PAUL MARSHALL, LELA GILBERT, NINA SHEA

PERSEGUIDOS
O ataque global aos cristos

Traduzido por EMIRSON JUSTINO

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A situao atual das coisas

Uma mulher de uns 40 anos que vivia numa cidade da provncia de Pyongan Norte [Coreia do Norte] foi pega com uma Bblia em sua casa. Ela
foi expulsa da prpria casa. Um oficial do exrcito chegou e passou a viver
ali. A mulher foi executada publicamente na eira de uma fazenda. Oficiais
do governo exigiram que houvesse uma testemunha da execuo, que posteriormente disse: Tive curiosidade de saber por que ela seria executada.
Algum me disse que ela havia guardado uma Bblia em sua casa. Os guardas amarraram a cabea, o peito e as pernas a um poste e a mataram a tiros.
Isso aconteceu em setembro de 2005.1
Outro relato em primeira mo atesta a vigilncia invasiva na Coreia do
Norte, que praticamente invibializa at mesmo cultos domsticos: Com
base numa denncia, por volta de janeiro de 2005, agentes da Unidade
Central de Inspeo de Atividades Antissocialistas invadiram minha casa
num bairro da provncia de Hamgyong Norte. Como resultado da busca,
encontraram uma Bblia. Fui preso e levado a um campo de concentrao
para prisioneiros polticos juntamente com minha esposa e filha. Meu filho,
que estava na China, entrou na Coreia do Norte sem nada saber sobre a
deteno de sua famlia. Mais tarde, tambm foi levado para o campo.2
Tal como na Coreia, assim tambm no Iraque. Sandy Shibib, 19 anos,
como muitos outros cristos iraquianos, enfrentou dificuldades e medo para
buscar formao acadmica. Com dedicao, ela pegava o nibus que levava
Universidade de Mossul, onde estudava biologia. Trs nibus, operados
pelo bispado catlico srio, levavam centenas de alunos, professores e funcionrios a Mossul, partindo da rea onde Sandy morava, no distrito predominantemente cristo de Qaraqush. Viajavam em comboio por questo de
segurana e eram escoltados por dois veculos do exrcito iraquiano.

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Em 2 de maio de 2010, sem aviso, uma exploso atingiu os nibus. Entre

dois pontos da rota diria, onde o comboio estaria em sua rea mais segura,
foi atingido por duas bombas atiradas do acostamento. Cerca de 160 alunos
foram feridos na exploso.
Esse o pior ataque, pois atacaram no apenas um carro, mas todo
o comboio, e isso numa rea fortemente protegida pelo exrcito, disse o
arcebispo catlico de Mossul, Georges Casmoussa. Os estudantes com ferimentos mais graves receberam tratamento em Erbil, capital da regio semiautnoma curda.
Sandy morreu alguns dias depois em razo de estilhaos que feriram sua
cabea. Maha Tuma, sua colega de classe, disse: Sendo alunos, seguamos
para a universidade, no para um campo de batalha. No carregvamos armas. Mesmo assim, nos tornamos alvos. A exploso fez quase mil alunos
se afastarem da Universidade de Mossul, a nica universidade prxima das
plancies de Nnive. Muitos jamais retornaram.3

Sob ataque

Os cristos ocidentais desfrutam das numerosas bnos da liberdade religiosa. Nossos direitos, ainda que s vezes ameaados, so muitos. Falamos
livremente sobre nossa f, nossas igrejas, nossas preferncias denominacionais e nossas oraes respondidas. Valorizamos, lemos e escrevemos comentrios em nossas Bblias e compartilhamos nossas crenas com outras
pessoas, sem medo do perigo. Nossas igrejas podem ter escolas religiosas e
programas de comunicao. Podemos usar uma cruz no pescoo, e nossos
bispos, sacerdotes, ministros, monges e freiras se vestem numa ampla gama
de estilos. Nosso cristianismo no exige que estejamos sempre olhando por
cima do ombro, com medo de sermos presos por orar ou atacados porportar uma Bblia.
Nossas igrejas so bem construdas, bem equipadas e divulgadas por
meio de placas. Nossos pastores podem se concentrar em suas responsabilidades ministeriais sem ter de se preocupar com ameaas de uma polcia
hostil ou de multides iradas. Para nosso encorajamento e entretenimento,
h redesde televiso, indstria musical, websites e editoras. Nossa liberdade
religiosa amplamente protegida por nossos governos, bem como pelas culturas em que vivemos.

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Infelizmente, a maioria dos cristos do mundo no compartilha dessas

circunstncias. A experincia deles no apenas diferente da nossa; ela inimaginavelmente distinta. Claro que no precisamos nos sentir culpados por
nossa liberdade religiosa, concedida por Deus. s vezes, porm, precisamos
ser relembrados de como a vida crist em outros pases, cujo cotidiano
guarda pouca semelhana com o nosso. Aqueles homens, mulheres e crianas de coragem e f esto espalhados em grande nmero por todo o globo.
Neste exato momento, enquanto estas palavras so escritas:
Um pastor cristo permaneceu trs anos numa ftida cela de priso no
Ir. Dia aps dia ele esperou a palavra final das autoridades: Amanh
pela manh voc ser enforcado. O pastor fora condenado por ter se
convertido do isl para o cristianismo, o que se chama apostasia no Ir,
e recebeu a sentena de morte. Ainda assim, no renunciou f crist.
Sob presso internacional, o Ir finalmente o absolveu da apostasia, sentenciando-o pelo crime menor de evangelizar muulmanos. Solto em
8 de setembro de 2012, o marido e pai amoroso continua sob o risco
de ser morto pelos esquadres da morte islmicos. Seu nome Youcef
Nadarkhani.4
No Paquisto, uma mulher aguarda o dia de sua execuo. Ela est doente, fraca e cansada e sente uma saudade insuportvel de seus cinco filhos.
Tambm foi sentenciada morte por causa de sua f crist. Foi julgada e
condenada por blasfmia ao profeta Maom crime capital no Paquisto.
Seu nome Asia Bibi.
Na China, amigos e entes queridos aguardam notcias de um padre catlico romano idoso que foi sequestrado e do qual nada se soube desde
ento. Ele frgil mas fiel a suas crenas e a sua igreja. Em sua fidelidade,
porm, ofendeu o regime do Partido Comunista. Ningum sabe ao certo
se ele est vivo ou morto. Com cerca de 80 anos, seu nome James Su
Zhimin, conhecido por todos como bispo Su.
Na Nigria, cristos sobreviventes ainda sentem o cheiro de fumaa e
carne queimada em seu vilarejo. Pelo menos onze adoradores morreram carbonizados aps terroristas bombardearem uma igreja no incio
de 2012. Mais de vinte pessoas foram gravemente feridas. Cristos das
cercanias esto temerosos, embora desejem ser corajosos e fiis. Esto

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bastante conscientes de que tambm so alvos. Existem tantas vtimas na

Nigria que apenas os moradores locais sabem os nomes dos mortos.

Os mais perseguidos do mundo

Quem so essas pessoas? Por que elas enfrentam dificuldades? Como ofenderam as autoridades governamentais ou outros membros de sua sociedade
a ponto de colocar a vida em risco? Nas pginas seguintes, analisaremos mais
detalhadamente essas histrias e muitas outras. Examinaremos os casos daqueles que so perseguidos por sua f crist no contexto de seus pases, suas
culturas e do mundo cada vez mais perigoso pelo qual devem transitar ao
mesmo tempo que cumprem compromissos sagrados e buscam sobreviver.
Nosso livro se concentra num fato pouco divulgado: os cristos so o
grupo religioso mais amplamente perseguido no mundo hoje. Isso confirmado por estudos de fontes to diversas como Vaticano, Portas Abertas, Pew
Research Center e publicaes como Commentary, Newsweek e Economist.
Segundo uma estimativa feita pela Conferncia dos Bispos Catlicos da Comunidade Europeia, 75% dos atos de intolerncia religiosa so direcionados
a cristos.5
Essa perseguio visa todas as tradies da f crist, de catlicos romanos,
ortodoxos e protestantes a denominaes litrgicas, evanglicas e carismticas, incluindo centenas de grupos menores e menos conhecidos. Os cultos
de adorao crist variam, e as tradies so impressionantemente diferentes, mas nossas igrejas so unidas na crena no mesmo Jesus Cristo como
Senhor e Salvador.
***
Em oposio ao constructo ps-colonial segundo o qual o cristianismo
uma religio ocidental de homens brancos, devemos fazer uma pausa e nos
lembrar daqueles sobre quem escrevemos e por quem oramos.
Muitas pessoas no sabem que 75% dos 2,2 bilhes de cristos nominais do mundo vivem fora do Ocidente desenvolvido, como provavelmente
ocorra com 80% dos cristos mais ativos do mundo.6 Das dez maiores comunidades crists do mundo, apenas duas, os Estados Unidos e a Alemanha,
fazem parte do Ocidente desenvolvido. bem possvel que o cristianismo

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seja a maior religio do mundo em desenvolvimento. A igreja predominantemente feminina e no branca. Enquanto a China em breve pode tornar-se
o pas de maior populao crist, a Amrica Latina a maior regio crist e
a frica est a caminho de tornar-se o continente com a maior populao
crist. O cristo tpico do planeta, se que se pode defini-lo, provavelmente
seria uma mulher brasileira ou nigeriana ou um jovem chins.
Por que os cristos so perseguidos? Como o leitor ver em breve, existe
uma mirade de razes. A perseguio pode ser patrocinada pelo governo
como uma questo de poltica ou prtica, como na Coreia do Norte, no
Vietn, na China, em Mianmar, na Arbia Saudita e no Ir. Pode ser o resultado de oposio dentro da sociedade e ser perpetrada por extremistas e
justiceiros que agem com impunidade ou esto fora do controle do governo.
Assim a situao hoje na Nigria e no Iraque. Tambm pode ser efetuada por grupos terroristas que exercem controle sobre territrios, como o
Al-Shabab na Somlia e o Talib no Afeganisto. Ou pode partir de foras
combinadas ou mesmo conflitantes, como no Egito e no Paquisto.
China, Vietn e Cuba nos mostram que, em alguns pases, o cristianismo se recupera e rejuvenesce quando a perseguio se torna menos intensa.
Nem sempre, porm, o caso.
Na maior parte do Oriente Mdio e do norte da frica, o percentual de
cristos nativos continua insignificante. A igreja crist nesses locais nunca
se recuperou da perseguio do passado. Nos ltimos cem anos, de acordo
com vrias estimativas, a presena crist declinou no Iraque de 35% para
1,5%; no Ir, de 15% para 2%; na Sria, de 40% para 10%; na Turquia,
de 32% para 0,15%. Entre os fatores mais significativos que explicam esse
declnio est a perseguio religiosa.

O que perseguio?

Nos pases analisados neste livro, os cristos sofrem opresso real devido
a srias violaes da liberdade religiosa. Eles no so apenas ofendidos em
seus sentimentos religiosos nem esto simplesmente enfrentando discriminao ou infortnios. Vrios termos, como perseguio, violao, purificao
religiosa e genocdio so mal definidos ou controversos. Como em todos os
relatrios dos direitos humanos, a preciso, a exatido e o significado dos
nmeros dos perseguidos podem ser igualmente incertos.

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A Lei de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos, de

1998, contm uma boa descrio do verdadeiro significado de perseguio.
Ela ajuda a determinar quais pases devem ser designados como os piores
transgressores da liberdade religiosa, ou Pases de Preocupao Especfica.
Define que violaes de liberdade religiosa so situaes s quais so aplicadas proibies arbitrrias, restries ou punio para atividades como:
Reunio para atividades religiosas pacficas como culto, pregao e
orao;
Livre expresso sobre crenas religiosas;
Mudana de crena e afiliao religiosa;
Posse e distribuio de literatura religiosa, incluindo Bblias;
Criao de filhos nos ensinamentos e prticas religiosas da escolha da
pessoa.
Outras violaes da liberdade religiosa incluem:
Exigncias arbitrrias para registro;
Qualquer dos seguintes atos, se cometidos por causa da crena ou prtica religiosa do indivduo: deteno, interrogatrio, multa financeira
onerosa, trabalho forado, reassentamento em massa forado, priso,
converso religiosa forada, espancamento, tortura, mutilao, estupro, escravizao, assassinato e execuo.7
Nem todos os pases discutidos neste livro esto entre os piores perseguidores do mundo. Todavia, levamos em considerao o padro estabelecido
pela Lei de Liberdade Religiosa Internacional. O que queremos dizer com
a palavra perseguio neste livro que h cristos nos pases citados sendo
torturados, estuprados, presos ou mortos por sua f. Suas igrejas tambm
so atacadas ou destrudas. Comunidades inteiras so esmagadas por uma
variedade de medidas deliberadamente direcionadas, que podem ou no
envolver violncia. E todos certamente vivenciam, como afirma a Lei de
Liberdade Religiosa Internacional, flagrante negao do direito vida,
liberdade e segurana das pessoas.8

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Com isso em mente, devemos destacar que a perseguio pode se apresentar por meio de formas menos sangrentas e mtodos mais burocrticos
de abuso quando um governo se torna mais consciente de sua reputao na
rea de direitos humanos. Por exemplo, depois de vrios anos daquilo que
alguns viam como um relaxamento na relao com os cristos, uma tomada
de posio nos ltimos meses novamente fez que a mo de ferro da China
pesasse sobre os cristos. Como Meghan Clyne escreveu em 19 de maio de
2011, no Weekly Standard:
O amolecimento no modo como a China trata os cristos nada mais foi seno
uma habilidosa e sofisticada mudana em sua antiga forma de ataque liberdade religiosa. Ao passo que diminua os ataques sanguinrios que suscitavam a
condenao internacional, a China encontrou maneiras sutis de minar as igrejas
independentes e, silenciosamente, interromper o crescimento da religio livre.
De fato, o relatrio da Comisso Americana de Liberdade Religiosa Internacional destaca que os oficiais chineses so cada vez mais adeptos do emprego
de linguagem de direitos humanos e do uso da lei para defender a represso s
comunidades religiosas.9

Aprendendo sobre perseguio

fato que, no Ocidente, os noticirios raramente falam sobre perseguio a
cristos, a no ser que um caso extraordinariamente chocante aparea num
dia de poucas notcias. Mas graas ao sucesso de um amplo movimento de
base crist no final da dcada de 1990 e aos crescentes meios de comunicao, existe hoje uma proliferao de informao confivel, detalhada e em
tempo real sobre crentes religiosos perseguidos, tanto de fontes crists como
do governo americano. Exemplos dessas fontes so citados por todo o livro.
A Lei de Liberdade Religiosa Internacional, um dos grandes sucessos
da mobilizao poltica do passado contra a perseguio religiosa, ordenou
que o Departamento de Estado dos EUA publicasse relatrios anuais sobre
a perseguio religiosa pelo mundo. Esses relatrios incluem milhares de
ocorrncias de perseguio anticrist, junto com outras violaes de liberdade religiosa. Possuem carter oficial e so respeitados em todo o mundo.

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importante buscar toda informao confivel possvel de fontes fidedignas. Se dependermos totalmente da mdia secular, raramente ouviremos
sobre cristos perseguidos, e o que ouvirmos pode no ser preciso.
Naturalmente, pessoas de todas as religies e mesmo os que no possuem f alguma sofrem perseguio. Temos protestado e escrito sobre
isso, e continuaremos a faz-lo. Muitos so perseguidos pelas mesmas pessoas que perseguem cristos. Para alguns como mandeus e yizidis no
Iraque, bahastas e judeus no Ir, ahmadis e hindus no Paquisto, budistas
tibetanos e seguidores da Falun Gong na China, budistas independentes no
Vietn, muulmanos rohingya em Mianmar e xiitas na Arbia Saudita a
perseguio particularmente intensa e cruel.10
Mas os cristos tambm so perseguidos em todos esses pases, bem
como em muitos outros. A perseguio intensa, ampla, crescente e ainda
pouco noticiada. O Pew Forum on Religion and Public Life, fonte altamente respeitada de dados religiosos, relata que os cristos sofrem assdio estatal
ou da sociedade em 133 pases 2/3 dos pases do mundo e em mais
lugares que qualquer outro grupo religioso.11
Conforme relatado pela Ajuda Igreja que Sofre, entidade catlica de caridade apoiada pelo Vaticano, a comisso da Conferncia de Bispos da Comunidade Europeia estima que, em muitos pases, essa perseguio piorou
nos ltimos anos. Como disse o papa Bento XVI no incio de 2011: Muitos cristos vivem com medo por causa de sua busca pela verdade, sua f em
Jesus Cristo e seu profundo anseio por respeito pela liberdade religiosa.12
A prpria escala, o escopo e a variedade da perseguio dificultam coloc-la
em foco. Essa apenas uma das razes de ela no ser relatada com frequncia,
ou no relatada de maneira correta.13 Ainda assim, h padres de perseguio
que nos ajudam a apreender a situao bsica e comear a entend-la.

Perseguio crist: trs causas

A maior parte da perseguio aos cristos surge de uma entre trs causas possveis. A primeira a fome por controle poltico total, exibida pelos regimes
comunistas e ps-comunistas. A segunda o desejo de preservar o privilgio
hindu e budista, como fica evidente no sul da sia. A terceira o desejo
de dominao religiosa do islamismo radical que, no momento, gera uma
crescente crise global.

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Atentaremos primeiramente para os pases comunistas restantes e seus

primos sinistros, os pases ps-comunistas. Os regimes comunistas, que em
geral so oficialmente ateus, tentaram em seus dias de glria erradicar a religio. Para isso, exterminaram milhes de religiosos. Desde ento, recuaram
para uma poltica opressiva de registro, superviso e controle. Os que no
so controlados so enviados para prises comuns ou de trabalhos forados,
ou simplesmente confinados, maltratados e por vezes torturados. Esses regimes ainda so a maior fonte de perseguio a cristos, simplesmente porque
tm a maior parte dos residentes cristos (especialmente no caso da China).
O comunismo tambm reina no pas que hoje o mais intenso perseguidor
de cristos: a Coreia do Norte.
Na China, de modo geral, os cristos tm permisso de se reunir dentro
das paredes da igreja, mas no o direito de escolher seus lderes, fornecer
educao religiosa a seus jovens ou publicar e difundir sua f livremente. As
procisses religiosas tradicionais so proibidas e dispersadas com violncia.
Na Coreia do Norte, os cristos so executados ou enviados para campos
de trabalho forado por crimes como posse de Bblia. Descreveremos esses
pases, junto com Vietn, Laos e Cuba, no captulo 2.
Outros tipos de regimes se espalharam aps a ruptura da Unio Sovi
tica. Algumas dessas reas ps-comunistas, como as repblicas blticas,
tornaram-se sociedades livres, e praticamente todo o restante hoje j abandonou o comunismo, mas muitos ainda seguem as tticas repressivas de
seus antecessores com relao a registro e controle. Alguns ainda esto sob a
autoridade dos mesmos antigos governantes ou de seus filhos. Pases como
Bielorrssia, Turcomenisto e Uzbequisto ainda figuram entre os mais
restritivos do mundo. E, como acontece com os regimes comunistas, tais
governantes so fanaticamente seculares (ao menos os que no esto comprometidos com acordos ocultos com faces religiosas). Descreveremos
esses regimes no captulo 3.
Analisaremos a seguir as regies em que alguns hindus ou budistas igualam sua religio natureza e ao significado de seu pas. Qualquer outra f
representa ameaa. Como consequncia, perseguem tribos e religies minoritrias e, no raro, os cristos. No desejamos retratar erradamente os
pacficos seguidores que constituem a maioria de seus fiis. Contudo, importante perceber que hindus e budistas nem sempre renunciam violncia.

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A ndia possui enorme quantidade de violncia religiosa. Boa parte ocorre

numa atmosfera de impunidade. Os pases hindus e budistas que causam
maior preocupao, incluindo Sri Lanka, Nepal e Buto, esto concentrados
no sul da sia. Sero descritos no captulo 4.
Analisaremos por fim as dezenas de pases nos quais os muulmanos
formam a maioria da populao. Embora os pases comunistas restantes
persigam sobretudo os cristos, no mundo muulmano que a perseguio agora mais ampla, intensa e ameaadoramente crescente. Extremistas
muulmanos expandem sua presena e s vezes exportam sua represso a
qualquer outro tipo de f.
Talvez no haja exemplo mais tocante e simblico de um ataque islmico
ao cristianismo que o bombardeio a uma igreja cheia de adoradores. Nos
ltimos anos, vimos o aumento de tais ataques a igrejas no Iraque, no Egito
e na Nigria. Como descreveremos adiante neste livro, os bispos catlicos
da Nigria relatam que mais de uma centena de indivduos, na maioria catlicos, foram mortos ou feridos em bombardeios coordenados no Natal de
2011. O Iraque viu pelo menos setenta bombardeios a igrejas em oito anos,
todos cometidos por radicais islmicos.
As pessoas so visadas em muitos pases pela escolha de se tornar crists,
mas isso acontece cada vez mais no mundo muulmano. Entre esses alvos de
violncia numa horrvel escala esto as jovens e crescentes igrejas da Nigria
e do sul do Sudo, vistas como ameaa hegemonia muulmana. Indiv
duos que abandonam o isl, como o pastor Youcef Nadarkhani no Ir, esto
particularmente sob risco de serem mortos ou severamente punidos, tanto
pelo governo como por elementos extremistas dentro da sociedade, em partes significativas do mundo muulmano. So denunciados como apstatas.
Mesmo igrejas histricas, como as igrejas da Caldeia e da Assria, no Ir,
ambas com dois milnios de existncia, e a Igreja Copta do Egito, sofrem
intensa ameaa neste momento. O crescimento dos salafistas e de outros
movimentos muulmanos extremamente intolerantes, afetando tanto a
tradio xiita como os sunitas, transforma o momento atual numa poca
especialmente perigosa para ser cristo em alguns pases, seja como convertido, seja como algum j nascido na f. Como disse o cardeal Christoph
Schoenborn, de Viena, em nossa conferncia sobre a Primavera rabe em

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2012: Seria uma ferida profunda perder o prprio bero do cristianismo e

sua terra deorigem.
Ainda que breve, o relato dessa perseguio exigir quatro captulos sobre
o mundo majoritariamente muulmano. O primeiro, o captulo 5, descreve
pases como Malsia, Turquia, Marrocos e Arglia, que certamente possuem
discriminao e restries estatais que impedem o livre exerccio da religio,
ainda que a perseguio estatal no atinja o nvel de violncia visto em outros pases. A Turquia, pas democrtico e membro da Otan, considerado
modelo durante as revolues da Primavera rabe de 2010, na verdade
exemplo do tipo mais sutil de opresso religiosa. Os cristos turcos tm sido
esmagados debaixo de uma enorme trama de restries burocrticas que
frustram a capacidade de as igrejas se perpetuarem. Depois que a Comisso
Americana de Liberdade Religiosa Internacional colocou a Turquia na lista
de Pases de Preocupao Especfica em 2012, o presidente da comisso,
Leonard Leo, explicou:
Alguns pases que recomendamos que sejam considerados Pases de Preocupao Especficamantm intrincadas redes de regras, exigncias e editos discriminatrios que impem tremendos fardos sobre os membros de comunidades
religiosas minoritrias, dificultando seu funcionamento e crescimento de uma
gerao para outra, sendo uma ameaa potencial a sua existncia.14

Outros pases, como a Arbia Saudita e o Afeganisto, so to repressivos

que nenhuma igreja tem permisso de existir, embora haja cristos ali. Os
milhes de cristos nesses pases, incluindo alguns convertidos molestados e
presos com frequncia, precisam esconder sua f e buscar proteo e discrio de embaixadas fortificadas para que possam orar em comunidade. Enquanto escrevemos, o grande mufti da Arbia Saudita, figura de autoridade
religiosa apontada pelo rei e apoiada pelo Estado, declarou que necessrio
destruir todas as igrejas da regio.15 Eles esto entre os Estados mais intolerantes do mundo. O captulo 6 cobre as duas maiores fontes do isl radical
e repressivo: Arbia Saudita e Ir.
O captulo 7 trata de situaes normalmente consideradas brutais, como
as que ocorrem no Afeganisto, Paquisto e Sudo, bem como uma que
ainda costuma ser mal caracterizada como moderada, que o Egito.

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No captulo 8, descreveremos os pases de maioria muulmana onde a

perseguio tem como base a guerra, governos deficientes, violncia popular ou terrorismo. Nesses pases Iraque, Nigria, Somlia, Indonsia e
Bangladesh o governo no o principal perseguidor. Em vez disso, o
problema um governo fraco ou a ausncia total de governo. Cristos em
lugares assim sofrem ataques de agentes independentes, sem proteo, ajuda
ou reparao do Estado.
Por fim, existem pases em regime de segurana nacional, como Mianmar
e Eritreia, que no se encaixam em nenhum dos padres apresentados. Tambm no fcil categorizar a Etipia, um pas de maioria crist. Mianmar
talvez possa ser abordado com um exemplo de represso budista: o governo
tentou se esconder no budismo ao mesmo tempo que persegue budistas.
Contudo, melhor entendido simplesmente como um regime onde as foras armadas procuraram preservar sua posio usando todos os meios necessrios. Esses pases sero analisados no captulo 9.
Em nossa concluso, analisaremos maneiras de cristos preocupados e
defensores da liberdade religiosa se conectarem a rgos e agncias governamentais e buscar grupos no governamentais e organizaes confessionais
que deem esperana e auxlio a cristos perseguidos e a outros em dificuldade. Tambm sugeriremos algumas aes prticas para que aqueles de ns
que esto no Ocidente possam combinar oraes, criatividade e recursos
para aliviar o crescente abuso sofrido por minorias crists em todo o mundo.

Uma breve anlise da histria crist

Com exceo de acadmicos e professores, a maioria pouco sabe sobre a histria da igreja fora do Ocidente. Por que isso importante? Porque precisamos
entender como, muito tempo atrs, o cristianismo foi introduzido em diversos pases e regies lugares que agora tentam arrancar o cristianismo junto
com suas razes ancestrais. importante entender que nossa histria como
cristos est entrelaada de maneira complexa com a histria do mundo.
Atos dos Apstolos nos fala sobre a expanso inicial da igreja em direo
a reas que hoje compem pases como Turquia, Grcia e Itlia. No muito
depois, a f se espalhou por toda a Europa. Ao mesmo tempo, a igreja se expandiu para oeste e sul, na direo da frica, alcanando Etipia e Sudo, e
para leste, atingindo Iraque, Ir, Afeganisto e ndia. As igrejas mais antigas

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da ndia e alm tm uma histria de quase dois mil anos, e acredita-se que
foram fundadas pelo apstolo Tom.
No sculo 8, o patriarca, ou catholicos, da Igreja do Oriente ficava no atual
territrio do Ir e do Iraque, e provavelmente era mais influente que o papa
catlico.16 A Igreja do Oriente, ou Igreja Nestoriana, foi uma das maiores igrejas missionrias de todos os tempos. Seu patriarca indicou bispos para Imen,
Arbia, Ir, Turquisto, Afeganisto, Tibete, ndia, Sri Lanka e China. Um
cemitrio cristo no Quirguisto, na sia Central, contm inscries em
srio e turco saudando Terim, o chins, Sazik, o indiano, Banus, o uigur,
Kiamata, de Kashgar, e Tatt, o mongol. Naquela poca, as lnguas usadas na
igreja eram siraco, persa, turco, sogdiano e chins. A igreja de ento pode ter
chegado at Mianmar, Vietn, Indonsia, Japo, Filipinas e Coreia.
Em 1281, o patriarca era Markos, que viera da China como monge. Os
mongis enviaram seu acompanhante de viagem, Bar Sauma, numa misso
diplomtica Europa, buscando ajuda para um ataque conjunto ao Egito.
Os europeus se maravilharam ao descobrir que a igreja crist se estendia at
as costas do Pacfico e que o emissrio dos temveis mongis era um bispo
cristo de um deles o rei da Inglaterra, Eduardo I, posteriormente recebeu a eucaristia.17
Grande parte do cristianismo do Oriente Mdio e do norte da frica foi
esmagado no pelo surgimento do isl no sculo 7, mas posteriormente, no
sculo 14. Um dos disparos se deu pelas invases mongis, que ameaaram
o isl rabe como nunca antes. (As cruzadas foram um espetculo menor,
no muito comentadas pelos muulmanos da poca.) Os mongis buscaram
alianas com os reinos cristos, e havia cristos entre suas tropas. Essa uma
das razes de as comunidades crists no mundo muulmano terem sido por
vezes tratadas como uma quinta coluna e sujeitas a frequentes massacres.
Entre 1200 e 1500, a proporo de cristos fora da Europa caiu de mais de
30% para cerca de 6%. Nas palavras de Philip Jenkins, nos anos 1500 as
igrejas europeias haviam se tornado dominantes apenas por ser, digamos,
os ltimos homens em p do mundo cristo.18
Avancemos para o incio do sculo 20. As comunidades crists no antigo
Imprio Otomano foram novamente atacadas com selvageria numa segunda
onda de perseguio. Isso produziu o massacre de cerca de 1,5 milho de
armnios, bem como muitos siracos, assrios, gregos pnticos ortodoxos e

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maronitas. Quando tomaram a Mesopotmia depois da Primeira Guerra

Mundial, os ingleses consideravam a situao dos cristos assrios to desesperadora que analisaram a ideia de transport-los para o Canad. Em
1930, havia propostas para transferi-los para a Amrica do Sul. Logo aps o
massacre promovido pelos rabes em 1933, os britnicos levaram o patriarca
para Chipre por questes de segurana, enquanto a Liga das Naes debatia
a mudana do restante dos cristos assrios para o Brasil ou para Nger.
Atualmente, estamos diante de uma onda similar de perseguio e extermnio. H cristos saindo de locais como os territrios palestinos, Lbano,
Turquia, Sria e Egito. Em 2003, no Iraque, cristos constituam cerca de 4%
da populao; em anos mais recentes, porm, fazem parte de um enorme percentual de refugiados, fato que apoia relatrios de que cerca de 2/3 deles fugiram. Muitos egpcios coptas temem que a Primavera rabe, iniciada no final
de 2010, torne-se um Inverno Islmico para eles, e ponderam se tambm no
devem fugir. Muitos j o fizeram. Analisaremos o levante da Primavera rabe
no mundo muulmano com mais ateno na concluso do livro, uma vez
que ela afeta drasticamente tanto as comunidades crists mais antigas como
os novos cristos convertidos do isl e de outras origens.

A igreja hoje

Muitas dessas comunidades crists antigas perseveraram fiel e corajosamente

em perodos de fome, guerra e perseguio. Em alguns lugares, a igreja comeou a se expandir novamente de maneira notvel, e as ltimas dcadas do
sculo 20 assistiram ao maior crescimento da igreja na histria, sobretudo
na frica subsaariana e na China.19
Em certo sentido, porm, essa nova difuso globalizada do cristianismo
no assim to nova. apenas um recomeo de uma realidade admirvel e
duradoura. Embora haja muitas coisas novas acontecendo, o fato que um
antigo corpo de f est mais uma vez emergindo boa parte na frica subsaariana, nas Amricas Central e do Sul, na sia e mais notadamente na China.
No final do sculo 10, um monge assrio da Arbia visitou a China e
declarou seu espanto ao descobrir que o cristianismo, embora tivesse igrejas,
mosteiros, catedrais, bispos e arcebispos, havia, depois de sculos, aparentemente se extinguido.20 Hoje, porm, o cristianismo est em sua quarta
grande fase de expanso na China.

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No sculo 21, h mais pessoas na China frequentando cultos do que em

toda a Europa ocidental. A despeito de a maioria das reunies crists ser
ilegal e poder resultar em priso e longas sentenas em campos de trabalho
forado, a China talvez seja o pas de maior comparecimento de cristos em
cultos em todo o mundo.

Deus e Csar

Embora sempre tenha havido confuso e conflito entre o que agora chamamos de Igreja e Estado, a simples existncia de duas autoridades em vez de
uma exerce influncia significativa. Como George Sabine escreveu:
Talvez no seja irracional afirmar que o surgimento da igreja crist, como instituio distinta designada para reger as questes espirituais da humanidade
de forma independente do Estado, constitua o evento mais revolucionrio da
histria da Europa ocidental, com respeito tanto aos polticos como ao pensamento poltico.21

Debaixo desse sistema, ainda assim judeus e hereges eram perseguidos,

e inquisies e guerras, defendidas. Esses so fatos histricos trgicos e sangrentos. Mas as pessoas tambm passaram a acreditar que essas autoridades
deveriam ser distintas. Com isso, a igreja, apesar de seu frequente desejo de
controlar o mbito civil, sempre teve de reconhecer que havia formas de poder poltico que ela no deveria exercer. E os lderes polticos, no obstante
suas constantes tentativas de obter controle de todas as coisas, sempre tiveram de reconhecer que havia reas da vida humana que estavam necessria
e apropriadamente fora de seu alcance. A despeito de conflitos e confuses
frequentes, a ordem poltica teve de reconhecer que o ncleo espiritual da
vida humana, e a autoridade que isso demandava, constitua uma esfera
alm do controle civil.22
Isso significava que os cristos, embora geralmente cidados leais, repetidas
vezes disseram, como Pedro, que deveriam obedecer a Deus, e no ao homem,
obrigados que estavam a servir um outro rei (At 17.7). Isso uma negao a
que o Estado englobe tudo ou seja o rbitro definitivo da vida humana. A declarao de que Csar no Deus desafia todo regime autoritrio, sejam romanos antigos ou totalitrios modernos, e provoca reaes iradas e sangrentas.23

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Essa a histrica e viva igreja crist, cujos direitos de liberdade religiosa

buscamos defender, e cuja histria contempornea de perseguio contaremos, ao menos em parte, nas pginas a seguir.

Algumas excees necessrias

Talvez devamos reservar alguns instantes para discutir o que nossos captulos no cobriro. Este no um livro sobre o sofrimento de cristos em si.
Como todos os seres humanos, os cristos podem sofrer em razo de erupes vulcnicas, terremotos e tsunamis ou nevascas, secas e fomes. Podem
sofrer porque so da lngua, da raa ou do grupo tnico errado. Ou quem
sabe estejam no lugar errado e na hora errada. No abrangemos isso, visto
que tais questes no necessariamente se vinculam f crist.
Em vez disso, nos concentraremos unicamente no sofrimento infligido a
pessoas ao menos em parte porque so crists sofrimento que no precisariam suportar se no fossem crentes em Jesus.
certo que a linha divisria no clara nem precisa. Os cristos, sobretudo os pastores, so brutalmente atacados na Colmbia, no Peru, no Mxico,
no Zimbbue e muitos outros lugares. So mortos porque se levantaram
contra regimes repressivos, contra guerrilhas at mais repressivas que os regimes que combatem e contra malvolos cartis de drogas. As questes so
complexas, uma vez que muitos creem que sua tarefa crist posicionar-se
contra qualquer forma de opresso. Por isso, sofrem e morrem. No nossa
inteno dizer de forma definitiva que isso no perseguio religiosa, mas
no inclumos esses casos corajosos nesta discusso.
Muitas igrejas consideram que missionrios que vo a outros pases e
morrem no campo em razo de doenas ou ataques criminosos sejam mrtires, ainda que no tenham morrido como resultado de perseguio religiosa
deliberada. No inclumos esses casos. Uma exceo parcial pode ocorrer
em locais como Iraque, onde discutimos ataques criminosos contra cristos, uma vez que lhes est sendo negada a proteo policial por causa de
sua religio.
Quando falamos ou escrevemos sobre a perseguio igreja, muitas pessoas nos perguntam sobre a perseguio aos cristos nos Estados Unidos.
Nossa resposta que sim, h problemas aqui, eles esto crescendo e precisam
ser atacados. Mas os cristos na Amrica possuem amplos recursos legais

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para proteger os direitos estabelecidos pela Primeira Emenda da Constituio e no enfrentam ameaas da mesma gravidade encontradas na China,
Coreia do Norte, Sri Lanka, Arbia Saudita, Eritreia, Somlia ou Nigria.
Por essa diferena na gravidade da perseguio, mantemos o foco deste livro
nos problemas enfrentados pelos cristos frequentemente esquecidos ao redor do mundo.
Est claro que a antipatia e as restries legais ao cristianismo so crescentes no chamado Ocidente ps-cristo. Batalhas importantes pela liberdade
religiosa so agora travadas em tribunais e assembleias legislativas, bem como
em praa pblica. Esses casos merecem e esto recebendo ateno, ao contrrio dos assassinatos, prises e abusos vistos em outros lugares. Nos lugares
discutidos neste livro, o perseguido no dispe da possibilidade de debater
livremente nem de buscar reparao e conserto por meios democrticos.
A inteno no diminuir as muitas formas de sofrimento vivenciado
por cristos e outros em todo o mundo. Se um terremoto engoliu sua casa,
igreja ou famlia, se seu marido foi morto por ter denunciado um traficante
de drogas, se sua esposa foi estuprada e morta porque era tutsi, o sofrimento
igualmente horrvel, perturbador e sufocante, e seus entes queridos esto
to mortos quanto se o ataque tivesse sido especificamente religioso. No
queremos desconsiderar tais formas de sofrimento. Apenas tentamos nos restringir a algo mais especfico: perseguio de cristos pelo fato de seremcristos.
Tentamos ser bastante seletivos naquilo que abordamos. No cobrimos
todos os pases ou territrios onde os cristos so perseguidos; isso exigiria
muitos e enormes volumes. Nos pases analisados, no podemos nem mesmo tentar relatar cada exemplo de perseguio religiosa a cristos. Isso depressa faria deste livro uma enciclopdia. Em vez disso, buscamos fornecer
um claro senso daquilo que vem acontecendo aos cristos no mundo neste
exato momento. Isso inclui muitas histrias de desgraas, mas tambm de
esperana, bem como um inegvel herosmo.
No se trata de splicas especiais, mas de fatos. Como destacado pelo
papa Bento XVI: No presente, os cristos so o grupo religioso que mais
sofre perseguio por causa de sua f. E, junto com o ex-papa, afirmamos:
Tal situao inadmissvel, pois um insulto a Deus e dignidade humana; alm disso, uma ameaa segurana e paz, alm de um obstculo
realizao de um desenvolvimento humano autntico e integral.24

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O chamado e a esperana da paz

Em 2002, um de ns (Paul Marshall) viajou pelo sudeste da Turquia com o

ilustre estudioso da patrstica Tom Oden.25 Encontramo-nos com membros
das milenares igrejas siracas, das quais apenas alguns milhares esto em sua
terra natal. O idioma deles, o siraco-aramaico, est mais perto do idioma
falado por Jesus que qualquer outra lngua viva e, mesmo assim, o governo
turco os proibiu de ensin-lo em escolas. Passamos por vilas desertas como
Kafro, agora interditadas; seus habitantes foram expulsos por ataques do
Hezbollah turco. Visitamos o grande Mosteiro de Mor Gabriel na regio de
Tur Abdin, importante centro do cristianismo oriental, hoje reduzido em
razo de um confisco de terras aprovado nos tribunais e de sufocantes restries governamentais. Conhecemos os dois nicos monges a permanecer no
mosteiro da vila de Sare.
Existe uma igreja na cidade de Nusaybin, onde uma famosa comunidade
crist est ali desde o sculo 2. No sculo 4, essa igreja cuidou de Efrm, o
maior dos telogos srios, venerado como santo no cristianismo oriental.
O edifcio foi lacrado e abandonado depois da Primeira Guerra Mundial,
quando os habitantes, fugindo do massacre, rumaram para a Sria. Por sessenta anos no houve cristos na cidade, mas agora a diocese enviou uma
famlia crist de uma vila local para viver num pequeno apartamento na
igreja e impedir a degradao do espao sagrado.
Fomos at a cripta deserta e empoeirada para ver a tumba de Jac de Nsibis, de quem a igreja jacobita toma emprestado o nome. Enquanto examinvamos o sarcfago, nosso motorista espontaneamente comeou a cantar
um hino antigo. Sua voz forte encheu a tumba com uma ressonncia quase
sobrenatural. Ouvimos maravilhados em silncio. Depois, perguntamos o
significado das palavras. Ele nos disse que a letra fora composta pelo prprio
Efrm. Quo tocantes suas palavras continuam no mundo atribulado de hoje.
Ouam, meus pintinhos fugiram,
deixaram seu ninho
alarmados pela guia.
Vejam, onde se escondem com temor!
Traga-os de volta em paz!

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