Revista CEFAC

ISSN: 1516-1846
revistacefac@cefac.br
Instituto Cefac
Brasil

Rocha de Vasconcellos Hage, Simone; Pereira, Tatiane Cristina; Zorzi, Jaime Luiz
Protocolo de Observao Comportamental - PROC: valores de referncia para uma anlise
quantitativa
Revista CEFAC, vol. 14, nm. 4, julio-agosto, 2012, pp. 677-690
Instituto Cefac
So Paulo, Brasil

Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=169323218021

Como citar este artigo

Nmero completo
Sistema de Informao Cientfica
Mais artigos Rede de Revistas Cientficas da Amrica Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto
 677

PROTOCOLO DE OBSERVAO COMPORTAMENTAL PROC:

VALORES DE REFERNCIA PARA UMA ANLISE QUANTITATIVA

Behavioral Observation Protocol:

reference values for a quantitative analysis
Simone Rocha de Vasconcellos Hage (1), Tatiane Cristina Pereira (2), Jaime Luiz Zorzi (3)

RESUMO

Objetivo: obter valores de referncia para protocolo de observao comportamental (PROC) sobre o
desenvolvimento de habilidades comunicativas e de esquemas simblicos em crianas com desen-
volvimento tpico de linguagem. Mtodo: foram avaliadas 44 crianas entre 24 e 47 meses de ambos
os gneros, selecionadas em escolas de educao infantil, por meio de triagem do desenvolvimento
global Denver II e questionrio com os pais. Todas as crianas foram filmadas durante 30 minutos
em interao com um adulto em atividade envolvendo brinquedos. As gravaes foram analisadas
por meio do PROC. A anlise estatstica descreveu valores de mdia, mediana, valores mnimos e
mximos. Foi utilizado o teste T de Student para comparao das idades. Resultados: nas habili-
dades comunicativas, as crianas do estudo mostraram evoluo com a idade (mdia para trs e
dois anos, respectivamente: 58,12 e 51,44), apesar de no ter sido encontrada diferena estatisti-
camente significante para as faixas etrias comparadas (p=0,486). Quanto ao item compreenso
verbal, as crianas de trs anos obtiveram melhor desempenho que as de dois (respectivas mdias:
59,41 e 50,70), havendo diferena estatisticamente significante (p=0,0000020). Em relao ao item
aspectos do desenvolvimento cognitivo, as crianas de trs anos apresentaram melhor desempenho
em comparao com as de dois (respectivas mdias: 44,53 e 31,96), havendo diferena estatistica-
mente significante entre as pontuaes obtidas (p=0,00364), mostrando que as crianas evoluem
na hierarquia do simbolismo. Concluso: a obteno de valores de referncia para o PROC veio
combinar anlise qualitativa e quantitativa, contribuindo, alm do diagnstico, para o acompanha-
mento objetivo de processos teraputicos.

DESCRITORES: Protocolos; Observao; Comportamento; Avaliao; Linguagem Infantil; Testes de

Linguagem

INTRODUO cognitivos infantis1 foi elaborado em 2004 com o

objetivo de sistematizar a avaliao de crianas
O Protocolo de Observao Comportamental pequenas quanto ao desenvolvimento das habi-
(PROC) avaliao de linguagem e aspectos lidades comunicativas e cognitivas por meio de
observao comportamental. Seu principal inte-
(1)
Fonoaudiloga; Professora Associada do Departamento de resse tem sido o de ser um instrumento til na
Fonoaudiologia da Universidade de So Paulo FOB/USP, deteco precoce de crianas com alteraes no
Bauru, SP, Brasil; Doutora em Neurocincias pela Universi-
desenvolvimento da linguagem, mesmo antes do
dade Estadual de Campinas UNICAMP.
aparecimento formal da oralidade.
(2)
Fonoaudiloga Clnica; Mestre em Fonoaudiologia pelo
Programa de Ps-Graduao em Fonoaudiologia da Uni- A motivao deste interesse o fato de muitas
versidade de So Paulo FOB-USP; Bauru, SP, Brasil. crianas chegarem aos consultrios fonoaudiol-
(3)
Fonoaudilogo; Professor Doutor do Instituto gicos tardiamente, aps os 48 meses, com queixa
CEFAC Sade e Educao, So Paulo, SP, Brasil;
Doutor em Educao pela Universidade Estadual de de atraso no desenvolvimento da linguagem e,
Campinas UNICAMP. com frequncia, tambm no desenvolvimento da
Conflito de interesses: inexistente ao simblica2. Infelizmente, os distrbios da

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

678 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

comunicao so transtornos de baixa visibilidade MTODO

e por isso, muitas vezes, so identificados tardia-
mente3, mesmo nos dias atuais. Foram avaliadas 51 crianas entre 24 e 48
Alteraes de linguagem em crianas pequenas meses, de ambos os gneros. Destas, 44 foram
representam um dos principais fatores de risco para eleitas por atenderem aos critrios de incluso
futuros problemas de aprendizagem e de sade descritos a seguir. As crianas foram selecio-
mental. Problemas desta ordem podem muitas nadas em escolas de educao infantil do interior
do Estado de So Paulo, com mdia de idade de
vezes repercutir na evoluo futura da criana com
35 meses (2:11). Os critrios de incluso foram:
importantes consequncias em termos educacio-
apresentar histrico de audio, desenvolvimento
nais, mesmo quando os nveis de desenvolvimento global e de linguagem sem indicativos de alterao
da inteligncia e da capacidade receptiva esto e exibir resultado Normal em Teste de Triagem de
normais. Neste sentido, h a necessidade de que Desenvolvimento nas diferentes reas avaliadas.
haja instrumentos que possibilitem um conjunto de Para verificar o histrico de desenvolvimento da
indcios suficientemente capaz de detectar crianas criana foi aplicado questionrio com os pais e/ou
apresentando problemas de linguagem, mesmo na responsveis sobre o desenvolvimento da criana.
ausncia de outros comprometimentos4. As perguntas contemplavam dados sobre a sade
O PROC foi organizado no sentido de propor dela, desenvolvimento global, de linguagem e
uma situao planejada na qual se possa observar audio. J para a verificao do desenvolvimento
maturacional da criana foi aplicado o Teste de
por 30 a 40 minutos e registrar em vdeo, a inte-
Triagem de Desenvolvimento Denver II TTDD II13 .
rao de crianas entre 12 e 48 meses com o
O TTDD II um instrumento de deteco
examinador, envolvendo brinquedos pr-selecio-
precoce de possveis alteraes do desenvolvi-
nados. O procedimento permite compreender a
mento infantil que investiga quatro reas por meio
evoluo tpica do desenvolvimento da linguagem, de 125 itens: motor adaptativo-delicado, motor
do simbolismo e a relao entre tais aspectos do grosseiro, pessoal-social e linguagem. um teste
desenvolvimento, mas principalmente, possibilita padronizado que pode ser usado como referncia
configurar os nveis evolutivos e modos de funcio- na observao do desenvolvimento das crianas de
namento cognitivo e comunicativo apresentados 0 a 6 anos. No campo linguagem os itens avaliados
por crianas com queixas de atrasos ou distrbios abarcam produo de sons, capacidade de reco-
no desenvolvimento1. nhec-los, uso e entendimento da linguagem, de
Uma dos desafios na proposio de protocolos acordo com a idade. Conforme instrues do TTDD
II, cada uma das reas avaliadas classificada
de observao do comportamento infantil o de
como Normal quando a criana executa atividade
estabelecer quais aspectos devem ser analisados,
prevista para a idade; Cautela quando a criana
de forma que eles possam caracterizar de forma no executa ou recusa-se a realizar atividade que j
segura e fidedigna o desenvolvimento apresen- feita por 75 a 90% das crianas daquela idade; e
tado pela criana. Neste sentido, o PROC buscou Atraso quando a criana no executa ou recusa-
alicerar-se nos estudos da psicoligustica e da -se a realizar atividade que j executada por mais
epistemologia gentica para a construo de seus de 90% dos que tm sua idade.
itens de anlise e desde a sua criao vem sendo O TTDDII apontado como um instrumento de
utilizado na metodologia de diversos trabalhos de alta sensibilidade14, sendo este um atributo impor-
investigao cientfica5-12. tante para testes de triagem indicados na avaliao
Por outro lado, ao se propor protocolos de grande nmero de crianas. Ressalta-se que um
dos pesquisadores realizou treinamento com certifi-
igualmente importante que se estabelea valores
cao para a aplicao do TTDDII.
aos parmetros a serem estudados no intuito de
Sete crianas foram excludas da amostra
combinar anlises qualitativa e quantitativa, permi-
por no atenderem a um ou aos dois critrios de
tindo a comparao objetiva dos dados. Assim, no
incluso. Estas crianas foram encaminhadas
intuito de contribuir para o delineamento do perfil para centros de atendimento fonoaudiolgico nas
comunicativo e cognitivo de crianas pequenas, cidades de origem para avaliao mais detalhada,
este trabalho teve por objetivo obter valores de j que o teste de triagem aplicado no tem carter
referncia para protocolo de observao compor- diagnstico.
tamental sobre o desenvolvimento de habilidades Desta forma, das 44 crianas que fizeram parte
comunicativas e de esquemas simblicos em da amostra, 27 crianas eram da faixa etria de
crianas com desenvolvimento tpico de linguagem. 24 a 35 meses (2 anos a 2 anos e 11 meses) e

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

 Protocolo de Observao Comportamental 679
17 crianas eram da faixa de 36 a 47 meses (3 anos servir de substituto simblico: 2 panos (um maior
a 3 anos e 11 meses). e outro menor); uma esponja de cozinha ou de
Aps a seleo dos sujeitos, foi aplicado o banho cortada pela metade; uma caixa retangular
PROC Protocolo de observao comportamental 1 de 20 cm por 7 cm; uma caixa pequena quadrada;
(Figura 1), instrumento elaborado para sistematizar palitos de sorvete. Materiais para seriao e classi-
observaes sobre o comportamento de crianas ficao: conjunto de canecas de encaixe com e sem
com idade entre 12 e 48 meses. O PROC apresenta tampas; blocos de madeira. Bonecos, no mnimo 4:
a descrio de variveis qualitativas e quantitativas, 1 homem, 1 mulher, 1 menina, 1 menino. Adicional:
indicando que a pontuao mxima do teste de 70 outras crianas, adolescentes, idosos. Os bonecos
pontos para habilidades comunicativas; 60 pontos devem ser proporcionais aos mveis descritos
para compreenso da linguagem oral; 70 pontos abaixo e aos meios de transporte descritos acima.
para aspectos do desenvolvimento cognitivo e 200 Devem ficar na caixa maior, mas tambm utilizados
pontos no escore total. para explorar a caixa menor. Animais: 1 cachorro
Ele avalia aspectos referentes s habilidades ou gato.
comunicativas expressivas, de compreenso e Caixa menor (oferecida para crianas entre 30
esquemas simblicos. O protocolo apresenta trs e 48 meses): mveis que representem uma sala
reas: 1. Habilidades Comunicativas (1.a habi- de estar: sof de 3 e 2 lugares, mesa de centro,
lidades dialgicas, 1.b funes comunicativas, estante. Complementos opcionais: TV, rdio, vaso.
1.c meios de comunicao e 1.d nveis de Mveis que representem um dormitrio: cama,
contextualizao da linguagem), 2. Compreenso cmoda, guarda-roupa, criado-mudo. Opcionais:
Verbal e 3. Aspectos do Desenvolvimento Cogni- abajur, porta-retratos. Mveis que representem
tivo (3.a formas de manipulaes dos objetos, uma cozinha: mesa, 4 cadeiras, geladeira, fogo
3.b nvel de desenvolvimento do simbolismo, (comum ou micro-ondas), pia para lavar loua.
3.c nvel de organizao do brinquedo e Peas que representam banheiro: vaso sanitrio,
3.d imitao). Segue o Protocolo na ntegra. pia, banheira, box para banho.
Os procedimentos da coleta de dados foram Desta forma, as crianas foram avaliadas em
realizados nas salas das escolas que as crianas contexto semi-estruturado com brinquedos pr-
frequentavam com condies acsticas e fsicas -selecionados em que se registrou em vdeo a
ajustadas para gravaes. As salas continham uma interao da criana com interlocutor adulto (um
mesa com duas cadeiras. O tatame foi colocado dos pesquisadores), sendo observado o comporta-
encostado em parede lisa. De frente ao tatame foi mento da criana, tanto do ponto de vista comuni-
posicionado um trip na altura do adulto e criana, a cativo, como da ao simblica.
filmadora foi alocada em cima do trip e brinquedos
foram deixados no cho ao alcance da criana Cada criana foi filmada por 30 minutos. Aps
para que a mesma pudesse explor-los. Materiais cada gravao, houve a anlise por dois juzes,
utilizados: um dos pesquisadores e um fonoaudilogo com
formao em Linguagem. No caso de divergncia
Caixa grande (oferecida para todas as crianas
em determinado item, as filmagens foram revistas
at 48 meses: 1 conjunto de ferramentas pelo
at consenso entre os juzes.
menos trs: martelo, chave de fenda, alicate,
serrote. 1 conjunto de utenslios de cozinha: 2 Este trabalho foi aprovado pelo Comit de
panelas com tampa, frigideira, 2 pratos, 2 xcaras, tica em Pesquisa da Universidade de So Paulo,
dois garfos, duas facas e duas colheres. 1 conjunto FOB/USP, sob o nmero 047/2010. Os respons-
de alimentos. Sugesto: ovo, milho, coxa de frango, veis foram informados sobre os procedimentos do
uva, banana, abacaxi (o tamanho dos alimentos estudo e assinaram o termo de consentimento livre
deve ser proporcional ao tamanho dos utenslios e esclarecido a fim de assegurar os preceitos ticos
de cozinha). 1 conjunto de meios de transporte. na realizao de pesquisa com seres humanos.
Pelo menos trs: carro conversvel, bicicleta, moto- A anlise estatstica foi realizada por um profis-
cicleta, camionete. 1 conjunto de utenslios para sional da rea. Os resultados obtidos nas diferentes
banho: banheira, sabonete, frasco de shampoo, provas foram submetidos anlise estatstica com
pente ou escova de cabelo. 1 beb. O tamanho descrio dos valores de mdia, mediana, percentis
deve ser proporcional ao tamanho da banheira. 25 e 75 e desvio padro. Foi utilizado o teste t de
1 par de telefones (tipo fixo ou celular). No Student para comparao das idades. Foi conside-
devem fazer sons. Objetos diversos que podero rado significante valor de p<0,05.

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

680 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

PROTOCOLO DE OBSERVAO COMPORTAMENTAL

Jaime Zorzi e Simone Hage (2004)

IDENTIFICAO
Nome: __________________________________________________________________
Idade: _______________________ Data de nascimento: _________________________
Nvel de escolaridade: ________________ Escola: _______________________________
Encaminhamento: _________________________________________________________
Motivo do encaminhamento: _________________________________________________
Data da avaliao: _____________ Realizada por: _______________________________

1. HABILIDADES COMUNICATIVAS DA CRIANA

1a. Habilidades dialgicas ou conversacionais
Verificar a participao e o grau de envolvimento da criana nos intercmbios comunicativos
Inicia a conversao/interao
ausente [ 0 ] presente raramente [ 2 ] presente freqentemente [ 4 ]
Responde ao interlocutor
ausente [ 0 ] presente raramente [ 2 ] presente freqentemente [ 4 ]
Aguarda seu turno (no se precipita, interrompendo o interlocutor)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 2 ] presente freqentemente [ 4 ]
Participa ativamente da atividade dialgica (alternncia de turnos na interao)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 2 ] presente freqentemente [ 4 ]
Total da pontuao (mximo = 16 pontos):

1b. Funes comunicativas

Instrumental - solicitao de objetos, aes (dar um brinquedo; abrir uma porta)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
protesto interrupo com fala ou ao uma ao indesejada (pra)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
interativa uso de expresses sociais para iniciar ou encerrar a interao (oi, tchau)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
nomeao nomeao espontnea de objetos, pessoas aes ( cachorro)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
informativa comentrios, informaes espontneas na interao ( meu sapato)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
heurstica solicitao de informao ou permisso (pode pegar? / Cad a bola?)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
narrativa presena de turnos narrativos (o prncipe beijou a princesa e casou)
ausente [ 0 ] presente raramente [ 1 ] presente freqentemente [ 2 ]
Total da pontuao (mximo = 14 pontos):

1c. Meios de comunicao

Verificar se os meios atingiram nveis de simbolizao
Para crianas sem oralidade: Para crianas com oralidade:
[ 1 ] somente gestos no simblicos elementares [07] palavras isoladas contextuais
(pegar na mo e levar, puxar, cutucar) (ligadas ao contexto imediato)
[ 2 ] gestos no simblicos convencionais [09] palavras isoladas referenciais
(apontar, negar com a cabea, gesto de vem c) (no ligadas ao contexto imediato)
[ 3 ] gestos simblicos [11] frases telegrficas com 3 ou mais palavras
(gestos que representam aes, objetos, idade) de categorias diferentes
[13] relato de experincias imediatas com frases
[ 1 ] somente vocalizaes no articuladas com 5/6 palavras sem omisses de elementos
[ 2 ] vocalizaes no articuladas e articuladas (o que voc est fazendo? Eu estou ...)
com entonao da lngua (jargo) [15] relato verbal de experincias no imediatas
(o que aconteceu na escola? Teve um dia ...)
Pontuao mxima: 05 Pontuao mxima: 15
Pontuao mxima obtida no item - meios de comunicao: (mximo = 15)

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

 Protocolo de Observao Comportamental 681
1d. Nveis de contextualizao da linguagem
[05] linguagem refere-se somente situao imediata e concreta
[10] linguagem descreve a ao que est sendo realizada e faz referncias ao
passado e / ou ao futuro imediato, sem ultrapassar o contexto imediato
[15] linguagem vai alm da situao imediata, referindo-se a eventos mais distantes no tempo
(evoca situaes passadas e antecipa situaes futuras no imediatas)
Nvel de pontuao obtido (mximo = 15)

2. COMPREENSO VERBAL

[ 0 ] No apresenta respostas linguagem

[10] responde assistematicamente
[15] Atende quando chamada
[20] Compreende somente ordens com uma ao
[25] Compreende somente ordens com at duas aes
[30] Compreende ordens com 3 ou mais aes, solicitaes e comentrios somente quando se
referem a objetos, pessoas ou situaes presentes
[40] Compreende ordens com 3 ou mais aes, solicitaes e comentrios que se referem a objetos,
pessoas ou situaes ausentes
Nvel de pontuao obtido (mximo = 40)

3. ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

3a. Formas de manipulao dos objetos
[ 0 ] No se interessa pelos objetos
[ 0 ] Desiste da atividade quando surge algum obstculo
[ 1 ] Atua sobre os objetos de modo repetitivo ou estereotipado (pe tudo na boca, joga)
[ 1 ] Explora os objetos por meio de poucas aes
[ 1 ] Tempo de ateno curto, explorando os objetos de modo rpido e superficial
[ 2 ] Persiste na atividade quando surge algum obstculo, tentando super-lo
[10] Explora os objetos um a um de modo diversificado
[15] Atua sobre dois ou mais objetos ao mesmo tempo relacionando-os de maneira diversificada
Total da pontuao (mximo = 15)

3b. Nvel de desenvolvimento do simbolismo

[ 0 ] No apresenta condutas simblicas, somente sensrio-motoras
[ 1 ] Faz uso convencional dos objetos
[ 2 ] Apresenta esquemas simblicos (centrados no prprio corpo)
[ 3 ] Usa bonecos ou outros parceiros no brinquedo simblico
[ 4 ] Organiza aes simblicas em uma seqncia
[ 5 ] Cria smbolos fazendo uso de objetos substitutos ou gestos simblicos para representar
objetos ausentes
[ 5 ] Faz uso da linguagem verbal para relatar o que est acontecendo na situao de brinquedo
Total da pontuao (mximo = 20):

3c. Nvel de organizao do brinquedo

[ 0 ] manipula os objetos sem uma organizao dos mesmos
[ 1 ] organiza as miniaturas em pequenos grupos, reproduzindo situaes parciais, mas sem uma
organizao de todo o conjunto (ex: cadeiras colocadas em volta da mesa)
[ 1 ] faz pequenos agrupamentos de dois ou trs objetos (ex: xcara ao lado da colher)
[ 2 ] enfileira os objetos (coloca um ao lado do outro, como se fizesse uma fila ou linha)
[ 3 ] organiza os objetos distribuindo-os de modo a configurar os diversos cmodos da casa
[ 4 ] agrupa os objetos em categorias definidas, formando classes
[ 4 ] seria os objetos de acordo com diferenas (ex.: do maior para o menor)
Total da pontuao (mximo = 15):

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

682 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

PONTUAO
Pontuao Pontuao
Aspectos observados
mxima alcanada
1. Habilidades comunicativas (expressivas) 60
2. Compreenso da linguagem verbal 40
3. Aspectos do desenvolvimento cognitivo 50
Total da pontuao 150

Caractersticas gerais das habilidades comunicativas

[ ] no apresenta comunicao intencional
[ ] comunicao intencional com funes primrias, restrita participao em atividade
dialgica por meios no verbais e no simblicos
[ ] comunicao intencional plurifuncional, ampla participao em atividade dialgica
por meios no verbais, mas simblicos
[ ] comunicao intencional plurifuncional, ampla participao em atividade dialgica
por meios verbais, mas ligados ao contexto imediato
[ ] comunicao intencional plurifuncional, ampla participao em atividade dialgica
por meios verbais, no ligados ao contexto imediato por meios no verbais, mas simblicos

Caractersticas gerais da compreenso da linguagem oral

[ ] no demostra compreenso da linguagem oral
[ ] compreende somente ordens com uma ao ligadas ao contexto imediato
[ ] compreende ordens com at duas aes ligadas ao contexto imediato
[ ] compreende ordens com 3 ou mais aes e comentrios ligados somente ao contexto imediato
[ ] compreende ordens com 3 ou mais aes e comentrios no ligados ao contexto imediato

Caractersticas gerais do desenvolvimento cognitivo

[ ] sensrio motor fases iniciais
[ ] sensrio motor fases avanadas
[ ] transio entre sensrio motor e representativo
[ ] representativo

Observaes:

Concluses:

Figura
1 Protocolo de Observao Comportamental

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

 Protocolo de Observao Comportamental 683
RESULTADOS Desenvolvimento Cognitivo e total das habilidades
expressos pelas crianas de dois e trs anos.
Nas Tabelas 1 e 2 so apresentados os valores A Tabela 3 descreve a anlise estatstica
estatsticos das Habilidades Comunicativas, utilizada para comparar as idades de dois e trs
Compreenso da Linguagem Oral, Aspectos do anos.

Tabela 1 Resultados obtidos por meio da aplicao do Protocolo de Observao Comportamental

(PROC) nas crianas de dois anos

PROC
Medidas Aspectos do
Habilidades Compreenso da Total
Descritivas Desenvolvimento
Comunicativas Linguagem Oral
Cognitivo
Mdia 51,44 50,70 31,96 137,11
Mediana 52 55 31 141,00
Desvio padro 5,34 10,43 11,20 23,49
Valor Mnimo 37 30 10 77,00
Valor Mximo 64 60 50 168,00
Varincia 28,49 108,83 125,34 551,72
Percentil 25 49 45 27 127,50
Percentil 75 55 60 40,5 154,50

Tabela 2 Resultados obtidos por meio da aplicao do Protocolo de Observao Comportamental

(PROC) nas crianas de trs anos

PROC
Medidas Aspectos do
Habilidades Compreenso da Total
Descritivas Desenvolvimento
Comunicativas Linguagem Oral
Cognitivo
Mdia 58,12 59,41 44,53 162,06
Mediana 59 60 45 164
Desvio padro 6,19 2,43 5,39 11,04
Valor Mnimo 42 50 35 137
Valor Mximo 67 60 52 175
Varincia 38,36 5,88 29,01 121,93
Percentil 25 55 60 42 158
Percentil 75 60 60 48 170

Tabela 3 Comparao entre as idades de dois e trs anos nas diferentes Habilidades

Grupos 2 anos 3 anos Correlao

Habilidades Comunicativas 51,44 58,12 0,486
Compreenso da Linguagem Oral 50,70 59,41 0,0000020*
Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo 31,96 44,53 0,00364*
Total 137,11 162,06 -
t de student *p<0,05 estatisticamente significante
Teste

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

684 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

A anlise estatstica demonstrou que para os em relao aos subitens das Habilidades Comu-
itens Compreenso da Linguagem Oral e Aspectos nicativas (1.) e Aspectos do Desenvolvimento
do Desenvolvimento Cognitivo houve diferena Cognitivo (3.).
estatisticamente significante entre o desempenho A Figura 2 demonstra a comparao da
das faixas etrias de dois e trs anos, j para o item pontuao obtida para as faixas etrias de dois e
Habilidades Comunicativas, esta diferena no trs anos para cada uma das Habilidades Dial-
ocorreu, apesar das crianas de trs anos apresen- gicas avaliadas (subitem 1a. do item Habilidades
tarem uma pontuao maior para todos os subitens Comunicativas). Na anlise de cada uma destas
avaliados nesta varivel. habilidades, as crianas de dois e trs anos apre-
As figuras apresentam comparaes especficas sentaram desempenho semelhante.

2
2Anos

1 3Anos

Legenda IC: Inteno Comunicativa; IC/I: Inicia Conversao/ Interao; RI: Responde ao Interlocutor; AT: Aguarda seu Turno;
PAAD: Participa Ativamente de Atividade Dialgica

Figura 2 Comparao da pontuao obtida para as faixas etrias de dois e trs anos para cada uma
das Habilidades Dialgicas avaliadas

Na Figura 3 so exibidas as funes comuni- semelhante entre as idades no uso da maioria das
cativas (subitem 1b. do item Habilidades Comu- funes. Para ambos os grupos, a funo mais
nicativas) usadas pelas crianas considerando as observada foi a instrumental, em que a criana faz
categorias: ausente (0), presente raramente (1) e uso da linguagem para solicitar objetos e aes.
presente frequentemente (2). Houve desempenho

Uso das Funes Comunicativas

2

1
2Anos
3Anos

Figura 3 Comparao obtida entre as faixas etrias no uso das funes comunicativas

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

 Protocolo de Observao Comportamental 685
Na Figura 4, as crianas de trs 3 anos apresen- e desempenho semelhante na pontuao para
taram melhor desempenho em comparao s de o Meio No Verbal Gestual (MNVG). Ambos os
dois na pontuao para o Meio Verbal (MV), apre- grupos no apresentaram Meio de Comunicao
sentando mdias de (13) e (11,8), respectivamente, No Verbal Vocalizaes (MNVV).

15

12

9
2Anos
6 3Anos

0
MNVV MNVG MV

Legenda MNVV: Meios no verbais (vocalizaes); MNVG: Meios no verbais (gestos); MV: Meios verbais

Figura 4 Comparao da pontuao obtida entre as faixas etrias para os tipos de meios de
comunicao

A Figura 5 demonstra a comparao da do item Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo)

pontuao obtida para cada faixa etria em relao do PROC.
forma de manipulao dos objetos (subitem 3a.
Formas de Manipulao dos Objetos

10

2Anos

4 3Anos

0
Total
Figura 5 Comparao da pontuao obtida para cada faixa etria em relao forma de manipulao
dos objetos

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

686 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

A Figura 6 demonstra a comparao da Simbolismo e Nvel de Organizao do Brinquedo

pontuao obtida para as faixas etrias de dois (subitens 3b. e 3c. do item Aspectos do Desenvolvi-
e trs anos para o Nvel de Desenvolvimento do mento Cognitivo) do PROC.
Imitao
20

15

10 2Anos
3Anos

0
Total

Figura 6 Comparao da pontuao obtida entre as faixas etrias para o Nvel de Desenvolvimento
do Simbolismo e Nvel de Organizao do Brinquedo

A Figura 7 demonstra a comparao da Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo) do PROC.

pontuao obtida para as faixas etrias de dois Neste subitem, as crianas de dois anos obtiveram
e trs anos para a Imitao (subitem 3d. do item pontuao ligeiramente maior.

20

15

10 2Anos
3Anos

0
NveldeDesenvolvimentodoSimbolismo NveldeOrganizaodoBrinquedo

Figura 7 Comparao da pontuao obtida entre as faixas etrias para o subitem Imitao

DISCUSSO desenvolvimento tpico. Neste sentido, antes da

aplicao do instrumento alvo em que se tem por
Um dos aspectos fundamentais para a padroni- objetivo a obteno de valores de referncia,
zao de procedimentos de avaliao a compo- imprescindvel a verificao do desenvolvimento
sio de uma amostra com sujeitos que apresentem por outro instrumento, j estandardizado.

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

 Protocolo de Observao Comportamental 687
O Teste de Triagem de Desenvolvimento desenvolvimento tpico, indicando que a comuni-
Denver II TTDD II13 foi aplicado a fim de identificar cao evolui para a plurifuncionalidade, mas pode
crianas com risco para atraso no desenvolvimento. haver variao no tipo da funo de maior uso e
A escolha do TTDD II como critrio de seleo para que esta variao pode estar relacionada com o tipo
as crianas com desenvolvimento tpico ocorreu em da interao proposta. A exemplo disto, no estudo
virtude de ele ser um instrumento de rastreamento em questo no se observou turnos narrativos, o
de risco de desenvolvimento infantil bastante utili- que no significa que as crianas no os tenham,
zado no Brasil por diferentes profissionais da rea mas que o aparecimento deste tipo de turno est
da sade15-18. diretamente relacionado a forma de conduo do
Assim, as 44 crianas selecionadas para o dilogo pelo interlocutor mais experiente, no caso o
estudo no apresentaram qualquer risco para adulto. Turnos narrativos no foram eliciados neste
atraso no desenvolvimento, evidenciando carac- trabalho.
tersticas de desenvolvimento tpico, incluindo o O PROC faz uso de critrios qualitativos para
de linguagem e, desta forma, mostraram-se aptas julgar cada um dos tpicos das habilidades dial-
para fornecer parmetros de referncia de seus gicas e funes comunicativas, a saber, ausente,
comportamentos. presente raramente e presente frequentemente,
O PROC busca avaliar o desenvolvimento desta forma, no h uma descrio quantitativa
comunicativo e cognitivo infantil com o objetivo de para precisar, por exemplo, o nmero de inten-
identificar nveis evolutivos e funcionamento cogni- es comunicativas ou o nmero de cada uma das
tivo e comunicativo apresentados por crianas com funes avaliadas. Este achado pode explicar a
queixas de atrasos ou distrbios no desenvolvi- semelhana das pontuaes obtidas pelas faixas
mento que cheguem para avaliao fonoaudiol- etrias que foram atribudas com base no julga-
gica. O PROC est estruturado para verificar as mento dos avaliadores que consideraram frequente
habilidades comunicativas, particularmente no que a maioria dos tpicos analisados. Independente de
se refere aos aspectos pragmticos da linguagem, ter sido encontrado ou no diferena entre as faixas
compreenso verbal em contexto discursivo e etrias para os subitens descritos acima, fato que
evoluo da ao simblica. as crianas de trs anos demonstram habilidades
Em relao ao item 1. Habilidades Comunica- para uma comunicao plurifuncional, iniciam e
tivas, as crianas do estudo mostraram evoluo respondem conversao mantendo atividade
com a idade. As Tabelas 1 e 2 apontam que dialgica com interlocutor no familiar, como ressal-
as crianas de trs anos apresentaram maior tado em outros estudos21-24.
pontuao que as de dois. Apesar de no ter sido Na anlise dos subitens Meios de Comuni-
encontrada diferena estatisticamente significante cao (Figura 3), tanto as crianas de dois como
para as faixas etrias comparadas (Tabela 3), as de trs apresentaram maior pontuao para o
todas as medidas descritivas assinalaram maior critrio Meio Verbal MV. O meio comunicativo
pontuao para as crianas de trs anos. Mesmo verbal tambm foi o mais observado no estudo de
que com protocolos diferentes, o perfil comunica- Cervone e Fernandes19 durante a anlise do perfil
tivo de crianas normais entre quatro e cinco anos19 comunicativo de crianas normais de quatro e cinco
e entre o 1 e 36 ms de vida20 foi analisado e anos. Os estudos sobre aquisio de linguagem
tambm se constatou evoluo. Estudo6 em que se so unnimes em afirmar o predomnio da comu-
traou o perfil comunicativo de crianas entre um e nicao verbal e a desvinculao da linguagem do
trs anos fazendo uso do PROC tambm apontou contexto imediato com o avano da idade25,26.
aumento da pontuao com o aumento da idade Trabalhos sobre a evoluo do desenvolvi-
nas Habilidades Comunicativas, encontrando dife- mento da compreenso da linguagem so mais
rena estatisticamente significante entre as faixas restritos quando comparados com os de expresso,
etrias. j que complexo determinar se a compreenso
Na anlise de cada um dos tpicos que compem verbal dependeu mais de pistas contextuais do
os subitens das habilidades comunicativas, a saber, que da informao lingustica propriamente dita1.
1a habilidades dialgicas e 1.b funes comu- O PROC se prope avaliar a compreenso verbal
nicativas, a mdia das pontuaes obtidas foram em contexto discursivo, verificando o entendimento
semelhantes para a maioria deles (Figuras 1 e 2). de ordens situacionais com uma ou mais aes.
Para ambos os grupos, a funo mais observada No Brasil ainda escasso a quantidade de instru-
foi a instrumental, aquela em que a criana faz mentos padronizados em relao compreenso,
uso da linguagem para solicitar objetos e aes. desta forma, trabalhos que avaliem este aspecto
As funes interativa e informativa foram as mais com anlises qualitativas e quantitativas so
utilizadas em outros estudos 19,21 com crianas com bem-vindos.

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

688 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

Este trabalho apontou que a partir dos trs anos estatisticamente significante entre as pontuaes
a compreenso verbal torna-se mais complexa, obtidas neste bloco de avaliao nas faixas estu-
j que as crianas desta faixa obtiveram valores dadas (Tabela 3), mostrando que as crianas
indicando que elas demonstram capacidade para evoluem na hierarquia do simbolismo.
compreender ordens com trs ou mais aes, solici- No critrio Imitao as crianas de dois anos
taes e comentrios, conforme critrio descrito no obtiveram pontuao ligeiramente maior. A
PROC. As crianas de dois anos obtiveram valores imitao desempenha papel importante no desen-
compatveis com o critrio compreenso de duas volvimento infantil, j que indica a existncia de
ordens no relacionadas, critrio este com menor condutas inteligentes, como o aprendizado da coor-
pontuao que o anterior, de acordo com o proto- denao entre meios e fins. A imitao sensrio-
colo. O Inventrio Portage27 dentre os seus critrios -motora, que permite criana imitar na presena
de avaliao do comportamento infantil assinala que do modelo, evolui para uma imitao que exige a
crianas de dois anos obedecem a sequncia de representao mental, a imitao diferida28. Assim,
duas ordens relacionadas. O comportamento das o desempenho ligeiramente superior das crianas
crianas deste estudo indicou que a maioria delas de dois anos pode estar relacionado ao fato dos
j responde a ordens no relacionadas. Houve dife- critrios do subitem Imitao do PROC referirem-se
rena estatisticamente significante entre o desem- imitao sensrio-motora e no a diferida, desta
penho das faixas etrias de dois e trs anos (Tabela forma, as crianas de dois anos, por serem mais
3). Vale ressaltar que apesar das crianas com novas, mostram-se mais interessadas em realizar
dois e trs anos compreenderem ordens no rela- esta forma de imitao.
cionadas, o entendimento delas ainda mostrou-se Na pontuao total do instrumento PROC, consi-
relacionado ao contexto em que so enunciadas. derando todos os aspectos avaliados, as crianas
Estudo 6 em que utilizou o PROC para verificar o de trs anos obtiveram maior pontuao em compa-
perfil comunicativo de crianas pequenas encon- rao s de dois (Tabelas 1 e 2). Apesar do nmero
trou-se valores semelhantes para a faixa de dois de crianas estudadas no ser ainda suficiente para
anos, com nmeros interquartil entre 50 e 57. obter uma normatizao do protocolo, os valores
O desenvolvimento da linguagem apresenta obtidos podem j servir de parmetro na avaliao
intrnseca relao com o aparecimento da ao de crianas com queixa de alterao no desenvolvi-
simblica, cuja manifestao pode ser observada mento da linguagem.
em diversos aspectos do desenvolvimento, dentre
eles, na imitao diferida e na brincadeira simb- CONCLUSO
lica28. O brincar faz parte de um aprendizado desde
o nascimento, neste espao que a criana aprende Os valores de referncia para crianas de dois
a ser socivel, conviver com o ambiente e perceber e trs anos obtidos nos trs itens do PROC e seus
as outras pessoas17. Neste contexto, o PROC subitens apontaram que as crianas de trs anos
investiga o desenvolvimento de aspectos cognitivos obtiveram maior pontuao em comparao s de
relacionados ao desenvolvimento do simbolismo dois anos, havendo diferena estaticamente signifi-
por meio da atividade ldica. A atividade ldica cante entre os valores obtidos, excetuando-se nas
fundamental para o desenvolvimento de crianas, Habilidades Comunicativas. Desde a sua criao, o
sejam normais ou com algum tipo de comprome- PROC se prope a ser um instrumento cujo objetivo
timento, pois lhes permite estruturar significados sistematizar observaes sobre o comportamento
para a brincadeira, construindo um repertrio de infantil para contribuir no diagnstico precoce de
conhecimento sobre objetos, pessoas e aes29 . alteraes de linguagem em crianas. A obteno
Os Grficos de 4 a 6 comparam o desempenho de valores de referncia para seus itens e subitens
das crianas de trs e dois anos em relao ao vem combinar as anlises qualitativas e quantita-
item 3. Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo, tivas, contribuindo, alm do diagnstico, no acom-
e seus subitens: 3a Forma de Manipulao dos panhamento objetivo de processos teraputicos.
Objetos, 3.b Nvel de Desenvolvimento do Simbo-
lismo, 3.c Nvel de Organizao do Brinquedo e AGRADECIMENTOS
3.d Imitao. As crianas com trs anos de idade
apresentaram melhor desempenho em compa- Agradecemos Fga Mestre Ana Paola Nicolielo
rao s de dois nos subitens citados acima, exce- pelas contribuies no julgamento dos protocolos
tuando-se no critrio Imitao. Houve diferena de anlise das crianas deste estudo.

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

 Protocolo de Observao Comportamental 689

ABSTRACT

Purpose: to obtain reference values for behavioral observation protocol on the development of
communicative and symbolic schemes of children with typical language development. Method: it has
been evaluated 44 children between 24 and 47 months, both genders, selected from three different
primary schools using Denver II development screening methodology and also a questionnaire
submitted to the parents. All children were filmed 30 minutes interacting with the researcher and
playing with toys. The recordings were analyzed through behavioral observation protocol. The values
that compose the statistical analysis are average, median, maximums and minimums. It has been
used the T Student test to compare the ages. Results: in regards to communication abilities, children
had shown an evolution with age (average of three and two years old respectively 58.12 and 51.44),
even though no significant statistical change was found in the range of ages compared (p=0.486). In
regards do verbal comprehension, children aged three presented better results than children aged
two (averages: 59.41 and 50.70 respectively) with statistical significance variance (p=0.0000020).
In cognitive development, three years old children presented better performance compared to two
years old children (averages: 44.53 and 31.96 respectively), significant difference between results
(p=0.00364) showing that children evolve in the hierarchy of symbolism. Conclusion: the values
obtained in PROC combined qualitative and quantitative analysis, contributing, besides diagnosis, to
a more objective therapeutic process evaluation.

KEYWORDS: Protocols; Observation; Behavior; Evaluation; Child Language; Language Tests

REFERNCIAS 9. Ciciliato MN, Zilotti DC, Mandra PP.

Caracterizao das habilidades simblicas de
crianas com sndrome de Down. Rev. Soc. Bras.
1. Zorzi JL, Hage SRV. PROC Protocolo de
Fonoaudiol. 2010;15(3):408-14.
observao comportamental: avaliao de
linguagem e aspectos cognitivos infantis. 1a ed. 10. Zambotti N, Souza LAP. Trabalho fonoaudiologico
So Jos dos Campos (SP): Pulso Editorial; 2004. em oficina de cozinha em um caso de Prader-Willi.
Rev. CEFAC [periodic na internet]. ahead of print,
2. Zorzi JL. Aspectos Bsicos Para Compreenso, pp. 0-0. Epub Nov 03, 2011. Disponvel em:http://
Diagnstico e Preveno dos Distrbios De dx.doi.org/10.1590/S1516-184620110050001.
Linguagem Na Infncia. Rev CEFAC. 2000;2(1):1-5. 11. Velloso RL, Vinic AA, Duarte CP, Dantino
3. Ellis EM, Thal DJ. Early Language Delay and Risk MEF, Brunoni D, Schwartzman JS. Protocolo de
for Language Impairment. Perspect Lang Learn Ed. Avaliao Diagnstica Multidisciplinar da equipe de
2008;15(3):93-100. Transtornos globais do desenvolvimento vinculado
4. Rescorla L. Do late talking toddlers turn out to Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento
have languages and reading difficulties a decade da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Cad.
later? Annals of Dyslexia. 2000;50:87-102. de Ps-Graduao em Distrbios do Desenv.
5. Coelho ACC, Iemma EP, Lopes-Herrera SA. 2011;11(1):9-22.
Relato de caso: privao sensorial de estmulos 12. Crestani AH, Rosa FFM, Souza APR, Pretto JP,
e comportamentos autsticos. Rev. Soc. Bras. Moro MP, Dias L. A experincia da maternidade e a
Fonoaudiol. 2008;13(1):75-81. dialogia me-filho com distrbio de linguagem. Rev.
CEFAC. 2012;14(2):350-60.
6. Sandri MA, Meneghetti SL, Gomes E. Perfil
13. Frankenburg WK, Dodds J, Archer P, Shapiro
comunicativo de crianas entre 1 e 3 anos com
H, Bresnick B. Denver II: training manual. Denver:
desenvolvimento normal de linguagem. Rev
Denver Development Materials; 1992.
CEFAC. 2009; 11(1):34-7.
14. Veleda AA, Soares MCF, Cezar-Vaz MR. Fatores
7. Ferriolli BHVM. Associao entre as alteraes associados ao atraso no desenvolvimento em
de alimentao infantil e distrbios de fala e crianas. Rev. Gacha Enferm. 2011;32(1):79-85.
linguagem. Rev. CEFAC. 2010;12(6): 990-7. 15. Santos RS, Araujo APQC, Porto MAS.
8. Birenbaum TK, Cunha MC. Problemas de Diagnstico precoce de anormalidades no
Linguagem oral e Enurese em Crianas. Pr-Fono desenvolvimento em prematuros: instrumentos de
R. Atual. Cient. 2010;22(4):459-64. avaliao. J. Pediatr. 2008;84(4):289-99.

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690

690 Hage SRV, Pereira TC, Zorzi

16. Halpern R, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS, 22. Klecan-Aker JS, Swank, PR. The use of a
Victora CG, Barros FC. Estado de desenvolvimento pragmatic protocol with normal preschool children.
aos 12 meses de idade de acordo com peso ao J. Commun. Dis. 1988;21(1):85-102.
nascer e renda familiar: uma comparao de duas 23. Reed VA. An introduction to children with
coortes de nascimentos no Brasil. Cad. Sade language disorders. 2nd edition. New York:
Pblica. 2008;24 suppl.3:444-50. McMillan; 1994.
17. Quintas TA, Curti LM, Goulart BNG, Chiari BM.
24. Rigolet SAN. Para uma aquisio precoce e
Caracterizao do jogo simblico em deficientes
auditivos: estudo de casos e controles. Pr-Fono R. optimizada da linguagem: linhas de orientao para
Atual. Cient. 2009;21(4):303-8. crianas at os seis anos. 1a ed. Porto (Portugal):
18. Silva GK, Lamonica DAC. Desempenho de Porto; 1998.
crianas com fenilcetonria no Teste de Screening 25. Rescorla L, Mirak J. Normal language acquisition.
de Desenvolvimento Denver II. Pr-Fono R. Atual. Semin Pediatr Neurol. 1997;4(2):70-6.
Cient. 2010;22(3):345-50. 26. Lieven E. Building language competence
19. Cervone LM, Fernandes FDM. Anlise do in first language acquisition. European Review.
perfil comunicativo de crianas de 4 e 5 anos na 2008;16(4):445-56.
interao com adulto. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. 27. Williams LCA, Aiello ALR. O Inventrio Portage
2005;10(2):97-105.
Operacionalizado: interveno com famlias. 1a ed.
20. Amato CAH, Fernandes FDM. Aspectos
So Paulo: Memnon; 2001.
funcionais da comunicao: estudo longitudinal
dos primeiros trs anos de vida. J. Soc. Bras. 28. Piaget J. A formao do smbolo na criana:
Fonoaudiol. 2011; 23(3):277-80. imitao, jogo e sonho, imagem e representao.
21. Hage SRV, Resegue MM, Viveiros DCS, Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
Pacheco EF. Anlise do perfil das habilidades 29. Zorzi JL. A interveno fonoaudiolgica nas
pragmticas em crianas pequenas normais. alteraes da linguagem infantil. Rio de Janeiro:
Pr-Fono R. Atual. Cient. 2007;19(1):49-58. Revinter, 2a ed; 2002.

http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462012005000068
RECEBIDO EM: 13/02/2012
ACEITO EM: 18/06/2012

Endereo para correspondncia:

Simone Rocha de Vasconcellos Hage
Alameda Dr. Octvio Pinheiro Brisolla 9-75
Vila Universitria
Bauru So Paulo Brasil
CEP: 17012-901
E-mail: simonehage@usp.br

Rev. CEFAC. 2012 Jul-Ago; 14(4):677-690