GABRIEL PIRES MONOGRAFIA (9)
GABRIEL PIRES MONOGRAFIA (9)
GABRIEL PIRES MONOGRAFIA (9)
São Gonçalo
2024
1
Gabriel Pires Machado Corrêa
São Gonçalo
2024
2
Monografia apresentada ao Departamento de Ciências
História.
São Gonçalo
2024
CATALOGAÇÃO NA FONTE
FEITA NA BIBLIOTECA
3
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH/D
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta monografia, desde que citada a fonte.
__________________________________ ____________________________
Assinatura Data
História.
Banca Examinadora:
_____________________________________________
_____________________________________________
Prof. Dr.
4
Universidade
São Gonçalo
2024
RESUMO
5
ABSTRACT
The present work aims to analyze the representations of the teaching of Ancient History
in Brazil, considering its trajectory in both academic and school contexts. The research
seeks to understand how the discipline has been conceived, taught and learned over
time, which challenges it faces and how it materializes in basic education. To this end, a
comprehensive bibliographical review will be carried out, encompassing studies on the
history of historiography, historiographical production on Antiquity, educational
policies and school curriculum, especially the National Common Curricular Base. In
addition, teaching materials, such as textbooks, will be analyzed in order to identify the
representations of Ancient History present in these documents.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................X
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................X
7
1. INTRODUÇÃO
Para tanto, será realizada uma análise dos conteúdos de História Antiga do
Oriente presentes em dois livros didáticos selecionados pelo Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD) de 2020: o livro Vontade de Saber: História (2018) da editora
8
Quinteto Editorial e Inspire História da editora FTD. Além disso, a fim de qualificar o
debate, confrontarei os tópicos neles presentes com textos e teorias elaboradas pelos
principais pesquisadores das áreas de ensino de história, teoria do currículo e
historiografia antiga.
No primeiro capítulo,
9
CAPÍTULO 2. A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A HISTÓRIA
ANTIGA: UMA RELAÇÃO CONTURBADA
2.1 APONTAMENTOS SOBRE CURRÍCULO
Etimologicamente, a palavra currículo possui sua origem na palavra latina
Scurrere que, por sua vez, significava “correr”, referindo-se a um curso. Dessa forma, o
currículo é, pelo menos em sua etimologia, compreendido enquanto um determinado
percurso a ser seguido, algo que se propõe a organizar o conhecimento por etapas
racionalmente selecionadas (Goodson, 2012, p. 31). No entanto, se originalmente a
compreensão sobre “currículo” se dava de forma limitada em suas instituições
precursoras (College of Montaign e Universidade de Glasgow) conforme identificado
por Ivor Goodson (2012, p. 32-33), atualmente as interpretações acerca deste objeto
recaem sobre seu caráter político, sociológico e epistemológico (Moreira e Silva, 2002,
p. 7).
Importante ressaltar, todavia, que até os dias atuais não há um consenso final
sobre a definição de “currículo”, principalmente devido aos meandros de sua construção
socio-histórico-cultural (como a região ou período histórico em que fora concebido) e
aos seus complexos problemas epistemológicos (como questões particulares de “o que”
e “como” ensinar), tornando seu sentido volátil e subordinado ao referencial teórico
adotado pelo pesquisador (Oliveira, 2008, p. 538). Contudo, conforme Moreira (1997,
p. 11-2 apud Oliveira 2008, p. 538), a conceituação mais recorrente nos estudos
curriculares é a de um currículo como “conhecimento escolar e experiência de
aprendizagem”.
Mas, se não é possível darmos ao currículo uma única definição, algumas das
afirmações que podemos fazer é que este documento é permeado por conflitos e
interesses políticos, que ele faz parte de uma tradição seletiva e que esta seleção é feita
por um grupo que decide o que é relevante e legítimo (Apple, 2013, p. 71). O currículo,
desta forma, não se limitaria apenas a um documento que busca normatizar os saberes a
serem ensinados em uma dada instituição ou sistema educacional, mas também se
constitui enquanto um dispositivo sociocultural (e histórico) que reflete tanto a
organização social quanto educacional de uma determinada sociedade. Relaciona-se,
ainda, direta ou indiretamente às relações de poder, de controle e de eficiência social e
documento representa nas políticas educacionais de Estado, o campo do currículo está
para além de uma área meramente técnica preocupada com métodos e fórmulas de
10
ensino, consistindo, conjuntamente, em um espaço de disputa política, ideológica e
econômica (Oliveira, 2008, p. 537).
Foi a partir da década de 1990, com o advento das ideias pós-modernas, que o
currículo passou a ser enxergado como um dispositivo importante na construção das
identidades e das subjetividades dos indivíduos inseridos nos contextos educacionais.
Além disso, apoiado nos referenciais teóricos pós-modernos, o currículo passou a ser
enxergado enquanto um instrumento eficiente de conservação, transmissão e
transformação dos saberes para a socialização dos jovens de acordo com os valores
desejáveis por uma determinada sociedade (Oliveira, 2008, p. 539). Essa sociedade se
organiza, através de seus sistemas de ensino, para reproduzir suas experiências, dentro
de um certo contexto que engloba diversos fenômenos (como sociais, políticos,
econômicos, culturais e etc.) com o objetivo de enfrentar as demandas de um conjunto
de valores e crenças impostas por uma dada estratificação que, por se constituir como
hegemônica, é dotada de poder (Bachini, 2021, p. 96).
Seguindo essa lógica, duas das principais forças que atuam sobre o currículo são
a força econômica e a política. Diversos grupos econômicos, podendo estes estarem
associados ou não a outros grupos políticos, exercem pressões tendo em vista realizar
reformas educacionais ou influenciar diretamente os rumos da educação do país (Kelly,
1981 apud Oliveira, 2008, p. 543).
11
exemplo, a necessidade ou não de um currículo nacional para o Brasil (Amorim, Mello,
Ralejo, 2021, p. 2). Todavia, para além das discussões sobre a validade de um currículo
que se propõe a ser nacional, são importantes as discussões sobre a organização dos
conteúdos escolares, ou seja, “o que” deve ser ensinado em sala de aula.
12
aplicabilidades. Tomemos como exemplo nosso objeto principal, a História Antiga.
Embora não exista uma continuidade social, política ou espacial entre o mundo da
Antiguidade e a Europa contemporânea (Guarinello, 2014, p. 67), o primeiro foi alçado
à condição de “ponto de partida” para a construção das narrativas acerca do desenrolar
histórico europeu e de outras regiões, como as sociedades americanas pós-colombianas.
A arbitrariedade dessa escolha fica evidente quando analisamos, por exemplo, os
territórios romanos imperiais. Não é costume advogarmos pela “europeidade” do norte
da África e de partes do Oriente Médio, regiões que, assim como as atuais Alemanha,
Espanha e Inglaterra, foram dominadas durante a Antiguidade pelos romanos. Em Comentado [LGG1]: “Em contrapartida”, sem “mas”.
13
das interações entre professores e alunos. Seria equivocado, portanto, considerar que o
resultado final das práticas curriculares fosse uma mera reprodução do que fora
selecionado pelo corpo técnico estatal durante sua elaboração (Amorim, Mello e Ralejo,
2021, p. 10).
14
considerou a proposta curricular uma expressão do “autoritarismo” ao excluir certas
experiências. Como consequência, o Ministério da Educação (MEC) dissolveu a equipe
responsável composta por doze profissionais para a disciplina de História e convocou
uma nova. A segunda versão, apresentada ao público em 2016, estabeleceu mudanças Comentado [2]: Vou deixar esta parte da anotação
anterior, para o caso de vc ir atrás desse ponto em algum
significativas no texto do documento. Houve uma ampla seleção de conteúdos que outro momento:
Muitos de nós reivindicávamos uma História Antiga
tornou o currículo mais conteudista e colocou o desenrolar da história brasileira sob descentrada da Europa, a partir de outros referenciais
(História Global, Mediterrâneo, etc. -- admito que as
uma ótica eurocêntrica. A terceira e última versão da BNCC teve poucas modificações possibilidades ainda são limitadas, mas estão se ampliando),
outros colegas assumiam o velho discurso de que o estudo
em relação à segunda, sendo um dos seus principais pontos as competências (Amorim, “da Europa” (achando que os conteúdos de Antiga e
Medieval se enquadravam nisso) eram fundamentais para o
Mello, Alejo, 2021, p. 3): conhecimento da supostamente “nossa” civilização
“ocidental”. Então havia uma reação progressista e uma
reação conservadora. O que venceu foi a versão dos
[...] a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), conservadores. Do lado de cá, a gente achava que dava pra
habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais) atitudes e valores para conversar com os “brasilcêntricos”, afrocêntricos e
decoloniais, pois achamos que muitas de suas reivindicações
resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício do têm mérito (só não concordamos que o encaminhamento
deva ser o que eles propuseram) e que deveríamos pensar
mundo do trabalho (Brasil, 2018, p. 8).
uma nova forma da História. Do lado de lá, os conservadores
não queriam nem saber de sair da eterna História como
As competências têm por objetivo, para além do mencionado anteriormente corrida de bastão da civilização rumo ao Ocidente.
(uma vez que a BNCC é um documento oficial que se propõe a ser nacional), alinhar o
currículo nacional e as políticas educacionais nas esferas federais, estaduais e
municipais. As motivações pela adoção do modelo em competências são diversas,
podendo-se verificar a presença deste formato já nos movimentos reformistas da década
de 1990 e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Entretanto, é possível
identificar que a pressão social dos cidadãos brasileiros, a internacional e a
mercadológica estão entre os principais motivadores dessa reforma. Na visão de
educadores defensores deste modelo e de seus proponentes, um ensino baseado em uma
divisão por disciplinas, isto é, mais tradicional, seria fragmentado, academicista,
individualista, pouquíssimo atrativo aos alunos e bastante ultrapassado (Amorim, Mello,
Alejo, 2021, p. 3; Barbosa, Lastória, Carniel, 2019, p. 517). O ensino por intermédio de
competência se põe, dessa forma, enquanto um modo educacional que objetiva fornecer
conhecimentos mais práticos e interligados. Entretanto, esse tipo de método de ensino é
controverso. Primeiramente, essa metodologia é ligada à pedagogia do “aprender a
aprender”, uma vertente pedagógica liberal voltada à autoaprendizagem, duramente
criticada por seu descompromisso com o combate às desigualdades educacionais e vista
como reprodutora da ideologia dominante (Barbosa, Lastória, Carniel, 2019, p. 517).
15
demais países. Por exemplo, a “Agenda de 2030”, plano com 17 objetivos de
Desenvolvimento Sustentável e 169 metas a serem atingidas até o ano de 2030, em seu
conteúdo educacional, visa promover o desenvolvimento do cidadão através do mercado
de trabalho ao “explorar oportunidades e participar plenamente da sociedade” (ONU,
2015, p. 7 apud Coelho, Lima, Soledade, 2019, p. 519). Sem mencionar a causa máxima
das desigualdades sociais ou se preocupar com a educação pública e gratuita, a Agenda
aponta direções abstratas que se referem às “novas governanças” e práticas para o
acesso igualitário à educação formal.
1 Sacristán (2011, p. 14-16) considera o uso das competências nos discursos educacionais como uma
linguagem
2 Por estar inserida no meio social, a linguagem, para Sacristán (2011, p. 15), é um reflexo dos valores e
visões adotadas por uma determinada sociedade. Além disso, essas concepções perpassam as instituições
que, no caso do texto, é a escola.
3 No caso brasileiro, houve participação ativa de entidades não governamentais, como o Movimento Pela
Base, patrocinado por instituições privadas como Itaú BBA, Fundação Lemann, Instituto Unibanco,
Instituto Ayrton Senna e Todos pela Educação
16
situação dos sistemas educacionais dos países. Por exemplo, o relatório A Nation at
Risk: The Imperative for Education Reform de 1983, realizado pela National Comission
on Excellence in Education, denunciava os fracos resultados das políticas educacionais
estadunidenses, pondo como possível consequência a perda da vanguarda econômica,
científica e tecnológica norte-americana. Rapidamente, em um contexto de avanço das
ideologias neoliberais nos governos conservadores de Ronald Reagan e Margaret
Tatcher, o relatório transpassou as fronteiras americanas, tornando-se referencial no
pensamento conversador universal: a culpa estava em escolas caras, ineficientes e na
ausência de um controle rígido sobre a função da escola e de seu financiamento. A partir
disso, a educação passou a contar com novas demandas impostas pelos governos:
Todavia, em sua face perversa, essa prática pedagógica reproduz, no ensino, dos
mesmos fenômenos presenciados no universo trabalhista: é esperado que os agentes
educacionais (professores, gestores, estudantes e etc.) mantenham uma relação distinta
com o saber daqueles que lidam com conhecimentos academicamente produzidos,
forçando que o ensino se torne cada vez mais pragmático de modo a gerir as incertezas e
a alienação produzida pelos novos tempos (Ramos, 2008, p. 302). Em seus estágios
mais avançados, o modelo neoliberal (marcado, sobretudo, pela eliminação de postos de
trabalho, avanço técnico-científico na produção e pelo reordenamento social das
profissões), promove nas escolas um tipo de educação descentralizada, onde a presença
17
do professor (tanto física quanto emocional) se torna dispensável, sendo esta substituída
por dispositivos eletrônicos (projetores, computadores, tablets e etc.) postos à
disposição dos estudantes sob uma suposta promessa de maior flexibilidade e ritmo
próprio (Bailey, Ravitch, 2020, p. 135; Ramos, 2008, p. 302).
Todavia, não devemos tratar a BNCC como um vilão ou que é de todo ruim em
suas propostas educacionais. Nas palavras de Amorim, Mello e Alejo:
18
Assim como é impossível termos uma teoria do currículo sem que tenhamos
uma teoria do conhecimento (Young, 2014, p. 193), propor uma definição para o
currículo de história exige lidar com a interconexão de dois campos de estudo
diferentes, mas dialógicos: o do currículo propriamente dito e o do ensino de história. O
currículo, dessa forma, quando relacionado ao ensino, precisa ser entendido de acordo
com as demandas específicas apresentadas pelo segundo campo (Gabriel, 2019, p. 72 e
74).
Jean-Claude Forquin (1992, p. 29) interpreta como função fundamental da Comentado [3]: Ele está falando especificamente de
funções da educação, ou do ensino de História? Dialogar
educação (em geral) a conservação e a transmissão da herança cultural de uma dada com as funções da História para Rüsen (é uma referência
fundamental para essa questão).
sociedade através de seleções que implicam um processo constante de lembrança e
esquecimento. A construção dessa tradição possui um caráter arbitrário, onde a memória
social é produzida através do questionamento contínuo do passado. Nesse contexto, a
memória criada é considerada nada mais que uma reinvenção, e o mesmo valeria para a
memória coletiva cujas instituições de educação formal são responsáveis por
administrar (Forquin, 1992, p. 30). O interesse da sociedade sobre a escolha dos
componentes curriculares, das disciplinas e das práticas pedagógicas, ou seja, “o que
será ensinado”, são partes elementares desse processo de seleção de memória.
A seleção da cultura escolar aparece, dessa forma, como um vestígio não apenas
da “herança do passado”, mas também como representação do presente, sendo:
Aquilo que constitui num momento dado a cultura [...] de uma sociedade, isto
é, dos saberes, das representações, das maneiras de viver que têm curso no
interior desta sociedade e são suscetíveis, por isso, de dar lugar a processos
(intencionais ou não) de transmissão de aprendizado”. (Forquin, 1992, p. 31). Comentado [4]: Citação destacada, longa, não leva aspas.
Corrija a formatação de acordo com o Guia da UERJ. Pontue
ao final.
Por limitações metodológicas do ensino (Forquin nos lembra que, pela escassez
de tempo, seleções são necessárias), apenas aquilo que é considerado de suma
importância é preservado, jamais sendo uma cultura de toda importante. Além disso, a
cultura previamente escolhida e salvaguardada no “currículo formal” ou “oficial”
(aquele prescrito pelas autoridades) se difere bastante da cultura presente no “currículo
real” (aquele que realmente ocorre nas salas de aula). A prática docente permite, a partir
da seleção, da valorização de certos temas em detrimentos de outros e dos consequentes
modos pelos quais estes temas são expostos, gerar novas memórias culturais escolares
que a cada sala de aula, em seu próprio microcosmo, diferem-se umas das outras Comentado [5]: Está faltando diálogo com Demerval
Saviani (se não me engano é no Escola e Democracia que
(Forquin, 1992, p. 32). ele fala da função da escola em ensinar o conhecimento
científico acumulado e sistematizado. Dá uma olhada
também no artigo de 1984, “Sobre a Natureza e
especificidade da Educação”).
19
Já para Dermeval Saviani (2011), a educação é uma atividade de fundamental
importância para a sobrevivência e reprodução de nossa espécie. Diferentemente dos
demais animais que têm sua existência garantida naturalmente pelo meio ambiente, nós,
do gênero homo, necessitamos de uma produção constante que vise atender às nossas
necessidades. Ou seja, é através do trabalho (fator de diferenciação do homo sapiens
para os outros animais) que o homem transforma e adapta a natureza (ao invés de
adaptar-se), aos seus objetivos. Esse processo, por sua vez, implica uma ação consciente
e intencional sobre a natureza que, consequentemente, se torna cada vez mais complexa
e especializada. Dessa forma, a educação aparece como característica própria do ser
humano junto ao trabalho, dado a necessidade de organizar o processo produtivo — a
antecipação das ideias e objetivos dessa ação dependem do conhecimento do mundo
como ciência, a arte e etc. (Saviani, 2011, p. 11-12).
20
“a ciência do erudito não é diretamente comunicável ao aluno, tanto quanto a obra do
escritor ou o pensamento do teórico” (Forquin, 1992, p. 32). Faz-se necessário, também,
um trabalho de reorganização desses saberes culturais que leve em conta não somente o
estado do conhecimento (o conteúdo exposto), mas também do conhecente (o aluno).
Sem reconhecer as especificidades das relações ensino-aluno-aprendizado e as
possibilidades de resistência por parte dos professores e alunos aos conteúdos
selecionados pelo currículo formal, corremos o risco de considerarmos a cultura escolar
como uma “cultura segunda”, diametralmente oposta e totalmente subordinada à cultura
universitária (que seria uma cultura de invenção e criatividade), reduzindo a cultura
escolar à “mediação didática” algemada aos guias e manuais educacionais (Forquin,
1993, p. 33-34).
A divisão dos saberes em disciplinas pode ter tanto uma função pedagógica
quanto social. Acerca da função pedagógica, esta trata apenas de uma divisão
organizacional, com apenas um docente lecionando todas as disciplinas (no caso das
escolas primárias) ou em detrimento dos técnicos e profissionais, estes considerados
saberes destinados às classes mais baixas (Forquin, 1992, p. 41). Uma outra espécie de
hierarquização ainda ocorre dentro dos próprios currículos, quando certas disciplinas, a
depender dos interesses específicos de cada instituição, são privilegiadas, seja pelas
cargas horárias, seja nos coeficientes em exames. Essa questão da hierarquização
interna corresponde, segundo Forquin (1992, p. 41) um problema de legitimidade, “um
árbitro o tipo de cultura por ela considerada importante e necessária para a formação de
seus cidadãos.
A disciplina escolar de história, diferentemente da simples “vulgarização” dos Comentado [6]: Acho que os parágrafos a partir daqui, até
o final da seção (na p. 11), estão parecendo um compilado de
saberes científicos produzidos academicamente como definida pelos defensores da fichamentos dos autores. O certo é que você faça uma síntese
das posições adotadas por eles, suas proximidades e
“transposição didática”, na verdade, constitui-se enquanto uma “disciplina autônoma”, divergências. Assim, você organiza melhor quais são os
pontos que considera importantes para os objetivos deste
com suas características e epistemologias próprias (Bittencourt, 2008, p. 35). Essa trabalho.
21
Dessa forma, o conhecimento histórico, no contexto escolar, não está
subordinado à erudição ou ao cientificismo, e o papel dos professores tampouco é
transmitir, através de métodos e técnicas pedagógicas preestabelecidas, os
conhecimentos produzidos pela academia (Bittencourt, 2008, p. 35-37) — Rüsen (2007,
p. 89) ilustra bem essa situação ao comparar que para muitos acadêmicos, a relação
entre didática e historiografia seria semelhante à do marketing à produção de
mercadorias. Todavia, sem negar a influência externa à escola (essa exercida,
principalmente, por políticos e intelectuais), é preciso inserir a produção do
conhecimento escolar dentro de uma “cultura escolar” própria dotada de uma certa
complexidade, além de considerar as relações de poder entre seus diversos agentes
internos (professores, alunos, inspetores escolares e etc.) na construção desse
conhecimento. É justamente dentro dessa respectiva cultura que as disciplinas escolares
desenvolvem uma consciência particular, ganham seus contornos metodológicos,
objetivos e diferenciam-se de suas “ciências de referência” (Bittencourt, 2008, p. 38-
39).
22
patrióticos (Bittencourt, 2008, p. 41-42). No nosso caso particular, o ensino de história
tem por função o desenvolvimento da consciência histórica. Mas, o que de fato é a
“consciência histórica”? Rüsen (2010, p. 112) define a consciência histórica como:
23
vezes a pesquisa historiográfica se afasta dos contextos de inserção social do
conhecimento, gerando um distanciamento entre a produção e a aplicação do
conhecimento (Knauss, 2019, p. 48). Além disso, o campo acadêmico é marcado por
relações específicas de divisão social do trabalho. Nesse “universo científico”, o
reconhecimento de graus e títulos que estabelecem o princípio da autoridade acadêmica,
hierarquizando os profissionais atuantes tanto na pesquisa quanto no ensino (Knauss,
2019, p. 48). A escrita da história (entendida aqui como historiografia) se constitui
como expressão do conhecimento histórico acadêmico – o conhecimento docente em
aula dependente dessa produção historiográfica universitária, sendo o seu ensino apenas
uma “transposição didática” subordinada ao seu conhecimento de referência (Knauss,
2019, p. 49).
24
saberes que constituem o “saber docente” (Bittencourt, 2008, p. 51), como os da própria
disciplina, dos currículos, os de sua formação profissional e os de suas experiências. As
adaptações feitas pelo educador também contam com recursos como os argumentos de
autoridade, analogias, metáforas ilustrações, exemplos e etc., tudo a depender da idade
dos estudantes e dos objetivos a serem alcançado. Nessa dinâmica, a que chamamos de
“currículo real”, o professor, na condição de artífice responsável por transformar o
“saber a ser ensinado” em “saber apreendido” supera o estado de mero “reprodutor” do
conhecimento produzido externamente (Bittencourt, 2008, p. 50-51; Monteiro e Penna,
2011, p. 200-202).
25
Os debates acerca da “didática” dos livros didáticos de história (LDH) na Europa
do século XIX e início do XX recaíam, sobretudo, nos seus usos na educação regular. Comentado [8]: Quando?
Discutia-se de que modo apresentar seus conteúdos históricos tanto para a “educação
generalista” de jovens de seis aos 15 anos quanto para a instrução de futuros
profissionais civis e militares nas faculdades de filosofia, teologia, direito e medicina.
Dessa forma, livros hoje classificados como “historiográficos”, sem nenhuma forma de
recontextualização4, a não a exercida pelos instrutores ou docentes responsáveis pelas Comentado [9]: explique
4 Cito “recontextualização” no mesmo sentido que Basil Bernstein: as maneiras pelas quais conteúdos
disciplinares são incorporados ao currículo de forma que estudantes de diversas idades possam se
apropriar do conhecimento (Young, 2014, p. 10).
5 Como História Universal (1761) de J. Gatterer, Teoria da história (1857-58) de J.G. Droysen, na
Alemanha; História Antiga (1732) de C. Rollim e Introdução aos métodos históricos (1898) de C.-V.
Langlois e C. Seignobos, na França; as Considerações sobre as causas da grandeza e da decadência dos
romanos (1734), do Barão de Montesquieu e o Compêndio de história universal (1881), de Z.C. Pedrozo,
em Portugal.
6 Uso o termo “relacionadas” pelo fato de a História, nesse período, ainda estar se firmando tanto como
26
diretamente da Bíblia e outros eram traduções de textos de sacerdotes europeus,
marcados por uma cronologia religiosa cujos referenciais eram o Antigo e Novo
Testamento (Bittencourt, 2008, p. 114). Por exemplo, o Segundo Livro de Leitura de
Barão de Macaúbas, em um de seus capítulos narrava, em linguagem simplificada, os
eventos bíblicos até a morte de Abel. Em seu livro homônimo ao do Barão, Landelino
Rocha reservou 12 capítulos para a vida de Jesus e vários outros para resumos de
parábolas do Novo Testamento (Bittencourt, 2008, p. 112-113). No que se refere à
história profana, é possível identificar uma clara inclinação à História produzida pelos
intelectuais franceses e a passagem de uma história católica para uma positivista. Até a
reforma de Rocha Vaz em 1924, eram utilizados comumente nos ginásios oficiais, com
destaque para o Colégio Pedro II, os dois volumes de Histoíre de la Civilisation, de
Charles Seignobos e o Cours d’Histoire, de Albert Malet (Bittencourt, 2008, p. 120).
PNLD, o Plano Nacional do Livro Didático) e aqueles que veem como “livros didáticos
de história” todos aqueles em que o conhecimento histórico esteja sendo veiculado, Comentado [11]: Corrigir concordância.
27
De acordo com o Freitas (2019, p. 147), os autores dos LDH criticam a
“impossibilidades material, epistemológica e ideológica” de se “ensinar todo o
conhecimento produzido pelos historiadores” e a organização de uma narrativa “linear,
diacrônica, moldada em causa e consequência” e “dão como antiquadas as propostas
universalistas e teleológicas”. É verdadeiro que ensinar todo o conteúdo existente é
impossível devido às limitações temporais (sobretudo se levarmos em conta as
tendências atuais de diminuição da carga horária da disciplina de história). Todavia, um
esforço há de ser feito para escaparmos das armadilhas existentes. Jörn Rüsen (2010, p.
115) define que um bom livro didático possui quatro qualidade: um formato claro e
estruturado; uma estrutura didática clara; uma relação produtiva com o aluno; uma
relação com a prática da aula. No que se refere ao formato, é necessário que que o LD
possua uma disposição clara de todos materiais e uma formatação que permita ao aluno
acessar de forma descomplicada os índices, títulos e definições. Já a estrutura didática é
necessária para que os alunos sejam capazes de identificar as intencionalidades didáticas
ao que o livro se propõe. Distanciando-se definitivamente dos anais positivistas muito
utilizados nos oitocentos, Rüsen estipula que os LDs precisam escapar das exageradas
“pretensões científicas” na didática da história. Deveriam, portanto, adaptarem-se à
capacidade de compreensão e às demandas particulares dos alunos sem que, todavia,
percamos de vista as necessidades objetivas para a aquisição de uma consciência
histórica satisfatória. Por fim, o livro didático só será útil caso seja possível trabalha-lo
em sala de aula. De forma semelhante, Munakata (2012, p. 185) encara o livro didático
como uma mercadoria destinada ao seu mercado específico: a escola. Em vista disso, o
LD deve se ajustar ao seu mercado, tornando seu uso frutífero às atividades escolares.
Embora pareça óbvio esse apontamento, um LDH que se atenha apenas à exposição da
história estará abrindo mão do desenvolvimento dos pilares fundamentais para o
desenvolvimento da consciência histórica: a capacidade de julgar e argumentar (Rüsen,
2010, p. 115-118).
28
narrativas “essencializadas” e “homogeneizantes”, sobretudo no caso da África.
Constantemente, o continente africano é colocado, como “berço da humanidade”, a
Grécia é tida como “nascedouro da democracia” e o povo hebreu como criadores do
monoteísmo. Essa prática deriva de um “eurocentrismo morfológico” aliado a um Comentado [12]: Dialogar com Morales & Silva (História
Antiga e História Global: afluentes e confluências. RBH v.
“internalismo metodológico” que formou uma concepção cronológica da história 40, n. 83, p. 128).
Os autores dos LD não são os únicos culpados por esses problemas, visto que
diversas forças atuam sobre sua confecção. Itamar Freitas (2019, p. 148) expõe que,
aliado à má formação e aos meios de sobrevivência dos professores por exigências da
profissão, a estigmatização dos livros didáticos como “literatura menor” por professores
universitários gera, por consequência, o afastamento de bons pesquisadores de se
tornarem bons autores. Como não bastasse, o mercado editorial “cartelizado” entre
poucas editoras dificulta o acesso ao setor e as regulações sobre as compras
governamentais não correspondem à demanda exigida pelos professores. Entretanto,
tomar o mercado como único agente seria equivocado. A produção e a distribuição dos
29
livros didáticos são mediadas pelo Estado. No Brasil, o Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD) é o responsável por essa mediação (Munakata, 2012, p. 188).
30
reconhecimento da importância no uso dos materiais didáticos, com destaque para o
livro didático. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que era elevado à condição primeira
para o atendimento das demandas educacionais brasileiras, o livro didático tinha suas
orientações técnicas ajustadas às normas internacionais de ensino (Cassiano, 2013, p. Comentado [16]: corrigir a continuidade da frase após o
aposto (está “o livro didático... suas orientações”)
58-59).
31
independente e humanitário, a atuação desses órgãos, assim como a do Banco Mundial,
é vista como interventora a favor da política econômicas dos países capitalistas centrais Comentado [18]: ?
32
necessárias para a universalização da educação no Brasil sob padrões de qualidade
básicos. Curiosamente, foi sob o patrocínio da Associação Brasileira dos Editores de
Livros Didáticos (Abrelivros), que o Plano decenal foi editado, publicado e distribuído
para todas as escolas e órgãos públicos brasileiros. Esse apoio não veio de anseios
filantrópicos: as diretrizes contidas no documento privilegiavam o livro didático como
principal recurso pedagógico das escolas. Essas diretrizes, mais uma vez, estavam
alinhadas com as políticas internacionais, haja vista o Relatório Jacques Delors da
Unesco que considerava o livro didático como “suporte mais fácil de manejar e mais
econômico” Cassiano, 2013, p. 78-79).
Um dos principais aprimoramentos d livro didático feitos pelo plano decenal diz
respeito ao estabelecimento de uma comissão responsável tanto por analisar a qualidade
dos conteúdos pedagógico-metodológicos presentes no material didático, como por
estabelecer novos critérios para as futuras compras governamentais. Foi somente em Comentado [22]: “Foi somente”
pedagógicas esperadas de cada disciplina, e a mudança da fonte dos recursos, que não Comentado [25]: vírgula
mais seriam feitos pela Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), mas sim pelo Comentado [26]: vírgula
33
universalização da assistência aos estudantes da educação básica, o livro didático
tornou-se um “aglutinador do currículo nacional”, tendo os “Parâmetros Curriculares
Nacionais” como seus norteadores.
Isso fica evidente, de acordo com Luiz Carlos de Freitas (2017), na demanda
feita pelo edital do PNLD de que os editores se comprometam a adaptar os livros
didáticos às exigências da BNCC, pois, o material didático seria o responsável por
moderar a atuação docente em sala de aula. Antes disso, os professores e editores
possuíam certa autonomia sobre o conteúdo e agora com a padronização exigida pelo
PNLD junto à BNCC, os conteúdos e seus conceitos serão sequenciados pelas normas
(além de organizados por habilidades e competências). Comentado [28]: habilidades e
34
gigantescas, como Itaú BBA, Instituto Unibanco, Instituo Ayrton Senna, Todos pela
Educação e etc. (Galzerano, 2021, p. 15). Comentado [30]: Então! Reveja o que vc disse sobre a
BNCC e a base de crítica aos conteúdos e disciplinas e vc vai
entender de onde vêm aqueles discursos.
Portanto, a atuação de órgãos financeiros educacionais e dos grandes
conglomerados de educação é preocupante, pois tende a priorizar interesses econômicos
em detrimento da qualidade e da diversidade educativa. A influência desses agentes
pode resultar em uma padronização excessiva do currículo, desconsiderando as
particularidades regionais e culturais dos estudantes. Além disso, a centralização da
produção de materiais didáticos por esses conglomerados pode limitar a concorrência e
a inovação, levando à criação de conteúdos que favorecem mais os objetivos comerciais
do que a formação crítica e integral dos alunos. Esse cenário contribui para a redução
das potencialidades e o papel transformador que a educação pode exercer na sociedade e
nos indivíduos.
Esse trecho nos provoca, pelo menos, três questões iniciais para o ensino de
História Antiga do Oriente (HAOr) no Brasil: que Ocidente é este; qual sua relação com
a história deste ocidente; e por extensão, com a história brasileira e qual sua importância
para o estudante brasileiro.
35
Samuel Huntington (1997, p. 83-86), englobariam o legado clássico (ponto de extrema
importância para a discussão deste capítulo), marcado pela filosofia e o racionalismo
dos gregos e o Cristianismo, o latim e o Direto dos romanos; o Catolicismo e o
Protestantismo, religiões predominantes em todos países “ocidentais”; idiomas
europeus, estes espalhados por todo o globo durante a expansão colonial europeia;
separação entre autoridade temporal e espiritual, não havendo, portanto, a simbiose
entre a Igreja e o Estado; o império da lei, ou seja, a noção de que as leis são
fundamentais para o ordenamento da sociedade por intermédio da garantia dos direitos
humanos e, sobretudo, da propriedade; pluralismo social, composto por diversas
camadas de grupos associativos (e futuramente classes) sem ligação sanguínea entre si
(aristocracia, monastérios, ligas, etc.); corpos representativos, que representavam os
interesses desses diversos grupos; e, por fim, o individualismo, fruto do
desenvolvimento histórico dos diversos pontos expostos anteriormente, criando uma
tradição de valorização dos direitos e liberdades individuais.
Huntington (1997, p. 86), todavia, nos adverte que a presença ou a ausência dos
tópicos listados não se manifestariam de forma homogênea na formação histórica e
muito menos fariam parte da composição atual de todas as sociedades ocidentais e não-
ocidentais. O que caracterizaria uma sociedade como membro deste Ocidente
imaginário seria, de fato, a combinação de diversos destes fatores. De forma simétrica,
as sociedades que divergirem, ou que não apresentarem predominantemente o
entrelaçamento dessas características seriam, por consequência, desconsideradas da
seara ocidental.
Tão necessário quanto criar o Ocidente, foi também criar seu contraponto
imediato de forma que legitimasse o status quo europeu. O Oriente é, de certa forma,
uma invenção europeia. Um espaço onde estão localizadas suas antigas colônias, a fonte
das suas civilizações e línguas, seu maior concorrente cultural e uma das mais
frequentes representações do Outro que, desde pelo menos a Antiguidade, o misticismo
e o exotismo das narrativas europeias recaem sobre. Além disso, é importante pontuar
que o Oriente não se constitui apenas como um depositório inerte de imagens
orientalistas com linguagens, discursos e instituições coloniais próprias, mas também se
insere de modo fundamental na construção da cultura e da história europeia, ajudando a
definir sua identidade pelo contraste do não-europeu (Said, 1996, p. 13-14). Assim, a
noção que possuímos de “ser oriental” (e, por consequência, “ocidental”) está
umbilicalmente conectada com as concepções europeias de sua própria cultura que, nas
36
palavras de Edward Said sobre a definição histórico-geográfico-cultural de Oriente:
“[...] é uma ideia que tem uma história e uma tradição de pensamento, imagística e
vocabulário que lhe deram realidade e presença no e para o Ocidente. As duas entidades
geográficas, desse modo, apoiam e, em certa medida, refletem uma à outra” (Said,
1996, p. 17, grifo nosso).
37
para alçar ambas sociedades a este patamar de relevância? A resposta é curta e ao
mesmo tempo, complexa: ambas são, tradicionalmente, creditadas como progenitoras da
“civilização”, conceito de extrema importância para a construção da ideia de Ocidente.
Todavia, essa escolha, mais uma vez, é puramente arbitrária e esconde raízes
controversas dignas de investigação maior.
Essa formatação não é uma novidade trazida pela BNCC para a educação
nacional. O Colégio Pedro II (CPII), a primeira instituição de ensino secundarista oficial
do país, adota, já no século XIX, através do Decreto n. 4.568 de 01 de janeiro de 1870,
o ensino de tipo humanista, contendo disciplinas como a de História Antiga, Geografia,
Latim e Grego (Silva, 2010, p. 115). Essa educação, por sua vez, objetivava a formação
do “homem civilizado”, aquele capaz de atender as expectativas da sociedade imperial.
O quadro não sofreria mudanças substanciais com a queda do Império, perdurando a
educação humanista durante grande parcela da Primeira República. A antiguidade
oriental, nesse momento, foi marginalizada, servindo apenas como “ponto de partida”
para o processo civilizatório europeu cujo ápice seriam as conquistas coloniais a partir
do século XV. O Brasil, na condição de membro do mundo ocidental, seria um dos
herdeiros da cultura greco-romana (Tavares, 2012, p. 90). Gilberto da Silva Francisco e
Luís Ernesto Barnabé nos trazem reflexões importantes acerca disso. De acordo com
Francisco (2017, p. 36), a antiguidade da história foi construída conforme as ânsias da
história universal: uma história que tinha o começo muito bem definido e um fim
disputado, e que se projetava para toda a humanidade [...]. E, segundo Barnabé (2014,
p. 117), foram as ações educacionais dos Estados americanos e, por consequência, os
materiais didáticos produzidos (ou apoiados) por estes Estados, que possuíram o
objetivo de inserir as nações na única linha de progresso humano possível: o da
civilização cristã ocidental — ideia propagada desde pelo menos o século XIX pelas
elites intelectuais e econômicas brasileiras. Todas as sociedades, portanto, deveriam
partir de um marco de referência inicial comum que, nesse caso, privilegiaria a história
europeia. As discussões aqui não envolvem assuntos puramente de natureza pedagógica,
mas, principalmente, histórico-ideológicas. As polêmicas sobre a formulação da BNCC,
quando envolvidas as disciplinas de História Antiga e Medieval, possuíam como seus
principais pontos de debate e discordância entre o corpo docente os obstáculos acerca
das “narrativas-mestras” da modernidade, os processos civilizatórios, seus elementos
claramente europeus e as ideias que alicerçam a concepção de mundo ocidental
(Moerbeck, 2021, p. 53). O ensino de História, nesse sentido, enquanto ferramenta de
acesso ao passado e construtor de projetos de nação para o futuro, se desdobra como
38
fator fundamental para a manutenção (ou alteração) destes discursos (Moerbeck, 2021,
p. 52).
Para além disso, os saberes escolares revelam, em última instância, escolhas
feitas por uma sociedade (Barnabé, 2014, p. 119) que, no caso aqui evidenciado, são as
escolhas feitas pelo Ocidente. Considerando as questões levantadas anteriormente, qual
a relevância, afinal, da História Antiga do Oriente para os estudantes brasileiros, além
da construção desse Ocidente imaginário cujo Brasil é considerado membro enquanto
colônia “descendente” e continuação histórica da Europa? De fato, ao primeiro contato,
a desimportância dada recorrentemente ao ensino da História Antiga do Oriente parece
compreensível, haja vista o distanciamento espacial e temporal do aluno brasileiro para
com o objeto de estudo.
Apenas duas habilidades altamente limitantes são consideradas: a (EF06HI07) e
a (EF06HI08). A primeira pretende “Identificar aspectos e formas de registro das
sociedades antigas na África, no Oriente Médio e nas Américas, distinguindo alguns
significados presentes na cultura material e na tradição oral dessas sociedades”, e a
segunda “Identificar os espaços territoriais ocupados e os aportes culturais, científicos,
sociais e econômicos dos astecas, maias e incas e dos povos indígenas de diversas
regiões brasileira” (Brasil, 2018, p. 421). Interessante notar que a unidade temática a
que essas competências pertencem é intitulada “A invenção do mundo clássico e o
contraponto com outras sociedades”. Isto demonstra uma clara subordinação da história
desses povos em relação à construção da base civilizacional ocidental (lembremos da
importância do “legado clássico” apontado por Huntington) e sua abordagem
meramente comparativa, quase como se as sociedades próximo-orientais não fossem
participantes ativas na construção das instituições e cultura grega.
39
possui algum interesse em seu próprio passado. Para nós, “ocidentais”, as fontes mais
antigas para a gênese de nossa civilização encontram-se na Antiguidade, período
histórico anterior à História Medieval e Moderna, que não só atribui sentido lógico aos
processos históricos europeus (expansão colonial e desenvolvimento capitalista), mas
também tece identidades individuais e coletivas nas grandes narrativas nacionais
(Guarinello, 2004, p. 164). De forma complementar, Martin Bernal (2005, p. 13-14) nos
lembra que, diferentemente de um suposto distanciamento da política moderna — seja
por questões temporais ou ideológicas — creditado à pesquisa e ao ensino, a origem da
Antiguidade está, na verdade, intimamente inserida na lógica de dominação e
legitimação cultural europeia. Portanto, a produção historiográfica acerca da
Antiguidade e, por consequência seu ensino, não estariam alheios aos anseios do
período histórico e meio em que se inseririam, mas sim representariam uma
manifestação do contexto sociocultural em que foram concebidas (Bernal, 2005, p. 13-
14).
40
festejos reais. Na XIX Dinastia (1292-1189 a.E.C.), Khaemwese, filho de Ramsés II,
estudou os textos ligados às construções religiosas abandonadas perto da cidade de
Memphis, objetivando repará-las e reviver seus cultos.
los em seu original e restaurar seus cultos. Ademais, também eram feitas coleções de Comentado [GM32]: Trigger não especifica e ainda não
encontrei uma referência que tenha as informações
estatuetas e textos antigos visando purificar os ritos. O acervo reunido por Bel-Shati- Comentado [LGG33]: Essas coleções e estatuetas já dizem
respeito a Bel-Shati Nannar, ou a épocas anteriores?
Nannar, filha de Nabônido, por exemplo, é considerado como o mais antigo museu de Lembre-se que a própria coleção da chamada Biblioteca de
antiguidades conhecido (Trigger, 2008, p. 43-44). Fica evidente, portanto, a importância Assurbanipal, em Nínive, reuniu no séc. VII cópias de textos
editados pelos escribas locais e de outras cidades. Muitos
deles referiam-se a mitos (como Gilgámesh e o Enuma Elish)
dada pelos povos mesopotâmicos e egípcios antigos ao passado. Isso se dava, segundo cujas versões mais antigas remontam à Idade do Bronze. Não
sei se é o caso de mencionar aqui, pois não tenho certeza se a
Trigger (2008, p. 44), pela crença na proximidade temporal desses saberes e artefatos coleção de Assurbanipal (na verdade dele e de Senaqueribe)
em relação ao ato da criação divina de suas civilizações que, por sua vez, carregariam de fato continha peças tão antigas, ou se apenas placas
“modernas” com conteúdo antigo.
consigo os modelos ritualísticos e societários mais puros a serem seguidos. O
entusiasmo sobre o passado, todavia, não foi suficiente para que essa “forma antiga de
antiquarismo” se desenvolvesse mais a fundo, limitando-se apenas ao aperfeiçoamento
de ritos baseando-se na ideia de que os conhecimentos passados seriam superiores aos
presentes (Trigger, 2008, p. 44-45). Comentado [LGG34]: Não encontrei outras referências
sobre antiquarismo antigo. Mas tem um livro que trata de
como os antigos tratavam vestígios fósseis. Acho que é
Os gregos antigos possuíam dois termos diferentes para designar as formas nas importante vc guardar essa referência, para publicações
futuras (não se preocupe em colocar aqui, agora): MAYOR,
quais eles se relacionavam com o passado histórico: a historia e a archaiologia. O Adrienne. The First Fossil Hunters (2000). Se algum dia vc
quiser ler mais sobre esse tema, me peça referências sobre
primeiro termo (nossa definição de História contemporânea deriva etimologicamente) como os antigos gregos e romanos pensaram sobre a Pré-
História.
passou a ser utilizado, durante o V século a.E.C., por pensadores gregos como Heródoto
(costumeiramente creditado como “pai da História”) e Tucídides, no contexto de
investigação dos fatos ocorridos durante as Guerras Médicas. Essa forma de
investigação consistia na formulação de uma pergunta inicial para que, através da
análise e a síntese dos dados, fosse possível chegar às conclusões esperadas sobre os
eventos do passado recente. Diferentemente da historia, o segundo termo (cuja
etimologia moderna também decorre), era utilizado durante o IV século a.E.C. para
descrever, literalmente, o estudo do passado remoto
41
influências da Igreja Católica”. Nesse sentido, eles serviram de fonte para a formulação
de “novos” padrões estéticos, novas formas de se pensar as relações entre sociedade e
Estado, de valorizar a riqueza, o comércio e etc. (Guarinello, 2013, p. 18-19). Esse
movimento partiu de um profundo processo de reconstrução de memória com o objetivo
bem claro de rejeitar o passado medieval e construir uma nova identidade adequada aos
anseios presentes e futuros. O antigo, nesse contexto, aparece como produto dessa
“nova identidade europeia”, exercendo o papel fundamental nas revoluções culturais,
políticas, econômicas e sociais da era moderna como referencial teórico e identitário
(Guarinello, 2013, p. 19-20).
Nesse sentido, a História Antiga atuou como recurso narrativo para os debates
acerca da superioridade das liberdades ocidentais sobre o despotismo oriental, as
vantagens e desvantagens da democracia ateniense, demagogia e irracionalidade das
massas e etc. (Guarinello, 2013, p. 27). Assim, os Estados europeus, ao fundamentarem
o nascimento e o desenvolvimento de suas nações nas civilizações greco-romanas,
produziram, conjuntamente à “memória do Ocidente”, uma “identidade ocidental” que
teria como seu contraponto o Oriente.
42
grega par excellence (Francisco, Morales, 2016, p. 69). Esse fenômeno, conhecido Comentado [35]: Ver também Vlassopoulos (a pólis como
princípio organizador da História da Grécia).
como “atenocentrismo”, não se deu pela abundância de vestígios materiais e textuais do
sítio arqueológico ateniense. De acordo com Francisco e Morales (2016, p. 72-73), as
experiências de outras comunidades gregas no Mediterrâneo eram conhecidas e
pesquisadas, mas, dado o contexto de desenvolvimento da disciplina no século XIX
anteriormente mencionado, os debates estavam direcionados aos interesses dos Estados
Nacionais. Como consequência, a pólis grega se tornou o centro organizar de toda a
história grega. Por muitas vezes, tomada como uma entidade unitária (isto é, que se
replica de forma semelhante em todo mundo grego), essa perspectiva esconde a
variedade e as especificidades das diversas comunidades urbanas que floresceram tanto
na Grécia continental quanto em suas ilhas no Egeu e nas colônias espalhadas pelo
Mediterrâneo (Vlassopoulos, 2007, p. 55).
43
o Estado mesopotâmico, durante o período neobabilônico, dava garantias legais de que
os escravos vendidos não eram nem escravos do palácio, nem uma pessoa livre, além de
defender direitos, privilégios e obrigações, como a não participação de escravos nas
assembleias dos cidadãos e a compra de direitos de prebenda (Vlassopoulos, 2007, p.
106).
buscarem irei do rei de Urguis, Terru, para resolver a disputa, eles exigem uma reuinão
(puhrum). Os habitantes de Urguis respondem a favor dos indivíduos, exigindo a
libertação de todos do acampamento em uma demonstração clara de habitantes de uma
cidade-estado oriental (Urguis), suplantando, através de uma assembleia, a autoridade
real. Em Nippur, também no II milênio a.E.C., houve a participação de um caçador de Comentado [38]: explicar o que aconteceu e iniciar nova
frase.
pássaros, um oleiro, dois jardineiros e um soldado no julgamento de um homicídio em
uma reunião intitulada “assembleia de Nippur” (Vlassopoulos, 2007, p. 110-111). Comentado [39]: Explicar o contexto dessa assembleia. Se
for manter a informação, explicar por que ela é útil para
argumentar contra a tese do despotismo oriental.
44
Fica evidente, portanto, que a participação de cidadãos nas deliberações e na
vida política das cidades-estados próximo-orientais, ao contrário do mito do despotismo
oriental, foi mais diversa e complexa do que se imagina, com diferentes graus de
participação e formas de organização política, demonstrando a existência de
mecanismos de participação popular e de controle sobre o poder, contradizendo a ideia
de um despotismo oriental absoluto e abrindo novas perspectivas para a compreensão da
história política e social do Próximo Oriente Antigo
No século XIX, a palavra “civilização” passa a ser cada vez mais empregada no
plural (civilizações), associando-a cultura, povo e Nação (Silva e Silva, 2009, p. 60). É
45
nesse momento em que há uma simbiose entre essas diferentes categorias, formando o
que atualmente denominamos Cultura.
46
Espécies (1859) de Charles Darwin (1809-1882) e a embrionária antropologia estava
dominada pela perspectiva evolucionista unilinear (Laraia, 2003, p.33). Ainda que a
palavra “evolução” seja corriqueiramente relacionada às ciências biológicas, esta pode
ser aplicada a qualquer ciência (seja ela natural ou social) que se proponha a reconstruir
o passado. Assim, o “evolucionismo cultural clássico”, nascido nos oitocentos do
historicismo universal iluminista, apresentaria uma distinção fundamental de seu
progenitor setecentista: enquanto o historicismo se preocupava com a História Moderna
ocidental, o evolucionismo se voltava às sociedades não-ocidentais “pré-históricas”
(Erickson e Murphy, 2021, p. 30).
47
antes limitada a meia dúzia de milênios, agora passaria a estender-se milhares (ou
milhões) de anos a fundo (Shryrock e Smail, 2011, p. 5).
48
polida junto a animais modernos na idade mais recente. No entanto, pelo frágil
conhecimento dos trabalhos de Thomsen e Worsaae, o naturalista inglês peca em não
identificar que os pesquisadores escandinavos já haviam definido um período
intermediário que seria caracterizado pela coexistência entre utensílios de pedra lascada
e espécies modernas de animais: o atual Mesolítico, nomeado em 1872 por Hodder
Werstropp (Erickson e Murphy, 2021, p. 43; Trigger, 2006, p. 147-148). Vale ressaltar,
juntamente, que o principal objetivo dos arqueólogos, nesse momento, seria organizar
cronologicamente os materiais encontrados a fim de identificar padrões de progresso
cultural já que, seguindo a lógica do evolucionismo, o Homo sapiens deveria, através do
percurso da história, se tornar mais complexo morfológica e culturalmente (Trigger,
2006, p. 148).
49
ainda, no arquétipo da mulher oriental sedutora, luxuriosa e de sexualidade inigualável
resumida na figura da cortesã egípcia Kuchuk Hanem de Gustave Flaubert (1821-1880);
nas teorias marxistas sobre o Modo de Produção Asiático, fortemente influenciadas pelo
Oriental Despotism (1957) de Karl Wittfogel (1896-1988); e nos discursos de
expedicionários e parlamentares britânicos, como Arthur James Balfour (1848-1930) e
Sir William Loftus (1828-1850) (Said, 1990, p. 194-195 e 42-45; Sofri, 1977, p. 13-14;
Trigger, 2006, p. 67-68).
A egiptologia teria seus contornos mais bem definidos nos dois terços inicias do
século XIX, com célebres egiptólogos como o alemão Karl Lepsius (1810-1884) e os
franceses Ippolito Rosellini (1800-1843) e o já mencionado Champollion liderando
excursões entre 1849 e 1859. O trabalho dos arqueólogos se concentrava,
majoritariamente, nos templos, tumbas e nas inscrições a eles associadas. Os textos
egípcios recuperados eram o oposto do pregado pelos canais que preservaram sua
imagem mítica. Estes não eram registros de saberes esotéricos há muito tempo perdidos
como se imaginava, mas sim a documentação histórica e administrativa de assuntos que
poderiam ser religiosos ou não. Além disso, é necessário compreender também que, por
confrontar diretamente a doutrina cristã, os achados arqueológicos, em alguns casos,
tinham sua interpretação e datação deliberadamente modificadas. Infelizmente, esse foi
o caso na egiptologia de Champollion. Ao produzir a história do Antigo Egito, o francês
foi constrangido a restringir sua cronologia de modo que não conflitasse com a Bíblia,
evitando ofender, assim, as convicções religiosas dos conservadores que comandavam a
França pós-napoleônica (Erickson e Murphy; 2021, p. 43; Trigger, 2006, p. 68). Fica
evidente, portanto, que a adoção de uma datação puramente científica e livre da
50
influência eclesiástica não foi uniforme na arqueologia, ainda que, no caso egípcio, os
trabalhos de Champollion fossem contemporâneos aos de Charles Lyell.
Esse fascínio apenas aumentaria quando alguns dos textos descobertos, assim
que traduzidos, confirmaram eventos mencionados na Bíblia. Por consequência, as
expedições promovidas nessa região, em sua grande maioria compostas por europeus
motivados pelas suas crenças e visões de mundo, foram incentivadas, sobretudo, pela
necessidade de reaver as evidências do “ambiente histórico” do Antigo Testamento e
comprovar a autenticidade dos relatos bíblicos (Liverani, 2016, p. 28; Trigger, 2006, p.
70).
51
membro da comissão de fronteira perso-turca, realizou uma viajem ao Sul da
Mesopotâmia com o objetivo de registrar as estruturas já conhecidas e possivelmente
encontrar novas. Embora não tenha se deparado com a mesma fartura dos palácios de
Layard, Loftus fez uma descoberta muito mais grandiosa e revolucionária que seus
antecessores. Pensando ter descoberto a antiga cidade bíblica de Ereque (Warka, como
chamada pelos árabes), o explorador britânico não percebeu que, na verdade, havia
encontrado a antiquíssima cidade suméria de Uruk, considerada atualmente pela
historiografia como a primeira cidade de fato (Leick, 2003, p. 54-55).
Sendo um homem de seu tempo, William Loftus não escondeu sua perspectiva
orientalista sobre os povos médio-orientais e sua antiguidade, registrando tudo o que
fosse possível em Travels and Researches in Chaldea and the Susiana (1857). Logo no
início da obra, podemos identificar que a ideia do Antigo Oriente Próximo como “berço
da civilização” antecede em muito a descoberta do sítio já que, segundo o autor: The
following pages are due to reseaches in that remote, but partiatlly explored region,
which, from our childhood, we have been led to regard as the cradle of the human race
(LOFTUS, 1857, p. V). Nascido em 1828, sua infância precedia em algumas décadas a
revolução trazida pela arqueologia e a geologia. Portanto, é natural que para Loftus e
seus contemporâneos, a cronologia curta do tempo baseada nos escritos sagrados
judaico-cristãos fosse a correta e, por consequência, as civilizações ali citadas fossem as
primeiras a existirem no planeta.
52
Independentemente da impossibilidade de decifrar o nome real da cidade nos escritos
cuneiformes, Rawlinson estava seguro de que estava diante de um espaço extremamente
importante, visto que este era costumeiramente assinalado como “a cidade” par
exellence (Loftus, 1857, p. 160).
A confiança dos arqueólogos era tanta que seus julgamentos sobre Warka
extrapolaram as evidências disponíveis. Em uma tentativa de justificar suas hipóteses,
Loftus e Rawlinson buscaram em autores clássicos explicações para a presumida
antiguidade Warka. Segundo o autor, a antiga vila de Arderikka mencionada pelo
historiador grego Heródoto corresponderia, possivelmente, à caldeia Ar'a de Erek ou a
"Terra de Ereque", quando traduzida. O mesmo ocorreria com a Orchoe dos tempos de
Alexandre Magno, lar de um povo capaz de redirecionar rios através de suas obras
hidráulicas e decifrar as estrelas devido às universidades formadoras de filósofos e
astrônomos, mencionada por Plínio (23 - 79 E.C.) e Estrabão (63 a.E.C. - 23 E.C.). Ao
contrário da mera proximidade lexical, dessa vez, a quantidade de material grego e
cuneiforme antigo encontrados indicavam, para os arqueólogos, uma proximidade
verificável materialmente entre a Orchoe grega, a primitiva Ereque e o sítio moderno de
Warka (Loftus, 1857, p. 161).
53
Eles estão agora profundamente deprimidos para tentar qualquer coisa; mas
parece ser necessário apenas um brilho do sol que retorna para capacitá-los
novamente a rivalizar na arte com as antigas glórias de Nínive e Persépolis Comentado [43]: Fazer o recuo e a formatação de citação
(Loftus, 1857, p. 51). longa, segundo o Guia da UERJ.
54
4. O PAPEL DA HISTÓRIA ANTIGA E SUA IMPORTÂNCIA NO ENSINO DE
HISTÓRIA NO BRASIL
55
contextos particulares que cada disciplina exige, como o “nascimento” da filosofia na
Grécia, o uso de letras gregas como representantes de constantes físicas e etc. (Santos,
2019, p. 131).
56
a especialidade “cuja menção desperta simultaneamente as sensações de familiaridade e
de exotismo” (Silva, 2017, p. 1). Esse processo é paradoxal, pois, de acordo com Silva
(2017, p. 1), ambas as categorias “familiar” e “exótico” são transmutáveis a partir das
relações estabelecidas entre a cultura brasileira e o passado. Ou seja, é familiar por um
lado, pois foi naturalizada a ideia de que a Antiguidade faz parte de nossa cultura e
passado. Seria por intermédio desse recorte distante tanto temporal quanto
geograficamente de nós que teríamos herdado parte de nossa tradição judaico-cristã, de
nossas instituições democráticas e nossos costumes jurídicos. É exótico, de outro,
porque mesmo que tomemos tanto o legado Ocidental como o Oriental enquanto
constituintes de nossa identidade, a depender dos limites que traçamos entre o que
aceitamos ou não como formadores dessa identidade e de qual forma definimos a
cultura antiga, deixamos deliberadamente de fora o que negamos reconhecer como
influência de nossa formação identitária. Nesse procedimento, criamos como
subproduto o “outro”, uma figura na qual depositamos todas as características por nós
rejeitadas, tornando-o, por consequência, “estranho” e “divergente”. É nesse contexto de
criação do “outro” que a formação histórica do Estado Nação brasileiro se inseriria no
que Silva (2017, p. 1-2) considerou como um dos produtos da “violência cultural da
colonização” responsável por elevar a Europa ao status de centro da história e declarar
seu modelo de sociedade (sociedade burguesa) como fim último de uma suposta
evolução histórica, independentemente das particularidades e heterogeneidade da
população brasileira.
57
eurocêntricas que atendem aos anseios de uma determinada classe dirigente há muito
cristalizadas nos currículos escolares conforme apontado por Apple (2013, p. 71), como
também com a superação de práticas que acabam por reforçar estereótipos como a
suposta superioridade cultural da Antiguidade Clássica sobre as demais culturas antigas
(Leite, 2017, p. 20).
Dentre as práticas arcaicas ainda muito vivas na educação, está na separação da Comentado [Ad46]: Iniciar novo parágrafo.
História Antiga entre Oriente e Ocidente que, em sua grande maioria, acaba por levar à
sobrevalorização da segunda em detrimento da primeira. Quando isso acontece,
sociedades orientais são colocadas no campo do “exótico”, corroborando uma
perspectiva eurocêntrica do ensino. Assim sendo, os feitos, as histórias e as culturas de
comunidades inteiras como a mesopotâmica e a egípcia são reduzidas apenas a
“preparativos” para a história de povos ditos “mais complexos”. Ou seja, a história é
estruturada em uma evolução progressiva e linear, dos povos mais simples (orientais)
aos mais “evoluídos” (ocidentais) (Leite, 2017, p. 21-22).
Por décadas, como herança ingrata, a História Antiga esteve impregnada pelos
debates sobre o processo civilizatório e atividades relacionadas à política e
58
administração dos Estados Nacionais (Francisco, 2017, p. 36). Como consequência,
povos e comunidades inteiras foram classificados e interpretados como centrais nesse
processo seguindo certos critérios eurocentrados. O Antigo Oriente Próximo, por
exemplo, foi situado na história da civilização ocidental como uma experiência histórica
responsável por criar certas estruturas fundamentais para o desenvolvimento do
Ocidente (Francisco, 2017, p. 37). É nesse contexto que a Mesopotâmia, espaço
geográfico onde se situava Uruk, a primeira cidade e por extensão o primeiro Estado,
ganha seu título de “berço da civilização”. As comunidades situadas em regiões mais
distantes, como a América e a Austrália foram classificadas como culturas, etnias e,
quando analisadas soba ótica da comparação etnográfica, como “selvagens” e
“bárbaras”, mas jamais como “civilizações”. Sua integração junto à história nas
narrativas “globalizantes” se dá apenas a partir dos contatos e da dominação europeia
durante a Idade Moderna, como nas grandes navegações e no mercantilismo atlântico.
Portanto, todas as demais comunidades não-europeias foram postas na periferia do
processo histórico, processo este que teria a Europa como centro e motor de
desenvolvimento e “evolução” (Francisco, 2017, p. 38-39).
59
Por exemplo, Fábio Morales e Uiran Gebara da Silva apontam para duas
propostas relevantes surgidas ao fim do século XX e início do XXI para a análise da
Antiguidade. A primeira, mesmo com limitações à superação do eurocentrismo
(Morales, Silva, 2020, p. 131), diz respeito à comparação, em caráter global, das
experiências sociais da Antiguidade. Nessa perspectiva, destaca-se o trabalho realizado
pela Copenhagen Polis Centre, no qual estrutura das cidades-estados gregas arcaicas e
clássicas é confrontada com as das redes citadinas mesoamericanas, andinas pré-
colombianas, africanas modernas, suíças contemporâneas e etc. A partir do
reconhecimento das diferenças e proximidades, identifica-se o que há de comum: “a
coerência cultural interna e a oposição a poderes imperiais” (Morales, Silva, 2020, p.
130). Já a segunda, de caráter globalizante e baseada no paradigma da conexão, busca
retirar o desenvolvimento das culturas clássicas da esteira da História Universal,
analisando a formação das culturas urbanas a partir dos contatos entre diversos povos e
culturas através do Mar Mediterrâneo 8. Notabilizam-se nessa proposta, o livro The
Corrupting Sea, a Study of Mediterranean History, de Peregrine Horden e Nicholas
Purcell. Os autores, a partir da abordagem da “história ecológica”, localizam as
sociedades mediterrânicas como componentes de uma história regional. Essa história
seria caracterizada pela integração e dinamismo das interações propiciadas pelo
Mediterrâneo, seu principal canal de contato. Além disso, essa profunda mobilidade e
interatividade entre as comunidades teria sido impulsionada, a princípio, pelas
necessidades impostas pelo meio ambiente precário e incapaz de sustentar por si só as
urbes nascentes (Morales, Silva, 2020, p. 131)
8Por ter sido aplicada no Mediterrâneo, essa perspectiva também é conhecida como “perspectiva
mediterranista”.
60
Didático (PNLD) do ano de 2020: o livro Vontade de Saber: História (2018) da editora
Quinteto Editorial e Inspire História da editora FTD.
babilônico (2000 - 1550 A.E.C) ao cassita (1550 – 1300 A.E.C) e, por fim, do domínio
assírio (1300 - 612 A.E.C) ao caldeu (612 a 539 A.E.C).
61
ainda mais a capacidade destes em identificar as defasagens dos conteúdos e os
problemas conceituais presentes nos materiais didáticos (Carvalho, 2021, p. 7).
Essa definição é amplamente difundida entre diversos autores. Philip Bagby, por
exemplo, em sua obra Culture and History (1958), advoga por uma concepção de
civilização que remeta às origens etimológicas da palavra, que deriva do latim civitas, Comentado [54]: “remeta”
"cidade" (mesmo que o termo "civilização" tivesse sido criado na França setecentista); Comentado [55]: pôr entre parêntesis
62
Gordon Childe, em A evolução cultural do homem (1971), liga a ideia de "civilização" à
cultura urbana. Arnold Toynbee, diferentemente de Bagby e Childe, considerava um
erro essa associação, já que seria plenamente possível existirem civilizações sem
cidades. Fato curioso que Toynbee, todavia, concordava que uma "civilização" deveria
ser composta por camadas sociais distintas, estando algumas ocupada com a produção
de alimentos e outras desligadas dessa produção. Ou seja, para o autor, uma civilização Comentado [56]: pelo que entendi do que você escreveu,
nem todas estão desligadas da produção. Reformule.
estaria relacionada diretamente à existência da divisão e especialização do trabalho
(burocratas, militares, artesãos e etc.) e a produção de um excedente alimentício o que,
por consequência, coincidiria com o surgimento do Estado (Silva e Silva, 2009, p. 60).
analisarmos o trecho dedicado à Pré-História. No subcapítulo A formação de aldeias Comentado [58]: “Pré-História”
(Dias, Grinberg, Pellegrini, 2018, p. 45-47), que trata da sedentarizarão e formação das Comentado [59]: vírgula
63
que o livro didático da Quinteto Editorial se debruça sobre questões como o cotidiano
hebreu, seus costumes e sua religiosidade (Dias, Grinberg, Pellegrini, 2018, p. 76-79).
De acordo com a autora, a “nova direita” (The New Right), durante parte do século
XX, avançou sobre os livros didáticos do estado do Texas por ensinarem um
“humanismo secular”, considerado pelos fundamentalistas como “uma nova religião”
que ignorava os preceitos bíblicos. Os livros didáticos, sob a ótica conservadora, eram
incapazes de distinguir entre o “certo e o errado” e mesmo assim ensinavam sobre a
ética humanista secular. Advogavam, ainda, pela exclusão de qualquer elemento
contrário à sua ideologia (aborto, homossexualidade e etc.). Por outro lado, pregavam
que os livros didáticos deveriam possuir um viés mais positivo sobre a história e a
nação. Pressionados, os editores foram forçados a fazer concessões: os livros didáticos
agora deveriam tentar abarcar todos pontos de vista da sociedade, sem que alguém seja
ofendido. Seja fundamentalista ou não (Ravitch, 2004, p. 71). Dessa forma, os
elementos religiosos judaico-cristãos subsistiram no ensino de história como substrato
de uma disputa ideológica entre setores progressistas da sociedade e conservadores
64
Após essas contribuições, os povos orientais reaparecem apenas muito
posteriormente no contexto da formação das cidades-estados gregas em notas laterais
destinadas ao professor (Dias, Grinberg, Pellegrini, 2018, p. 144).
Por volta de 5000 a.C., já era possível encontrar vida urbana e atividades
artesanais em diversos lugares do mundo. Com o surgimento das cidades,
abria-se o caminho para o aparecimento das primeiras civilizações, como
veremos nos capítulos a seguir (Azevedo, Seriacopi, 2018, p. 39, grifo
nosso). Comentado [65]: Padronizar
Assim, fica aparente que para o LD existem “cidades sem civilização”, mas não
“civilizações sem cidades”.
65
de suas culturas (Azevedo, Seriacopi, 2018, p. 49). Mais uma vez essas informações são
inseridas em notas adjacentes ao texto principal. Todavia, diferentemente do livro
didático da Quinteto Editorial, o texto auxiliar destinado ao professor traz informações
relevantes para o trabalho em sala de aula. Esse fator, além de contribuir para a
formação dos estudantes, também contribuiu para a formação continuada dos
professores, tema muito caro à educação básica dado os problemas mencionados por
Carvalho (2021). Comentado [67]: Que conclusão você tira disso, frente à
incongruência que você indicou logo acima?
O livro da FTD Editorial, quando trata das civilizações mesopotâmicas, se difere
tanto qualitativa quanto quantitativamente de seu par. Quantitativamente, pois, das
civilizações que o livro promete abordar, apenas a civilização suméria figura nos
conteúdos programáticos. Qualitativamente, porque um número considerável de páginas
é dedicado somente à representação do povo sumério. Dessa forma, o livro didático
avança sobre vários aspectos da cultura suméria, como suas origens nômades-pastoris,
suas inovações técnicas (obras hidráulicas, invenção do arado de bronze), a astronomia,
religiosidade e, claro, a formação das primeiras cidades-estados (Azevedo, Seriacopi,
2018, p. 50-54). Sobre o último tema, o LD sugere ao professor uma pormenorização
das civilizações hidráulicas, relacionando as demandas político-sociais das obras com o
surgimento de uma monarquia-teocrática (Azevedo, Seriacopi, 2018, p. 53).
66
Clássica, por exemplo, aparece apenas como um evento sincrônico (“Enquanto isso...”)
à expansão macedônica explicando, muito superficialmente, seu funcionamento:
sátrapas, organização burocrático-tributária e etc. (Azevedo, Seriacopi, 2018, p. 145). Comentado [69]: “o”
península itálica, como em Nápoles e Siracusa (Azevedo, Seriacopi, 2018, p. 108). Mas,
apesar de representar um avanço (ou uma possibilidade de avanço), o livro não ousa ir
além das interações citadas.
Fica evidente, portanto, que mesmo quando submetidos a uma mesma diretriz (a
BNCC), os livros didáticos apresentam diferenças pontuais nas formas de abordar os
Comentado [72]: “Ocidente”
conteúdos dispostos. O que há de comum entre as duas coleções é que, a despeito das
Comentado [73]: Está faltando uma análise do que você
tentativas de avanço, a partir do binômio Estado-escrita, uma narrativa linear é identificou nos LDs e a bibliografia sobre ensino de História
Antiga. Ficam aqui referências com as quais dialogar:
construída. Os povos antigos apresentados pelos LDs se restringem àqueles cujo legado Trabalhos sobre livros didáticos e história antiga, que vc
deve usar:
é valioso e palpável ao Ocidente. Ademais, essa seleção reflete, ainda, uma visão - ASSUMPÇÃO & CAMPOS. O livro didático e o ensino de
História Antiga - desafios no presente e problemas do
eurocêntrica e limitada da História, que privilegia as experiências ocidentais passado. In: Perspectivas e diálogos 2020.
- SILVA. História Antiga e livro didático. Dimensões 2000.
(lembremos das competências e habilidades propostas pela BNCC). O reflexo dessa - SILVA & GONÇALVES. Algumas reflexões sobre os
conteúdos de História Antiga nos livros didáticos brasileiros.
prática se dá na dificuldade dos alunos em compreenderem a complexidade e a História & Ensino 2001.
- FUNARI. A História Antiga e os Livros Didáticos. In
diversidade cultural que moldaram a civilização humana. É fundamental revisar e ANDRADE FILHO. Relações de Poder, Educação e
Cultura na Antigüidade e Idade Média 2005.
ampliar os conteúdos pedagógicos para incluir de maneira equilibrada e justa todas as - BARNABÉ. História Antiga e Livros Didáticos no século
XXI. OPSIS 2014.
civilizações, valorizando suas contribuições e evitando preconceitos historicamente - CARVALHO. A escrita da História Antiga nos livros
Didáticos de História. SNH 2021 (Anais)
enraizados. Comentado [74]: Conclusão?
67
Seria então a abordagem multiculturalista a resposta para que as múltiplas
experiências antigas sejam contempladas pelo ensino, tendo em vista que a diversidade
cultural é um dos pontos principais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)?
Pedro Paulo Funari (2005) parece acreditar que esse é o caminho. Em uma visão
otimista, o autor afirma que:
68
história que contemple as diversas sociedades antigas, sem que percamos o foco dos
reais objetivos do ensino de história.
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
70
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