O Ensino Da Pré-História Usando As HQ
O Ensino Da Pré-História Usando As HQ
O Ensino Da Pré-História Usando As HQ
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RESUMO: O ensino da Pr-histria apresenta-se como um desafio para os
professores no ensino fundamental, j que um tema de difcil compreenso para
alunos que esto numa fase de transio das chamadas sries iniciais para a fase
maior do ensino fundamental. O objetivo deste trabalho discutir o uso de histrias
em quadrinhos (HQs) como recurso didtico para o ensino da Pr-histria. A
partir da leitura da bibliografia e de um relato de experincia de uma atividade
desenvolvida em sala de aula pretende-se sugerir caminhos para o trabalho com as
HQs como um meio para auxiliar os alunos na compreenso da Pr-histria, em
temas como as teorias da origem do homem e as diversas espcies humanas.
Palavras-chave: Ensino de Histria. Histrias em quadrinhos. Pr-histria.
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ABSTRACT: The teaching of Prehistory presents itself as a challenge for teachers in
elementary school, because is a difficult theme to understand for students who are
in a transitional phase calls for the early grades of elementary education major
phase. The objective of this paper is to discuss the use of comics as a didactic
resource for teaching Prehistory. From reading the literature and a report of an
experience with an activity developed in the classroom is intended to suggest ways
to work with the comics as a means to assist students in understanding the
prehistory, themes and theories the origin of man and the various human species.
Keywords: History Teaching. Comics. Prehistory.
Uma verso preliminar deste artigo foi apresentada na 11 Mostra de Saberes da SEMEC/II
Colquio de Educao da Regio Metropolitana de Belm, realizados em Belm-PA, nos dias 05 e
06 de dezembro de 2013.
Mestre em Histria Social da Amaznia pela Universidade Federal do Par (UFPA). Professor do
curso de Licenciatura em Histria da Faculdade Integrada Brasil Amaznia (FIBRA). Professor do
ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educao (SEMEC) de Belm-PA, distrito
Mosqueiro.
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Introduo
O ensino da Pr-histria um dos desafios do professor de Histria do
ensino fundamental. Tema geralmente trabalhado nas turmas de 5 srie (6
ano), a Pr-histria se mostra um tema de difcil compreenso para alunos de
10, 11 ou 12 anos, que esto numa fase de transio das chamadas sries
iniciais para a fase maior do ensino fundamental, j que um tema que trabalha
sobretudo com o abstrato.
Desse modo, algumas questes se apresentam no exerccio da docncia do
professor de Histria do ensino fundamental: como trabalhar a Pr-histria?
Qual contedo referente ao tema selecionar para trabalhar com os alunos? Que
tipo de metodologia e fontes utilizar para auxiliar a compreenso do aluno?
Como tornar o contedo da Pr-histria significativo ao aluno?
O presente artigo objetiva apontar alguns caminhos que possam auxiliar
no ensino de Histria. Para tal, prope-se o uso das histrias em quadrinhos
(HQs)3 como recurso didtico no ensino da Pr-histria. Longe de ver os
quadrinhos como uma espcie de soluo mgica para todas as dificuldades
enfrentadas pelos professores de Histria, este texto pretende chamar a ateno
das potencialidades das HQs no trabalho docente com os alunos do ensino
fundamental. Para no ficar apenas na teoria, o artigo tambm relata uma
experincia do uso de HQs no ensino da Pr-histria na sala de aula.
Em primeiro lugar, importante referirmos sobre algumas discusses
acerca da Pr-histria.
O termo histrias em quadrinhos ser utilizado tambm como HQs ou quadrinhos no decorrer
do texto.
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histricas
vlidas
eram
as
fontes
escritas,
como
apontavam
os
no
sculo
XX,
com
renovao
historiogrfica
propagada
principalmente pela chamada Escola dos Annales, com Marc Bloch e Lucien
Febvre, o conceito de fonte histrica se amplia, considerando tudo o que se
relaciona ao homem como objeto de estudo do historiador. Assim, as fontes
arqueolgicas, por exemplo, so utilizadas para se conhecer como viviam os
povos sem escrita: restos de cermica, urnas funerrias, pinturas rupestres, etc.
Mesmo reconhecendo as limitaes do termo Pr-histria, optamos neste
trabalho por utiliz-lo, haja vista a ampla divulgao do mesmo na pesquisa e no
ensino
de
Histria,
notadamente
nos
livros
didticos
da
disciplina.
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frequente as pessoas confundirem-se quando se trata de definir as
relaes entre disciplinas conexas como Arqueologia, Histria, PrHistria, Paleontologia, etc. A Paleontologia o ramo da Biologia
(estuda as formas de vida) que trata dos seres (vegetais, animais
ou homens) extintos; preocupa-se, portanto, essencialmente com
os corpos. A Histria tem por objeto de estudo as sociedades, numa
perspectiva diacrnica, abordando essencialmente as que possuem
escrita. As sociedades sem escrita do passado so, pois, o campo da
Pr-Histria, enquanto as culturas dos povos grafos atuais ou
recentes so principalmente investigadas pela Antropologia Cultural.
(PROUS, 2000, p. 19).
Andr
Prous
destaca
uma
relao
profunda
entre
Pr-histria
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porque impossvel tratar todos os temas da Histria num livro, mas o modo
como eles abordam o tema.
Um dos poucos trabalhos sobre o ensino da Pr-histria o texto de
Isabel Cristina Rodrigues e Mrcia Cristina Marinoci intitulado A Pr-Histria do
Brasil nos livros de Histria para 5 a 8 sries do ensino fundamental, do ano de
2003. As autoras analisaram livros didticos de Histria destinados ao terceiro e
quarto ciclos
do
Ensino Fundamental
5 a 8 sries
das colees
deixando
de
lado
sua
capacidade
de
reflexo.
(RODRIGUES;
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universidades geram o pouco conhecimento do tema por parte dos professores
de ensino fundamental e mdio. (FUNARI; NOELLI, 2012, p. 106). Isso nos d a
ideia de que a universidade o nico centro de saber e conhecimento, e que s a
produo cientfica das instituies superiores basta para garantir um ensino de
qualidade nas escolas - no nosso caso especfico o ensino da Pr-histria. Ora,
mesmo se a Pr-Histria tivesse a mesma ateno que os outros temas da
Histria, isso no significa que necessariamente ela fosse trabalhada de forma
satisfatria nas escolas. Isso depende fundamentalmente da preparao e da
criatividade do professor, que tem o desafio de tornar a sua aula mais atraente e
compreensvel para alunos que, na 5 srie, por exemplo, tem em mdia, 10 a
12 anos de idade. Dessa maneira, sugerimos que o uso das histrias em
quadrinhos pode ajudar o professor no ensino da pr-histria no ensino
fundamental.
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Em 2011, por exemplo, o quadrinista Maurcio de Sousa, criador da Turma da Mnica, foi eleito
membro da Academia Paulista de Letras (APL), sendo o primeiro quadrinista empossado pela
Academia. Na ocasio, o presidente da Academia Antonio Penteado Mendona afirmou que
"Mauricio , sim, um escritor, de certa forma justificando que os quadrinhos produzidos por
Maurcio de Sousa tambm so literatura. Mauricio de Sousa toma posse na Academia Paulista
de Letras. Portal Folha.com Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/915165mauricio-de-sousa-toma-posse-na-academia-paulista-de-letras.shtml> Acesso em: 24 nov.
2013.
O objetivo do PNBE permitir aos estudantes o acesso cultura e informao e estimular o
hbito pela leitura. Para isso, o governo abre licitao junto s editoras para montar lotes de
obras a serem distribudas nas escolas brasileiras. (VERGUEIRO; RAMOS, 2009, p. 12).
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Seguindo na mesma direo que Vergueiro e Ramos, Marco Tlio Vilela
afirma que a discusso sobre se as HQs so ou no uma forma de literatura j
foi superada, pelo menos para os pesquisadores brasileiros. Enquanto nos
Estados Unidos, ainda h autores que consideram as HQs uma forma
diferenciada de literatura, no Brasil, a viso predominante atualmente outra:
HQ no literatura, mas uma linguagem autnoma. (VILELA, 2012b, p. 54).
As HQs sofreram durante muito tempo preconceito por parte de pais e
professores sobre o efeito que elas poderiam causar nas crianas e jovens.
Waldomiro Vergueiro afirma que pais e mestres desconfiavam das aventuras
fantasiosas das pginas multicoloridas das HQs, supondo que elas poderiam
afastar crianas e jovens de leituras mais profundas, desviando-os assim de um
amadurecimento sadio e responsvel. Assim, a entrada dos quadrinhos em
sala de aula encontrou severas restries. (VERGUEIRO, 2012, p. 8).
J nas ltimas dcadas do sculo XX as HQs passaram a ter um novo
status, recebendo um pouco mais de ateno das elites intelectuais e passando
a ser aceitas como um elemento de destaque do sistema global de comunicao
e como uma forma de manifestao artstica com caractersticas prprias.
(VERGUEIRO, 2012, p. 17). Nesse sentido, os quadrinhos passaram a ser vistos
como recursos didticos para a sala de aula.
Marco Tlio Vilela sugere dois fatores para o maior interesse hoje dos
educadores pelo uso didtico das HQs:
Em primeiro lugar o fato de que as geraes mais jovens de
professores so formadas por adultos que leram HQs durante a
infncia e adolescncia. O outro fator que as HQs passaram a ser
vistas como uma opo de leitura como forma de combater o uso
excessivo dos videogames por parte das crianas e adolescentes.
(VILELA, 2012b, p. 89).
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3. A Pr-histria em quadrinhos
Na dissertao de mestrado intitulada A utilizao dos quadrinhos no
ensino de histria: avanos, desafios e limites, Marco Tlio Vilela destaca como a
Pr-histria representada nos quadrinhos. Segundo Vilela, existem muitas
HQs que so ambientadas durante a Pr-Histria, sendo que a maior parte delas
traz representaes anacrnicas, mas essas podem ser teis no ensino de
Histria. (VILELA, 2012b, p. 158). O anacronismo bastante presente, por
exemplo, nas histrias que envolvem homens e dinossauros convivendo juntos.
Tal fato no ocorreu, j que quando os primeiros humanos apareceram na Terra
os dinossauros j estavam extintos h milhes de anos.
Alm do anacronismo, as HQs que so ambientadas na Pr-histria
trazem alguns esteretipos popularizados pela cincia do sculo XIX, tais como:
o esteretipo de homem das cavernas; o esteretipo de mulher das
cavernas; e a representao negativa dos chamados homens de Neanderthal.
Segundo Vilela, a maioria das HQs ambientadas na Pr-Histria tem como
protagonistas os chamados homens das cavernas, que so retratados como
indivduos cabeludos e barbudos, vestindo tangas ou restos de peles de animais,
e usando clavas. (VILELA, 2012b, p. 165). Um exemplo clssico desse homem
das cavernas o personagem Piteco, da Turma da Mnica, criao do
quadrinista Maurcio de Sousa.
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Quanto s mulheres das cavernas nos quadrinhos, estas possuem um
tipo de aparncia que se encaixa muito mais nos padres de beleza feminina
difundidos pelo cinema de maior apelo comercial e pelas revistas masculinas.
(VILELA, 2012b, p. 167). Alguns exemplos desse clich so Jane, o par
romntico
de
Tarzan,
nas
vrias
verses
em
diferentes
mdias
(livros,
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E disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana; e domine
sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos cus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre
todo o rptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem sua imagem; imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou. Gnesis 1:26-27. Bblia online. Disponvel em:
<http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1> Acesso em: 22 nov. 2013.
Segundo Diogo Meyer e Charbel Nio El-Hani, a ideia bsica do evolucionismo a de que o
estado natural de todas as coisas que existem no mundo a mudana. A permanncia, quando
ocorre, uma exceo. As teorias de evoluo biolgica prope, portanto, que os seres vivos no
so imutveis: aqueles que so vistos atualmente nem sempre existiram, nem sempre tiveram a
mesma forma e nem sempre existiro. (MEYER; EL-HANI, 2005, p. 18).
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principalmente na obra A origem das espcies, de Charles Darwin (1809-1882),
publicada em 1858, aponta que o homem descende dos primatas a partir de um
processo de evoluo.9
Um recurso interessante neste tema so as tiras cmicas10 do site Um
sbado qualquer, criadas pelo ilustrador Carlos Ruas.11 As tiras de Ruas
abordam de maneira cmica Deus, Ado e Eva, alm de outros personagens
ocasionais, tratando dos problemas da humanidade.
Uma das grandes inovaes introduzidas por Darwin foi a ideia de que a evoluo no um
processo linear, mas um processo de divergncia a partir de ancestrais comuns. Duas espcies
semelhantes seriam descendentes de uma nica espcie que teria existido no passado. Desde
sua origem a partir desse ancestral comum, elas teriam divergido, dando origem s diferenas
que vemos. (MEYER; EL-HANI, 2005, pp. 24-25).
10
Utilizamos o termo tira cmica a partir das concepes de Paulo Ramos. Para Ramos, a tira
cmica um dos gneros das histrias em quadrinhos, tendo como caracterstica a temtica
atrelada ao humor, alm de tratar-se de um texto curto (dada a restrio do formato
retangular,que fixo), construdo em um ou mais quadrinhos, com presena de personagens
fixos ou no, que cria uma narrativa com desfecho inesperado no final. RAMOS, Paulo. A leitura
dos quadrinhos. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2012, p. 24.
11
Carlos Ruas designer grfico. A inspirao para criar as tiras de Um sbado qualquer
explicada por ele da seguinte maneira: Sempre gostei de estudar religies e mitologia, era um
hobbie. Comecei a notar a facilidade que eu tinha em criar humor com esse tema quando estava
na mesa de bar conversando com amigos. Como sou ilustrador, resolvi criar o meu quadrinho,
baseado em fatos religiosos. A idia veio naturalmente, pensando... No comeo queria fazer um
messias que ningum acreditava, e era o verdadeiro! Mas depois cheguei a concluso que
ningum ser melhor que Deus para o personagem principal. Ver Entrevista Carlos Ruas, por
Fernando Passarelli. Disponvel em: <http://deusnogibi.dominiotemporario.com/doc/ENTRRUAS.pdf> Acesso em 19 nov. 2013.
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12
E disse Deus: Produzam as guas abundantemente rpteis de alma vivente; e voem as aves
sobre a face da expanso dos cus. E Deus criou as grandes baleias, e todo o rptil de alma
vivente que as guas abundantemente produziram conforme as suas espcies; e toda a ave de
asas conforme a sua espcie; e viu Deus que era bom. E Deus os abenoou, dizendo: Frutificai e
multiplicai-vos, e enchei as guas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde e
a
manh,
o
dia
quinto.
Gnesis
1:20-23.
Bblia
online.
Disponvel
em:
<http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1> Acesso em: 22 nov. 2013.
13
As aves evoluram a partir dos rpteis e muitas modificaes ocorreram para que elas
conquistassem todo esse modo de vida. Os ovos passaram a se desenvolver fora do corpo da
fmea, aparecimento de penas, os membros anteriores deram origem asas, a excreo
nitrogenada o cido rico, num composto pastoso para economizar gua, perda da bexiga,
endotermia, separao da circulao venosa e arterial, sacos areos que ajudam na diminuio
da densidade e dissipam calor, corpo aerodinmico e elaborao da voz e da audio. As Aves.
Portal S Biologia. Disponvel em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos3/Aves.php>
Acesso em 22 nov. 2013.
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evoluo era uma novidade. Desse modo, o trabalho com os quadrinhos se
mostrou de mais fcil compreenso para os alunos do que os textos escritos para
entender as duas teorias.
Outra atividade desenvolvida com os alunos da 5 srie foi a produo de
uma HQ. Tlio Vilela sugere que o professor tambm pode estimular a produo
de histrias em quadrinhos pelos prprios alunos. No entanto para que no se
perca a especificidade da disciplina Histria, deve-se propor a criao de
histrias em quadrinhos que explorem os contedos especficos da disciplina ou
pertinentes ao assunto da aula. (VILELA, 2012, p. 128).
Desse modo, propusemos a produo de uma HQ baseada na teoria
criacionista. Para tal, trabalhamos com os alunos primeiramente a leitura dos
captulos 1 e 2 do livro de Gnesis. Aps a leitura dos dois captulos, dividimos os
alunos em duplas e solicitamos que produzissem desenhos divididos em
quadrinhos representando os seis dias da criao do mundo por Deus. Outra
instruo dada foi que cada quadrinho tivesse uma legenda indicando qual a
criao de Deus em cada dia, baseado na leitura dos dois primeiros captulos do
livro de Gnesis. Seguem abaixo alguns dos desenhos produzidos pelos alunos.
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boisei,
Homo
habilis,
Homo
erectus,
Homo
sapiens
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Nos livros didticos, tal assunto aparece de maneira bastante curta, com o
resumo das caractersticas de cada espcie. Para alunos de 5 srie, muitos
ainda com dificuldades de leitura e escrita, torna-se um assunto de difcil
compreenso. Desse modo, as HQs se mostram como um recurso didtico que
pode auxiliar os alunos na compreenso das diversas espcies humanas que
antecederam o homem atual de acordo com a teoria evolutiva.
Para explicar a espcie Homo erectus, recorremos HQ Piteco em:
Homus erectus, do personagem Piteco, da Turma da Mnica. Alm de ser uma
histria relacionada ao contedo trabalhado em sala de aula, essa HQ foi
escolhida porque tem como personagem principal um personagem que faz parte
de um universo de HQs j conhecido pelos alunos: a Turma da Mnica. De
acordo com Flvio Calazans, importante sempre dar preferncia aos hbitos
de leitura que j fazem parte do universo dos alunos. (CALAZANS, 2004, p. 13).
Mesmo que parte dos alunos no conhecesse o personagem Piteco, os traos de
Maurcio de Sousa acabaram sendo reconhecido pelos alunos, acostumados a vlos em histrias de personagens como Mnica, Cebolinha, Casco, Chico Bento,
etc.
A escolha de Piteco em: Homus erectus procurou tambm estimular a
leitura entre os alunos. Ao contrrio das tirinhas de Carlos Ruas, a histria de
Piteco um pouco mais longa. Entretanto, Maurcio de Sousa se utiliza bastante
do humor nessa HQ, o que a torna uma leitura agradvel, estimulando o hbito
de leitura pelos alunos. Assim, concordamos com a perspectiva de Vitria
Rodrigues e Silva, que observa que os professores de cada disciplina precisam
agregar ao rol de variveis que orientam seu trabalho mais uma: uma
metodologia para o desenvolvimento da linguagem; j os professores de
Histria, especificamente, precisam estar comprometidos tanto em atingir
objetivos que so prprios da sua disciplina, quanto com o desenvolvimento da
leitura e da escrita (SILVA, 2004, p. 71).
A HQ Piteco em: Homus erectus trata-se de uma interessante histria
produzida por Maurcio de Sousa destacando duas caractersticas do Homo
erectus: o fato de ser bpede, ou seja, andar com os dois ps, e o fato de ele ter
sido responsvel pela inveno do fogo.
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compreender que at uma ao comum que a de andar com os dois ps tem a
sua historicidade.
A
HQ Piteco
em:
alunos
alm
de
estimular
leitura,
elaboramos
algumas
questes
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Consideraes finais
O trabalho procurou mostrar alguns caminhos para o trabalho com as
histrias em quadrinhos no ensino da Pr-histria. Procuramos no nos
limitarmos a propostas e sugestes sem prticas, to comuns em artigos
acadmicos,
mas
tambm
relatarmos
algumas
experincias
no
ensino.
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