Grinover é a indelegabilidade, isto é, as funções jurisdicionais
são estabelecidas na própria Constituição enquanto lei suprema e não podem ser
delegadas por outras leis para órgãos diversos ou mesmo pelos juízes a outrem.
Apesar disso, verificam-se duas exceções a esse princípio, previstas
constitucionalmente, sendo uma delas as cartas de ordem e a outra, a delegação,
pelo Supremo Tribunal, de competência para execução forçada. Outro deles é o
princípio da inércia, que, para os autores, além de característica é também princípio
no qual deve a jurisdição se fundamentar, não podendo nem devendo, em qualquer
momento, se instaurar um processo sem que haja provocação dos interessados.
Além desses, três outros princípios são expostos como fundamentais: a
inevitabilidade, a inafastabilidade e o juiz natural. A jurisdição deve ser inevitável
pois impõe-se por si mesma, e, uma vez provocada, independe da vontade das
partes, que estão sujeitas às decisões do magistrado enquanto autoridade estatal. O
princípio da inafastabilidade se fundamenta no inciso XXXV, do artigo 5º, da
Constituição Federal, que declara: “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988), exposto também no artigo 3º
do Código de Processo Civil, e se complementa com o artigo 140, do mesmo códex,
onde se expõe que “o juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico” (BRASIL, 2015). O último dos princípios que,
para Cintra, Dinamarco e Grinover, dão base à jurisdição é o do juiz natural, que
“assegura que ninguém pode ser privado do julgamento por juiz independente e
imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais” (2009, p. 156). Além disso,
não haverá tribunal de exceção, isto é, criado especifica e posteriormente ao fato,
para que se julgue determinado crime praticado por determinada pessoa, conforme
o inciso XXXVII do artigo 5º da Carta Magna.
Em síntese adequada, defronte ao questionamento “o que é jurisdição?”,
temos o pensamento de Fredie Didier Jr., que expressa e conceitua a jurisdição
como “a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo
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imperativo e criativo (reconstrutivo), reconhecendo/efetivando/protegendo situações


jurídicas concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle externo e
com aptidão para tornar-se indiscutível” (2015, p. 153).
Oportuna e anteriormente, já foi citada enquanto característica da jurisdição,
seu escopo jurídico, tratado amplamente pelos autores Chiovenda e Carnelutti. Em
face da noção de que a jurisdição e o processo é um instrumento, um meio de
exercício de uma atividade do Estado, esta deve possuir seus objetivos alinhados
com os do país. Tradicionalmente, além do escopo jurídico, são admitidos também o
social e político. Alexandre Freitas Câmara subdivide esses objetivos e coloca
dentre o escopo social a pacificação com justiça e o educar a sociedade, e propõe a
afirmação do poder estatal, o culto às liberdades públicas e a participação do
jurisdicionado nos destinos de sua sociedade como subdivisões do escopo político.
Quanto à pacificação social, Dinamarco e outros afirmam que “é o escopo
magno da jurisdição e, por consequência, de todo o sistema processual” (2009, p.
30). Tem-se, então, a observação de que “a justiça das decisões está intimamente
ligada à sua adequação ao direito objetivo (...) de acordo com os fins sociais a que a
lei se destina e o bem comum” (CAMARA, 2009, p. 51). Já em relação a função
educativa, verifica-se uma educação de mão dupla, isto é, ensina como obter a
tutela de seus interesses em casos de conflito e transmite também as sanções as
quais estão sujeitas as partes caso não respeitem o ordenamento jurídico vigente.

O escopo político, para Camara, representa a jurisdição enquanto busca pela


consolidação dos direitos fundamentais assegurados constitucionalmente, aos quais
não basta a simples positivação e faz-se também necessária a efetivação. Quanto à
participação do jurisdicionado, vemos a possibilidade de intervenção da sociedade
nas decisões políticas, prevista na Lei Maior em, pelo menos, dois mecanismos – a
Ação Popular e a Ação Civil Pública. Cintra, Dinamarco e Grinover expõe,
essencialmente, quanto ao objetivo máximo visado pela jurisdição, que, em vista do
Estado social e sua busca pelo bem comum, deve-se destacar “a função jurisdicional
pacificadora como fator de eliminação dos conflitos que afligem as pessoas e lhe
trazem angustia” e refletir ainda sobre “a necessidade de fazer do processo um meio
efetivo para a realização da justiça” (2009, p. 31). Dando ênfase a essa linha de
pensamento, com o Novo Código Civil, o legislador se prestou a inserir que “Art.
8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências
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do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e


observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência” (BRASIL, 2015).
Apesar de tudo o que foi dito sobre a jurisdição, não é este o único método de
resolução de conflitos. Em que se preze, há alguns anos os métodos alternativos
têm sido mais e mais valorizados, pela nova percepção adotada: “se o que importa é
pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou por
outros meios, desde que eficientes” (CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p.
32). O processo, como é bem sabido, é realizado através de diversos atos formais e
possui duração longa, ainda que otimizado pela implantação do Processo Virtual.
Além disso, os custos são bastante altos, dificultando o acesso à justiça. Assim,
essas “novas vertentes”, como chamadas pelos autores, buscam romper com o
formalismo extremo e desnecessário, são gratuitos ou, no mínimo, baratos e,
portanto, mais acessíveis. Está previsto nos parágrafos do artigo 3º, do Código de
Processo Civil: “§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2o O Estado
promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3o A
conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos
deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. ” (BRASIL, 2015). Assim,
os principais métodos utilizados são a conciliação, a mediação e a arbitragem, que
priorizam a solução consensual de conflitos, para que ambas as partes saiam
satisfeitas com os resultados. Os princípios que regem esses métodos estão
elencados no artigo 166 do Código de Processo Civil: “Art. 166. A conciliação e a
mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da
autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da
decisão informada” (BRASIL, 2015).
Cabe comentar que os legisladores têm se posicionado a favor da
desjudicialização desses litígios, pois a realidade no Poder Judiciário é caótica. Em
2014, ocasião de coleta de dados, transitavam pelo sistema 70,8 milhões de
processos, sendo que mais casos chegam do que são baixados, verificando-se taxa
de congestionamento de 74% na Justiça Estadual e 70% na Justiça Federal. Se as
estruturas tivessem sido mantidas e não tivessem sido aprovadas as novas leis – Lei
da Mediação (13.140/2015), Novo CPC e Lei 13.129/2015 que alterou a Lei da
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Arbitragem -, a produtividade tenderia a diminuir cada vez mais, e com ela diminuiria
a eficácia do sistema. Paulo Carneiro reflete que
Parece bastante óbvio que a solução consensual dos litígios é,
de longe, a melhor forma de pacificação social, ao tempo em
que assegura uma rápida solução do conflito, com o menor
custo e a satisfação para ambas as partes. Por que não
empregar os melhores esforços e investimentos nesta área?
Qualquer administrador, minimamente competente, que tivesse
a responsabilidade, inclusive financeira, de administrar a
justiça, elegeria o conciliador ou o mediador como um dos mais
importantes de seus colaboradores ou funcionários.
(CARNEIRO apud DIDIER JR., 2015, p. 65-66)
Um dos métodos a serem discutidos é a autotutela, no qual se satisfaria com
a solução apenas o mais forte, sendo, por isso, considero método bastante primitivo.
Apesar disso, em casos excepcionais a lei, que proíbe esse método, abre algumas
exceções. Como expõe Cintra, Dinamarco e Grinover
São duas as razoes pelas quais se admite a conduta unilateral
invasora da esfera jurídica alheia nesses casos excepcionais: a
impossibilidade de estar o Estado-juiz presente sempre que um
direito esteja sendo violado ou prestes a sê-lo; b) a ausência de
confiança de cada um no altruísmo alheio, inspirador de uma
possível autocomposição (2009, p. 35)
A conciliação é provavelmente o mais antigo destes, da qual tratava já a
Constituição Imperial de 1824. Cesar Fiuza expõe que ““a conciliação é processo
pelo qual o conciliador tenta fazer que as partes evitem ou desistam da jurisdição”
(1995, p. 56). Dinamarco e Lopes explicam: “A conciliação consiste na intercessão
de um sujeito entre os litigantes com vista a persuadi-los à autocomposição
sugerindo-lhes soluções e induzindo-os a se comportem amigavelmente” (2015, p.
43), isto é, o conciliador pode (e deve) intervir na negociação das partes em busca
da melhor proposta possível. “O conciliador procura obter uma transação entre as
partes (mútuas concessões), ou a submissão de um à pretensão do outro ou a
desistência da pretensão (renúncia)” (CINTRA, DINAMARCO, GRINOVER, 2009, p.
34). Pode ocorrer de maneira extraprocessual, isto é, sem que seja instaurado um
processo, ou endoprocessual, sendo que será utilizado preferencialmente nos casos
em que não houver vínculo anterior entre as partes – geralmente indicado para
casos de responsabilidade civil por ilícito extracontratual -, conforme o parágrafo 2º
do artigo 165, do Código de Processo Civil. O códex dispõe ainda que é dever do
juiz, em qualquer tempo, promover a autocomposição, preferencialmente com auxílio
de conciliadores e mediadores judiciais, conforme o inciso V do artigo 139. O Novo
Código procura enquadrar tanto mediadores quanto conciliadores enquanto
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auxiliares da justiça, que contribuem com o juiz na promoção da autocomposição. A


Lei federal 9.099, de 1995, que dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais
deu grande enfoque a conciliação ao instituir uma fase conciliatória no procedimento
processual, anterior a fase de instrução e julgamento. Além disso, passou a admitir
também a conciliação em matéria penal, porém somente dentro do processo – não é
válida a conciliação nem mesmo quando feita em transição anterior ao oferecimento
da denúncia.
A mediação parte dos mesmos preceitos da conciliação, sendo que, para
Dinamarco e outros, “distingue-se dela somente porque a conciliação busca
sobretudo o acordo entre as partes, enquanto a mediação objetiva trabalha conflito,
surgindo o acordo como merca consequência” (2009, p. 34). Assim, a diferença se
daria diretamente no método. Conforme a Lei da Mediação, pode ocorrer
judicialmente ou extrajudicialmente, sendo que no primeiro caso, é designado uma
audiência para realização de diálogo que enseje acordo, e no segundo caso, as
partes se resolvem antes do processo e a mediação é posteriormente homologada.
O parágrafo 3º do artigo 165 do Código de Processo Civil prima pela mediação em
casos onde há vínculo anterior entre as partes, sendo esta muito utilizada em casos
de família.

O terceiro e último dos principais métodos alternativos de resolução de litígios


a ser tratado é a arbitragem, ou o juízo arbitral, no qual ambas as partes, em
consenso, escolhem um terceiro ou mais pessoas para ser responsável pelo
julgamento. Nesse caso, se renuncia a jurisdição estatal para que a decisão sobre o
conflito seja proferida por um árbitro. Porém, só cabe arbitragem em casos cíveis,
não podendo ser utilizado tal método para casos penais e com a ressalva também
de casos envolvendo direitos não-disponíveis. Diferentemente dos outros métodos
(mediação e conciliação), nos casos de arbitragem verifica-se a heterocomposição.
O julgamento deve ocorrer conforme regras, procedimentos, lei aplicável, sede de
arbitragem e língua, utilizando-se das regras de direito material e também dos
princípios gerais do direito, dos usos e costumes e das regras internacionais de
comércio. Há grandes controvérsias doutrinários sobre se a convenção arbitral
afasta ou não o direito à tutela jurisdicional estatal, sendo que para autores como
Dinamarco, não é plausível supor que a arbitragem afaste a ação quando
posteriormente necessário. Assim, sob à luz da interpretação do caput do artigo
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terceiro do Novo Código, não se pode afastar o conflito da jurisdição, e o primeiro


parágrafo reconhece a arbitragem, na forma da lei. Portanto,

Assumindo enfaticamente que a jurisdição tem por escopo


magno a pacificação de sujeitos conflitantes, dissipando os
conflitos que os envolvem, e sendo essa a razão última pela
qual o próprio Estado a exerce, não há dificuldade alguma para
afirmar que também os árbitros exercem jurisdição, uma vez
que sua atividade consiste precisamente em pacificar com
justiça, eliminando conflitos. (DINAMARCO, 2013, p. 39)

3. CONCLUSÃO
As noções até aqui expostas foram reunidas enquanto fruto de pesquisa e
leitura, buscando apresentar aos discentes de Direito, assim como a qualquer leigo,
um bom entendimento sobre o conceito de jurisdição, que, em suma, é, segundo
Dinamarco e outros, poder, função e atividade. Além disso, ainda foi dedicado um
estudo sobre as características que garantem a jurisdição enquanto reflexo do
monopólio do jus punitionis do Estado, e os princípios que a norteiam para que
cumpra seus escopos.
Quanto aos demais métodos de solução de litígios, foi possível perceber que
estes tomaram maior proporção nos últimos anos, especialmente desde 2015,
especialmente na tentativa de melhorar o acesso à justiça, diminuir a formalidade,
custo e tempo empenhados em cada processo e ainda descarregar a Justiça,
possibilitando resoluções mais rápidas e, ás vezes, muito mais agradáveis, já que é
intuito desses métodos buscar um desfecho consensual, que, se não agradar, ao
menos não desagrade nenhuma das partes, melhorando os índices de confiança
pública no Poder Judiciário e no sistema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Diário Oficial da República Federativa do Brasil, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 20 nov. 2017.
15

BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código do Processo


Civil. Diário Oficial da União, DF, 17 marc. 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso
em: 20 nov. 2017.

BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Institui o Código do


Processo Penal. Diário Oficial da União, DF, 4 out. 1941. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso
em: 20 nov. 2017.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 19º. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009.

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER,


Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 25ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito


processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17ª. ed. Salvador: Jus
Podivm, 2015.

DINAMARCO, Cândido Rangel. LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria Geral


do Novo Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 2016.

FIÚZA, César. Teoria geral da arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.

MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. São Paulo: 25ª. ed.
Revista dos Tribunais, 2000.

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